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RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 1 SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO I - INTERNET 1. Desenvolvimento da Internet e o Surgimento da Contratação Eletrônica. 1.1. Histórico da Internet 1.2. Características do espaço digital 1.3. Conceito de Internet 1.4. Liberdade de acesso e proteção do usuário 1.5. Delitos e responsabilidade na internet 1.6. Principais características jurídicas da internet 1.7. A Regulamentação da Internet. 1.8. Introdução e Questões Legais Relacionadas com Comércio Eletrônico. CAPÍTULO II – CONTRATOS ELETRÔNICOS 2. Contratos Eletrônicos. 2.1. Formação dos Contratos Eletrônicos. 2.2. Documento Eletrônico. 2.3. Contratantes. 2.4. Intermediários. 2.5. Senha, Assinatura Eletrônica e Assinatura Digital. 2.6. Capacidade no Âmbito dos Contratos. 2.7. Licitude do Objeto. 2.8. Forma dos Contratos. 2.9. Negociações Preliminares. 2.10. Proposta e Aceitação. 2.11. Momento da Celebração. 2.12. Meios de Prova. 2.13. Lugar do Contrato. 2.14. Contratos de Adesão. 2.15. Classificação dos Contratos Eletrônicos. 2.15.1. Contratos Eletrônicos Intersistêmicos. 2.15.2. Contratos Eletrônicos Interpessoais. 2.15.3. Contratos Eletrônicos Interativos. 2.16. Princípios Específicos para os contratos eletrônicos. 2.16.1. Princípio da equivalência funcional dos contratos realizados em meio eletrônico com os contratos realizados por meios tradicionais. 2.16.2. Princípio da conservação e aplicação das normas jurídicas existentes aos contratos eletrônicos ou inalterabilidade do direito. 2.16.3. Princípio da identificação 2.16.4. Princípio da verificação. 2.16.5. Princípio da neutralidade e da perenidade das normas reguladoras do ambiente digital. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 2 2.16.6. Princípio da boa-fé contratual CAPÍTULO III - A RELAÇÃO DE CONSUMO NO PLANO VIRTUAL 3. O Código de Defesa do Consumidor e os Contratos Eletrônicos. 3.1. Legislação Aplicável ao E-Commerce. 3.2. As Relações de Consumo: O Princípio da Confiança nos Sistemas Especializados. 3.3. Proteção do Consumidor. 3.4. Responsabilização dos Fornecedores de Serviços e Produtos através da Internet. CAPÍTULO IV – PRIVACIDADE NO PLANO VIRTUAL 4. Privacidade no Ambiente Eletrônico, 4.1. Fundamentos da Proteção da Privacidade. 4.1.1. Direitos da Personalidade. 4.1.2. Constituição Federal. 4.1.3. Código Civil. 4.1.4. Legislação Ordinária. 4.2. Evolução Histórica. 4.2.1. Início da Tutela Jurídica da Privacidade. 4.2.2. O Condicionamento da Privacidade pela Tecnologia. 4.2.3. Privacidade, Intimidade e Vida Privada. 4.3. Da Privacidade à Proteção de Dados Pessoais. CAPÍTULO V – DIREITOS AUTORAIS NO PLANO VIRTUAL 5. Direitos de Autor e sua Proteção na Internet. CAPÍTULO VI – NOVOS TEMAS RELACIONADOS COM O DIREITO E A INTERNET CAPÍTULO VII – REFERÊNCIAS RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 3 INTRODUÇÃO Levando em consideração o crescimento do uso de determinados instrumentos de comunicação, bem como, a necessidade da facilitação desses instrumentos, a humanidade criou meios mais eficientes de comunicação, que acabaram gerando ao direito, problemas práticos não enfrentados anteriormente. Para que o direito possa proteger o meio social onde vivemos, necessário se faz regulamentar os usos desses novos instrumentos de comunicação. No Brasil, o plano digital possui a proteção das seguintes normas: - Constituição Federal; - Convenção de Berna (Decreto nº 75.699/1975); - Lei da Informática (Lei nº 8.248/91); - Decreto que regulamentou a lei da informática (Decreto nº 792/1993) - Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.276/1996) - Lei do software (Lei nº 9.609/1998); - Lei de direitos autorais (Lei nº 9.610/1998); - Tratado sobre Direitos de Propriedade Intelectual Relacionado ao Comércio Internacional TRIPS – Trade related intllectual proprety rights. - Lei do Processo Eletrônico (Lei nº 11.419/2006) - Lei da entrega de produtos aos consumidores (Lei SP nº 13.747/2009); - Registros eletrônicos no programa minha casa, minha vida (Lei nº 11.977/2009); - Registro eletrônico do ponto (Portaria do Ministério do Trabalho nº 1.510/2009); - Lei que trata do Teletrabalho (Lei nº 12.551/2011); - Lei Eduardo Azeredo – investigação em delegacias especializadas em crimes eletrônicos; (Lei nº 12.735/2012); - Lei Carolina Dieckmann que trata de dispositivos de invasão em dispositivos eletrônicos (Lei nº 12.737/2012); - Documentos digitalizados (Decreto nº 12.682/2012); - Regula o e-commerce (Decreto nº 7.962/2013); - Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014); - Regulamento do Marco Civil da Internet (Decreto nº 8.771/2016). - Lei de Proteção de dados pessoais (Lei nº 13.709/2018) - Decreto que instituiu o sistema nacional para a transformação digital (Decreto nº 9.319/2018); - Decreto que instituiu o sistema estadual de coleta e identificação biométrica eletrônica (Decreto nº 63.299/2018 de SP); - Medida Provisória que criou a autoridade nacional de proteção de dados (MP nº 869/2018) - Lei nº 13.640/2018 (Lei que regulamenta o Uber). - Decreto nº 9.854 de 2019 que instituiu o Plano Nacional de Internet das Coisas – IOT - Lei Complementar nº 167 de 2.019 (Lei das Startups). RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 4 CAPÍTULO I - INTERNET 1. Desenvolvimento da Internet e o Surgimento da Contratação Eletrônica. 1.1. Histórico da Internet A descoberta dos meios de comunicação de massa, tais como o telégrafo em 1838, demarca o surgimento de uma nova era, a era da informação. Por conta disso, ficou constatada a necessidade de difundir tais informações por meio de aparelhos que unissem a comunicação com o processamento de informações. Neste contexto social surgiu a INTERNET, tendo como instrumento necessário para o seu uso, o computador, que por sua vez, data da época da Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos da América, para difusão de informações. O computador foi criado pelos militares, para o envio de mensagens para altos comandos. Esse primeiro computador foi denominado de ENIAC (Eletronic Numeral Integrator Analyzer and Computer). No ano de 1951 foi lançado na Inglaterra o LEO – Lyons Eletronic Office, o primeiro computador para uso comercial. A partir de então, a evolução do mundo virtual se deu de forma mais rápida, tendo sido projetada a primeira rede de computadores nos anos 60. É uma tendência social a organização em torno de redes e, nesse contexto, surgiu a ARPAnet (Advanced Research Project Agency Network), com o intuito de descentralizar o armazenamento de informações militares, evitando assim, que uma possível invasão a Washington, colocasse em risco a segurança nacional. No final dos anos 80, ARPAnet foi perdendo seu caráter militar, passando a ser financiada pela NASA, instituição americana responsável por pesquisas espaciais e em 1990 foi oficialmente denominada de Internet. No Brasil, a internet foi inicialmente restringida às universidades e centros de pesquisa, passando em 1995 para o uso comercial e logo depois, com a disponibilização do acesso à rede através dos provedores de acesso, a movimentação comercial atingiu a casa dos bilhões. A Internet se tornou operacional no Brasil com a criação do Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGIB) por meio da Portaria RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 5 Interministerial N° 147, de 31 de maio de 1995 do Ministério das Comunicações e do Ministério da Ciência e Tecnologia. Seus integrantes foram nomeados pela Portaria Interministerial nº 183, de 3 de julho de 1995, sofrendo alterações através das portarias subsequentes. A exploração comercial da Internet foi oficialmente inaugurada com a Portaria nº 148 de 31 de maio de 1995 do Ministério das Comunicações. O barateamento dos equipamentos de informática e a constante melhora de qualidade nos serviços de telecomunicações tem atraído milhares de pessoa à redemundial de computadores. Desta forma, a internet possibilitou o surgimento de uma nova forma de comunicação entre as pessoas, onde alguém de dentro de sua própria casa poderá receber uma mensagem de outra pessoa do outro lado do mundo em questão de segundos e com um baixo custo. Assim, na fase pós-moderna em que vivemos, o mundo não é mais dominado pelos possuidores de terras e outros meios de produção. Aqueles que detêm a informação possuem o poder de controlar o acesso aos demais meios de produção. O Direito viu-se diante de uma situação fática sem regulamentação, tendo que verificar, de acordo os costumes e com a legislação já existente, se aquela prática estava de acordo com a realidade jurídica do país, protegendo os cidadãos dos riscos trazidos pela nova tecnologia. Esse novo espaço, até então inexistente, que se convencionou chamar de “ciberespaço” ou espaço digital, para Rodney de Castro Peixoto, transcrito por Sheila Leal, seria “o conjunto de sites, computadores, aplicativos, pessoas, programas e recursos que formam a Internet” (LEAL, 2007, p. 10). 1.2. Características do espaço digital As principais características do espaço digital são: - Intangibilidade; - Velocidade; - Quebra das barreiras geográficas e jurisdicionais; - Interatividade; - Facilidade de acesso; - Insegurança. A intangibilidade significa que o mundo digital não é um espaço físico perceptível aos nossos sentidos. Ele constitui uma ficção do mundo da informática que se traduz por bits e bytes. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 6 Posteriormente, no que tange à velocidade, um dado transmitido pela internet, pode chegar ao outro lado do globo terrestre em questão de segundos, desembocando assim, na terceira característica, qual seja, a quebra das barreiras geográficas e jurisdicionais, onde as pessoas de diferentes partes do mundo podem transacionar sem precisar sair de suas casas. Com isto, surge uma dificuldade em determinar qual seria a legislação aplicável às mais diversas situações que ocorrem no plano digital. Essa comunicação de forma rápida e eficiente retrata a característica da interatividade, onde pessoas e sistemas se comunicam, em tempo real. Por fim, quanto à insegurança, apesar dos crescentes avanços, o espaço virtual ainda é um ambiente vulnerável, tendo em vista o surgimento de pessoas que têm a intenção de cometer fraudes utilizando-se da falta de regulamentação própria e pela facilidade do acesso aos crimes cometidos através da internet. 1.3. Conceito de Internet Para entender o conceito de Internet, primeiro é necessário entender o significado de rede de computadores, tendo em vista a confusão que, por vezes, se faz entre os dois temas. Rede de computadores é um complexo consistindo de duas ou mais unidades de computação interconectadas. Essas unidades são interligadas por meio de programas (softwares) e outros equipamentos eletrônicos, podendo trocar dados entre si. A Internet pode ser definida como uma rede de computadores de grande proporção e ilimitado acesso as informações disponíveis no plano digital. Observa-se, assim, que nem toda rede de computadores constitui a internet, pois esta proporciona acesso irrestrito, enquanto uma rede de computadores dentro de uma determinada empresa, por exemplo, fica limitada àqueles que possuem autorização para acessá-la. A Norma nº 04/95 publicada pelo Ministério das Comunicações e aprovada pela Portaria nº 148/95 do Ministério de Ciências e Tecnologias, que regulamentou o uso da rede pública de telecomunicações para acesso à internet, definiu a internet como: “nome genérico que designa o conjunto de redes, os meios de transmissão e computação, roteadores, equipamentos e protocolos necessários à comunicação entre computadores, bem como, o software e os dados contidos nestes hardwares” RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 7 Assim, a Internet é um meio de comunicação e não um lugar, um contrato. Se a Internet fosse um lugar, onde seria o foro de um contrato celebrado pela Internet entre uma empresa alemã e outra brasileira? Portanto, um contrato celebrado por meio da internet apenas difere de outro contrato qualquer, pelo meio de comunicação escolhido para a sua efetivação. Acompanhando o ritmo dinâmico e crescente da Internet, as informações jurídicas têm conquistado um relevante espaço na rede, tornando a Internet um dos mais novos e eficazes instrumentos de cidadania e proteção jurídica. Diversos serviços, como declaração de impostos, denúncias online no PROCON e Ministério Público, o fornecimento de certidão negativa da dívida ativa etc. estão sendo realizados pela internet de maneira eficiente. 1.4. Liberdade de acesso e proteção do usuário O principal entrave nas negociações pela Internet ainda continua sendo o aspecto de insegurança que ela traz para os usuários. Por isso, há uma grande preocupação com a regulamentação dos contratos eletrônicos. Nesse sentido, a OAB seccional São Paulo desenvolveu um projeto de lei por meio de sua Comissão de Direito Digital, que visava regulamentar o comércio eletrônico. Tal projeto foi apresentado na Câmara dos Deputados, possuindo como fundamento as leis existentes nesse sentido em diversos países, como Portugal, Estados Unidos e Itália. As disposições deste projeto incluíam a proteção do usuário da Internet que se utiliza do comércio digital, com base em dispositivos já existentes no Código de Defesa do Consumidor para regular o comércio habitual. Além disso, traziam uma proteção especial, tendo em vista a vulnerabilidade da transmissão de informações nas transações virtuais. Percebe-se o surgimento de medidas protetivas ao usuário, com a introdução da assinatura digital como forma substitutiva da assinatura manual, um instituto disciplinado pela Lei nº 11.419/2006, no que se refere a assinatura em processos judiciais digitais. Já no âmbito internacional, os Estados Unidos saíram na frente ao aprovar no ano de 2000 uma lei que reconhece como válidos documentos assinados pela internet. No Brasil a MP nº 2.200-2/2001, introduziu a infraestrutura das Chaves Públicas Brasil/CPB, atribuindo fé pública e presunção relativa de veracidade à assinatura digital. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 8 Em 2013, levando em consideração a falta de regulamentação do comércio eletrônico, surge, o Decreto nº 7.962/2013 – regulamento do e-commerce, que busca, por meio de seus artigos, proteger o consumidor, estipulando as condutas do fornecedor de serviços, como informações, atendimento facilitado e respeito ao direito de arrependimento, vejamos: Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio eletrônico, abrangendo os seguintes aspectos: I - informações claras a respeito do produto, serviço e do fornecedor; II - atendimento facilitado ao consumidor; e III - respeito ao direito de arrependimento. Art. 2o Os sítios eletrônicos ou demais meios eletrônicos utilizados para oferta ou conclusão de contrato de consumo devem disponibilizar, em local de destaque e de fácil visualização, as seguintes informações: I - nome empresarial e número de inscrição do fornecedor, quando houver, no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazenda; II - endereço físico e eletrônico, e demais informações necessárias para sua localização e contato; III - características essenciais do produto ou do serviço, incluídos os riscos à saúde e à segurança dos consumidores; IV - discriminação, no preço, de quaisquer despesas adicionais ou acessórias, tais como as de entrega ou seguros; V - condições integrais da oferta, incluídas modalidades de pagamento, disponibilidade, forma e prazo da execução do serviço ou da entrega ou disponibilização do produto; e VI - informações claras eostensivas a respeito de quaisquer restrições à fruição da oferta. Art. 3o Os sítios eletrônicos ou demais meios eletrônicos utilizados para ofertas de compras coletivas ou modalidades análogas de contratação deverão conter, além das informações previstas no art. 2o, as seguintes: I - quantidade mínima de consumidores para a efetivação do contrato; II - prazo para utilização da oferta pelo consumidor; e III - identificação do fornecedor responsável pelo sítio eletrônico e do fornecedor do produto ou serviço ofertado, nos termos dos incisos I e II do art. 2o. Art. 4o Para garantir o atendimento facilitado ao consumidor no comércio eletrônico, o fornecedor deverá: I - apresentar sumário do contrato antes da contratação, com as informações necessárias ao pleno exercício do direito de escolha do consumidor, enfatizadas as cláusulas que limitem direitos; II - fornecer ferramentas eficazes ao consumidor para identificação e correção imediata de erros ocorridos nas etapas anteriores à finalização da contratação; III - confirmar imediatamente o recebimento da aceitação da oferta; IV - disponibilizar o contrato ao consumidor em meio que permita sua conservação e reprodução, imediatamente após a contratação; V - manter serviço adequado e eficaz de atendimento em meio eletrônico, que possibilite ao consumidor a resolução de demandas referentes a informação, dúvida, reclamação, suspensão ou cancelamento do contrato; VI - confirmar imediatamente o recebimento das demandas do consumidor referidas no inciso, pelo mesmo meio empregado pelo consumidor; e VII - utilizar mecanismos de segurança eficazes para pagamento e para tratamento de dados do consumidor. Parágrafo único. A manifestação do fornecedor às demandas previstas no inciso V do caput será encaminhada em até cinco dias ao consumidor. Art. 5o O fornecedor deve informar, de forma clara e ostensiva, os meios adequados e eficazes para o exercício do direito de arrependimento pelo consumidor. § 1o O consumidor poderá exercer seu direito de arrependimento pela mesma ferramenta utilizada para a contratação, sem prejuízo de outros meios disponibilizados. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 9 § 2o O exercício do direito de arrependimento implica a rescisão dos contratos acessórios, sem qualquer ônus para o consumidor. § 3o O exercício do direito de arrependimento será comunicado imediatamente pelo fornecedor à instituição financeira ou à administradora do cartão de crédito ou similar, para que: I - a transação não seja lançada na fatura do consumidor; ou II - seja efetivado o estorno do valor, caso o lançamento na fatura já tenha sido realizado. § 4o O fornecedor deve enviar ao consumidor confirmação imediata do recebimento da manifestação de arrependimento. Art. 6o As contratações no comércio eletrônico deverão observar o cumprimento das condições da oferta, com a entrega dos produtos e serviços contratados, observados prazos, quantidade, qualidade e adequação. Art. 7o A inobservância das condutas descritas neste Decreto ensejará aplicação das sanções previstas no art. 56 da Lei no 8.078, de 1990. Desta forma, vemos que há no Brasil legislação apta a proteger o consumidor, nos casos de aquisições no plano digital, mas que somente poucos operadores do direito conhecem tal norma tão importante a ser invocada em juízo. 