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S3 Medicina Alina Villela Tromboembolismo pulmonar O TEP (trombótico) ocorre devido a um TEV, geralmente em membros inferiores, no qual o embolo migra através da veia cava inferior até os pulmões. TEP não é igual a enfarto pulmonar. Para que ocorra o enfarto pulmonar é necessário que tenha uma oclusão da circulação pulmonar e uma ineficiência da circulação brônquica em suprir essa isquemia. Caso clínico: Mulher,24 anos, com queixa de dor súbita em pontada no hemotórax esquerdo a qual piora ao tossir e à inspiração profunda (dor pleurítica). O que pode dar dor pleurítica? ▪ Doença pleural: Pneumotórax; Malignidade pleural (mesotelioma); ▪ Doença do tecido conjuntivo: Artrite reumatoide; Lupus eritematoso sistêmico; ▪ Infecção pleural: Vírus (Coxsackie B); Bactéria (empiema); ▪ Condições pulmonares periféricas: Embolia pulmonar; Pneumonia. Corcova de Hampton: corresponde a síndrome de enfarto pulmonar; pouco comum. Qual seria a etiologia mais provável? Mulher: Embolia pulmonar: Contraceptivos orais; Gravidez; Terapia de reposição hormonal; Doença do tecido conjuntivo; Mesotelioma: Relacionado com exposição crônica ao asbesto (20 a 40 anos); Pneumotórax: Mais comum em homens. Que detalhes da história poderiam ajudar? ▪ Tosse produtiva com expectoração purulenta ou hemoptoicos: ▪ Doença pulmonar inflamatória: Pneumonia; Embolia pulmonar; ▪ Febre, mal-estar geral, mialgia: Pneumonia bacteriana (calafrios) ▪ Dores articulares e rash cutâneo: Doença do tecido conjuntivo; ▪ Dor na panturrilha: Trombose venosa profunda – precede a embolia pulmonar geralmente. ▪ O quadro é recorrente? Embolia pulmonar; Pneumotórax ▪ Fatores de risco: Imunossupressão: Pneumonia ▪ Doença pulmonar prévia (DPOC ou bronquiectasias): Pneumotórax (espontâneo em homens magros e altos). S3 Medicina Alina Villela Fatores de Risco na Embolia Pulmonar Tríade de Virchow → Estase venosa: ▪ Imobilidade prolongada: Longas viagens; Adoecimento(acamada); ▪ Compressão de veias pélvicas: Malignidade pélvica (tumores); Gravidez (útero gravídico pode comprimir as veias do mmii); ▪ Obesidade ▪ Insuficiência cardíaca ▪ Maior tempo de sangue "parado"; aumenta a viscosidade sanguínea; facilita o acúmulo de pequenos coágulos; → Hipercoagulabilidade: ▪ Congênita: Trombofilias: Mutação do Fator V de Leiden; Deficiência de proteína C ou S ▪ Adquirida: Malignidade; Estrogênio (anticoncepcionais, gravidez, terapia de reposição hormonal); Infecções; Síndrome nefrótica; Policitemia; Tabagismo. ▪ Fatores prócoagulantes, anticoagulantes e fibrinolíticos; Trombofilia pode modificar a balança → Lesão Endotelial: ▪ Cirurgia recente ou trauma: Principalmente ortopédica de membros inferiores; ▪ Veias varicosas; ▪ Tabagismo ▪ Ativa a cascata de coagulação Continuação do caso... Atendimento da emergência ▪ Início: 24 horas ▪ Tosse com sangue vivo (hemoptise) ▪ Sem febre ▪ Dor na panturrilha direita (considerou distensão muscular) ▪ Há 3 dias, viagem de avião com duração de 4 horas ▪ Tabagista de 20 cigarros/dia há 3 anos ▪ História de trombose venosa profunda na mãe (durante a gravidez) Diagnóstico mais provável: ▪ Embolia pulmonar: Dor pleurítica e hemoptise sem febre ▪ Dor na panturrilha direita: Provável fonte do êmbolo ▪ Fatores de risco: Imobilidade (viagem recente prolongada); Tabagismo; História familiar. Exame Físico ▪ Sinais vitais: Temperatura: 36,4ºC; Pulso: 105 bpm; Pressão arterial: 115/70 mmHg; SpO2: 93% em ar ambiente; Frequência respiratória: 25 irpm; ▪ Ausculta pulmonar: Atrito pleural no hemitórax esquerdo; ▪ Extremidades: 36 cm (direita); 33 cm (esquerda). Panturrilha ingurgitada à palpação (direita) O exame físico ajudou? Sim!! ▪ Consistentes com embolia pulmonar (não são específicos): Taquicardia