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ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 1 A medicação intracanal se caracteriza pela aplicação de um medicamento no interior dos canais radiculares entre as sessões até a conclusão do tratamento endodôntico. Seu uso exerce um papel auxiliar importante em determinadas condições clínicas e patológicas. a) Eliminar microrganismos que sobreviveram ao preparo químico-mecânico. b) Atuar como barreira físico-química contra a infecção ou reinfecção por microrganismos da saliva. c) Reduzir a inflamação perirradicular e consequente sintomatologia. d) Controlar a exsudação persistente. e) Solubilizar a matéria orgânica. f) Inativar produtos microbianos. g) Controlar a reabsorção dentária inflamatória externa. h) Estimular a reparação por tecido mineralizado. A) ELIMINAR MICRORGANISMOS QUE SOBREVIVERAM AO PREPARO QUÍMICO-MECÂNICO Eliminação de micro-organismos dos sistemas de canais radiculares (locais inacessíveis a instrumentação): istmos, ramificações, delta apical e irregularidades. Pelo fato de permanecer por tempo muito mais prolongado no interior do canal radicular do que a substância química usada na irrigação, o medicamento tem mais chances de atingir tais áreas não afetadas pela instrumentação e pela substância química auxiliar. Assim, exercendo sua ação antimicrobiana, o medicamento pode contribuir decisivamente para a máxima eliminação da microbiota endodôntica. Possivelmente, por potencializar a eliminação de microrganismos, o emprego de medicamentos intracanais está diretamente relacionado a uma melhor reparação dos tecidos perirradiculares e, consequentemente, a um maior índice de sucesso da terapia endodôntica de dentes com canais infectados. B) ATUAR COMO BARREIRA FÍSICO-QUÍMICA CONTRA A INFECÇÃO OU REINFECÇÃO POR MICRORGANISMOS DA SALIVA Canais instrumentados podem ser contaminados/recontaminados e infectados/reinfectados entre as sessões de tratamento por diferentes motivos: microinfiltração através do selador temporário; perda ou fratura do material selador e/ou da estrutura dentária. Infecção/reinfecção do sistema de canais radiculares obviamente ameaça o sucesso da terapia endodôntica. Medicamentos intracanais podem impedir a penetração de microrganismos da saliva no canal por duas maneiras: 1. Barreira Química Medicamentos que possuem efeitos antimicrobianos podem atuar como barreira química contra a microinfiltração, eliminando microrganismos e impedindo sua entrada no canal. Substâncias aplicadas em mechas de algodão colocadas na câmara pulpar, como tricresol formalina e paramonoclorofenol canforado, agem desta maneira. A contaminação ou recontaminação do canal só ocorrerá após a exposição à saliva, quando o número de células microbianas excederem a atividade antimicrobiana do medicamento. Por sua vez, a saliva pode diluir o medicamento e neutralizar seus efeitos, permitindo, assim, a invasão microbiana do canal. O tricresol formalina e o paramonoclorofenol canforado, aplicados na câmara pulpar, não conseguem retardar por muito tempo a recontaminação do canal, após exposição à saliva. 2. Barreira Física Medicamentos que preenchem toda a extensão do canal podem funcionar como uma barreira física à invasão de microrganismos provenientes da saliva. A contaminação ou recontaminação do canal através da saliva ocorrerá por solubilização e permeabilidade do medicamento ou percolação de saliva na interface entre o medicamento e as paredes do canal. Entretanto, se o medicamento apresentar atividade antimicrobiana, a sua neutralização por parte da saliva deve preceder a invasão microbiana. As pastas de hidróxido de cálcio funcionam como uma barreira físico-química, retardando significativamente a recontaminação do canal quando da exposição à saliva por perda do selador coronário. O efeito físico de preenchimento parece exercer maior influência na prevenção da reinfeccção do que o efeito químico. C) REDUZIR A INFLAMAÇÃO PERIRRADICULAR E A CONSEQUENTE SINTOMATOLOGIA Em determinadas situações clínicas, como na periodontite apical aguda e no abscesso perirradicular agudo, em que há sintomatologia por causa da inflamação perirradicular, faz-se necessário o emprego de um medicamento intracanal com o intuito de reduzir direta ou indiretamente a intensidade da resposta inflamatória. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 2 D) CONTROLAR A EXSUDAÇÃO PERSISTENTE O exsudato é considerado persistente quando ainda é observado no canal após irrigação com NaOCl e secagem com pelo menos uns 3 a 4 cones de papel absorvente. A persistência de exsudação no canal indica que irritantes permanecem atuando sobre os tecidos perirradiculares. O preparo químico-mecânico deve ser revisado com o comprimento de trabalho reavaliado e então um medicamento intracanal deve ser aplicado. E) SOLUBILIZAR A MATÉRIA ORGÂNICA É preciso ressaltar que, durante o preparo químico- mecânico, a ação do instrumento endodôntico se realiza somente no canal principal, permanecendo inacessíveis os canais laterais, ramificações apicais, istmos e áreas de reabsorções dentárias. Assim, a remoção do tecido vital ou necrosado que preenche estas áreas dependerá da ação solvente da solução química auxiliar, do fluxo da solução irrigadora durante a aspiração e da ação de substâncias empregadas como medicamento intracanal. F) INATIVAR PRODUTOS MICROBIANOS Medicamentos que possuem efeito neutralizante específico sobre determinados produtos bacterianos tóxicos, como o lipopolissacarídeo (LPS ou endotoxina) de bactérias Gram-negativas e o ácido lipoteicoico (LTA) de Gram-positivas, podem contribuir para a criação de um ambiente endodôntico favorável à reparação perirradicular. Por exemplo, o hidróxido de cálcio, quando em contato direto, pode neutralizar tanto o LPS quanto o LTA. G) CONTROLAR A REABSORÇÃO DENTÁRIA INFLAMATÓRIA EXTERNA A reabsorção dentária inflamatória externa pode ocorrer após traumatismo dentário ou estar associada à lesão perirradicular, em ambas as situações, a perda do cemento e a exposição de túbulos dentinários infectados ou associados a uma polpa infectada conduzem à manutenção da inflamação perirradicular e à progressão da reabsorção radicular. Para o tratamento da reabsorção inflamatória externa, após o preparo químico-mecânico, é imprescindível o uso de um medicamento intracanal com atividade antimicrobiana para auxiliar a desinfecção do canal e tentar debelar a infecção intratubular, fatores que mantêm o processo reabsortivo. H) ESTIMULAR A REPARAÇÃO POR TECIDO MINERALIZADO Nos casos de perfurações e reabsorções radiculares, assim como nos dentes com rizogênese incompleta, medicamentos intracanais são utilizados com a intenção de favorecer a reparação através da deposição de um tecido mineralizado. DERIVADOS FENÓLICOS São compostos que possuem um ou mais grupamentos hidroxila (OH−) ligados diretamente ao anel benzênico (C6H6). O ácido fênico, ou fenol comum, (C6H5OH) é um agente bactericida antigo, bastante utilizado em Medicina e Odontologia. Os derivados fenólicos mais usados no passado como medicamentos endodônticos são: eugenol, paramonoclorofenol, paramonoclorofenol canforado (PMCC), metacresilacetato (cresatina), cresol, creosoto e timol. Estes compostos são potentes agentes antimicrobianos e podem exercer seus efeitos não somente pelo contato direto, mas também através da liberação de vapores. Destes, apenas o PMCC ainda é recomendado em Endodontia. ALDEÍDOS Aldeídos são compostos orgânicos que apresentam na molécula o radical funcional denominado carbonila, tendo uma das valências do carbono preenchida obrigatoriamente pelo hidrogênio e a outra, por um radical alquila ou arila. HALÓGENOS São representados pelos compostos que contêm cloro ou iodo, apresentam efeitos destrutivos sobre vírus e bactérias.O iodofórmio, CHI3 (tri-iodometano), é uma substância halógena empregada como medicamento intracanal, isoladamente ou associada a outras substâncias. O iodofórmio se decompõe liberando iodo no estado nascente. Apresenta boa radiopacidade. O iodeto de potássio iodetado a 2% também tem sido utilizado como medicação intracanal,possui atividade antimicrobiana satisfatória. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 3 BASES OU HIDRÓXIDOS Bases são compostos inorgânicos que possuem como ânions exclusivamente os radicais hidroxila (OH−). São representados, para uso endodôntico, pelo hidróxido de cálcio [Ca(OH)2]. A atividade antimicrobiana por contato e o efeito de estímulo à formação de uma barreira mineralizada são propriedades cientificamente comprovadas quando do emprego dessa substância no interior do canal radicular. CORTICOSTEROIDES São substâncias derivadas do córtex suprarrenal. São medicamentos que atuam sobre o processo inflamatório, inibindo a ação da enzima fosfolipase A2, envolvida na síntese dos derivados do ácido araquidônico (prostaglandinas e leucotrienos), importantes mediadores químicos da inflamação. Possuem efeito inibitório potente sobre a exsudação e a