Buscar

Aulas de Antropologia Cultural

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Antropologia Cultural
Aula 1 – O que é Antropologia?11
Apresentação
· Nesta aula, apresentaremos o que é Antropologia e quais são as suas áreas de estudo. Veremos também como os diversos campos da Antropologia – biológicos, socioculturais, arqueológicos ou linguísticos –, articulam-se entre si em busca da compreensão do homem, da humanidade e de suas produções.
Objetivos
· Reconhecer a Antropologia como uma disciplina científica.
· Identificar as diferentes áreas de estudo da Antropologia e os distintos pressupostos e paradigmas que as condicionam.
· Refletir acerca de como a Antropologia pode ser utilizada para o entendimento da nossa realidade cotidiana e das formas de organização da sociedade contemporânea.
Etimologicamente, o termo Antropologia deriva da junção dos vocábulos gregos anthropos (homem) e fugia (estudo/tratado), o que significa "o estudo do homem". Ainda que suas "raízes" remontem ao século XVI, a Antropologia se estabelece como ciência no século XVIII, e somente no século XIX que se organiza como disciplina científica. A princípio, a antropologia dividiu-se em duas principais áreas de estudo: a biológica e a cultural, as duas dimensões básicas do ser humano.
Sendo assim, temos como principais subcampos da antropologia a Antropologia Biológica e a Antropologia Cultural. Posteriormente, devido a razões práticas, mais duas áreas ganharam destaque o suficiente para ganharem espaço como subcampos propriamente ditos: a Arqueologia e a Antropologia Linguística. E, ainda, ultimamente, temos a Antropologia Aplicada.
Antropologia Biológica
· A Antropologia biológica procura compreender o homem como ser biológico, estudando principalmente sua origem, sua evolução, suas variações e sua constituição física. Busca desenvolver um conhecimento antropológico com ênfase nas características físico-biológicas das populações humanas, tanto antigas como modernas, levando em conta também a interação entre biologia e cultura, ou seja, o ser humano como um organismo biológico dotado de capacidade simbólica num contexto sociocultural.
· Antropologia biológica possui os seguintes subcampos:
· 
· Paleoantropologia (estudo dos hominídeos antigos, com base em seus fósseis e artefatos);
· Antropologia forense (aplicação da antropologia biológica no âmbito legal);
· Osteologia (estudo dos ossos);
· Antropologia nutricional (estudo baseado na nutrição humana);
· Primatologia (estudo dos primatas);
· Genética das populações humanas;
· Variação biológica humana;
· Paleopatologia (patologia dos antigos hominídeos);
· Bioarqueologia.
Antropologia Sociocultural
· A antropologia sociocultural estuda as adaptações socioculturais dos grupos humanos, tanto contemporâneos quanto extintos, aos diversos estímulos que encontraram no decorrer de sua história. Em outras palavras, a antropologia cultural estuda a diversidade cultural humana, sejam elas contemporâneas ou extintas, procurando compreender o homem enquanto ser cultural e social. É também denominada de Antropologia Social, Antropologia Cultural ou Etnologia.
O foco está no estudo principalmente de sua produção cultural, agrupamentos e relações sociais, comportamento e desenvolvimento social.
· A antropologia sociocultural possui, entre outros subcampos:
· 
· Antropologia da música e Etnomusicologia;
· Antropologia das religiões;
· Mitologia;
· Antropologia histórica;
· Antropologia Linguística;
· Etnografia e Etnologia (estudos étnico-culturais);
· Folclorologia (estudos folclóricos).
De todos os subcampos da antropologia biológica e sociocultural, dois se destacaram a ponto de atualmente serem considerados por muitos profissionais como campos propriamente ditos da antropologia: a Arqueologia e a Linguística ou Antropologia linguística.
Arqueologia
· A arqueologia é a investigação das sociedades humanas através do estudo de vestígios materiais por elas deixados (artefatos). Embora a imagem do profissional em arqueologia mais difundida seja a de seu trabalho nas escavações, seu trabalho é muito mais complexo e extenso. Ele necessita interpretar os vestígios materiais que encontra, contextualizá-los e cruzar informações com uma grande variedade de áreas, utilizando uma abordagem interdisciplinar, de modo que encontre respostas que possam construir conhecimento a respeito das sociedades que estuda.
A arqueologia é imprescindível para investigar os agrupamentos humanos ágrafos (sem escrita), ou qualquer outra sociedade extinta. Sua importância para a antropologia é imensa.
· Através do estudo arqueológico, a antropologia pode conseguir informações acerca dessas sociedades, das quais a maioria não pode ser observada e estudada através de técnicas etnográficas normais, pelo fato das mesmas não existirem mais, nem deixaram vestígios escritos.
Arqueologia Pré-histórica
Estuda grupos humanos que não possuíam escrita. Essas sociedades são chamadas de ágrafas.
Arqueologia Histórica
Estuda grupos humanos que possuíam escrita.
Linguística
· O estudo da Antropologia linguística tem seu ponto fundamental na busca da compreensão das particularidades da comunicação humana e no estudo das relações de linguagem em suas estruturas, origens e variações/diversidades. Além de um aprofundado estudo da linguagem em si, a antropologia linguística utiliza-se do estudo da mesma como importante ferramenta de análise sociocultural de um grupo ou conjunto de grupos humanos e suas interações. Isso porque a linguagem é o elemento de base na transmissão e interação cultural entre os indivíduos, ou seja, é através da linguagem que os indivíduos, ou grupos de indivíduos, conseguem interagir dinamicamente suas experiências, organizá-las e transmiti-las em forma de cultura. Seja através da linguagem oral, escrita ou simbólica.
A antropologia necessitou especializar-se em campos distintos. Seu objeto de estudo, o homem e a humanidade, é complexo e impossível de se compreender de uma maneira fragmentada.
· Como vimos, o homem é um ser biológico e cultural por natureza, portanto é necessário que os campos da antropologia, sejam eles, biológicos, socioculturais, arqueológicos ou linguísticos, articulem entre si como uma disciplina única: a antropologia. Na investigação antropológica, temos, então, a busca da compreensão do homem, da humanidade e de suas produções, além de uma necessidade de movimentação contínua de especialização, reintegração recíproca e interdisciplinaridade entre os campos de estudo antropológicos e suas ciências afins. 
· Vejamos:
1. 
2. Especialização
Necessidade da ciência antropologia em especializar seus campos de estudo a nível de obter um conhecimento mais profundo nas dimensões culturais e biológicas do homem.
3. Reintegração recíproca
Necessidade de unir os conhecimentos desses campos com o objetivo de obter um conhecimento mais completo e totalizante.
4. Interdisciplinaridade
Necessidade de compartilhar conhecimento com ciências afins como História, Geografia humana, Genética, Sociologia, Geologia, Primatologia.
A antropologia se faz, com todo esse movimento, uma ciência dinâmica que atua nos mais diversos níveis humanos e acadêmicos. Apesar de sua identidade dominante entre as ciências sociais, a Antropologia transita também nas ciências humanas e naturais.
Aula 2 – Ciências Naturais versus Ciências Sociais11111
Objetivos
· Reconhecer a existência de uma dicotomia entre as Ciências Naturais e as Ciências Sociais em relação à natureza dos fenômenos, fatos e eventos estudados por cada uma dessas ciências.
· Identificar as diferenças em relação aos métodos de trabalho adotados pelas Ciências Naturais e pelas Ciências Sociais.
· Identificar as diferenças no que diz respeito a como se estabelece a relação sujeito/objeto nas Ciências Naturais e nas Ciências Sociais.
As Ciências Naturais
· As Ciências Naturais estudam fatos ou eventos que presumivelmente têm causas simples e que são facilmente isoláveis. Esses fenômenos seriam, por isso mesmo, recorrentes e sincrônicos. Logo, simplicidade, sincronia e repetitividade são suas características fundamentais.
A matéria-prima
da Ciência Natural, portanto, é todo o conjunto de fatos que se repetem e têm uma constância verdadeiramente sistêmica, já que podem ser vistos, isolados e, assim, reproduzidos dentro de condições de controle razoáveis, como em um laboratório, por exemplo.
· A prova ou teste de determinada teoria pode ser feito por dois observadores diferentes, situados em locais distintos. O laboratório assegura, de certo modo, a condição de objetividade.
As Ciências Sociais
· Estudam fenômenos complexos, situados em planos de casualidade e determinação complicados. Nos eventos que constituem a matéria-prima do antropólogo, do sociólogo, do historiador, do cientista político, do economista e do psicólogo, não é fácil isolar causas e motivações exclusivas. Até mesmo quando o “sujeito” está apenas desejando realizar uma ação aparentemente inocente e simples.
A matéria-prima das Ciências Sociais são eventos com determinações complicadas e que podem ocorrer em ambientes diferenciados tendo, por causa disso, a possibilidade de mudar seu significado de acordo com o ator, com as relações existentes em um dado momento e, ainda, com sua posição numa cadeia de eventos anteriores e posteriores.
· Os eventos que servem de foco ao cientista social são fatos que não estão mais ocorrendo entre nós ou que não podem ser reproduzidos em condições controladas.
Comparando...
Ciências Naturais
Os fenômenos podem ser percebidos, divididos, classificados e explicados dentro de relativo controle e em condições de laboratório. Existe uma ligação direta entre ciências naturais e tecnologia.
Ciências Sociais
As condições de percepção, classificação e interpretação são complexas, mas os resultados, em geral, não têm consequências na mesma proporção das Ciências Naturais. Embora, geralmente, os fatos não possam ser reproduzidos, eles podem ser observados.
De todas as diferenças entre as Ciências Naturais e as Ciências Sociais, a mais fundamental é que: as Ciências Sociais trabalham com fenômenos que estão bem perto de nós, eventos humanos, ou seja, fatos que nos pertencem integralmente.
Relação Entre Sujeito e Objeto
· Nas Ciências Sociais, é possível jogar com a dicotomia clássica da ciência: a relação entre sujeito e objeto. Nessa perspectiva, as teorias e os métodos científicos são os mediadores que permitem uma aproximação entre as duas partes.
1. 
2. Sujeito
Aquele que conhece ou busca conhecer
3. Objeto
A realidade ou o fenômeno sob estudo do cientista.
· O antropólogo Roberto DaMatta procura situar a Antropologia no centro epistemológico de um movimento relativizador. Quando uma teoria é apresentada ao objeto, não só se abre a possibilidade de relativização dos parâmetros epistemológicos, como também faz nascer um plano de debate inovador: aquele formado por uma dialética entre o fato interno com o fato externo.
"Podemos dizer que é na possibilidade de diálogo com o informante que jaz a diferença crítica entre um saber voltado para as coisas inanimadas ou passíveis de serem submetidas a uma objetividade total (os objetos do mundo da natureza) e um saber, como o da Antropologia Social, constituído sobre os homens em sociedade."
DaMatta, 2010.