1.5. Delitos e responsabilidade na Internet A Internet foi programada para funcionar e distribuir informações de forma ilimitada. Em contrapartida, as autoridades judiciárias estão presas às normas e instituições do Estado e, portanto, a uma Nação e a um território limitado. Walter Lima Jr traz em seu livro que “há diversas maneiras de identificação de IP. Uma delas é através da adoção do protocolo IPV6, mas a implantação dessa tecnologia seria "custosa" para os grandes players da internet. Hoje pelos processadores i3, i5, i7, há possibilidades de conhecer a máquina que esta partindo o request na Internet. Enfim, a privacidade na internet é um mito.” Mas a questão da soberania é um dos maiores entraves para a criação de uma legislação supranacional, pois, o Direito Internacional não tem caráter punitivo obrigatório, apenas para os Estados que concordarem em firmar tratados. Devido à difusão da Internet, a privacidade das pessoas passou a ser invadida de forma corriqueira, pois, na Rede podem ser encontradas informações sobre qualquer pessoal em uma quantidade surpreendente. Começa, então, a surgirem os problemas de crimes digitais, com a criação da figura dos invasores dos sistemas. São práticas comuns na Internet a ocorrência de crimes de racismo, por meio de sites de divulgação de grupos como os Skinshead, a invasão da privacidade por meio de correntes de sorte, que RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 10 chegam ao seu e-mail sem autorização, porém não há nenhuma lei que proíba a sua existência, golpes bancários e crimes de pedofilia. Ao redor do mundo, os países estão preocupados em reprimir essas práticas, como é o caso do Brasil com a criação de unidades especiais para o combate de crimes virtuais, como a Delegacia de Crimes Praticados por Meios Eletrônicos da Polícia Civil do Estado de São Paulo. Enquanto não forem criadas leis específicas, as condutas dos crimes digitais deverão ser tratadas de acordo com o Código Penal. Na era da pós-modernidade, a Internet passou a ser um dos meios de comunicação mais difundidos no mundo, tendo em vista a sua facilidade de acesso, rapidez na obtenção de informações, praticidade, entre outras características. 1.6. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS JURÍDICAS DA INTERNET A - RELATIVIZAÇÃO DAS NOÇÕES DE TEMPO E ESPAÇO Para o Direito, o tempo é relevante na determinação do momento da aquisição e/ou extinção dos direitos, na fixação da vigência das leis e dos negócios jurídicos, no estabelecimento das regras para a contagem dos prazos em geral (LEAL, 2007, p. 23) Desta forma, a Internet veio quebrar os paradigmas que regem os contratos em geral, ao relativizar as noções de espaço e tempo, quebrando barreiras geográficas e permitindo que o mundo inteiro se comunicasse de forma mais rápida. As definições do espaço e do tempo são relevantes para determinar qual será a lei aplicável no caso concreto e qual o foro competente para eventuais conflitos. Pode se consultar o processo de vários lugares quebrando a lei da física. Em relação ao tempo, uma das vantagens trazidas pela Rede, é a possibilidade de efetuar transações comerciais, mesmo fora do horário comercial do estabelecimento físico do seu fornecedor. Mas a comprovação do exato momento da contratação fica prejudicada. B - LIBERDADE DE USO E VAZIO DE REGULAMENTAÇÃO RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 11 O uso da Internet é ilimitado, não possuindo fronteiras ou barreiras. Não há, nesse sentido, um órgão internacional responsável pela regulamentação de seus atos, ficando a critério de cada país discipliná- lo no seu ordenamento jurídico da forma mais conveniente. Apesar disso, alguns países ainda não possuem nenhuma regulamentação para as transações efetuadas de forma virtual, criando o que se pode chamar de “vazio de regulamentação”. Os posicionamentos doutrinários divergem quanto à necessidade de legislação específica para tratar as questões travadas no ciberespaço. Os EUA adotaram a posição de deixarem a critério do setor privado a regulamentação de tal meio, porém, defendendo a necessidade de criação de um código comercial de regras fundamentais, para nortear o comércio eletrônico. De forma oposta, há quem defenda que a Internet deve ser regulada por meio de analogia e direito comparado, sendo a Internet um meio auto regulável. E existem os que defendem a necessidade de uma legislação e regulamentação específicas, sem a perenidade dos códigos. O Código de Conduta de Portugal, de 2000, pode sercitado como modelo de auto-regulamentação. O ideal seria mesmo uma regulamentação supranacional, neutra, que transcendesse os limites territoriais dos países e alcançasse todo o mundo. Porém, essa solução, ao mesmo por ora, não se apresenta como viável, seja porque se está ainda muito longe de alcançar uma neutralidade, seja em razão da soberania dos Estados e de suas peculiaridades de ordem social, econômica e cultura, das quais derivam necessidades diversas que os distinguem dos demais Estados (LEAL, 2007, 28). Nesse sentido, qualquer legislação proposta deverá estabelecer normas de caráter geral, permitindo uma mobilidade maior do aplicador do direito para adaptar às diferentes e permanentemente mutáveis situações que surgem na Internet com reflexos no âmbito jurídico. A lei modelo da UNCITRAL, lei que surgiu nos Estados Unidos tem sido tomada como referencial por vários países, inclusive o Brasil, que possui alguns projetos de lei em tramitação, o Projeto 1589/99 da OAB seccional São Paulo o PL 4906/2001, PL 104/2011 (4), PL 2367/2011, PL 3200/2012, PL 4189/2012, PL 4509/2012; PL 3607/2012; PL 4348/2012 entre outros. C - TENDÊNCIA À DISPENSABILIDADE DOS DOCUMENTOS FÍSICOS RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 12 Os serviços bancários, as compras e até mesmo a processualística brasileira, caminha para a dispensabilidade do uso de documentos físicos, representados por papel, e a utilização de dados digitais. A Segurança e validade das contratações em meio eletrônico, como todos os riscos que apresentam, têm ou não a mesma validade jurídica das transações documentadas em papel? Estudos desenvolvidos pelo IDC – Instituto de Direito do Consumidor – revelaram que quase 37% dos brasileiros que acessam a Internet não se utilizam da Web para fazer compras por não confiarem na segurança dos sites de comércio eletrônico (LEAL, 2007, p. 32). 1.7. A REGULAMENTAÇÃO DA INTERNET A internet é normatizada no Brasil, por portarias, regulamentações e leis. As normas que regulamentam a internet no Brasil, são: - Portaria Interministerial nº 147 de 1995 que criou o Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI; - Princípios para a governança e uso da internet no Brasil – resolução nº 03/2009 do CGI; - Portaria nº 148 de 1995 do Ministério de Ciências e tecnologia que definiu a internet em seu texto; - Lei do Marco Civil da Internet – Lei nº 12.965/2014; - Regulamento do Marco Civil da Internet – Decreto nº 8.771/2016. 1.7.1. PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 147 DE 1995 – CGI Essa portaria criou o Comitê Gestor da Internet no Brasil, responsável pela fiscalização, coordenação e proteção da internet dentro de nosso território nacional. O principal texto da norma é o artigo 1º que traz as atribuições do Comitê, principalmente recomendando determinadas atitudes daqueles meios que fornecem a internet. Art. 1°. Criar o Comitê Gestor Internet do Brasil, que terá como atribuições: I - acompanhar a disponibilização de serviços Internet no país; II - estabelecer recomendações relativas a: estratégia de implantação e interconexão de redes, análise e seleção de opções tecnológicas, e papéis funcionais de empresas, instituições de educação, pesquisa e desenvolvimento (IEPD); RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 13 III - emitir parecer sobre a aplicabilidade de tarifa especial de telecomunicações nos circuitos por linha dedicada, solicitados por IEPDs qualificados; IV - recomendar padrões, procedimentos técnicos e operacionais e código de ética de uso, para todos os serviços Internet no Brasil; V - coordenar a atribuição de endereços IP (Internet Protocol) e o registro de nomes de domínios; VI - recomendar procedimentos operacionais de gerência de redes; VII - coletar, organizar e disseminar informações sobre o serviço Internet no Brasil; e VIII - deliberar sobre quaisquer questões a ele encaminhadas. Art. 2°. O Comitê Gestor será composto pelos seguintes membros, indicados conjuntamente pelo Ministério das Comunicações e Ministério da Ciência e Tecnologia: I - um representante do Ministério da Ciência e Tecnologia, que o coordenará; II - um representante do Ministério das Comunicações; III - um representante do Sistema Telebrás; IV - um representante do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq; V - um representante da Rede Nacional de Pesquisa; VI - um representante da comunidade acadêmica; VII - um representante de provedores de serviços; VIII - um representante da comunidade empresarial; e IX - um representante da comunidade de usuários do serviço Internet. Art. 3°. O mandato dos membros do Comitê Gestor será de dois anos, a partir da data de nomeação. Parágrafo único: A nomeação dos membros do Comitê Gestor será mediante portaria conjunta do Ministério das Comunicações e Ministério da Ciência e Tecnologia. 