vasodilatação associadas à inflamação. Em Endodontia são utilizados, por meio de aplicações tópicas para o controle da reação inflamatória, nos casos de periodontite apical aguda de etiologia química ou traumática. Podem também ser utilizados na biopulpectomia, nos casos em que não se realiza a obturação radicular imediata e nas pulpotomias. Os corticosteroides mais empregados em Endodontia são a hidrocortisona, a prednisolona e a dexametasona. ANTIBIÓTICOS São substâncias químicas produzidas por microrganismos ou similares a elas produzidas total ou parcialmente em laboratório, capazes de inibir o desenvolvimento ou matar outros microrganismos. Isoladamente, ou combinados com outros medicamentos, eles têm sido pouco empregados como medicamento intracanal, uma vez que, como medicamento intracanal, os antibióticos não são superiores aos antissépticos comuns No entanto, uma combinação de três antibióticos − ciprofloxacin, metronidazol e minociclina (uma tetraciclina) − tem sido recomendada para casos de revascularização ou revitalização em dentes com polpa necrosada e rizogênese incompleta. – O hidróxido de cálcio apresenta-se como um pó branco, alcalino (pH 12,8), pouco solúvel em água (solubilidade de 1,2 g/litro de água, à temperatura de 25°C). Trata-se de uma base forte, obtida a partir da calcinação (aquecimento) do carbonato de cálcio (cal viva). Com a hidratação do óxido de cálcio, chega-se ao hidróxido de cálcio e a reação entre este e o gás carbônico leva à formação de carbonato de cálcio. As propriedades do hidróxido de cálcio derivam de sua dissociação iônica em íons cálcio e íons hidroxila, sendo que a ação destes íons sobre os tecidos e os microrganismos explicam as propriedades biológicas e antimicrobianas desta substância. Uma vez que se encontra na forma de pó, o hidróxido de cálcio deve ser associado a uma outra substância que permita sua veiculação para o interior do sistema de canais radiculares. Idealmente, os veículos devem possibilitar a dissociação iônica do hidróxido de cálcio em íons cálcio e hidroxila, uma vez que suas propriedades são dependentes de tal dissociação. Esta dissociação poderá ocorrer de diferentes formas, grau e intensidade, dependendo de outras substâncias que entrem na composição da pasta. Do ponto de vista da atividade antimicrobiana, principal propriedade exigida para um medicamento intracanal, podemos classificar os veículos em inertes e biologicamente ativos. Veículos inertes:caraterizam-se por serem, na maioria das vezes, biocompatíveis, mas sem influenciar significativamente as propriedades antimicrobianas do hidróxido de cálcio. Estes incluem a água destilada, o soro fisiológico, as soluções anestésicas, a solução de metilcelulose, o óleo de oliva, a glicerina, o polietilenoglicol e o propilenoglicol. Veículos biologicamente ativos: conferem à pasta efeitos adicionais aos proporcionados pelo hidróxido de cálcio. Exemplos incluem o PMCC, a clorexidina e o iodeto de potássio iodetado. Do ponto de vista das características físico-químicas, existem dois tipos de veículos: hidrossolúveis e oleosos. Veículos hidrossolúveis: caraterizam-se por serem inteiramente miscíveis em água. Podem ser divididos em aquosos e viscosos. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 4 Veículos aquosos: propiciam ao hidróxido de cálcio uma dissociação iônica extremamente rápida, permitindo maior difusão. É preciso ressaltar que estes veículos permitem a rápida diluição da pasta do interior do canal radicular, principalmente quando empregada como medicação nos casos de necrose pulpar e lesão perirradicular, obrigando a recolocações sucessivas para que os resultados almejados sejam conseguidos. São exemplos de veículos aquosos, além da água destilada, o soro fisiológico, as soluções anestésicas e a solução de metilcelulose. Os veículos viscosos, embora sejam solúveis em água em qualquer proporção, tornam a dissociação do hidróxido de cálcio mais lenta, provavelmente em razão de seus elevados pesos moleculares. Como veículos viscosos podemos mencionar a glicerina, o polietilenoglicol e o propilenoglicol. O Calen e o Calen PMCC (SS White, RJ, Brasil) são exemplos comerciais de pastas que empregam o polietilenoglicol como veículo. GLICERINA Fórmula: CH2OH – CHOH – CH2OH Nomenclatura oficial: propanotriol Miscível em qualquer proporção com água e álcool. Insolúvel em clorofórmio, éter e em óleos fixos e voláteis. POLIETILENOGLICOL 400 Fórmula: CH2OH – (CH2 – O – CH2)n – CH2OH Miscível em qualquer proporção