"A raiz da diferença entre as ciências naturais e sociais reside, portanto, no fato de que a natureza não pode falar diretamente com o investigador; ao passo que cada sociedade humana conhecida é um espelho que reflete a nossa própria existência."
DaMatta, 2010.
Aula 3 – O Social e O Cultural
Apresentação
· Nesta aula, veremos a distinção das categorias social e cultural. Para isso, estudaremos os conceitos de tradição, cultura e sociedade.
Objetivos
· Identificar as diferenças entre as categorias social e cultural, de acordo com o pensamento de Roberto DaMatta.
· Reconhecer como essa diferenciação contribui para a reflexão e compreensão da realidade social humana, em uma perspectiva antropológica.
Social versus Cultural
· De acordo com Roberto DaMatta (2010), para que seja feita uma reflexão sobre a realidade social humana de forma mais fecunda, é necessária a distinção das categorias social e cultural. Embora sejam categorias de análise, e que podem ser vistas de forma complementar, as categorias social e cultural precisam ser aplicadas separadamente ao objeto de estudo.
· Assim, o primeiro passo consiste em descartar a visão eclética segundo a qual os dois fenômenos são a mesma coisa (a realidade humana), e que suas diferenças existem apenas em função da posição do investigador.
A diferenciação entre o social e o cultural é fato na prática antropológica, seja ela erudita ou ingênua.
· DaMatta ainda nos traz um primeiro postulado: entre as formigas (e outros animais sociais) existe sociedade, mas não existe cultura. Não há cultura, porque não existe uma tradição viva, conscientemente elaborada, que passe de geração para geração, que permita individualizar ou tornar singular e única uma dada comunidade relativamente às outras.
Tradição
"Sem uma tradição, uma coletividade pode viver ordenadamente, mas não tem consciência de seu estilo de vida. (...) E a consciência é um “armazém” de paradigmas e regras de ação, todas colocadas ali pelo meu grupo e minha biografia nesse grupo."
DaMatta, 2010.
· Mas o que seria essa tradição?
· De acordo com o autor, uma tradição viva seria o conjunto de escolhas que necessariamente excluem formas de realizar tarefas e de classificar o mundo. Dessa forma, ter tradição significaria vivenciar as regras de forma consciente (e responsável), colocando-as dentro de uma forma qualquer de temporalidade. No caso das tradições culturais autênticas, o processo é dialético e existe uma interação complexa, recíproca, entre regras e o grupo que as realiza na sua prática social: as regras vivem o grupo, e o grupo vive as regras. Esse duplo vivenciar e conceber permite a singularização, valorização e preenchimento do tempo, tornando-o visível, significativo e, muitas vezes, precioso.
Cultura
· Ainda de acordo com DaMatta, a tradição torna as regras passíveis de serem vivenciadas, abrigadas e possuídas pelo grupo que as inventou e adotou. De tal modo que, numa sociedade humana, seus membros acabam por perceber sua tradição como algo inventado especialmente para eles, uma coisa que lhes pertence. As sociedades de formigas e abelhas nada deixam que as individualize. Quando desaparecem, sobra apenas a ação violenta sobre o ambiente natural. E é impossível reconstruir o comportamento de seus indivíduos e de seus grupos a partir dessas sobras. Sociedades sem tradição são sistemas coletivos sem cultura. Estão submetidos às leis e às normas universais, impermeáveis à passagem do tempo das gerações.
Podemos dizer que sociedades sem cultura apenas acontecem com “animais sociais”.
Sociedade e Cultura
· No caso do homem, cada sociedade corresponde a uma tradição que se assenta no tempo e se projeta no espaço. Podemos estabelecer a distinção entre sociedade e cultura como dois segmentos importantes na realidade humana: Sociedade, indicando conjuntos de ações padronizadas e Cultura, expressando valores e ideologias que fazem parte da outra ponta da realidade social.
Pode haver cultura sem sociedade, mas nunca uma sociedade sem cultura.
Uma se reflete na outra, uma é o espelho da outra, mas nunca uma pode reproduzir integralmente a outra.
Cultura
A cultura trabalha sempre com formas puras, perfeitas, que se ajustam ou não à sua reprodução concreta no mundo da sociedade, o mundo expressivo das realizações e realidades concretas, sendo que cada grupo humano situa o real e o ideal em seus esquemas conceituais.
Sociedade
A perspectiva da realidade humana a partir da noção de sociedade remete inevitavelmente a uma orientação sincrônica, integrada, sistêmica e concreta de pessoas, grupos, papéis e ações sociais que são muitas vezes vistos como um organismo ou uma máquina.
· DaMatta (2000) afirma que o conceito de sociedade foi o último a surgir no campo das Ciências Sociais e da Antropologia, pois é fácil ter-se uma perspectiva do universo
humano como constituído de categorias e grupos necessariamente relacionados, todos tendo relação com todos num jogo complexo que constitui dinâmica da vida coletiva.
O conceito de sociedade (e de social) parece prestar-se mais a uma percepção mecânica do mundo humano, pois esse conceito envolve, claramente, problemas de inter-relação entre grupos, segmentos pessoas, papéis sociais, etc. Afinal, é virtualmente impossível estudar uma sociedade concreta em pleno funcionamento, sem buscar interligar seus domínios e segmentos.
· Na discussão da realidade humana, o conceito de sociedade deve ser sempre complementado pela sua outra face: a noção de cultura. O “conteúdo” dos papéis sociais, que variam enormemente de grupo para grupo e de sociedade para sociedade, é dado pelas ideologias e pelos valores contidos nas relações sociais observáveis de um dado grupo. São essas ideologias e esses valores que irão nos ajudar a compor aquilo que é coberto pela noção de cultura.
Não existe coletividade humana que não se utilize substantivamente de uma noção de sociedade ou de cultura para exprimir partes de sua realidade social.
· Pela perspectiva adotada – a distinção entre a realidade social e a realidade cultural –, pode-se dizer que:
1. 
2. O arqueólogo tem a cultura e, por meio do seu estudo detalhado, espera chegar à sociedade.
3. O antropólogo social tem o sistema social (ou a sociedade) e, observando-o e entendendo as motivações que o sustentam, por meio de entrevistas e conversas, espera-se chegar aos seus valores e ideologias.
Aula 4 –História da Antropologia1111
Apresentação
· Nesta aula, iremos conhecer o histórico da antropologia social, a partir do surgimento das escolas do pensamento antropológico social.
Objetivos
· Identificar as características, o período de surgimento e os paradigmas das principais escolas do pensamento antropológico social.
· Reconhecer, através de um olhar linear, o avanço histórico dos métodos e os pressupostos epistemológicos da Antropologia Social.
· Identificar os principais pensadores e suas obras respectivas obras em cada uma das escolas do pensamento antropológico social.
Literatura "Etnográfica" Sobre a Diversidade Cultural (Séculos XVI-XIX)
· Até o século XIX, o saber antropológico esteve presente nos relatos de viagens dos cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes que discutiam, em relação aos povos que conheciam, a maneira como estes viviam a sua condição humana, como cultivavam os seus hábitos, suas normas, suas características, como interpretavam os seus mitos, os seus rituais, a sua linguagem. São, principalmente, descrições das terras (fauna, flora, topografia) e dos povos "descobertos" (hábitos e crenças). Nesse caso, temos os primeiros relatos sobre a alteridade.
Leitura
Podemos citar como principais representantes e obras de referência desta escola:
· Carta do Descobrimento do Brasil, de Pero Vaz Caminha (séc. XVI);
· Duas Viagens ao Brasil, de Hans Staden (séc. XVI);
· Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, de Jean Baptiste Debret (séc. XIX).
 
