Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA O QUE É ANESTESIA? A anestesia é um procedimento médico que visa bloquear temporariamente a capacidade do cérebro de reconhecer um estímulo doloroso. Graças à anestesia, os médicos são capazes de realizar cirurgias e outros procedimentos invasivos sem que o paciente sinta dor. A anestesia pode ter ação local, regional ou geral. TIPOS DE ANESTESIA Como já referido, existem basicamente três tipos de anestesia: geral, regional e local. Vamos falar sobre cada uma delas. 1.Anestesia geral: Os anestésicos gerais são utilizados quando se deseja provocar depressão global do sistema nervoso central (SNC), levando a perda da percepção e resposta aos estímulos externos, cursando com perda da consciência, amnésia anterógrada, analgesia, inibição dos reflexos autônomos e relaxamento da musculatura esquelética. A anestesia geral pode ser feita por via venosa ou inalatória e conta com o auxílio de fármacos coadjuvantes, chamados de pré-anestésicos, que servem para abolir a dor, gerar sedação, proteger as vias aéreas, bloquear os reflexos vagais e reduzir o metabolismo. As classes de medicamentos utilizados como pré-anestésicos são: • Anticolinérgicos: esses bloqueadores muscarínicos são utilizados para proteger o coração de uma possível parada durante o processo de indução anestésica. • Antieméticos: inibem a náusea e o vômito durante a anestesia e no período pós-anestésico. • Anti-histamínicos: evitam a ocorrência de reação alérgica e auxiliam na sedação, diminuindo a quantidade de anestésico a ser administrado. • Ansiolíticos e/ou hipnóticos: aqui são utilizados principalmente os benzodiazepínicos e os barbitúricos. Os barbitúricos ajudam na velocidade da sedação, temos como principal exemplo o Tiopental, fármaco bastante eficaz neste processo, capaz de tornar desnecessária a fase excitatória da anestesia. Já os benzodiazepínicos são utilizados normalmente 24 horas antes da anestesia, com o objetivo de controle da ansiedade do paciente. • Relaxantes musculares: são utilizados para evitar os reflexos autônomos durante a indução e também para facilitar a intubação. Opioides também podem ser utilizadas para controle dos reflexos autonômicos, bem como para auxílio na analgesia. Estágios da anestesia geral: A administração dos anestésicos gerais deve ser guiada pelos princípios de segurança e eficiência, baseada na natureza do procedimento a ser realizado, condições fisiológicas atuais do paciente e propriedades do fármaco. Com isso, o processo anestésico segue as seguintes etapas: Princípios da Anestesia HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA 1. Preparação pré-anestésica: neste estágio, são utilizados ansiolíticos, como Midazolam ou Diazepam. 2. Indução anestésica: representa a etapa inicial da anestesia, que consiste no momento de transição ente o estado consciente para o estado inconsciente. Como já mencionado anteriormente, o Tiopental é o fármaco mais utilizado nesta etapa devido a sua capacidade de “pular” a fase de excitação (descrita a seguir). 3. Bloqueio neuromuscular: pode ser feito com succinilcolina e ou rocurônio para facilitar a intubação orotraqueal. 4. Manutenção: é a fase de ajuste da quantidade de droga inalada e/ou infundida, minuto a minuto, seguindo os parâmetros clínicos e os dados fornecidos pela monitorização do paciente. Aqui utiliza-se comumente Propofol e outras classes medicamentosas podem ser usados, como antieméticos, antiarrítmicos, entre outros, a depender da necessidade clínica do paciente. 5. Recuperação anestésica: consiste na etapa de retorno da consciência quando é retirado o anestésico gradativamente, mantendo apenas a oxigenação. Nessa etapa, faz-se uso de Neostigmina, que reverte os efeitos dos bloqueadores musculares, e Atropina, um anticolinérgico utilizado para diminuir os efeitos bradicárdicos da Neostigmina, e para diminuir as secreções brônquicas. 2.ANESTESIA REGIONAL A anestesia regional é um procedimento anestésico usado em cirurgias mais simples, onde o paciente pode permanecer acordado. Este tipo de anestesia bloqueia a dor em apenas uma determinada região do corpo, como um braço, uma perna ou toda região inferior do corpo, abaixo do abdômen. Os 2 tipos de anestesia regional mais usados são: – Anestesia raquidiana (ou raquianestesia). – Anestesia peridural. 