Prévia do material em texto
Departamento de Ciências Sociais Ciência Política III Resenha do texto: Para Além do Modelo Senhor/Serva - Nancy Fraser Nesse texto a autora Nancy Fraser tece uma crítica ao livro O Contrato Sexual de Carole Pateman e toda a sua teoria e suas ideias sobre dominação e subordinação. Em três tópicos diferentes ela discorre sobre o livro de Pateman. No primeiro tópico Fraser fala sobre o casamento, onde concorda com Pateman que o contrato do casamento tem suas anomalias, como uma hierarquia e papais atribuídos pelo sexo. Ela fala que a autora também estava certa com as injustiças e falta de reconhecimento de direitos das mulheres, como também a dificuldade de se denunciar um estupro dentro de um casamento. Mas embora tudo isso, Fraser acredita que não seja possível nos tempos atuais conceber a relação entre maridos e esposas como senhor e serva. Fraser cita Okin para falar sobre a desigualdade socioeconômica entre homens e mulheres. No ciclo de Okin, a responsabilidade tradicional das mulheres pela criação dos filhos ajuda a definir os mercados de trabalho que colocam as mulheres em situação desfavorável; o resultado é poder desigual no mercado econômico, que, por sua vez, reforça e exacerba o poder desigual na família. (p.254) Fraser afirma que as mulheres são potencialmente prejudicadas pelo casamento, pois o peso da criação dos filhos e das tarefas domesticas caem todos sobre elas, isso faz com que as mulheres entrem no mercado de trabalho com oportunidades inferiores. Além de uma dependência financeira que pode acontecer em relação ao marido, e se a mulher se divorcia, acaba caindo seu padrão de vida ou até mesmo vira miserável. A autora traça uma linha de diferença entre o conceito de Pateman sobre o contrato sexual dentro do casamento e do direitos sexuais masculinos” e a percepção de Okin. Se o casamento ainda se parece com esse conceito de senhor e serva, isso acontece pela inserção social relacionada a diferença de oportunidades no mercado de trabalho e pela divisão de gêneros. Limitações estruturais forçam as mulheres aturarem certos tipos de sujeição direta como agressões e estupros. Atualmente os sentidos de gênero e sexualidade são altamente fragmentados para conseguir relacionar a dicotomia serva e senhor. No segundo tópico a autora fala sobre o contrato do trabalho, onde novamente critica o modelo senhor e serva, que não servira para o casamento e tampouco para o trabalho. O conceito do contrato de trabalho de Pateman se assemelha ao Contrato de Casamento pois estabelece uma relação longa onde a subordinada concorda em receber ordens de um superior em troca de meios para sua sobrevivência. A diferença é que esse não é apresentado em forma de gênero mas sim de dinheiro. Pateman foca na dominação do chefe sobre o empregado, e ignorando o fato de ser uma “troca livre” entre iguais. Fraser concorda com Pateman nesse sentido, assim como também admite que concorda com o conceito de que não existe como separar a força do trabalho do próprio trabalhador. Mas Fraser critica a forma que Pateman direcionou o conceito de senhor e serva e limitou o próprio conceito para uma crítica adequada. Fraser considera Pateman severa demais ao comparar o trabalho como uma escravidão assalariada. Fraser faz uma comparativa entre artesões e pequenos agricultores que estavam perdendo propriedades tangíveis no início do séc. XIX, além de perderem o controle que tinham sobre o trabalho com a experienciais da jovens solteiras que deixaram as fazendas onde sofriam com controle parental e jornadas de trabalhos indefinidos e uma vida controlada para irem as cidades industriais onde viviam uma certa liberdade fora da fábrica, também pelo ganho do seu próprio dinheiro. O contrato do trabalho para elas foi uma libertação. Para avaliar o contrato do trabalho é preciso olhar além dessa dicotomia patrão/trabalhadora, é necessário reavaliar s subordinação do trabalho e a relativizar a liberdade que existe fora dele. Fraser discorda das formulações de Pateman sobre a mulher não conseguir ser trabalhadora no mesmo sentido que o homem, que faria o contrato sexual ser subjacente do contrato do emprego. Fraser rebate dizendo que ao falar que os dois contratos são subjacentes, Pateman só redobra e não transcende o modelo senhor e serva. Para Fraser, a avaliação de Pateman sobre o contrato do trabalho é bastante branda, se a problemática do trabalho fosse a relação entre senhor e serva, uma democracia no local de trabalho seria suficiente para acabar com o problema No terceiro ponto, Fraser examina o contrato da prostituição. Ela inicia o tópico falando sobre como o contrato sexual de Pateman não explica estruturalmente a desigualdade de gênero da sociedade capitalista tardia, Fraser sugere que exista outro modo de entender o modelo de Pateman, como o padrão de referência para os sentidos culturais de sexo e gênero. O contrato sexual elucida relações culturais entre a dominação masculina e a subordinação feminina. Pateman estabeleceu o contrato sexual entre o sentido cultural de diferença entre a masculinidade e a feminilidade, de dominação e submissão sexual, onde essas práticas são institucionalizadas na prostituição e na barriga de aluguel. A autora analisa a prostituição como uma manifestação comercial do contrato sexual, um “direito sexual masculino” que virou público. É questionável falar sobre venda de serviços sexuais ou então de serviços gestacionais, visto que não existe uma forma de utilizar os órgãos sexuais ou o útero da mulher sem sua subordinação e nem sem sua presença. A prostituição segue o modelo senhor e serva, onde o homem controla o corpo da mulher, fazendo com que o sistema patriarcal seja inserido como dominação masculina no sentido sexual. O uso do conceito de senhor e serva usado por Pateman nesse contrato é social e simbólico. Na grau social, o cliente adquire o direito de dominar o corpo da prostituta. Para Pateman a prostituição envolve o contrato de desempenho especifico, ao contrário do casamento que seria uma relação de longo prazo, e a negociação avançada que limita a dominação do cliente. Mas isso não quer dizer que a prostituição seja libertadora para as mulheres, a dominação masculina pode continuar sua existência mesmo sem o conceito do senhor e serva. Fraser concorda com Pateman no quesito de avaliar que a prostituição contemporânea é generalizada, heterossexualmente falando, são homens comprando sexo de mulheres, onde a dominação sexual está presente pela masculinidade, e a feminilidade pela sujeição sexual. Fraser conclui que, a masculinidade e a feminilidade tem algumas ligações com os conceitos de senhor e serva, mas que não são exclusivas e nem impositivas, na verdade elas fazem parte de um tanto de outras ligações também. Fraser diz que a abordagem de Pateman é absolutista para fazer justiça a complexidade da política cultura, a autora acredita que uma abordagem completa não pode se limitar ao conceito de senhor e serva pela masculinidade e feminilidade. A política cultural atual é extremamente mais complexa e é preciso uma interpretação mais abrangente. Fraser conclui o texto reafirmando que a dominação masculina atualmente não segue mais o velho conceito de senhor e serva e nem que a mercantilização sendo diminuídas a submissão e dominação disfarçados. A dominação de gênero hoje é mais complexa, inserida em mecanismos estruturais, resultado disso é a reprodução da subordinação mesmo sem a dominação direta do homem sobre a mulher, e também a criação de novas formas de resistência política e cultural.