com água, acetona, álcool e outros glicóis, insolúvel no éter e no benzeno. PROPILENOGLICOL Fórmula: CH2OH – CHOH – CH3 Nomenclatura oficial: propanodiol 1, 2. Exposto ao ar úmido, absorve umidade. Mistura-se em qualquer proporção com água e álcool. Os veículos oleosos, em função de serem muito pouco solúveis na água, conferem à pasta de hidróxido de cálcio pouca solubilidade e difusão junto aos tecidos. Como veículos oleosos, podem ser mencionados alguns ácidos graxos, como os ácidos oleico, linoleico e isosteárico, o óleo de oliva, o óleo de papoula-lipiodol, o silicone e a cânfora-óleo essencial do paramonoclorofenol. As pastas LC (Herpo Produtos Dentários Ltda., Rio de Janeiro) e Vitapex (Neo Dental Chemical Products Co., Tóquio, Japão) são exemplos de formulações comerciais que utilizam veículos oleosos. ÓLEO DE OLIVA O óleo de oliva purificado é um líquido amarelo-claro ou verde-claro, com odor característico, insolúvel na água, ligeiramente solúvel no álcool. PARAMONOCLOROFENOL CANFORADO (PMCC) O uso do PMC fundamenta-se nas propriedades antissépticas do fenol e do íon cloro que, na posição para do anel fenólico, é liberado lentamente. Apresenta-se sob a forma de cristais e possui odor fenólico característico. A combinação do PMC com outras substâncias, ou a sua diluição, tem sido proposta com o objetivo de potencializar a atividade antimicrobiana e reduzir a citotoxicidade do medicamento. A forma em associação com a cânfora tem sido a mais utilizada em Odontologia. Comercialmente o PMC está associado à cânfora, usualmente na proporção 3,5:6,5 (S.S.White). O PMCC apresenta elevada atividade antibacteriana contra bactérias anaeróbias estritas. O uso isolado do PMCC como medicação intracanal não tem sido mais recomendado em virtude da elevada toxicidade da substância, o que não permite preencher o canal com esta substância, e dos efeitos antibacterianos bastante efêmeros, quando aplicado em mecha de algodão na câmara pulpar durando no máximo 48 horas. No entanto, tem sido recomendadocomo veículo biologicamente ativo e oleoso para o hidróxido de cálcio. O PMCC apresenta baixa tensão superficial (36,7 e 37,2 dinas/cm2, respectivamente) e é solúvel em lipídios. Estas características permitem que esta substância apresente maior penetrabilidade tecidual, aumentando seu raio de atuação dentro do sistema de canais radiculares (ver adiante neste capítulo). CLOREXIDINA A clorexidina é uma substância antimicrobiana altamente eficaz contra espécies orais de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, além de fungos,atravessa a parede celular microbiana por difusão passiva e então ataca a membrana citoplasmática. é um agente antimicrobiano amplamente utilizado e que tem sido recentemente proposto para uso endodôntico como substância química auxiliar ou como medicação intracanal. Na irrigação, a clorexidina tem revelado resultados antimicrobianos similares aos do NaOCl. Além dos efeitos antimicrobianos, a clorexidina apresenta baixa toxicidade e propriedade de substantividade à dentina, o que resulta em efeitos antimicrobianos residuais mantidos por dias a semanas. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 5 Como medicação intracanal, a clorexidina tem sido recomendada isoladamente ou em combinação com o hidróxido de cálcio. SUBSTÂNCIAS ADICIONAIS Algumas substâncias químicas, além dos veículos, têm sido acrescidas ao hidróxido de cálcio no intuito de melhorar suas propriedades físico-químicas para utilização clínica, como a própria radiopacidade. As substâncias associadas normalmente são: carbonato de bismuto, sulfato de bário, iodofórmio e o óxido de zinco. 1. AÇÃO ANTI-INFLAMATÓRIA Três mecanismos de ação foram propostos para justificar os efeitos anti-inflamatórios do hidróxido de cálcio: ação higroscópica, formação de pontes de proteinato de cálcio e inibição da fosfolipase. Quando aplicado diretamente sobre um tecido acometido por resposta inflamatória aguda, o hidróxido de cálcio promove a exacerbação do processo, o que certamente não ocorreria se esta substância fosse dotada de ação anti-inflamatória. Cumpre salientar que os efeitos antimicrobianos do hidróxido de cálcio são responsáveis pela redução ou resolução da inflamação associada ao uso desta substância, uma vez que participa na eliminação da causa do processo inflamatório, isto é, a infecção. 