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AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL Antropometria O valor da antropometria é indiscutível, desde que componha registros regulares, precisos e consistentes. Contudo, todas as medidas estão sujeitas a erros, se não forem adequadamente padronizadas; para isso, é necessário manter o treinamento dos observadores quanto às técnicas e ao uso de equipamentos adequados, ajustar os equipamentos necessários antes de cada medição, verificar periodicamente os erros dos observadores ao tomar as medidas antropométricas e repetir as medidas até que a diferença entre elas seja a menor possível. Após a obtenção das medidas, faz-se necessário, também, analisá-las de maneira correta. Para tanto, utilizam- se indicadores, padrões de referência, níveis de corte e classificações adequadas. Uma série de medidas faz parte da avaliação antropométrica, dependendo do tipo de público ao qual é destinada. Em geral, incluem peso, estatura, circunferências corpóreas (crânio, braço, cintura, quadril, panturrilha), dobras cutâneas (tricipital, bicipital, suprailíaca, subescapular, panturrilha, abdominal) e tamanho dos segmentos corpóreos. Peso O peso é a medida mais comumente realizada na avaliação nutricional, sendo de fácil obtenção, baixo custo e boa sensibilidade, além de diagnosticar mudanças recentes no estado nutricional. Lactentes (0 a 2 anos) Para a medida do peso em lactentes, deve-se utilizar balança pediátrica com graduação de 10 g previamente calibrada (se for necessário o uso de qualquer tipo de proteção sobre a balança, ela deverá ser colocada antes da calibração). Técnica: o lactente deve estar despido, posicionado de modo que o peso seja igualmente distribuído pela superfície da balança, a fim de proporcionar maior conforto e menor risco de acidentes para a criança. Os pés ou as mãos do lactente não devem tocar em nenhuma outra superfície. Crianças maiores de 2 anos e adolescentes Pré-escolares, escolares e adolescentes devem utilizar balança do tipo adulto com graduação de 100 g previamente conferida quanto à regulagem, voltando-se ao zero. Técnica: a criança (que se mantenha em pé sem apoio) ou o adolescente devem ser pesados em pé, com os braços estendidos ao longo do corpo, vestindo o mínimo de roupas possível, descalço, posicionado no centro da plataforma e evitando movimentar-se. Para coleta do peso atual, deve-se utilizar balança manual ou eletrônica devidamente aferida e com a tara determinada, confirmando-se a marca de zero. Preferencialmente, as pessoas devem ser pesadas em balança tipo plataforma, com roupas íntimas ou avental hospitalar e sem sapatos. Quando não houver privacidade que permita ao paciente despir-se, especialmente em ambulatório, ele deve ser pesado com o mínimo de roupa, descontando-se o peso de suas roupas. O paciente deve ser posicionado no centro da balança, com o peso igualmente distribuído entre os dois pés. O peso habitual é utilizado como referência na avaliação de mudanças recentes de peso e em casos nos quais há impossibilidade de pesar o paciente. A perda de peso em qualquer porcentagem é sempre considerada significativa do ponto de vista clínico, principalmente em idosos ou crianças. Estatura Para a realização dessa medida, utilizam-se como instrumentos a régua antropométrica (em crianças de até 24 meses para medir o comprimento) e o antropômetro de madeira (para medir a altura) ou, na sua ausência, uma trena ou fita métrica, com divisões em milímetros, afixada à parede (observando-se que tal parede não tenha rodapé, o que provocaria erro na medição). 1. Comprimento: em pacientes hospitalizados que não deambulam, a medição pode ser feita quando estiverem deitados em superfície plana, seguindo o mesmo procedimento realizado em crianças até 2 anos de idade, com uma fita métrica posicionada em sua lateral. 