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1 CURSO: ENFERMAGEM DISCIPLINA: CUIDADO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM Resenha Crítica Artigo: Saúde do homem e masculinidade na PNAISH: uma revisão bibliográfica Basicamente o artigo, orientado pela teoria do gênero sobre masculinidades, revisa os textos que trataram do tema nos periódicos de Saúde Coletiva/Saúde Pública no período de 2005-2011. Os eixos temáticos encontrados coincidem com as prioridades conferidas pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, criada pelo Ministério da Saúde em 2008. São eles: o acesso dos homens aos serviços de saúde, sexualidade, saúde reprodutiva, violência e os principais agravos à saúde masculina, contextu- alizados à luz dos determinantes sociais da saúde. Tais determinantes se baseiam em um tipo de masculinidade tradicional concebida como hegemônica, que apesar de comprometer a saúde masculina, não é o tipo único de masculinidade existente na sociedade. As diferentes masculinidades encontram- se imbricadas no processo saúde/doença vivido pelos homens. Elas devem ser consideradas na busca da adesão dos homens aos serviços de saúde. Um dos princípios destacados é a necessidade de mudança da percepção masculina nos cuidados com a própria saúde e a dos seus familiares. Neste contexto este estudo é de relevância, a se considerar o quanto a saúde pública no Brasil precisa evoluir, principalmente quando os indivíduos em questão são os homens, moldados pela cultura que os levam a exercer condutas perigosas a sua saúde, e podem provocar graves consequências que poderiam ser evitadas. Um dos motivos citados que gera a impossibilidade dos homens em procurar os serviços de saúde e participar das atividades oferecidas pelas Unidades Básicas de Saúde, é por coincidir com o horário de trabalho, e que talvez provoque um dilema em suas vidas, e a busca por cuidados fica em segundo plano, é uma incoerência. Pois vale ressaltar que a mulher também trabalha e mesmo assim ela consegue ir aos serviços de saúde e frequentar as atividades oferecidas nas Unidades Básicas de Saúde. Portanto esse não pode ser considerado o grande responsável pela não participação do homem nas ações de cuidado. 2 O sentimento de superioridade atrapalha e impede muitas vezes a prática de hábitos saudáveis pelo estilo de vida imprudente, pois os homens na grande maioria se consideram quase que super-heróis e que nada vai atingi- los. Nem mesmo a possibilidade de serem acometidos por uma enfermidade os preocupa, já que eles morrem mais cedo e em proporção superior as mulheres pelas principais causas de morte. Os homens precisam compreender que o processo de adoecimento não está relacionado com a presença de sinais e sintomas. Esta conduta os faz expor a agravos crônicos, e deve ser um dos focos principais das ações de saúde voltadas para estes indivíduos, bem como a importância de trazer para a discussão os obstáculos impostos pelas concepções de gênero. Claramente constata-se a necessidade da Política de Saúde direcionada aos homens ser repensada e melhor trabalhada quanto aos determinantes que envolvem o processo saúde doença deste público. Atividades para a saúde do homem, quando existem, são pontuais e, muitas vezes, não atendem às necessidades e demandas desta população. Mesmo com a elaboração da Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem, a assistência a esta população não tem uma abordagem integral, com orientações voltadas para as situações de violência, uso de álcool, drogas, além da prevenção do câncer de próstata e ações para a saúde sexual e reprodutiva. A atenção à saúde do homem ainda está pautada sobre o modelo biomédico, o que limita em muito as atividades para este público. Esta visão sobre o processo saúde-doença resulta em alta medicalização e pouca discussão sobre os fatores sociais que podem aflorar os sintomas clínicos, principalmente em se tratando da saúde mental. As demandas que não encontram solução através da medicalização não são valorizadas e escutadas. Neste sentido o homem é tratado como um objeto que precisa ser curado para poder retornar ao mercado de trabalho e continuar contribuindo para a produção de bens de consumo tão valorizados pelo sistema econômico vigente, o sistema capitalista. Neste conjunto o sistema de saúde nada mais é que uma instituição social que existe para assegurar a saúde da força de trabalho, perpetuando a identidade de homem trabalhador e provedor, consequentemente gerando mais distanciamento desse público aos cuidados em saúde. O cuidado inerente ao sexo feminino é relacionado desde quando elas são crianças. Pode-se considerar que da mesma forma que os meninos são moldados a serem fortes, as meninas são influenciadas a serem dóceis. Isto pode estar diretamente relacionado a forma como a sociedade trata a questão do gênero. Em conclusão, o presente estudo revelou que os homens são resistentes no cuidado da sua saúde devido aos sentimentos de medo, vergonha, e por causas comportamentais como a impaciência, o descuido, prioridades de vida e que os fatores ligados ao gênero exercem forte influência, muitas vezes até como obstáculo. Estes atributos impedem que os homens demostrem medo, insegurança, ansiedade, dor e sofrimento, repercutindo nas suas práticas em saúde. Uma vez que demostrar fragilidade é se aproximar das 3 características próprias do feminino, os cuidados em saúde passam a ser responsabilidade da mulher. Portanto de um lado o feminino que cuida da saúde, e do outro o masculino que não cuida, configurando de tal modo um agravante, pois se não são considerados cuidadores nem de si e nem dos outros, os profissionais não se sentem estimulados a oferecer atividades que remetem a promoção da saúde. Por fim é urgente entender que, saúde e masculinidade não residem simplesmente na estruturação do Sistema de Saúde para atender as demandas de saúde masculinas, pois estas são compostas por uma teia de valores e práticas socioculturais, tecida secularmente, ao mesmo tempo estruturante e estruturada nas relações dos homens com seus corpos, com sua saúde e com aqueles com quem se relacionam. E tão imperativa quanto é também uma política pública voltada aos homens, a partir da visão crítica de gênero sobre as masculinidades, deve levar em conta as relações de poder presentes nas interações sociais, no caso, aquelas geradoras de sofrimentos e aflições que são vividos diferentemente pelos sujeitos e perpassam as diversas arenas sociais. Ver os homens como vítimas não se coaduna com tal perspectiva, pois resulta no retorno à concepção de um “masculino universal” abstraído das relações de poder e dominação existentes na socialização dos sexos. REFERÊNCIA SEPARAVICH, M. A.; CANESQUI, A. M. Saúde do homem e masculinidades na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: uma revisão bibliográfica. Saúde e Sociedade, v. 22, n. 2, p. 415–428, jun. 2013.
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