Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS Curso de Ciências Biológicas – Modalidade Médica DISCIPLINA INTERAÇÃO CELULAR I 2020 - PLE Nomes da dupla: Glenda Domingos Mascarenhas e Isabela Batista Gonçalves Moreira (grupo 29) QUESTÃO HISTOLOGIA A) Descreva os tipos de barreira hematoencefálica em cada localização considerando as características estruturais teciduais e celulares, assim como das moléculas envolvidas na regulação de sua permeabilidade. Explique a produção e regulação do fluxo do líquido cefalorraquidiano ressaltando o mecanismo molecular e as características morfológicas das células envolvidas. De maneira geral, a barreira hematoencefálica é encontrada no capilar do sistema nervoso central (SNC) e consiste em uma estrutura formada, principalmente, por células endoteliais apoiadas sobre uma membrana basal, unidas por junções oclusivas. Exteriormente, os pés vasculares dos astrócitos, células gliais, envolvem completamente os capilares sanguíneos, sendo estes astrócitos considerados também como componentes da barreira. Durante o início do desenvolvimento, os capilares do encéfalo apresentam fenestrações, áreas em que o endotélio consiste em uma membrana pouco espessa e com alta permeabilidade. Tendo isso em vista, a barreira hematoencefálica pós natal ainda é muito vulnerável à passagem de substâncias, algumas das quais oferecem toxicidade ao tecido nervoso e podem favorecer o desenvolvimento de infecções. No entanto, à medida que envelhecemos, os prolongamentos dos astrócitos sintetizam substâncias que resultam na perda dessas fenestrações. Assim, a barreira hematoencefálica, apresentando pouca permeabilidade dos capilares sanguíneos do tecido nervoso, tem por finalidade regular e limitar a passagem de moléculas, substâncias e toxinas, contidas no sangue para esse tecido. Essa baixa permeabilidade se deve às características exclusivas desses capilares, que não são encontrados em outra região do corpo, como presença incomum de vesículas de pinocitose, que auxiliam no transporte de macromoléculas, bem como citado anteriormente, a ausência de fenestrações e a participação das junções oclusivas, que impedem a passagem de grandes moléculas. Algumas moléculas essenciais para o metabolismo cerebral, como a glicose, atravessam a barreira hematoencefálica por canais especializados. No entanto, a barreira não tem como função apenas regular a entrada de moléculas, apresentando papel importante também na imunidade neural pela secreção de citocinas, prostaglandinas e óxido nítrico, bem como pela ação responsiva a estímulos. De acordo com o artigo “Fluid Dynamics Inside the Brain Barrier: Current Concept of Interstitial Flow, Glymphatic Flow, and Cerebrospinal Fluid Circulation in the Brain”, a barreira hematoencefálica, denominada por eles como barreira cerebral, pode apresentar três classificações distintas, cada qual com sua particularidade. Assim, a barreira hematoencefálica (BBB) é constituída pelo endotélio dos capilares cerebrais, os quais são unidos pelas junções do tipo tight, devido à expressão das claudinas 3 e 5. Vale ressaltar também que a barreira hematoencefálica apresenta como canal para passagem de água a aquaporina 4 (AQP4), que é expressa de maneira abundante e tem sua distribuição nos pés vasculares dos astrócitos, na região pericapilar e também na região glial das membranas celulares ependimárias, ocorrendo de forma polarizada e tendo como finalidade preservar, independentemente da circulação sistêmica, a dinâmica de água funcionando adequadamente dentro da barreira. Assim, seu papel no espaço pericapilar está relacionado ao controle da dinamicidade do fluido intersticial na barreira hematoencefálica, de maneira a promover o influxo da água, garantindo a circulação adequada do fluido intersticial no espaço intersticial pericapilar. Além da barreira hematoencefálica, em nosso cérebro, temos também a barreira sangue-líquido cefalorraquidiano (BCSFB). Essa barreira tem como estrutura primária o epitélio do plexo coróide. O plexo coróide consiste em dobras da pia-máter, sendo formado por seu tecido conjuntivo frouxo e revestido por células epiteliais simples cúbicas ou colunares. Assim como os demais capilares do corpo, o plexo coróide apresenta fenestrações, mas as junções rígidas que selam suas