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Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT Sinop – Turma 3 Psiquiatria Transtornos bipolares O transtorno afetivo bipolar (TAB) é uma doença grave, crônica, em que se alternam episódios depressivos (com ou sem sintomas psicótico) e episódios de mania ou hipomania. O transtorno é dividido em 3 grupos: tipo 1(mania), tipo 2 (hipomania) e as formas subclínicas da doença. As alterações que ocorrem no transtorno comprometem o humor, a energia, a atividade, o sono, a cognição e o comportamento. O inicio normalmente ocorre no final da adolescência e inicio da idade adulta e tem elevada associação com suicídio. O tipo 1 não tem diferença de sexo e o tipo II ocorre mais em mulheres. Além disso, os episódios depressivos em pacientes com TB são mais graves do que aqueles com depressão unipolar. Etiologia Existem muitos fatores que influenciam no desenvolvimento da doença. Dentre eles encontra-se genética, neuroanatomia, neuropsicologia, bioquímica e ambiente. Genética ➔ a TB apresenta alta herdabilidade, chegado a 80 e 85%. Possui alguns genes candidatos a responsáveis por essa herança, como BDNF, DAOA, etc. Neurobiologia ➔ os sintomas afetivos, cognitivos e neurovegetativos do TB originam-se de alterações anatômicas, neuroquímicas ou metabólicas em um circuito neural que envolve o corpo estriado, o tálamo e a córtex pré- frontal, além da participação de estruturas límbicas (como a amígdala e o hipocampo) e do cerebelo. Neurotransmissores ➔ a depressão é resultado da diminuição de neurotransmissores na fenda sináptica e a mania é decorrente do aumento dos mesmos. Marcadores periféricos ➔ ocorre aumento da quantidade de citocinas pro-inflamatórias em todas as fases de TB. Apresentação clinica Episódio depressivo Sintomas que podem aumentar a suspeita de transtorno bipolar: • Início em idade precoce • Alta recorrência dos episódios • História familiar de TAB • Depressão com sintomas psicóticos • Agitação psicomotora • Depressão com sintomas atípicos (hipersonia, hiperfagia, tentativas previas de suicídio, paralisia em chumbo, depressão pôs parto com psicose e mania ou ciclagem rápida induzidas por antidepressivos) Existem alguns subtipos de depressivos, como: Melancólico → anedonia absoluta, humor não reativo a estímulos, insônia terminal, piora matutina, diminuição do apetite, perda de peso e retardo psicomotor. Atípico → humor reativo, extrema sensibilidade a rejeição interpessoal, aumento do apetite e do peso, hipersônia e paralisia em chumbo. Psicótico → depressão acompanhada da ocorrência de sintomas psicóticos (delírios ou alucinações) que podem ou não ser congruentes com o humor. Episódio maníaco tipo 1: • Humor eufórico, elevado, expansivo, irritado, lábil • Comportamento de risco, desinibido, expansivo, sem consideração pelos limites sociais • Aumento importante da energia e do nível de atividade • Impulsividade • Excessiva autoconfiança / autoestima • Prejuízo dos julgamentos, desconsideram riscos • Excessiva autoconfiança / autoestima • Prejuízo nos julgamentos, desconsideram os riscos • Busca constante por atividades sociais e estímulos • Assumir vários compromissos e não os terminar • Diminuição da concentração, distração, confusão • Pressão do discurso • Pensamento arborizado • Sintomas psicóticos (delírios e alucinações), alucinações de conteúdo religioso ou de muito poder • Pensamento descarrilhado, fuga de ideias • Fala em tom de voz elevado, de difícil interrupção, acompanhada de cantos, piadas ou colocações dramáticas • Insônia ou diminuição do sono reduzida Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT Sinop – Turma 3 • Hiperssexualidade Crianças: • Felicidade, tolice, estupidez • Supervalorização das capacidades • Preocupações sexuais • Planos impossíveis (normalmente não são condizentes com o desenvolvimento da criança) Projetos novos: criam muitos projetos sem ter ideia de como vão realiza-los. Insônia x redução das necessidades → o paciente acha que não precisa dormir, que não tem necessidade. Aumento da sociabilidade → ele sempre quer falar mais do que os outros. Sem autopatognose → não reconhece que ele está doente. Inicio: 18 anos. Quem teve 1 episódio maníaco o risco de a pessoa ter qualquer outro transtorno de humor chega a 90%. Risco de suicídio: • 15 vezes maior • ¼ dos suicídios Hipomania tipo 2 Semelhante