Evolucionismo social
Marcada pela discussão evolucionista, a antropologia do Século XIX privilegiou o Darwinismo Social, que considerava a sociedade europeia da época como o apogeu de um processo evolucionário, em que as sociedades aborígines eram tidas como exemplares "mais primitivas".
· Essa visão usava o conceito de "civilização" para classificar, julgar e, posteriormente, justificar o domínio sobre outros povos. Essa maneira de ver o mundo, a partir do conceito civilizacional de superior, ignorando as diferenças em relação aos povos tidos como inferiores, recebe o nome de etnocentrismo.
Os temas e conceitos trabalhados pelo Evolucionismo Social estão relacionados à unidade psíquica do homem, à crença de que as sociedades evoluíram das mais "primitivas" para as mais "civilizadas", à busca das origens (perspectiva diacrônica) e ao desenvolvimento de estudos de parentesco, religião e organização social. Essa escola também é marcada pela substituição do conceito de raça pelo de cultura.
· Em outras palavras, é a "visão etnocêntrica", o conceito europeu do homem que se atribui o valor de "civilizado", fazendo crer que os outros povos estavam "situados fora da história e da cultura". Essa corrente é baseada principalmente na sistematização do conhecimento acumulado sobre os "povos primitivos" e tem o predomínio do trabalho de gabinete.
Leitura
Podemos citar como principais representantes e obras de referência desta escola:
· Princípios de Biologia, de Herbert Spencer (1864);
· A cultura primitiva, de E. Tylor (1871);
· O ramo de ouro, de James Frazer (1890).
Escola Sociológica Francesa (século XIX)
· A partir da obra de Émile Durkheim, os fenômenos sociais passaram a ser definidos como objetos de investigação socioantropológica. Apenas com a publicação do seu livro "As regras do Método Sociológico", em 1895, que começou-se a pensar que os fatos sociais seriam muito mais complexos do que se pretendia até então. No final do século XIX, juntamente com Marcel Mauss, Durkheim se debruça nas representações primitivas, estudo que culminará na obra "Algumas formas primitivas de classificação", publicada em 1901. É neste momento que inaugura-se então a denominada "linhagem francesa" na Antropologia. A característica marcante dessa escola é a definição dos fenômenos sociais como objetos de investigação socioantropológica. Os principais temas e conceitos com os quais trabalha dizem respeito à ideia das representações coletivas, aos conceitos de solidariedade orgânica e mecânica, e às formas primitivas de classificação (totemismo).
É marcada pela busca do fato social total (biológico + psicológico + sociológico) e pela sustentação da troca e da reciprocidade como fundamentos da vida social (dar, receber, retribuir).
Leitura
Podemos citar como principais representantes e obras de referência desta escola:
· Regras do método sociológico (1895) e As formas elementares da vida religiosa (1912), de Émile Durkheim;
· Algumas formas primitivas de classificação (1901), de Émile Durkheim e Marcel Mauss;
· Ensaio sobre a dádiva (1923-1924), de Marcel Mauss.
Funcionalismo (Século XX – Anos 20)
· O Funcionalismo também se inspirava na obra de Durkheim e advogava um estreito paralelismo entre as sociedades humanas e os organismos biológicos (na forma de evolução e conservação), porque, em ambos os casos, a harmonia dependeria da interdependência funcional das partes. As funções eram analisadas como obrigações, nas relações sociais. A função sustentaria a estrutura social, permitindo a coesão fundamental dentro de um sistema de relações sociais. As principais características dessa Escola são o modelo de etnografia clássica (Monografia), a ênfase no trabalho de campo (Observação participante) e a prática da sistematização do conhecimento acumulado sobre uma cultura. Os temas e conceitos que sustentam o Funcionalismo estão baseados na direção do estabelecimento da Cultura como totalidade e no interesse pelas Instituições e suas funções para a manutenção da totalidade cultural.
Leitura
Podemos citar como principais representantes e obras de referência desta escola:
· Argonautas do Pacífico Ocidental (1922), de Bronislaw Malinowski;
· Estrutura e função na sociedade primitiva (1952), de Radcliffe Brown;
· Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande (1937) e Os Nuer (1940), de Evans-Pritchard.
Culturalismo Norte-Americano (Século XX – Anos 30)
· Também conhecida como particularismo histórico, esta escola estadunidense rejeita, de maneira marcante, o evolucionismo que dominou a antropologia durante a primeira metade do século XX. O debate proposto por esta corrente gira em torno da ideia de que cada cultura tem uma história particular e que a difusão cultural se processa em várias direções. Cria-se o conceito de relativismo cultural enxergando a evolução como fenômeno que pode decorrer do estado mais simples para o mais complexo.
As principais características da escola estadunidense são o denominado método comparativo,
a busca de leis no desenvolvimento das culturas e no estudo da relação entre cultura e personalidade. Sustenta-se pela ênfase na construção e identificação de padrões culturais (patterns of culture) ou estilos de cultura (ethos).
Leitura
Podemos citar como principais representantes e obras de referência desta escola:
· Os objetivos da etnologia (1888) e Raça, Língua e Cultura (1940), de Franz Boas;
· Sexo e temperamento em três sociedades primitivas“ (1935), de Margaret Mead;
· Padrões de cultura (1934) e O Crisântemo e a espada (1946), de Ruth Benedict.
Estruturalismo (século XX – anos 40)
· Também denominado como Antropologia estrutural, o Estruturalismo nasce na década de 40, tendo como grande teórico Claude Lévi-Strauss. Essa escola centraliza o debate na ideia de que existem regras estruturantes das culturas na mente humana e assume que estas regras constroem pares de oposição para organizar o sentido. Para fundamentar o debate teórico, Lévi-Strauss recorre a duas fontes principais: a corrente psicológica criada por Wilhelm Wundt e o trabalho realizado no campo da linguística, por Ferdinand de Saussure, denominado Estruturalismo. Influenciaram-no, ainda, Durkheim, Jakobson (teoria linguística), Kant (idealismo) e Marcel Mauss.
Para a Antropologia estrutural, as culturas definem-se como sistemas de signos partilhados e estruturados por princípios que estabelecem o funcionamento do intelecto.
· Em 1949, Lévi-Strauss publica As estruturas elementares de parentesco, obra em que analisa os aborígines australianos e, em particular, os seus sistemas de matrimônio e parentesco. Nessa análise, Lévi-Strauss demonstra que as alianças são mais importantes para a estrutura social que os laços de sangue. Termos como exogamia, endogamia, aliança, consanguinidade passam a fazer parte das preocupações etnográficas. Suas principais características são a busca das regras estruturantes das culturas presentes na mente humana, a teoria do parentesco/lógica do mito/classificação primitiva e a distinção natureza versus cultura.
Leitura
Podemos citar como principal representante desta escola, Claude Lévi-Strauss e suas obras: 
· As estruturas elementares do parentesco (1949)
· Antropologia estrutural“ (1958)
· Tristes Trópicos (1962) 
· O cru e o cozido (1964) 
· O homem nu (1971).
Antropologia Interpretativa (Século XX – Anos 60)
· Fundada por Clifford Geertz, também é denominada como antropologia hermenêutica. Uma das metáforas preferidas para definir a antropologia interpretativa é a leitura das sociedades enquanto textos ou como análogas a textos. A antropologia interpretativa analisa a cultura como hierarquia de significados, pretendendo que a etnografia seja uma "descrição densa", de interpretação escrita, cuja análise torne-se possível por meio de uma inspiração hermenêutica. Para isso, é crucial a compreensão da leitura que os "nativos" fazem de sua própria cultura.
Leitura
Podemos citar como principal representante desta escola, Clifford Geertz e suas obras: 
· A interpretação das culturas (1973) 
· Saber local (1983).
Antropologia Pós-moderna ou Crítica (Século XX – Anos 80)
· Na década de 80, o debate teórico na Antropologia ganhou novas dimensões. Muitas criticas às outras escolas surgiram, questionando o método e as concepções antropológicas. No geral, esse debate privilegiou algumas ideias: a primeira delas é que a realidade é sempre interpretada, ou seja, vista sob uma perspectiva subjetiva do autor. Portanto, a antropologia seria uma interpretação de interpretações. A Antropologia contemporânea privilegia a discussão acerca do discurso antropológico, mediado pelos recursos retóricos presentes no modelo das etnografias; politiza a relação observador-observado na pesquisa antropológica, questionando a utilização do "poder' do etnógrafo sobre o "nativo".. É marcada também pela consistente crítica aos paradigmas teóricos e da "autoridade etnográfica" do antropólogo.
A pergunta essencial é: quem realmente fala em etnografia? O nativo? Ou o nativo visto pelo prisma do etnógrafo?
Leitura
Podemos citar como principais representantes e obras de referência desta escola:
· Writing culture: the poetics and politics of ethnography (1986), de James Clifford e Georges Marcus;
· Xamanismo, colonialismo e o homem selvagem (1987), de Michel Taussig;
· The predicament of culture (1988), de James Clifford.
Aula 5 – O Conceito de Cultura
Apresentação
· Nesta aula, veremos o desenvolvimento do conceito de cultura e analisaremos o porquê das diferenças de comportamento e da diversidade cultural entre os homens.
Objetivos
· Identificar os antecedentes históricos na formação do conceito de cultura.
· Refletir sobre o desenvolvimento do conceito de cultura do ponto de vista antropológico.
Diversidade Cultural
· Desde a antiguidade, tem-se tentado explicar as diferenças de comportamento entre os homens, a partir das diversidades genéticas ou geográficas. Atualmente, esta é uma ideiacientificamente refutada. As características biológicas não são determinantes das diferenças culturais. Se uma criança brasileira for criada na França, por exemplo, ela crescerá como uma francesa, aprendendo a língua, os hábitos, as crenças e os valores dos franceses.
O ambiente físico também não explica a diversidade cultural.
