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Oficinas e Estudos Temáticos: Infância e Adolescência Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Maria Raimunda Chagas Vargas Rodriguez Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites Criança e Adolescente em situação de vulnerabilidade social 5 • O Sistema Socioeducativo Brasileiro: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) • Medidas Protetivas • Aplicação das medidas socioeducativas a partir do ECA e do SINASE • Situações de altíssima Vulnerabilidade Social · Conhecer quais são as características da aplicação de medidas protetivas e socioeducativas para crianças e adolescentes delimitada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo; · Compreender o que é Vulnerabilidade Social; · Aprender mais sobre crianças e Adolescentes em situação de risco. Sejam bem-vindos à nossa disciplina online. Durante essa unidade iremos aprofundar os estudos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) no que diz respeito à aplicação de medidas protetivas e socioeducativas. O foco da unidade é discutir a situação de vulnerabilidade social de crianças e adolescentes em diferentes situações de risco social e pessoal. • Faça a leitura do conteúdo com atenção; • Realize as atividades propostas para fixação do aprendizado; • Participe do Fórum da disciplina; • Tente acessar o material complementar direcionado pelo tutor; • Em caso de dúvidas, contate a equipe do campus virtual. Até a próxima e bons estudos! Criança e Adolescente em situação de Vulnerabilidade Social 6 Unidade: Criança e Adolescente em situação de vulnerabilidade social Contextualização Para estudar a situação das crianças e dos adolescentes em situação de vulnerabilidade social e envolvidos na prática de atos infracionais, no cenário brasileiro, aprofundaremos os estudos sobre o Estatuto da Criança e do adolescente (ECA) – Lei n° 8.069/90 – bem como sobre o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) – Lei nº 12.594/2012 (Lei Ordinária) de 18/01/2012. As multifaces da questão social presentes nesta terceira unidade – Criança e Adolescente em situação de vulnerabilidade social – são situações decorrentes das violações de direitos e de proteção social previstas na Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Podemos classificar o termo vulnerabilidade social em situações que colocam em risco o desenvolvimento saudável e seguro da criança e do adolescente enquanto sujeito de direito, como, por exemplo: exploração sexual, drogadição, trabalho infantil, prostituição, maus tratos e negligência familiar, social e estatal, violência física, psicológica e sexual, adolescente em cumprimento de medidas socioeducativas, crianças e adolescente fora das escolas, etc. Geralmente essas situações de fragilidade e insegurança estão relacionadas às desigualdades socioeconômicas, ou seja, precariedade e carência material decorrente das desigualdades entre as classes sociais. O ECA surge em 1990 com a proposta de normatizar os direitos destinados às crianças e adolescentes objetivando a garantia desses direitos e a proteção integral, erradicando situações de vulnerabilidade social. A proteção social a que se refere o ECA está expressa nos Direitos Fundamentais destinados às crianças e aos adolescentes presentes no artigo 277 da Constituição Federal de 1988. 7 O Sistema Socioeducativo Brasileiro: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) Para estudar a situação das crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e envolvidos na prática de atos infracionais, no cenário brasileiro, aprofundaremos os estudos sobre o Estatuto da Criança e do adolescente (ECA) – Lei n° 8.069/90 – bem como do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) – Lei nº 12.594/2012 (Lei Ordinária) de 18/01/2012. Atenção O SINASE institui o sistema nacional de atendimento socioeducativo regulamentando a execução das medidas socioeducativas destinadas a adolescentes que pratiquem ato infracional, e altera a lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); Acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12594.htm As multifaces das questões sociais presentes nesta unidade – Criança Adolescente em situação de vulnerabilidade social – são situações decorrentes das violações de direitos e da proteção social que são previstas na Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Podemos classificar o termo vulnerabilidade social como situações que colocam em risco o desenvolvimento saudável e seguro da criança e do adolescente enquanto sujeito de direito, como, por exemplo: exploração sexual, drogadição, trabalho infantil, prostituição, maus tratos e negligência familiar, social e estatal, violência física, psicológica e sexual, adolescente em cumprimento de medidas socioeducativas, crianças e adolescente fora das escolas, etc. Geralmente essas situações de fragilidade e insegurança estão relacionadas às desigualdades socioeconômicas, ou seja, precariedade e carência material decorrente das desigualdades entre as classes sociais. Glossário Vulnerabilidade: fragilidade, fraqueza, indefensabilidade, insegurança