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Fichamento_HARVEY, David O direito à cidade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 
COORDENADORIA ACADÊMICA CACHOEIRA DO SUL 
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO 
CIDADES E SOCIEDADE 
 
Docente: Verônica Garcia Donoso 
Discente: Josiane Adriana Schroeder 
Data: 05/02/2021 
 
 FICHAMENTO DE TEXTO 
 
HARVEY, David. O direito à cidade. Edição 82, 2013. 
 
No texto “O direito à cidade”, David Harvey inicia sua análise com o 
seguinte contexto: “a qualidade da vida urbana virou uma mercadoria. Há uma 
aura de liberdade de escolha de serviços, lazer e cultura – desde que se tenha 
dinheiro para pagar. ” (HARVEY, 2013, p. 1). Em sua análise, Harvey relata que, 
mesmo vivendo em um período em que os direitos humanos são muito 
discutidos, o que é fundamental para um mundo melhor, sendo que ainda 
vivemos em uma realidade em que os direitos da propriedade privada e as taxas 
de lucro superam todas as outras noções do direito. 
Nesse sentido, Harvey questiona o ritmo espantoso da urbanização nos 
últimos 100 anos, perguntando-se qual a contribuição efetiva para o bem-estar 
humano em qual o tal processo produziu. Com isso, o autor descreve o conceito 
de cidade de acordo com a concepção do sociólogo e urbanista Robert Park: 
 
É a tentativa mais bem-sucedida do homem de refazer o mundo em 
que vive mais de acordo com os desejos do seu coração. Mas, se a 
cidade é o mundo que o homem criou, é também o mundo onde ele 
está condenado a viver daqui por diante. Assim, indiretamente, e sem 
ter nenhuma noção clara da natureza da sua tarefa, ao fazer a cidade 
o homem refez a si mesmo. (HARVEY, 2013, p. 3, apud PARK). 
 