· Os lapões e os esquimós, por exemplo, vivem em ambientes muito semelhantes os lapões habitam o norte da Europa, e os esquimós, o norte da América. Era de se esperar que eles tivessem comportamentos semelhantes, mas seus estilos de vida são bem diferentes. Os esquimós constroem os iglus amontoando blocos de gelo num formato de colmeia e forram a casa por dentro com peles de animais. Com a ajuda do fogo, eles conseguem manter o interior da casa aquecido. Quando quer mudar, o esquimó abandona a casa levando apenas suas coisas e constrói um novo iglu. Os lapões vivem em tendas de peles de rena. Quando desejam se mudar, eles têm de desmontar o acampamento, secar as peles e transportar tudo para o novo local.
O comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo chamado endoculturação ou socialização.
· Pessoas de raças ou sexos diferentes têm comportamentos diferentes não em função de transmissão genética ou do ambiente em que vivem, mas por terem recebido uma educação diferenciada. Assim, podemos concluir que é a cultura que determina a diferença de comportamento entre os homens. O homem age de acordo com os seus padrões culturais, ele é resultado do meio em que foi socializado.
Antecedentes Históricos do Conceito de Cultura
· Desde o final do século XVII, o termo germânico kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa civilization referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor (1832-1917) no vocábulo inglês culture.
"tomado em seu amplo sentido etnográfico [culture] é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade."
(LARAIA, 2005).
· Com essa definição, Tylor abrangia em uma só palavra todas as possibilidades de realização humana, além de marcar fortemente o caráter de aprendizado da cultura em oposição à ideia de aquisição inata, transmitida por mecanismos biológicos. O conceito de cultura, pelo menos como utilizado atualmente, foi, portanto, definido pela primeira vez por Tylor. No entanto, o que ele fez foi formalizar uma ideia que vinha crescendo na mente humana.
John Locke
(1632-1704)
Em Ensaio acerca do entendimento humano (1690), procurou demonstrar que a mente humana não é mais do que uma caixa vazia por ocasião do nascimento, dotada apenas da capacidade ilimitada de obter conhecimento, através de um processo de endoculturação.
Jean Jacques
Rousseau
(1712-1778)
Em “Discurso sobrei a origem e o estabelecimento da desigualdade entre os homens” (1775), atribui um grande papel à educação aos processos de assimilação
e produção cultural.
Kroeber
(1876-1960)
Em seu artigo O Superorgânico (in AMERICAN ANTHROPOLOGIST, v. XIX, n. 2, 1917), acabou rompendo todos os laços entre o cultural e o biológico, postulando a supremacia do primeiro em detrimento do segundo.
Clifford Geertz
(1926-2006)
Em 1973, escreveu que o tema mais importante da moderna teoria antropológica era o de "diminuir a amplitude do conceito e transformá-lo num instrumento mais especializado e mais poderoso teoricamente."
Escola Evolucionista
· Na época histórica de seu aparecimento como ciência, a antropologia sofreu a influência da ideia dominante no mundo científico: o evolucionismo, consagrado pela publicação de A origem das espécies, de Charles Darwin, em 1859. Por isso, na segunda metade do século XIX, a nascente ciência concebeu os diferentes grupos humanos como sujeitos em desenvolvimento. Acreditavam que as distintas sociedades evoluiriam todas na mesma direção, passando por etapas e fases de desenvolvimento e diferenciação cultural inevitáveis e escalonadas, seguindo uma transformação que levaria do simples ao complexo, do homogêneo ao heterogêneo, do irracional ao racional.
Para os antropólogos evolucionistas, todos os grupos humanos teriam de atravessar necessariamente as mesmas etapas de desenvolvimento, e as diferenças que podem ser observadas entre as sociedades contemporâneas seriam apenas defasagens temporais, consequência dos ritmos diversos de evolução.
· Embora, hoje em dia, as principais teses evolucionistas estejam muito superadas , é considerável a maneira pela qual continuam influenciando a linguagem vulgar e o próprio vocabulário especializado da antropologia. Dessa forma, às vezes, fica difícil ao especialista descrever fenômenos antropológicos sem ter de recorrer a vocábulos viciados pelo conteúdo evolucionista que os impregnou durante muitos anos. 
Nesse sentido, a utilização de conceitos como "sociedades primitivas", "civilizações evoluídas" etc. pressupõem uma aceitação implícita de seu fundo ideológico evolucionista.
Para evitar confusões, muitos antropólogos falam hoje de "sociedades de tecnologia simples" ou "sociedades de pequena escala", em oposição à "sociedade de tecnologia complexa" ou "sociedades industriais".
· Os mais influentes antropólogos evolucionistas foram o americano Lewis Henry Morgan, com o seu estudo sobre as etapas da evolução humana, e o inglês Edward B. Tylor, com o estudo das manifestações religiosas.
· Etapas da Evolução Humana
· Em 1877, Morgan publicou o estudo Ancient Society (A sociedade primitiva), no qual distinguia três etapas pelas quais passaram (ou irão passar) todas as sociedades humanas, em uma sequência obrigatória de progresso: selvageria, barbárie e civilização. De igual forma, para a formação da família, teriam se estabelecido vários estágios sucessivos, desde a promiscuidade primitiva à família bilateral moderna de tipo europeu.
· Evolução da Ideologia Religiosa dos Povos
· Tylor, por sua vez, realizou estudos comparativos das manifestações religiosas das diferentes sociedades humanas, acreditando, depois disso, poder estabelecer três etapas na evolução da ideologia religiosa dos povos: animismo, politeísmo e monoteísmo. Embora as teses de Tylor tenham sido amplamente criticadas, a suas concepções sobre a evolução das religiões continuam presentes na linguagem vulgar.
· O evolucionismo materialista de Morgan influenciou consideravelmente as primeiras abordagens marxistas da antropologia. Em particular, foi o caso de Friedrich Engels, que escreveu A origem da família da propriedade privada e do Estado baseando-se claramente na leitura de Ancient Society. A escola evolucionista mostrou-se consideravelmente carregada de preconceitos etnocêntricos, o que levou seus representantes a considerarem a sociedade europeia como a mais evoluída e a acreditarem que todas as outras tenderiam a alcançar a mesma perfeição. Além disso, se for levado em conta que nem sempre se dispunham de conceitos suficientemente diferenciados sobre sociedade e raça, compreende-se que a intenção de encaixar as sociedades (e as raças) em um quadro evolutivo gerasse conclusões precipitadas e errôneas.
Em defesa da escola evolucionista, é preciso lembrar que a antropologia era então uma ciência quase inexistente cujo desenvolvimento muito se beneficiou dos estudos e esforços dos adeptos dessa escola. Quando tais teses começaram a ser abandonadas peta maioria dos antropólogos, os métodos e procedimentos da nova ciência já estavam encaminhados e ela começava a dar seus frutos.
Aula 6 – O Desenvolvimento do Conceito de Cultura
Apresentação
· Nesta aula, falaremos mais sobre a influência do evolucionismo para o desenvolvimento do conceito de cultura e como os paradigmas evolucionistas têm sido superados.
Objetivos
· Refletir sobre o contexto ideológico que condicionou o desenvolvimento do conceito de cultura.
· Identificar a relação entre cultura e evolucionismo bem como as principais críticas ao Evolucionismo.
· Reconhecer as “ampliações” ao conceito de cultura.
· Do ponto de vista antropológico, a primeira definição de cultura foi formulada por Edward Tylor. No primeiro parágrafo de seu livro Primitive culture (1871), Tlylor procurou demonstrar que cultura pode ser objeto de um estudo sistemático, pois trata-se de um fenômeno natural que possui causas e regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma análise capazes de proporcionar a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução.
"Por um lado, a uniformidade que tão largamente permeia entre as civilizações pode ser atribuída, em grande parte, a uma uniformidade de ação de causas uniformes, enquanto, por outro lado, seus vários graus podem ser considerados como estágios de desenvolvimento ou evolução..."
(TYLOR, 1871).
· Tylor buscava apoio nas ciências naturais, pois considerava a cultura como um fenômeno natural e, vivendo na segunda metade do século XIX, se defrontava com a ideia da natureza sagrada do homem. Mais do que a preocupação com a diversidade cultural, Tylor preocupava-se com a igualdade existente na humanidade. A diversidade era explicada por ele como o resultado da desigualdade de estágios existentes no processo de evolução.
Uma das tarefas da antropologia seria a de "estabelecer, grosso modo, uma escala de civilização", simplesmente colocando as nações europeias em um dos extremos da série e em outro as tribos selvagens, dispondo o resto da humanidade entre dois limites.
· Deve-se observar que a produção de Tyler ocorreu no mesmo período em que a Europa impactava-se com o livro A origem das espécies, de Charles Darwin. Logo, a recente Antropologia foi dominada pela estreita perspectiva do evolucionismo unilinear, e a década de 1960 do século XIX foi rica em trabalhos com essa orientação. Uma série de estudiosos tentou analisar, sob esse prisma, o desenvolvimento das instituições sociais, buscando, no passado, as explicações para os procedimentos da atualidade. Por detrás de cada um destes estudos, predominava, então, a ideia de que a cultura desenvolve-se de maneira uniforme, de tal forma que era de se esperar que cada sociedade percorresse as etapas que já tinham sido percorridas pelas "sociedades mais avançadas". Dessa maneira, era fácil estabelecer que uma escala evolutiva não deixava de ser um processo discriminatório, através do qual as diferentes sociedades humanas eram classificadas hierarquicamente, com nítida vantagem para as culturas europeias. Etnocentrismo e ciência marchavam então de mãos dadas.
Franz Boas e o Método Comparativo
· A principal reação ao evolucionismo, denominada Método comparativo, inicia-se com Franz Boas (1858-1949). A sua crítica ao evolucionismo está disposta em seu artigo "The Limitation of the Comparative Method of Anthropology, no qual atribuiu à antropologia a execução de duas tarefas:
1. 
2. Reconstrução da história de povos ou regiões particulares
3. Comparação da vida social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis
· Antes disto, insistiu na necessidade de