1.7.2. Princípios para a governança e uso da internet no Brasil – Resolução nº 03 de 2009 da CGI São fundamentos e diretrizes para o uso da internet no Brasil: 1. Liberdade, privacidade e direitos humanos O uso da Internet deve guiar-se pelos princípios de liberdade de expressão, de privacidade do indivíduo e de respeito aos direitos humanos, (seres vivos) reconhecendo-os como fundamentais para a preservação de uma sociedade justa e democrática. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 14 2. Governança democrática e colaborativa A governança da Internet deve ser exercida de forma transparente, multilateral e democrática, com a participação dos vários setores da sociedade, preservando e estimulando o seu caráter de criação coletiva. 3. Universalidade O acesso à Internet deve ser universal para que ela seja um meio para o desenvolvimento social e humano, contribuindo para a construção de uma sociedade inclusiva e não discriminatória em benefício de todos. 4. Diversidade A diversidade cultural deve ser respeitada e preservada e sua expressão deve ser estimulada, sem a imposição de crenças, costumes ou valores. 5. Inovação A governança da Internet deve promover a contínua evolução e ampla difusão de novas tecnologias e modelos de uso e acesso. 6. Neutralidade da rede Filtragem ou privilégios de tráfego devem respeitar apenas critérios técnicos e éticos, não sendo admissíveis motivos políticos, comerciais, religiosos, culturais, ou qualquer outra forma de discriminação ou favorecimento. 7. Inimputabilidade da rede O combate a ilícitos na rede deve atingir os responsáveis finais e não os meios de acesso e transporte, sempre preservando os princípios maiores de defesa da liberdade, da privacidade e do respeito aos direitos humanos. 8. Funcionalidade, segurança e estabilidade A estabilidade, a segurança e a funcionalidade globais da rede devem ser preservadas de forma ativa através de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e estímulo ao uso das boas práticas. 9. Padronização e interoperabilidade A Internet deve basear-se em padrões abertos que permitam a interoperabilidade e a participação de todos em seu desenvolvimento. 10. Ambiente legal e regulatório O ambiente legal e regulatório deve preservar a dinâmica da Internet como espaço de colaboração. 1.7.3. Portaria nº 148/95 do Ministério de Ciências e Tecnologias NORMA 004/95 - USO DE MEIOS DA REDE PÚBLICA DE TELECOMUNICAÇÕES PARA ACESSO À INTERNET RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 15 1. OBJETIVO Esta Norma tem como objetivo regular o uso de meios da Rede Pública de Telecomunicações para o provimento e utilização de Serviços de Conexão à Internet. 2. CAMPO DE APLICAÇÃO Esta Norma se aplica: a) às Entidades Exploradoras de Serviços Públicos de Telecomunicações (EESPT) no provimento de meios da Rede Pública de Telecomunicações a Provedores e Usuários de Serviços de Conexão à Internet; b) aos Provedores e Usuários de Serviços de Conexão à Internetna utilização dos meios da Rede Pública de Telecomunicações. 3. DEFINIÇÕES Para fins desta Norma são adotadas as definições contidas no Regulamento Geral para execução da Lei nº 4.117, aprovado pelo Decreto nº 52.026, de 20 de maio de 1963, alterado pelo Decreto nº 97.057, de 10 de novembro de 1988, e ainda as seguintes: a) Internet: nome genérico que designa o conjunto de redes, os meios de transmissão e comutação, roteadores, equipamentos e protocolos necessários à comunicação entre computadores, bem como o "software" e os dados contidos nestes computadores; b) Serviço de Valor Adicionado: serviço que acrescenta a uma rede preexistente de um serviço de telecomunicações, meios ou recursos que criam novas utilidades específicas, ou novas atividades produtivas, relacionadas com o acesso, armazenamento , movimentação e recuperação de informações; c) Serviço de Conexão à Internet (SCI): nome genérico que designa Serviço de Valor Adicionado, que possibilita o acesso à Internet a Usuários e Provedores de Serviços de Informações; d) Provedor de Serviço de Conexão à Internet (PSCI): entidade que presta o Serviço de Conexão à Internet; e) Provedor de Serviço de Informações: entidade que possui informações de interesse e as dispõem na Internet, por intermédio do Serviço de Conexão à Internet; f) Usuário de Serviço de Informações: Usuário que utiliza, por intermédio do Serviço de Conexão à Internet, as informações dispostas pelos Provedores de Serviço de Informações; g) Usuário de Serviço de Conexão à Internet: nome genérico que designa Usuários e Provedores de Serviços de Informações que utilizam o Serviço de Conexão à Internet; h) Ponto de Conexão à Internet: ponto através do qual o SCI se conecta à Internet; RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 16 i) Coordenador Internet: nome genérico que designa os órgãos responsáveis pela padronização, normatização, administração, controle, atribuição de endereços, gerência de domínios e outras atividades correlatas, no tocante à Internet; 4. SERVIÇO DE CONEXÃO À INTERNET 4.1. Para efeito desta Norma, considera-se que o Serviço de Conexão à Internet constitui-se: a) dos equipamentos necessários aos processos de roteamento, armazenamento e encaminhamento de informações, e dos "software" e "hardware" necessários para o provedor implementar os protocolos da Internet e gerenciar e administrar o serviço; b) das rotinas para a administração de conexões à Internet (senhas, endereços e domínios Internet); c) dos "softwares" dispostos pelo PSCI: aplicativos tais como - correio eletrônico, acesso a computadores remotos, transferência de arquivos, acesso a banco de dados, acesso a diretórios, e outros correlatos -, mecanismos de controle e segurança, e outros; d) dos arquivos de dados, cadastros e outras informações dispostas pelo PSCI; e) do "hardware" necessário para o provedor ofertar, manter, gerenciar e administrar os "softwares" e os arquivos especificados nas letras "b", "c" e "d" deste subitem; f) outros "hardwares" e "softwares" específicos, utilizados pelo PSCI. 5. USO DE MEIOS DA REDE PÚBLICA DE TELECOMUNICAÇÕES POR PROVEDORES E USUÁRIOS DE SERVIÇOS DE CONEXÃO À INTERNET 5.1. O uso de meios da Rede Pública de Telecomunicações, para o provimento e utilização de Serviços de Conexão à Internet, far-se-á por intermédio dos Serviços de Telecomunicações prestados pelas Entidades Exploradoras de Serviços Públicos de Telecomunicações. 5.2. O Provedor de Serviço de Conexão à Internet pode, para constituir o seu serviço, utilizar a seu critério e escolha, quaisquer dos Serviços de Telecomunicações prestados pela EESPT. 5.3. Os meios da Rede Pública de Telecomunicações serão providos a todos os PSCIs que os solicitarem, sem exclusividade, em qualquer ponto do território nacional, observadas as condições técnicas e operacionais pertinentes e, também, poderão ser utilizados para: a) conectar SCIs à Internet, no exterior; b) interconectar SCIs de diferentes provedores. 5.4. As Entidades Exploradoras de Serviços Públicos de Telecomunicações não discriminarão os diversos PSCIs quando do provimento de meios da Rede Pública de Telecomunicações para a prestação de Serviços de Conexão à Internet. Os prazos, padrões de qualidade e atendimento, e os valores RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 17 praticados serão os regularmente fixados na prestação do Serviço de Telecomunicações utilizado. 5.5. É facultado ao Usuário de Serviço de Conexão à Internet, o acesso ao SCI por quaisquer meios da Rede Pública de Telecomunicações à sua disposição. 6. RELACIONAMENTO ENTRE AS ENTIDADES EXPLORADORAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE TELECOMUNICAÇÕES E OS PSCIs 6.1. No relacionamento entre as Entidades Exploradoras de Serviços Públicos de Telecomunicações e os Provedores de Serviços de Conexão à Internet, não se constituem responsabilidade das EESPT: a) definir a abrangência, a disposição geográfica e física, o dimensionamento e demais características técnicas e funcionais do Serviço de Conexão à Internet a ser provido; b) especificar e compor os itens de "hardware" e "software" a serem utilizados pelo PSCI na prestação do Serviço de Conexão à Internet; c) definir as facilidades e as características do Serviço de Conexão à Internet a serem ofertadas pela PSCIs; d) providenciar junto aos Coordenadores Internet a regularização dos assuntos referentes ao provimento do Serviços de Conexão à Internet; e) definir os Pontos de Conexão entre os PSCIs, no Brasil ou no exterior, bem como as características funcionais de tais conexões. 7. ENTIDADE EXPLORADORA DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE TELECOMUNICAÇÕES COMO PROVEDORA DE SERVIÇO DE CONEXÃO À INTERNET 7.1. A EESPT, ao fixar os valores a serem praticados para o seu SCI, deve considerar na composição dos custos de prestação do serviço, relativamente ao uso dos meios da Rede Pública de Telecomunicações, os mesmos valores por ela praticados no provimento de meios a outros PSCIs. 