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Tutorial 6: Medo de contaminar 1) Estudar o transtorno Obsessivo-compulsivo, TOC. Um indivíduo com TOC pode ter uma obsessão, uma compulsão ou ambos. Uma OBSESSÃO é um pensamento, um sentimento, uma ideia ou uma sensação recorrentes ou intrusivos, ou seja, um evento mental. Já a COMPULSÃO é um comportamento consciente, padronizado e recorrente, como contar, verificar ou evitar. Um indivíduo com TOC percebe a irracionalidade da obsessão e sente que tanto ela quanto a compulsão são EGODISTÔNICAS (i.e., comportamentos indesejados). Apesar de poder ser realizado em uma tentativa de reduzir a ansiedade associada com a obsessão, o ato compulsivo nem sempre tem sucesso nisso e pode até aumentar a sua intensidade. A ansiedade também é aumentada quando uma pessoa resiste em executar uma compulsão. • EPIDEMIOLOGIA Prevalência na população em geral em torno de 2 a 3%. O TOC é o quarto diagnóstico psiquiátrico mais comum depois da fobia, de transtornos relacionados a substâncias e do transtorno depressivo maior. Homens e mulheres são comumente afetados. A idade média é por volta dos 20 anos. • COMORBIDADE A prevalência vitalícia de transtorno depressivo maior em pessoas com TOC é de cerca de 67%, e, de fobia social, de 25%. Outros são os transtornos por uso de álcool, transtorno de ansiedade generalizada, fobia específica, transtorno de pânico, transtornos alimentares e da personalidade. A incidência de TRANSTORNO DE TOURETTE (tiques múltiplos, motores ou vocais, que persistem por mais de um ano e geralmente se instalam na infância) em pacientes com TOC é de 5 a 7%, e de 20 a 30% dos pacientes com TOC têm história de tiques. • ETIOLOGIA ➢ FATORES BIOLÓGICOS SISTEMA SEROTONÉRGICO. Os muitos ensaios clínicos que foram conduzidos sustentam a hipótese de que a desregulação da serotonina está envolvida na formação do sintoma de obsessões e compulsões no transtorno. NEUROANATOMIA. Existem funções alteradas no circuito neural entre o córtex orbitofrontal, o caudado e o tálamo. Mostra-se atividade aumentada (p. ex., metabolismo e fluxo sanguíneo) nos lobos frontais, nos gânglios da base (especialmente o caudado) e no cíngulo de pacientes com TOC. GENÉTICA. Existe um componente genético significativo. Familiares com TOC consistentemente têm uma probabilidade 3 a 5 vezes maior de apresentar características de TOC. ➢ FATORES COMPORTAMENTAIS De acordo com teóricos da aprendizagem, as OBSESSÕES são estímulos condicionados. Um estímulo relativamente neutro se torna associado com medo ou ansiedade por meio de um processo de condicionamento replicante ao ser associado com eventos que sejam nocivos ou que produzam ansiedade. Assim, objetos e pensamentos que antes eram neutros se tornam estímulos condicionados capazes de provocar ansiedade e desconforto. COMPULSÕES são estabelecidas de maneira diferente. Quando descobre que determinada ação reduz a ansiedade associada a um pensamento obsessivo, uma pessoa desenvolve estratégias ativas de evitação, na forma de compulsões ou comportamentos ritualísticos, para controlar a ansiedade. ➢ FATORES PSICOSSOCIAIS FATORES DE PERSONALIDADE. O TOC difere do transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, que está associado com uma preocupação obsessiva com detalhes, perfeccionismo e outros traços semelhantes. A maioria das pessoas com TOC não tem sintomas compulsivos pré-mórbidos, e tais traços de personalidade não são nem necessários, nem suficientes para o desenvolvimento de TOC. Somente cerca de 15 a 35% dos pacientes com TOC têm traços obsessivos pré-mórbidos. • DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é representado por um grupo diverso de sintomas que incluem pensamentos intrusivos, rituais, preocupações e compulsões. Essas obsessões ou compulsões recorrentes causam sofrimento grave à pessoa. Elas consomem tempo e interferem em vários aspectos, como em sua rotina normal, em seu funcionamento ocupacional, em atividades sociais ou nos relacionamentos. OBSESSÕES e COMPULSÕES são as características essenciais do TOC. Uma ideia ou um impulso se impõem com insistência e de forma persistente na percepção consciente da pessoa. Por ex., pensamentos sobre contaminação (“Minhas mãos estão sujas”) ou dúvidas (“Esqueci de desligar o fogão”). Uma sensação de terrível ansiedade acompanha a manifestação central, e a característica-chave de uma compulsão é que ela reduz a ansiedade associada com a obsessão. A obsessão ou a compulsão são estranhas ao ego; ou seja, são sentidas como algo fora