células dificultam a difusão livre do líquido cefalorraquidiano (LCR). O líquido cefalorraquidiano é claro, apresenta baixa densidade e é essencial para manter a homeostasia do sistema nervoso central, além de protegê-lo contra traumatismos. Formado no plexo coróide dos ventrículos laterais, sua produção ocorre continuamente. O LCR ao sair do plexo coróide migra para o terceiro ventrículo, pela travessia do forame de Monro e, posteriormente, para o quarto ventrículo, pelo aqueduto cerebral. Deste modo, o líquido segue para o espaço subaracnóideo do encéfalo e da medula. Assim, o LCR banha a medula e atinge as cisternas da base do cérebro e o espaço subaracnóideo periencefálico. Através das vilosidades aracnóideas, o líquido é absorvido. A circulação do líquido cefalorraquidiano parece atuar de forma semelhante ao sistema linfático, já que atua na eliminação de resíduos, como as β-amiloides, dentro do espaço de Virchow-Robin (VRS) periarterial. Assim, o fluxo intersticial de VRS perivenoso conjuntamente ao LCR produzido pelo plexo coróide favorece adequadamente o fluxo de LCR ventricular e, consequentemente, sua circulação adequada. Uma vez que o plexo coróide seja a estrutura responsável por secretar o LCR, a presença de aquaporina 1 em sua membrana apical poderia estar relacionada a essa função. No entanto, segundo o artigo, ainda não é bem compreendido os mecanismos moleculares associados ao influxo de água na porção intracelular do epitélio do plexo coróide, através do lado vascular, por meio da membrana basal. Ademais, como o outro tipo de barreira constituinte do nosso sistema nervoso, possuímos a barreira cerebral externa (OBB). A OBB, é formada pelas células da meninge aracnóide. A aracnóide é uma estrutura formada por tecido conjuntivo e revestida por epitélio simples pavimentoso. Encontrada entre a dura-máter e a pia-máter, constitui-se em uma membrana que interage com a dura-máter, bem como uma região de traves, onde está o LCR, que a associam com a pia-máter. As células epiteliais que revestem essa meninge são associadas a um tipo de junção estreita, cuja função é impedir a passagem do fluido intersticial da dura-máter e da região subdural. Vale ressaltar que ambas as barreiras sangue-líquido cefalorraquidiano e cerebral externa, devido à presença de claudina-2 apresentam algum nível de permeabilidade à água. QUESTÃO EMBRIOLOGIA B) Um pesquisador está estudando o desenvolvimento do sistema nervoso central e descobriu que as células do plexo coróide de diferentes regiões ao longo do eixo ântero posterior do tubo neural apresentam características fenotípicas e funcionais diferentes, como observado nas figuras abaixo. Na letra A observamos a presença da marcaçãopara as proteínas EMX2 (vermelho) e AQP1 (verde) na região mais anterior enquanto que na região mais posterior do tubo neural não observamos a presença da proteína EMX2 (B). Da mesma forma, observamos a presença das proteínas OTX1 (vermelho) e AQP1 (verde) na região mais anterior (C) enquanto que na região mais posterior do tubo neural observamos somente a presença da proteína AQP1 (D). Hoechst indica em azul os núcleos celulares. Levando em consideração as características da padronização do tubo neural ao longo do eixo ântero posterior, elabore uma hipótese para explicar as diferenças observadas. O tubo neural é o precursor do sistema nervoso central (SNC), pois as suas células podem proliferar e se diferenciar em neurônios, células ependimárias e células da glia (astrócitos, oligodendrócitos e micróglia), que são as principais células que caracterizam esse sistema. Ele é formado a partir do dobramento da placa neural, uma espessa monocamada de células neuroepiteliais pseudoestratificadas e cilíndricas que formam o neuroectoderma. A formação dessa placa é induzida pelo organizador, que em humanos é conhecido como nó primitivo. Esse organizador é responsável pela secreção de substâncias neuralizantes antagonistas de Bmp, como Noggin, Chordin e Cerberus, que ao se ligarem a Bmp na matriz extracelular impedem que essa molécula, por sua vez, se ligue aos seus receptores para formar ectoderma cutâneo. Dessa forma, a ausência de sinalização de Bmp faz com que ocorra uma diferenciação do ectoderma de epitélio cúbico simples para epitélio cilíndrico pseudoestratificado. Além