2a. Anestesia raquidiana , Para realizar a anestesia raquidiana, uma agulha de pequeno calibre é inserida nas costas, de modo a atingir o espaço subaracnoide, dentro da coluna espinhal. Em seguida, um anestésico é injetado dentro do líquido espinhal (liquor), produzindo dormência temporária e relaxamento muscular. A presença do anestésico dentro da coluna espinhal bloqueia os nervos que passam pela coluna lombar, fazendo com que estímulos dolorosos vindos dos membros inferiores e do abdômen não consigam chegar ao cérebro. A raquianestesia é muito usada para procedimentos ortopédicos de membros inferiores e para cesarianas. HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA 2b. Anestesia peridural A anestesia peridural é muito semelhante a anestesia raquidiana, porém há algumas diferenças: 1- Na anestesia peridural o anestésico é injetado na região peridural, que fica ao redor do canal espinhal, e não propriamente dentro, como no caso da raquianestesia. 2- Na anestesia peridural, o anestésico é injeto por um cateter, que é implantado no espaço peridural. Enquanto na raquianestesia o anestésico é administrado por uma agulha uma única vez, na anestesia peridural o anestésico fica sendo administrado constantemente através do cateter. 3- A anestesia peridural pode continuar a ser administrada no pós-operatório para controle da dor nas primeiras horas após a cirurgia. Basta manter a infusão de analgésicos pelo cateter. 4- A quantidade de anestésicos administrados é bem menor na anestesia raquidiana. A anestesia peridural é comumente usada durante o parto normal. 3. Anestesia local A anestesia local é o procedimento anestésico mais comum, sendo usado para bloquear a dor em pequenas regiões do corpo, habitualmente na pele. Ao contrário das anestesias geral e regional, que devem ser administradas por um anestesiologista, a anestesia local é usada por quase todas as especialidades. A anestesia local é habitualmente feita com a injeção de lidocaína na pele e nos tecidos subcutâneos. Ela serve para bloquear a dor em uma variedade de procedimentos médicos, como biópsias, punções de veias profundas, suturas da pele, punção lombar, punção de líquido ascítico ou de derrame pleural. A anestesia local também pode ser feita através de gel ou spray, como nos casos das endoscopias digestivas, onde o médico aplica um spray com anestésico local na faringe de modo a diminuir o incômodo pela passagem do endoscópio. A anestesia local funciona bloqueando os receptores para dor na pele e os nervos mais superficiais, impedindo que os mesmos consigam enviar sinais doloroso para o cérebro PRINCÍPIOS FARMACOLÓGICOS A prática inicial da anestesiologia usava drogas únicas, como éter ou clorofórmio, para abolir a consciência, evitar movimentos durante a cirurgia, garantir amnésia e fornecer analgesia. Em contraste, a prática atual de anestesia combina vários agentes, muitas vezes incluindo técnicas regionais, para atingir pontos finais específicos. Embora os agentes inalatórios continuem sendo o núcleo das combinações de anestésicos modernos, a maioria dos anestesiologistas inicia a anestesia com agentes de indução intravenosos (IV) e, em seguida, mantém a anestesia com agentes inalatórios suplementados por opióides IV e relaxantes musculares. Os benzodiazepínicos são frequentemente adicionados para induzir ansiólise e amnésia. HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA AGENTES INALATÓRIOS Os anestésicos inalatórios originais - éter, óxido nitroso e clorofórmio - tinham limitaçõesimportantes. O desenvolvimento subsequente de medicamentos enfatizou os agentes inalatórios que facilitam a indução e a emergência rápidas e não são tóxicos; estes incluem isoflurano, sevoflurano e desflurano. Embora o halotano e o enflurano também tenham sido comumente usados no passado, o uso de ambos os agentes diminuiu drasticamente durante os últimos 5 a 10 anos. Os aspectos importantes de