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Mirian Cardinot da Silva Med. Veterinária -UFRRJ- Introdução: Descrita na Hungria em 1907 pelo Médico Veterinário Jozsef Marek, a doença de Marek (DM) adquiriu grande importância durante o século XX com o crescimento da avicultura. É uma doença que causa câncer em aves, atuando em vários sistemas. Por muito tempo foi confundida com Leucose Aviária por apresentar lesões semelhantes, apesar de aparecer em idades distintas. É caracterizada pela infiltração de células mononucleadas em vários órgãos (fígado, baço, intestino, coração, pele, nervos periféricos e a íris dos olhos.) A doença é imunossupressora, sento seu controle de extrema importância, para a inibição do aparecimento de outras doenças, além de evitar o descarte das carcaças por conta da presença de tumorações. Os estudos da DM em galinhas, permitiu o avanço no conhecimento das doenças tumorais em animais e têm servido de modelo para estudos de alguns tipos de câncer em casos humanos. Tal patologia, foi a primeira doença tumoral prevenida por vacinação na medicina. Agente Etiológico: Família : Herpesvírus – GaHV-2 ; Subfamília: Alphaherpesvirinae Gênero: Mardivirus; O GaHV-2 é classificado em três grupos distintos, denominados como sorotipos 1, 2 e 3. O sorotipo I contém todas as estirpes patológicas, enquanto as estirpes do sorotipo 2 não são patogênicas. Sorotipo 3 , Herpesvírus de peru (HVT) apatogênicos para galinhas, são usados desde os anos 70 como cepa de vacinação de doença de Marek. Sobre as cepas: as mais patogênicas não são vistas no Brasil. Existiram apenas em 3 estados norte-americanos, mas os casos foram controlados com vacinas e descarte de planteis infectados. Mirian Cardinot da Silva Med. Veterinária -UFRRJ- A vacinação ocorre aos 18 dias de vacinação (seja animais de postura ou para corte) ou quando eclode no primeiro dia de vida. Distribuição: Mundial. Atualmente, o aparecimento da doença está relacionado a falhas vacinais ou erro de diluição da vacina. A doença é bem controlada com vacinação , no mundo não existe plantes que não seja vacinado para tal patologia; Epidemiologia: Hospedeiro natural: Trata-se de uma doença que acomete apenas galinhas domésticas. Ciclo : Quando falamos sobre o ambiente em que vivem as galinhas e o ambiente dos plantéis, temos que ter em mente que este é extremamente contaminado, inclusive com o vírus da doença de Marek. A infecção dos animais sempre ocorre. Antes da vacina: O vírus se multiplicava no ambiente, os animais que não adoeciam criavam anticorpos e passavam para a prole. Os primeiros anticorpos passivos apareciam na primeira semana e os ativos a partir da sexta semana, ou seja, a contaminação do ambiente ocorria bem antes e geralmente não era percebida. As lesões macroscópicas, só aparecem a partir de 42 dias. Porém, a idade de abate das aves é anterior a este período, o que fazia a doença não ser percebida na inspeção post-mortem desses animais. Por que o vírus fica o tempo todo no ambiente? Isso ocorre, uma vez que, o vírus faz um ciclo não patogênico de infecção: O vírus de Marek se replica no epitélio folicular da ave e é disseminado no ambiente atráves da descamação de células epiteliais infectadas que combinam com a poeira ambiental, onde o vírus pode sobreviver por longos períodos. A poeira contaminada pode acumular nas roupas, calçados, ovos e materiais de embalagem. Ela se dispersa no ar com bastante velocidade e assim, serve de veículo para transmissão do vírus. Ciclo patogênico: A infecção ocorre quando o animal inala ar contaminado com poeira ou células da descamação. Nos capilares aéreos pulmonares, a poeira é fagocitada pelos macrófagos e ocorre a infecção deste. O vírus livre e /ou os macrófagos infectados entram