1.7.4. Marco Civil da Internet – Lei nº 12.965/2014 CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1o Esta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria. Art. 2o A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão, bem como: I - o reconhecimento da escala mundial da rede; RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 18 II - os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania em meios digitais; III - a pluralidade e a diversidade; IV - a abertura e a colaboração; V - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e VI - a finalidade social da rede. Art. 3o A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios: I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal; II - proteção da privacidade; III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei; IV - preservação e garantia da neutralidade de rede; V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas; VI - responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei; VII - preservação da natureza participativa da rede; VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta Lei. Parágrafo único. Os princípios expressos nesta Lei não excluem outros previstos no ordenamento jurídico pátrio relacionados à matéria ou nos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Art. 4o A disciplina do uso da internet no Brasil tem por objetivo a promoção: I - do direito de acesso à internet a todos;II - do acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida cultural e na condução dos assuntos públicos; III - da inovação e do fomento à ampla difusão de novas tecnologias e modelos de uso e acesso; e IV - da adesão a padrões tecnológicos abertos que permitam a comunicação, a acessibilidade e a interoperabilidade entre aplicações e bases de dados. Art. 5o Para os efeitos desta Lei, considera-se: I - internet: o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes; II - terminal: o computador ou qualquer dispositivo que se conecte à internet; III - endereço de protocolo de internet (endereço IP): o código atribuído a um terminal de uma rede para permitir sua identificação, definido segundo parâmetros internacionais; IV - administrador de sistema autônomo: a pessoa física ou jurídica que administra blocos de endereço RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 19 IP específicos e o respectivo sistema autônomo de roteamento, devidamente cadastrada no ente nacional responsável pelo registro e distribuição de endereços IP geograficamente referentes ao País; V - conexão à internet: a habilitação de um terminal para envio e recebimento de pacotes de dados pela internet, mediante a atribuição ou autenticação de um endereço IP; VI - registro de conexão: o conjunto de informações referentes à data e hora de início e término de uma conexão à internet, sua duração e o endereço IP utilizado pelo terminal para o envio e recebimento de pacotes de dados; VII - aplicações de internet: o conjunto de funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet; e VIII - registros de acesso a aplicações de internet: o conjunto de informações referentes à data e hora de uso de uma determinada aplicação de internet a partir de um determinado endereço IP. Art. 6o Na interpretação desta Lei serão levados em conta, além dos fundamentos, princípios e objetivos previstos, a natureza da internet, seus usos e costumes particulares e sua importância para a promoção do desenvolvimento humano, econômico, social e cultural. CAPÍTULO II DOS DIREITOS E GARANTIAS DOS USUÁRIOS Art. 7o O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei; III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial; IV - não suspensão da conexão à internet, salvo por débito diretamente decorrente de sua utilização; V - manutenção da qualidade contratada da conexão à internet; VI - informações claras e completas constantes dos contratos de prestação de serviços, com detalhamento sobre o regime de proteção aos registros de conexão e aos registros de acesso a aplicações de internet, bem como sobre práticas de gerenciamento da rede que possam afetar sua qualidade; VII - não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de conexão, e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso e informado ou nas hipóteses previstas em lei; VIII - informações claras e completas sobre coleta, uso, armazenamento, tratamento e proteção de RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 20 seus dados pessoais, que somente poderão ser utilizados para finalidades que: a) justifiquem sua coleta; b) não sejam vedadas pela legislação; e c) estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou em termos de uso de aplicações de internet; IX - consentimento expresso sobre coleta, uso, armazenamento e tratamento de dados pessoais, que deverá ocorrer de forma destacada das demais cláusulas contratuais; X - exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de registros previstas nesta Lei; XI - publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos provedores de conexão à internet e de aplicações de internet; XII - acessibilidade, consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, nos termos da lei; e XIII - aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas relações de consumo realizadas na internet. Art. 8o A garantia do direito à privacidade e à liberdade de expressão nas comunicações é condição para o pleno exercício do direito de acesso à internet. Parágrafo único. São nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que violem o disposto no caput, tais como aquelas que: I - impliquem ofensa à inviolabilidade e ao sigilo das comunicações privadas, pela internet; ou II - em contrato de adesão, não ofereçam como alternativa ao contratante a adoção do foro brasileiro para solução de controvérsias decorrentes de serviços prestados no Brasil. CAPÍTULO III DA PROVISÃO DE CONEXÃO E DE APLICAÇÕES DE INTERNET Seção I Da Neutralidade de Rede Art. 9o O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação. § 1o A discriminação ou degradação do tráfego será regulamentada nos termos das atribuições privativas do Presidente da República previstas no inciso IV do art. 84 da Constituição Federal, para a fiel execução desta Lei, ouvidos o Comitê Gestor da Internet e a Agência Nacional de Telecomunicações, e somente poderá decorrer de: I - requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada dos serviços e aplicações; e II - priorização de serviços de emergência. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 21 § 2o Na hipótese de discriminação ou degradação do tráfego prevista no § 1o, o responsável mencionado no caput deve: I - abster-se de causar dano aos usuários, na forma do art. 927 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil; II - agir com proporcionalidade, transparência e isonomia; III - informar previamente de modo transparente, claro e suficientemente descritivo aos seus usuários sobre as práticas de gerenciamento e mitigação de tráfego adotadas, inclusive as relacionadas à segurança da rede; e IV - oferecer serviços em condições comerciais não discriminatórias e abster-se de praticar condutas anticoncorrenciais. § 3o Na provisão de conexão à internet, onerosa ou gratuita, bem como na transmissão, comutação ou roteamento, é vedado bloquear, monitorar, filtrar ou analisar o conteúdo dos pacotes de dados, respeitado o disposto neste artigo. Seção II Da Proteção aos Registros, aos Dados Pessoais e às Comunicações Privadas Art. 10. A guarda e a disponibilização dos registros de conexão e de acesso a aplicações de internet de que trata esta Lei, bem como de dados pessoais e do conteúdo de comunicações privadas, devem atender à preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das partes direta ou indiretamente envolvidas. § 1o O provedor responsável pela guarda somente será obrigado a disponibilizar os registros mencionados no caput, de forma autônoma ou associados a dados pessoais ou a outras informações que possam contribuir para a identificação do usuário ou do terminal, mediante ordem judicial, na forma do disposto na Seção IV deste Capítulo, respeitado o disposto no art. 7o. § 2o O conteúdo das comunicações privadas somente poderá ser disponibilizado mediante ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer, respeitado o disposto nos incisos II e III do art. 7o. § 3o O disposto no caput não impede o acesso aos dados cadastraisque informem qualificação pessoal, filiação e endereço, na forma da lei, pelas autoridades administrativas que detenham competência legal para a sua requisição. § 4o As medidas e os procedimentos de segurança e de sigilo devem ser informados pelo responsável pela provisão de serviços de forma clara e atender a padrões definidos em regulamento, respeitado seu direito de confidencialidade quanto a segredos empresariais. Art. 11. Em qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros, de dados pessoais ou de comunicações por RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 22 provedores de conexão e de aplicações de internet em que pelo menos um desses atos ocorra em território nacional, deverão ser obrigatoriamente respeitados a legislação brasileira e os direitos à privacidade, à proteção dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos registros. § 1o O disposto no caput aplica-se aos dados coletados em território nacional e ao conteúdo das comunicações, desde que pelo menos um dos terminais esteja localizado no Brasil. § 2o O disposto no caput aplica-se mesmo que as atividades sejam realizadas por pessoa jurídica sediada no exterior, desde que oferte serviço ao público brasileiro ou pelo menos uma integrante do mesmo grupo econômico possua estabelecimento no Brasil. § 3o Os provedores de conexão e de aplicações de internet deverão prestar, na forma da regulamentação, informações que permitam a verificação quanto ao cumprimento da legislação brasileira referente à coleta, à guarda, ao armazenamento ou ao tratamento de dados, bem como quanto ao respeito à privacidade e ao sigilo de comunicações. § 4o Decreto regulamentará o procedimento para apuração de infrações ao disposto neste artigo. Art. 12. Sem prejuízo das demais sanções cíveis, criminais ou administrativas, as infrações às normas previstas nos arts. 10 e 11 ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções, aplicadas de forma isolada ou cumulativa: I - advertência, com indicação de prazo para adoção de medidas corretivas; II - multa de até 10% (dez por cento) do faturamento do grupo econômico no Brasil no seu último exercício, excluídos os tributos, considerados a condição econômica do infrator e o princípio da proporcionalidade entre a gravidade da falta e a intensidade da sanção; III - suspensão temporária das atividades que envolvam os atos previstos no art. 11; ou IV - proibição de exercício das atividades que envolvam os atos previstos no art. 11. Parágrafo único. Tratando-se de empresa estrangeira, responde solidariamente pelo pagamento da multa de que trata o caput sua filial, sucursal, escritório ou estabelecimento situado no País. Subseção I Da Guarda de Registros de Conexão Art. 13. Na provisão de conexão à internet, cabe ao administrador de sistema autônomo respectivo o dever de manter os registros de conexão, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 1 (um) ano, nos termos do regulamento. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 23 § 1o A responsabilidade pela manutenção dos registros de conexão não poderá ser transferida a terceiros. § 2o A autoridade policial ou administrativa ou o Ministério Público poderá requerer cautelarmente que os registros de conexão sejam guardados por prazo superior ao previsto no caput. § 3o Na hipótese do § 2o, a autoridade requerente terá o prazo de 60 (sessenta) dias, contados a partir do requerimento, para ingressar com o pedido de autorização judicial de acesso aos registros previstos no caput. § 4o O provedor responsável pela guarda dos registros deverá manter sigilo em relação ao requerimento previsto no § 2o, que perderá sua eficácia caso o pedido de autorização judicial seja indeferido ou não tenha sido protocolado no prazo previsto no § 3o. § 5o Em qualquer hipótese, a disponibilização ao requerente dos registros de que trata este artigo deverá ser precedida de autorização judicial, conforme disposto na Seção IV deste Capítulo. § 6o Na aplicação de sanções pelo descumprimento ao disposto neste artigo, serão considerados a natureza e a gravidade da infração, os danos dela resultantes, eventual vantagem auferida pelo infrator, as circunstâncias agravantes, os antecedentes do infrator e a reincidência. Subseção II Da Guarda de Registros de Acesso a Aplicações de Internet na Provisão de Conexão Art. 14. Na provisão de conexão, onerosa ou gratuita, é vedado guardar os registros de acesso a aplicações de internet. Subseção III Da Guarda de Registros de Acesso a Aplicações de Internet na Provisão de Aplicações Art. 15. O provedor de aplicações de internet constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça essa atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos registros de acesso a aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento. § 1o Ordem judicial poderá obrigar, por tempo certo, os provedores de aplicações de internet que não estão sujeitos ao disposto no caput a guardarem registros de acesso a aplicações de internet, desde que se trate de registros relativos a fatos específicos em período determinado. § 2o A autoridade policial ou administrativa ou o Ministério Público poderão requerer cautelarmente a qualquer provedor de aplicações de internet que os registros de acesso a aplicações de internet sejam guardados, inclusive por prazo superior ao previsto no caput, observado o disposto nos §§ 3o e 4o do art. 13. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 24 § 3o Em qualquer hipótese, a disponibilização ao requerente dos registros de que trata este artigo deverá ser precedida de autorização judicial, conforme disposto na Seção IV deste Capítulo. § 4o Na aplicação de sanções pelo descumprimento ao disposto neste artigo, serão considerados a natureza e a gravidade da infração, os danos dela resultantes, eventual vantagem auferida pelo infrator, as circunstâncias agravantes, os antecedentes do infrator e a reincidência. Art. 16. Na provisão de aplicações de internet, onerosa ou gratuita, é vedada a guarda: I - dos registros de acesso a outras aplicações de internet sem que o titular dos dados tenha consentido previamente, respeitado o disposto no art. 7o; ou II - de dados pessoais que sejam excessivos em relação à finalidade para a qual foi dado consentimento pelo seu titular. Art. 17. Ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei, a opção por não guardar os registros de acesso a aplicações de internet não implica responsabilidade sobre danos decorrentes do uso desses serviços por terceiros. Seção III Da Responsabilidade por Danos Decorrentes de Conteúdo Gerado por Terceiros Art. 18. O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros. Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário. § 1o A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade, identificação clara e específica do conteúdo apontado como infringente, que permita a localização inequívoca do material. § 2o A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a direitos conexos depende de previsão legal específica, que deverá respeitar a liberdade de expressão e demais garantias previstas no art. 5o da Constituição Federal. § 3o As causas que versem sobre ressarcimento por danos decorrentes de conteúdos disponibilizados na internet relacionadosà honra, à reputação ou a direitos de personalidade, bem como sobre a indisponibilização desses conteúdos por provedores de aplicações de internet, poderão ser apresentadas perante os juizados especiais. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 25 § 4o O juiz, inclusive no procedimento previsto no § 3o, poderá antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, existindo prova inequívoca do fato e considerado o interesse da coletividade na disponibilização do conteúdo na internet, desde que presentes os requisitos de verossimilhança da alegação do autor e de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. Art. 20. Sempre que tiver informações de contato do usuário diretamente responsável pelo conteúdo a que se refere o art. 19, caberá ao provedor de aplicações de internet comunicar-lhe os motivos e informações relativos à indisponibilização de conteúdo, com informações que permitam o contraditório e a ampla defesa em juízo, salvo expressa previsão legal ou expressa determinação judicial fundamentada em contrário. Parágrafo único. Quando solicitado pelo usuário que disponibilizou o conteúdo tornado indisponível, o provedor de aplicações de internet que exerce essa atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos substituirá o conteúdo tornado indisponível pela motivação ou pela ordem judicial que deu fundamento à indisponibilização. Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo. Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos que permitam a identificação específica do material apontado como violador da intimidade do participante e a verificação da legitimidade para apresentação do pedido. Seção IV Da Requisição Judicial de Registros Art. 22. A parte interessada poderá, com o propósito de formar conjunto probatório em processo judicial cível ou penal, em caráter incidental ou autônomo, requerer ao juiz que ordene ao responsável pela guarda o fornecimento de registros de conexão ou de registros de acesso a aplicações de internet. Parágrafo único. Sem prejuízo dos demais requisitos legais, o requerimento deverá conter, sob pena de inadmissibilidade: I - fundados indícios da ocorrência do ilícito; RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 26 II - justificativa motivada da utilidade dos registros solicitados para fins de investigação ou instrução probatória; e III - período ao qual se referem os registros. Art. 23. Cabe ao juiz tomar as providências necessárias à garantia do sigilo das informações recebidas e à preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem do usuário, podendo determinar segredo de justiça, inclusive quanto aos pedidos de guarda de registro. CAPÍTULO IV DA ATUAÇÃO DO PODER PÚBLICO Art. 24. Constituem diretrizes para a atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios no desenvolvimento da internet no Brasil: I - estabelecimento de mecanismos de governança multiparticipativa, transparente, colaborativa e democrática, com a participação do governo, do setor empresarial, da sociedade civil e da comunidade acadêmica; II - promoção da racionalização da gestão, expansão e uso da internet, com participação do Comitê Gestor da internet no Brasil; III - promoção da racionalização e da interoperabilidade tecnológica dos serviços de governo eletrônico, entre os diferentes Poderes e âmbitos da Federação, para permitir o intercâmbio de informações e a celeridade de procedimentos; IV - promoção da interoperabilidade entre sistemas e terminais diversos, inclusive entre os diferentes âmbitos federativos e diversos setores da sociedade; V - adoção preferencial de tecnologias, padrões e formatos abertos e livres; VI - publicidade e disseminação de dados e informações públicos, de forma aberta e estruturada; VII - otimização da infraestrutura das redes e estímulo à implantação de centros de armazenamento, gerenciamento e disseminação de dados no País, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a difusão das aplicações de internet, sem prejuízo à abertura, à neutralidade e à natureza