ser comprovada, antes de tudo, a possibilidade de os dados serem comparados. E propôs, em lugar do método comparativo puro e simples, a comparação dos resultados obtidos através dos estudos históricos das culturas simples e da compreensão dos efeitos das condições psicológicas e dos meios ambientes.
Kroeber e o Estudo Sobre o Homem e a Cultura
· Alfred Kroeber, em seu artigo O Superorgânico (1949), mostrou como a cultura atua sobre o homem, ao mesmo tempo em que se preocupou com a discussão de uma série de pontos controversos, pois suas explicações contrariam um conjunto de crenças populares. Como o próprio título de seu trabalho indica, Kroeber procurou demonstrar que, graças à cultura, a humanidade distanciou-se do mundo animal. Mais do que isso, o homem passou a ser considerado um ser que está acima de suas limitações orgânicas. A preocupação de Kroeber era evitar a confusão, ainda tão comum, entre o orgânico e o cultural. Para isso, ele mostrou que o homem criou o seu próprio processo evolutivo no decorrer de sua história e, sem se submeter a modificações biológicas radicais, ele tem sobrevivido a numerosas espécies, adaptando-se às mais diferentes condições naturais.
Kroeber procurou mostrar que, superando o orgânico, o homem de certa forma libertou-se da natureza. Tal fato possibilitou a expansão da espécie por todos os recantos da Terra. Nenhum outro animal tem toda a Terra como o seu habitat, apenas o homem conseguiu esta proeza.
· Resumo da contribuição de Kroeber para a ampliação do conceito de cultura:
01 A cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do homem e justifica as suas realizações.
02 O homem age de acordo com os seus padrões culturais, e seus instintos foram parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo pelo qual passou.
03 A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos. Ao invés de modificar o seu aparato biológico para isso, o homem modifica o seu equipamento superorgânico.
04 Em decorrência da afirmação anterior, o homem foi capaz de romper as barreiras das diferenças ambientais e transformar toda a terra em seu habitat.
05 Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado do que agir através de atitudes geneticamente determinadas.
06 Como já era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, é o processo de aprendizagem (socialização ou endoculturação) que determina o seu comportamento e a sua capacidade artística ou profissional.
07 A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações anteriores. Esse processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo.
· Em relação à cultura, Kroeber ainda destaca o conceito de gênio. De acordo com ele, ao gênios são indivíduos altamente inteligentes que têm a oportunidade de utilizar o conhecimento existente ao seu dispor, construído pelos participantes vivos e mortos de seu sistema cultural e criar um novo objeto ou uma nova técnica. Nessa classificação, podem ser incluídos os indivíduos que fizeram as primeiras invenções, tais como o primeiro homem que produziu: o fogo através do atrito da madeira seca, o arco e a flecha, a primeira máquina capaz de ampliar a força muscular etc.
Eles são gênios da mesma grandeza de Santos Dumont e Einstein. Sem as suas primeiras invenções ou descobertas, hoje consideradas modestas, não teriam ocorrido as demais. E ainda, talvez nem mesmo a espécie humana teria chegado ao que é hoje.
Aula 7 – A Origem e Teorias Modernas Sobre a Cultura
Apresentação
· Nesta aula, continuaremos nossa discussão a respeito do conceito de cultura , relacionando as mudanças biológicas e fisiológicas do ser humano ao processo de produção da cultura.
Objetivos
· Identificar a origem da cultura como uma produção humana.
· Reconhecer as principais correntes de pensamento preocupadas com a reconstrução/ampliação do conceito de cultura na modernidade.
A Origem da Cultura
· Como o homem adquiriu este processo extrassomático denominado de cultura que o diferenciou de todos os animais e lhe deu um lugar privilegiado no planeta? A resposta se deve a alguns fatores, tais como: Leslie White afirma que a passagem do estado animal para o humano ocorreu quando o cérebro do ser humano foi capaz de gerar símbolos. De acordo com ele:
01 Toda cultura depende de símbolos. É o exercício da faculdade de simbolização que cria cultura, e o uso de símbolos que torna possível a sua perpetuação. Sem o símbolo, não haveria cultura, e o homem seria apenas animal, não um ser humano.
02 O comportamento humano é o comportamento simbólico. Uma criança do gênero Homo torna-se humana somente quando é introduzida e participa da ordem de fenômenos superorgânicos que é a cultura. E a chave deste mundo, e o meio de participação nele, é o símbolo.
03 Todos os símbolos devem ter uma forma física, pois do contrário não podem penetrar em nossa experiência. No entanto, o seu significado não pode ser percebido pelos sentidos, ou seja, para perceber o significado de um símbolo, é necessário conhecer a cultura que o criou.
A ideia de que a cultura apareceu de repente, num dado momento, como um verdadeiro salto da natureza para a humanidade, não difere muito da posição da Igreja Católica Apostólica Romana, segundo a qual "o homem adquiriu cultura no momento em que recebeu do Criador uma alma imortal, a qual foi atribuída ao primata no momento em que Deus considerou que o corpo do mesmo tinha evoluído organicamente o suficiente para tornar-se digno de uma alma e, consequentemente, de cultura". (LARAIA, 2005)
· Apesar da crença de que o homem adquiriu cultura em um dado momento, a Ciência diz que a natureza não age por saltos repentinos, e que o salto da natureza para a cultura foi continuo e incrivelmente lento. O homem não é apenas o produtor da cultura, mas, também, num sentido especificamente biológico, o produto da cultura. A cultura desenvolveu-se simultaneamente com o próprio equipamento biológico que caracteriza a espécie humana, ou seja: bipedismo, volume cerebral, uso das mãos e produção de cultura.
Teorias Modernas sobre Cultura
· Uma das tarefas da antropologia moderna tem sido a reconstrução do conceito de cultura, fragmentado por numerosas reformulações. Apresentaremos o esquema elaborado pelo antropólogo Roger Keesing em seu artigo Theories of Culture (1974), no qual classifica as tentativas modernas de obter uma precisão conceitual. A teoria idealista de cultura de Keesing se divide em três diferentes abordagens:
· Cultura como sistemas cognitivos – Baseia-se na análise de modelos construídos pelos membros da comunidade a respeito do próprio 
· Cultura como sistemas estruturais – Tem como mais importante representante Lévi-Strauss, que define cultura como um sistema simbólico, que é uma criação acumulativa da mente humana. O seu trabalho tem sido o de descobrir, na estruturação dos domínios culturais (mito, arte, parentesco e linguagem), os princípios da mente que geram essas elaborações culturais.
· Cultura como sistemas simbólicos – É a posição desenvolvida nos Estados Unidos, principalmente pelos antropólogos Clifford Geertz e David Schneider.
Como conclusão, podemos afirmar que essa discussão cnão pode ser esgotada aqui, e que "uma compreensão exata do conceito de cultura significa a compreensão da própria natureza humana, tema perene da incansável reflexãochumana." (LARAIA, 2005)
Aula 8 – A Visão de Mundo do Homem: Cultura e Etnocentrismo
Apresentação
· Nesta aula, identificaremos a influência da cultura na formação da visão de mundo do homem. Para isso, estudaremos o conceito de etnocentrismo bem como a relação entre a cultura e o plano biológico.
Objetivos
· Identificar o conceito de etnocentrismo e sua relação com a cultura.
· Refletir acerca da ideia de que o etnocentrismo é um fenômeno universal e pode ser uma das causas para a ocorrência de determinados tipos de conflitos sociais.
A Visão de Cultura Condiciona a Visão de Mundo do Homem
· No livro O Crisântemo e a Espada (1972), Ruth Benedict diz que a cultura
é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas. A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isso, discriminamos o comportamento desviante.
O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura.
· Portanto, podemos entender o fato de que indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma série de características, tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem mencionar a evidência das diferenças linguísticas, o fato de mais imediata observação empírica. Mesmo o exercício de atividades considerado como parte da fisiologia humana pode refletir diferenças de cultura, como, por exemplo, o riso. Dentro de uma mesma cultura, a utilização do corpo é diferenciada em função do sexo. As mulheres sentam, caminham, gesticulam etc. de maneiras diferentes das do homem. Essas posturas femininas são copiadas pelos travestis. Todos os homens são dotados do mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do mesmo, ao invés de ser determinada geneticamente (todas as formigas de uma dada espécie usam os seus membros uniformemente), depende de um aprendizado e este consiste na cópia de padrões que fazem parte da herança cultural do grupo.
Etnocentrismo
· O homem vê o mundo através de sua cultura e tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. O etnocentrismo, de fato, é um fenômeno universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade ou mesmo a sua única expressão.
É comum assim a crença no povo eleito, predestinado por seres sobrenaturais para ser superior aos demais. Tais crenças contêm o germe do racismo, da intolerância e, frequentemente, são utilizadas para justificar a violência praticada contra os outros.
· A dicotomia “nós e o outro" expressa em diferentes níveis a tendência de um povo se sobrepor ao outro. Dentro de uma mesma sociedade, a divisão ocorre sob a forma de parentes e não parentes. Os primeiros são melhores por definição e recebem um tratamento diferenciado. A projeção dessa dicotomia para o plano extra grupal resulta nas manifestações nacionalistas ou formas mais extremadas de xenofobia. O ponto fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo. Daí a reação, ou pelo menos a estranheza, em relação aos estrangeiros. O costume de discriminar os que são diferentes, porque pertencem a outro grupo, pode ser encontrado mesmo dentro de uma sociedade. Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais.