de promover uma sinalização antagonista de Bmp, o organizador consegue induzir a formação da placa neural por meio da secreção de outros fatores de crescimento como Fgf8 e Igf que fosforilam Smad 1,um fator de transcrição importante para a formação de ectoderma cutâneo, inativando-o, e com isso, induzem a formação de neuroectoderma. A partir da terceira semana do desenvolvimento, a placa neural formada passa por um processo de modelagem denominado de extensão convergente que a partir do alongamento cefalocaudal do embrião constitui uma porção cranial mais ampla latero-lateralmente, que dará origem ao futuro cérebro, e uma porção mais estreita caudalmente, que dará origem a medula espinhal. Após essa modelagem, a placa neural sofre um dobramento em que há projeção de dobras neurais constituídas de neuroectoderma e ectoderma cutâneo adjacente que irão delimitar o sulco neural. Por meio dos pontos de articulação dorsolaterais, as dobras neurais conseguem convergir uma em direção a outra e se fusionarem, promovendo o fechamento do sulco neural e a formação de um tubo oco, denominado de tubo neural. As células das dobras fusionadas formam duas camadas: a placa do teto do tubo neural e o ectoderma cutâneo. Entre essas camadas também há formação das células da crista neural, porém essas células terão um papel mais expressivo no desenvolvimento do sistema nervoso periférico. O processo de neurulação só tem sua conclusão com o fechamento dos neuroporos anterior e posterior, caracterizando uma neurulação secundária, sendo a primária caracterizada pela formação do tubo neural a partir da placa neural. Após a sua formação, o tubo neural é regionalizado e, então, subdividido em cérebro anterior (prosencéfalo), cérebro médio (mesencéfalo), cérebro posterior (rombencéfalo), que correspondem as vesículas encefálicas primárias, e medula espinhal. Essa regionalização é devido, principalmente, à inibição de Wnt, um morfógeno com capacidade difusa presente em maior concentração na região mais posterior do tubo neural. Essa inibição ocorre por meio da secreção de antagonistas dessa molécula como Cerberus e Dikkofpf 1 pelo organizador da cabeça na região mais anterior do tubo neural. Dessa forma, a região da medula espinhal permanecerá em monocamada, já que está na presença de uma elevada concentração de Wnt, enquanto que as regiões correspondentes as vesículas encefálicas primárias irão se espessar e sofrer uma série de diferenciações pré-determinadas, por exemplo, pela sinalização desencadeada pelos níveis de concentração de Wnt e Cerberus variáveis no ambiente em que se encontram. Ao longo da quinta semana do desenvolvimento, o prosencéfalo se divide em telencéfalo e diencéfalo; e o rombencéfalo se divide em metencéfalo e mielencéfalo, ao todo formando cinco vesículas encefálicas secundárias. Essas vesículas possuem regiões específicas e distintas ao longo do eixo ântero-posterior no tubo neural, sendo o telencéfalo o mais anterior e o mielencéfalo o mais posterior. Esse posicionamento é crucial para o desenvolvimento do sistema nervoso central e o seu funcionamento. Posteriormente a formação das vesículas secundárias, o telencéfalo se desenvolve e expande de tamanho comparado às demais vesículas encefálicas, sofrendo algumas flexuras e formando diversos sulcos para um desempenho cerebral aprimorado, já que ele é responsável por formar os dois hemisférios cerebrais. O diencéfalo dá origem ao tálamo, hipotálamo, glândula hipófise e vesícula óptica, sendo muito importante na resposta hormonal a estímulos. O mesencéfalo continua a se desenvolver, dando origem a colículos; anterior, mais voltado para o desenvolvimento visual, e posterior, mais voltado para o desenvolvimento auditivo. O metencéfalo dá origem à ponte e ao cerebelo, sendo importante para a coordenação da postura e movimento; e o mielencéfalo dá origem ao bulbo, importante para o controle respiratório do indivíduo. Com isso, além das funções distintas, as vesículas também apresentam diferentes características morfológicas, como a presença ou a ausência de ventrículos em sua estrutura. Existe, ainda, um outro sistema dentro do SNC que é responsável por produzir uma substância muito importante para sua proteção, sendo esse sistema denominado, então, de sistema ventricular. Ele é formado