2. Altura: a pessoa deve ser medida em pé e sem sapatos. Deve estar ereta, com os dois pés unidos e todo o corpo encostado no antropômetro. A cabeça deve estar posicionada de modo que seja possível olhar horizontalmente – plano horizontal de Frankfort. O esquadro deve ficar acima da cabeça, fazendo pressão suficiente para comprimir o cabelo. Outra opção para pacientes impossibilitados de permanecer na posição ereta é a medição da extensão dos braços (envergadura). Os braços devem ficar estendidos, formando um ângulo de 90° com o corpo. Mede-se a distância entre os dedos médios das mãos com uma fita métrica flexível. A medida obtida corresponde à estimativa de estatura do indivíduo. Estatura estimada = [0,73 × (2 × envergadura do braço (m)] + 0,43 Para crianças com limitações físicas na faixa etária de 2 a 12 anos, as medidas de segmentos dos membros superiores e inferiores permitem estimar a estatura com a utilização de equações propostas por Stevenson.4 As medidas de segmento utilizadas são: comprimento superior do braço (CSB, distância do acrômio até a cabeça do rádio, medida com o membro superior fletido a 90°); comprimento tibial (CT, distância da borda superior medial da tíbia até a borda do maléolo medial inferior, feita com fita inextensível); e comprimento do membro inferior a partir do joelho (CJ, distância do joelho ao tornozelo). Circunferencias corporeas Várias são as aplicações das circunferências corpóreas. A circunferência do crânio é amplamente utilizada para o acompanhamento do crescimento em crianças até a idade pré-escolar. A medida do punho, quando associada à altura, pode ser útil para avaliar a compleição do indivíduo. A circunferência de cintura é fortemente associada à gordura visceral e relacionada ao risco cardiovascular. Existem várias formas de aferição, e a mais empregada é a que utiliza o ponto médio entre a última costela fixa e a crista ilíaca superior (cintura natural), aproximadamente 2 dedos acima da cicatriz umbilical. Estudos mostram, inclusive, que a circunferência abdominal (quando acima do percentil 90) tem boa correlação com o desenvolvimento de dislipidemia, hipertensão arterial e resistência insulínica. Para a avaliação do risco cardiovascular, também é possível realizar a circunferência de pescoço a partir dos 10 anos de idade. A circunferência do braço é representada pelo perímetro ocupado pelos tecidos ósseo e muscular acrescido do tecido adiposo. O instrumento a ser utilizado é a fita métrica inextensível. Técnica: a criança ou adolescente deve permanecer em pé com o braço direito estendido paralelamente ao lado do corpo, flexionar até formar ângulo reto com o antebraço. Medir a distância entre o acrômio e o olécrano (extremidade do cotovelo) e determinar o ponto médio. Posicionar a fita métrica inextensível sobre esse ponto. A leitura é feita em milímetros. A circunferência do braço (CB) avalia reservas corpóreas de tecido adiposo e estima a massa magra do indivíduo, enquanto a circunferência muscular do braço (CMB), obtida por meio de uma fórmula a partir das medidas de CB e da dobra cutânea tricipital (DCT), pode estimar o tecido muscular. Os resultados encontrados são comparados com os valores observados no percentil 50 das tabelas de referência. CMB (cm) = CB (cm) - [0,314 × DCT (mm)] Dobras cutâneas São usadas com o objetivo de monitorar a quantidade de gordura existente no organismo. Pode-se utilizar a soma dessas medidas para verificar a composição corpórea do paciente. Existem várias medidas de dobras cutâneas, porém as mais utilizadas na área clínica são as dobras tricipital, bicipital, subescapular e suprailíaca. Essas medidas devem ser coletadas por profissionais devidamente treinados, pois a falta de habilidade na realização desse procedimento pode resultar em erros graves. Os resultados obtidos podem ser comparados com tabelas de referência e servir para avaliar o estado nutricional, ou pode-se utilizar o próprio indivíduo como referencial para acompanhar sua evolução. A classificação por percentis obedece à regra denormalidade, representada por valores entre 5 e 95. Os valores P5-15 e P85-95 devem ser acompanhados, pois são faixas de risco de desnutrição e obesidade, respectivamente. A OMS disponibiliza medidas de dobras cutâneas (tricipital e subescapular) no seu site, sob a forma de percentis e escore z, para crianças de 3 meses a 5 anos de idade, estratificadas por sexo. Para avaliar