2. AÇÃO ANTIMICROBIANA A maioria dos microrganismos patogênicos para o homem não é capaz sobreviver em um meio extremamente alcalino, exceto o E. faecalis, que pode sobreviver em pH 11,5, a Candida albicans e o Actinomyces radicidentis. Como o pH do hidróxido de cálcio é de cerca de 12,8, depreende-se que praticamente todas as espécies bacterianas já isoladas de canais infectados são sensíveis aos seus efeitos, sendo eliminadas em pouco tempo quando em contato direto com esta substância. MECANISMOS DE ATIVIDADE ANTIMICROBIANA A atividade antimicrobiana do hidróxido de cálcio está relacionada à liberação de íons hidroxila, oriundos de sua dissociação em ambiente aquoso. Seu efeito letal dá-se pelos seguintes mecanismos: a) Perda da integridade da membrana citoplasmática bacteriana: isto ocorre por causa da peroxidação lipídica, que resulta na destruição de fosfolípios, componentes estruturais da membrana. b) Inativação enzimática: todo o metabolismo celular depende da ação enzimática, que está diretamente relacionada ao pH do meio. Proteínas (neste caso em especial, as enzimas) e outras biomoléculas possuem uma faixa estreita de pH, na qual a atividade ou a estabilidade é ótima, girando em torno da neutralidade. A alcalinização promovida pelo hidróxido de cálcio induz a desnaturação de enzimas por quebra de ligações iônicas, que mantêm sua estrutura terciária (a forma como a proteína está disposta tridimensionalmente). c) Dano ao DNA: os íons hidroxila reagem com o DNA bacteriano, levando à cisão das fitas, acarretando a perda de genes e induzindo mutações. Isto gera inibição da replicação do DNA e desarranjo da atividade celular. – Se, nos testes de difusão em ágar e de desinfecção da dentina, o hidróxido de cálcio associado a um veículo inerte foi ineficaz e, quando associado ao PMCC, microrganismos foram inibidos e/ou eliminados, parece lógico afirmar que o efeito antimicrobiano da pasta em profundidade deve-se principalmente ao PMCC. Destarte, se o PMCC é o principal responsável pela atividade antimicrobiana da pasta, a afirmativa de que esta substância é o veículo não procede. Na verdade, parece-nos que o inverso, pelo menos no que concerne à atividade antimicrobiana, é mais verdadeiro, isto é, o hidróxido de cálcio funciona como veículo, permitindo uma liberação lenta e controlada de PMCC para o meio, o suficiente para ter ação contra microrganismos. Isto é importante, pois o PMCC na forma pura é extremamente citotóxico. Contudo, trabalhos experimentais em modelo animal demonstraram que esta pasta é biocompatível. A compatibilidade biológica da pasta HPG talvez se deva: 1) à pequena concentração de PMC liberado. Quando o PMCC é associado ao hidróxido de cálcio, há a formação ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 6 de um sal pouco solúvel, o paramonoclorofenolato de cálcio, que, em ambiente aquoso, se dissocia lentamente liberando PMC e íons cálcio e hidroxila para o meio circundante 2) ao fato de o pH alcalino da pasta causar uma desnaturação proteica superficial no tecido em contato com ela, que serve como barreira física para a difusão e maior penetrabilidade tecidual por parte do PMC; 3) à irritação ser de baixa intensidade por um curto período. A pasta HPG apresenta maior espectro de atividade antimicrobiana, maior raio de atuação, efeito antimicrobiano mais rápido e é menos afetada por soro e tecido necrosado, quando comparada às pastas de hidróxido de cálcio em veículos inertes. O maior raio de ação pode ser resultado da baixa tensão superficial do PMCC e da solubilidade em lipídios, o que facilita sua difusibilidade pelo sistema de canais radiculares. Por tais razões, recomendamos a pasta HPG como a medicação intracanal a ser utilizada rotineiramente após o preparo químico-mecânico de dentes com necrose pulpar, devendo permanecer no canal por um período ideal de aproximadamente 7 dias. A associação da clorexidina com o hidróxido de cálcio (HCHX) tem sido então bastante estudada recentemente. Até o momento, não há consenso entre os estudos in vitro quanto à vantagem de associar clorexidina ao hidróxido de cálcio. Contudo, apesar da perda da clorexidina ativa, quando misturada ao hidróxido de cálcio, os efeitos residuais ainda podem ter significado clínico. Os efeitos antimicrobianos significativos da pasta HCHX revelados por estes estudos clínicos podem ser creditados a resíduos ainda ativos, e não a precipitados de clorexidina na pasta, além do alto pH da mesma. Assim, esta pasta pode ser uma boa alternativa à pasta HPG no uso rotineiro durante o tratamento (e no retratamento) de dentes com lesão perirradicular, com o potencial de promover