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FARMACOLOGIA DA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR Introdução Os fármacos que atuam nas junções neuromusculares são conhecidos como bloqueadores neuromusculares ou relaxantes neuromusculares. São medicamentos de uso hospitalar e não comercializados. Os relaxantes musculares são administrados, principalmente, por via parenteral (não faz uso via oral). Esses fármacos são utilizados em diversas situações e condiçõe, como: ● Associação com anestésicos: o anestesista utiliza esses medicamentos em associação uma vez que durante a cirurgia corta-se o tecido/músculo e nessa região existem fibras musculares, com isso a resposta do organismo é contrair devido ao estímulo do corte. Durante a sutura, caso não se utilize relaxante muscular, as fibras não ficam alinhadas e com isso aumenta a chance de formar queloide em cima da cicatriz. O médico pode até conseguir um grau de relaxamento do músculo se aumentar a dose de anestesia, porém o risco ao paciente é muito maior, podendo causar depressão respiratória. Então associa-se com o relaxante para deixar essa musculatura flácida, fazer o que tem que fazer, depois sutura com essas fibras alinhadas diminuindo até mesmo a chance de formação de queloide. Dessa forma, os anestesistas utilizam bastante o relaxante muscular em associação com anestesia; ● Realizações de exames: em casos broncoscopia, endoscopia (que são exames onde vai passar uma cânula) o músculo, por estímulo, contraí. Dessa forma, faz-se uma injeção de relaxante muscular junto com o anestésico; ● Facilitar intubação; ● Prevenção de traumatismo durante a terapia com eletro-convulsão; ● Redação de uma fratura exposta, para relaxar o músculo e poder movimentar com o osso. Definições Junção neuromuscular: região que envolve a terminação nervosa e a fibra muscular (esquelética). Placa motora: local da fibra muscular que está em contato com a terminação nervosa. Fisiologia da Junção Neuromuscular A junção neuromuscular faz parte do sistema nervoso somático ou voluntário. A partir do momento que o indivíduo manda um sinal que vai andar, há a ativação do neurônio (despolarização da terminação nervosa) e esse neurônio tem uma fibra que está ramificada em cima dos músculos envolvidos. Esse neurônio ativado (sofrendo despolarização) libera um neurotransmissor chamado acetilcolina e está ativa receptores nessa musculatura (fibra muscular). Essa fibra muscular, pela ação da acetilcolina, também se despolariza uma vez que na fibra tem receptor nicotínicos para acetilcolina. Então esse receptor nicotínico uma vez ativado promove a despolarização da fibra muscular e ocorrendo a abertura de canais de cálcio (presente na fibra muscular). Com a abertura dos canais de cálcio, entra cálcio do meio extra para o intracelular e esse cálcio vai para o retículo sarcoplasmático, ativa um receptor que está ali presente e então, libera o cálcio que estava armazenado dentro desse retículo. E esse cálcio é que faz o músculo contrair, uma vez que promove a junção dos filamentos de actina com miosina, desencadeando um movimento. Se esse cálcio continuar no citosol, o evento não para, então automaticamente esse cálcio que promoveu a contração retorna para o interior do retículo sarcoplasmático através das bombas de refluxo, com isso, o músculo relaxa. Resumo da neurotransmissão ● Chegado do impulso nervoso/ Potencial de ação (PA) ativando o neurônio; ● Liberação da acetilcolina; ● Ativação do receptor nicotínico-Ach; ● Abertura dos canais de Na+ da fibra muscular → Despolarização e abertura dos canais de cálcio; ● Liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático→ Contração. OBS: Quando há emissão de um estímulo ou sinal para desempenhar uma ação, a quantidade de acetilcolina liberada é maior. Bloqueadores musculares São utilizados para bloquear a contração (não se movimentar) e relaxar a musculatura. Antigamente o curai era uma substância usada na ponta da lança das flechas dos índios para caçar os animais. Os animais atingidos tinham todos os seus músculos paralisados permitindo a captura pelos índios. Essa substância imobiliza, porém não é anestésica, dessa forma os animais sentiam todo o sofrimento das dores. Esse mesmo veneno, na forma sintética, foi