A Cultura e o Plano Biológico
· A cultura interfere na satisfação das necessidades fisiológicas básicas e pode condicionar outros aspectos biológicos como, até mesmo, decisões sobre a vida e a morte dos membros do sistema. Comecemos pela reação oposta ao etnocentrismo: a apatia. Em lugar da superestima dos valores de sua própria sociedade, numa dada situação de crise, os membros de uma cultura abandonam a crença nesses valores e, consequentemente, perdem a motivação que os mantém unidos e vivos. Em nossa própria história, são encontrados diversos exemplos dramáticos do tipo de comportamento em que os membros de uma cultura perdem a motivação que os mantém unidos e vivos. Os africanos removidos violentamente de seu continente (ou seja, de seu ecossistema e de seu contexto cultural) e transportados como escravos para uma terra estranha habitada por pessoas de fenotípica, costumes e línguas diferentes, perdiam toda a motivação de continuar vivos. Entre os africanos removidos de seu continente, muitos cometiam suicídio e outros acabavam sendo mortos pelo mal que foi denominado de banzo. Traduzido como saudade, o banzo é, de fato, uma forma de morte decorrente da apatia.
Podemos agora nos referir a um campo que vem sendo amplamente estudado: as doenças psicossomáticas. Essas doenças são fortemente influenciadas pelos padrões culturais.
Aula 9 – Multiculturalismo e Diversidade Cultural
Apresentação
· Nesta aula, trataremos dos temas multiculturalismo e diversidade cultural. Além disso, discutiremos sobre o descentramento da cultura ocidental e a globalização nesse contexto.
Objetivos
· Identificar os conceitos de Multiculturalismo e Diversidade Cultural.
· Identificar a distinção entre os conceitos de interculturalismo e intraculturalismo.
· Refletir acerca dos campos de disputa nos quais é forjado o conceito de Multiculturalismo.
· Refletir sobre a relação entre os conceitos de Etnocentrismo e Multiculturalismo.
O Multiculturalismo
· Falar de multiculturalismo é falar do manejo da diferença em nossas sociedades. No entanto, isso ainda é pouco para definir as implicações do termo, que não remete apenas a um discurso em defesa da diversidade de formas de vida existentes nas sociedades contemporâneas mas também a um conjunto de aspectos fortemente ligados entre si e que carregam a marca de um processo contencioso. Entre esses aspectos podemos citar:
· O reconhecimento da não homogeneidade étnica e cultural das sociedades contemporâneas.
· O reconhecimento da não integração dos grupos que carregam e defendem as diferenças étnicas e culturais a uma matriz dominante.
· A demanda por inclusão e por pluralidade de esferas de valor e práticas institucionais no sentido da reparação de exclusões históricas.
· A demanda por reorientação das politicas públicas no sentido de assegurar a diversidade/pluralidade de grupos e tradições.
A Diversidade Cultural
· A respeito da diversidade cultural, há de se considerar que a crescente sensibilidade para o tema da diferença e sua articulação em termos socioculturais, sob a forma de uma reivindicação de direitos para grupos subordinados, se liga a um descentramento da cultura ocidental que assume duas modalidades paradoxais:
1. 
2. A matriz colonialista e imperialista
3. A recusa aos modelos modernizadores
Matriz Colonialista e Imperialista
· A matriz colonialista difundiu-se mundo afora entre os séculos XVI e início do século XX, levando com ela modelos de organização social, desenvolvimento e mudança política que em larga medida se institucionalizaram no atual sistema de estados nacionais e numa economia mundial dominada inteiramente pelo capitalismo. Práticas, valores e instituições historicamente construídas a partir da modernidade europeia e norte-americana se espalharam pelo mundo, tornaram-se ideais de progresso e emancipação, mas também se impuseram onde a resistência se fez mostrar. No processo imperialista, uma intrincada composição de agentes "metropolitanos" e locais encarregou-se de dobrar a resistência. Isso acabou forjando uma uniformidade que atendia pelo apelo da Nação em busca de seu futuro no "mundo moderno", atribuindo lugares aos que se posicionavam (contra ou a favor) frente às formas concretas de implementação dos projetos de modernização. Esse descentramento do Ocidente que leva ao modelo do estado nacional e à trajetória da modernização representa o grau zero das disputas multiculturais.
Recusa aos Modelos Modernizadores
· A história do século XX foi acumulando uma crescente desconfiança, e a recusa aos modelos modernizadores sofre, a partir dos anos 60, grande pressão de movimentos sociais e intelectuais. Observa-se uma importante inflexão através desses movimentos de contestação política e cultural, ocorridos em várias partes do mundo, os quais contribuíram para deslegitimar,
questionar e enfrentar a ideia hegemônica de Ocidente. Ocorre no mundo um descentramento crítico, que se expressou na emergência de novas formas de identificação coletiva. Negros, mulheres, povos indígenas, ecologistas, pacifistas, jovens, movimentos religiosos e novas formas de pensamento, que puseram em questão o etnocentrismo e o caráter excludente da ordem liberal vigente. Esse descentramento que leva à afirmação da pluralidade de esferas públicas, dos direitos dos grupos historicamente excluídos, social ou culturalmente, representa o primeiro momento de emergência de bandeiras multiculturais.
Nos países latino-americanos, a emergência dessas formas sociais e intelectuais do descentramento incluía ainda a resistência contra a associação da modernização capitalista com regimes autoritários e tecnocráticos baseados em alianças civis-militares.
Globalização
· Mais recentemente, uma nova onda de expansão ocidental, capturada pela ideia de globalização, tem se formado. Embora o caráter desse processo seja altamente disputado, ele parece intensificar o duplo descentramento ao mesmo tempo em que reforça o paradoxo entre suas duas modalidades. Ao mesmo tempo em que a globalização representa certa forma de interconexão e interpenetração entre regiões, estados nacionais e comunidades locais que está marcada pela hegemonia do capital e do mercado, ela também se faz acompanhar por uma potencialização da demanda por singularidade e espaço para a diferença e o localismo.
O discurso multiculturalista, neste sentido, beneficia-se de como impulsiona a globalização, embora em direções nem sempre favoráveis às falas dominantes sobre a mesma.
· Como já dissemos, sob diversas formas, o multiculturalismo está envolvido num contencioso, numa disputa que vai além do manejo de uma diversidade que simplesmente se dá como mera constatação empírica. Para além ou na base das demandas lançadas ao Estado, ao mercado e a outros atores sociais, há movimentos de retorno ao passado, de reconstrução ou de invenção de identidades coletivas. Além disso, há cobranças por redefinição de padrões societários. E esses movimentos disputam entre si ou articulam-se de formas surpreendentes, mas também instáveis e parciais. Observa-se uma vinculação das demandas multiculturais com a problemática dos direitos. O discurso sobre a legitimidade das diferenças e a necessidade de reparação tem aparecido, simultaneamente, como uma tentativa de "pacificar" o caráter mais "truculento" da emergência desses novos atores sociais que postulam uma identidade de base cultural e de aprofundamento da disputa, uma vez que claramente há reivindicações de poder envolvidas.
O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de ideias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente.
Cultura é um termo com várias acepções, em diferentes níveis de profundidade e diferente especificidade. São práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço/tempo. Explica e dá sentido a cosmologia social; é a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período.
· A diversidade cultural são as diferenças culturais que existem entre os seres humanos. Há vários tipos, tais como: a linguagem, danças, vestuário e outras tradições como a organização da sociedade. A diversidade cultural é algo associado à dinâmica do processo associativo. Pessoas que por algumas razões decidem pautar suas vidas por normas pré-estabelecidas tendem a esquecer suas próprias idiossincrasias.
Em outras palavras, o todo vigente se impõe às necessidades individuais. O denominado status quo deflagra natural e espontaneamente e, como diria Hegel, num processo dialético, a adequação significativa do ser ao meio.
O Interculturalismo
1. 
2. Intraculturalismo
Fenômeno que ocorre quando uma cultura assimila completamente outra.
3. Interculturalismo
Refere-se à interação entre culturas de uma forma recíproca, favorecendo o seu convívio e integração numa relação baseada no respeito pela diversidade e no enriquecimento mútuo.
· A expressão interculturalismo também define um movimento que tem como ponto de partida o respeito pelas outras culturas, superando as falhas de relativismo cultural, ao defender o encontro, em pé de igualdade, entre todas elas. Dado que não se pode considerar que qualquer cultura tenha atingido o seu total desenvolvimento, o diálogo entre os povos de diferentes culturas é o meio de possibilitar o enriquecimento mútuo de todas elas. Assim, o interculturalismo propõe que se aprenda a conviver num mundo pluralista e se respeite e defenda a humanidade no seu conjunto. No entanto, seus opositores defendem que, quando adotado na prática, o interculturalismo pode ser danoso às sociedades e particularmente nocivo às culturas nativas.
É necessária a existência de valores interculturais para podermos viver em conjunto, isto é, chegarmos a consenso e a um conjunto de valores universalmente respeitados, tais como a tolerância, a aceitação e o respeito mútuos.
Aula 10 – Globalização e Indentidade: Desafios do Multiculturalismo
Apresentação
· Nesta aula, refletiremos acerca dos vínculos entre identidade e globalização e o caráter contencioso das demandas e práticas multiculturais.
Objetivos
· Identificar os desafios do Multiculturalismo em um mundo globalizado.
· Analisar o Multiculturalismo no Brasil e sua relação com o nosso processo de formação social e cultural.
Desafios ao Multiculturalismo: O Lugar da Identidade no Contexto Global
· Seria preciso admitir que a emergência da identidade como preocupação, como reação ou como projeto já estava implicada num movimento de proporções internacionais. Durante os anos 80 e 90, as demandas multiculturais tomaram-se decididamente globais em sua extensão e disseminação. O caráter contencioso das demandas e práticas multiculturais, em grande parte, reside na dinâmica complexa dos vínculos entre identidade e globalização. Se as energias iniciais para as demandas multiculturais podem remontar às lutas pelos direitos civis e aos desdobramentos dos movimentos estudantis no final da década de 60, a disseminação da demandas multiculturais, entretanto, nem ofusca, nem diminui o potencial polêmico do multiculturalismo. Assim como o terreno da globalização é disputado, também o é o das identidades coletivas passíveis de constar na lista dos atores "legítimos" do multiculturalismo. Mais do que uma emergência pura e simples, tomando a forma de diferenças cuja positividade seria indisputável, as identidades reivindicadoras de práticas multiculturais estão simultaneamente em processo de construção e em disputa pelo reconhecimento dos agravos e cenários onde sua postulação cobra ares de objetividade incontestável.
O fato, porém, de que não podemos simplesmente escolher quais manifestações identitárias poderiam fazer parte da “lista” – por nos parecerem mais aceitáveis ou progressistas – , e de que há identidades reativas, intolerantes e fechadas em si mesmas, nos adverte para alguns desafios que, postos a estas identidades, estendem-se também às chamadas "novas identidades" e ao multiculturalismo.
.
· Desafio da abertura 
Tradicionalmente, a ideia de identidade foi associada a um "seu-próprio" que não se dividia com outros, que se pretendia proteger dos outros e que determinava uma uniformidade interna entre os "portadores" de tais atributos. Além disso, a identidade se revestia de uma atemporalidade que escondia tanto a história de seu desenvolvimento como a existência de outras possibilidades de sua expressão que foram preteridas ou derrotadas ao longo desta história. O cenário da globalização, ao alterar os processos tradicionais de produção e reprodução da Identidade, confronta-a com:
· A sua própria historicidade e, portanto, com a possibilidade de ser diferente de si mesma (heterogênea consigo mesma);
· A relação ao outro e, portanto, com a necessidade de reconhecer dentro de si a presença (ausente) de outros sujeitos e de negociar com eles
suas demandas e valores.
· Desafio da reflexividade
