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GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES A P O N T A M E N T O S Docente: Lino Inocêncio ISPI | LUBANGO ISPI – Instituto Superior Politécnico Independente Lições Gestão das Organizações 1 Lino Inocêncio PROGRAMA NOTAS DE ABERTURA ............................................................................................. 3 CAPÍTULO 1. GESTÃO E ORGANIZAÇÃO ............................................................ 4 1.1. Organização ................................................................................................ 4 1.2. A Gestão.................................................................................................................. 5 1.3. Funções da gestão ................................................................................................. 5 1.4. Níveis de gestão ................................................................................................... 10 1.5. Competências do gestor .................................................................................... 12 CAPÍTULO 2. EVOLUÇÃO DA GESTÃO .............................................................. 16 2.1. Perspectiva estrutural .......................................................................................... 17 2.1.1. O Taylorismo ..................................................................................................... 17 2.1.2. A teoria clássica da gestão .............................................................................. 19 2.1.3. Teoria da burocracia ......................................................................................... 21 2.2. Perspectiva humana ............................................................................................. 21 2.2.1. A escola das relações humanas ...................................................................... 22 2.2.2. A dinâmica de grupos ...................................................................................... 26 2.2.3. Liderança............................................................................................................ 26 2.3. Perspectiva integrativa ........................................................................................ 27 2.3.1. Teoria dos sistemas .......................................................................................... 27 2.3.2. Teoria da contingência ..................................................................................... 30 CAPÍTULO 3. ORGANIZAÇÃO .............................................................................. 32 3.1. A empresa ............................................................................................................. 32 3.2. Objectivos da empresa ....................................................................................... 34 3.3. A empresa como sistema aberto ....................................................................... 35 3.4. O ambiente Externo ............................................................................................ 37 3.4.1. Ambiente geral ............................................................................................. 37 3.4.2. Ambiente operativo ..................................................................................... 38 CAPÍTULO 4. FUNÇÃO PLANEAMENTO ............................................................ 40 4.1. Pensamento estratégico ..................................................................................... 41 4.2. Formulação da estratégia ................................................................................... 42 4.2.1. Visão............................................................................................................... 42 4.2.2. Missão ............................................................................................................ 43 Lições Gestão das Organizações 2 Lino Inocêncio 4.2.3. Análise do meio envolvente........................................................................ 47 4.2.4. Objectivos ..................................................................................................... 57 4.2.5. Definição e escolha da estratégia .............................................................. 59 4.2.6. Formulação da estratégia ................................................................................ 72 CAPÍTULO 5. FUNÇÃO ORGANIZAÇÃO............................................................. 74 5.1. Departamentalização............................................................................................... 75 5.1.1. Tipos de departamentalização ........................................................................ 75 5.2. Estruturas organizacionais ...................................................................................... 78 5.2.1. Tipos de estruturas ........................................................................................... 84 5.2.2. Doenças das estruturas .................................................................................... 90 5.2.3. Definição da estrutura ...................................................................................... 92 CAPÍTULO 6. FUNÇÃO DIRECÇÃO ..................................................................... 94 6.1. Motivação .................................................................................................................. 96 6.1.1. Teoria das necessidades de Maslow ......................................................... 98 6.1.2. Teoria das necessidades de Herzberg .................................................... 100 6.1.3. Teoria da equidade .................................................................................... 101 6.1.4. Teoria do reforço ........................................................................................ 102 6.2. Liderança............................................................................................................. 105 6.2.1. Estilos de liderança .................................................................................... 105 6.2.2. O estilo ideal de liderança ........................................................................ 106 6.3. Comunicação .......................................................................................................... 109 6.3.1. Desenvolvimento da capacidade de comunicação .................................... 111 CAPÍTULO 7. FUNÇÃO CONTROLO ..................................................................112 7.1. Definição de padrões ............................................................................................ 113 7.2. Avaliação de desempenho ................................................................................... 114 7.3. Acções correctivas ................................................................................................. 114 7.4. Tipos de controlo ................................................................................................... 115 CAPÍTULO 8. INTRODUÇÃO AO EMPREENDEDORISMO ...............................117 8.1. Características do empreendedor ................................................................... 117 8.2. Estratégia de sucesso ........................................................................................ 118 8.3. A ideia ................................................................................................................. 119 8.4. Inovação ....................................................................................................120 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................122 Lições Gestão das Organizações 3 Lino Inocêncio NOTAS DE ABERTURA “A vida não é fácil, acostume-se com isso.” Bill Gates Caro Estudante, Este documento que tem em suas mãos, é um resumo do mundoda gestão. Esta cadeira é transversal aos cursos de Informática e Gestão de Empresa e Gestão e Marketing. Os dois cursos têm a Gestão das Organizações como base. Assim, esta disciplina fornece fundamentos teórico-práticos a: • Gestores de empresas • Gestores financeiros • Gestores/Administradores de sistemas • Gestores de negócios Outrossim, foi organizado um conteúdo programático, que serve para dar competências essenciais ao estudante, para avançar e aprimorar-se no ramo da gestão. Salienta-se que o professor será apenas um orientador e/ou facilitador dos conteúdos programáticos, pelo que os estudantes deverão reforçar os conhecimentos adquiridos nas, com outras fontes de consulta, tais como biblioteca, internet, entre outras. Seja bem-vindo, caro estudante, ao mundo da gestão. Atentamente, Lino Inocêncio 2019 Lições Gestão das Organizações 4 Lino Inocêncio CAPÍTULO 1. GESTÃO E ORGANIZAÇÃO “O mundo não está preocupado com a sua autoestima. O mundo espera que você faça alguma coisa de útil por ele antes de aceitá-lo.” Bill Gates A gestão das Organizações é uma ciência que se foca em apresentar aos discentes atributos ou instrumentos que são essenciais para aplicar no quotidiano turbulento da Organização, de modo a esta o alcançar os seus objectivos. 