e instabilidade. Crianças trabalhando em um lixão situação de altíssima vulnerabilidade social Fonte: iStock/Getty Images 8 Unidade: Criança e Adolescente em situação de vulnerabilidade social O ECA surge em 1990 com a proposta de normatizar os direitos destinados às crianças e aos adolescentes focando a garantia desses direitos e a proteção integral, erradicando situações de vulnerabilidade social. A proteção social a qual se refere o ECA está expressa nos direitos fundamentais destinados às crianças e adolescentes presentes no artigo 277 da Constituição Federal de 1988. Declaração dos Direitos da Criança (ONU) http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Crian%C3%A7a/declaracao-dos-direitos-da-crianca.html O sistema socioeducativo brasileiro é estruturado a partir da aplicação de medidas socioeducativas e medidas socioprotetivas normatizadas pelo ECA. As medidas socioeducativas têm caráter punitivo para adolescentes que cometeram atos infracionais. As medidas protetivas focam em ações preventivas e protetivas a situações de vulnerabilidade social. Explore: Estatuto da Criança e Adolescentewww.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) instituído por meio da Lei Federal n°12.594/2012 em 18/01/2012 complementa as ações do ECA regulamentando a execução das medidas socioeducativas destinadas a adolescentes que pratiquem atos infracionais e estabelecendo parâmetros para os programas de atendimento a adolescentes em conflito com a lei. Legislação Segundo o ECA, em seu Título III, Da Prática de Ato Infracional, Cap.I, Art. 103, considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. 9 Medidas Protetivas As medidas socioprotetivas são aplicadas quando há violação de direitos, como determina o Art. 98 do ECA: As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: 1. Por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; 2. Por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; 3. Em razão de sua conduta. Quando crianças (pessoas de até doze anos incompletos) cometem atos infracionais, são aplicadas medidas de proteção previstas pelos art. de 103 a 105 do ECA. O art. 101 normatiza quais são as medidas de proteção previstas, apresentando oito medidas protetivas, sendo a situação de abrigamento institucional uma medida provisória e de caráter excepcional. Mesmo para adolescentes que cometam atos infracionais, as medidas protetivas podem ser utilizadascomo complementares às medidas socioeducativas, que podem ser estendidas às famílias dependendo do estudo de caso. Importante! Para acompanhar a discussão, leia os artigos de 98 a 105 do ECA. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm Aplicação das medidas socioeducativas a partir do ECA e do SINASE A delimitação para a aplicação de medidas socioeducativas está presente no ECA a partir do art. 103, que apresenta as disposições gerais para crianças e adolescentes que pratiquem atos infracionais. A partir dessas disposições, são especificados os direitos individuais dos adolescentes em conflito com a lei e quais as suas garantias processuais a partir da comprovação da prática de ato infracional. O ECA e o SINASE são ferramentas de trabalho importantes ao especificarem e regulamentarem como deve ser a aplicação das medidas socioeducativas. As medidas socioeducativas possuem um caráter punitivo, correcional, mas também há outro caráter: o pedagógico. Segundo Liana de Paula (2011), a dimensão punitiva se refere ao cumprimento de medida socioeducativa através de uma pena equivalente ao ato infracional cometido pelo adolescente. A dimensão pedagógica refere-se ao encaminhamento educativo que será dado aos adolescentes através do cumprimento das medidas. 10 Unidade: Criança e Adolescente em situação de vulnerabilidade social [...] por um lado, há a dimensão punitiva, que prevê penalidade compulsória no caso de cometimento de ato infracional, definido como a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Por outro, há a dimensão pedagógica que procura instaurar a finalidade educativa da punição por meio da garantia dos direitos fundamentais (saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária) ao adolescente. (PAULA, 2011, p. 59) A partir do art.112 do ECA, observamos quais são as medidas socioeducativas aplicadas quando se verifica a prática de atos infracionais, são elas: 1. Advertência; 2. Obrigação de reparar o dano; 3. Prestação de serviços à comunidade; 4. Liberdade assistida; 5. Inserção em regime de semiliberdade; 6. Internação em estabelecimento educacional; 7. Qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.B. Importante! Para acompanhar a discussão, leia os artigos de 106 a 125 do ECA e os artigos 1º e 2º do SINASE. Tanto o ECA como o SINASE estabelecem que a medida socioeducativa deve ser adequada à capacidade do cumprimento da mesma pelos adolescentes. Além dessa característica, os dois documentos estabelecem que cada adolescente deverá ter um acompanhamento individualizado durante o cumprimento da medida socioeducativa, denominado como Plano Individual de Atendimento (PIA), que também deverá abranger ações com as famílias dos adolescentes, as quais devem ser previstas, registradas e gerenciadas. Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/12800 As especificações do ECA e do SINASE não retiram a necessidade de responsabilizar os adolescentes pelos atos infracionais, como é notificado pela mídia na atualidade. Contrariamente, as leis promovem a responsabilização consciente dos adolescentes para que as consequências possam ser realmente visualizadas e, na medida do possível, reparadas. Há direitos, mas também há responsabilidades. Reflita As medidas socioeducativas precisam ter um sentido para os adolescentes que irão cumpri-las, deve-se buscar por meio da reflexão o olhar crítico para suas ações e a empatia com as vítimas. Porém, esse pode ser um processo complexo devido às inúmeras privações materiais e psicológicas dos adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade social. Nesse sentido e visando ao cumprimento das medidas, o SINASE especifica os requisitos que os programas de atendimento devem seguir, tanto para as medidas socioeducativas em meio aberto, como para as medidas em privação de liberdade, a partir do capítulo IV, do art. 9° ao art. 17. 11 Atenção O ECA estabelece quais são as medidas socioeducativas e dentro de que parâmetros devem ser cumpridas, o SINASE descreve como devem ser executadas em seu art. 35 e os procedimentos judiciais de acordo com o art.36. O estabelecimento do Plano Individual de Atendimento (PIA), que consiste em um plano de ação para o adolescente em cumprimento de medida socioeducativa buscando construir sua socialização em meio aberto, é elaborado conjuntamente – adolescentes e famílias. o ECA especifica quais são as medidas pertinentes aos pais ou responsáveis nos art. 129 e 130, e no parágrafo único do art. 52 do SINASE consta que: [...] o PIA deverá contemplar a participação dos pais ou responsáveis, os quais têm o dever de contribuir com o processo ressocializador do adolescente, sendo esses passíveis de responsabilização administrativa, nos termos do art. 249 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 Estatuto da Criança e do Adolescente), civil e criminal. A proteção social especial garante o atendimento a indivíduos e famílias em situação de risco pessoal e social, que envolvam violência, trabalho infantil, cumprimento de medidas socioeducativas, entre outras, como explica a Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004) O cumprimento de medidas em meio-aberto e/ou restritivas e privativas de liberdade faz parte da Proteção Social Especial de Média Complexidade e de Alta Complexidade, respectivamente, como especifica a Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004). Para entender melhor sobre o sistema de proteção básica e especial: Política Nacional de Assistência Social: http://goo.gl/sxJyo5 Para entender melhor sobre o cumprimento de medidas sócioeducativas: http://goo.gl/J489jB Percebemos que o sistema socioeducativo brasileiro é baseado na coerção, mesmo que o Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleça metas para que as medidas socioeducativas tenham um caráter educativo para os adolescentes. Diálogo com o Autor Nota-se, portanto, que o objetivo maior das medidas socioeducativas é promover a autonomia dos sujeitos a quem elas assistem. Para Piaget (1932/1994), a autonomia só pode ser atingida em um ambiente que propicie o respeito mútuo e a reciprocidade entre os pares envolvidos; jamais através da coerção, a qual dificulta a formação de sujeitos autônomos, capazes de decidir moralmente sobre as questões sociais mais amplas. 12 Unidade: Criança e Adolescente em situação de vulnerabilidade social Situações de altíssima Vulnerabilidade Social Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes: prostituição, pedofilia e pornografia Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o conceito de violência significa o uso intencional da força física ou do poder, real ou potencial, contra si próprio ou outras pessoas, grupo ou comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. O modo de produção capitalista ratificou o poder do homem, macho, branco e rico, inferiorizou ainda mais a mulher, os negros e as crianças. Nessa direção, cabe enfatizarmos o poder do adulto sobre as crianças, uma relação antagônica entre homem e mulher, ou entre classes subalternas e dominantes. Nesses termos, a violência sexual se relaciona com a violência estrutural inerente às sociedades que se desenvolveram pelo modo de produção desigual. Está presente em todas as classes sociais e deve ser considerada como violência de natureza interpessoal. Basicamente, as violências são separadas em dois grandes grupos: aquelas que violam os direitos sociais das crianças em alto risco, “os deserdados do sistema”, mediante a falta de efetivação dos direitos sociais nas políticas públicas; e a violência interpessoal, resultante da relação assimétrica entre adultos e crianças, cometida por um agente agressor de dimensão concreta, personificado (AZEVEDO; GUERRA, 2007). Em qualquer um dos formatos, o processo de coisificação é complementarao de dominação, as ações violentas cometidas refletem o tratamento dado ao