resultados similares. Endotoxinas, ou lipopolissacarídeos (LPS), são constituintes da membrana externa da parede celular de bactérias Gram-negativas que, quando liberadas para o meio externo, são importantes fatores de virulência. Estas moléculas exercem um papel relevante na patogênese das doenças da polpa e dos tecidos perirradiculares. A porção lipídica da molécula, conhecida como lipídio A, é a principal responsável por seus efeitos biológicos. Foi demonstrado que o hidróxido de cálcio pode promover a hidrólise do lipídio A, destruindo ligações éster dentro da molécula do LPS, promovendo assim a liberação de ácidos graxos hidroxilados.44 Consequentemente, a molécula de LPS é inativada, tendo seus efeitos tóxicos neutralizados ou reduzidos significativamente.O ácido lipoteicoico (LTA) é um polímero de glicerol fosfato ligado a ácidos graxos e representa um dos principais componentes da parede celular de bactérias Gram-positivas. O LTA se assemelha ao LPS em certos aspectos, incluindo as propriedades pró-inflamatórias, sendo considerado o equivalente do LPS em bactérias Gram-positivas. LTA é um importante fator de virulência do E. faecalis e pode ser um fator de virulência envolvido na patogênese das lesões perirradiculares. A clorexidina também pode inativar o LTA porque afeta a sua capacidade de estimular o TLR2, resultando na redução da produção de citocinas pró-inflamatórias. De forma similar ao LPS, resta determinar se esses efeitos sobre o LTA podem ser observados in vivo e, em caso afirmativo, qual é a relevância real para o resultado a longo prazo do tratamento endodôntico. Quando em contato direto com um tecido conjuntivo organizado com memória genética para produção de tecido mineralizado, como polpa ou ligamento periodontal, o hidróxido de cálcio estimula a neoformação de dentina ou cemento, respectivamente. Esta é, sem dúvida alguma, a propriedade mais difundida do hidróxido de cálcio, sendo apoiada tanto pela prática clínica quanto por inúmeros trabalhos científicos. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595152687/epub/OEBPS/xhtml/B9788535279672500354C.xhtml#bib2098 ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 7 Algumas modalidades de tratamento utilizam-se deste efeito biológico do hidróxido de cálcio, entre eles: capeamento pulpar direto; curetagem pulpar; pulpotomia; apicificação; tratamento de perfurações e de reabsorções radiculares. Embora se reconheça esta propriedade do hidróxido de cálcio, seu mecanismo de ação ainda não foi perfeitamente elucidado. Alguns atribuem este efeito aos íons hidroxila, enquanto outros julgam que os íons Ca+2 sejam os responsáveis pela indução do reparo. Seguem algumas tentativas de explicar os efeitos do hidróxido de cálcio sobre os tecidos, que resultam na deposição de tecido duro neoformado: ativação de enzimas (Cat- ATPase, Pirofosfatase, Fosfatase alcalina) e trauma químico. 1. SOLVENTE DE MATÉRIA ORGÂNICA Tem sido demonstrado que, por possuir pH extremamente alcalino, o hidróxido de cálcio pode promover a quebra de ligações iônicas que mantêm a estrutura terciária de proteínas, desnaturando-as e tornando-as mais suscetíveis à dissolução por NaOCl. Tais estudos foram conduzidos em condições experimentais nas quais a área de contato entre as substâncias testadas e os tecidos era máxima, o que não condiz com a situação real dentro do sistema de canais radiculares, onde irregularidades, istmos e ramificações podem limitar este contato, que não são totalmente limpas, mesmo após a utilização de curativo com hidróxido de cálcio. 2. INIBIÇÃO DA REABSORÇÃO RADICULAR EXTERNA O processo de reabsorção de um tecido mineralizado inicia-se pela perda da matriz orgânica que o reveste, como o osteoide no osso e o pré-cemento no cemento. Ácidos promovem a dissolução da hidroxiapatita, componente inorgânico do tecido mineralizadoO pH na lacuna de reabsorção cai para aproximadamente 4,5, o qual é ótimo para a atividade de algumas catepsinas liberadas pelo osteoclasto e envolvidas na reabsorção. Tais mecanismos bioquímicos utilizados pela célula clástica para reabsorver tecidos mineralizados são exatamente os mesmos, independentemente de a reabsorção ser fisiológica ou patológica. Nas reabsorções radiculares inflamatórias externas, componentes bacterianos, como o LPS de bactérias Gram-negativas, desempenham papel importante para estimular a biossíntese e liberação de citocinas (IL-1, TNF, IL-6) envolvidas na ativação de células clásticas. Em virtude de ser uma base