cada anestésico volátil podem ser resumidos em termos de seus principais atributos clínicos Duas das características mais importantes dos anestésicos inalatórios são o coeficiente de solubilidade (partição) da gasometria sanguínea (BG) e a concentração alveolar mínima (CAM). O coeficiente de solubilidade de BG é uma medida da absorção de um agente pelo sangue. No geral, agentes menos solúveis (coeficientes de solubilidade de BG mais baixos), como óxido nitroso e desflurano, estão associados a indução e emergência mais rápidas da anestesia, enquanto a indução e a emergência são mais lentas com agentes com alta solubilidade no sangue, como halotano. Óxido nitroso O óxido nitroso fornece apenas anestesia parcial à pressão atmosférica porque seu CAM é de 104% do gás inspirado ao nível do mar. O óxido nitroso influencia minimamente a respiração e a hemodinâmica. Além disso, tem baixa solubilidade no sangue. Portanto, é frequentemente combinado com um dos agentes voláteis potentes para permitir uma dose mais baixa do agente volátil potente, limitando assim os efeitos colaterais, reduzindo o custo e facilitando a indução e o surgimento rápidos. O problema clínico mais importante com o óxido nitroso é que ele é 30 vezes mais solúvel que o nitrogênio e se difunde em espaços fechados de gás mais rápido do que o nitrogênio se difunde. Como o óxido nitroso aumenta o volume ou a pressão desses espaços, ele é contra-indicado na presença de espaços de gás fechados, como pneumotórax, obstrução do intestino delgado e cirurgia do ouvido médio, bem como na cirurgia da retina, em que uma bolha de gás intraocular é criada. Como o óxido nitroso se acumula gradualmente no pneumoperitônio, alguns médicos preferem evitar seu uso durante procedimentos laparoscópicos. No entanto, a ventilação periódica pode prevenir o acúmulo, e alguns pesquisadores sugeriram que o óxido nitroso pode ser preferível ao dióxido de carbono como gás insuflado.1 Isoflurano Aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos em 1979, o isoflurano substituiu rapidamente o halotano como o potente agente inalatório mais comumente usado. Apesar da liberação de sevoflurano e desflurano, o isoflurano é comumente usado em salas de cirurgia modernas, pelo menos em parte porque o custo do composto agora genérico está bem abaixo do dos agentes mais novos. O isoflurano tem várias vantagens sobre o halotano, incluindo menor redução no débito cardíaco, menos sensibilização aos efeitos arritmogênicos das catecolaminas e efeitos metabólicos mínimos. No entanto, a taquicardia induzida por isoflurano, uma resposta variável, pode aumentar o consumo de oxigênio do miocárdio. A observação cuidadosa da frequência cardíaca é necessária quando usada em pacientes com doença arterial coronariana (DAC). Em concentrações de 1,0 MAC ou menos, O isoflurano causa pequeno aumento no fluxo sanguíneo cerebral e na pressão intracraniana (PIC) e https://thoracickey.com/anesthesiology-principles-pain-management-and-conscious-sedation/#bib1 HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA deprime a atividade metabólica cerebral mais do que o halotano ou o enflurano. Seu odor pungente quase impede seu uso para indução inalatória. Sevoflurano A solubilidade relativamente baixa do sevoflurano facilita a rápida indução e emergência. O sevoflurano está associado à emergência mais rápida do que o isoflurano, especialmente em casos mais longos, embora sua emergência um pouco mais rápida não resulte em alta mais precoce após cirurgia ambulatorial. O sevoflurano está associado a uma menor incidência de sonolência e náusea pós-operatória na sala de recuperação pós-anestésica (SRPA) e nas primeiras 24 horas após a alta do que o isoflurano. Ao contrário do isoflurano, o sevoflurano é agradável de inalar, tornando-o adequado para indução inalatória em crianças. Sevoflurano é clinicamente adequado para cirurgia ambulatorial, indução por máscara de pacientes com vias aéreas potencialmente difíceis e manutenção de pacientes com doença broncoespástica. Quando sevoflurano, halotano e isoflurano foram comparados, todos esses agentes potentes diminuíram