da experiência pessoal do indivíduo como ser psicológico. A pessoa que sofre das obsessões e compulsões, em geral, sente um forte desejo de resistir a elas. De acordo com DSM-V, pode-se caracterizar o paciente em relação aos INSIGHTS e se é relacionado a TIQUE. ➢ PADRÕES DE COMPORTAMENTO Os sintomas individuais de um paciente podem se sobrepor e mudar com o tempo, mas o TOC tem quatro padrões principais de sintomas. CONTAMINAÇÃO. O padrão mais comum, seguido de lavagem ou acompanhada de evitação compulsiva do objeto que se presume contaminado. O objeto temido costuma ser difícil de evitar (p. ex., fezes, urina, pó ou germes). Os pacientes podem literalmente arrancar a pele das mãos se lavando demais ou não conseguir sair de casa por medo dos germes. Apesar de a ansiedade ser a resposta emocional mais comum ao objeto temido, vergonha e nojo obsessivos também são frequentes. Indivíduos com obsessão por contaminação costumam acreditar que ela se espalha de objeto para objeto ou de pessoa para pessoa com mínimo contato. DÚVIDA PATOLÓGICA. O segundo padrão mais comum é uma obsessão de dúvida, seguida de uma compulsão por ficar verificando. A obsessão costuma implicar algum perigo de violência (p. ex., esquecer de desligar o fogão ou de trancar uma porta). PENSAMENTOS INTRUSIVOS. No terceiro padrão mais comum, há pensamentos obsessivos intrusivos sem uma compulsão. Tais obsessões costumam ser pensamentos repetitivos de um ato agressivo ou sexual repreensível para o paciente. SIMETRIA. O quarto padrão mais comum é a necessidade de simetria ou precisão, que pode levar a uma compulsão de lentidão. OUTROS PADRÕES DE SINTOMAS. Obsessões religiosas e acúmulo compulsivo são comuns em pacientes com TOC. Puxar o cabelo e roer as unhas de maneira compulsiva são padrões comportamentais relacionados ao TOC. A masturbação também pode ser compulsiva. • CURSO E PROGNÓSTICO Mais de 50% dos indivíduos com TOC têm um início súbito dos sintomas. 50 a 70% deles ocorre após um evento estressante. O curso costuma ser longo e variável; alguns pacientes passam por um curso flutuante, e outros passam por um constante. Cerca de 20 a 30% dos pacientes apresentam grande melhora dos sintomas, e 40 a 50% têm melhora moderada. Os 20 a 40% restantes continuam doentes, ou seus sintomas pioram. Em torno de um terço dos pacientes com TOC tem transtorno depressivo maior, e o suicídio é um risco para todos os que apresentam TOC. Um PROGNÓSTICO RUIM é indicado por: ceder (em vez de resistir) às compulsões, início na infância, compulsões bizarras, necessidade de hospitalização, um transtorno depressivo maior coexistente, crenças delirantes, presença de ideias supervalorizadas (i.e., alguma aceitação das obsessões e das compulsões) e presença de um transtorno da personalidade (especialmente da personalidade esquizotípica). Um BOM PROGNÓSTICO é indicado por bom ajuste social e ocupacional, presença de um evento precipitante e pela natureza episódica desses sintomas. • TRATAMENTO INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA. Embora os ISRSs possam causar perturbação do sono, náusea e diarreia, dores de cabeça, ansiedade e inquietação, esses efeitos adversos costumam ser transitórios, causando menos trabalho do que os efeitos adversos associados com as drogas tricíclicas, tais como clomipramina.Os melhores desfechos clínicos ocorrem quando os ISRSs são usados em combinação com terapia comportamental. CLOMIPRAMINA. De todas as drogas tricíclicas e tetracíclicas, a clomipramina é a mais seletiva para recaptação de serotonina versus recaptação de norepinefrina, sendo excedida nisso apenas pelos ISRSs. A potência de recaptação de serotonina da clomipramina é excedida apenas pela sertralina e pela paroxetina. OUTRAS DROGAS. muitos terapeutas aumentam a primeira droga com a adição de valproato (anticonvulsivantes e estabilizador de humor), lítio ou carbamazepina (anticonvulsivante). 