em circulação e transfere infecção para os linfócitos B no baço e na bolsa cloacal ( de Fabricius), isso leva em grave destruição de LB nesses órgãos e consequente imunossupressão. Mirian Cardinot da Silva Med. Veterinária -UFRRJ- Na fase inicial, a replicação com a lise de linfócitos se estende para os LT no timo. Nesta fase de infecção a atrofia do timo, baço e da Bursa pode ser identificada pela macroscopia e histopatologia destes órgãos. A viremia persiste e permite que, nos linfócitos T (do timo), ocorra a integração do genoma GaHV-2 no genoma celular, resultando em transformação dos linfócitos T ativos em linfócitos T neoplásicos É importante ressaltar que, a infecção sempre ocorre na doença de Marek, o ambiente é sempre contaminado o que controla a patogenia é a vacinação, que impede que o vírus transforme as células T em células tumorais. *Caso o vírus fizesse apenas o ciclo não patogênico, há mesmo assim uma problemática nisto. Pois se a ave apresentar uma carga muito grande de outros patógenos, só a infecção pode levar a uma leva imunossupressão. Desta forma, as granjas possuírem um bom sistema de bioseguridade é de extrema importante para que se evite o comprometimento da sanidade avícola. Mirian Cardinot da Silva Med. Veterinária -UFRRJ- Sintomas e Lesões: O fato de o vírus possuir inúmeras cepas, faz com que se tenha sintomatologias diferentes. Forma Neural (Clássica): É caracterizada por paralisias tipicamente unilaterais , com aspecto de ‘’bailarina’’, decorrentes da infiltração dos linfócitos T transformados nos nervos, além de processo inflamatório e de progressão crônica com letalidade moderada (até 30%). As alterações clínicas típicas ocorrem após as infiltrações linfoblásticas em nervos periféricos (causando perda e degeneração axonal), principalmente os de maior calibre, como os nervos ciático (Fig. 2), braquial, vago e intercostais. Os plexos dos nervos braquiais e ciáticos também são frequentemente acometidos. *ATENÇÃO! Botulismo pode causar paralisia flácida periférica podendo confundir; porém não se tem sintomatologia clínica de ‘’bailarina.’’ *Lesões no nervo vago, fazem com que, a ave apresente um posicionamento baixo de cabeça,. Porém, este quadro é mais comum em casos de botulismo. Mirian Cardinot da Silva Med. Veterinária -UFRRJ- As paralisias de MD no membro posterior podem resultar na posição de perna estendida, tipicamente unilateral ‘’bailarina’’ por infiltrações tumorais no nervo ciático. Podem também estar paralisadas as asas, os músculos intercostais, a região lombar e os órgãos inervados pelo vago. Essa forma, resulta em processo crônico de emagrecimento e fraqueza, em parte resultantes da dificuldade de locomoção para alimentação. Forma Visceral (Aguda): Apresentação de tumores nas vísceras, era muito confundida com leucose aviária. É de emergência mais rápida e mais grave, com impacto de morbidade e mortalidade altas, que resultam de infiltração tumoral disseminada para órgãos vitais. Pode surgir precocemente, desde 7-8 semanas de idade. Surtos estão mais frequentemente relacionados com a formação de tumores múltiplos e difusos nos órgãos viscerais, possivelmente relacionados com o surgimento de amostras mais virulentas do vírus, causando maior incidência da doença. Fig.3 - cevaworls doença de marek (ed.especial) *Obs.: . A forma aguda , de forma geral é caracterizada por alta mortalidade, palidez da crista e patas, letargia, perda de peso e queda de postura. Pode ocorrer cegueira por lesões envolvendo a íris Mirian Cardinot da Silva Med. Veterinária -UFRRJ- Forma ocular: leva à infiltração linfocitária da íris, anisocoria e cegueira. Forma cutânea: quando existe falha vacinal, aparece mais rápida do que a forma visceral aguda, podendo ser encontrada em