participativa; VIII - desenvolvimento de ações e programas de capacitação para uso da internet; IX - promoção da cultura e da cidadania; e X - prestação de serviços públicos de atendimento ao cidadão de forma integrada, eficiente, simplificada e por múltiplos canais de acesso, inclusive remotos. Art. 25. As aplicações de internet de entes do poder público devem buscar: I - compatibilidade dos serviços de governo eletrônico com diversos terminais, sistemas operacionais e aplicativos para seu acesso; II - acessibilidade a todos os interessados, independentemente de suas capacidades físico- motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais, mentais, culturais e sociais, resguardados os RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 27 aspectos de sigilo e restrições administrativas e legais; III - compatibilidade tanto com a leitura humana quanto com o tratamento automatizado das informações; IV - facilidade de uso dos serviços de governo eletrônico; e V - fortalecimento da participação social nas políticas públicas. Art. 26. O cumprimento do dever constitucional do Estado na prestação da educação, em todos os níveis de ensino, inclui a capacitação, integrada a outras práticas educacionais, para o uso seguro, consciente e responsável da internet como ferramenta para o exercício da cidadania, a promoção da cultura e o desenvolvimento tecnológico. Art. 27. As iniciativas públicas de fomento à cultura digital e de promoção da internet como ferramenta social devem: I - promover a inclusão digital; II - buscar reduzir as desigualdades, sobretudo entre as diferentes regiões do País, no acesso às tecnologias da informação e comunicação e no seu uso; e III - fomentar a produção e circulação de conteúdo nacional. Art. 28. O Estado deve, periodicamente, formular e fomentar estudos, bem como fixar metas, estratégias, planos e cronogramas, referentes ao uso e desenvolvimento da internet no País. CAPÍTULO V DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 29. O usuário terá a opção de livre escolha na utilização de programa de computador em seu terminal para exercício do controle parental de conteúdo entendido por ele como impróprio a seus filhos menores, desde que respeitados os princípios desta Lei e da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. Parágrafo único. Cabe ao poder público, em conjunto com os provedores de conexão e de aplicações de internet e a sociedade civil, promover a educação e fornecer informações sobre o uso dos programas de computador previstos no caput, bem como para a definição de boas práticas para a inclusão digital de crianças e adolescentes. Art. 30. A defesa dos interesses e dos direitos estabelecidos nesta Lei poderá ser exercida em juízo, individual ou coletivamente, na forma da lei. Art. 31. Até a entrada em vigor da lei específica prevista no § 2o do art. 19, a responsabilidade do provedor de aplicações de internet por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros, quando se tratar de infração a direitos de autor ou a direitos conexos, continuará a ser disciplinada pela legislação autoral vigente aplicável na data da entrada em vigor desta Lei. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 28 Art 1.7.4. Regulamento do Marco Civil da Internet – Decreto 8.771/2016 CAPÍTULO I DISPOSIÇÕESGERAIS Art. 1o Este Decreto trata das hipóteses admitidas de discriminação de pacotes de dados na internet e de degradação de tráfego, indica procedimentos para guarda e proteção de dados por provedores de conexão e de aplicações, aponta medidas de transparência na requisição de dados cadastrais pela administração pública e estabelece parâmetros para fiscalização e apuração de infrações contidas na Lei no 12.965, de 23 de abril de 2014. Art. 2o O disposto neste Decreto se destina aos responsáveis pela transmissão, pela comutação ou pelo roteamento e aos provedores de conexão e de aplicações de internet, definida nos termos do inciso I do caput do art. 5º da Lei nº 12.965, de 2014. Parágrafo único. O disposto neste Decreto não se aplica: I - aos serviços de telecomunicações que não se destinem ao provimento de conexão de internet; e II - aos serviços especializados, entendidos como serviços otimizados por sua qualidade assegurada de serviço, de velocidade ou de segurança, ainda que utilizem protocolos lógicos TCP/IP ou equivalentes, desde que: a) não configurem substituto à internet em seu caráter público e irrestrito; e b) sejam destinados a grupos específicos de usuários com controle estrito de admissão. CAPÍTULO II DA NEUTRALIDADE DE REDE Art. 3o A exigência de tratamento isonômico de que trata o art. 9º da Lei nº 12.965, de 2014, deve garantir a preservação do caráter público e irrestrito do acesso à internet e os fundamentos, princípios e objetivos do uso da internet no País, conforme previsto na Lei nº 12.965, de 2014. Art. 4o A discriminação ou a degradação de tráfego são medidas excepcionais, na medida em que somente poderão decorrer de requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada de serviços e aplicações ou da priorização de serviços de emergência, sendo necessário o cumprimento de todos os requisitos dispostos no art. 9º, § 2º, da Lei nº 12.965, de 2014. Art. 5o Os requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada de serviços e aplicações devem ser observados pelo responsável de atividades de transmissão, de comutação ou de roteamento, no âmbito de sua respectiva rede, e RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 29 têm como objetivo manter sua estabilidade, segurança, integridade e funcionalidade. § 1o Os requisitos técnicos indispensáveis apontados no caput são aqueles decorrentes de: I - tratamento de questões de segurança de redes, tais como restrição ao envio de mensagens em massa (spam) e controle de ataques de negação de serviço; e II - tratamento de situações excepcionais de congestionamento de redes, tais como rotas alternativas em casos de interrupções da rota principal e em situações de emergência. § 2o A Agência Nacional de Telecomunicações - Anatel atuará na fiscalização e na apuração de infrações quanto aos requisitos técnicos elencados neste artigo, consideradas as diretrizes estabelecidas pelo Comitê Gestor da Internet - CGIbr. Art. 6o Para a adequada prestação de serviços e aplicações na internet, é permitido o gerenciamento de redes com o objetivo de preservar sua estabilidade, segurança e funcionalidade, utilizando-se apenas de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais, desenvolvidos para o bom funcionamento da internet, e observados os parâmetros regulatórios expedidos pela Anatel e consideradas as diretrizes estabelecidas pelo CGIbr. Art. 7o O responsável pela transmissão, pela comutação ou pelo roteamento deverá adotar medidas de transparência para explicitar ao usuário os motivos do gerenciamento que implique a discriminação ou a degradação de que trata o art. 4o, tais como: I - a indicação nos contratos de prestação de serviço firmado com usuários finais ou provedores de aplicação; e II - a divulgação de informações referentes às práticas de gerenciamento adotadas em seus sítios eletrônicos, por meio de linguagem de fácil compreensão. Parágrafo único. As informações de que trata esse artigo deverão conter, no mínimo: I - a descrição dessas práticas; II - os efeitos de sua adoção para a qualidade de experiência dos usuários; e III - os motivos e a necessidade da adoção dessas práticas. Art. 8o A degradação ou a discriminação decorrente da priorização de serviços de emergência somente poderá decorrer de: I - comunicações destinadas aos prestadores dos serviços de emergência, ou comunicação entre eles, conforme previsto na regulamentação da Agência Nacional de Telecomunicações - Anatel; ou II - comunicações necessárias para informar a população em situações de risco de desastre, de emergência ou de estado de calamidade pública. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 30 Parágrafo único. A transmissão de dados nos casos elencados neste artigo será gratuita. Art. 9o Ficam vedadas condutas unilaterais ou acordos entre o responsável pela transmissão, pela comutação ou pelo roteamento e os provedores de aplicação que: I - comprometam o caráter público e irrestrito do acesso à internet e os fundamentos, os princípios e os objetivos do uso da internet no País; II - priorizem pacotes de dados em razão de arranjos comerciais; ou III - privilegiem aplicações ofertadas pelo próprio responsável pela transmissão, pela comutação ou pelo roteamento ou por empresas integrantes de seu grupo econômico. Art. 10. As ofertas comerciais e os modelos de cobrança de acesso à internet devem preservar uma internet única, de natureza aberta, plural e diversa, compreendida como um meio para a promoção do desenvolvimento humano, econômico, social e cultural, contribuindo para a construção de uma sociedade inclusiva e não discriminatória. CAPÍTULO III DA PROTEÇÃO AOS REGISTROS, AOS DADOS PESSOAIS E ÀS COMUNICAÇÕES PRIVADAS Seção I Da requisição de dados cadastrais Art. 11. As autoridades administrativas a que se refere o art. 10, § 3º da Lei nº 12.965, de 2014, indicarão o fundamento legal de competência expressa para o acesso e a motivação para o pedido de acesso aos dados cadastrais. § 1o O provedor que não coletar dados cadastrais deverá informar tal fato à autoridade solicitante, ficando desobrigado de fornecer tais dados. § 2o São considerados dados cadastrais: I - a filiação; II - o endereço; e III - a qualificação