Harvey também destaca que o direito à cidade vai além da liberdade 
individual de ter acesso aos recursos urbanos, pois trata-se de um direito coletivo 
fundamental de todos os seres humanos. Deste modo, finalizando seu 
pensamento, ele destaca que a liberdade de poder fazer e refazer as cidades é 
um de nossos direitos humano mais precioso, mas muitas vezes negligenciado. 
Assim, para entendermos melhor como ocorreu o processo de 
urbanização, Harvey volta ao passado, onde tudo se iniciou. Analisando o 
contexto de surgimento das cidades, ele destaca que estas nasciam em locais 
onde havia a produção excedente de bens, para além das necessidades e 
demandas. Assim, ele conclui que a urbanização foi um fenômeno de classes, 
de modo que o seu controle sempre ficou nas mãos de poucos, como no exemplo 
do senhor feudal. 
Sob esta análise, o autor trata do capitalismo, entendendo que o mesmo 
possui uma conexão íntima com o desenvolvimento do sistema de urbanização. 
Nesse sentido, Harvey explica como funciona o capitalismo: este deve produzir 
além de seus custos para obter lucro, o qual deve ser reinvestido para que possa 
gerar ainda mais lucro. Sendo assim, o que molda a política do capitalismo, de 
acordo com o autor, é a necessidade de se encontrar territórios férteis para a 
geração desses lucros e também para os novos investimentos. 
Porém, mesmo assim, os capitalistas enfrentam uma série de barreiras, 
sendo as mais variáveis, conforme as análises registradas pelo autor. Dentre 
estas, destacam-se as novas tecnologias, pois caso os capitalistas não as 
tenham ou não consigam renová-las, buscando estas novas soluções, como 
novos investimentos de crédito, estes serão eliminados por seus concorrentes. 
Assim, caso o capitalista não consiga reinvestir seu lucro de maneira satisfatória, 
o seu capital pode desvalorizar e ser corroído pela inflação e pela concorrência. 
Portanto, os capitalistas produzem constantemente, sempre em busca de mais 
lucro. 
Nesse contexto, Harvey apresenta em sua análise casos que mudaram a 
escala da urbanização de vários países. O primeiro caso a ser analisado é o da 
cidade de Paris, no período do Segundo Império, no ano de 1848. Neste período, 
ocorria uma das grandes crises na Europa, a qual gerou uma grande massa de 
desempregados. Nesse período, Napoleão III se proclamou imperador, em 1851, 
e implantou várias mudanças urbanísticas e investimentos na infraestrutura de 
Paris, como a construção de ferrovias, grandes obras no Canal Suez e a 
construções de portos. Já no ano de 1853, Georges Eugene Haussmann foi 
convocado, por Napoleão III, com a missão de resolver os problemas 
urbanísticos da capital, por meio de uma nova urbanização. Para isso, foram 
realizados vários planos, nos quais se investiu um grande volume de recursos, 
criando um sistema protokeynesiano de melhorias urbanas de infraestrutura 
financiadas por títulos de dívida. De modo que Paris adquiriu uma nova 
personalidade urbana, que ficou conhecida como a cidade luz, transformando-
se em um grande centro de consumo. Estas mudanças realizadas por 
Haussmann obtiveram um bom funcionamento por quinze anos. Mas no ano de 
1868, o sistema financeiro especulativo e as instituições de créditos 
superdimensionadas quebraram. Haussmann foi demitido e Napoleão III entrou 
em guerra contra a Alemanha. Entre estes acontecimentos ocorreu um dos 
maiores episódios revolucionários do capitalismo urbano: a Comua de Paris. 
Com isso, nascia uma nostalgia do mundo que Haussmann havia construído, e 
o desejo de retomar a cidade para os mais pobres que formam despossuídos 
pelas obras impostas. 
 Em sua segunda análise sobre esse tema, Harvey destaca os Estados 
Unidos, no ano de 1940. Neste período, a maior mobilização do país era com a 
guerra, de modo que o capital financeiro era prioritariamente investido no âmbito 
militar. No entanto, havia uma forte tensão sobre o que poderia ocorrer após este 
período. Já no ano de 1942, conforme relato do autor, Robert Moses trouxe uma 
nova urbanização para a cidade de Nova York, inspirando-se no projeto realizado 
em Paris, por Haussmannmm, mas contendo algumas mudanças em relação 
aos recursos de financiamentos. 
Deste modo, Moses mudou a escala do processo urbano por meio da 
transformação da infraestrutura, com sistemas de rodovias que alteravam a 
engenharia da cidade e também de toda a região metropolitana. Para isso, 
buscou tanto novas instituições financeiras como também esquemas tributários, 
de onde eram liberados créditos para financiar a expansão urbana. Com isso, o 
país passou por uma estabilização do capitalismo global, no ano de 1945, de 
modo a conseguir impulsionar a economia mundial. 
Segundo Harvey, esses novos acontecimentos acarretaram em uma 
transformação radical no estilo de vida das pessoas: a aquisição de novos 
produtos, casa própria, aparelhos eletrodomésticos e automóveis. Essas 
características mudaram o panorama político, pois sendo a casa própria 
subsidiada para a classe média, a comunidade passa a defender os valores da 
propriedade e da identidade individual. 
Segundo o autor, estes projetos garantiram a estabilidade social nos 
Estados Unidos, mas com o custo de esvaziar o centro das cidades, gerando 
conflitos urbanos entre aqueles que foram excluídos do processo de 
urbanização. Como analisado por Harvey, no final dos anos 60 houve outro tipo 
de crise, tendo como alvo os projetos de Moses, de modo que as suas soluções 
passaram a serem vistas como inapropriadas e inaceitáveis. Como o apoio da 
ativista Jane Jacobs, autora de “Vida e Morte das Grandes Cidades”, essas 
manifestações procuravam se contrapor aos projetos de Moses, propondo a 
valorizar a vida nos bairros. Porém, os subúrbios já haviam sido construídos e 
junto com eles as consequências sociais se agravaram. Nesse contexto, 
estudantes brancos de classe média entraram na luta a favor dos grupos 
marginalizados, em busca dos direitos civis para todos, visando a construção de 
um mundo diferente. 
Na sequência, Harvey faz um salto para a atualidade, analisando 
informações sobre o capitalismo internacional e destacando as várias crises 
surgidas nesse contexto. Sobre esta questão, ele destaca o papel da 
urbanização para estabilizar essas crises. Dentre elas, cita-se o caso dosEstados Unidos, no qual o setor imobiliário é um do grande estabilizador da 
economia. Continuando a sua análise, Harvey traz o exemplo da China, que 
durante vinte anos focou no desenvolvimento da infraestrutura. Atualmente, são 
mais de 100 cidades chinesas que já ultrapassaram a marca de 1 milhão de 
habitantes, as quais estão passando por um intenso processo de urbanização e 
se tornando globais. 
Nesse sentido, o autor analisa essa rápida transformação e a relaciona 
com a transformação promovida por Haussmann em Paris. Para que não ocorra 
o mesmo, é preciso ter instituições financeiras que organizem estes créditos, 
evitando a chamada crise das hipotecas, que nos EUA afetou primeiramente as 
famílias de baixa renda e em seguida as classes mais nobres, que não mais 
conseguiam pagar os valores exorbitantes de suas hipotecas de habitação em 
centros urbanos das cidades americanas. 
Para Harvey, todas as fases anteriores trouxeram mudanças para o estilo 
de vida. Segundo o autor, 
 