1.1. Organização O homem é um ser gregário, tem sempre necessidade de juntar-se, não consegue viver só, deve estar sempre acompanhado. Razões de natureza social obrigam-no a juntar-se aos outros de modo que consiga com maior facilidade alcançar os seus objectivos, pois isoladamente seria mais difícil ou, até seria impossível alcançar. Deste modo, esta união de pessoas (grupos), deu origem a organização (religiosa, desportiva, filantrópica, governamental, empresarial, etc.). A Organização é o meio mais eficiente de satisfazer parte significativa das necessidades do homem. Entende-se organização como um conjunto de duas ou mais pessoas que conjugam esforços de modo estruturado para alcançarem determinados objectivos. Para além das razões sociais, há razões materiais que fazem com que haja aumento de eficiência na execução das tarefas, reduzindo deste modo o tempo necessário para alcançar um objectivo, bem como a acumulação de conhecimento por causa da experiência e vivência dos outros integrantes do grupo. Há uma outra razão, que é o efeito sinergia, isto é, o efeito multiplicador da actividade dos seus membros. Diz-se que existe sinergia quando duas ou mais causas produzem – actuando conjuntamente um efeito maior do que a soma dos efeitos que produziriam actuando isoladamente. Lições Gestão das Organizações 5 Lino Inocêncio Os homens passam a maior parte do seu tempo nas organizações e é através delas que sustentam as famílias. Os Governos e Estados financiam as suas despesas com receitas (impostos) depositados por organizações. Elas são factores fundamentais para o crescimento das economias de mercado. Quando são geridas com práticas danosas as mesmas entram em colapso (falência) e empurram as sociedades e o mundo a crises, gerando desemprego e grandes convulsões sociais. Logo é mister a gestão de excelência. 1.2. A Gestão Maior parte dos casos que se conhece a causa da falência de empresas (organizações) deve-se a má gestão. De facto, cada vez mais se reconhece que o factor mais significativo na determinação do desempenho e do sucesso de qualquer organização é a qualidade da sua gestão. A Gestão é o processo (enquanto modo sistemático de fazer as coisas) de planear, organizar, dirigir e controlar a utilização dos recursos postos à disposição da organização, a fim de alcançar os objectivos pretendidos, de maneira eficiente e eficaz. O gestor é a pessoa responsável pelo desempenho da organização que faz com que os resultados sejam obtidos através das pessoas. O gestor não é aquele que faz, mas sim aquele que faz fazer. Os princípios de gestão são normalmente considerados universais, pois visam utilizar os recursos das organizações para atingir os seus objectivos com o melhor desempenho. 1.3. Funções da gestão A tarefa da gestão é interpretar os objectivos propostos e transformá-los em acção empresarial. Este processo é possível apenas através das funções da gestão (planeamento, organização, direcção e controlo) e de todos os esforços realizados em todas as áreas e em todos os níveis da empresa, a fim de atingir esses mesmos objectivos. Lições Gestão das Organizações 6 Lino Inocêncio Figura 1 - Funções da gestão a) Planear (planeamento) A função planear (ou processo de planificação) consiste na definição dos objectivos a atingir e na identificação da melhor forma de os alcançar. O planeamento tem implícita a ideia de fazer as coisas acontecer. Nesta fase, começasse por se definir os grandes objectivos a atingir pela organização, que se desagregam, por seu turno, em objectivos para as diferentes unidades orgânicas ou departamentos e assim sucessivamente. É a chamada fixação de objectivos em cascata. Depois desta etapa define-se as actividades que cada responsável deve executar, o modo de as controlar e acompanhar, e são identificados os indicadores cujas informações levam à implementação de medidas correctivas. Regra geral, há três tipos de planos (estratégicos, tácticos e operacionais). Planear significa definir antecipadamente os objectivos e as acções a desenvolver no futuro. Indica a existência de um método ou plano para fazer as coisas. São os planos que levam as organizações a escolher os seus objectivos, e que indicam a melhor maneira de os alcançar. Planear envolve a solução de problemas e tomada de decisões quanto a alternativas para o futuro, a saber: Funções da gestão Planear Organizar Dirigir Controlar Lições Gestão das Organizações 7 Lino Inocêncio i) Selecção dos objectivos da organização, para um dado horizonte temporal; ii) Decomposição dos objectivos pelas subunidades organizacionais; iii) Estabelecimento de programas (quantidades) para alcançar os objectivos. b) Organizar A função organizar (ou organização, como também pode se designar) é o modo como autoridade é distribuída na organização, como é que se repartem os recursos e o trabalho pelos membros da organização de modo a que se possam atingir os objectivos da mesma. A forma como uma empresa se encontra organizada vai ditar a sua estrutura. A organização consiste em estabelecer relações formais entre as pessoas que trabalham na organização (empresa ou outra entidade), e os recursos disponíveis ou a serem disponíveis, para atingir os objectivos propostos. Um dos aspectos fundamentais desta função é assegurar que a pessoa certa, com as qualificações certas, está no local e no tempo certos para que melhor sejam cumpridos os objectivos. c) Dirigir A função dirigir (ou direcção) é o processo de determinar, afectar, ou influenciar, o comportamento dos integrantes da equipa. A direcção envolve: motivação, liderança e comunicação. A motivação, em termos gerais, pode ser entendida como o reforço da vontade das pessoas se esforçarem para conseguir alcançar os objectivos da organização. Em última análise, traduz-se na procura da aproximação ou convergência dos objectivos individuais de cada um dos elementos humanos que fazem parte da organização com os objectivos globais da própria organização. À medida que os gestores permitem que os seus colaboradores alcancem seus objectivos na empresa, mais motivados eles se sentem para desempenhar as tarefas que lhes são atribuídas, melhoram o seu nível de desempenho e os resultados são conseguidos. Lições Gestão das Organizações 8 Lino Inocêncio Liderança é a capacidade de conseguir que os outros façam aquilo que o líder quer que eles façam. Pode ser posta em prática de diferentes formas, autocrática, democrática, etc. Comunicação é o processo de transferência de informações, ideias, conceitosou sentimentos entre pessoas. Para se ter uma ideia da importância da comunicação na gestão, basta verificar que a maior parte do dia do gestor é passada a comunicar. d) Controlar A função controlar ou somente controlo consiste na verificação do cumprimento ou não dos objectivos definidos. Não é suficiente planear e definir objectivos; é preciso verificar se os mesmos estão a ser atingidos, apurar os desvios e analisar as causas dos mesmos, para empreender acções correctivas. Portanto, esta função é o processo de comparação do actual desempenho da organização com standards previamente estabelecidos, apontando as eventuais acções correctivas. Esta função tem como elementos essenciais: i) Estabelecer padrões de desempenho - consiste na definição das métricas para avaliar os resultados alcançados pelos colaboradores da organização; ii) Medir o desempenho actual da gestão - traduz-se na verificação sistemática do desempenho conseguido pelos colaboradores, aplicando metodologias entendidas como sendo as mais eficazes e apropriadas para avaliar esse desempenho; iii) Determinação de desvios (planeado – realizado), ou seja, comparação entre o que tinha sido previsto (os objectivos) e o desempenho efectivo (observado); iv) Tomada de medidas correctivas - caso ocorra uma diferença entre o planeado e o observado, importa estabelecer medidas correctivas. Convém observar, desde já, que estas quatro funções fundamentais da gestão não devem ser vistas isoladamente, uma vez que entre elas se verifica a existência de uma total interdependência. Não se planeia no vácuo, mas tendo Lições Gestão das Organizações 9 Lino Inocêncio em conta, nomeadamente, a organização existente e os desvios detectados no passado recente com as consequentes necessidades de correccão. A Figura 2 representa as funções da gestão e as relações que entre elas se estabelecem com destaque para a relação circular (que geralmente é a mais evidente). Figura 2 – As relações das funções da gestão O planeamento implica a existência de controlo, cujas informações podem levar a melhorar os planos futuros; a organização depende do planeamento efectuado, isto é, dos objectivos e das estratégias definidas; o estilo de direcção depende do tipo de organização; e o controlo será exercido de forma diferente consoante o estilo de direcção. Mas, as quatro funções estão intimamente ligadas, influenciando-se mutuamente e em todos os sentidos. A função organização depende, não só do planeamento efectuado, mas também do estilo de direcção e do tipo de controlo. A função direcção depende do tipo de planeamento e controlo desejado e da estrutura organizativa, etc. O processo de gestão (conforme a figura 2) apresenta as seguintes características: • É cíclico e repetitivo - significa que o processo é permanente e contínuo e está sempre a completar-se, repetidamente. Em cada ciclo ele tende a melhorar e a aperfeiçoar-se; Lições Gestão das Organizações 10 Lino Inocêncio • É interativo, ou seja, cada função de gestão interage com as restantes, influenciando-as e sendo influenciada por estas; • É iterativo - o processo de gestão é uma sequência de passos que, embora não sejam rigorosamente seguidos, constitui um itinerário sujeito a ajustamentos e correcções, avanços e recuos, ao longo da sua implementação; • É sistémico - o processo não pode ser analisado só por uma das suas componentes, tem que ser visto na sua totalidade e globalidade. Para se entender cada uma das funções é necessário conhecer todas as restantes, tendo que ser geridas em conjunto. 