pessoal, entendida como nome, prenome, estado civil e profissão do usuário. § 3o Os pedidos de que trata o caput devem especificar os indivíduos cujos dados estão sendo requeridos e as informações desejadas, sendo vedados pedidos coletivos que sejam genéricos ou inespecíficos. Art. 12. A autoridade máxima de cada órgão da administração pública federal publicará anualmente em seu sítio na internet relatórios estatísticos de requisição de dados cadastrais, contendo: I - o número de pedidos realizados; II - a listagem dos provedores de conexão ou de acesso a aplicações aos quais os dados foram requeridos; RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 31 III - o número de pedidos deferidos e indeferidos pelos provedores de conexão e de acesso a aplicações; e IV - o número de usuários afetados por tais solicitações. Seção II Padrões de segurança e sigilo dos registros, dados pessoais e comunicações privadas Art. 13. Os provedores de conexão e de aplicações devem, na guarda, armazenamento e tratamento de dados pessoais e comunicações privadas, observar as seguintes diretrizes sobre padrões de segurança: I - o estabelecimento de controle estrito sobre o acesso aos dados mediante a definição de responsabilidades das pessoas que terão possibilidade de acesso e de privilégios de acesso exclusivo para determinados usuários; II - a previsão de mecanismos de autenticação de acesso aos registros, usando, por exemplo, sistemas de autenticação dupla para assegurar a individualização do responsável pelo tratamento dos registros; III - a criação de inventário detalhado dos acessos aos registros de conexão e de acesso a aplicações,contendo o momento, a duração, a identidade do funcionário ou do responsável pelo acesso designado pela empresa e o arquivo acessado, inclusive para cumprimento do disposto no art. 11, § 3º, da Lei nº 12.965, de 2014; e IV - o uso de soluções de gestão dos registros por meio de técnicas que garantam a inviolabilidade dos dados, como encriptação ou medidas de proteção equivalentes. § 1o Cabe ao CGIbr promover estudos e recomendar procedimentos, normas e padrões técnicos e operacionais para o disposto nesse artigo, de acordo com as especificidades e o porte dos provedores de conexão e de aplicação. § 2o Tendo em vista o disposto nos incisos VII a X do caput do art. 7º da Lei nº 12.965, de 2014, os provedores de conexão e aplicações devem reter a menor quantidade possível de dados pessoais, comunicações privadas e registros de conexão e acesso a aplicações, os quais deverão ser excluídos: I - tão logo atingida a finalidade de seu uso; ou II - se encerrado o prazo determinado por obrigação legal. Art. 14. Para os fins do disposto neste Decreto, considera-se: I - dado pessoal - dado relacionado à pessoa natural identificada ou identificável, inclusive números identificativos, dados locacionais ou identificadores eletrônicos, quando estes estiverem relacionados a uma pessoa; e II - tratamento de dados pessoais - toda operação realizada com dados pessoais, como as que se RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 32 referem a coleta, produção, recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transmissão, distribuição, processamento, arquivamento, armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da informação, modificação, comunicação, transferência, difusão ou extração. Art. 15. Os dados de que trata o art. 11 da Lei nº 12.965, de 2014, deverão ser mantidos em formato interoperável e estruturado, para facilitar o acesso decorrente de decisão judicial ou determinação legal, respeitadas as diretrizes elencadas no art. 13 deste Decreto. Art. 16. As informações sobre os padrões de segurança adotados pelos provedores de aplicação e provedores de conexão devem ser divulgadas de forma clara e acessível a qualquer interessado, preferencialmente por meio de seus sítios na internet, respeitado o direito de confidencialidade quanto aos segredos empresariais. CAPÍTULO IV DA FISCALIZAÇÃO E DA TRANSPARÊNCIA Art. 17. A Anatel atuará na regulação, na fiscalização e na apuração de infrações, nos termos da Lei no 9.472, de 16 de julho de 1997. Art. 18. A Secretaria Nacional do Consumidor atuará na fiscalização e na apuração de infrações, nos termos da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990. Art. 19. A apuração de infrações à ordem econômica ficará a cargo do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, nos termos da Lei no 12.529, de 30 de novembro de 2011. Art. 20. Os órgãos e as entidades da administração pública federal com competências específicas quanto aos assuntos relacionados a este Decreto atuarão de forma colaborativa, consideradas as diretrizes do CGIbr, e deverão zelar pelo cumprimento da legislação brasileira, inclusive quanto à aplicação das sanções cabíveis, mesmo que as atividades sejam realizadas por pessoa jurídica sediada no exterior, nos termos do art. 11 da Lei nº 12.965, de 2014. Art. 21. A apuração de infrações à Lei nº 12.965, de 2014, e a este Decreto atenderá aos procedimentos internos de cada um dos órgãos fiscalizatórios e poderá ser iniciada de ofício ou mediante requerimento de qualquer interessado. Art. 22. Este Decreto entra em vigor trinta dias após a data de sua publicação. Brasília, 11 de maio de 2016; 195º da Independência e 128º da República. 1.8. Introdução e Questões legais Relacionadas com Comércio Eletrônico. RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 33 CAPÍTULO II – CONTRATOS ELETRÔNICOS 2. Contratos Eletrônicos ou telemáticos. O que vem a ser contrato? Negócio jurídico, ato jurídico lícito que decorre de uma ou mais vontades, criando, modificando, transferindo o extinguindo direitos. Os negócios jurídicos podem ser unilaterais, quando é necessária apenas a manifestação da vontade de uma das partes, ou bilaterais / multilaterais, quando necessita de mais de uma vontade para que se aperfeiçoe o negócio. Contratos são sempre bilaterais ou multilaterais. Exigência do encontro das vontades de duas ou mais pessoas. Contrato privado é um negócio jurídico bilateral ou multilateral particular onde prevalece a vontade das partes, devendo estar de acordo com o ordenamento jurídico, para criar, modificar ou extinguir direitos. Essencialmente, o contrato cria uma norma individual entre as partes, e o seu descumprimento não gera sanção, mas é pressuposto para aplicação de sanção prevista em norma jurídica geral. Exceção A regra é a autonomia da vontade. Contudo a igualdade preconizada pela escola clássica não condiz com os princípios de justiça em contratos públicos, trabalhistas e consumeristas. Assim, o Estado ditou normas impondo o conteúdo de certos contratos, proibindo a introdução de certas cláusulas e exigindo, para se formar, sua autorização. Criação de diversas leis de proteção ao hipossuficiente, ou seja, aquela parte mais fraca economicamente ou socialmente. Autonomia da vontade: liberdade de contratar, tanto o conteúdo quanto a forma são livres para a escolha das partes, as quais também podem escolher com quem querem contratar. Liberdade de contratar, de escolher o outro contraente e de determinar o conteúdo do contrato. A liberdade contratual, porém, não é absoluta, encontrando limite na ordem pública, ao proteger o interesse coletivo. Dirigismo contratual se justifica para assegurar a igualdade econômica RELAÇÕES PRIVADAS E INTERNET 34 dos contratantes, retratando o intervencionismo estatal nas relações particulares para fazer garantir a supremacia do interesse público. Função social é a utilidade que os contraentes devem dar ao contrato, preservando os interesses da coletividade. Assim, devem sujeitar a sua vontade e liberdade de contratar aos bons costumes e às normas de interesse público. Consensualismo, esse princípio trata da exigência de nada além da manifestação de vontade dos contratantes para que o contrato seja válido e, embora a lei exija forma específica para alguns contratos, a regra é que as partes são livres para pactuarem da forma que desejarem. O contrato é intangível e, portanto, uma vez pactuado, as partes devem cumpri-lo em todos os seus termos, sob pena da parte lesada pedir proteção ao Estado em razão de o contrato representar lei entre as partes. Essa “lei” enseja a provocação do Judiciário, exceto se houver caso fortuito ou força maior. O princípio do pacta sunt servanda não é absoluto, pois se submete à teoria da imprevisão, que trata da possibilidade de o magistrado rever os termos do contrato, caso haja enriquecimento ilícito superveniente de uma das partes ou até mesmo resolver o contrato. Disso, infere-se que o contrato é excepcionalmente mutável, só podendo ser alterado por autoridade judiciária com o intuito de restabelecer o equilíbrio entre as partes contratantes. O contrato só aproveita e prejudica a quem dele faz parte, não atingindo terceiros, assim entendidos por qualquer pessoa estranha à relação jurídica. Esse princípio trata da eficácia dos contratos, ou seja, a extensão dos seus efeitos. Boa-fé. A interpretação do contrato não deve ser feita de forma literal, pois prevalecerá a intenção das partes, mesmo que esteja expressa ou que tenha sido transmitida de forma oposta no contrato. Contrato eletrônico é apenas aquele realizado por meio de computador ou inclui os firmados por quaisquer meios de telecomunicação, tais como telefone, fax.? De outro modo, deve-se lembrar que “eletrônico” é o meio pelo qual as partes escolheram para efetivar o contrato,
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