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SÍNDROMES GRIPAIS AGUDAS VIRAIS Karen Soares – 2020.1 RESFRIADO DEFINIÇÃO Infecção das vias aéreas superiores, causada pelo rinovírus. É um dos problemas mais comuns nos ambulatórios, principalmente nos períodos de inverno. ETIOLOGIA Rinovírus: pertence à família picornavírus, que é dividida em três espécies: RV-A, B e C (compreende mais de 100 sorotipos descritos) A e B são responsáveis por 90% dos casos EPIDEMIOLOGIA Costumam circular na população o ano todo, mas com maior incidência durante o inverno. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Período de incubação: 1,9 dia. Quando não comprometem asmáticos cursam apenas no trato respiratório superior. Rinorreia e obstrução nasal → resposta inflamatória neutrofílica + aumento da permeabilidade vascular + secreção de muco. Tosse aguda Não destrói a barreira epitelial das vias aéreas. TRATAMENTO Sintomáticos, não havendo indicação para ATB. Crianças: sulfato de zinco + extrato de Pelargonium sidoides (fitoterápico) Adultos: pseudoefederina + brometo de ipratrópio inalável + vitamina C Anti-inflamatórios não esteroidais e algumas preparações com ervas (p. ex., Equinacea purpúrea) podem melhorar os sintomas. PROFILAXIA A ingesta profilática de alho pode reduzir a frequência de resfriados em adultos, mas não tem efeito sobre a duração dos sintomas. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Rinossinusite: é muito difícil diferenciá-las no adulto GRIPE OU INFLUENZA DEFINIÇÃO Infecção viral aguda com comprometimento do aparelho respiratório, em quaisquer dos seus níveis (superior, inferior ou ambos). Febre de início súbito, mesmo que referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta e pelo menos um dos seguintes sintomas: cefaleia, mialgia ou artralgia, na ausência de outro diagnóstico específico. ETIOLOGIA Influenzavirus → RNA Família Orthomyxoviridae Três principais tipos: influenza A, B e C. Resiste melhor em ambientes frios, permanecendo até 30 dias em ambiente de 0 a 5°C. EPIDEMIOLOGIA Influenza A → o mais relevante, responsável por casos esporádicos, pequenos surtos, grandes epidemias e pandemias. Maior ocorrência de casos da doença no inverno, em especial no hemisfério norte. Nas regiões tropicais (Brasil): casos concentram-se durante o aumento das chuvas. Não raro, observam-se surtos de gripe em grupos coletivos, em escolas, creches, orfanatos, quartéis, residências etc. Epidemias: alta mortalidade em extremos (crianças menores de 1 anos e idosos acima de 65 anos), portadores de comorbidades e grávidas. Pandemias: alta mortalidade em jovens de 10 a 45 anos, previamente hígidos. Na investigação de um caso, deve-se também pesquisar a vacinação anual contra influenza. Não se deve, porém, esquecer que a imunidade é sorotipo-específica, e que com uma simples alteração antigênica da cepa (antigenic drift), novo adoecimento é possível. TRANSMISSÃO Partículas virais nas gotículas de saliva, secreção, expelidas em aerossol pelos portadores, durante fala e tosse. Proximidade física e receptor suscetível. Ambientes com pouca ventilação, fechados, pequenos e aglomerados. Contato com objetos contaminados com saliva do portador. A eliminação do vírus pelo indivíduo infectado inicia-se 24 horas antes do surgimento da sintomatologia, persistindo por 5 a 7 dias; Crianças costumam eliminá-lo por 10 a 12 dias, e imunodeprimidos o fazem por semanas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Período de incubação: 1 a 4 dias Pode se apresentar de diversas maneiras: OLIGOSSINTOMÁTICA Pouco incomoda, ou efêmera → 2 a 3 dias de duração Quase sempre afeta apenas as VAS Febre baixa ou ausente Coriza Obstrução nasal Odinofagia Espirros Discretas algias Recuperação faz parte da evolução normal Raramente impede o indivíduo de exercer suas funções. CLÁSSICA NÃO COMPLICADA Febre alta nas primeiras 48 a 72 horas Tosse Odinofagia Coriza Obstrução nasal Mialgias Artralgias Cefalia Astenia Anorexia Vômitos e diarreia Dura de 4 a 8 dias COMPLICADA Maior gravidade → pneumonia → risco de morte Pneumonia: pode ser causada pelo próprio influenza (3 a 7 dias de doença), ou por coparticipação de agente bacteriano, como pneumococo, estafilococo e bacilos gram-negativos (início tardio 8° a 5° dia de sintomatologia → quase sempre após uma melhora sintomática, caracterizando uma recaída da febre e estado geral). São sinais iniciais premonitórios de evolução para gravidade: evidência de prejuízo na oxigenação (respiração curta ou difícil, cianose de extremidades, batimento de asa do nariz em crianças, esputo sanguinolento e baixa pressão arterial); acometimento do sistema nervoso central (alteração do nível de consciência, sonolência, agitação, convulsões, intensa fraqueza e paralisia); provável manutenção da replicação viral ou suspeita de associação bacteriana (febre alta por mais de 5 dias ou seu retorno após curto período afebril) Dispenia Taquipneia Dor torácica Escarro purulento ou hemoptoico Sinais de hipóxia Alteração do nível de consciência Desidratação Complicações secundárias: insuficiência renal, falência múltipla de órgãos, choque séptico. Grupos de risco para complicação: - crianças menores