2) Estudar as características da personalidade obsessiva. Personalidade refere-se a todas as características de adaptação de formas únicas a ambientes internos e externos em constante modificação. Transtornos da personalidade são comuns e crônicos. Eles ocorrem em 10 a 20% da população em geral, e sua duração é expressa em décadas. Aproximadamente 50% de todos os pacientes psiquiátricos apresentam um transtorno da personalidade, com frequência comórbido com outras síndromes clínicas. De modo geral, os sintomas de transtorno da personalidade são egossintônicos (i.e., aceitáveis ao ego, em contraste com egodistônicos) ealoplásticos (i.e., adaptam-se ao tentar alterar o ambiente externo em vez de a si mesmos). • SUBTIPOS Os subtipos de transtorno da personalidade classificados no DSM-5 são: GRUPO A: esquizotípico, esquizoide e paranoide. Características estranhas ou de afastamento. GRUPO B: narcisista, borderline, antissocial e histriônico. Características dramáticas, impulsivas ou erráticas. GRUPO C: obsessivo-compulsivo, dependente e evitativo. Características de ansiedade e medo. • TRANSTORNO DA PERSONALIDADE OBSESSIVO-COMPULSIVA É caracterizado por constrição emocional, organização, perseverança, teimosia e indecisão. A característica essencial do transtorno é um padrão global de perfeccionismo e inflexibilidade. O DSM-5 relata uma prevalência estimada de 2 a 8%. O transtorno é mais comum em homens e é mais observado em parentes biológicos em primeiro grau de pessoas com o transtorno do que na população em geral. ➢ DIAGNÓSTICO Em entrevistas, pacientes com transtorno da personalidade obsessivo- compulsiva podem ter uma atitude formal, rígida, distante. Seu afeto não é embotado nem plano, mas pode ser descrito como constrito. Não demonstram espontaneidade, e seu humor costuma ser sério. Esses pacientes podem ficar ansiosos por não estarem no controle da entrevista. Suas respostas a perguntas apresentam detalhamento incomum. Os mecanismos de defesa que usam são racionalização, isolamento, intelectualização, formação reativa e anulação. O curso é variável e imprevisível. De tempos em tempos, o indivíduo pode desenvolver obsessões ou compulsões. Alguns adolescentes se tornam adultos afetuosos, abertos e simpáticos; em outros, o transtorno pode ser o prenúncio tanto de esquizofrenia quanto – décadas mais tarde e exacerbado pelo processo de envelhecimento – de transtorno depressivo maior. ➢ TRATAMENTO FARMACOTERAPIA. Clonazepam, um benzodiazepínico com uso anticonvulsivante, reduziu os sintomas em pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo. Clomipramina (tricíclico) e agentes serotonérgicos como fluoxetina, normalmente em dosagens de 60 a 80 mg ao dia, podem ser úteis se sinais e sintomas obsessivo-compulsivos se manifestarem. 3)Psicopatologia (pensamento, afetividade, volição). • PENSAMENTO SEM DELÍRIO O pensar está relacionado à antecipação de acontecimentos, à construção de modelos da realidade e simulação do seu funcionamento. Os atributos intelectivos fundamentais que sustentam o pensamento são: a compreensão intelectual (apercepção), a ideação, a imaginação e a associação de representações e ideias. As atividades fundamentais do pensamento são: a elaboração de conceitos (céu e azul), a formação de juízos (céu é azul) e o raciocínio (céu é azul, portanto, não é branco). Os aspectos do pensamento são: curso (velocidade e ritmo), forma (estrutura) e conteúdo (temática). ➢ ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS: curso (aceleração – o pct fala mais rápido/ alentecimento – o pct fala mais devagar/ interrupção – o pct para abruptamente de falar). QUALITATIVAS: forma (fuga de ideias – o pct tem variação rápida e incessante de tema, com preservação da coerência do relato e da lógica na associação de ideias/ desagregação – perda do sentido lógico na associação de ideias/ prolixidade – um discurso repleto de detalhes irrelevantes, o que o torna tedioso/ minuciosidade – discurso com um número excessivo de detalhes relevantes/ perseveração – recorrência excessiva e inadequada no discurso do mesmo tema, ou uma dificuldade em abandonar determinado tema) e conteúdo (concretismo – discurso pobre em conceitos abstratos, em metáforas e analogias.; ideias delirantes, deliroides e sobrevaloradas). No TOC, o pensamento é minucioso, com a presença de ideias obsessivas. • PENSAMENTO COM DELÍRIO O delírio constitui uma alteração relacionada à formação de juízos. Através dos juízos, discernimos a verdade do erro. Através do juízo de realidade, distinguimos o que é real do que é fruto de nossa imaginação. O delírio constitui uma vivência individual, idiossincrática. Todo delírio é de certa forma autorreferente, no sentido de que o seu conteúdo está direta ou indiretamente relacionado ao enfermo. O DELÍRIO PRIMÁRIO é a ideia delirante autêntica. Ele é autóctone, isto é, não deriva de nenhuma outra manifestação psíquica patológica. O DELÍRIO SECUNDÁRIO também é chamado ideia deliroide. Ele se origina de forma compreensível psicologicamente de outras manifestações psíquicas patológicas, tais como alterações do humor, da sensopercepção e da consciência. Nos DELÍRIOS SISTEMATIZADOS, há