A "ameaça" de invasão, destruição ou subordinação que a inserção nos fluxos globais representa para as identidades localistas ou a resposta ao desafio da abertura tem cobrado que a identidade trabalhe sobre si mesma: recomponha-se, investigue-se, critique a si mesma e elabore estratégias para sua atuação e suas relações com outras. A avaliação permanente das suas condições de existência e de suas chances de melhora relativa no espaço social, político, econômico e cultural impõe um permanente retorno sobre si mesma que, embora não signifique a possibilidade de compensar a perda da estabilidade, a aura atemporal e a falsa homogeneidade que geralmente as experiências identitárias cultivam, torna-se um elemento habilitador nas relações com outras identidades.
· Desafio da política
Embora muito se fale sobre a decadência ou a retração da política no contexto contemporâneo, a leitura que oferecemos aqui só pode insistir sobre a centralidade da política na análise da identidade. Não se trata especificamente da política tradicional, centrada na agregação de interesses através dos partidos e seu processamento através dos mecanismos de políticas governamentais. Trata-se da dimensão política da identidade. A perda da referência histórica e os deslocamentos colocados pelo contato com o terceiro da globalização exigem das identidades um esforço de construção. Reivindicar uma origem indiferenciada e imemorial, ou uma visão naturalizada (determinada pelo nascimento, a condição biológica ou o solo pátrio), não é suficiente ou mesmo possível para assegurar sua continuidade/reprodução. Identidades são construções tanto no sentido histórico, como no sentido da ação estratégica; elas são o resultado de uma série de operações e investimentos coletivos. O fato de que a identidade não se define de modo autárquico, sem referência com um antagonismo face a um "inimigo", e sem a "costura" de equivalências entre suas demandas e valores e as de outras, a negociação (que implica em conflito, argumentação, mobilização e compromissos) é outra característica do desafio político à identidade. O peso do global, as assimetrias entre atores nacionais e locais, o grau de organização interna de cada grupo colocam o desafio da negociação.
· Desafio do pluralismo
Os cenários da globalização não remetem a um sistema centrado e governado a partir de um único conjunto de critérios, não comportam macro ou microatores imbuídos de pretensões imperiais ou autonomistas, nem assumem o custo da homogeneização das diferenças. O desafio então, que tem estado entre os maiores dilemas e contradições da onda contemporânea da globalização, é o de que o regime de repartição dos recursos socialmente relevantes para os diferentes grupos que reivindicam inclusão, justiça ou reconhecimento produza uma tolerância ativa das diferenças no contexto da "consciência possível" da comunidade nacional, da cultura regional e local , ou seja, assumindo-se que nunca será possível tolerar todas as diferenças, nem impedir que o intolerável reapareça. O pluralismo não pode, neste contexto, significar um congraçamento geral, uma nova forma de comunidade plena, mas um espaço de emergência de demandas que não somente expressam injustiças passadas, mas a exclusão sobre a qual se assenta toda ordem social.
Multiculturalismo no Brasil
· A miscigenação dos credos e culturas ocorrem no Brasil desde os tempos da colonização. Uma das principais características da cultura brasileira é esta diversidade. O processo imigratório teve grande importância para a formação desta cultura. O Brasil incorpora em seu território culturas de todas as partes do mundo. Podemos dizer que este processo de imigração começou em 1530 quando os portugueses deram início à colonização do Brasil. Os primeiros imigrantes não-portugueses que vieram para o Brasil foram os africanos, que eram utilizados como escravos nas lavouras de café. Graças ao rápido desenvolvimento das plantações de café, no Brasil colonização intensificou-se a partir de 1818, quando para cá vieram imigrantes de fora de Portugal à procura de oportunidades. Vieram entre outros:
· alemães;
· eslavos;
· italianos;
· árabes;
· turcos;
· japoneses e
· suíços.
· O caso brasileiro é complexo, porque aqui se desenvolveu um processo colonizador cuja característica fundamental foi a mestiçagem cultural. A riqueza cultural e étnica do país não é levada em consideração no quotidiano, tendendo ao estereótipo e à disseminação de preconceitos. Em resposta, os conflitos das minorias não se dão apenas com a maioria, mas muitas vezes entre elas próprias, transformadas umas para as outras em bode expiatório de sua exclusão social. A discriminação dá-se através de muitas maneiras. Os nordestinos, por exemplo, são tidos como ignorantes no sul do país, como "gente" inferior, pouco inteligente, feita para o trabalho braçal ou outros sem qualificação que exija cultura e quociente intelectual razoável. O Brasil é um país de raízes mestiças, e que não constitui historicamente minorias. Deveríamos estar abertos às diferenças que faz do povo brasileiro um povo tão misto em nossas heranças culturais. É nesta pluralidade e na diversidade dos brasileiros que se pode construir o presente e perseguir o sonho do futuro possível. Os efeitos dos debates sobre o multiculturalismo no Brasil mereceriam uma discussão à parte, dada a sua complexidade. O Brasil parece ficar à margem dessas discussões até a década de 1980, data do fortalecimento e visibilidade das chamadas minorias étnicas, raciais e culturais. A pressão dos novos atores sociais reverbera diretamente no texto da Constituição de 1988, considerada um marco em termos da admissão do nosso pluralismo étnico. Os efeitos dessas formas renovadas de engajamento podem ser observados no campo da produção artística, sobretudo da literatura (fala-se em "escrita feminina", em "vozes negras", homoerótico etc.). Na música jovem, das periferias urbanas, define-se o espaço de uma cultura negra: o funk, o rap, o hip hop. O campo das artes visuais recebe o impacto dessas problemáticas, a experiência das minorias aparece tematizada em um ou outro artista , ainda que pareça difícil localizar aí uma produção de cunho multicultural com contornos definidos.
Exercícios
Atividade – Aula 1
Questão 1 - A Arqueologia é a investigação das sociedades humanas por meio do estudo de artefatos. Um de seus subcampos é a Arqueologia pré-histórica, que estuda:
a. As sociedades extintas.
b. As sociedades ágrafas.
c. Os grupos humanos que possuíam escrita.
d. Os grupos humanos anteriores à formação das cidades.
Questão 2 - A Antropologia Biológica é considerada uma das principais áreas da Antropologia e busca desenvolver um conhecimento antropológico com ênfase nas características físico-biológicas das populações humanas, tanto antigas como modernas. Assinale a opção que NÃO está de acordo com essa área da Antropologia.
a. Estuda os mecanismos da evolução biológica.
b. Também é denominada de Antropologia Física.
c. Estuda a origem, a evolução, a variações e a constituição do homem.
d. Tem como subcampos a Antropologia histórica, a Etnografia e a Etnologia.
Atividade – Aula 2
1. As ciências naturais estudam fatos simples e eventos que, presumivelmente, têm causas simples e que são facilmente isoláveis. Tal fato nos permite apontar que os fenômenos estudados pelas ciências naturais são:
a) casuais e sincrônicos.
b) complexos e sincrônicos.
c) recorrentes e diacrônicos.
d) recorrentes e sincrônicos.
2. Sobre a diferença entre as Ciências Sociais e as Ciências Naturais, é correto afirmar que:
a) a matéria-prima da ciência natural, portanto, é todo o conjunto de fatos que não se repetem e não têm uma constância verdadeiramente sistêmica, fenômenos complexos, situados em planos de casualidade e determinação complicados.
b) a matéria-prima da ciência social, portanto, é todo o conjunto de fatos que não se repetem e não têm uma constância verdadeiramente sistêmica, fenômenos complexos,
situados em planos de casualidade e determinação complicados.
c) a matéria-prima da ciência social, portanto, é todo o conjunto de fatos que se repetem e têm uma constância verdadeiramente sistêmica, já que podem ser vistos, isolados e, assim, reproduzidos dentro de condições de controle razoáveis, num laboratório.
d) a matéria-prima da ciência natural, portanto, é todo o conjunto de fatos que não se repetem e não têm uma constância verdadeiramente sistêmica, já que não podem ser vistos, isolados e, assim, reproduzidos dentro de condições de controle razoáveis, num laboratório.
Atividade – Aula 3
1. Para Roberto Da Matta, é necessário distinguir o conceito de cultura do conceito de sociedade. Para tanto, o primeiro passo consiste em descartar a visão eclética segundo a qual os dois fenômenos são a mesma coisa. Nesse sentido, é correto afirmar que:
a) em todo tipo de sociedade sempre haverá algum tipo de cultura.
b) a cultura pode existir sem sociedade, embora não possa existir uma sociedade sem cultura.
c) a sociedade humana pode existir sem cultura, mas não pode existir uma cultura sem sociedade.
d) a cultura indica um conjunto de ações padronizadas; enquanto a sociedade expressa valores e ideologias.
Atividade – Aula 4
1. Relacione as escolas do pensamento antropológico a seguir à sua respectiva característica.
Evolucionismo social 1 - Antropologia interpretativa 2 - Escola sociológica francesa 3 - Culturalismo norte-americano 4 - Escola antropológica interpretativa 5
a) noção de fato social
b) cultura própria do nativo
c) divisão das sociedades em primitivas e civilizadas
d) método comparativo e formação de padrões culturais
e) rituais sagrados e mitos como condições de vida impostas1
Atividade – Aula 5
1. Podemos dizer que a cultura é ao mesmo tempo aquilo que singulariza e distingue o ser humano. Singulariza porque é algo exclusivo do homem. Distingue porque cada povo tem sua própria caracterização cultural. Sobre o conceito antropológico, é correto dizer:
a) as culturas humanas obedecem a um processo natural de transmissão.
b) a cultura humana corresponde a todo comportamento natural do homem em sociedade.
c) a cultura é o conjunto de saberes adquiridos e compartilhados pelos homens em sem processo histórico.
d) a cultura é decorrente de um processo instintivo do ser humano, sendo hereditariamente transmitido de pai para filho.
Atividade- Aula 6
Parte superior do formulário
Relacione os conceitos de cultura listados a seguir ao teórico correspondente. Digite a resposta nos campos da segunda coluna.
1.Edward Tylor 2. Franz Boas 3.Alfred Kroeber
a. ( ) A cultura é um fenômeno natural.
b. ( ) A cultura leva o ser humano muito além de suas limitações orgânicas.
c. ( ) A cultura é tratada como um objeto de estudo sistemático que possui causas e regularidades.
d. ( ) A culturaé um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações anteriores.
e. ( ) As culturas não podem ser comparadas sem os estudos históricos e a compreensão dos efeitos das condições psicológicas e dos meios ambientes.
f. ( ) As culturas humanas não percorrem o continuum simples-complexo, pois há diferentes desenvolvimentos históricos, resultantes de diferentes processos em que intervieram inúmeros fatores e acontecimentos.
Atividade – Aula 7
1. Quais foram os fatores que permitiram ao homem diferenciar-se dos animais e produzir cultura? 
2. De acordo com Leslie White, quando ocorre a passagem do estado animal para o humano? 
3. Como é dividida a teoria idealista de cultura de Keesing?
4. De acordo com Laraia, como podemos ter uma compreensão exata do conceito de cultura?
Atividade – Aula 8
1. De acordo com Ruth Benedict, a cultura seria uma espécie de lente através da qual o homem veria o mundo. Explique como a visão de cultura condiciona a visão de mundo do homem.
2. O etnocentrismo é um fenômeno universal. Trata-se da crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade ou mesmo a sua única expressão. Cite algumas consequências do etnocentrismo na relações sociais.
3. De que forma as doenças podem ser influenciadas pelos padrões culturais
Atividade – Aula 9
1. O multiculturalismo está envolvido num contencioso, numa disputa que vai além do manejo de uma diversidade que simplesmente se dá como mera constatação empírica. Justifique essa afirmativa.
2. A matriz colonialista difundiu-se mundo afora entre os séculos XVI e início do século XX, levando com ela modelos de organização social, desenvolvimento e mudança política que em larga medida se institucionalizaram no atual sistema de estados nacionais e numa economia mundial dominada inteiramente pelo capitalismo. Explique por que esse descentramento do Ocidente representa o grau zero das disputas multiculturais.
Atividade – Aula 10
1. O fato de que não podemos simplesmente escolher quais manifestações identitárias poderiam fazer parte da “lista” dos atores "legítimos" do multiculturalismo e de que há identidades reativas, intolerantes e fechadas em si mesmas, nos adverte para alguns desafios que, postos a estas identidades, estendem-se também às chamadas "novas identidades" e ao multiculturalismo. Cite pelo menos dois desses desafios.
2. A miscigenação dos credos e culturas ocorrem no Brasil desde os tempos da colonização. Uma das principais características da cultura brasileira é esta diversidade. A riqueza cultural e étnica do país não é levada em consideração no quotidiano, tendendo ao estereótipo e à disseminação de preconceitos. Justifique essa afirmativa.
Antropologia 
C
ultu
ral
 