de 2 anos de idade - grávidas - doentes cardiovasculares crônicos (portadores de insuficiência cardíaca congestiva) - doentes crônicos do pulmão e vias respiratórias, como DPOC e asma brônquica - desordem metabólica do diabetes, distúrbios neurocognitivos - neuromusculares e convulsões frequentes - hemoglobinopatias (anemia falciforme) - doenças renais e hepáticas crônicas - idosos acima de 65 anos de idade - obesos mórbidos - fumantes crônicos.; SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE Indivíduo de qualquer idade com síndrome gripe e que apresente dispneia ou os seguintes sintomas: - SatO2 < 95% - Sinais de desconforto respiratório ou aumento da FR - Piora nas condições clínicas de doença de base - Hipotensão em relação a PA habitual Ou - Indivíduo com quadro de insuficiência respiratória aguda, durante o período sanzonal. + crianças: batimento de asa de nariz, cianose, tiragem intercostal, desidratação, inapetência. Pode cursar ou não com alterações laboratoriais (hemograma – leucocitose, leucopenia ou neutrofilia; alterações enzimáticas, musculares e hepáticas – TGO, TGP e bilirrubinas) e alterações radiológicas (infiltrado intertiscial localizado ou difuso ou presença da área de condensação) Indicar internação hospitalar Hidratação venosa e oxigenoterapia Avaliar sinais vitais (PA, FC, FR temperatura) constantemente + exame cardiorrespiratório e oximetria de pulso Tratar com fosfato de oseltamivir (Tamiflu): antirretriviral Indicação para UTI? - Instabilidade hemodinâmica persistente, sinais e sintomas de insuficiência respiratória, evolução para disfunções orgânicas. COMPLICAÇÕES RINOSSINUSITE AGUDA Afecção muito frequente e tratada na atenção primária. Síndrome gripal → rinossinusite viral ou rinossinusite bacteriana. Definição: inflamação do nariz e/ou seios paranasais Manifestações clínicas: (dois ou mais dos seguintes sintomas) - Bloqueio/obstrução/congestão nasal e/ou - Descarga nasal (gotejamento nasal anterior/posterior) - Pressão/dor facial - Anosmia O diagnóstico dos sintomas deve ser feito por 10 dias de sintomatologia ou agravamento após 5 dias do início dos sintomas. Para definir como BACTERIANA: (3/4 no mínimo) - Rinorreia purulenta - Presença de secreção purulenta em rinofaringe (gotejamento posterior) - VHS > 10 - Piora do quadro clínico Tratamento: na maioria dos casos se resolve SEM ATB, usando apenas sintomatológicos: OTITE MÉDIA AGUDA Pode ser uma complicação das síndromes gripais virais. Agentes etiológicosbacterianos: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e moraxella catarrhalis → colonizam as nasofaringes. Agentes etiológicos virais: vírus sincicial respiratório, parainfluenza vírus, coronavírus, adenovírus, bucavírus humano. Quadro clínico: - Otalgia súbita após IVAS → piora com deglutição e ao assoar o nariz - Hipoacusia, plenitude auricular - Sintomas vestibulares - Otorréia: perfuração da membrana timpânica; melhora da dor - Febre alta → Crianças menores: choro constante, letargia e redução do apetite. → Cuidado: distúrbio da articulação temporomandibular, otite externa e amigdalites Otoscopia!!! Exames complementares: se sinais de complicação → acometimento de par craniano, abaulamento retroauricular, cefaleia importante. - TC de osso temporal e crânio com contrastes (cuidado nos laudos de mastoidite) - RM Tratamento: - Analgesia - Observação em quadros leves e reavaliação - Amoxicilina (80-90 mg/kg/dia); Amoxicilina-clavulanato/ Cefuroxima/ Claritromicina - Se falha: amoxicilina-clavulanato/ ceftriaxone/ cefalosporina 2 ou 3° geração - Orientação - Proteção auricular: se otorreia. PNEUMONIA PAC: adquirida fora do hospital ou até 48 horas de internação. Fatores de risco: - Tabagismo - DPOC - Insuficiência cardíaca - AVC/ demência - DM - Neoplasias - Hepatopatia - HIV - Colagenoses - Baixa renda, alta vunerabilidade. Quadro clínico: - Sintomas respiratórios agudos baixos (tosse, expectoração, dispneia, dor torácica) + febre - Pode ou não vir associado a sistemas respiratórios altos - Extremos de idade: dor abdominal, alteração nível de consciência, pouca febre em idosos - Quadro mais arrastado: uso de corticoide, etilista, ATB - Sintomas não predizem a etiologia - Diagnóstico feito em associação a achados radiológicos: radiografia de tórax → esteio do diagnóstico → consolidações alveolares, broncograma aéreo (brônquio preto); Etiologia: streptococcus pneumoniae, haemophilus influenzae, mycoplasma pneumoniae, chlamydophila, staphyloococcus aureus, moraxella, legionella sp. Estratificação de risco - POST/PSI - CURP 65 Pneumonia grave: 1critério maior (choque séptico ou necessidade de ventilação mecânica) ou 3 menores (FR>30; PaO2 <250; infiltrados multilobares; confusão mental; ureia >50; PAS < 90). Tratamento: EMPÍRICO! → seguir consenso local - Cobertura S. pneumoniae + atípicos? - Atenção para Comorbidades: insuficiência cardíaca, renal, hepática, DPOC etilismo, neoplasia, diabetes Não dar corticoide a não ser que tenha piora de comorbidade de base. Prevenção: evitar (tabagismo, etilismo, status nutricional, contato com crianças doentes, má higiene oral, vacinação – influenza, pneumococo)
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