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1 2 SUMÁRIO ASSISTÊNCIA SOCIAL ........................................................................................... 03 ORIGEM DA QUESTÃO SOCIAL ........................................................................... 04 SERVIÇO SOCIAL E A ESCOLA ............................................................................ 08 ASSISTÊNCIA SOCIAL E SAÚDE .......................................................................... 13 RESPONSABILIDADES DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE PÚBLICA.......... 13 POR QUE A INTERSETORIALIDADE É IMPORTANTE? ...................................... 15 O HOMEM E A SOCIEDADE ................................................................................... 16 A DESIGUALDADE SOCIAL ................................................................................... 19 OS FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS ..................................................... 25 DIRETOS HUMANOS ............................................................................................. 27 COMO SURGIRAM OS DIREITOS HUMANOS? .................................................... 37 MITOS E VERDADES SOBRE OS DIREITOS HUMANOS......................................38 A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS ................................ 39 OS DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA ............................. 46 A DECLARAÇÃO UNIVERSAL E A CONSTITUIÇÃO DE 1988 ............................ 52 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 64 3 ASSISTÊNCIA SOCIAL A Assistência Social é uma política pública, ou seja, um direito de todo cidadão que dela necessitar. Ela está organizada por meio do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que está presente em todo o Brasil. Seu objetivo é garantir a proteção social aos cidadãos, por meio de serviços, benefícios, programas e projetos que se constituem como apoio aos indivíduos, famílias e para a comunidade no enfrentamento de suas dificuldades. Sistema Único de Assistência Social - SUAS O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é um sistema público que organiza, de forma descentralizada, os serviços socioassistenciais no Brasil. Com um modelo de gestão participativa, ele articula os esforços e recursos dos três níveis de governo para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), envolvendo diretamente as estruturas e marcos regulatórios nacionais, estaduais, municipais e do Distrito Federal. O SUAS organiza as ações da assistência social em dois tipos de proteção social. A primeira é a Proteção Social Básica, destinada à prevenção de riscos sociais e pessoais, por meio da oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social. A segunda é a Proteção Social Especial, destinada as famílias e indivíduos que já se encontram em situação de risco e que tiveram seus direitos violados por ocorrência de abandono, maus- tratos, abuso sexual, uso de drogas, entre outros. No SUAS também há a oferta de Benefícios Assistenciais, prestados a públicos específicos de forma integrada aos serviços, contribuindo para a superação de situações de vulnerabilidade. Também gerencia a vinculação de entidades e organizações de assistência social ao Sistema, mantendo atualizado o Cadastro Nacional de Entidades e Organizações de Assistência Social e concedendo certificação a entidades beneficentes. Criado pelo então Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), o Sistema é 4 composto pelo poder público e sociedade civil, que participam diretamente do processo de gestão compartilhada. A gestão das ações e a aplicação de recursos do SUAS são negociadas e pactuadas nas Comissões Intergestores Bipartite (CIBs) e na Comissão Intergestores Tripartite (CIT). Esses procedimentos são acompanhados e aprovados pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e seus pares locais, que desempenham um importante trabalho de controle social. Criado a partir das deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social e previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), o SUAS teve suas bases de implantação consolidadas em 2005, por meio da sua Norma Operacional Básica do SUAS (NOB/SUAS), que apresenta claramente as competências de cada órgão federado e os eixos de implementação e consolidação da iniciativa. ORIGEM DA QUESTÃO SOCIAL O aparecimento da questão social está ligado à mudança do trabalho escravo para o trabalho livre. Tratando-se agora de uma sociedade capitalista (com um mercado regido por relações dominadas pelo controle do capital), surgem como personagens principais: O capitalista que exerce o domínio nesta relação social de produção por ser o dono dos meios de produção; e O proletariado que é proprietário da sua força de trabalho, tornada agora mercadoria que precisa ser vendida ao capitalista para que o proletário possa garantir a sua sobrevivência. Devido à exploração existente nesta relação, o proletariado, na sua luta por melhores condições de vida, passa a incomodar o sossego do capitalista, sendo necessária a intervenção do Estado para mediar esta situação, por meio da imposição de dispositivos legais para regular a relação capital-trabalho. O Serviço Social surge como uma resposta dos grupos dominantes. Datas importantes para o Brasil ocasionaram mudanças em toda a sociedade brasileira, como o ano de 1929, ano da crise do comércio internacional. É a crise da bolsa de valores de Nova York que também afeta o Brasil, assim como o movimento de 1930. Esses acontecimentos geram mudança na estrutura política e econômica. O Brasil nesta época, principal exportador de café, e um dos principais exportadores de açúcar, passa a investir em sua industrialização interna com o objetivo de 5 substituir as importações. Passa, assim, a ser alterado o meio da acumulação do Capital, transferido da agroexportação para a área da indústria. Eram degradantes as condições de vida e de trabalho da classe operária. Moravam em péssimas condições, e em ambientes propícios a doenças. Faltavam muitos itens necessários à sobrevivência e os salários eram muito baixos por causa até da grande quantidade de pessoas desempregadas à procura de uma oportunidade de emprego, sendo conhecido também como o grande exército industrial de reserva. O salário era insuficiente para possibilitar a digna sobrevivência do trabalhador e da sua família. Embora grande parte dos componentes da família trabalhasse, incluindo mulheres e crianças muito novas, e se esforçassem, ainda assim o salário era insuficiente para o atendimento das suas necessidades básicas. Contavam, também, com péssimas condições no local de trabalho, ambientes sem segurança e higiene. Altas jornadas de trabalho, inclusive de forma igual para mulheres e crianças, sem direitos como, por exemplo, a final de semana remunerado. Em meio a tudo isso, surgiu a necessidade da classe trabalhadora unir-se, organizar-se em prol de melhores condições de vida. Surgem por exemplo, mediante esta necessidade, as Ligas Operárias que vão dar origem aos Sindicatos e as Sociedades de Resistência. E até organizações mais avançadas como Congressos Operários e Confederações Operárias, contando inclusive com uma imprensa operária. No entanto, essas entidades só tiveram o reconhecimento dos operários quando foram combatidos, reprimidos e seus líderes perseguidos e presos. Aos poucos, a classe trabalhadora alcançaria algumas conquistas. 6 O Conselho Nacional do Trabalho é criado em 1925, e em 1926 são aprovadas leis de proteção ao trabalho, como a lei de férias, código de menores, seguro-doença, etc. Entretanto, na primeira República é pequeno o resultado do número de conquistasconseguidas pelo movimento operário, por meio das suas reivindicações. A resposta do Estado às manifestações e às lutas da classe operária eram a repressão e a violência. A burguesia, que tem o crescimento do seu lucro na exploração da força de trabalho, vai procurar impedir qualquer inovação que possa constituir- se como entrave à sua possibilidade de explorar o máximo possível o trabalho excedente. A classe burguesa só reconheceu a legitimidade dos Sindicatos no período ditatorial de Getúlio Vargas e permaneceu em constantes atritos com estes. Uma das questões interessantes levantadas pelos capitalistas e responsáveis pela implantação do Serviço Social diz respeito às conquistas sociais adquiridas pelos trabalhadores, com respeito à diminuição da sua jornada de trabalho e como as leis de férias, por exemplo. Os capitalistas argumentavam que era necessário disciplinar o tempo livre do proletariado, pois como este não teve acesso à educação, nas horas de folga estará sujeito aos vícios e coisas erradas. Apesar de sempre aparecerem sob uma aura paternalista e benemerente, 7 constituiam-se numa atividade extremamente racionalizada, que buscava aliar controle social ao incremento da produtividade e aumentar a taxa de exploração. Em 1869, foi fundada a Sociedade de Organização da Caridade em Londres, marco para a organização da Assistência Social. Além de levantar a questão da necessidade de haver instituições que formassem profissionais para atuar na área da Assistência Social. A primeira escola de Serviço Social do mundo surge em Amsterdã, em 1899. Em 1936, surge em São Paulo a primeira Escola do Serviço Social do Brasil. Para resolver a questão do disciplinamento do tempo do operário, as Ligas das Senhoras Católicas, em São Paulo, e a Associação das Senhoras Brasileiras, no Rio de Janeiro, vão ficar responsáveis pela educação dos trabalhadores. Os meios de produção são os elementos pelo qual a sociedade evolui, ou seja, investindo, transformando, as matérias da velha produção para a produção nova. Os meios de produção precisam ser substituídos, se faz necessário dentro do sistema capitalista, que produza mais para obter lucros. 