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F e b r e , i n f l a m a ç ã o e i n f e c ç ã o | 1 FEBRE REUMÁTICA INTRODUÇÃO Febre reumática (FR) é uma doença inflamatória que se apresenta como sequela tardia de uma faringoamigdalite causada pelo estreptococo beta- hemolítico do grupo A de Lancefield. Faringoamigdalite → evoluir para uma febre reumática Acomete as articulações, o coração, o Sistema Nervoso Central (SNC), a pele e o tecido subcutâneo. Não existe sintoma, sinal ou teste laboratorial que seja patognomônico da doença. EPIDEMIOLOGIA → Maior incidência em crianças e adolescentes de 5 a 15 anos. → Em 30% dos pacientes essa infecção é assintomática. → O risco aumenta em 50% naqueles que já tiveram um primeiro surto da doença. → No Brasil tem-se mais de 30.000 novos casos por ano. FATORES DE RISCO → História prévia de febre reumática (chance de 50%) → Genética (genes ligados a maior susceptibilidade de febre reumática) – enquanto alguns pacientes mesmo após adquirir a faringoamigdalite pelo streptococos não evoluem para FR. → Magnitude da resposta imunológica (a chance de recidiva/ retorno da FR chega a ser 5x maior em pacientes que tiveram alto valor de ASLO). ETIOLOGIA → Para ter febre reumática o paciente precisa primeiro ter uma faringoamigdalite pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A de lancefield (bactéria). → Infecções estreptocócicas por outros grupos ou em outros locais não leva ao desenvolvimento de febre reumática. → Fatores ambientais e ambientais, além da genética, estão associados ao aparecimento da doença – maior incidência em países pobre e em desenvolvimento. O ESTREPTOCOCO → Camada externa: o Cápsula de ácido hialurônico que impede a fagocitose o Seu componente mais importante é a proteína M, que está associada a resistência do microrganismo à fagocitose. o Além disso, essa proteína apresenta similaridade com diversas proteínas do tecido humano, como o cardíaco. → Camada média: o É formado por um carboidrato que sintetiza a proteína G e está presente F e b r e , i n f l a m a ç ã o e i n f e c ç ã o | 2 no corpo humano, no endocárdio e miocárdio. → Camada interna: o Confere rigidez e dá forma ao microrganismo como uma estrutura esquelética. o A penicilina, fármaco utilizado no tratamento, tem ação letal no estreptococo por que bloquear a síntese do peptídeo que realiza a rigidez a forma do microrganismo. FISIOPATOLOGIA Primeiro, é necessária uma infecção da via faríngea pelos estreptococos beta-hemolítico do tipo A de lancefield, causando uma amigdalite. O período de latência entre a infecção estreptocócica e o surgimento da febre reumática aguda gira em torno de 2-4 semanas. Seu mecanismo consiste numa reação autoimune capaz de desencadear inflamação do tecido conjuntivo de determinados órgãos e sistemas. Essa reação autoimune é decorrente de um mimetismo molecular – que seria a semelhança química e estrutural de alguns componentes da bactéria e do tecido envolvido (principalmente cardíaco). Com isso, os anticorpos produzidos contra os antígenos do estreptococos pode induzir uma reação cruzada contra o tecido semelhante, como no caso o cardíaco. A cada nova infecção estreptocócica essa reação se exacerba, acrescentando mais lesão inflamatórias aos tecidos, em especial o coração. IMPORTANTE A maioria dos pacientes com faringoamigdalite pelo estreptococo do grupo A não desenvolvem febre reumática (tratados ou não com antibiótico) – hipótese do envolvimento genético na doença. → Resposta imunológica: A resposta imune baseia-se em mecanismos de hipersensibilidade. 1. Primeiro se tem a infecção da faringe pelo estreptococos que vai estimular a imunidade inata (é a primeira linha de defesa do organismo, representada por barreiras físicas, químicas e biológicas, células e moléculas do nosso corpo) e que estimula também a imunidade adaptativa (que é ativada pelo contato com agentes infecciosos). EXISTEM DOIS TIPOS DE IMUNIDADE ADAPTATIVA: Imunidade humoral: gera uma resposta mediada por moléculas no sangue e nas mucosas, chamadas de anticorpos, produzidos pelos linfócitos B. Imunidade celular: gera resposta mediada pelos linfócitos T. Quando microrganismos intracelulares, como os vírus e algumas bactérias, sobrevivem e proliferam dentro das células hospedeiras, estando inacessíveis para os anticorpos circulantes, com isso as células T promovem a destruição do microrganismo ou a morte das células infectadas, para eliminar a infecção. 