ao quadro maníaco porem sem os sintomas psicóticos e de menor gravidade. A duração e a gravidade desses episódios não são suficientes para causar um prejuízo funcional ou uma internação. • Humor exaltado, confiante, irritável • Aumento da velocidade do pensamento, mas sem a perda da coerência, nos nexos ou presença de delírios ou alucinações • Diminuição das horas de sono • Excesso de energia e autoconfiança • Hipersexualidade • Impulsividade • Não chega a apresentar pensamento de conteúdo tão grandioso • Pensamento menos desorganizado • Maior produtividade em algumas tarefas • Não requerem hospitalização Normalmente é improvável que se queixe apenas da hipomania, indo aos consultórios se queixando de algum transtorno depressivo. O transtorno bipolar tipo 2 NÃO É MAIS LEVE. Na verdade, ele tem sintomas depressivos muito intensos que podem ser comparados (com relação ao prejuízo pessoal) ao tipo 1. O que acontece é que os sintomas de humor, expansivos são mais ‘leves’ no tipo 2, apenas isso. Os transtornos bipolares tipo 2 possuem maior cronicidade, com fases depressivas piores. Em pacientes que tem depressão refrataria podemos suspeitar de T. bipolar. Média de idade: 25 anos. 5 a 15% apresentam ciclagem rápida, ou seja: 4 ou mais episódios de humor em 12 meses. Além disso, 5 a 15% desenvolvem mania e passam a ter transtorno tipo 1. Suicídio: 1/3 dos pacientes tentam e o tipo 2 tem maior letalidade do que o tipo 1. Estado misto Presença simultânea de sintomas maníacos e depressivos • Humor disforico alternado com elação do humor • Aceleração do pensamento • Grandiosidade • Ideação suicida • Delírios persecutórios • Alucinações auditivas • Insônia • Agitação psicomotora • Hipersexualidade Mania ou hipomania + pelo menos 3 sintomas depressivos ou episódio depressivo + 3 sintomas maníacos na maior parte dos dias. Cuidado: esses pacientes estão sob risco maior de comportamento suicida, transtornos ansiosos e transtornos por uso de substancias. Ciclotimia Perturbação crônica e flutuante do humor, no qual o paciente apresenta, ao longo de pel menos dois anos, períodos de sintomas hipomaníacos e depressivos com prejuízo significativo em alguma esfera da vida e breves intervalos livres de sintomas. Ciclagem rápida Ocorrência de 4 ou mais episódios maníacos ou depressivos em um período de doze meses. Alguns fatores precipitantes estão relacionados a ciclagem rápida como uso de antidepressivos e uso abusivo de álcool e outras substancias. Abordagem diagnóstica História psiquiátrica bem colhida + exame psíquico e exame físico. Importante destacar causas clinicas e uso de substancias. Se possível colher informações com familiares e também cuidadores Avaliar sempre o risco de suicídio, agressividade, violência e sinais de catatonia. Procurar também por transtorno comórbidos. Exames de rotina: • Hemograma completo • Função hepática (avaliar a melhor droga a ser passada) Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT Sinop – Turma 3 • Função renal (avaliar a melhor droga a ser passada e tomar cuidado com intoxicação por lítio) • Função tireoidiana (diagnóstico diferencial com mania ou depressão – seguimento: lítio pode alterar a função tireoidiana) Critérios diagnósticos DSM V Transtorno Bipolar tipo 1 Obrigatoriamente deve ter um episódio maníaco, o qual se manifesta como: A. HUMOR: anormal, elevado, expansivo,irritável, aumento de atividade dirigida a objetivos ou energia a. Duração de uma semana b. Presente na maior parte do dia B. Durante humor perturbado, 3 ou mais dos seguintes sintomas devem estar presentes (4 se apenas humor irritável): a. Autoestima inflada ou grandiosidade b. Redução da necessidade de sono (3 horas bastam) c. Mais loquaz (fala mais alto, em maior quantidade, mais formal...) d. Fuga de ideias ou pensamentos acelerados e. Distratibilidade (paciente não consegue se concentrar pois tudo chama a sua atenção) f. Aumento da atividade dirigida a objetivos (profissionais, sociais ou sexuais) ou agitação psicomotora g. Envolvimento excessivo em atividades que podem trazer consequências dolorosas. C. Transtorno (deve causar algum prejuízo para si próprio ou para pessoas ao redor) D. Outra condição ou substancia não explicam os sintomas. Depressão sem doença → bipolaridade Episódio hipomaníaco O tipo 1 apresenta mais hipomania do que o tipo 2. O que difere o tipo do transtorno de bipolaridade