8 SERVIÇO SOCIAL E A ESCOLA A seguir, falaremos das diversas expressões da questão social que podem se manifestar no espaço da escola. Para isso, consideraremos as especificidades das ações dos profissionais de Serviço Social, os assistentes sociais, diante das demandas da área da educação. Em outras palavras, será pressuposto que esses profissionais podem auxiliar os professores em sua atuação em sala de aula, considerando os limites de atuação proporcionados pelas diferentes formações. A escola é também o espaço e o lugar do assistente social. O espaço é um lugar praticado, ou seja, um espaço no qual se determinam as percepções resultantes do lugar e das relações estabelecidas nele, dando-lhe significado. Em consequência, é a atividade que qualifica o espaço. É com base nesse conceito de compreensão de lugar praticado que se fundamenta a discussão do cotidiano escolar e do lugar do assistente social. O acesso e o uso das políticas sociais ocorrem em espaços nos quais os serviços e programas são executados. Identidades e significações são impressas por meio daquilo que historicamente as definiu. Entretanto, a escola não é um espaço natural, mas o segundo lugar ocupado pela criança depois da casa/família. Sendo assim, essa instituição demandou diversos processos de transformação, de maneira que as escolas e os princípios sobre os quais elas foram construídas abrangem histórias que perpassam diferentes contextos sociais e culturais, diversas noções sobre educação e as necessidades de uma pessoa ainda em desenvolvimento de sua identidade. A busca por uma identidade é um desafio cotidiano. Desde o momento em que nascemos, ocupamos um espaço que está em constante interação com outros lugares. E o espaço forma uma história de múltiplos sentidos, constituída de fragmentos de trajetórias diversas, sem autor, mas com interações de espaços. Desse modo, o ambiente educacional pode ser um local de trocas de valores, de pontos de vista, de culturas. 9 Apesar de poderem existir riscos de a escola perder sua capacidade de criar vínculos, ela ainda é um espaço de ação social, pois oferece dados e referências sobre a vida das crianças. Além disso, pode ser reconhecida como uma agência social, pois prepara os alunos para a vida por meio de atividades. Inserida na sociedade e existente desde o início da Modernidade, a escola se constituiu à partir das demandas econômicas, políticas e culturais de uma classe social emergente: a, então, burguesia. Por isso, a educação formal e o acesso à escola estavam profundamente ligados à condição econômica das famílias. No Brasil, a universalização do acesso à escola ocorreu de forma lenta e ainda permanece incompleta em muitos sentidos. Esse processo caracterizou-se pela ampliação das especificidades existentes no espaço escolar, cujo contexto passou a produzir desafios que demandam soluções cotidianas e que são fundamentais para o êxito dos professores e dos alunos nos processos de ensino e de aprendizagem. Mesmo considerando que o objetivo da escola seja a transmissão do conhecimento científico, artístico e filosófico acumulado pela humanidade, devemos considerar que a escola é mais do isso. Nela se reúnem também as mais diversas demandas do desenvolvimento dos alunos e dos professores. Por isso, a escola é um lugar onde emergem os mais variados conflitos, frutos da interação entre diferentes sujeitos. Os alunos vão para a escola e levam consigo sua história de vida, sua cultura e seus sonhos, por exemplo. Quando chegam a esse ambiente educacional, muitas vezes deparam-se com uma realidade de descaso de seus direitos básicos: ensino de qualidade, merenda escolar, material escolar, entre outros. Pode-se dizer que a inserção dos alunos de população socioeconômica precária ou vulnerável altera o contexto sociopolítico que envolve o ambiente escolar. O ensino passa a requerer habilidades e competências diversas dos profissionais envolvidos nesse trabalho. É necessário um profissional que estabeleça uma relação de intervenção efetiva junto a essa realidade. 10 Dessa forma, o trabalho dos assistentes sociais nas escolas não deve ser confundido com aquele sob responsabilidade dos professores. Mesmo se consider a dimensão socioeducativa resultante do trabalho do assistente social, sua atividade está mais intimamente vinculada ao fortalecimento das redes de sociabilidade e à efetivação do acesso aos serviços sociais e processos socioinstitucionais. Assim como existe uma dimensão educativa na ação do assistente social, mesmo não sendo o centro de sua atuação, o processo de trabalho no qual se ele se insere não é exclusivo dele. O professor, como profissional do ensino, participa de certa maneira dos processos que envolvem a questão social. No entanto, o espaço de atuação do assistente social representa uma peculiaridade e existe a necessidade da autonomia técnica desse profissional, pois sua formação se fundamenta na intervenção direta nos problemas sociais. A presença do assistente social no ambiente da escola deve facilitar o acesso aos serviços socioassistenciais, por meio das informações, encaminhamentos, inserção e atendimento em programas, sejam da própria escola, sejam dos diferentes setores que compõem a rede de atendimento à família e seus sujeitos. Portanto, o assistente social é um articulador estratégico no atendimento aos alunos e as suas famílias, por 11 um conjunto de ações integradas de orientações que podem contribuir para promover melhoria no desempenho escolar dos alunos. Ao assistente social compete o reconhecimento e o fortalecimentodos espaços de formulação e construção coletiva em que, juntamente com outros profissionais, seja capaz de elaborar estratégias políticas e técnicas para modificar a realidade. Esse profissional pode produzir, por suas ações e intervenções, resultados concretos nas condições materiais, culturais e sociais de vida dos sujeitos sobre os quais incidem suas ações. Como agente de ligação entre a família, a sociedade e a escola, o assistente social representa importante papel na ação educacional, criando um conjunto de medidas de auxílio e suporte às famílias por meio do provimento de necessidades básicas de subsistência. Compete destacar que as ações do assistente social, no âmbito da escola, devem ser pensadas e efetivadas em conjunto com a equipe escolar, na qual o profissional do Serviço Social é um parceiro das ações desenvolvidas pelos demais profissionais. As ações e reações são resultado do trabalho realizado em conjunto por essa equipe, que tem como objetivo em comum a garantia não somente da permanência do aluno na escola, mas principalmente da qualidade do ensino, especialmente se considerarmos a promoção dos alunos como sujeitos inseridos na sociedade. Além da ação diretamente na escola, no âmbito familiar faz-se necessário um trabalho interventivo de orientação e sensibilização para a aproximação da família à escola, pois dessa forma se efetivam muitas ações que podem promover com mais eficácia os objetivos da escola, pois, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, ―é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico‖ (Lei nº 8069/90). No entanto, com o crescimento acelerado da sociedade e o desenvolvimento global do sistema econômico capitalista, tornou-se comum que muitas famílias depositem na escola a responsabilidade pela condução absoluta do processo educacional de seus filhos. A construção das ações de ensino deve ser realizada em conjunto entre 12 a escola e a família. O desenvolvimento e o crescimento do aluno em sua vida escolar dependerão e muito do envolvimento familiar no processo, mas o tempo para diálogo, orientação e acompanhamento das famílias com os filhos sobre suas responsabilidades escolares têm sido cada vez menor. Esse é um fenômeno no qual o assistente social pode e deve atuar. Há ainda outro desafio posto ao profissional do Serviço Social na educação: compete a ele, no exercício de suas habilidades e competências, colaborar para o fortalecimento de uma gestão democrática dentro da escola. Estimulando a comunidade escolar na participação do processo educacional, sob a compreensão de que a comunidade escolar se concretiza nas ações dos educadores, sejam alunos, professores, responsáveis familiares, técnicos administrativos, porteiros, entre outros que compõem a dinâmica escolar. Entre as atribuições técnicas do assistente social está a articulação com as instituições assistenciais privadas e/ou públicas em caráter estratégico no atendimento às demandas socioeconômicas, especificamente no âmbito da educação. Essa atuação é constituída pelo conjunto de ações de orientação executadas com vista ao aprimoramento do desempenho acadêmico do aluno e, por conseguinte, da sua qualidade de vida. A formação educacional das crianças e adolescentes não se realiza exclusivamente na sala de aula. Compreende um conjunto de atividades que, desempenhadas pela escola e na sala de aula, viabiliza a qualidade de vida (atual e futura) deles como sujeitos e cidadãos de direito. Equidade e justiça social, na universalização de acesso aos bens e serviços, são os princípios fundamentais seguidos pelo assistente social no exercício das suas funções. Nesse contexto reside a importância de um profissional que identifique as necessidades dos alunos como figura capaz de viabilizar a igualdade de condições e a promoção de uma perspectiva autônoma de garantia de direitos e cidadania