sujeito como coisa, compelido à passividade e ao silêncio. A dominação e subordinação se completam pela sexualidade, na passividade dos dominados, implicitamente, significando que o abusador tem o direito de usar o outro a seu bel-prazer. Como consequência dessa conduta, aceita e enraizada na sociedade, o campo se abre para todas as formas de violência sexual contra a população em situação de vulnerabilidade. A violência sexual contra crianças e adolescentes é uma violência interpessoal, isto é, a exacerbação do padrão de comportamento do indivíduo agressor através do processo de vitimização, pelo qual o agressor, adulto, aprisiona a vontade da criança a fim de satisfazer suas expectativas, causando danos físicos ou psicológicos a ela. As relações hierárquicas adultocêntricas, expressas no âmbito da sexualidade, confirmam o formato de “abuso-vitimização”. Os abusos vitimização são divididos em três tipos: o físico, o psicológico e o sexual (AZEVEDO; GUERRA, 2007) O abuso sexual é “toda situação em que uma criança ou um adolescente é utilizado para gratificação sexual das pessoas, geralmente mais velhas”. Ocorre quando o abusador se aproveita do fato de a criança ter sua sexualidade despertada para consolidar a situação de acobertamento. A criança se sente culpada por sentir prazer e isso é usado pelo abusador para conseguir o seu consentimento. (SANTOS; IPPOLITO, 2009, p. 28) Nate Realce 13 Na situação de abuso sexual extrafamiliar, o abusador é alguém que a criança confia e convive fora do âmbito familiar. Costuma ser um vizinho, amigo da família, o médico, o professor, líder religioso ou psicólogo, mas nada impede de ser um total desconhecido da criança, como nas situações de estupro em locais públicos (SANTOS; IPPOLITO, 2009). Conforme nossa legislação, os atos sexuais praticados por adultos com menores de quatorze anos são condutas criminosas, uma vez que esse grupo de pessoas, pela lei, é considerado vulnerável. Ainda, podem configurar crimes sexuais as condutas praticadas com adolescentes maiores de quatorze anos, dependendo do grau de parentesco ou status de responsabilidade legal e social entre elas, dos meios utilizados para obtenção do ato sexual e da existência ou não de consentimento. A pornografia que envolve crianças e adolescentes é um tema bastante comentado pelos meios de comunicação quando associado à pedofilia. Configura-se como ato criminoso tanto para os que “fotografam ou expõem crianças nuas ou em posições sedutoras com objetivos sexuais, quanto para aqueles que mostram para crianças fotos, vídeos ou cenas pornográficas” (SANTOS; IPPOLITO, 2009, p. 31). Amparada pela cultura machista, indivíduos motivados por uma “satisfação simbólica de manter o vigor sexual da juventude perdido na maturidade e na velhice ou pelo desejo de se eternizar num corpo jovem” (SANTOS; IPPOLITO, 2009, p. 41) acabam acreditando que o sexo com adolescentes é melhor. Com relação à pedofilia, trata-se da atração erótica de um adulto por crianças, que se desenvolve no campo da fantasia ou no mundo real, em atos sexuais com meninos e meninas. Por essa razão, nem sempre o pedófilo comete violência sexual, alguns se satisfazem somente pela visualização de fotos, figuras ou filmes que lhe aplaquem o intenso desejo sexual que procuram (SANTOS; IPPOLITO, 2009). Pela forma como é definida a pornografia no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), qualquer manifestação produzida pelo homem que envolva criança ou adolescente em cenas reais de atividade sexual explícita deve ser coibida, pois se denominou “cena pornográfica” toda aquela que simule a participação de uma criança ou adolescente. Assim, gravuras, pinturas, desenhos, livros, vídeos ou qualquer forma de expressão que utiliza ou utilizou representações de infantes, ou simples insinuações de atividade sexual, é pornografia infantil. Enquanto a pornografia infantil é crime e atende, em geral, o mercado de pedófilos, a pornografia adulta é uma indústria de entretenimento amplamente difundida e atende um público específico, interessado em visualizar cenas que incitem suas mais variadas fantasias sexuais. Nas trocas sexuais, o sexo é ofertado em troca de favores diversos. Crianças e adolescentes são utilizados para obtenção de comida, drogas, produtos de valor comercial (como roupas de marcas desejadas ou aparelhos eletrônicos), entre outras coisas. Existe uma continuidade no trabalho sexual, pois as ofertas de sexo estão associadas a outras práticas de sobrevivência que se alternam em períodos de maior ou menor necessidade (SANTOS; IPPOLITO, 2009). 