forte, tem sido sugerido que o hidróxido de cálcio promove a elevação do pH do meio, neutralizando ácidos e inibindo a atividade enzimática relacionada à reabsorção. Outrossim, a elevada alcalinidade do hidróxido de cálcio poderia induzir a morte da célula clástica, paralisando o processo de reabsorção. A associação do hidróxido de cálcio com veículos biologicamente ativos, como o PMCC e a clorexidina, apresenta maior capacidade de desinfetar túbulos dentinários em aplicação única e por isso são mais apropriados para o controle da reabsorção inflamatória externa. ATIVIDADE FÍSICA As pastas de hidróxido de cálcio usadas como medicamento intracanal atuam como barreira física e química (ação de preenchimento), impedindo ou retardando a infecção ou reinfecção do canal radicular por microrganismos provenientes da cavidade oral. Os canais instrumentados podem ser contaminados (nos casos de biopulpectomia) ou recontaminados (nos casos de necropulpectomia) entre as sessões do tratamento endodôntico por bactérias presentes na saliva que infiltra através do material selador temporário ou que tem acesso direto ao canal por perda ou fratura do material selador e/ou da estrutura dentária. A barreira física proporcionada pelas pastas de hidróxido de cálcio utilizadas como medicação intracanal também impede ou dificulta a percolação apical de fluidos teciduais, negando o suprimento de substrato para microrganismos residuais que porventura tenham sobrevivido ao preparo químico-mecânico. Também, esta barreira física limita o espaço para a multiplicação destes microrganismos remanescentes entre as sessões de tratamento. O extravasamento das pastas de hidróxido de cálcio para os tecidos perirradiculares, nos casos em que há ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 8 presença de lesão, não parece oferecer quaisquer benefícios. O hidróxido de cálcio não apresenta efeito anti- inflamatório comprovado, é improvável que esta substância vá eliminar microrganismos situados na superfície radicular apical ou no interior da lesão. Nos tecidos perirradiculares, há uma intensa atividade de substâncias tamponadoras, como o sistema bicarbonato, sistema fosfato e uma miríade de proteínas que irão impedir a elevação significativa do pH. Além disso, a pasta seria rapidamente diluída pelos fluidos teciduais e “lavada” pela microcirculação, que é bastante desenvolvida na lesão perirradicular pela intensa neoformação vascular. Por outro lado, embora o extravasamento de uma pequena quantidade de pasta de hidróxido de cálcio aparentemente não vá conferir efeitos benéficos, esta conduta usualmente não traz maiores consequências. Entretanto, o exagero na quantidade extravasada de pasta, em determinadas situações, pode ter efeitos desastrosos para o paciente. Uma lima tipo K de diâmetro imediatamente inferior ao da última lima empregada para a confecção do preparo apical (lima de memória) é selecionada para a inserção da pasta de hidróxido de cálcio no canal radicular. O instrumento é carregado com a pasta em suas espirais, introduzido lentamente até alcançar o comprimento de trabalho, pincelado contra as paredes do canal e girado no sentido anti-horário por duas ou três vezes. A remoção do instrumento é realizada lentamente, sem interromper o movimento de rotação anti-horária. Repete-se este procedimento mais uma a três vezes, até que todo o canal radicular esteja preenchido com a pasta. A operação é acompanhada com o auxílio do exame radiográfico. Isto posto, promove-se a compactação da pasta com uma pequena mecha de algodão esterilizado e de tamanho adequado, colocada na embocadura do canal e comprimida com as pontas de uma pinça clínica ou calcador de Paiva, que funciona como um êmbolo, para assegurar o preenchimento do canal em toda a sua extensão. Geralmente, a infecção em dentes com vitalidade pulpar está restrita à superfície da polpa coronária exposta, sendo que a radicular se encontra apenas inflamada, isenta de microrganismos. Isto porque os mecanismosde defesa do hospedeiro, conquanto a polpa se encontre vital, impedem o avanço da infecção em direção apical. Este fato reveste-se de importância clínica no que se refere à conduta terapêutica em dentes com polpa vital. Uma vez eliminada a infecção superficial da polpa através de profusa irrigação da câmara pulpar com solução de NaOCl, todos os procedimentos intracanais serão realizados em ambiente asséptico, não infectado. Destarte, uma vez combatida a infecção superficial da polpa e mantidos