usada por muito tempo na época da ditatura como método de tortura. Os bloqueadores neuromusculares são classificados da seguinte maneira: ● Competitivos ou adespolarizantes: compete com a substância endógena pelo receptor. Fisiologicamente a acetilcolina se liga ao receptor e induz a contração. Quando se utiliza um medicamento que é um bloqueador muscular competitivo, ele atua se ligando aos receptores nicotínicos, com isso, a acetilcolina endógena não consegue se ligar e este músculo não contrai. Seria um antagonismo farmacológico competitivo. Dessa forma, esses fármacos atuam causando uma inibição competitiva da ligação da acetilcolina ao receptor nicotínico, impedindo a despolarização a partir da placa motora, com isso o órgão não contrai e não se tem movimentos. Ex: Pancurônio, Atracúrio, Tubocurarina e Rocurônio. ● Despolarizantes ou não-competitivos: o protótipo do grupo é uma substância chamada Succinilcolina. Ela também promove um bloqueio muscular, porém de forma diferente. A Succinilcolina tem duas acetilcolinas ligadas uma na outra. Quando esse medicamento se liga no receptor nicotínico, de início ele causa uma despolarização (fasciculações), por isso que se chama despolarizante. Entretanto, ela causa uma despolarização inicial que não se mantém e este medicamento fica ligado ao receptor. Enquanto ele tiver no receptor a acetilcolina não se liga. A acetilcolina é uma substância que é degradada pela acetilcolinesterase e nessa junção tem essa enzima que é responsável por destruir a acetilcolina. A Succinilcolina não é degradada pela acetilcolinesterase. Ela só é degradada pela acetilcolinesterase do sangue e do fígado. Com isso, esse fármaco fica nessa região por mais tempo e enquanto estiver no local a acetilcolina não se liga. Bloqueadores musculares não despolarizantes ● Os competitivos fazem bloqueio do receptor nicotínico (lábil e dinâmico); ● Se aumentar os níveis de acetilcolina desloca esta substância e então a acetilcolina se liga (facilmente reversível, dependendo da ação de massas); ● Agem bem rápido (latência de 2 a 3 minutos) e tem um tempo de ação que pode variar até 5 minutos a 180 minutos; ● São degradados no fígado e pela pseudocolinesterase plasmática, consegue reverter esse bloqueio com um anticolinesterásicos. ● Dentro do hospital, quando se quer reverter esse bloqueio do relaxante muscular tem-se que aumentar a acetilcolina, porém, não se pode injetar a acetilcolina porque ela será degradada pela pseudocolinesterase do sangue. Então para aumentar a acetilcolina, bloqueia a enzima que degrada a acetilcolina. Dessa forma, para reverter um bloqueio competitivo usa-se um anticolinesterásicos, este bloqueia a enzima colinesterase, consequentemente diminui a degradação da acetilcolina, aumentando-a. Quando aumenta a acetilcolina, esta vai até o receptor nicotínico da junção neuromuscular e desloca o inibidor competitivo (antagonista) e este tecido volta a contrair. O protocolo é administrar a neostigmina (anticolinesterásicos) associado à atropina (bloqueadora de acetilcolina em receptores muscarínicos). A atropina é indicada porque uma vez que aumentou acetilcolina no organismo como um todo, ela atua também em receptores muscarínicos e vai ter bradicardia, boca seca, miose, contração de musculatura lisa e todos os efeitos de ativação parassimpática. Por isso associa o anticolinesterásico com a atropina para evitar esses efeitos colaterais; ● Esses fármacos competitivos produzem paralisia flácida; ● A excreção predominante é a renal; ● São administrados via parenteral. ● Esses medicamentos diferem na afinidade pelo receptor nicotínicos ou outros receptores. O foco é receptor nicotínico, mas dependendo da estrutura eles podem também gerar um efeito colateral e bloquear receptor no gânglio (nicotínicos) e alguns deles podem bloquear receptores muscarínico(nesse caso, se utilizar um medicamento que bloqueia nicotínico e muscarínico não precisa utilizar atropina); ● Eles não atravessam a barreira hematoencefálica. Bloqueadores musculares despolarizantes ● Tem-se a Succinilcolina, que assim como a acetilcolina, consegue ativar receptor nicotínico; ● Essa substância tem semelhança de estrutura química com a acetilcolina, porém não é sensível a ação da acetilcolinesterase; ● Esses