plena. A escola é um espaço apropriado para a ação do assistente social. Sua presença nas escolas pode contribuir para a efetivação dos objetivos do sistema educacional. Diversas situações que ocorrem cotidianamente nas escolas e em suas salas de aula dificultam o ensino e a aprendizagem. Muitas delas originam-se em questões 13 sociais que escapam da competência profissional do professor. O assistente social pode auxiliar a construção de uma escola que permita a identificação dos alunos com esse ambiente, de maneira que ela se torne realmente um lugar onde se deseje estar. ASSISTÊNCIA SOCIAL E SAÚDE Os trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social precisam ter amplo conhecimento sobre diversas áreas. Afinal, é comum sua articulação com outras políticas públicas. Uma das dúvidas mais frequentes sobre esse tema é o papel do assistente social na saúde. É comum surgirem demandas da Saúde na Assistência Social. Quando isso ocorre, o assistente social encaminha o usuário, por exemplo, a um ambulatório. Porém, pode existir uma superlotação nesses lugares. O atendimento pode demorar e, quando finalmente ele acontece, o paciente pode ser encaminhado para outro profissional da Saúde. Esse fluxo não é eficiente. Em várias etapas, pode não existir acolhimento. O usuário, fragilizado, acaba desistindo do tratamento, por exemplo. É desgastante para o indivíduo e caro para o poder público. Como política garantidora do direito à proteção social, a Assistência Social, materializada através do trabalho do assistente social e de outros profissionais, tem papel fundamental no processo descrito acima, bem como na melhoria dele. Responsabilidades do assistente social na saúde pública Primeiro, os profissionais da Assistência Social precisam superar o sentimento de subalternidade (dependência ou inferioridade) ainda comum em muitos municípios brasileiros. É necessário que se posicionem, já que as leis lhes garantem autonomia e poder de decisão para o exercício de seu trabalho. O papel do assistente social na saúde é determinante para melhorar o serviço de ambas as políticas públicas. Afinal, o processo saúde-doença é, antes de tudo, uma definição social. E, apenas o profissional da 14 Assistência Social domina os fenômenos socioculturais e econômicos de seus usuários. Segundo o Ministério da Saúde, as responsabilidades do assistente social na saúde pública são: Através do atendimento ao usuário, compreender sua situação e realizar o encaminhamento adequado; Informar e mobilizar o usuário acerca de seus direitos e de seu papel como cidadão. Conscientizando-o de que a Assistência Social não oferece favores, mas garante seu direito à proteção social; Facilitar o acesso aos serviços de saúde, cumprindo com a universalidade e a equidade dos direitos sociais dos usuários; Debater sobre a situação social do usuário/paciente com os profissionais de saúde; Participar, sempre que possível, de encontros interdisciplinares; Acompanhar e estimular o tratamento de saúde do usuário; Envolver os familiares e alertá-los sobre a importância de seu apoio no tratamento. Além das atribuições acima, o assistente social pode, de uma forma mais ampla: Organizar espaços, junto com os profissionais de saúde, com o objetivo de estimular a participação popular nas decisões de ambas as políticas públicas; Da mesma forma, estimular a participação crítica de todos os funcionários (tanto da Assistência Social, quanto da Saúde) nesses espaços; Ter uma postura de curiosidade. Estudar e se atualizar, sempre que possível, sobre temas relacionados à área da Saúde. http://www.blog.saude.gov.br/ 15 POR QUE A INTERSETORIALIDADE É IMPORTANTE? É importante conceitualizar o que é intersetorialidade. Trata-se do trabalho conjunto de diferentes áreas envolvendo desde compartilhamento de conhecimento, gestão eações com o objetivo de enfrentar de maneira articulada e eficiente problemas que possuam em comum. Imagine cruzar dados da Assistência Social, Saúde e Educação e gerar, de forma automática, informações ricas para embasar o trabalho dos profissionais dessas áreas? Seria muito mais fácil encontrar soluções para os inúmeros problemas sociais que temos no país e que, na maioria das vezes, são multifacetados. Por exemplo, o indivíduo pode estar constantemente doente por conta da precariedade onde vive. Essa é uma situação que os profissionais de saúde, sozinhos, não conseguirão resolver. Sem contar que as ações coletivas têm maiores chances de serem efetivas. Ao trabalhar isoladamente, informações importantes se perdem, impedindo um olhar amplo e, em consequência, resultados expressivos. O papel do assistente social no processo de intersetorialização é fundamental. Ao realizar as ações descritas anteriormente, como debater sobre a situação social do usuário com o profissional de saúde, estará contribuindo para a efetivação do 16 trabalho em conjunto com outras áreas. A articulação entre as políticas ajuda, inclusive, na construção de novas posturas e ações. Tomando, como base, dificuldades em comum das duas áreas. Por ser uma política garantidora de direitos, a Assistência Social é atuante na luta pela desfragmentação dos serviços públicos. Mas existem muitos desafios para que a intersetorialidade se concretize. O tema é relativamente novo. Exige muito debate, reestruturação e gestores e profissionais abertos a essas mudanças. É preciso um olhar amplo e analítico de todos os envolvidos, pois a estrutura deve ser repensada coletivamente. Principalmente quando se falam de áreas que deveriam ser muito mais próximas, como a Assistência Social e a Saúde. O trabalho do assistente social na saúde, devido à estrutura atual, é complexo. Ações separadas em ―caixinhas‖ já não resolvem mais. A efetividade das ações do governo e seu impacto social estão diretamente relacionados à articulação de todas as políticas públicas. O HOMEM E A SOCIEDADE O horizonte ético é o que dá sentido a um processo de mobilização num país que explica seu horizonte, seu projeto de nação, sua atuação e sua Constituição. Nele, se definem suas próprias escolhas. Quando o homem na sua determinação enquanto ser social pertencente a um Estado Democrático de Direitos, os seus fundamentos são: A soberania. A cidadania. A dignidade da pessoa Humana. Os valores dos trabalhos e da livre iniciativa. O pluralismo político. Toda ordem de convivência é constituída. As ordens de convivência são naturais. O que é natural é a nossa tendência a viver em sociedade. 17 Quando as pessoas assumem que têm nas mãos o seu destino e descobrem que a construção da sociedade depende de sua vontade e de suas escolhas, a democracia pode tornar-se uma realidade. Como a ordem social é criada pelo povo, o agir ou não agir de cada um contribui para a formação e consolidação da ordem em que se vive. Pode-se dizer, também, que houve uma inversão da lógica que por séculos moveu a humanidade: ―aparecendo à necessidade se cria o produto‖. Nos dias de hoje é ao contrário: ―crie o produto e depois estimule o desejo, a necessidade não é importante‖. Visto que é uma sociedade que vive do poder da informação, tendo como base as novas tecnologias, ela poderá ser muito discriminatória entre países, internamente, entre empresas ou entre pessoas. Até um tempo atrás, o saber ler e interpretar textos, bem como efetuar cálculos matemáticos simples, era obrigatório para se viver em harmonia e bem estar na sociedade, este novo cenário mudou e as necessidades de qualificações profissionais e acadêmicas aumentaram consideravelmente. Agora, a escola assume um papel fundamental na Sociedade da Informação, dotar o homem de capacidades para competir com o avanço tecnológico, condicionando-o de maneira a que este avanço não seja autônomo. Possa ser controlado de modo a corresponder as necessidades com o desenvolvimento tecnológico e não o 18 desenvolvimento tecnológico a moldar as necessidades. A convivência social tem que ser ensinada, aprendida e desenvolvida todos os dias. Essa é uma tarefa de toda a vida de uma pessoa ou de uma sociedade. São sete tipos de convivências básicas para se conviver numa sociedade, que são: Aprender a não agredir o semelhante: fundamento de todo modelo de convivência social. Aprender a comunicar- se: base da autoafirmação pessoal do grupo. Aprender a interagir: base dos modelos de relação social. Aprender a decidir em grupo: base da política e da economia. Aprender a cuidar de si mesmo: base dos modelos de saúde e seguridade social. Aprender a cuidar do entorno: fundamento da sobrevivência. Aprender a valorizar o saber social: base da evolução social e cultural. Nem toda ordem de convivência é realmente democrática. A monarquia é uma ordem de convivência, mas não é democrática. Nela, um monarca, por laços de sangue ou divindade, coloca-se fora da sociedade, diferente dos outros, cria as leis e as normas que vão regê-la. Numa sociedade da informação, os aspectos positivos são visíveis, tal como a melhoria da nossa qualidade de vida. Com a introdução de máquinas e robôs nas indústrias, tem-se aumentado a taxa de desemprego, mas a transição por vezes tem estas consequências. 19 A taxa de desemprego continua a aumentar com o desaparecimento de algumas profissões, entre outros fatores. A perda de postos de trabalho, a extinção de algumas profissões, e a reconversão de outras até serem substituídas por novas, decorre um longo período de adaptação. A democracia supõe a construção da equidade social, economia, política e cultura. Como a ordem democrática é uma ordem construída, não existe um modelo ideal de democracia que se possa copiar ou imitar. Pode-se aprender com outras sociedades que constroem sua própria ordem democrática, mas é responsabilidade das pessoas contribuírem para uma sociedade melhor. A DESIGUALDADE SOCIAL A desigualdade social é a diferença existente entre as classes sociais ou castas dominantes e as classes sociais ou castas dominadas. Ao longo dos tempos, os sistemas econômicos e políticos das cidades foram criando mecanismos de distinção entre as pessoas. Nas chamadas sociedades estratificadas, esses mecanismos são as divisões de castas, como os nobres na Europa feudal e as castas indianas, predominantes como sistema de distinção até o século XX. Nessas sociedades, a possibilidade de mobilidade social (sair de uma casta inferior e passar para uma superior) é nula ou quase nula, sendo que a origem familiar determina a casta. O republicanismo e o capitalismo criaram outro sistema de distinção baseado na capacidade de acúmulo de capital. Esse sistema tem uma possibilidade maior de mobilidade, mas ocorre uma grande desigualdade social, 20 que é uma barreira para o pleno desenvolvimento das sociedades capitalistas contemporâneas. Breve histórico sobre a desigualdade social no mundo A desigualdade social não é um fenômeno novo, mas as formas mais avançadas do capitalismo (industrial e financeiro) resultaram numa intensificação dela no mundo a partir do século XIX. Outro fenômeno que a intensificou foi o colonialismo europeu sobre os países do Hemisfério Sul. A colonização europeia, sobretudo sobre as Américas Central e Sul, sobre a África e sobre partes da Ásia, foi movida pelo interesse na exploração de recursos naturais. A retirada desses recursos desses locais, a exploração da mão de obra escrava ou de baixo custo e a ida de colonos para os territórios colonizados geraram um sistema desigual que perdura até hoje. Portanto, os dados sobre a desigualdade social no mundo demonstrama existência de um verdadeiro abismo entre a minoria mais rica e a maioria mais pobre, sendo que os países mais pobres são campeões nos rankings sobre a desigualdade social. A desigualdade social causa uma distorção econômica que afeta negativamente a maioria pobre da população. Como é medida a desigualdade social? Existe um padrão de medida criado pelo matemático e estatístico italiano Conrado Gini, chamado coeficiente de Gini (ou índice de Gini), que mede a desigualdade em um determinado local e é comumente utilizado para medir a desigualdade de renda. O índice de Gini é expressado por um número que variam de zero a um, sendo zero o marco da ausência de desigualdade de renda, enquanto o numeral um representa o máximo possível dela. 21 Dados sobre a desigualdade social no mundo Além do coeficiente de Gini, existem dados de pesquisas variadas que mostram a alta desigualdade social no mundo. Segundo matéria publicada, em 2015, no periódico El País, 1% da população mundial concentrava metade de toda a riqueza do planeta. Na mesma matéria há uma pirâmide de renda demonstrando que 0,7% da população mundial possui renda de mais de um milhão de dólares mensais, 7,4% possuem renda entre 100 mil e um milhão, 21% possuem renda entre 10 mil e 100 mil dólares, e 71% possuem renda menor que 10 mil dólares mensais. O maior problema é que grande parte desses 71% mais pobres do planeta possui rendas extremamente baixas ou está abaixo da linha da pobreza, tendo dificuldades para manter alimentação e moradia dignas. A desigualdade social separa as camadas mais ricas e poderosas das camadas mais pobres da população. 22 Desigualdade social no Brasil Segundo um estudo de 2017, divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Brasil era, então, o sétimo país mais desigual do mundo, ficando atrás apenas de nações do continente africano. A favela de Paraisópolis (São Paulo) está localizada ao lado de condomínios de luxo. A paisagem ilustra a desigualdade social brasileira. Outro estudo, em 2015, havia classificado o Brasil como o 10º país com maior desigualdade social em um ranking de 140 países. A pesquisa apresentada na matéria foi coordenada pelo ex-diretor do Ipea e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A matéria apontava que dados levantados pela Oxfam (uma confederação internacional com mais de 3000 membros que estuda e luta contra a pobreza no mundo) mostravam que os seis maiores bilionários brasileiros concentravam, juntos, a riqueza da metade da população brasileira. Isso significa que, em um país com aproximadamente 210 milhões de habitantes, seis deles possuíam a riqueza equivalente a de outros 105 milhões. O Brasil é o país que mais concentra riqueza entre o 1% mais rico na América Latina, tendo seu coeficiente de Gini mais baixo entre os países latino americanos, ficando atrás apenas de Colômbia e Honduras. O distanciamento entre as camadas sociais pode ser percebido em outra discrepância: enquanto metade da população recebia, em média, R$ 850, 1% dos brasileiros tinha rendimento médio mensal de R$ 28.659. A falta de infraestrutura e a má distribuição de renda são coisas que agravam a situação. A PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) 23 permite olhar isso no universo do Brasil como um todo. Os problemas mudam de acordo com a região. Brasília, por exemplo, tem a maior renda, mas também a maior desigualdade. Como acabar com a desigualdade social? Ao longo da história moderna, a preocupação com a desigualdade social começou a surgir, dando lugar a teorias que visavam reduzir ou eliminar as diferenças econômicas entre ricos e pobres. Assim tiveram origens os ideais socialistas, que visavam uma forma de organização estatal capaz de promover a igualdade econômica. As primeiras formas de socialismo, hoje chamadas de socialismo utópico, não expressaram qualquer indício de prática. O socialismo científico foi a forma mais desenvolvida de economia socialista proposta no século XIX pelo filósofo, sociólogo e economista alemão Karl Marx e pelo economista e escritor alemão Friedrich Engels. Existe também a perspectiva anarquista, embasada principalmente nos estudos do filósofo, sociólogo e economista francês Pierre-Joseph Proudhon e do filósofo e teórico político russo Mikhail Bakunin. Segundo a teoria anarquista, o Estado deve ser abolido completamente e, junto a ele, abole-se o capitalismo. As entidades estatais seriam substituídas por sistemas de assembleias e pela autogestão popular para a tomada de decisões políticas. A economia capitalista daria lugar ao sistema de cooperativismo. Outras perspectivas ganharam destaque no século XX e ainda se mantêm no século XXI. Trata-se do conjunto de ideias chamado de reformismo, que são perspectivas políticas que colhem elementos socialistas e capitalistas, visando manter a economia 24 regida pelo sistema capitalista, mas com ideias de redução da desigualdade social e de redistribuição de renda via atuação estatal. Uma dessas perspectivas é a social- democracia, sistema político econômico adotado em países europeus, como Noruega, Finlândia e Suécia. Desigualdade social para Karl Marx Marx e Engels fundaram uma teoria baseada na abolição do capitalismo com o aparelhamento do Estado em favor do proletariado e na estatização de toda a propriedade privada. Para Marx, havia uma absurda exploração da classe trabalhadora (o proletariado) por parte da classe dominante (a burguesia, ou seja, os donos dos meios de produção). A teoria marxista foi classificada como socialismo científico por apresentar, pela primeira vez, uma base de estudos para justificar e amparar o pensamento socialista. No século XX, várias tentativas de implantação do socialismo de viés marxista foram postas em prática, porém críticos apontam o fracasso delas por não acabarem com a desigualdade (em alguns casos até acirrá-la pela corrupção) ou por criarem situações de extrema miséria. No entanto, outros críticos rebatem essas visões alegando que as experiências socialistas iniciadas no século XX desviaram-se dos ideais marxistas. Podem-se elencar como os maiores exemplos de experiências de socialismo com embasamento marxista os casos da União Soviética, da China e de Cuba. 25 OS FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS A capacidade racional do homem o diferencia do animal. Sua capacidade de pensar, articular ideias e expressá-las por meio da linguagem permite a produção do conhecimento. Formas de conhecimento Têm-se como formas de adquirir conhecimento: mito, conhecimento religioso, conhecimento filosófico, senso comum e o conhecimento científico. A seguir veremos cada uma dessas formas. Mito: é a narrativa em forma de fábula. Transmite conhecimento por gerações por meio de lendas e histórias mitológicas. Conhecimento religioso: conhecimento produzido a partir da fé e da religião. Geralmente a narrativa religiosa pode garantir a salvação para aqueles que têm fé. Conhecimento filosófico: traduz a busca e amor pelo conhecimento. Suas conclusões são especulativas e não necessitam de provas materiais. Este conhecimento orienta a atividade intelectual. Senso Comum: é o conhecimento produzido a partir das observações diárias, estabelece relações de causa e efeito sem a utilização de uma metodologia científica, suas conclusões são empíricas sem nenhum fundamento científico e nem sempre representam a realidade. Características: assistemático, subjetivo, empírico, parcial. Conhecimento científico: é o conhecimento produzido por meio do método científico. As conclusões são resultado de um método específico e podem ser reproduzidas por qualquer pessoa, em qualquer lugar, se forem respeitadas 26 as mesmas condições do experimento. O objetodo estudo da ciência é delimitado e suas conclusões buscam generalidade (buscam descrever as leis universais que regem o universo) e objetividade (regras bem definidas). Características: metódico, objetivo, geral, imparcial. O que são as Ciências Sociais? Conjunto de saberes que abrangem a antropologia, sociologia e ciência política. Ajudam a ―limpar a lente‖ através da qual enxergamos as diferentes realidades em que vivemos. Antropologia: Estuda a cultura e a sua influência no comportamento humano. Nesta ciência o estudioso deve aprender a desconfiar de tudo aquilo que é normal e transformar o que exótico em familiar. O antropólogo se insere em outra sociedade, se despe de seus valores morais, éticos e culturais, e passa a conviver nessa nova sociedade como observador. Sociologia: Estuda as inter-relações humanas e suas influências sobre o comportamento. O sociólogo trabalha com os fatos sociais como objeto de estudo, verificando a influência destes fatos sobre o comportamento humano. Ciência Política: Estuda as relações de poder na sociedade, as relações de autoridade, relações entre governantes e governados e a política. Diferença entre enfoque das Ciências Sociais e Naturais As ciências sociais diferem das ciências naturais quanto ao foco de estudo, pois seu objeto de estudo é complexo. Enquanto as ciências naturais se preocupam em observar a realidade e descrever as leis que a descrevem, as ciências sociais buscam uma interpretação dessa realidade. As ciências sociais não são exatas e seu método é específico, diferente do método científico das ciências naturais. Além disso, o observador se insere no contexto, já que seus valores interiores poderão influenciar em sua observação. Conceitos importantes Cultura Eurocentrista: A construção científica ocidental teve seu berço na Europa. Com o imperialismo europeu e a expansão da cultura europeia para outros 27 continentes, o modelo do homem branco europeu e sua sociedade se tornaram o padrão a ser seguido por outros povos. Tudo aquilo que era estranho ou estrangeiro era considerado mal e selvagem, devendo ser trazido, ainda que à força, ao padrão da época. Etnocentrismo: Achar que a cultura de determinada sociedade é superior as demais culturas. Este posicionamento permite a imposição da cultura tida como ―superior‖ ou mais evoluída à sociedade ―inferior‖ ou menos evoluída. Passo a observar o mundo com os padrões e valores da cultura etnocentrista, passo a observar o mundo através da ―minha própria lente‖. Relativismo Cultural: É a postura de observar a cultura de uma outra sociedade despido dos valores da sociedade ou grupo ao qual pertenço. É estudar e entender a cultura alheia sem pré-conceitos ou julgamentos prévios. Colocamos-nos no lugar do outro e passamos a compreender a sociedade dele, sob a ótica de um indivíduo que pertence àquela sociedade Diversidade Cultural: É a existência de diversas culturas, hábitos, costumes, regras e formas de expressão distintas no mundo. Com a globalização e a informática, maior é a consciência desta diversidade cultural. Multiculturalismo: é a interação positiva de diversas culturas, não havendo hierarquias entre elas. Há a formação de uma sociedade multicultural. PRINCIPAIS FILÓSOFOS Auguste Comte O Positivismo foi a matriz filosófica desenvolvida por Augusto Comte com intuito de estabelecer o racionalismo científico em detrimento do conhecimento religioso ou 28 metafísico. O método científico e racional seria o caminho correto para o esclarecimento. A razão humana prevaleceria e resultaria em leis naturais que descreveriam o funcionamento do homem, da natureza e do universo. O Positivismo deu a base científica à Sociologia, estabelecendo-a como uma ciência. A Sociologia seria, analogamente à Física, uma Física Social que buscaria compreender e descrever as leis que regem a sociedade. Assim como a Física é dividida em Estática e Dinâmica, a Física Social é dividida em Estática Social (características permanentes – propriedade, família, linguagem) e Dinâmica Social (evolução social). Leis dos Três Estados: Como a ciência se preocupa em descrever as leis que regem o universo, a Sociologia também teria suas leis. Para Comte, a lei dos Três Estados descreveria os estágios de evolução de uma sociedade. Primeiramente, o estado teológico, onde todas as explicações eram baseadas nas crenças religiosas, tendo como base o divino e o profano; em um segundo patamar teríamos o estado metafísico, onde todo o conhecimento seria baseado em princípios abstratos; em último degrau teríamos o estado positivo, quando todo saber humano seria baseado no método científico, no qual prevaleceria a razão. O Darwinismo Social: surge em um cenário neocolonialista, quando os mercados europeus, crescendo enormemente com as revoluções industriais, necessitam buscar mercado consumir, mão-de-obra e matéria prima em outros países. Os alvos principais do neocolonialismo foram dois continentes, o africano e o continente asiático. O Darwinismo Social foi uma analogia à teoria Darwinista de Charles Darwin. Para Darwin existe uma lei natural que regula a sobrevivência da espécie mais adaptada ao ambiente, analogamente, teríamos nas sociedades humanas a dominação das nações mais desenvolvidas e adaptadas. 29 O Darwinismo Social justificou o neocolonialismo como uma evolução natural da sociedade, explicando esse fenômeno social. As sociedades que já estavam no estado Positivo, dominariam as sociedades ―inferiores‖. O Darwinismo Social justificava também as idéias positivistas de Comte e sua Física Social. Crítica ao Positivismo: Comte tinha as noções gerais de Estática e Dinâmica Social. Para ele a Estática Social eram os conceitos que mantinham a sociedade coesa, e a partir de uma unidade coesa se alcançaria a Estática Social em direção ao progresso (amor por base, ordem por meio, progresso por fim). Neste sentido o Positivismo torna-se antagônico, pois apesar de estar fundado nos métodos científicos, era altamente conservador, justificando uma sociedade desigual. Além disso, o positivismo acreditava que todas as sociedades evoluem com o tempo, e isto não é uma verdade absoluta já que algumas sociedade se extinguiram e outras permaneceram estáticas no decorrer da história. Outro ponto negativo aborda as vantagens do progresso. Para os positivistas o progresso apenas gera vantagens, sem se preocupar com os malefícios que também são gerados pelos mesmos avanços. Ex; poluição, engarrafamentos, banditismo, violência, desordem urbana, etc. Durkheim Durkheim e a Sociologia Científica: Apesar de ser discípulo de Comte, Durkheim foi um crítico à metodologia de seu mestre. Para ele a Sociologia de Comte apenas tentava explicar a Física Social de forma especulativa e vaga (tratava a sociedade 30 como um organismo vivo), sem se fixar no objeto real a ser observado, critica ainda a religião da humanidade desenvolvida por Comte. A ciência positivista de Comte é construída sob um ideal de progresso, com base em uma ordem, por vezes autoritária. Para Durkheim a Sociologia deveria realizar uma análise criteriosa dos fatos sociais, que seriam o objeto de estudo da Sociologia. A ciência fundamentalista de Durkheim era construída com base em uma observação concreta dos fatos sociais. Lembrando que os fatos sociais são regras que regem o comportamento e as maneiras de se conduzir em sociedade. Características dos fatos sociais: gerais, externos e coercitivos. Gerais: são formas de pensar ou agir coletivos de uma sociedade, são observações individuais que se repetem no inconsciente coletivo (maneira de agir/ maneira de ser) Externos: são influências externas aos indivíduos, são valores, regras, normas que se apresentam ou se impões a certo indivíduo. São internalizadospela socialização Coercitivos: impõem uma conduta, sancionado aqueles que a desrespeitam. Quanto à socialização: processo pelo qual os seres humanos são induzidos a adotar posturas padrões, comportamentos socialmente esperados, normas, regras e valores. Basicamente o processo de socialização é feito por meio da educação, leis, costumes e relações sociais. Diferença entre Patológico e Normal: Para Durkheim, assim como um organismo vivo, a sociedade poderá sofre de algum mal ou doença. Diferenciamos este estado patológico quando um comportamento está fora da média social de determinada sociedade. Identificamos um fenômeno social normal quando um comportamento é generalizado, unânime, representa a vontade coletiva, é útil à saúde social. Quando um comportamento fica fora dos padrões normais é considerado patológico. 31 Anomia Social: O termo anomia foi criado por Durkheim em seu estudo sobre suicídio e significa na acepção da palavra falta, privação, inexistência de lei. É um estado onde os indivíduos se encontram com a inexistência de padrões normativos ou leis, levando-os a tomar condutas por vezes violentas e que geram conflitos. Consciência Coletiva x Consciência Individual: para Durkheim cada indivíduo possui sua própria consciência, no entanto, é possível perceber no interior de qualquer grupo ou sociedade, formas padronizadas de conduta e pensamento coletivos. É, em certo sentido, a forma moral vigente na sociedade. Ela aparece como um conjunto de regras fortes e estabelecidas que atribuem valor e delimitam os atos individuais. É a consciência coletiva que define o que, em uma sociedade, é considerado imoral, reprovável ou criminoso. Solidariedade social, este último é definido por Durkheim como os laços que unem os indivíduos entre si formando a coesão social. Solidariedade Mecânica x Solidariedade Orgânica: Para Durkheim a solidariedade social pode evoluir de uma forma mecânica para uma forma orgânica. Na mecânica, a coesão social é forte, pois a consciência coletiva é mais forte do que a individual, os indivíduos se unem, pois se identificam uns com os outros. Na orgânica há uma coesão, no entanto a consciência coletiva é atenuada, havendo uma maior consciência individual. Há interdependência. Nela os indivíduos visualizam a necessidade de dividir os trabalhos, cada um depende do conhecimento específico do outro, havendo assim um sentimento de dependência mútua. Solidariedade Mecânica: há maior consciência coletiva, pois os indivíduos se identificam um com os outros, gerando uma coesão social. Solidariedade Orgânica: há maior consciência individual, no entanto há a relação de interdependência entre os indivíduos, já que há maior especialização e divisão de 32 trabalho. Isto gera a coesão social deste tipo de sociedade. Direito Repressivo x Direito Restitutivo: Direito repressivo está ligado às sociedades onde a consciência coletiva é mais forte, pune-se as condutas irregulares já que elas prejudicam o coletivo. O Direito restitutivo está ligado às sociedades onde a consciência individual é mais forte, já que ele busca trazer, individualmente, a conduta irregular específica ao padrão de correção, ao causador do dano cabe apenas restituí-lo. Comte x Durkheim – De forma resumida a diferença entre eles é a seguinte: Comte: para ele a sociologia é uma ciência positivista, construída sob um ideal de sociedade, ideal de progresso. Ele estudou a física social. Durkheim: para ele a sociologia deveria ser mais fundamentalista, construída com base nas observações concretas e empíricas dos fatos sociais. Karl Marx Karl Marx viveu em um período onde a Revolução Industrial transforma a sociedade em função do surgimento da Economia de Mercado. Tudo que envolve 33 a produção se torna um fator de produção: mão de obra, tecnologia, matéria prima e a terra, tudo se tornou de certa forma uma mercadoria para o mercado industrial emergente, e passou a ser comercializado como tal. A crítica de Marx era com relação ao Idealismo. Em termos sociológicos, o idealismo consiste na alegação de que as ideias humanas, crenças e valores, moldam a sociedade. Marx defende o Materialismo dialético, que é uma concepção filosófica que defende que o ambiente, o organismo e fenômenos físicos tanto modelam os animais e os seres humanos, sua sociedade e sua cultura quanto são modelados por eles. E no Liberalismo acreditavam que apenas o mercado poderia regular o próprio mercado, ou seja, quanto menos o governo se intrometesse na Economia, melhor. E o Socialismo utópico para Marx se tratava dos ideais em prol de uma sociedade mais justa, que pareciam irrealizáveis. Forças Produtivas x Relações Sociais de Produção à Estrutura + Superestrutura: Para Marx as relações sociais de produção surgem do trabalho, da necessidade do homem de sobreviver. Sendo o trabalho o modo de organização dos fatores de produção (forças produtivas), dele surgem às relações sociais de produção (Economia), que produzem a estrutura da sociedade. O embate dos interesses nessa estrutura produz a superestrutura da sociedade, cultura, política, religião, justiça, etc. A superestrutura surge como reflexo do que acontece em sua estrutura. ―Quer entender a cultura, o direito, a religião, enfim, os fenômenos políticos e sociais de uma sociedade? Olhe para a sua Economia, ou melhor, para as relações sociais de produção vigentes nesta sociedade‖ 34 Vamos entender o conceito de valor. Valor de Uso é valor de usabilidade de certa mercadoria, o Valor de Troca é o valor que pode ser usado para substituir por outra mercadoria e Mais-Valia é diferença entre o valor do produto na prateleira e a soma dos valores dos meios de produção e trabalho utilizados. Alienação: o homem é utilizado como um simples fator de produção, ele passa a ser visto como uma mercadoria, já que produz seu trabalho. Ele é separado das outras etapas de produção, não participa de todas as fases e passa a não ter relação com aquilo que produz. Alienação política: na visão de Marx, o Estado não era um órgão político imparcial, como gostavam de sugerir os liberais. Na verdade, o Estado representava principalmente os interesses da burguesia, não os do povo. O Estado era um instrumento de dominação da classe dominante, razão pela qual os trabalhadores, os operários explorados, estavam também separados (alienados) dos processos de tomada de decisões política. A noção de participação popular é importante para o argumento marxista: a ausência de participação tornaria evidente o caráter excludente e classista da organização do Estado. A luta de classes cumpre uma função importante. É ela que faz as mudanças sociais acontecerem. É, portanto o motor da história. Se a luta de classes nasce sempre do desejo do oprimido de livrar-se da opressão, então é evidente que o proletário, a classe explorada, é o principal agente da transformação histórica. Mas, para isso, é preciso que tenham consciência de classe, isto é, que vejam a si próprios como partes integrantes de um conjunto, um grupo social poderoso. Fetichismo da mercadoria: As pessoas pagam caro por uma coisa que custa barato porque acreditam que, ao vestir esta camisa de grife, estão se diferenciando. Elas acham que a marca da grife possui um valor intrínseco, isto é, um valor que seria 35 dela, da grife. A relação que aparenta ser somente entre coisas (o dinheiro e o camisa de grife) é na verdade uma relação entre pessoas, ou seja, é uma relação entre todos os trabalhadores envolvidos na produção e comercialização da camisa, e você, que trabalhou para ter o dinheiro necessário para comprá-lo. No entanto, diz Marx, as pessoas são incapazes de perceber que, em função do trabalho que fazem, estão constituindo uma relação social. É isto que o autor chama de fetichismo da mercadoria(transformar um atributo subjetivo em objetivo). Crítica a ideologia burguesa: ―As ideias dominantes de uma época sempre foram as ideias da classe dominante.‖ Aí o gesto ideológico de apresentar o que era fruto de uma posição particular na sociedade (a posição da classe burguesa) como sendo algo de validade universal, isto é, válido para todas as pessoas. Teoricamente a burguesia defendia a liberdade, no entanto, a liberdade que defendiam favorecia apenas a burguesia, pois em sua visão (ideologia), esta forma de agir era a correta (o trabalho do proletariado era uma simples mercadoria). Dessa forma, percebe- se que a luta entre classes é o que faz as mudanças sociais acontecerem, e Marx apostava que a vitória do proletariado levaria ao início de uma época socialista, sem classes, exploração ou desigualdade. Max Weber Weber x Marx: Weber busca compreender por que a história se transforma, para isso devem ser considerados outros fatores além do conflito entre dominadores e dominados. Seria preciso observar certos aspectos da realidade social que Marx 36 teria ignorado. Para Weber, o cientista social deveria agir intelectualmente de acordo com as exigências científicas, diferentes, das exigências do exercício da ação política, ele deveria adotar a neutralidade. Weber x Durkhein: Weber não se preocupa com coercitividade dos fatos sociais sobre o indivíduo, mas sim em perceber que as normas sociais se tornam concretas quando se apresentam como motivação que impulsiona o indivíduo a agir no meio social. Weber parte sempre da observação das ações dos indivíduos, e não de alguma totalidade (seja um fato social ou uma estrutura) que existiria anteriormente a eles. Ação Social: É a conduta humana dotada de um significado atribuído pelo agente (o indivíduo que a pratica) e tem relação com a conduta de outros indivíduos. Para Weber, o objetivo da Sociologia é compreender os sentidos (significado) das ações sociais. Tipos de ações: Weber é um individualista metodológico, pois seu método de trabalho consiste em partir do estudo das ações dos indivíduos para então buscar compreender seu sentido, isto é, compreender o que os indivíduos pensam que estão fazendo quando agem de uma determinada forma, e que resultados (intencionais ou imprevistos) acabam produzindo. Destaca-se então o estudo das relações sociais. A relação social se estabelece quando os agentes partilham o sentido de suas ações e agem reciprocamente de acordo com certas expectativas que possuem do outro. Weber afirma que o cientista deve ser motivado por suas paixões, mas, ao identificar objeto de seus estudos, deverá fazê-lo de forma objetiva. Mas como fazer a ponte, a passagem entre a subjetividade (crenças e valores do cientista) e a objetividade (a necessidade de deixá-los fora do trabalho)? A resposta é por meios dos Tipos Ideais. O Tipo ideal é instrumento puramente formal, elaborado através da intensificação unilateral de alguma característica do fenômeno observado. Ou seja, o tipo ideal não existe de fato, é construído pelo pesquisador com o objetivo de facilitar a compreensão do fenômeno que ele pretende analisar. Weber argumentou que o capitalismo foi a consequência, na esfera da Economia, de um processo de racionalização que teve na ética do trabalho protestante, um dos seus principais motores. Mas o que garantiria a obediência das pessoas? Para responder a esta pergunta, Weber irá distinguir três tipos de dominação: A dominação Racional-legal: Está baseada no respeito a uma regra ou norma vista 37 como legítima. A obediência à Constituição do país é um exemplo de dominação racional-legal: o indivíduo reconhece a legitimidade das leis e vive de acordo com elas. A dominação Tradicional: Por outro lado, está baseada no respeito a uma ordem antiga, a uma tradição. Quando, por exemplo, um indivíduo vive de acordo com as regras de uma religião, de uma dinastia, de um poder familiar ou historicamente perpetuado. A dominação Carismática: O indivíduo admira ou obedece a um chefe ou líder que considera excepcional Para Marx o mundo é instável e vive em um constante embate entre classes. Para Weber há uma relativa estabilidade, onde predomina o racionalismo e a burocracia moderna, que pode ser abalada periodicamente por fenômenos irracionais carismáticos. Dessa forma a obra de Weber nos ajudou a ver que as ideias, as práticas culturais e religiosas, não eram meros reflexos das condições materiais em que os indivíduos viviam. Ele fez distinção entre Ciência e Política, importante no contexto em que foi formulada. Desenvolveu importantes ferramentas para a sociologia (tipos de ação, tipo ideal e dominação). DIRETOS HUMANOS Direitos Humanos são uma categoria de direitos básicos assegurados a todo e qualquer ser humano, não importando a classe social, raça, nacionalidade, religião, cultura, profissão, gênero, orientação sexual ou qualquer outra variante possível que possa diferenciar os seres humanos. 38 Apesar de o senso comum acreditar que Direitos Humanos são uma espécie de entidade que dá suporte a algumas pessoas ou que são uma invenção para proteger alguns tipos de pessoas, eles, na verdade, são muito mais do que isso. Para entender melhor, precisamos fazer algumas distinções conceituais necessárias antes de nos aprofundar no assunto. MITOS E VERDADES SOBRE OS DIREITOS HUMANOS 1. Os Direitos Humanos não foram criados por alguém. Em primeiro lugar, os Direitos Humanos não são uma invenção, e sim o reconhecimento de que, apesar de todas as diferenças, existem aspectos básicos da vida humana que devem ser respeitados e garantidos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi redigida a fim de resguardar os direitos já existentes, desde que houve qualquer indício de racionalidade nos seres humanos. Assim sendo, ela não criou ou inventou direitos em seus artigos, mas se limitou a escrever oficialmente aquilo que, de algum modo, já existia anteriormente à sua redação. Portanto, quando o senso comum fala que ―os Direitos Humanos foram criados para...‖, já podemos identificar algo de errado no comentário. Os Direitos Humanos são assegurados a toda e qualquer pessoa. 2. Os Direitos Humanos são universais Em segundo lugar, a extensão dos Direitos Humanos é universal, aplicando-se a todo e qualquer tipo de pessoa. Portanto, eles não servem para proteger ou beneficiar alguém e condenar outros, mas têm aplicação geral. Então, frases repetidas pelo senso comum, como ―Direitos Humanos servem para proteger bandidos‖, não estão corretas, visto que os Direitos Humanos são uma proteção a todos os humanos. Alegações com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos podem ser feitas para evitar ações que violem os direitos de réus ou criminosos, como o cárcere 39 injustificado, a tortura ou o assassinato. 3. Os Direitos Humanos não são uma pessoa. Por último, os Direitos Humanos não são uma entidade, uma ONG ou uma pessoa que se apresenta fisicamente e tem vontade própria. Portanto, a frase repetida pelo senso comum ―Mas quando morre um policial, os Direitos Humanos não vão dar apoio à família.‖ está duplamente incorreta, visto que os Direitos Humanos não são entidade ou pessoas e que eles se estendem a todos, inclusive policiais. COMO SURGIRAM OS DIREITOS HUMANOS? Podemos fazer uma primeira incursão na Revolução Americana, em que a carta Bill of Rights (ou Declaração dos Direitos dos Cidadãos dos Estados Unidos) assegura certos direitos aos nascidos no país. Entre eles, garante o direito à vida, à liberdade, à igualdade e à propriedade. Assim, o governo não poderia atacar um desses direitos de alguém sem o devido processo e julgamento dentro dos parâmetros da lei. Na mesma época em que essa emenda americana foi oficialmente aceita, estouroua Revolução Francesa, em 1789, e foi redigida a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. De cunho liberal e baseada nos ideais iluministas que pregavam a igualdade, a liberdade e a fraternidade, essa declaração tinha por objetivo assegurar que nenhum homem deveria ter mais poder ou direitos que outro, o que representava o ideal republicano e democrata, que à época ameaçava o Antigo Regime, no qual apenas uma pessoa concentrava poderes. Nesse primeiro momento, tanto a declaração americana quanto a francesa não asseguravam direitos amplos a todos os membros da raça humana, pois, no 40 período, mulheres ainda não possuíam todos os seus direitos civis garantidos e ainda havia escravidão. Somente em 1948 foi publicada a carta oficial contendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual asseguraria, para todos e todas, os seus direitos básicos. A história desse documento acompanha a história do início da Organização das Nações Unidas (ONU), que iniciou suas atividades em fevereiro de 1945. O que se queria naquele ano era evitar novas tragédias, como as ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, a chamada ―solução final‖ do governo nazista contra o povo judeu ou os atos anteriores ao início oficial da guerra, como as prisões arbitrárias e o exílio de judeus, bem como a escravização de povos, outros genocídios etc. Com o fim da Segunda Guerra, o cenário resultante continha milhões de mortos, milhões em situação de miséria e fome, e milhares de civis que tiveram algum direito violado por ataques, ações ou crimes de guerra. Para elaborar estratégias que evitassem novas tragédias, representantes de 50 países reuniram-se para elaborar um organismo mundial que visava a garantir a paz e o respeito entre os povos. A primeira ação elaborada foi a formação de uma Comissão de Direitos Humanos da ONU, que ficaria responsável pela redação de um documento prescritivo para listar todos os direitos fundamentais dos seres humanos. A declaração foi concluída em 18 de junho de 1948 e aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 10 de dezembro de 1948. Hoje, 193 países são signatários da ONU. Isso significa que, entre outras coisas, eles devem garantir em seus territórios o respeito aos direitos básicos dos cidadãos. Não há uma maneira expressa e objetiva da organização fiscalizar e regular o cumprimento dos Direitos Humanos, mas as legislações da maioria dos países ocidentais democráticos, bem como seus sistemas judiciários, recorrem aos artigos 41 expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos para formularem seus textos legais e aplicarem as decisões e medidas jurídicas. Direitos humanos e a ONU Além de ter redigido o documento central que trata dos Direitos Humanos no mundo, a ONU tem a tarefa de garantir a aplicação de tais direitos. Porém, a organização não pode atuar como uma fiscal ou central reguladora ordenando ações dentro dos países e dos governos. O que a ONU pode fazer é, no máximo, recomendações para que os países signatários sigam os preceitos estabelecidos no documento. Além de recomendações, são comuns ações estratégicas envolvendo os países signatários para pressionar governos para que respeitem os Direitos Humanos dentro de seus territórios, como embargos econômicos, cortes de relações comerciais, restrições em zonas de livre comércio e restrições ou cortes de relações exteriores. Direitos Humanos no Brasil Ao longo do tempo, as constituições foram gradativamente adequando-se e sendo aperfeiçoadas quanto às garantias dos Direitos Humanos dos cidadãos brasileiros. Tomam-se, como exemplo, os saltos qualitativos representados pela Constituição Federal de 1934, que garantiram avanços para a classe trabalhadora e estabeleceu o sufrágio feminino, e pela Constituição Federal de 1988, que está totalmente alinhada com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Apesar de avanços, o país teve períodos como a Ditadura Militar, ocorrida entre 1964 e 1985, quando, em seus anos mais pesados, centenas de pessoas foram presas, exiladas, torturadas e até mortas por causas das suas orientações políticas ou pela afronta ao governo ditatorial. Também existem alguns problemas em relação à garantia dos Direitos Humanos em território brasileiro hoje. Os principais fatores que evidenciam essas falhas são as altas taxas de homicídios; as execuções cometidas por milícias; o falho sistema 42 prisional, que se encontra em crise; as ameaças aos defensores dos Direitos Humanos; a miséria e a alta desigualdade social; a violência contra a mulher; e o trabalho em situações análogas à escravidão. A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS O documento oficial da ONU chamado Declaração Universal dos Direitos Humanos possui 30 artigos antecedidos por um preâmbulo. O preâmbulo traz as justificativas para a redação de tal documento e estabelece as bases sobre as quais os artigos foram pensados. Abaixo, cada um dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos: Artigo 1º — trata da liberdade e da igualdade, que devem estender-se a todos os seres humanos. Artigo 2º — todas as pessoas podem requerer para si os direitos apresentados no documento. Nenhuma discriminação, de qualquer origem, pode ser feita. 43 Artigo 3º — são apresentados os direitos mais fundamentais: à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4º — diz que ninguém pode ser mantido em regimes de escravidão ou servidão. Artigo 5º — diz que ninguém pode ser submetido à tortura, à crueldade ou a qualquer tipo de tratamento degradante. Artigo 6º — a personalidade jurídica (ou seja, o reconhecimento legal e jurídico de todos como cidadãos) deve ser reconhecida em todo e qualquer lugar. Artigo 7º — a lei deve ser igual para todos, deve proteger a todos, e o documento da declaração também vale para todos, não importando as diferenças. Artigo 8º — toda pessoa pode recorrer ao sistema de justiça contra as violações da lei que as atingirem. Artigo 9º — proíbe as prisões, detenções ou exílios arbitrários, ou seja, que não foram resultados de um processo legal que comprove o ato como determinação de uma sentença judicial ou de algum tipo de medida judicial válida. Artigo 10º — todo mundo tem direito a um julgamento oficial, público, imparcial e justo. Artigo 11º — com dois incisos, o artigo afirma que alguém que é acusado de um delito é inocente até que se prove o contrário e que não se pode condenar alguém por uma ação que, no momento em que foi cometida, não era crime em âmbito nacional ou internacional. Artigo 12º — a lei deve proteger para que ninguém sofra intromissões no âmbito privado de suas vidas. Artigo 13º — tratando de fronteiras e territórios, os dois incisos desse artigo falam que todo mundo tem o direito de residir onde quiser dentro de um Estado e que todos podem abandonar ou retornar ao seu Estado de origem quando quiserem. Artigo 14º — os dois incisos desse artigo garantem o direito à busca de asilo em outros países por perseguição, salvo em caso de processo legal legítimo. Artigo 15º — os dois incisos desse direito dizem que a nacionalidade é um direito de 44 todos e que ninguém pode ser privado dele. Artigo 16º — os três incisos desse artigo dizem que: a partir da idade em que o casamento é permitido, todos têm o direito de se casar, independente de qualquer diferença existente entre eles, desde que haja o consentimento de ambas as partes; e que o Estado deve garantir a proteção à família, entendendo que essa é o elemento fundamental da sociedade. Artigo 17º — diz que toda pessoa tem direito à propriedade e que ninguém pode ser arbitrariamente privado dela. Artigo 18º — trata da liberdade religiosa, garantindo o direito a todos de escolherem e mudarem seus credos religiosos, bem como manifestá-los em âmbitopúblico ou privado. Artigo 19º — diz que todos têm o direito à liberdade de expressão, ninguém pode ser censurado ou discriminado por suas opiniões, e todos têm o direito de divulgá-las. Artigo 20º — todo mundo pode reunir-se pacificamente, e ninguém pode ser obrigado a participar de qualquer tipo de reunião. Artigo 21º — todo mundo pode participar da política e da vida pública de seu país, seja diretamente, seja por meio de representantes eleitos por votação. O terceiro inciso desse artigo diz ainda que a vontade popular é o fundamento primeiro que confere legitimidade aos poderes públicos. Artigo 22º — todos têm direito à segurança e à seguridade social e podem exigir esses direitos em suas diversas formas possíveis. Artigo 23º — tratando do trabalho, os quatro incisos desse artigo garantem a todas as pessoas: a possibilidade de escolha do trabalho; o trabalho digno; a remuneração compatível, justa e digna por qualquer tipo de trabalho; a remuneração igual pelo trabalho igual; e a possibilidade de fundação e filiação a sindicatos. Artigo 24º — todo mundo tem direito ao descanso, ao lazer, a uma jornada de trabalho compatível com o descanso e a férias remuneradas periódicas. Artigo 25º — o primeiro inciso diz que todo mundo tem direito a condições básicas de vida que garantam, para si e para a sua família, as condições básicas de 45 subsistência (saúde, bem-estar, alimentação, vestuário, moradia e serviços sociais necessários). No caso de perda dos meios de subsistência involuntária, também é assegurada a assistência social. O segundo inciso garante o amparo à maternidade e à infância, que devem ser protegidas. Artigo 26º — tratando da educação, esse artigo diz que todas as pessoas têm o direito ao ensino elementar, universal e gratuito. Diz também que o ensino superior deve estar aberto a todos em igualdade, que a educação deve promover o respeito e os Direitos Humanos, e que cabe aos pais a escolha do tipo de educação que seus filhos vão receber. Artigo 27º — todos têm o direito de participar e usufruir da cultura, das artes e da ciência produzidas em sua comunidade. Artigo 28º — todos, sem distinção, têm direito à ordem e à garantia dos direitos estabelecidos na Declaração. Artigo 29º — todos têm deveres para com as comunidades e, seguindo o cumprimento dos deveres, têm seus direitos garantidos. Artigo 30º — os direitos e garantias apresentados na Declaração não podem ser utilizados para destruir ou atacar qualquer direito fundamental. Em resumo, os Direitos Humanos são uma categoria de direitos básicos e inalienáveis. Garantem direitos básicos a todos os membros da espécie humana. Seus primeiros reconhecimentos ocorreram na Revolução Americana e na Revolução Francesa. Foram oficializados, no século XX, por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU. Possuem como objetivo garantir direitos fundamentais, como a vida, a liberdade, a saúde e a segurança das pessoas, bem como o direito à defesa e ao justo julgamento a quem seja acusado de um crime. Direitos Humanos são uma categoria de direitos que se estendem a qualquer membro da espécie humana, não importando qualquer tipo de classificação. 46 OS DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA Princípio da Dignidade da Pessoa Humana A dignidade da pessoa humana pode ser considerada como o fundamento último do Estado brasileiro. Ela é o valor-fonte a determinar a interpretação e a aplicação da Constituição, assim como a atuação de todos os poderes públicos que compõem a República Federativa do Brasil. Em síntese, o Estado existe para garantir e promover a dignidade de todas as pessoas. É nesse amplo alcance que está à universalidade do princípio da dignidade humana e dos direitos humanos. Como valor-fonte, é da dignidade da pessoa humana que decorrem todos os demais direitos humanos. A origem da palavra dignidade ajuda-nos a compreender essa idéia essencial. Dignus, em latim, é um adjetivo ligado ao verbo decet (é conveniente, é apropriado) e ao substantivo decor (decência, decoro). Nesse sentido, dizer que alguém teve tratamento digno significa dizer que essa pessoa teve tratamento apropriado, adequado, decente. Se pensarmos em dignidade da vida humana ou o que é necessário para se ter uma vida digna, começaremos a ver com mais clareza como todos os direitos humanos decorrem da dignidade da pessoa humana. Para que uma pessoa, desde sua infância, possa viver, crescer e desenvolver suas potencialidades decentemente, ela precisa de adequada saúde, alimentação, educação, moradia, afeto; precisa também de liberdade para fazer suas opções profissionais, religiosas, políticas, afetivas, etc. Esse conjunto de necessidades e capacidades nada mais é que o conteúdo dos direitos humanos, reconhecidos, por essa razão, como princípios e direitos fundamentais na Constituição Brasileira. A dignidade é atributo essencial do ser humano, quaisquer que sejam suas 47 qualificações. Em última instância, a dignidade humana reside no fato da existência do ser humano ser em si mesma um valor absoluto, ou como disse o filósofo alemão Kant: ―o ser humano deve ser compreendido como um fim em si mesmo e nunca como um meio ou um instrumento para a consecução de outros fins‖. O Estado deve ser instrumento a serviço da dignidade humana e não o contrário. Por essas razões, o princípio da dignidade da pessoa humana exige o firme repúdio a toda forma de tratamento degradante (indigna) do ser humano, tais como a escravidão, a tortura, a perseguição ou o mau trato por razões de gênero, etnia, religião, orientação sexual ou qualquer outra. É em decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana que a Constituição de 1988, no seu Título II, ―Dos Direitos e Garantias Fundamentais‖, afirma uma extensa relação de direitos individuais e coletivos (Capítulo I, Artigo 5º), de direitos sociais (Capítulo II, Artigos 6º a 11º), de direitos de nacionalidade (Capítulo III, Artigos 12º e 13º) e de direitos políticos (Capítulo IV, Artigos 14º a 16º). Prevalência dos Direitos Humanos nas Relações Internacionais A Constituição de 1988, em seu Artigo 4º, inciso II, é a primeira em nossa história a estabelecer a prevalência dos direitos humanos como princípio do Estado brasileiro em suas relações internacionais. Se a dignidade da pessoa humana, com todos os direitos humanos dela decorrentes, deve orientar a atuação do Estado no âmbito nacional, seria contraditório renegar esses princípios no âmbito internacional. Afinal, não são apenas os brasileiros que devem ter sua dignidade humana respeitada e promovida, mas todas as pessoas, todos os seres humanos, pelo fato único e exclusivo de 48 serem pessoas. Negar a prevalência desse princípio nas relações internacionais seria negar a humanidade dos que não são brasileiros. Assim, ao afirmar esse princípio, o Estado brasileiro compromete-se a respeitar e a contribuir na promoção dos direitos humanos de todos os povos, independentemente de suas nacionalidades. A prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais, ganha maior relevância no momento histórico em que vivemos, no qual, em virtude do desenvolvimento tecnológico, as distâncias entre as nações tendem a se encurtar cada vez mais e todas as pessoas tendem a se tornar verdadeiras cidadãs do mundo. Um estado regido pelo princípio fundamental da dignidade da pessoa humana não pode desprezar as violações dos direitos humanos praticadas por ou em outros estados. Com a adoção desse princípio, o Brasil une-se à comunidade internacional, assumindo com ela e perante ela a responsabilidade pela dignidade de toda pessoa humana. A Carta de 1988 é a primeira constituição nacional a consagrar um universo de princípios que guiam o Brasil no cenário internacional, fixando valores que orientam a agenda internacional
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