14 Unidade: Criança e Adolescente em situação de vulnerabilidade social Os pedófilos fazem parte da sociedade, muitos se relacionam sexualmente de forma normal com outros adultos, não são fissurados necessariamente em crianças, mas no sexo em si. O desejo para eles nem sempre depende do objeto. Agem de forma sedutora e assim conquistam a confiança dos meninos, meninas e de jovens. Embora sejam vistos como “cidadãos acima de qualquer suspeita”, quando são descobertas as situações de violência que os envolvem, a sociedade se volta fervorosamente contra eles (SANTOS; IPPOLITO, 2009). Como consequência, a pedofilia tem causado repulsa da sociedade, principalmente devido aos inúmeros casos noticiados em que se divulga a pornografia pela internet ou as ações praticadas por líderes religiosos. Os assassinatos cometidos por pedófilos ganham mais destaque ainda, estarrecem pessoas no mundo todo, mas é geralmente nos casos de estupro em que há maior conquista do objeto de desejo, onde a crueldade se mostra exacerbada. Independente da forma como os indivíduos praticam a pedofilia ou o incesto, parecem apresentar em comum: o hábito de frequentar casas de prostituição infanto-juvenil e consumir produtos pornográficos; a vivência de terem sido abusados sexualmente na infância, submetidos à vitimização; utilizarem da relação de poder e dominação, característica da cultura do machismo, “ainda que utilizem a sexualidade da criança muito mais como uma gratificação compensatória para um sentimento de impotência e baixa estima do que para uma gratificação sexual” (SANTOS; IPPOLITO, 2009, p. 40). A exploração sexual de crianças e adolescentes é uma prática para a obtenção de benefícios ou dinheiro e visa somente ao prazer dos adultos exploradores, acarreta prejuízo para a saúde desses meninos, meninas e jovens. Portanto, o conceito de exploração implica, forçosamente, no conceito de dominação, uma vez que para alguém explorar o outro, precisa exercer domínio sobre esse outro (SAFFIOTI, 2007). 15 Drogadição de Crianças e Adolescentes O ECA estabelece no artigo Art. 98 as medidas de proteção à criança e ao adolescente que são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I. por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II. por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III. em razão de sua conduta. O Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I. encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II. orientação, apoio e acompanhamento temporários; III. matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV. inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; V. requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalarou ambulatorial; VI. inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII. acolhimento institucional; Nesse contexto, observamos que o Estado tem por obrigação atender aos adolescentes que passam por dependência química, esse tratamento deve ser feito em clínicas, comunidades terapêuticas, hospitais, ambulatorial e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conforme o artigo 101, inciso VI, que determina a inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos. O tratamento de adolescentes dependentes químicos (álcool, múltiplas drogas), infelizmente, ainda não é visto como uma situação que deva ser tratada no âmbito da saúde pública, e menos ainda na área jurídica, mesmo a dependência química, segundo a Organização Mundial de Saúde (ONU), sendo considerada uma doença que se espalha em todos os continentes. 16 Unidade: Criança e Adolescente em situação de vulnerabilidade social Material Complementar Para aprofundar seus conhecimentos acerca dos temas abordados na unidade, acesse os links/materiais abaixo: Legislação: BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Carta de Constituição de estratégias em defesa da proteção integral dos Direitos da Criança e do Adolescente. Disponível em : http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-adolescentes/carta-de-estrategias Lei 8.072 de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8072.htm. Lei n.°8.069 de 13 de julho de 1990. Estatuto da criança e do adolescente. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Lei n.º 12.015 de 07 de agosto de 2009. Altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal e revoga a Lei nº 2.252, de 1º de julho de 1954, que trata de corrupção de menores. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm. Lei n.º12.978 de 21 de maio de 2014. Altera o nome jurídico do art. 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; e acrescenta inciso ao art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para classificar como hediondo o crime de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12978.htm. 17 Referências AZEVEDO, Maria Amélia. GUERRA. Viviane Nogueira de Azevedo (org.). Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. 2. ed. São Paulo: Iglu, 2007. SANTOS, Benedito Rodrigues dos; IPPOLITO, Rita. Guia de referência: construindo uma cultura de prevenção à violência sexual. São Paulo: Childhood – Instituto WCF Brasil, Prefeitura da cidade de São Paulo, Secretaria da Educação, 2009. PAULA, Liane. Liberdade Assistida: punição e cidadania na cidade de São Paulo. Dissertação pela Universidade de São Paulo/USP, 2011. Disponível em: www.teses.usp.br/ teses/disponiveis/8/8132/.../2011 SAFFIOTI, Heleieth. A síndrome do pequeno poder. In: AZEVEDO, Maria Amélia. GUERRA. Viviane Nogueira de Azevedo (org.). Crianças vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. 2. ed. São Paulo: Iglu, 2007. 18 Unidade: Criança e Adolescente em situação de vulnerabilidade social Anotações
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