2. Com isso, há a produção de grande quantidade de citocinas pró-inflamatórias e anticorpos. 3. Os indivíduos que adquirem a FR apresentam níveis de anticorpos anti-estreptocócicos elevados, ao contrário de outros que não evoluem. (desregulação da resposta inflamatória) a. Aumento de imunoglobulinas IgG e IgA; b. Aumento de linfócitos TCD4+ associada ao aumento de interleucinas e redução do linfócito TCD8+. c. Aumento de várias interleucinas e do TNF no tecido acometido. TCD4+: envia mensagens de ataque para diversos leucócitos para realizar a guerra imunológica contra o agente agressor. TCD8+: são células do sistema imune adaptativo capazes de induzir a morte de células infectadas através de mecanismos citotóxicos. F e b r e , i n f l a m a ç ã o e i n f e c ç ã o | 3 4. Nas articulações os anticorpos depositam-se em forma de imunocomplexos e provocam artrite. 5. Outros anticorpos reconhecem os neurônios dos núcleos da base estimulando a secreção de dopamina – responsável pela coreia (movimentos involuntários). 6. O equilíbrio entre estas citocinas é dependente dos fatores genéticos, determinando o grau da reação inflamatória gerada. → Questão genética: Foi percebido uma maior predisposição genética nos indivíduos que desenvolveram febre reumática: 1. Maior incidência dos grupos familiares da desenvolver FR. 2. E mais recentemente a relação dos pacientes com o gene HLA (antígeno leucocitário humano). QUADRO CLÍNICO PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS (CRITÉRIOS MAIORES) ARTRITE: → Mais frequente manifestação clínica (75%); → Acomete grandes articulações (joelhos, tornozelos, punhos e cotovelos) e tem forma migratória, ou seja, atingindo outras articulações. → A dor é de grande intensidade, levando à incapacidade funcional. CARDITE: → Segunda maior manifestação clínica (50 a 60%); → A sintomatologia é branda e pode ser até mesmo assintomática (sempre pedir ecocardiograma). → De acordo com o evoluir da FR a cardite progride, podendo se tornar fatal. → A FR pode afetar todos os folhetos cardíacos: endocárdio, miocárdio e pericárdio. → As válvulas mais acometidas são, a mitral e a aórtica. → Os principais sintomas são taquicardia, atrito pericárdio e sopro (achado mais frequente). COREIA → Indica o envolvimento do SNC e tem incidência de até 30% dos pacientes. → É caracterizado por movimento não coordenados e involuntários, fraqueza muscular e instabilidade emocional. → A coreia é autolimitada e de duração variada (melhora com 1 a 2 semanas, mas a cura pode levar meses). ERITEMA MARGINADO → Sua incidência varia de até 13%; → É mais comum no início da doença; → As lesões são eritematosas, com o centro mais claro, indolores e sem prurido; → Acomete tronco e NÓDULOS SUBCUTÂNEOS → São raros (até 8%); → Ocorre tardiamente nos pacientes com cardite grave; → São nódulos indolores e móveis, de tamanhos variados. → São encontradas próximas às proeminências ósseas como cotovelos. OUTRAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS (CRITÉRIOS MENORES) FEBRE ALTA: → Presente no início da doença, com temperatura em torno de 39°C ARTRALGIA: → Dor nas articulações, de grande intensidade que pode levar a incapacidade.F e b r e , i n f l a m a ç ã o e i n f e c ç ã o | 4 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL EXAMES DA FASE AGUDA: → Velocidade de Hemossedimentação (VHS): aumento precoce e acentuado. Não é útil para ser realizado na continuidade da doença, pois tem seus valores reduzidos com o uso de anti- inflamatórios. → Proteína C reativa (PCR): eleva-se em todos os pacientes nas duas primeiras semanas. → AHa-1 glicoproteína ácida: é uma proteína induzida por processo inflamatório agudo que se mantém elevada e não sofre influencia de anti- inflamatórios. Bom exame para acompanhar o período de atividade da doença. PROVAS IMUNOLÓGICAS: → ASLO (anticorpo antiestrptolisina); - presente em 80% dos casos; → Anti-DNAse B; → Anti-hialuronidase. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da febre reumática é clínico, não existindo sinal patognomônico ou exame específico. Baseia-se nos Critérios de Jones de 2015 – American Heart Association:
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