Aula 
 
1 
–
 
O que é Antropologia?
11
 
Apresentação
 
·
 
Nesta aula, apresentaremos o que é Antropologia e quais são as suas áreas de estudo.
 
Veremos também como os diversos campos da 
Antropologia 
–
 
biológicos, socioculturais, arqueológicos ou 
linguísticos 
–
, articulam
-
se entre si em busca da compreensão do homem, da 
humanidade e de suas produções.
 
Objetivos
 
·
 
Reconhecer a Antropologia como uma disciplina científica.
 
·
 
Identificar as diferentes áreas de estudo da Antropologia e os distintos pressupo
stos e paradigmas que as condicionam.
 
·
 
Refletir acerca de como a Antropologia pode ser utilizada para o entendimento da nossa realidade cotidiana e das formas de or
ganização 
da sociedade contemporânea.
 
Etimologicamente, o termo Antropologia deriva da junção
 
dos vocábulos gregos
 
anthropos
 
(homem) e
 
fugia
 
(estudo/tratado), o que significa 
"o estudo do homem".
 
Ainda que suas "raízes" remontem ao século XVI, a Antropologia se estabelece como ciência no século XVIII, e somente 
no século XIX que se organiza como d
isciplina científica.
 
A princípio, a antropologia dividiu
-
se em duas principais áreas de estudo: a biológica e 
a cultural, as duas dimensões básicas do ser humano.
 
 
Sendo assim, temos como principais subcampos da antropologia a Antropologia Biológica e a A
ntropologia Cultural. Posteriormente, devido a 
razões práticas, mais duas áreas ganharam destaque o suficiente para ganharem espaço como subcampos propriamente ditos: a Arq
ueologia e 
a Antropologia Linguística. E, ainda, ultimamente, temos a Antropologia A
plicada.
 
Antropologia 
B
iológica
 
·
 
A Antropologia biológica procura compreender o homem como ser biológico, estudando principalmente sua origem, sua evolução, s
uas 
variações e sua constituição física. Busca desenvolver um conhecimento antropológico com ênfase
 
nas características físico
-
biológicas das 
populações humanas, tanto antigas como modernas, levando em conta também a interação entre biologia e cultura, ou seja, o ser
 
humano como um organismo biológico dotado de capacidade simbólica num contexto sociocul
tural.
 
·
 
Antropologia biológica possui os seguintes subcampos:
 
Ø
 
Paleoantropologia (estudo dos hominídeos antigos, com base 
em seus fósseis e artefatos);
 
Ø
 
Antropologia forense (aplicação da antropologia biológica no 
âmbito legal);
 
Ø
 
Osteologia (estudo dos ossos);
 
Ø
 
Antropologia nutricional (estudo baseado na nutrição

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais