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no art. 67 do Estatuto da Criança e do Adoles- cente, não é permitido ao adolescente em cumprimento de medida de prestação de serviços à comunidade a realização de ati- vidades consideradas perigosas, insalubres, penosas, ou outras expressamente proibidas a pessoas com idade inferior a 18 anos17, de- vendo ser, de qualquer modo, sempre consi- derada a idade do adolescente e a sua maior ou menor capacidade/preparo para o desem- penho das atividades previstas, assim como seus interesses. As tarefas a serem executadas pelos ado- lescentes serão prestadas gratuitamente e vi- sam à sua responsabilização, à vivência de valores de coletividade, ao convívio com am- bientes de trabalho e ao desenvolvimento de estratégias para a solução de conflitos de modo não violento. A medida, portanto, tem um ca- ráter pedagógico e sua execução deve partir das novas experiências vivenciadas e do conví- vio do adolescente com outros grupos. As entidades públicas ou privadas onde o serviço comunitário será efetivamente pres- tado devem ser preparadas para receber o adolescente, de modo que não venham dis- criminar ou tratar o adolescente de forma preconceituosa, submetendo-o a atividades degradantes ou inadequadas. Estas entidades deverão atuar em interlocução com o Serviço de MSE em Meio Aberto e acompanhar as ati- vidades desenvolvidas pelos adolescentes em suas dependências. 17 A respeito do tema, ver ainda arts. 404 e 405 da Consoli- dação das Leis do Trabalho - CLT e art. 7º, inciso XXXIII da Constituição Federal. Compete ao Serviço de MSE em Meio Aberto a articulação com a rede de atendimen- to socioeducativo visando a garantia de locais para o cumprimento da medida socioeducati- va de PSC. É necessária a organização de um processo de capacitação das entidades publi- cas ou privadas parceiras, no qual serão escla- recidos todos os detalhes sobre o Serviço de MSE em Meio Aberto, em especial os objetivos da medida socioeducativa de PSC. Deverão ser sensibilizadas também para a importância da acolhida ao adolescente e para a adequação das tarefas a serem realizadas no cumprimento da medida. Destaca-se, nesse processo, o trabalho de enfrentamento a estigmas e a preconceitos que geralmente acompanham os adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas. A medida socioeducativa de Liberdade Assistida – LA (art. 112 do ECA) destina-se a acompanhar, auxiliar e orientar o adolescen- te autor de ato infracional. Trata-se de uma medida socioeducativa que implica em certa restrição de direitos, pressupõe um acompa- nhamento sistemático, no entanto, não im- põe ao adolescente o afastamento de seu con- vívio familiar e comunitário. Existem especificidades metodológicas a serem consideradas no processo de execução da medida de liberdade assistida, salientando o necessário acompanhamento individualiza- do do adolescente pela equipe do serviço. O planejamento das ações deve considerar que a medida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por ou- tra medida, a partir de avaliação técnica, ou- vidos o Ministério Público e o Defensor. O acompanhamento técnico individua- lizado tem uma função proeminente na exe- cução desta medida. Este acompanhamento deverá garantir a efetivação dos objetivos das medidas, que se referem tanto à responsabili- zação quanto à proteção social do adolescen- te. O trabalho realizado com os adolescentes requer uma formação consistente para o uso 27 de recursos teóricos e metodológicos, e de comprometimento ético, aspectos que carac- terizam o desenvolvimento do trabalho técni- co no âmbito das políticas públicas. Para realizar o acompanhamento das me- didas socioeducativas de LA e de PSC deve-se considerar o perfil do(a) adolescente, suas ne- cessidades, interesses e o contexto em que vive. Em ambas as medidas o técnico de re- ferência deverá acompanhar o adolescente durante seu período de cumprimento, enca- minhando periodicamente à autoridade judi- ciária relatórios circunstanciados18. Em caso de não cumprimento dos ter- mos das medidas aplicadas de LA e de PSC, a autoridade judicial poderá optar pela subs- tituição da medida. Se for aplicada a medida socioeducativa de internação, esta não pode- rá exceder o período de três meses. As medidas socioeducativas com maior grau de restrição de direitos são aplicadas ao adolescente que praticou ato infracional proporcionalmente mais grave. 18 Ver Capítulo 4. Implicam em privação total da liberdade, com cumprimento em unidade de internação, ou em privação parcial da liberdade, no caso da medida de semiliberdade, que permite a rea- lização de atividades externas, independen- temente de autorização judicial. Ambas, cha- madas de medidas em meio fechado, somente serão aplicadas após procedimento regular de apuração do ato infracional, devendo a auto- ridade judiciária levar em conta os critérios estabelecidos no art. 122 do ECA para a impo- sição da medida de internação, a saber: (i) atos cometidos mediante grave amea- ça, como no caso da ameaça de morte; (ii) atos cometidos por meio de violência real, como no caso do homicídio, latrocínio ou roubo; (iii) atos praticados de forma reiterada, ou seja, repetida; e (iv) atos que representam descumpri- mento reiterado, e sem justificativa alguma plausível, da medida socioeducativa imposta anteriormente pelo juiz. 28 2. A interface do Suas com o SINASE Este capítulo tem como objetivo apre- sentar o conjunto de normas do Sistema Úni- co de Assistência Social – SUAS e do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE que regulam as medidas socioeduca- tivas em meio aberto. Primeiramente, será discutida a exe- cução de medidas socioeducativas em meio aberto na Política Nacional de Assistência So- cial a partir das suas principais normativas e daquelas que dialogam mais diretamente com o SINASE. Em seguida, serão apresentados os prin- cipais instrumentos reguladores do SINASE com foco nos princípios e diretrizes relacio- nados à execução das medidas socioeducati- vas em meio aberto. O capítulo, no entanto, não pretende realizar análise detalhada de todo o conte- údo do SUAS e do SINASE, mas demonstrar os pontos comuns entre os respectivos sis- temas, destacando-se conteúdos apresen- tados nos documentos que conjuntamen- te representam as principais disposições estabelecidas atualmente para o atendimen- to socioeducativo. 2.1 Instrumentos Reguladores 2.1.1 Normativas da Política de Assistência Social e medidas socioeducativas A Constituição Federal, voltada à efeti- vação de todos os direitos fundamentais as- segurados a crianças e adolescentes, instituiu um conjunto de dispositivos especificamente voltados a este público. A efetivação de tais di- reitos fundamentais, de caráter social, deve se dar por meio de políticas públicas, entre elas a política pública de Assistência Social, que compõe junto com a Saúde e com a Previdên- cia Social o denominado “Tripé da Seguridade Social”. Tal previsão vem ao encontro da con- sagração do princípio da dignidade da pessoa humana, como fundamento primeiro do Esta- do Democrático de Direito. A partir da CF/88, as crianças e adoles- centes tornam-se sujeitos de direitos e em razão de sua condição peculiar de desen- volvimento, devem ter assegurados, com prioridade absoluta, a proteção integral Capítulo 2 29 pela família, pela sociedade e pelo Estado. Entende-se que tal prioridade também deve ser garantida junto às políticas integrantes da Seguridade Social na destinação de re- cursos para a oferta de serviços que garan- tam seus direitos fundamentais.19 Nesse sentido, a Constituição Federal estabeleceu princípios para a regulação da Política Pública