a resistência respiratória em não asmáticos intubados por via endotraqueal. No entanto, o sevoflurano reduziu a resistência das vias aéreas mais do que o halotano ou o isoflurano. AGENTES INTRAVENOSOS Os agentes IV são um componente indispensável da prática anestésica moderna. Eles são usados principalmente para indução da anestesia e como parte de uma combinação de múltiplas drogas para produzir anestesia balanceada. Agentes de indução A indução com tiopental, o agente de indução IV mais antigo, é rápida e agradável. Embora a droga seja notavelmente bem tolerada por uma ampla variedade de pacientes, várias situações clínicas requerem cautela (Tabela 16-2). Em pacientes hipovolêmicos e naqueles com insuficiência cardíaca congestiva, a vasodilatação induzida por tiopental e a depressão cardíaca podem causar hipotensão grave, a menos que as doses sejam marcadamente reduzidas. Nesses pacientes, etomidato ou cetamina é um agente alternativo. Embora o tiopental não precipite diretamente o broncoespasmo, ele não embota a reatividade das vias aéreas em resposta à intensa estimulação das vias aéreas produzida pela intubação endotraqueal tão efetivamente quanto o propofol ou a cetamina, que são alternativas atraentes para pacientes com doença reativa das vias aéreas. OPIOIDES Os opioides são usados na maioria dos pacientes submetidos à anestesia geral e administrados como adjuvantes aos pacientes que recebem anestesia regional ou local. Como um componente de um HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA anestésico multifacetado, os opioides produzem analgesia profunda e depressão cardíaca mínima. Suas desvantagens incluem depressão ventilatória e hipnose e amnésia inconsistentes, que geralmente devem ser fornecidas por outros agentes. Vários motivos explicam a popularidade universal dos opioides no manejo anestésico. Primeiro, eles reduzem o CAM de agentes inalatórios potentes. Por exemplo, o fentanil (concentração plasmática de 3 ng / mL) diminuiu o CAM do sevoflurano em 59% e reduziu o CAM acordado (a concentração alveolar na qual um paciente emergente responde aos comandos) em 24%. Em segundo lugar, eles atenuam a hipertensão e a taquicardia associadas a manipulações, como intubação endotraqueal e incisão cirúrgica. Terceiro, eles fornecem analgesia que se estende por todo o intervalo pós-emergência inicial e facilita um despertar mais suave da anestesia. Quarto, em doses 10 a 20 vezes a dose do analgésico, os opioides agem como anestésicos completos em uma grande proporção de pacientes, fornecendo não apenas analgesia, mas também hipnose e amnésia. Essa característica levou ao seu uso para pacientes de cirurgia cardíaca, às vezes como agentes anestésicos únicos e mais frequentemente como um componente principal do anestésico. Finalmente, eles agora são frequentemente adicionados às soluções de anestésicos locais em bloqueios peridural e intratecal para melhorar a qualidade da analgesia. Morfina, hidromorfona e meperidina são agentes baratos e de ação intermediária, menos comumente usados para manutenção da anestesia do que para analgesia pós-operatória. O fentanil, um opioide sintético 100 a 150 vezes mais potente do que a morfina, é comumente usado para manutenção da anestesia devido à sua curta duração de ação e rápido início de ação.Os opioides sintéticos mais recentes de curta ação, incluindo sufentanil e alfentanil, também são usados durante a anestesia porque são rapidamente metabolizados e excretados. O remifentanil, um opioide metabolizado pelas esterases séricas, tem ação particularmente curta. Remifentanil não se acumula durante infusões prolongadas e, portanto, é frequentemente usado como parte de anestésicos IV. Também é útil como parte da sequência de indução da anestesia devido ao seu rápido início de ação e curta duração de ação. BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES Décadas atrás, a anestesia era tipicamente conduzida com agentes inalatórios únicos e potentes que produziam todos os componentes da anestesia geral, incluindo qualquer grau de relaxamento muscular necessário para a realização da cirurgia. Entre as