pelo canal neural das vesículas encefálicas secundárias e o líquido cefalorraquidiano que o preenche e confere proteção mecânica ao SNC em caso de traumatismos é importante para o homeostasia desse sistema. Esse líquido é produzido pelos plexos coróides existentes nos ventrículos laterais, no terceiro e quarto ventrículos, que são formados pelo epêndima e a pia-máter vascular adjacente. Os plexos coróides existem, então, no telencéfalo (ventrículos laterais), no diencéfalo (terceiro ventrículo) e no mielencéfalo (quarto ventrículo). Essas modificações morfológicas e funcionais específicas de cada uma das vesículas podem ser ocasionadas devido a um padrão diferente de expressão de proteínas, como OXT2, Fgf8, Gtx2, entre outros, auxiliando no seu desenvolvimento. Dessa forma, a figura analisa a expressão de proteínas das células dos plexos coróides que estão constituídos nos ventrículos laterais e no quarto ventrículo, existentes, respectivamente, no telencéfalo e no cérebro posterior (rombencéfalo/ mielencéfalo) ao longo do eixo ântero-posterior do tubo neural. As proteínas analisadas são o EMX2, o OXT1 e aAQP1. Podemos observar pela análise da marcação em vermelho que o EMX2 e o OXT1 são proteínas expressas na região dos plexos coróides do telencéfalo, mas não na região do plexo coróide do cérebro posterior. Já a AQP1 é uma aquaporina que está sendo expressa em ambos os plexos coróides, com isso, a AQP1 é, então, um possível marcador de plexos coróides de maneira não-específica, sendo crucial para o desempenho funcional dessas estruturas independente do seu posicionamento. Por estarem presentes somente na região do telencéfalo, podemos formular como hipótese que as proteínas, EMX2 e OXT1, são importantes para o desenvolvimento do telencéfalo e os genes que as codificam são relevantes para a identidade posicional dos seus respectivos plexos coróides desta região. Esses genes, provavelmente, são homeobox e por isso são expressos ao longo do eixo ântero-posterior do tubo neural apenas na porção mais anterior do tubo, que, por sua vez, corresponde a região do telencéfalo. O desenvolvimento dessa vesícula encefálica mais anterior pode ser análogo ao processo de segmentação dos somitos cuja identidade é controlada pelos genes Hox. Contudo, neste caso, seriam outros genes homeobox controlando a expressão dessas proteínas que iriam conferir especificidade ao desenvolvimento da vesícula encefálica correspondente ao telencéfalo. Com isso, as características de padronização do tubo neural ao longo do eixo ântero-posterior permitem que as vesículas encefálicas sejam diferentes morfológica e funcionalmente, sendo fundamentais para o desenvolvimento do sistema nervoso central. A posição de cada vesícula é crucial para que ocorra esse desenvolvimento sem anomalias e por isso a formação delas precisa de uma sinalização específica e controlada para cada região ao longo do eixo ântero-posterior do tubo neural a que correspondem. No caso do telencéfalo, essa sinalização poderia ser mediada pelas proteínas EMX2 e OXT1, observadas na figura, que poderiam atuar como fatores de transcrição para promover o desenvolvimento dessa vesícula em questão. REFERÊNCIAS 1. Machado. Angelo B.M. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo : Editora Atheneu, 2014. 2. Lun, Melody P et al. “Spatially Heterogeneous Choroid Plexus Transcriptomes Encode Positional Identity and Contribute to Regional CSF Production”. The Journal of Neuroscience: o jornal oficial da Society for Neuroscience vol. 35,12 (2015). 3. Junqueira, L.C; Carneiro, J. Histologia básica . 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. 4. ROJAS, Hugo; RITTER, Cristiane; PIZZOL, Felipe Dal. Mecanismos de disfunção da barreira hematoencefálica no paciente criticamente enfermo: ênfase no papel das metaloproteinases de matriz. Rev. bras. ter. intensiva, São Paulo , v. 23, n. 2, p. 222-227, jun. 2011. 5. SADLER, T.W. Langman Embriologia Médica. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 6. SCHOENWOLF, G. C.; BLEYL, S. B.; BRAUER, P. R.; FRANCIS-WEST, P. H. Larsen Embriologia Humana. 4 a edição, Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2010. 7. http://www.humanneurophysiology.com/neuroembriology.htm http://www.humanneurophysiology.com/neuroembriology.htm
Compartilhar