1.4. Níveis de gestão Numa organização, dependendo da sua dimensão pode existir um, dois ou mais gestores. Estes, são aqueles que, numa organização, conseguem resultados com o trabalho dos outros, através do planear, organizar, dirigir e controlar. Considera-se, geralmente, três níveis de gestão: institucional, intermédio e operacional. Figura 3 - Níveis de gestão Nível institucional Nível Intermédio Nível Operacional Lições Gestão das Organizações 11 Lino Inocêncio a) Nível Institucional No nível institucional a gestão caracteriza-se fundamentalmente por uma forte componente estratégica, ou seja, envolvimento da totalidade dos recursos disponíveis na determinação do rumo a seguir (geralmente associado a acções com implicações de médio e longo prazo) e pela formulação de políticas gerais, isto é, que são definidas de forma genérica e dizem respeito a toda a empresa. Corresponde aos membros do conselho da administração, gerência, conselho de gestão e direcção geral. Figura 4 - Funções do gestor por níveis Este é o nível de topo onde se encontram os gestores gerais. São os que constituem a administração da organização. É um grupo relativamente restrito e é responsável pela gestão global da organização. Estabelecem as políticas gerais e orientam as relações com o meio envolvente. b) Nível Intermédio No nível intermédio predomina uma componente táctica que se caracteriza pela movimentação de recursos no curto prazo e elaboração de planos e programas específicos relacionados com a área ou funções do respetivo gestor. É desempenhada pelos directores de divisão, directores de área, directores funcionais, directores de departamentos, etc. As principais responsabilidades são as de dirigir as actividades e/ou implementar as políticas da organização. Neste nível encontra-se os gestores intermédios, aqueles que, na organização ocupam uma posição entre os gestores de topo Lições Gestão das Organizações 12 Lino Inocêncio (administração) e os gestores de primeira linha, dirigindo as actividades dos gestores de níveis baixos. Neste nível verifica-se uma grande variedade de cargos, dependendo da complexidade das organizações, como por exemplo, directores, coordenadores e directores de divisão. Têm que equilibrar as exigências dos gestores de topo com as capacidades dos subordinados. c) Nível Operacional No nível operacional predomina a componente técnica, e a actividade destes gestores traduz-se fundamentalmente na execução de rotinas e procedimentos. São os supervisores, chefes de serviço, chefes de secção, etc. A importância relativa das funções de gestão não é exactamente a mesma nos diversos níveis de gestão. Certamente os administradores põem maior ênfase no planeamento (sobretudo no planeamento global) do que os supervisores. Provavelmente passar-se-á o inverso com a direcção e até com o controlo. 1.5. Competências do gestor Em qualquer nível de gestão, está presente o processo de gestão. Contudo, a quantidade de tempo que cada um dedica a essas actividades difere, seja pela dimensão da organização, seja pelo nível que ocupa na hierarquia. O desempenho de um gestor está relacionado com as suas competências ou aptidões definindo estas como sendo a capacidade de transformar o conhecimento em planos de acção de que resultarão os objectivos esperados. A actuação do gestor avalia-se geralmente por padrões de eficiência e eficácia. Eficiência é a relação proporcional entre a qualidade e a quantidade de inputs e a qualidade e a quantidade de outputs produzidos. Assim, quanto maior for o volume de produção conseguido com o mínimo de factores produtivos, maior é o grau de eficiência do gestor responsável. Eficácia é quando os outputs produzidos pelo processo se aproximam dos objectivos propostos. Isto é, quanto menores forem os desvios entre o planeado e o realizado, maior é o grau de eficácia do gestor em causa. Para ser eficiente e eficaz, o gestor deve possuir e, continuamente, desenvolver as seguintes competências: conceptual, técnica e relações humanas. Lições Gestão das Organizações 13 Lino Inocêncio Competência conceptual está relacionada com a capacidade para apreender ideias gerais e abstratas e aplicá-las em situações concretas. Engloba a capacidade para ver a organizaçãocomo um todo, ou seja, aperceber-se da forma como as várias funções da organização interagem e se complementam umas às outras, como a organização se relaciona com o meio em que ela está inserida e como uma alteração do mercado ou até de uma parte da organização afecta o resto esta competência assenta no saber-saber. Aptidão técnica é a capacidade para usar conhecimentos, métodos ou técnicas específicas no seu trabalho concreto. Conhecimentos e experiência em engenharia, informática, contabilidade, marketing ou produção são exemplos deste tipo de capacidade. De modo geral, esta aptidão está relacionada com o trabalho, "com as coisas" (processos ou objectos físicos) esta aptidão tem de ver com o saber fazer. Aptidão em relações humanas é a capacidade de compreender, motivar e obter a adesão das outras pessoas. É o modo de se relacionar com os outros membros da organização, sejam superiores hierárquicos, colegas do mesmo nível ou subordinados. Envolve características relacionadas com a capacidades de comunicar, trabalhar e entender as atitudes e os comportamentos dos indivíduos e dos grupos esta aptidão está relacionada com o saber ser. Os graus de desenvolvimento necessário destas aptidões estão relacionados com o nível de gestão em que o gestor se situa. É evidente que o CEO de uma empresa tem de ter uma visão global e genérica dos problemas da sua empresa, mas não se exige normalmente que seja um técnico exímio na tecnologia específica dessa empresa. Por vezes, uma visão demasiado técnica, e por isso demasiado estreita, dos problemas da empresa acaba por ser negativa num gestor de topo. Lições Gestão das Organizações 14 Lino Inocêncio Figura 5 - Competências do gestor A competência técnica, em princípio, assume maior importância nos níveis de gestão mais próximos da execução. A competência em relações humanas é importante a qualquer nível de gestão. Por fim, a competência conceptual vê a sua importância relativa aumentar, à medida que os gestores se deslocam para os níveis de gestão mais elevado. Contudo, as competências requerem algumas características pessoais para serem postas em prática com êxito. Estas características referem-se à capacidade de quem é capaz de analisar uma situação, apresentar soluções e resolver os problemas. Estas competências devem ser duráveis, isto é, devem persistir ao longo do tempo, não se tornando obsoletas com a evolução contínua do saber. EM síntese, as características pessoais que têm a ver com conhecimento, perspectiva e a atitude aprimoram as competências exigidas nas organizações. Figura 6 - Formação das competências Níveis de gestão Concebem Competências relativasPolíticas Institucional (Administração) Intermédio (Directores) Implementam Conceptuais Humanas Técnicas Conceptuais Humanas Técnicas Operacional (Supervisor) Controlam a execução Conceptuais Humanas Técnicas Conhecimento Know-how, Informação, Actualização profissional, Aprendizagem constante ACTITUDE Comportamento activo e pró-activo, ênfase na acção e no fazer acontecer. Espirito empreendedor e de equipa. Liderança e comunicação PERSPECTIVA Visão pessoal das coisas Aplicação prática do conhecimento na solução de problemas Lições Gestão das Organizações 15 Lino Inocêncio O conhecimento é constituído por todo o conjunto de informações, conceitos, ideias, experiências, que o gestor possui acerca do seu campo de actividade (contabilidade, economia, gestão, engenharia, etc.). Logo, o gestor deve procurar manter-se atualizado no seu campo de actuação. O conhecimento é necessário e fundamental, mas só por si é insuficiente para o sucesso profissional. A perspectiva representa a capacidade de pôr em prática o conhecimento, ou seja, saber transformar o conhecimento teórico em prática, dando autonomia e independência ao gestor. A atitude compreende o comportamento pessoal do gestor quando confrontado com as situações do quotidiano. Representa o estilo pessoal de resolver os problemas. Esta característica é durável pois transforma o gestor em agente de mudança (e não em agente conservador) nas organizações. A figura 6 representa não só as principais particularidades de cada uma das três características inerentes às competências de um gestor, mas também evidencia as relações que se devem estabelecer entre elas. Estas três características, actuando em simultâneo, conduzem o gestor ao sucesso na sua actividade. Destas características, que se querem duráveis, a atitude é aquela que nos afigura mais importante, pois o gestor dever ser um agente de mudança, ou seja, deve ser combativo, ter convicções profundas, não aceitar o statu quo, revelar inconformismo com a mediocridade, e possuir espírito empreendedor. Lições Gestão das Organizações 16 Lino Inocêncio CAPÍTULO 2. EVOLUÇÃO DA GESTÃO “Você não vai ganhar 20 mil dólares por mês assim que sair da faculdade. Você não será vice- presidente de uma grande empresa, com um carrão e um telefone à sua disposição, antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e ter seu próprio telefone.” Bill Gates A gestão é um conceito bastante antigo Antes de Cristo, construíram-se monumentos de grande envergadura em que com apenas uma coordenação era possível erguê-los. A bíblia apresenta alguns relatos de um homem a conduzir o seu povo para atravessar o Mar Vermelho. São vários factos e relatos que nos levam a concluir que já havia gestão. Para entendermos o fenómeno da gestão, hoje, é importante olharmos os caminhos que foram trilhados por grandes pensadores, e experiências vivenciadas por eles, pois, a base que hoje é utilizada para tomar decisões, é baseada nos pensamentos do século passado. Antes mesmo de 1900, a gestão era feita através de experiências procurando aprender através dos erros de outros, a fim de aprimorar os processos de gestão, que eram empíricos. São várias as razões que justificam o estudo das teorias de gestão tais como: 1. Orientam e suportam as decisões de gestão - o estudo das teorias de gestão ajuda a compreender os processos fundamentais e, consequentemente, a escolher a melhor acção. Assim, podemos aplicar diferentes teorias a diferentes situações; 2. Dão forma à nossa visão das organizações - mostram de onde retiramos as nossas ideias sobre organizações e sobre as pessoas que nelas participam; Lições Gestão das Organizações 17 Lino Inocêncio 3. Consciencializam-nos sobre o ambiente empresarial - à medida que formos estudando as diferentes teorias veremos que cada uma delas é produto do seu ambiente, isto é, das forças sociais, económicas, políticas e tecnológicas presentes num dado momento (no tempo) e num dado lugar. Este conhecimento ajuda-nos a compreender porque é que algumas teorias sãs mais apropriadas que outras em determinadas situações; 4. São fontes de novas ideias - dão-nos a possibilidade de assumir diferentes pontos de vista em relação a questões do quotidiano. Embora possamos não concordar com algumas teorias, pelo menos sabe-se que não há teorias universais; cada uma delas poderá fornecer algum ou alguns dos seus princípios para ajudar a compreender uma situação concreta (abordagem contingencial) Basicamente, podemos definir teoria como um conjunto coerente de pressupostos elaborados para explicar as relações entre duas ou mais variáveis. As teorias conduzem-nos a modelos, os quais nos permitem fazer previsões. Historicamente, ao longo do Séc. XX, as escolas de pensamento em termos de gestão dividiram-se em três perspectiva: estrutural, humana e integrativa. 2.1. Perspectiva estrutural A perspectiva estrutural engloba as teorias da gestão científica, a escola clássica, a teoria da burocracia e a teoria da decisão. Nestas teorias o foco está na estrutura. 2.1.1. O Taylorismo O maior precursor da escola científica da gestão é Frederick Taylor, através da publicaçãoem 1911 da sua obra intitulada "Princípios da Gestão Científica", onde mostra a aplicação do método científico. Esta obra fornece uma base de análise dos problemas de gestão com vista a alcançar uma maior eficiência industrial. Taylor teve por base o estudo do trabalho de cada operário (análise, Lições Gestão das Organizações 18 Lino Inocêncio decomposição e racionalização) através do estudo dos tempos e movimentos, para estabelecer um método que constituísse a melhor maneira possível para a sua execução (the best way). Havia neste período toda a necessidade de se aumentar o mais possível a produção, diminuindo os esforços necessários da mão-de-obra por meio de uma rigorosa racionalização de movimentos que um operário devia fazer, aumentando assim o rendimento dos trabalhadores com incentivos monetários como, por exemplo, prémios de produção. Surge o conceito de homo economicus, isto é, as pessoas são motivadas apenas por factores económicos (ou, de forma mais simplista, por dinheiro). O Taylorismo, baseia-se no seguinte: • Aplicação do método científico para encontrar a "única melhor maneira" de realizar o trabalho; • Selecção, de forma científica, dos trabalhadores que melhor desempenham a tarefa; • Treino, educação e desenvolvimento dos trabalhadores de modo a melhor desempenharem as tarefas; • Interacção amigável e cooperação entre os gestores e os trabalhadores, mas com uma clara separação dos deveres entre uns e outros. Os trabalhos de Taylor foram orientados fundamentalmente para melhorar a produtividade - o caso clássico da deslocação das barras de ferro numa fundição, Taylor concebeu e aplicou um método de trabalho, prescreveu uma série de tempos de descanso, determinou uma quantidade de produção esperada standard e o pagamento em função das unidades de trabalho concluído. Depois das recomendações de Taylor, o trabalho concluído por operário aumentou significativamente, bem como os salários recebidos. Em resumo, as ideias básicas sobre o trabalho na perspectiva “taylorista” são: • O trabalho pode e deve ser racionalizado o mais detalhadamente possível; • Há uma estrita separação entre a preparação, a execução e o controlo; • A motivação predominante é o salário estimulante ligado ao rendimento. Lições Gestão das Organizações 19 Lino Inocêncio Apesar de os métodos de Taylor conduzirem a aumentos nunca esperados da produtividade e dos salários, os trabalhadores e os sindicatos começaram a opor-se-lhe por receio de virem a trabalhar mais intensamente e contribuírem para a redução do trabalho disponível. 2.1.2. A teoria clássica da gestão A escola clássica de gestão nasce com Henry Fayol, com a publicação da obra “Teoria Geral da Administração”, em 1916. Fayol desenvolveu a sua teoria numa perspectiva global, sendo os seus princípios destinados à organização como um todo. Henry Fayol dividiu as operações empresariais em seis actividades fundamentais: 1. Função comercial: compra de matéria-prima e venda de produtos; 2. Função técnica: produção e fabrico de produtos; 3. Função segurança: protecção dos empregados e da propriedade; 4. Função contabilística: inventários, registos, balanços, custos e estatística; 5. Função financeira: obtenção e utilização de capital; 6. Função administração: coordena e integra todas a demais funções. É constituída por cinco elementos: previsão, organização, comando, coordenação e controlo, as quais constituem o chamado processo administrativo e estão associadas ao trabalho de um gestor, qualquer que seja o nível em que se encontra. Fayol sugere 14 princípios gerais da gestão que podem servir a todos e qualquer tipo de organização. Funcionam como uma prescrição ou receita sobre como agir em certas situações e alguns deles ainda hoje têm aplicabilidade. Ei-los: 1. Divisão do trabalho: quanto mais as pessoas se especializarem, maior é a experiência do seu trabalho; 2. Autoridade: o direito de dar ordens e o poder de se fazer obedecer - autoridade e responsabilidade devem estar intimamente ligadas; Lições Gestão das Organizações 20 Lino Inocêncio 3. Disciplina: uma organização com sucesso requer o esforço comum de todos os trabalhadores. Contudo, a par de esquemas de incentivos, podem ser necessárias penalidades, judiciosamente aplicadas; 4. Unidade de comando: cada trabalhador deve receber ordens de apenas uma pessoa; 5. Unidade de direcção: a empresa deve ser orientada para um objectivo comum, numa direcção (única) bem definida; 6. Subordinação do interesse individual ao interesse colectivo: os interesses de uma pessoa não devem nunca ter preferência em relação ao interesse da organização como um todo; 7. Remuneração: a compensação pelo trabalho realizado deve ser justa tanto para quem recebe, o empregado, como para quem paga, o empregador. Para isso diversas variáveis, como o custo de vida, oferta de pessoal qualificado, o sucesso da empresa, etc., devem ser tidas em conta; 8. Centralização: o grau de centralização ou descentralização da gestão dependerá das condições específicas da organização em causa; 9. Cadeia de comando: numa organização a linha de autoridade — frequentemente representada pelas linhas que unem os rectângulos de um organograma, vai por ordem de escalões da gestão de topo até aos níveis mais baixos da hierarquia; 10. Ordem: os materiais, tal como as pessoas, devem estar nos lugares certos, nas horas certas; 11. Equidade: os empregados devem ser tratados numa base de justa igualdade; 12. Estabilidade de emprego: reter os empregados produtivos deve ser uma prioridade da gestão. Uma elevada taxa da rotação do pessoal geralmente anda associada a uma quebra da eficiência da empresa; 13. Iniciativa: os gestores devem encorajar as iniciativas dos trabalhadores nomeadamente através de novas ou adicionais actividades autodirigidas; 14. Espírito de equipa: o espírito de equipa contribui para a unidade da organização. Fayol aconselhava, por exemplo, a comunicação verbal e informal em vez da escrita e formal. Lições Gestão das Organizações 21 Lino Inocêncio Hoje, as ideias de Fayol encontram-se na gestão moderna, pois as funções da administração (planear, organizar, comandar, coordenar e controlar) são, de modo geral, tidas em conta pelos gestores do nosso tempo, bem como pelos estudiosos da gestão. 2.1.3. Teoria da burocracia A teoria da burocracia está intimamente ligada a Max Weber (1864 – 1920), um sociólogo alemão que, a partir do estudo das organizações europeias durante o séc. XIX, descreveu uma forma ideal de organização que enfatizava a ordem, o sistema, a racionalidade, a uniformidade e a consistência. Para muita gente, o termo burocracia tem uma carga negativa, e é associado a excesso de papelada e de regras com prejuízo do funcionamento eficaz e inovador das organizações; mas a ideia de burocracia defendida por Max Weber conduziria a um tratamento equitativo de todos os empregados, uma vez que a cada um eram atribuídas áreas específicas de actuação e responsabilidades na base da sua competência e capacidades. Tal como a escola clássica, também a teoria da burocracia defendia um sistema ordenado de supervisão e subordinação e uma unidade de comando; mas aqui fazia-se apelo ao uso intensivo de documentos escritos relativos a regras e regulamentos que eram descritos detalhadamente em manuais, o que permitia que os gestores assentassem a sua actuação em regras consistentes, completas e com possibilidade de serem ensinadas. 2.2. Perspectiva humana No taylorismo não eram tidos em conta os aspectos sociais nem havia qualquer ideia sobre como se comportavam as pessoas nas organizações, ou quais as suas motivações. Nos anos vinte e trinta do século passado foram lançadas as bases da psicologia social e a sua aplicação à problemática do trabalho nas organizações. Emerge, assim, a perspectiva humana na organização, onde asua essência reside no pressuposto de que a chave para o alcance de elevadas produtividades está no grau de satisfação dos empregados no seu trabalho. Lições Gestão das Organizações 22 Lino Inocêncio Mas, se muitos dos problemas de gestão passaram a ter soluções mais adequadas, o facto é que pelo menos uma faceta muito importante da gestão (satisfação dos empregados no seu trabalho) não teve uma resposta eficaz fruto dos índices de insatisfação e resistência às mudanças. 2.2.1. A escola das relações humanas A essência deste movimento das relações humanas reside no pressuposto de que a chave para o alcance de elevada produtividade está no grau de satisfação do empregado no seu trabalho. Como ponto de partida consideramos as experiências de Hawthorne coordenadas por Elton Mayo, que compreendem um conjunto de cinco estudos independentes, conhecidos por: • As experiências com a iluminação; • A sala de observação na montagem de relés; • A equipa de elevação da mica; • A fase das entrevistas; • A sala de observação da montagem dos cabos. Cada um dos estudos baseou-se num método diferente. Foram desenvolvidos de 1924 a 1932 nos ateliers de produção da Western Electric Company, em Hawthorne. Esta empresa era uma filial da American Telephone and Telegraph (AT&T), para a qual fabricava equipamentos telefónicos em cadeia e empregava 22.000 operários. Grande parte desta mão-de-obra era constituída por imigrantes ou descendentes de imigrantes. Apesar das boas condições sociais praticados na Western Electric Company (salários superiores à média, refeitórios nas fábricas, enfermaria e hospital) via-se nos operários sinais de descontentamento (absentismo, perdas de produção, falta de qualidade dos produtos). Perante estes sinais, a administração da Western Electric decide investigar qual o efeito da iluminação artificial nas fábricas sobre a eficiência dos trabalhadores, medida em termos de volume em produção dos mesmos. As primeiras experiências tiveram lugar em Hawthorne, de 1924 a 1927. Durante este período fizeram-se várias experiências com intensidades de iluminação variáveis, com um grupo de operários (grupo experimental), cujos resultados obtidos eram comparados com os resultados de outro grupo Lições Gestão das Organizações 23 Lino Inocêncio idêntico de operários (grupo de controlo), cuja intensidade de iluminação se mantinha constante. Ambos grupos sabiam das experiências. Os investigadores ficaram surpreendidos ao verificarem que a produtividade se mantinha ou até aumentava quando a intensidade da luz aumentava em excesso ou era reduzida abaixo do razoável, o que parecia um contrassenso. Foram efectuadas experiências com diminuição da intensidade luminosa no grupo experimental. Os resultados foram ainda mais inesperados: a produtividade continuava a aumentar em ambos os grupos. Então, concluíram que havia algo, para além da iluminação, que influenciava a produtividade. Os resultados não mostravam qualquer relação causal entre os diferentes níveis de intensidade da iluminação e a produtividade do trabalho. Só mais tarde é que os investigadores se aperceberam que a sua presença na fábrica poderia influenciar o comportamento dos operários. Este facto ficou conhecido como o efeito de Hawthorne. Em 1927 iniciaram-se novas experiências, no sentido de indagar a causa da diminuição da produtividade depois do almoço e dos sinais de fadiga resultantes da introdução de novos métodos de produção. Sabia-se que a redução do tempo de trabalho e a introdução de períodos de repouso tinham uma influência favorável sobre a produtividade e pretendia-se estabelecer esta ligação causal. Foi criada uma sala de testes, onde eram montados os retransmissores (relais) constituídos por trinta e cinco peças. Nesta experiência foram utilizadas mulheres. Eram registados todos os movimentos das trabalhadoras, como consequência das mudanças num certo número de factores (salário, períodos de repouso e horários), os quais eram discutidos com as operárias. Este procedimento dava-lhes a sensação de exercerem influência sobre o processo de produção e sobre as horas de trabalho, o que reforçava a sua dignidade (o respeito por si próprias). Como consequência, a cada alteração, fosse em que sentido fosse, a produtividade aumentava. Este estudo terminou em 1933 e também não produziu resultados conclusivos. As relações causais não foram demonstradas. Ainda que os administradores da Hawthorne reconhecessem a importância dos factores sociais, não lhes prestava atenção. Este comportamento mudou com a chegada de Elton Mayo (um australiano, professor em Harvard Business Lições Gestão das Organizações 24 Lino Inocêncio School). Mais tarde este fenómeno foi baptizado de “efeito de Hawthorne”: quando os empregados suspeitam que os gestores se preocupam com o seu bem-estar eles trabalham mais. Para reforçar esta opinião foram efetuados inquéritos aos operários da fábrica. Elton queria analisar o comportamento dos trabalhadores em relação aos gestores. Os resultados deviam constituir a base de um programa de treino/formação bem estruturado para a gestão de topo. Foram também efectuadas treze mil entrevistas, nas quais os entrevistadores deviam estar atentos a sintomas que indicassem problemas imperceptíveis. Estas entrevistas também produziram poucos resultados concretos. Para estudar as relações sociais entre os empregados foi concebida uma sala onde os operários se ocupavam do fabrico de bobines para os selectores das centrais telefónicas. Os investigadores partiram da hipótese de que a dedicação dos empregados aumenta na proporção dos ganhos. Estudaram as estruturas sociais e informais entre os empregados que trabalhavam nesta sala, acentuando o aspecto emocional. De uma maneira informal, os operários fixavam entre si um nível de produção aceitável que procuravam cumprir e censuravam aqueles que não conseguiam atingir o objectivo. Os investigadores descobriram que a mentalidade de grupo e a disposição de indivíduos de serem aceites era uma motivação maior para os trabalhadores que os estímulos financeiros. Assim, as ligações do trabalho são o resultado de ligações de ambientes sociais complexos. Como consequência, para compreender o comportamento dos operários é necessário conhecer as suas atitudes, relações sociais, redes de contactos informais e muitos outros factores. Logo, os efeitos positivos não eram imputáveis aos factores técnicos e físicos, mas sim à atenção dispensada aos empregados pelos gestores e investigadores. Foi o denominado “efeito de Hawthorne”: as pessoas reagem positivamente ao facto de alguém se preocupar em melhorar a sua situação, sobretudo se estiverem numa situação dominante da empresa. O segundo factor que parece ter tido um papel importante é a vida em grupo e a sua influência sobre o comportamento de cada um dos seus membros. Existe uma norma informal de produção que constrange cada um dos membros do grupo a produzir tanto como os outros. Mais especificamente, o Lições Gestão das Organizações 25 Lino Inocêncio rendimento dos trabalhadores é fortemente determinado pela natureza das relações sociais que eles estabelecem com os seus colegas e com as chefias. Estava-se perante um fenómeno designado por efeito de Hawthorne: a produção melhora quando os trabalhadores acreditam que os gestores se preocupam com eles. Foi devido a este efeito que o grupo de controlo aumentou o seu desempenho, sem alteração das condições de luminosidade. Podem-se retirar duas conclusões básicas: a) Importância dos grupos informais dentro da estrutura formal da organização, ou seja, a necessidade de seus elementos verem o processo de trabalho como uma actividade colectiva e cooperativa, e não como uma actividade individual – o grupo tende a desenvolver as suas próprias normas, valores e atitudes, que lhe dão capacidade para exercer forte pressão social sobre osindivíduos no mesmo grupo; b) Necessidade de reconhecimento, de segurança, e de pertença - as atitudes dos trabalhadores podem ser influenciadas pelo reconhecimento, segurança e também pelo sentimento de pertença produzido pelos grupos informais. Foi introduzido o conceito de “homo social”, entendido como aquele que é motivado pelo desejo de criar relacionamentos com os outros, por oposição ao conceito de “homo economicus” do taylorismo. Nos nossos dias, na prática a importância destes conceitos traduz-se, por exemplo, em: i) Espírito de grupo: existência de refeitório no local de trabalho ou de um grupo desportivo; ii) Necessidade de status: existência de símbolos de estatuto, tais como um carro conforme o nível dos gestores, a dimensão do gabinete, ou a concessão de um staff de apoio; iii) Estilos de liderança: preocupações com a existência de círculos de qualidade, ou colocar a ênfase na consideração que se tem com os colaboradores da organização. Lições Gestão das Organizações 26 Lino Inocêncio 2.2.2. A dinâmica de grupos A escola da dinâmica de grupos foi criada por Kurt Lewin. Lewin nasceu na Alemanha, onde obteve o seu doutoramento, mas donde teve de fugir com a ascensão do nazismo. Emigrou para os Estados Unidos (em 1932), aí se dedicou ao ensino em várias universidades, nomeadamente no MIT (Massachussets Institute of Technology), onde acabou por ser nomeado director do Centro de Pesquisas para a Dinâmica de Grupos. Uma das suas experiências foi efectuada com donas de casa que enfrentavam o problema da falta de carne, devido a guerra (II Guerra Mundial), mas que tinham dificuldades em alterar os regimes de alimentação para reduzir o consumo de carne, porque entendiam que os membros da família tinham determinadas expectativas que seriam difíceis de ultrapassar. Lewin sugeriu que as donas de casa se reunissem em grupos e discutissem entre elas o tipo de alimentação a confeccionar. Verificou-se então que as donas de casa que se juntaram e tomaram as suas decisões em grupo sentiram dez vezes menos dificuldades em alterar os hábitos alimentares nas suas famílias do que as mulheres que se limitaram a receber instruções escritas sobre este tema. Os trabalhos de Lewin foram depois alargados às áreas industriais e as suas pesquisas continuadas pelos seus seguidores. Lester Coch e R. P. French Jr. constataram, numa fábrica em Marion, na Virgínia (EUA), que os empregados aprendiam muito mais depressa os novos métodos de trabalho que se pretendiam implementar, se lhes fosse dada a oportunidade de discutir em grupo os novos métodos e lhes fosse dada alguma liberdade na forma de os aplicar concretamente nas suas tarefas. 2.2.3. Liderança As pesquisas sobre a gestão centradas especialmente na liderança datam da década de 50, ficando o seu início a dever-se fundamentalmente a Robert Bales e Douglas McGregor. Bales enfatizou a importância dos grupos e da sua liderança, que classificou em dois tipos: líder de tarefa e líder social, o primeiro desenvolvendo a sua actividade focalizando os objectivos do grupo em termos Lições Gestão das Organizações 27 Lino Inocêncio de produtividade (tarefas), o segundo procurando atingir os objectivos actuando no desenvolvimento da coesão e encorajando a colaboração entre os membros do grupo. McGregor desenvolveu as teorias X e Y que põem em confronto duas posições antagónicas de ver o comportamento das pessoas: • Pessimista (teoria X): defende fundamentalmente que as pessoas encaram o trabalho como um sacrifício a evitar e, como tal, precisam e preferem ser dirigidas e controladas; • Optimista (teoria Y): em linhas gerais defende que os trabalhadores podem encarar o trabalho com naturalidade, como o descanso ou o lazer, gostam de assumir responsabilidades e preferem o autocontrolo. De acordo com McGregor, os gestores terão comportamentos diferentes em relação aos seus subordinados, quando admitem os pressupostos da teoria X ou da teoria Y nos estilos de direcção e de controlo. 2.3. Perspectiva integrativa Enquanto as escolas de gestão incluídas no primeiro grupo (perspectiva estrutural) desenvolveram as suas pesquisas tendo como base comum a estruturação da empresa e a forma de executar as tarefas, as teorias enquadradas na segunda perspectiva (humana) baseiam-se na análise do lado humano das organizações. 2.3.1. Teoria dos sistemas O desenvolvimento da teoria dos sistemas deve a Ludwig von Bertalanffy (1901-1972), biólogo austríaco. Os fundamentos desta teoria baseiam-se no pressuposto de que é tão importante identificar o conjunto, a totalidade dos elementos do sistema e das suas inter-relações, como analisar independentemente os atributos de cada um deles. Assim, a abordagem sistémica vê a organização como um sistema unificado, composto de partes inter-relacionadas, designadas de subsistemas, que Lições Gestão das Organizações 28 Lino Inocêncio exercem influência uns sobre os outros. Esta abordagem permite ver a organização como um todo e também como parte de um sistema maior, a sua envolvente externa. Assim, a actividade de qualquer segmento de uma organização afecta em graus variados a actividade de todos os outros segmentos. A perspectiva sistémica coloca a ênfase nas constantes interações entre a organização e o seu meio envolvente externo e interno. A organização é vista como um sistema aberto dinâmico que se adapta, de acordo com as situações e pressões do meio aberto e dinâmico, que se adapta, de acordo com as situações e pressões do meio envolvente, com o objectivo de assegurar a sobrevivência e a eficácia da organização. Nesta linha de raciocínio vários autores sustentam que: • Qualquer sistema é constituído por elementos que interagem dinamicamente; • Este conjunto de interações está dotado de propriedades específicas cujos componentes, isoladamente, não possuíam; • Qualquer sistema pode ser fragmentado e subsistemas menos complexos, eles próprios constituídos por subsistemas agregados numa hierarquia organizacional; • Qualquer sistema é aberto, ou seja, procede a troca de inputs e energia com o seu meio envolvente externo, o qual é constituído por outro sistema com maior grau de complexidade; • Se um sistema tiver um grau de abertura muito elevado, perde a sua especificidade e incorpora-se num sistema superior; • Qualquer sistema pode ser descrito por duas características: a sua organização (ou estrutura) e o seu funcionamento (ou função), os quais incluem a finalidade (ou objectivos) desse sistema; • Qualquer sistema tende a multiplicar-se a si próprio, na sua organização e funcionamento, mas não de modo idêntico. Na estrutura, o funcionamento e a equifinalidade podem transformar-se com o decorrer do tempo. Deste modo, um sistema pode ser definido como: i) Um conjunto de elementos (subsistemas) Lições Gestão das Organizações 29 Lino Inocêncio ii) Dinamicamente interrelacionados (isto é, em interação e interdependência) iii) Desenvolvendo uma actividade ou função (processo do sistema) iv) Para atingir um ou mais objectivos (finalidade para que foi criado) Os sistemas abertos caracterizam-se por interagirem com o seu meio envolvente externo. Os sistemas abertos são constituídos por: • Inputs: recursos produtivos, energia, informação, entre outros; • Processo: transforma e converte os inputs em produções (de bens e ou serviços); • Outputs: são as produções dos inputs, depois de processados; • Feedback: informação e controlo; • Estabilidade: através do mecanismo feedback o sistema autorregula-se. Quando submetido a qualquer distúrbio, o sistema volta ao seu equilíbrio anterior, de forma dinâmica, visando manter: i) A estrutura do sistema; ii) As relações entre as partes; iii) As interdependências entre as partes, bem como entre o sistema e sua envolvente. • Adaptabilidade: capacidade do sistema de modificar a si próprio nosseus aspectos estruturais básicos e na sua própria constituição; • Entropia negativa: contraria a tendência para a desorganização, a desintegração, ou a perda de energia; • Diferenciação: existência de funções especializadas; • Equifinalidade: várias maneiras de atingir o mesmo resultado; • Ciclo de eventos: o funcionamento tem carácter cíclico e repetitivo; • Fronteiras: delimitações entre subsistemas ou entre o sistema e o meio envolvente. O ponto fundamental na abordagem sistémica é que os gestores não podem funcionar somente dentro dos limites dos organigramas tradicionais. Devem subordinar o seu departamento à empresa como um todo. Para isso, precisam comunicar com os restantes membros da empresa, bem como com outras organizações. Lições Gestão das Organizações 30 Lino Inocêncio 2.3.2. Teoria da contingência Esta abordagem emerge nos anos sessenta do século passado como reação ao “the best way” característico das abordagens clássica e neoclássica. Nesta abordagem o comportamento das organizações depende (é contingente) das variáveis situacionais a que a mesma está sujeita. Isto significa que os princípios gerais e universais da gestão, válidos para toda e qualquer situação, não são mais aplicáveis. Eles foram úteis enquanto o mundo dos negócios foi relativamente estático e previsível. Assim, de acordo com as caraterísticas da sua envolvente, da tecnologia que o suporta, da sua dimensão e características especificas, a organização tem que encontrar melhor forma de gestão. Esta abordagem tem implícita um logica sistémica: a organização é um sistema que depende da sua envolvente, do meio onde está inserida e dos subsistemas que a compõem. O termo contingência significa alguma coisa incerta ou eventual, isto é, que pode ou não ocorrer. Numa perspectiva mais abrangente, a abordagem contingencial destaca que não se atinge a eficácia organizacional seguindo um único modelo organizacional. Consequentemente, não existe uma estrutura organizacional única, que seja eficaz para todas as organizações. A ênfase é colocada no processo adaptativo, ou seja, as organizações adequadas ao seu meio envolvente tendem a superar aquelas que são inadequadas. Consequentemente, a adequação seria a causa e o desempenho passaria a ser o efeito desse processo. Uma das abordagens do pensamento e da prática da gestão relativamente recentes é a teoria da contingência. Os defensores desta abordagem põem em destaque a ideia de que o que os gestores fazem, na prática, depende do conjunto de circunstâncias que caracterizam a situação; põem em relevo a relação entre a forma como a organização processa a sua actividade e as características da situação. Alguns dos aderentes a esta abordagem da gestão puseram em confronto sobretudo a estrutura da organização e as características do seu ambiente. Nesta linha de pensamento, Tom Burns e George Stalker, por exemplo, descrevem dois tipos de gestão radicalmente diferentes: Lições Gestão das Organizações 31 Lino Inocêncio • O sistema mecanicista - caracterizado por uma estrutura rígida, com destaque para a linha hierárquica; e • O sistema orgânico - muito mais flexível, menos estruturado, permitindo uma maior influência dos trabalhadores na tomada de decisões. Joan Woodward defende que a escolha do tipo de estrutura que melhor se adapta a uma determinada empresa é influenciada pela tecnologia que ela usa. Assim, sugere que uma empresa caracterizada por tecnologia correspondente a produção em massa pode perfeitamente adoptar uma estrutura mecanicista, enquanto para uma empresa de produção contínua (refinaria, por exemplo) uma estrutura orgânica é mais aconselhável. Mais recentemente, a teoria da contingência alargou-se para outros domínios específicos da gestão como o desenho de tarefas, a liderança, a dinâmica de grupos e as relações de poder. Lições Gestão das Organizações 32 Lino Inocêncio CAPÍTULO 3. ORGANIZAÇÃO “Se você acha que seu pai ou seu professor são rudes, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.” Bill Gates Razões de natureza social leva a que os indivíduos se juntem para alcançar determinados objectivos que, isoladamente, teriam dificuldades em alcançar. O desenvolvimento destes núcleos de pessoais deu origem ao aparecimento de organizações e ao incremento de actividades cada vez mais complexas e difíceis de alcançar por uma só pessoa. Poderá também afirmar-se que a necessidade de se juntar pessoas com conhecimentos distintos contribuiu igualmente para o associativismo e para o surgimento de organizações. São as denominadas razões materiais. Trabalhando em conjunto, as pessoas são capazes de alcançar objectivos que isoladamente não conseguiriam atingir, não só devido a complexidade das tarefas inerentes ao trabalho a efectuar, mas também pela variedade das actividades necessárias a executar, mas também pela variedade das actividades necessárias a executar para atingir esses objectivos. Por outro lado, trabalhando em conjunto, e devido a sinergia do grupo, duas ou mais pessoas em colaboração produzem mais do que a soma dos seus trabalhos individuais. Surgem assim as organizações e com elas a necessidade de as gerir. As suas formas jurídicas são as mais variadas, possuindo todas elas, no entanto, um objectivo comum: produzir riqueza de forma a ir ao encontro das necessidades da sociedade e assegurando ao mesmo tempo a sobrevivência da organização. 3.1. A empresa As actividades empresariais constituem o motor de crescimento económico de um país, sendo as empresas responsáveis pela produção dos bens e serviços que são disponibilizados em cada país. Com o desenvolvimento Lições Gestão das Organizações 33 Lino Inocêncio tecnológico a informação passou a circular com maior fluidez e ela ficou mais próxima dos clientes e estes mais perto de todas as empresas. A exigência do consumidor passou a ser maior. As empresas passaram a produzir para um segmento específico de clientes, obrigando-as a estarem mais atentas a tecnologia, na qualificação dos seus recursos humanos e na forma de organização. Identificamos as seguintes características fundamentais que estão associadas a noção de organização/empresa: • Recursos materiais • Recursos humanos • Forma organizativa Nos recursos materiais pode distinguir-se o capital e os equipamentos necessários a transformação dos produtos ou prestação de um serviço. Os recursos humanos são todas as pessoas que desempenham uma actividade na empresa independentemente da função que executam. A forma organizativa constitui o elo que permite dar a vida à organização. É a forma como a empresa se encontra organizada que a distingue das restantes e que lhe permite desenvolver vantagens competitivas. Existem diversos tipos de organizações, com objectivos e interesses distintos, desde as organizações com características culturais (grupo musicais, teatro, etc.), políticas (partidos políticos) e humanitárias (ONG’s humanitárias, como por exemplo SOS Aldeias de Crianças Angola, entre outras) até às de natureza empresarial. Esta última distingue-se das demais, pelo facto de actuarem numa lógica das leis de mercado ou do plano e são condicionadas por variáveis ambientais que interagem com seu desenvolvimento. Para além disto, procuram incessantemente satisfazer as necessidades dos seus clientes, mas também as daqueles que com eles trabalham, os stakeholders (empregados, gestores, bancos, governos), necessitando de criar um excedente, não só para os seus proprietários (accionistas ou quotistas), mas também para a própria empresa, de modo a permitir a autossustentação (sobrevivência) através da produção e comercialização dos bens e serviços. São objecto de um controlo sistemático por parte do governo, nomeadamente no que tange ao processo de fabrico e de prestação de contas para efeitos de tributação. A sua gestãoobedece a um determinado processo que passa pela planificação, Lições Gestão das Organizações 34 Lino Inocêncio organização, direcção e controlo detidas pelas actividades realizadas por todos os intervenientes da empresa. A planificação requer que os principais responsáveis pela organização definam os objectivos e a melhor forma para os atingir. 3.2. Objectivos da empresa Toda e qualquer empresa deve ter sempre objectivos fixados, para dar sentido a sua actividade. Os objectivos servem para orientar aquilo que a empresa procura atingir, quer em termos de rendibilidade, da satisfação dos clientes e bem como da qualidade do produto. As organizações empresariais constituem-se para atingir determinados objectivos, onde se destaca o lucro e a sobrevivência, que por sua vez implicam outros objectivos de menor prioridade, mas coerentes com os fundamentais. Para atingirem os objectivos que se propõem, as empresas formulam e implementam as suas estratégias, o que, em última análise, se traduz no conjunto de acções envolvendo a globalidade dos recursos disponíveis que se tornam mais adequados para esse efeito. As estratégias desdobram-se em planos, que traduzem não só o que deve ser feito, mas também como deverá ser feito. Os planos (estratégicos, tácticos ou operacionais) traduzem-se em políticas, isto é, linhas de orientação com carácter geral que, por sua vez, dão origem a determinações mais pormenorizadas: as regras — guias de acções detalhadas que definem ou restringem a forma de actuar em casos concretos — e os procedimentos (séries de passos a seguir para a realização de um projeto). As regras e os procedimentos cumprem-se por meio de actos ou acções levadas a cabo nos diferentes níveis e diversos locais pela generalidade das pessoas nas suas diferentes tarefas e resultam em obra feita — produto, serviço ou resultados. Lições Gestão das Organizações 35 Lino Inocêncio Figura 7 - Transformação dos objectivos em resultados A empresa tem os seus objectivos naturais, sem estes não há lucro, e concomitantemente, compromete-se a sua sobrevivência. Os objectivos perseguidos por uma empresa são: i) Proporcionar satisfação das necessidades de bens e serviços; ii) Proporcionar emprego produtivo para todos os factores de produção; iii) Aumentar o bem-estar da sociedade através do uso económico dos factores de produção; iv) Proporcionar uma justa remuneração dos factores de produção (inputs); 3.3. A empresa como sistema aberto Um dos pressupostos básicos da teoria dos sistemas é que as organizações não são, nem autossuficientes, nem independentes. Elas, na luta incessante da mais valia para sustentar a sobrevivência, trocam com o ambiente em que estão, inserido recurso e mantendo uma relação de interdependência. Hoje, a Lições Gestão das Organizações 36 Lino Inocêncio teoria dos sistemas aplica-se a todos os tipos de sistemas vivos, desde o vírus até a sociedade. Figura 8 - A empresa como sistema aberto Sistema é um conjunto de elementos, partes ou órgãos componentes do sistema, isto é, os subsistemas dinamicamente inter-relacionados, formando uma rede de comunicações e relações, em função da dependência recíproca entre eles, desenvolvendo uma actividade ou função que é a operação, actividade ou processo do sistema para atingir um ou mais objectivos ou propósitos que constituem a própria finalidade para a qual o sistema foi criado. O sistema funciona como um todo organizado logicamente. Quando falamos em natureza sistémica, queremos referir-nos a esse funcionamento global, total e integrado no qual o todo é maior (ou diferente) do que a soma das partes. O sistema é composto pelos seguintes parâmetros: • Inputs (insumos): no caso das empresas, são as matérias-primas, os recursos financeiros e humanos, etc.; GESTÃO INPUTS OUTPUT S PROCES SO Concorrênc ia Fornecedor es Accionist Sindicatos Sociedad Força laboral Clientes Consideraç ões AMBIENTE EXTERNO Lições Gestão das Organizações 37 Lino Inocêncio • Processamento: consiste na "transformação" dos inputs (os recursos) tendo em vista a obtenção dos outputs desejados, de acordo com os objectivos que se procura atingir e que em última análise são a razão de ser do sistema ou da organização; • Outputs (saídas): são os produtos finais; • Retroacção (feedback): tem em vista controlar o funcionamento do próprio sistema, informando se os objectivos estão ou não a ser cumpridos; • Entropia: significa que o sistema tende a desintegração, a desorganização, a deterioração. 3.4. O ambiente Externo O ambiente externo das empresas, também designado envolvente, é o contexto no seio do qual as empresas existem e operam. Este subdividem-se em ambiente geral (contextual) e em ambiente operativo (transacional). 