desvantagens dessa abordagem estava o fato de que a profundidade da anestesia necessária para produzir relaxamento muscular profundo era muito maior do que a necessária para fornecer hipnose e amnésia, o que causava tempos de despertar prolongados e, possivelmente, alterações hemodinâmicas indesejáveis. A adição de relaxantes musculares proporcionou a oportunidade de aplicar apenas o suficiente dos agentes inalatórios e intravenosos para obter hipnose, amnésia e analgesia, ao mesmo tempo em que proporcionava condições operacionais satisfatórias. As duas categorias de bloqueadores neuromusculares em uso clínico são agentes despolarizantes (não competitivos) e não despolarizantes (competitivos). Os despolarizantes exercem efeitos agonísticos nos receptores colinérgicos da junção neuromuscular, causando inicialmente contrações evidentes como fasciculações, seguidas de um intervalo de profundo relaxamento. Os bloqueadores neuromusculares não despolarizantes competem pelos locais dos receptores com a acetilcolina, com a magnitude do bloqueio dependente da disponibilidade da acetilcolina e da afinidade do agente pelo receptor. HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA Succinilcolina, o único agente despolarizante ainda em uso clínico, continua a ser útil para intubação endotraqueal por causa de seu rápido início de ação e curta duração de ação. No entanto, está associada a riscos graves, incluindo hipercalemia e hipertermia maligna, em uma pequena proporção de pacientes. A droga pode ser administrada em uma dose relativamente alta para intubação porque é rapidamente metabolizada pela pseudocolinesterase plasmática, exceto em uma pequena fração de pacientes com pseudocolinesterase atípica ou ausente. Como sua ação dura apenas 5 minutos, um paciente que não pode ser intubado com sucesso pode ser ventilado por máscara por um curto período de tempo até que a respiração espontânea seja retomada. AVALIAÇÃO PRÉ ANESTÉSICA: O que consiste uma avaliação pré anestésica: A avaliação pré anestésica (APA), levando-se ao pé da letra, consiste no conhecimento clínico do paciente visando sua avaliação anestésica para cirurgia. Mas, ela tem uma função mais abrangente e essencial do que apenas esta. Compreende o primeiro contato do paciente com seu médico anestesista onde irá confidencializar toda sua trajetória clínica, uso de medicamentos, histórico de procedimentos prévios, alergias medicamentosas e alimentícias, medos, dúvidas, problemas de saúde entre outros que os queira. Essa avaliação, ajuda imensamente a diminuir os riscos clínicos de desfechos desfavoráveis voltados a cirurgia, orientando e ajudando o anestesista a identificar, tratar e criar planos de manejo clínico intra operatório evitando alterações do estado físico-clínico do paciente, uso desnecessário de medicamentos e técnicas anestésicas e analgesia, visando o bem estar e segurança do paciente para que o procedimento cirúrgico corra da melhor e mais segura maneira possível evitando-se intercorrências inesperadas. Quem deve avaliar: Segundo a sociedade brasileira de anestesiologia, desde 2006, pela resolução do cfm 1802/06 (Art. 1o a) o médico anestesista deve ser o responsável pela APA. Quando deve ser realizada: A APA deve ser realizada para qualquer procedimento cirúrgico, desde os menores até os maiores e mais complexos procedimentos. Obviamente com critérios, solicitação de exames e foco nas cirurgias de maior complexidade e tempo cirúrgico. Entrevista inicial: Neste questionário, o médico anestesiologista entrevistará o paciente para solicitar sobre suas condições físicas, psicológicas, bem como conhecer todas as informações de interesse clínico sobre o paciente: • Existência de doenças pré-existentes; • Portador de alguma alergia; • Uso de medicamentos e obtenção de informações do nome e dose diária; • História pregressa de alguma cirurgia onde foi necessária a utilização de anestesia; • Cirurgia (ou procedimento) ao qual será submetido. Cuidados necessários: Durante a consulta pré-anestésica o anestesiologista informará o paciente sobre todos os procedimentos e cuidados que deverão ser tomados