é que pra ser tipo 2 não deve existir mania, nesses casos o paciente teve depressão, hipomania e nenhuma indicio da mania. Já o tipo 1 obrigatoriamente deve ter mania somado a qualquer outro sintoma. Hipomania não exclui tipo 1 e nem o tipo 2, porem a mania exclui o tipo 2. Critérios diagnósticos: A. HUMOR: igual ao da mania, porem com duração de 4 dias consecutivos, presentes na maior parte do dia, quase todos os dias. B. Igual a mania porem menos graves C. Mudança clara no funcionamento normal do indivíduo. D. Alterações do humor e do funcionamento são observáveis por outras pessoas E. o episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização. Existindo características psicóticas, por definição, o episódio é maníaco. F. O episódio não é explicado por qualquer substancia ou condição medica Episódio depressivo maior A. 5 ou mais dos seguintes sintomas devem estar presentes por um mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior. Pelo menos 1 dos sintomas é o humor deprimido ou perda de interesse ou prazer. a. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias b. Diminuição de interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias c. Perda ou ganho significativo de peso sem algo que explique, como dieta ou exercício físico d. Insônia ou hipersonia e. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias f. Fadiga ou perda de energia g. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva h. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar i. Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida ou tentativa de. B. Os sintomas causam sofrimento clinico significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outra área importante da vida. C. Não é atribuído a outra condição clinica ou substancia. Transtorno bipolar tipo 2 Para diagnosticar transtorno bipolar tipo 2, é necessário obrigatoriamente: • Um episódio hipomaníaco • Um episódio depressivo maior • Jamais houve episódio maníaco • A ocorrência de episódio hipomaníaco e depressivo maior não é explicada por outra condição medica. Bruna Oliveira de Paula – Medicina UFMT Sinop – Turma 3 • Os episódios de depressão ou imprevisibilidade causada por alternância frequente entre episódios de depressão e hipomania causam sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outra área importante da vida do indivíduo. Transtorno ciclotinico Critérios diagnósticos A. Vários sintomas hipomaníacos e sintomas depressivos por 2 anos sem fechar critérios de nenhum B. Metade do tempo sem remissão C. Sem fechar critérios (depressão, mania ou hipomania) Comorbidades Transtorno por uso de álcool, transtornos ansiosos, alimentares, TDAH, TOC, TEPT, TP, etc. Acompanhamento Indicações de internação • Risco de suicídio • Falta de crítica e não adesão ao tratamento medicamentoso • Comportamento fracamente desorganizado / sintomas francamente psicóticos • Auto ou heteroagressividade (risco ao paciente e a terceiros) Abordagem terapêutica Abordagem multidisciplinar e longa data esta indicada. São indicadas intervenções psicossociais durante as fases depressiva e de manutenção. Dentre as possibilidades são mais recomendadas a psicoeducação, a terapia cognitivo- comportamental, terapia de família, terapia interpessoal além de apoio social. Estabilizadores de humor São fundamentais em todas as fases de tratamento • Lítio ➔ melhor estabilizador de humor na profilaxia de TB1. A coleta de sangue deve ser feita após 4 a 7 dias após o inicio do tratamento e após 10 a 14 horas de jejum. A litemia deve ser repetida sempre que houver duvida sobre a eficácia, toxicidade e adesão. Possui como contraindicações absolutas problemas cardíacos como arritmias, IAM, insuficiência renal e psoríase. • Acido valproico ➔ primeira opção alternativa do lítio. • Carbamazepina ➔ eficácia maior em mania disfórica e ciclagem rápida. Opção em casos menos graves. • Lamotrigina Antipsicóticos ➔ também estão indicados. Podem ser usados em conjunto com os estabilizadores de humor nas fases agudas. Antidepressivos ➔ devem ser evitados pois podem induzir episódios de mania ou hipomania. Seu uso é reservado quando as estratégias de primeira linha não são eficazes no tratamento ou na profilaxia dos episódios depressivos. Há preferência pelos ISRS ou bupropiona. Além desses citados, podem ser usados BZD, ECT e TCC.
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