3.4.1. Ambiente geral Ambiente geral é a componente do meio envolvente onde as empresas trabalham e que condicionam, no longo prazo, a sua actividade. É um conjunto amplo e complexo de factores externos que envolve e influencia difusamente todas as empresas. Este ambiente é constituído pelos seguintes factores: politico-legais, económicos, sociais e tecnológicas, designado por PEST. • Variáveis Político-legais: o clima político e ideológico geral, a estabilidade ou instabilidade política, a política económica, fiscal, de emprego, saúde, educação, habitação, etc. devem ser tidos em conta aquando do estudo desta variável para uma determinada empresa. Estas situações não devem ser minimizadas sob pena de comprometer o negócio. Conhecer todo o conjunto de leis reguladoras, controladoras, incentivadoras ou que restringem determinado tipo de comportamento empresarial; Lições Gestão das Organizações 38 Lino Inocêncio • Variáveis Económicas: o nível de actividade económica do país - o nível de desenvolvimento económico da região, o grau de industrialização do país ou da região, a distribuição do rendimento per capita, a tendência inflacionista ou deflacionista, etc. são informações a considerar; • Variáveis Sociais: as tradições culturais do país e/ou da região, a estrutura do orçamento familiar, as atitudes quanto ao trabalho e a profissão, as atitudes quanto ao dinheiro e a poupança, etc. Incluímos nestas os aspectos demográficas (as características da população, seu crescimento, raça, religião, distribuição geográfica, por sexo e/ou idade, etc.) aspectos/variáveis ecológicas (as condições físicas e geográficas – clima, terreno, vegetação – e a sua utilização pelo homem). • Variáveis Tecnológicas: traduzem o nível de desenvolvimento tecnológico da sociedade ou de uma indústria (sector) em particular e determinam qual tecnologia a utilizar. A inovação tecnológica ao nível dos produtos, processos e materiais, a protecção de patentes, os programas de incentivos a investigadores e/ou investidores do sector das tecnologias e as normas de qualidade. Este segmento é estratégico, para que as empresas cresçam e apresentem produtos inovadores. 3.4.2. Ambiente operativo O ambiente operativo (ou envolvente transacional) corresponde ao segmento do ambiente geral mais imediato e próximo da empresa. É neste ambiente que diariamente e todo momento que a organização/empresa se relaciona para vender os seus produtos/serviços, pagar os seus tributos e até para verificar o modus operandi dos seus concorrentes. O ambiente operactivo é constituído por 4 sectores principais: • Consumidores/clientes; • Fornecedores (de recursos): capitais, materiais, mão-de-obra, equipamento; • Concorrentes; • Grupos regulamentadores: governo, sindicatos, associações de empresas, etc. Lições Gestão das Organizações 39 Lino Inocêncio Qualquer que seja o tipo de ambiente em que uma empresa opera – doméstico ou global – os gestores terão sempre de utilizar os seus recursos de forma eficiente,produzindo bens e serviços que satisfaçam, da melhor maneira, as necessidades dos consumidores. Para que a empresa tenha sucesso, deve fazê-lo melhor do que fazem os concorrentes. Figura 9 - Ambiente Lições Gestão das Organizações 40 Lino Inocêncio CAPÍTULO 4. FUNÇÃO PLANEAMENTO “Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo da sua posição social. Seu avós tinham uma palavra diferente para isso. Eles chamavam isso de oportunidade.” Bill Gates As organizações são sistemas abertos que interagem com o meio onde elas actuam. Esta envolvente é dinâmica e bastante complexa e por força disto apresenta uma mutabilidade rápida necessitando de uma gestão eficiente e eficaz para fazer face os desafios e assim alcançar os objectivos. As organizações empresariais têm um ciclo de vida (nascimento, crescimento, maturidade e declínio), o que quer dizer que quando ela nasce também pode, no curto, médio ou longo prazo “morrer” - a permanência em cada ciclo de vida depende da gestão da organização. Com o surgimento da internet o mercado mundial passou a ser mais próximo de todos os concorrentes onde todos têm oportunidades de captar os mesmos clientes, pois todos vivemos na mesma aldeia. Uma empresa para fazer face a estes desafios é mister ter sempre um plano estratégico: olhar para frente e controlar todos os cantos não deixando nenhum espaço para o concorrente. Lições Gestão das Organizações 41 Lino Inocêncio Figura 10 - Ciclo de vida da empresa Somos assim induzidos a pensar que a primeira função a ser levada a cabo numa empresa em concepção é o planeamento (definição de planos) quanto ao futuro da empresa. De facto, empresa é sinónimo de empreendimento, o que quer dizer acção ou conjunto de acções a ser executadas com vista a atingir determinados resultados, tendo subjacente a ideia de risco na sua obtenção. Planeamento pode ser visto, portanto, como a primeira função no nascimento de uma empresa e tende a reduzir as incertezas (e os riscos) que caracterizam o seu ambiente, nomeadamente em tempos de grandes e constantes mudanças como aquele em que actualmente vivemos. O planeamento traduz- se na elaboração de planos. Consiste em determinar antecipadamente o que deve ser feito para que se consigam os objectivos pretendidos, e como fazê- lo. O processo do planeamento começa, assim, com a definição dos objectivos que se pretende atingir. A empresa deve viver diariamente sob um plano definido e bem estruturado, não estanque devido as mutações do ambiente que são constantes. 4.1. Pensamento estratégico Hoje cada vez mais torna-se importante dar respostas rápidas aos vários desafios que se colocam às empresas e isso só se consegue quando todos os funcionários e com realce os gestores assumirem uma postura atenta e dinâmica, no sentido de identificarem as oportunidades que o meio Lições Gestão das Organizações 42 Lino Inocêncio envolvente lhe oferece, bem como as ameaças que dele podem advir - surge, pois, a noção de pensamento estratégico. O pensamento estratégico deve ser entendido como o principal meio para a formulação e apoio da estratégia global das organizações. A formulação estratégica resulta do poder criativo e inovador dos colaboradores da empresa, em especial dos gestores de topo. A formulação estratégica deve cumprir uma lógica sistémica, que uma fase influencia a outra e assim sucessivamente. 4.2. Formulação da estratégia Para a definição da estratégia é importante seguir uma estrutura que abaixo apresentamos. Figura 11 - Formulação da estratégia 4.2.1. Visão A visão é uma imagem do que a empresa quer ser e do que quer alcançar/realizar. Normalmente a visão é expressa sob a forma de uma Lições Gestão das Organizações 43 Lino Inocêncio declaração breve que resume o que a empresa quer ser, do seu posicionamento no mercado. É composta por uma ou duas frases simples, concisas, com uma linguagem fácil e acessível a todos. Toda a empresa/empresário deve, a partida, saber onde quer chegar e mudar e/ou transformar-se quando alcança a visão. 4.2.2. Missão A missão define os fins estratégicos da organização, devendo servir de orientação genérica para os indivíduos que nela trabalham. Deve, igualmente, servir como linha de orientação para a definição das estratégias da organização. É o “credo” da organização. Traduz-se na prática numa filosofia básica de actuação da empresa e é o ponto de partida para a definição dos outros objetivos que a ela estão subordinados. A missão deve ser formalmente expressa, servindo de guia de orientação para as pessoas que trabalham na empresa. A missão especifica o negócio ou negócios em que a organização pretende competir e quais as necessidades dos clientes que ela pretende satisfazer. Deste modo, a definição da missão deve responder as seguintes questões: • Qual é o nosso negócio? • Quem é o nosso cliente? O consumidor é sempre um cliente, mas pode não ser "o nosso cliente". Perguntando-se o que fazer e o que não fazer, quais os produtos, mercados ou tecnologias que interessam, cada um dos responsáveis nos diversos níveis tem a "sua resposta", a qual pode, no entanto, não ser a "resposta da organização". A missão de uma determinada organização traduz-se numa explícita declaração ou num implícito entendimento de qual é a razão de ser da sua existência. Quando se traduz numa declaração explícita, esta deve ser: • breve e simples, para ser facilmente entendida; • flexível, para durar mais tempo; e • distintiva, para a diferenciar das outras organizações similares. Normalmente a missão carrega a seguinte informação: Lições Gestão das Organizações 44 Lino Inocêncio • O tipo de produtos ou serviços a que a empresa se dedica; • Os mercados a que se dirige; • A sua filosofia de actuação; • A visão que tem de si própria (autoconceito); • A imagem pública que pretende transmitir. Figura 12 - Comunicação da missão A missão de uma empresa é comunicada ou percebida tanto interna como externamente por diversos meios. Para os elementos que constituem a empresa – empregados e gestores dos diversos níveis – o conhecimento da missão é lhes transmitido quer através de declarações internas formais quer através das acções que traduzem a cultura e os valores prevalecentes. O objetivo é conseguir unir todos os membros da organização em torno de um mesmo foco, gerando uma maior motivação e níveis mais elevados de compromisso organizacional. Para o exterior, designadamente os stakeholders ou parceiros organizacionais, como, clientes, fornecedores, concorrentes, sindicatos, governo e público em geral, a missão é percebida quer através de declarações públicas formais, quer através de slogans ou do próprio nome da organização. Mas, sendo a definição do negócio o ponto de partida para as decisões estratégicas, importa saber então quando deve ser posta a questão: • "Qual é o nosso negócio?" Lições Gestão das Organizações 45 Lino Inocêncio Esta questão que não deve ser feita apenas quando a empresa já está em crise; pelo contrário, deve ser posta também quando a empresa é ou foi bem- sucedida, pois há que estar atento as mudanças mais profundas do ambiente que podem induzir alterações estratégicas mesmo nas empresas bem- sucedidas que não podem ou não devem adormecer a sombra dos louros conquistados. Mas, acima de tudo, a questão deve pôr-se quando se pretende definir objetivos. A definição básica do negócio e do seu objectivo fundamental ou missão tem de ser traduzida em objectivos específicos. O mercado deve ser o elemento chave para definir o negócio da empresa. Neste âmbito a empresa terá de ter em atenção o grupo de clientes (os diferentes público-alvo), as necessidades desses mesmo público-alvo e as competências especificas da empresa (que lhe geram vantagens competitivas face a concorrência).
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