A qualidade da vida nas cidades virou uma mercadoria, num mundo 
onde o consumismo, o turismo e as indústrias culturais e do 
conhecimento se tornaram aspectos importantes da economia urbana 
A tendência pós-modernista de incentivar a formação de nichos de 
mercado, nos hábitos de consumo e nas expressões culturais, envolve 
a experiência urbana contemporânea numa aura de liberdade de 
escolha – desde que se tenha dinheiro. (HARVEY, 2013, p. 11) 
 
 
Dando sequência na análise do autor, ressalta-se que atualmente as 
pessoas vivem em áreas urbanas divididas, com espaços contendo fragmentos 
fortificados, como em condomínios fechados e espaços públicos privatizados. 
Nesse sentido, o urbanista italiano Marcello Balbo comenta que estes 
fragmentos são compostos por bairros ricos, rodeados de vantagens, como 
campo de golf, quadra de tênis, educação exclusiva e segurança 24 horas. Por 
outro lado, não muito longe, há outra realidade, a das favelas, nas quais não há 
saneamento básico ou infraestrutura, onde pessoas lutam diariamente pela sua 
sobrevivência. (HARVEY, 2013). 
Uma outra questão que Harvey aborda em seu texto está relacionada ao 
investimento capitalista na transformação das cidades, o que afetou seriamente 
a reestruturação urbana. Segundo o autor, 
 
 Ele acarretou repetidas ondas de reestruturação urbana através da 
“destruição criativa”, que quase sempre tem uma dimensão de classe, 
uma vez que são os pobres, os menos favorecidos e os marginalizados 
do poder político que sofrem mais com o processo. A violência é 
necessária para construir o novo mundo urbano sobre os destroços do 
velho. (HARVEY, 2013, p. 13). 
 
Em Paris, por exemplo, ocorreu a expropriação dos cortiços, o que causou 
a remoção de grande parte dos trabalhadores dos centros das cidades, em nome 
do progresso. Nesse sentido, o autor analisa uma descrição de 1872, mas que 
poderia perfeitamente retratar a sociedade atual: 
 
O crescimento das grandes cidades modernas dá à terra em certas 
áreas, em particular as de localização central, um valor que aumenta 
de maneira artificial e colossal; os edifícios já construídos nessas áreas 
lhes diminuem o valor, em vez de aumentá-lo, porque já não pertencem 
às novas circunstâncias. Eles são derrubados e substituídos por 
outros. Isso acontece, sobretudo, com as casas dos trabalhadores que 
têm uma localização central e cujo aluguel, mesmo com o máximo de 
superlotação, não poderá jamais, ou apenas muito lentamente, 
aumentar acima de um certo limite. Elas são derrubadas e no seu lugar 
são construídas lojas, armazéns e edifícios públicos. (HARVEY, 2013, 
p. 14). 
 