uma maior coerência interna entre as ideias, uma maior organização e consistência. Os DELÍRIOS NÃO SISTEMATIZADOS são fragmentários, caóticos, desarticulados e sem concatenação. • AFETIVIDADE Os afetos consistem em estados psíquicos subjetivos que se caracterizam pela propriedade de serem agradáveis ou desagradáveis. Os afetos possuem pelo menos quatro componentes: (1) a avaliação subjetiva – o indivíduo se dá conta de que está alegre, por exemplo; (2) as crenças cognitivas – ele atribui sua alegria à ocorrência de um determinado evento positivo; (3) os processos fisiológicos – as alterações viscerais; e (4) a expressão afetiva – mímica, gestos, postura e prosódia, que têm a finalidade de comunicar aos outros como aquele indivíduo está se sentindo. O conceito de afetividade abrange as emoções, os sentimentos, as paixões e o humor. EMOÇÃO. em geral representa um estado afetivo súbito, de curta duração e grande intensidade, que é acompanhada de alterações corporais, relacionadas a uma hiperatividade autonômica. SENTIMENTO. Esse termo em geral se refere a um estado afetivo menos intenso e mais prolongado que as emoções, e sem as alterações fisiológicas encontradas nestas. Talvez se possa dizer que os sentimentos resultem de um processamento cognitivo maior do que haveria nas emoções. PAIXÃO. intensidade das emoções, porém uma duração maior. Elas monopolizam e direcionam os pensamentos e ações do indivíduo. HUMOR. estado de ânimo, representa um somatório ou síntese dos afetos presentes na consciência em um dado momento. ➢ ALTERAÇÕES Exaltação afetiva corresponde a um aumento da intensidade ou duração dos afetos, ou a uma reação afetiva desproporcional em relação à situação ou ao objeto que a motivou. Embotamento afetivo significa diminuição da intensidade e da excitabilidade dos afetos, sejam eles positivos ou negativos. A labilidade afetiva constitui uma dificuldade no controle dos afetos. A incontinência afetiva consiste num distúrbio da regulação afetiva mais grave que a labilidade. Há uma perda completa da capacidade de controleda expressão afetiva. A rigidez afetiva caracteriza-se por uma perda da capacidade de modular a resposta afetiva de acordo com a situação de cada momento. A paratimia caracteriza-se por uma inadequação do afeto: uma incongruência entre o afeto expresso e a situação vivenciada, ou entre o afeto expresso e aquilo que o indivíduo verbaliza. A ambitimia representa a presença de sentimentos opostos ou contraditórios que são simultâneos e que se referem ao mesmo objeto, pessoa ou situação. A neotimia consiste em uma vivência inteiramente nova, extravagante e inusitada. São afetos qualitativamente diferentes de todos os que o paciente havia experimentado em sua vida. • VOLIÇÃO Processo volitivo (intenção, análise, decisão e execução). Hipobulia ou abulia é diminuição e abolição da vontade. Enfraquecimento de impulsos específicos consiste em distúrbios como a diminuição ou perda do apetite (anorexia), da sede e da libido, além de insônia, representam um enfraquecimento dos impulsos, um debilitamento das tendências naturais à satisfação das necessidades corporais. Hiperbulia caracteriza-se por um sentimento subjetivo de força, de energia, de disposição; observa-se um aumento da iniciativa, da espontaneidade e do interesse em relação ao mundo externo; costuma haver desinibição e aumento da psicomotricidade. Intensificação de impulsos específicos consiste em distúrbios como bulimia, patomania, hipersonia e satiríase/ninfomania. Os atos impulsivos caracterizam-se por serem súbitos, incoercíveis e incontroláveis. São atos desprovidos de finalidade consciente. Os atos compulsivos são atos que o indivíduo se sente compelido a realizar. Os comportamentos de automutilação e suicida podem ser considerados desvios dos impulsos de autopreservação. A alotriofagia representa um desvio dos impulsos de nutrição, uma perversão do apetite, como se chamava antigamente. Consiste na ingestão de coisas estranhas ou inadequadas. Por exemplo: comer animais repugnantes. As parafilias (perversões sexuais) constituem um desvio do comportamento sexual. A ambitendência também é denominada ambivalência volitiva. Consiste numa incapacidade para decidir, em função da presença na consciência de tendências volitivas opostas. Por exemplo, querer ficar perto de alguém e, ao mesmo tempo, não querer, e temer tal aproximação. O negativismo consiste numa resistência não deliberada, imotivada e incompreensível às solicitações externas.
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