com pressão normal (taquicardia sinusal); Hipóxia e taquipneia ▪ Atrito pleural: Não está presente em todas as inflamações pleurais; S3 Medicina Alina Villela quando presente corrobora com o diagnóstico; diferencia-se do atrito pericárdico (fazer apneia) ▪ Edema da panturrilha direita: Sinal de trombose venosa profunda. Escala de probabilidade de Wells: Pré-teste Só descarta o TEP se a probabilidade for menor que 4! Item 2 é muito subjetivo. O que fazer em seguida? → Raio X: algumas vezes ela é inconclusiva; Os achados clássicos de perda focal dos contornos vasculares (sinal de Westermark), densidade periférica em forma de cunha (“corcova” de Hampton) ou dilatação da artéria pulmonar descendente direita (sinal de Palla) são sugestivos, mas incomuns (i.e., insensíveis) e com uma especificidade desconhecida. → Eletrocardiograma: útil para o afastamento da possibilidade de IAM. A alteração mais comum, absolutamente inespecífica, é a taquicardia sinusal. Anormalidades de ST-T também são frequentes- S1q3q3. → Gasometria arterial: Os principais achados gasométricos da TEP são: Hipoxemia (74%); Hipocapnia e alcalose respiratória (41%); Gradiente A-a aumentado (62%). → D-dímero: O D-dímero é um produto da degradação da fibrina, portanto, está aumentado nos insultos em que o sistema de coagulação está trabalhando a todo vapor. Então, ele não é um exame específico de TEP e é insuficiente para fechar o diagnóstico. Alto valor preditivo negativo. UTILIZADO PARA EXCLUIR TEP EM PACIENTES DE BAIXA PROBABILIDADE! Porque aconteceu a trombose venosa profunda? ▪ Veias profundas dos membros inferiores: Maior parte do sangue desoxigenado e sem nutrientes ▪ Fluxo do sangue depende: Compressão muscular; Sistema de válvulas ▪ Geralmente, não há trombose nessa circulação espontaneamente. Necessita de alguma condição que influencie. Por que vai logo para o pulmão? ▪ Anatomia. ▪ O coagulo percorre da VCI (raramente da VCS), cai no AD e depois no VD, sai pela artéria pulmonar e chega no pulmão. ▪ Paradoxalmente, esses trombos às vezes embolizam para a circulação arterial através de forame oval patente ou de comunicação interatrial- embolia paradoxal. É grave? ▪ Hemoptise + Dor pleurítica: Embolia periférica ou não maciça; Segmento da artéria pulmonar ou ramificações; Infarto pulmonar segmentar. ▪ Embolia maciça: Geralmente nas artérias pulmonares principais ou tronco da artéria pulmonar; Bloqueia a saída de sangue do coração; Choque obstrutivo; Parada cardiorrespiratória; Sem infarto devido à circulação brônquica Por que o TEP leva a óbito? Devido ao choque cardiogênico envolvido; A embolia maciça pode causar uma insuficiência de VD, tal ventrículo não tem massa para suportar o aumento súbito de pressão então ele hipertrofia e atrapalha a diástole de VE- mal ejeção(pois o VD irá comprimir o VE). S3 Medicina Alina Villela O que fazer? ▪ Na suspeita de embolia pulmonar: ▪ Tratamento (trata mesmo sem diagnóstico certo ainda)! ▪ Oxigênio suplementar :Tateando com a oximetria de pulso ▪ Anagesia ▪ Anticoagulação x Trombólise: Heparina (baixo peso molecular x não fracionada) Heparina ▪ Mecanismo de ação: Catalisa a ligação da Antitrombina III com os fatores Xa e trombina ▪ Indicações: Prevenção ou tratamento da TVP e do TEP; Tratamento precoce na angina instável e infarto do miocárdio; Prevenção de trombose em dispositivos (diálise, cânulas...) ▪ Farmacocinética: Baixo peso molecular -> absorção ruim por via venosa; Meia vida plasmática de 4 horas, mas de longa duração (1x ou 2x/dia) ; Não necessita de acompanhamento do efeito anticoagulante; Excretada pelo rim (cuidado em pacientes com insuficiência renal). ▪ Efeitos adversos: Sangramento; Hipersensibilidade: derivada de animais; Trombocitopenia induzidapela heparina; Osteoporose em pacientes com uso prolongado; ▪ Inibe a progressão do êmbolo/trombose venosa profunda; reduz o risco de novos eventos; O trombo será dissolvido por cascatas naturais fibrinolíticas; ▪ Desfechos: Organização; Recanalização; Calcificação; não tem efeito no trombo propriamente dito! Porque não dar logo um trombolítico? ▪ Rt-PA (alteplase)- mais utilizado no Brasil. ▪ A cascata fibrinolítica endógena é mais segura ▪ Risco importante de sangramento ▪ indicado na embolia maciça quando há choque cardiogênico Continuando caso clínico... ▪ Oxigênio por cateter nasal 3 l/min -> SpO2: 98% ▪ Dipirona 1 g IV 6/6 horas ▪ Enoxaparina 60 mg SC 2x/dia (peso da paciente 60 kg) ▪ Solicitada AngioTC de tórax ▪ AngioTC de tórax confirmou a hipótese de embolia pulmonar → Angiotomografia de tórax: Quando da ocorrência de TEP, o êmbolo no interior da artéria pulmonar pode ser visto como um defeito de enchimento no vaso (imagem de hipoatenuação), circundado completa ou parcialmente por sangue contrastado, ou como um defeito completo de enchimento, com o vaso totalmente não opacificado. → Cintilografia de ventilação/perfusão pulmonar: usado principalmente em pacientes que não toleram o contraste intravenoso. Pequenos agregados particulados de albumina marcada com um radionuclídeo emissor de raios gama são injetados por via intravenosa e ficam retidos no leito capilar pulmonar. A falha de perfusão na cintilografia indica ausência ou redução do fluxo sanguíneo, possivelmente em razão de EP. S3 Medicina Alina Villela → Arteriografia pulmonar: A arteriografia tem sido considerada, ao longo do tempo, como o exame padrão -ouro para o diagnóstico de TEP. Entretanto, em função de ser invasiva, com complicações possíveis, embora não muito frequentes, sua realização tem sido reservada para os casos em que a investigação anterior, incluindo cintilografia ou angiotomografia e estudo dos membros inferiores, foi inconclusiva. ▪ após o 4º dia de anticoagulação com enoxaparina (subcutânea), houve melhora da dor e da hipoxemia ▪ Realizado ecocardiograma e próBNP que foram normais ▪ Trocada a anticoagulação por warfarina (oral); demora de 3-4 dias para seu efeito anticoagulante; Controle pelo INR; 6 meses de tratamento Warfarina ▪ Mecanismo de ação: Inibe a regeneração da vitamina K reduzida; Fatores de coagulação II, VII, IX e X ▪ Indicações: Prevenção da recorrência de TVP ou TEP; Prevenção de trombose intracardíaca na fibrilação atrial ou prótese valvar metálica ▪ Farmacocinética: Metabolizada no fígado; estreita faixa terapêutica (controlada pelo tempo de protrombina – INR); várias interações com outras drogas ▪ Efeitos adversos: Sangramento; Teratogênica; Necrose de pele Por quanto tempo é o tratamento? ▪ Diminuir o risco de recorrência: 6 meses ▪ Se o fator de risco não puder ser corrigido, será contínuo ▪ Se for um episódio de recorrência, também será contínuo ▪ Alta probabilidade de um 3º evento ▪ Se fator de risco claramente identificado e exames normais, pode ser removido antes dos 6 meses Novas opções de anticoagulantes ▪ Fondaparinux (SC): Inibidor do Fator Xa ▪ Rivaroxaban (VO): Inibidor do Fator Xa independente da antitrombina III ▪ Apixaban (VO): Inibidor do Fator Xa independente da antitrombina III ▪ Dabigatran (VO): Inibidor competitivo da trombina (livre e aderida ao coágulo) ▪ Não precisam ser controlados pelo INR. Mais algum exame? → Investigar trombofilias: ▪ Deficiências no sistema anticoagulante: Mutação do fator V de Leiden: Resistente à inativação natural da proteína C ▪ Deficiências de: Proteína C; Proteína S; Antitrombina III ▪ Síndrome do anticorpo antifosfolípide ▪ Hiperhomocisteinemia → Investigar malignidades mais prováveis (ginecológicas)
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