abatedouros de inspeção, principalmente os federais. As outras formas, por aparecerem tardiamente praticamente nunca são encontradas em abatedouros. A anamnese é sempre fundamental; Necropsia: Lesões unilaterais, aumento do plexo do nervo ciático e o próprionervo (3 a 4 x do tamanho normal). No círculo temos a figura de um plexo do nervo ciático, afetado. Mirian Cardinot da Silva Med. Veterinária -UFRRJ- Na imagem ao lado temos a forma visceral, que se caracteriza pelo aparecimento de nódulos de diversos órgãos – como há comprometimento da carcaça neste caso ela é TOTALMENTE descartada. Pode-se ter também uma hipertrofia do fígado, com lesões esbranquiçadas, como mostra a figura ao lado. O aumento do baço, também é característico. Na imagem ao lado temos em vermelho um baço normal, quando comparado com o baço aumentado este pode ser 4 a 5x maior. Na histologia irá ser observado células tumorais. Fígado hipertrófico, acometido por doença de Marek - diagnóstico diferencial com: leucose aviária (correlacionar com idade da ave), tuberculose aviária etc. Mirian Cardinot da Silva Med. Veterinária -UFRRJ- Forma ocular: Bastante rara nos dias atuais. A ave pode desenvolver uma cegueira uni ou bilateral. Ocorre uma lesão, caracterizada por uma descolorização da íris ( apresentada no círculo verde da imagem.) A imagem ao lado, trata-se de uma ave com doença de Marek em sua manifestação cutânea. Observa-se uma hipertrofia do folículo da pena (parece micro tumores) Tumor em músculo peitoral (raro). Algumas vezes pode ocorrer tumor nas gônadas. Mirian Cardinot da Silva Med. Veterinária -UFRRJ- Marek e Imunosupressão: A doença em questão, é imunosupressora pois acomete a Bolsa de Fabricius, onde ocorre a maturação de linfócitos B + a realização de respostas imunes. Ela se encontra dorsalmente á cloaca. Ao lado temos duas bolsas de Fabricius, uma de uma ave normal e a outra de uma ave infectada Marek (em amarelo). Observe a diferença de tamanho entre os dois órgãos, além de estar atrofiado o orgão está bastante hemorragico e edematoso. Mesmo que ave não desenvolva o ciclo patogênico da doença, a sua infecção causa esse tipo de alteração, levando a uma imunodepressão, que apesar de leve, pode acarretar sérios danos a produção. Dessa forma, é extremamente necessário o desenvolvimento de um programa eficaz de biosseguridade nas granjas. Mirian Cardinot da Silva Med. Veterinária -UFRRJ- Histopatolgia: Corte de nervo – na área central mais encura, pode-se observar células mononucleares, que leva ao aparecimento da doença. Ao lado , pode- se ver infiltração de células tumorais de natureza linfoide nos nervos periféricos, o que não se verifica na leucose aviária. Diagnóstico: Clínico - (detectável apenas na forma neural da doença); Lesões - podem dar um diagnóstico preseuntivo, principalmente se acontecerem antes da maturidade sexual. Marek se confunde muito com Leucose, só que a última, só ocorre após a maturidade sexual; Histopatologia: lâminas com características vistas acima; Isolamento Viral , Demostração de Anticorpos e Antígenos – é um obstáculo, uma vez que, todas as aves são vacinadas. Dessa forma, não se tem como saber se o positivo é por conta da vacina ou de uma possível infecção. (Pode-se utilizar biologia molecular) Mirian Cardinot da Silva Med. Veterinária -UFRRJ- Prevenção e Controle: Biosseguridade e Vacinação (18 dias de incubação {ovo} ou no primeiro dia de vida); Resistência genética; Criação em isolamento. Vacinação: Atualmente a vacina é feita por combinação de sorotipos, futuramente se almenja vacina com DNA recombinante. Atualmente a doença é muito bem controlada, caso ocorra seu aparecimento, isso se dá por conta de uma possível falha vacinal.
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