antes, durante e depois da realização do procedimento cirúrgico, as possíveis complicações e efeitos indesejáveis que possam ocorrer. HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA Essas informações compreendem: • Período de jejum pré-operatório; • Técnica e escolha da anestesia que o paciente irá ser submetido para sua cirurgia, assim como a orientação e explicação da analgesia pós operatória; • Prescrições referente as medicações habituais que o paciente deverá receber ou evitar tomar antes ou no dia cirúrgico (ex: anti-hipertensivos, hipoglicemiantes orais, anticoagulantes, analgésicos); • Orientações de medicamentos ansiolíticos (calmante) na véspera da cirurgia visando não provocar sintomas de ansiedade, insônia prévia à cirurgia; • Informações sobre possíveis complicações ou efeitos indesejáveis pós anestésico como tremores, dores, náuseas e vômitos entre outros; • Solicitação para retirada de próteses dentárias móveis como: dentaduras, pivôs e pontes; • Recomendação para, no dia da cirurgia, cosméticos (batom, base, esmalte, pintura facial, aplique de cabelo) ou acessórios (óculos, lentes de contato, brincos, colares, anéis, relógios, pulseiras etc.) não serem utilizados; • Proibição do consumo de bebidas alcoólicas e tabagismo, por pelo menos 24 horas antes da intervenção cirúrgica. Orientação sobre o Jejum pré operatório: O cumprimento do jejum é de extrema importância, pois caso o paciente não respeite as orientações e vá para cirurgia de estômago cheio, no momento que se induz a anestesia, esse perde seus reflexos de deglutição e proteção das suas vias aéreas. Isso pode provocar regurgitação com aspiração de conteúdo gástrico para os pulmões levando a uma pneumonia química aspirativa gravíssima com sérias complicações. A orientação sobre o jejum fornecido pela sociedade brasileira de anestesiologia é: JEJUM PRÉ OPERATÓRIO EM ADULTOS Classificação e estratificação clínica de risco pré cirúrgico: HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA Um dos principais escores de predição de risco de óbito para avaliação pré-operatória é o Sistema de Classificação do Estado Físico da ASA (em inglês: American Society of Anesthesiologists). Esta escala, classifica o paciente conforme seu estado clínico geral a partir da presença ou ausência de doenças sistêmicas, sendo ainda hoje amplamente utilizada na avaliação pré-operatória, classificando o paciente em 6 possíveis estados físicos sendo crescente o percentual de mortalidade entre as classes: Após realizado a anamnese e coleta da história clínica-cirúrgica do paciente, são feitas as diversas avaliações do paciente como: • Vias Aéreas; • Respiratórias; • Cardiovasculares; • Endocrinológicas; • Solicitações de exames pré operatórios caso haja necessidade. 1- AVALIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS VIAS AÉREAS. Nessa avaliação são observados diversos fatores de classificação e prognósticos de risco para ventilação e intubação.Os preditores de ventilação difícil manual bolsa-máscara são: • Presença de barba, cavanhaque ou bigode por permitir o vazamento de ar pelo não acoplamento adequado da máscara ao rosto; • História de ronco ou apnéia do sono; • Classificação de Mallampati 3 e 4; • Abertura bucal pequena (distância interincisivos) < 3 cm; HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA • Condição dentária precária ou ausência de dentes; • Índice de massa corpórea >26 Kg/m2; Os preditores de intubação difícil são: • Classificação de Mallampati 3 e 4; • Abertura bucal pequena (distância interincisivos) < 3 cm • Distância tireo-mento < 6 cm • Distância esterno-mento < 12,5 cm • Limitação de flexão < 35* e extensão < 80* do pescoço; • Retrognatismo ou prognatismo da mandíbula; • Dentes grande ou proeminentes Classificação de Mallampati Utilizada para verificar o grau de visualização das estruturas da orofaringe sendo dividida em 4 classes: 1. Classe I – palato mole, fauce, úvula e pilares amigdalianos visíveis; 2. Classe II – palato mole, fauce e úvula visíveis; 3. Classe III – palato mole e base da úvula visíveis; 4. Classe IV – palato mole totalmente não