A descrição citada, de acordo com o autor, representa perfeitamente o 
processo de desenvolvimento urbanístico contemporâneo, sobretudo na Ásia e 
em outros países onde ocorre a acumulação por desapropriação. Esse processo 
produz vários conflitos, pois a terra possuir grande valor e os ocupantes 
geralmente são pessoas de baixa renda. 
Neste contexto, o autor traz alguns exemplos, como o de Seul, ocorrido 
nos anos de 1990. A partir do interesse imobiliário por uma área, uma construtora 
contratou pessoas para que invadissem os bairros pobres e destruíssem as 
moradias, assim como todos os bens que haviam construído ao longo dos anos 
de 1950. Hoje, no local, concentram arranha-céus que escondem os vestígios 
da brutalidade que permitiu a suas construções. O autor também cita outros 
exemplos de desapropriação, como nos Estados Unidos, onde o governo abusa 
de seu poder para desapropriar. 
Na China, segundo o autor, milhões de pessoas estão sendo despejadas, 
pois não possuem o direito à propriedade e, assim, o Estado pode removê-las a 
partir de um decreto. Como auxílio, o Estado oferece um pequeno pagamento 
para a sua transição para outro local. O autor conclui que a urbanização está, 
nestes últimos tempos, desempenhando um papel que é o de reinvestimento de 
lucro, o qual cria um processo de destruição criativa das massas de qualquer 
direto à cidade. 
Segundo Harvey, há hoje sinais de rebelião em todas as partes do mundo 
sobre o direito à cidade. Daí segue-se uma questão, que talvez faria uma grande 
diferença: se todos estes movimentos viessem a se unir, o que deveriam exigir? 
Uma possível resposta seria uma maior partilha democrático sobre a produção 
e a utilização do lucro, com uma gestão democrática da aplicação do que 
constitui o direito à cidade. (HARVEY, 2013). 
Outros dados interessantes, analisado pelo autor, são os apresentados 
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, os quais 
mostras que a fatia estatal da produção bruta tem sido constante desde anos 70, 
e a conquista neoliberal evitou com que a parcela pública se ampliasse. Nesse 
sistema, integram-se os interesses empresariais e os projetos governamentais 
para as cidades, favorecendo somente as grandes empresas e as classes mais 
altas. 
Segundo Harvey, já existem países que possuem movimentos sociais 
focados na questão urbana, como é o caso do Brasil, que no ano de 2001 
aprovou o Estatuto da Cidade, depois de muita luta juntamente com os 
movimentos sociais, pelo movimento do direito coletivo à cidade. Mas esse 
movimento ainda não conseguiu o seu maior objetivo, que é ter mais controle 
sobre o uso do dinheiro. Deste modo, “neste ponto da história, essa tem de ser 
uma luta global, predominantemente contra o capital financeiro, pois essa é a 
escala em que ocorrem hoje os processos de urbanização”. (HARVEY, 2013, p. 
17). 
Harvey afirma, por fim, que um grande passo para a unificação dessas 
lutas é adotar o direito à cidade como slogan e como ideal político, pois é ele 
quem comanda a relação entre a urbanização e a produção de lucro. Através 
disso, é possível construir uma democratização deste direito que para muitos foi 
roubado, negado e negligenciado. Portanto, é necessário que existam novas 
formas de urbanização para quem mais precisa: a população de baixa renda. 
Isso porque o direito a cidade é para todos, e não para poucos.

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