medicamentos promovem o que chamamos de bloqueio de fase 1 e fase 2; ● Devido à semelhança estrutural da acetilcolina e da succinilcolina, a primeira reação do músculo em despolarização é uma contração inicial, uma vez que tem ativação do receptor nicotínico. Entretanto a Succinilcolina continua ligada ao receptor porque ela não é degradada pela acetilcolinesterase. Só que o cálcio que está dentro dessa fibra e promoveu a contração, ele é recaptado para o interior do retículo sarcoplasmático, promovendo o relaxamento do músculo. Como a succinilcolina continua ligada ao receptor, tem-se a ocorrência de fasciculações (o músculo fica “tremendo”). Enquanto a succinilcolina estiver ligada ao receptor, a acetilcolina não consegue se ligar. Esse efeito acaba quando essa succinilcolina se desprende do receptor e é degradada pelas enzimas do sangue e hepática. Pode usar nos hospitais, tem ação e não libera; ● Pode causar dor muscular porque tem uma descarga de ATP devido a fasciculação; ● Induz relaxamento, porém se parar de infundir por 10 minutos; ela já é consumida pelas enzimas e o efeito é revertido. Margem de segurança Em casos cirúrgicos, quando o médico faz uso de bloqueador muscular, ele entubar o paciente para que ele não fique dependente da própria contração muscular do diafragma para a manutenção da vida. Dessa forma o paciente respira através da ventilação mecânica para que o médico realize o procedimento. Para realizar o bloqueio muscular é necessário que mais de 75% desses receptores nicotínicos estejam bloqueados, porque senão você ainda tem o reflexo da contração. Enquanto houver em torno de 20 a 25% dos receptores livres, ainda se tem contração muscular. Esse bloqueia acontece em uma sequência, onde temos: Os músculos respiratórios, incluindo o diafragma, são os últimos que param de funcionar, uma vez que é uma medida de segurança do próprio organismo. O desbloqueio acontece do sentido contrário do bloqueio. Hipertermia Maligna ● Geralmente descobre se o paciente tem tendência a ter essa condição somente na sala de cirurgia; ● Associação de anestésico com relaxante muscular (Halotano + succinilcolina); ● Para o paciente gerar esse quadro, este já tem uma predisposição genética; ● A temperatura corporal do paciente começa a subir se não tiver um controle pode levar à óbito ou ter uma degeneração neuronal; ● A temperatura começa a subir porque essa associação (Halotano e succinilcolina), nessas pessoas susceptíveis, há uma liberação maciça de Ca+2 do retículo sarcoplasmático, causando então uma contração intensa e esse processo contrátil gera calor e com isso a temperatura sobe e pode ser fatal; ● Tratamento: refrigeração rápida (saco de gelo em volta do paciente), Soro gelado, Ventilação 100% O2; ● Administra: Dantrolene – bloqueio do receptor do retículo sarcoplasmático, com isso bloqueia a liberação de Ca+2 e com isso diminui o processo contrátil e a temperatura vai diminuindo; ● Teste de Contratura in vitro → Para ver se você tem tendência a ter essa hipertermia maligna, porém este teste dá falso-positivo ou falso negativo. Miastenia gravis ● Doença autoimune: onde o organismo gera anticorpos contra os receptores nicotínicos da junção neuromuscular. Esses anticorpos começam a degradar/ deformar os receptores nicotínicos. A acetilcolina tenta se ligar nesse receptor e não consegue e então o indivíduo começa a ter dificuldade para ter contração e não consegue segurar os objetos e etc; ● Diagnóstico: Exames com Edrofônio (anticolinesterásicos de vida curta e aumenta a acetilcolina e força ela a se ligar no receptor e com isso o indivíduo consegue segurar o objeto por um curto período de tempo; ● Esses pacientes apresentam dificuldade de contração e manutenção da atividade muscular por longos períodos; ● Tratamento: por um tempo faz-se tratamento com anticolinesterásicos, aumentando a oferta de acetilcolina forçando-a a se ligar no receptor deformado (neostigmina); ou tratamento com medicamentos imunodepressores que baixam essa questão da imunidade, para tentar destruir esses anticorpos; ● Paciente pode ir a óbito por paralisia respiratória; ● Um dos primeiros sinais é a pálpebra caída, porque nessa musculatura já não consegue fazer a contração.
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