visível. Tabela 4 (5) HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA 2- AVALIAÇÃO RESPIRATÓRIA: Nessa avaliação são retiradas todas as características e histórias pulmonares do paciente como: • Tabagismo e sua carga tabágica; • História de asma, bronquite, sinusite ou outra complicação respiratória assim como uso de medicações para seu controle; • História de DPOC, enfisema, fibrose cística ou alguma outra patologia pulmonar; • Cirurgia torácica prévia. Caso o anestesista identifique alguma alteração significativa ou que irá interferir no andamento e segurança intra operatória, ele poderá solicitar exames adicionais, introduzir ou readequar as doses de medicamentos com objetivo de otimizar e estabilizar o quadro pulmonar. Deixando o paciente na sua melhor forma e estado clínico-cirúrgico, minimizando riscos perioperatórios. 3- AVALIAÇÃO CARDIOVASCULAR: Os eventos cardiovasculares são as principais causas de mortalidade perioperatória em cirurgias não cardíacas. Comorbidades como hipertensão arterial, eventos isquêmicos ou obstrutivos prévios devem ser alvos de uma avaliação minuciosa do profissional, que poderá realizar ajustes terapêuticos ou comportamentais. Vale ressaltar o risco associado ao uso de anticoagulantes os quais elevam a chance de sangramentos cirúrgicos. Para estimar o risco cardiovascular, foram criados diversos algoritmos de avaliação cardiológica pré-operatória, como o índice de risco cardíaco descrito por Goldman et al., em 1977 , o primeiro modelo multifatorial específico para complicações cardíacas perioperatórias largamente usados. Esse índice contempla variáveis referentes à avaliação clínica, eletrocardiograma e o tipo de cirurgia (intra-abdominal, intratorácica, aórtica ou de emergência), conferindo pontuações com intuito de estratificar o paciente nas classes I a IV quanto ao risco de apresentar complicações cardiovasculares ou evoluir para óbito. Outro critério simplificado para estratificar riscos cardiovasculares são os preditivos; • Cirurgia de Alto risco (intraperitoneal, intratorácica, vascular suprainguinal); • História de angina/doença isquêmica • História de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA • História de acidente vascular cerebral (AVC) • Creatinina sérica acima de 2mg/dL Sendo, risco baixo quando apresentar 1 fator, médio de 2 a 3 fatores e alto acima de 3 fatores. 4 AVALIAÇÃO ENDOCRINOLÓGICA: Pela alimentação e estilo de vida, muitos paciente sofrem de doenças endócrinas como por exemplo diabetes mellitus, problemas tireoidianos, dislipidemias, fazendo com que muitos realizem terapêutica medicamentosa. O anestesista irá questionar, orientar, prescrever ou proscrever quanto ao uso de hipoglicemiantes orais, medicamentos para hipo ou hipertireoidismo, dislipidemia que poderão ou não serem administrados previamente a cirurgia. AVALIAÇÃO E SOLICITAÇÃO DE EXAMES PRÉ OPERATÓRIOS: Os pacientes assintomáticos ASA 1 com idade até 40 anos não se beneficiam com a realização de exames laboratoriais exceto em cirurgias de alta complexidade ou longa duração, uma vez que apresentam estado de saúde satisfatório com poucos fatores de risco para complicações. Os demais pacientes deverão ter sua avaliação criteriosa com relação a sua patologia de base, reservas clínicas, medicamentos em uso, porte cirúrgico e riscos operatórios. Para cada tipo de patologia de base, a investigação clínica deverá ser mais minuciosa. Abaixo listo alguns dos principais exames pré operatórios solicitados recomendados pela sociedade brasileira de anestesiologia. ECG: • Pode ser solicitado em pacientes com idade superior ou igual a 40 anos e obrigatoriamente acima de 50 anos; • Paciente com doença coronariana, arritmia, doença arterial periférica ou cerebrovascular, doença cardíaca estrutural, hipertensão arterial sistêmica e diabetes; • Não é necessário para pacientes de rotina assintomáticos e/ou que se submeterão a procedimentos de baixo risco. Hemograma: • Extremos de idade, menores de 1 ano e idade > 50 anos • Procedimentos invasivos (cirurgias de longa duração, endometriose profunda e mastectomia com reconstrução); • Comorbidades como