a composição corpórea de pacientes obesos, o uso desse método não é indicado, uma vez que são observados muitos erros na coleta das dobras cutâneas. Nessa situação, as circunferências têm maior validade. Índice de massa corpórea Em todas as faixas etárias, pode-se avaliar o estado nutricional pelo índice de massa corpórea (IMC), que é obtido pela equação: P(kg)/E(m2). O IMC também pode ser utilizado para classificar o estado nutricional de crianças e adolescentes, no entanto, deve-se levar em consideração a idade e o sexo. O IMC para a idade é recomendado internacionalmente no diagnóstico individual e coletivo dos distúrbios nutricionais, considerando-se que incorpora a informação da idade do indivíduo e foi validado como indicador de gordura corpórea total nos percentis superiores, além de proporcionar continuidade em relação ao indicador utilizado entre adultos. A estatura para a idade expressa o crescimento linear da criança. Na condição de índice que melhor aponta o efeito cumulativo de situações adversas sobre o crescimento da criança, é considerado o indicador mais sensível para aferir a qualidade de vida de uma população. Está presente na Caderneta de Saúde da Criança e também na Caderneta de Saúde do Adolescente. Inquéritos alimentares A investigação do consumo e do hábito alimentar é de suma importância para o diagnóstico nutricional. Para realizar essa avaliação, devem-se considerar situações que possam limitar a disponibilidade e o consumo de alimentos, como fatores culturais, socioeconômicos, emocionais, estrutura familiar, grau de escolaridade, bem como aqueles relacionados a alimento, sazonalidades e regionalidade. A validade e a reprodutividade dos métodos de investigação do consumo alimentar dependem muito da habilidade do investigador e da cooperação do entrevistado. Para a avaliação de consumo alimentar, vários métodos estão disponíveis, com possibilidade de aplicação clínica ou epidemiológica. Dentre eles, os mais utilizados são o recordatório de 24 horas (informa o consumo no dia anterior ao dia da entrevista), o registro alimentar (informa todos os alimentos consumidos no momento da sua ingestão por 3 ou 4 dias) e o questionário de frequência alimentar (informa a frequência retrospectiva de consumo de grupos de alimentos em um dado período). Esses métodos reconhecem inadequações alimentares, ou seja, identificam indivíduos em risco nutricional, quantificando o consumo de energia ou de algum nutriente de interesse. No entanto, para o diagnóstico nutricional, os métodos de consumo alimentar devem ser associados a outros critérios, como antropometria, avaliação clínica e bioquímica. Na área clínica, em pacientes internados, são fundamentais as anotações referentes a qualidade, quantidade, composição da dieta, horários, consistência e quantidade de alimentos aceitos. Com esse registro, torna-se possível controlar a ingestão hídrica, energética e de outros nutrientes específicos, auxiliando, em um segundo momento, na programação de uma dieta que atenda às necessidades de pacientes em situações específicas. Composição corpórea O peso corpóreo como referencial deve ser usado com atenção, pelo fato de que pessoas de mesma compleição corpórea, peso, estatura, idade e sexo podem apresentar diferente distribuição de tecidos e células. Os dados sobre a composição corpórea têm-se mostrado de relevante importância na avaliação do diagnóstico nutricional e na orientação de condutas que incluam o controle do peso. Com as técnicas descritas anteriormente, procura-se acompanhar a variação das medidas antropométricas durante o processo de crescimento; contudo, dados referentes à composição corpórea não podem ser obtidos de modo adequado por meio dessas medidas, de modo que outras técnicas podem complementar o exame físico. Existem vários métodos para a avaliação da composição corpórea: bioimpedância, pesagem hidrostática, densitometria corpórea total (DXA), também chamada de absorciometria de duplo feixe de raios X, ressonância magnética (RM), ultrassonografia, tomografia computadorizada (TC) e infravermelho (Futrex).
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