HAS, IAM prévio, IAVC prévio entre outros; • História de anemia, sangramento ou outra desordem hematológica Coagulograma: • Coagulopatias ou pacientes em uso de anticoagulantes; HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA • Doença renal ou hepática; • Cirurgia de Grande porte ou invasiva de alto risco de sangramento. Função Renal (uréia e Creatinina): • Pode ser solicitado em pacientes com idade superior ou igual a 40 anos e obrigatoriamente acima de 50 anos; • Portadores de HAS, endocrinopatias (como o DM), nefropatia, insuficiência hepática; ou cardíaca, transplantados renais ou uso de drogas nefrotóxicas. Eletrólitos (sódio, potássio, cálcio): • Pacientes em uso de diurético; • Portadores de HAS, Endocrinopatias (como o DM), nefropatia, insuficiência hepática ou cardíaca. • Pacientes que se submeterão a preparo de cólon no pré-operatório. Glicemia de Jejum: • Diabetes Mellitus; • Doenças do sistema nervoso central (SNC); • Uso de corticosteróides; • Idade maior de 50 anos. Raio X de tórax: • Pacientes com idade superior ou igual a 75 anos; • Pacientes com avaliação sugestiva de doença cardiorrespiratória; • Tabagismo, infecção de vias aéreas superiores (IVAS) recente (período menor ou igual a 15 dias), Asma ou DPOC debilitantes; • Idade maior ou igual a 75 anos, fumo, DPOC estável, doença cardíaca estável, IVAS resolvidas não devem ser consideradas indicações obrigatórias. Após toda esta avaliação e explicações, o paciente deverá assinar o Termo de Consentimento Informado, documento que atesta a liberação por parte do paciente para ser submetido a anestesia conforme fora explicado pelo seu médico anestesista. Esse documento será anexado com o prontuário durante a internação do paciente no hospital quando for realizar o procedimento anestésico-cirúrgico. MONITORIZAÇÃO O monitoramento eficaz é um aspecto crítico dos cuidados com a anestesia. Os componentes essenciais do monitoramento incluem observação e vigilância, instrumentação, análise de dados e instituição de medidas corretivas, se indicado. HM V- UNIME – KATARINA ALMEIDA O objetivo do monitoramento do paciente é fornecer um manejo anestésico ideal e detectar anormalidades no início de seu curso, de modo que medidas corretivas possam ser instituídas antes que ocorram lesões graves ou irreversíveis OBJETIVOSDAMONITORIZAÇÃO A monitorização do doente anestesiado tem os seguintesobjetivos principais: •Analisar a resposta do paciente a determinado procedimento, como utilização de anestésicos, reposiçãovolêmica, ventilação, avaliando tanto a eficácia como os efeitos colaterais e a toxicidade. •Diagnosticar um problema ou reconhecer precocemente uma tendência prejudicial, acompanhando alteraçõesproduzidas por hemorragia, politransfusão, compressão cirúrgica de coração, vasos sanguíneos, pulmões etc. TIPOS DE MONITORIZAÇÃO Quanto ao caráter invasivo, podemos dividir os métodos de monitorização anestésica em duas classes: •Monitroização não-invasiva:é o tipo de monitorização mais moderna, que não necessita da formação de uma solução de continuidade para a aferição de funções vitais do paciente. Podemos realizar uma monitorização não-invasiva por meio dos seguintes métodos: Ausculta cardíaca; Eletrocardiografia; Oximetria; PNI (Pressão Arteria lNão Invasiva); Capnografia; Monitorização do índice bispectral (BIS); Analisador de gases (anestésicos);Estimulador de nervo periférico; Eco-transesofágico com doppler; Temperatura corporal; Impedanciometriarespiratória .•Monitorização invasiva:é o tipo de monitorização que necessita da formação de uma solução de continuidade para a aferição de dados diretamente em loco, representando, por tanto, uma classe de monitorização bastante precisa. Podemos realizar uma monitorização invasiva por meio dos seguintes métodos: Pressão arterial invasiva; Pressão venosa central; Cateter de Swan-Ganz (aplicado pela artéria jugular ou subclávia, éresponsável por aferir a pressão da artéria pulmonar e o débito cardíaco de maneira direta, isto é, em loco); Débito cardíaco (DC); Gasometria arterial contínua; Punção da artéria femoral (procedimentos invasivos); .
Compartilhar