os princípios básicos de assepsia nas biopulpectomias, recomendamos a obturação imediata do sistema de canais radiculares. Na eventualidade de o tratamento endodôntico não poder ser concluído na mesma sessão, sugerimos o emprego de um medicamento, cujo objetivo primordial é impedir a contaminação do sistema de canais radiculares entre as sessões de tratamento. Quandos indicados nas biopulpectomias, os medicamentos intracanais recomendados são uma solução de corticosteroide/antibiótico (Otosporin ou Decadron colírio) ou as pastas de hidróxido de cálcio. O emprego de uma associação corticosteroide-antibiótico atenua a intensidade da reação inflamatória provocada pelo ato cirúrgico e uso de medicamentos, favorecendo a prevenção ou eliminação da dor pós-operatória. Os corticosteroides de efeito anti-inflamatório moderado, como a hidrocortisona e a prednisolona, usados na medicação intracanal em doses diminutas não produzem efeitos sistêmicos significantes, o que permite seu uso com segurança. CASOS EM QUE O CANAL NÃO FOI TOTALMENTE INSTRUMENTADO Quanto à solução de corticosteroide/antibiótico (Otosporin ou Decadron colírio), podemos empregá-la quando: a) procedeu-se ao acesso coronário e à remoção da polpa coronária, mas o canal não foi instrumentado – aplica-se o medicamento embebido em uma mecha de algodão na câmara pulpar. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 9 b) procedeu-se a uma instrumentação parcial do canal – inunda-se o mesmo com o medicamento, bombeando-o para a região apical do canal com um instrumento de pequeno calibre. O Decadron colírio ou o Otosporin é utilizado para reduzir a inflamação do remanescente pulpar, que poderia resultar em sintomatologia até o retorno do paciente para a completa instrumentação. Este medicamento pode ser acondicionado em tubetes de anestésicos vazios, o que facilita sua aplicação no canal radicular com o auxílio de uma seringa do tipo Carpule e agulha G30. Também empregamos o Decadron colírio ou o Otosporin nos casos de uma sobreinstrumentação durante o tratamento de um dente polpado ou em casos de periodontite apical aguda de etiologia traumática ou química, mas não infecciosa. CASOS EM QUE O CANAL FOI TOTALMENTE INSTRUMENTADO Hidróxido de cálcio: pode ser usado em associação com veículos inertes, uma vez que não há infecção do canal. Recomendamos a utilização da pasta contendo hidróxido de cálcio e iodofórmio, na proporção de 3:1 em volume, tendo como veículo a glicerina (pasta HG), a qual permite um adequado preenchimento do canal.214 A pasta deve ser levada ao canal, de preferência por meio de espirais de Lentulo. O medicamento deve preencher toda a extensão do canal preparado, entrando em íntimo contato com as paredes dentinárias e com os tecidos perirradiculares via forame apical, mas sem extravasar. A repleção adequada do canal com a pasta deve ser confirmada radiograficamente. As pastas de hidróxido de cálcio usadas como medicamento intracanal nos casos de biopulpectomia funcionam como obturação provisória, evitando ou retardando a contaminação do canal radicular por microinfiltração salivar via material selador temporário. Assim, quando o canal radicular se encontra devidamente preparado e a obturação foi postergada, consideramos as pastas de hidróxido de cálcio como o medicamento intracanal de primeira opção. O medicamento pode permanecer no interior do canal radicular por um período variável de 7 a 30 dias aproximadamente. Após o preparo químico-mecânico de canais radiculares infectados (casos de necrose pulpar ou de retratamento), impõe-se o emprego de um medicamento intracanal visando maximizar a eliminação de microrganismos. Todavia, é imperioso que se remova a smear layer com o objetivo de desobstruir o acesso às ramificações e aos túbulos dentinários e, com isso, facilitar a difusão e atuação do medicamento. CASOS EM QUE O CANAL FOI TOTALMENTE INSTRUMENTADO Pasta HPG: a pasta é preparada sobre uma placa de vidro estéril, utilizando-se espátula flexível para cimentos. Inicialmente, volumes iguais de PMCC e glicerina são depositados sobre a placa e então homogeneizados. Em seguida, agrega-se o pó do hidróxido de cálcio e do iodofórmio (na proporção de 3:1 em volume), gradativamente, até que se obtenha uma consistência cremosa, similar a creme dental. O acréscimo de iodofórmio é adequado para conferir radiopacidade e não interfere na atividade antibacteriana da pasta. Em dentes anteriores, nos quais o iodofórmio pode causar alteração cromática da coroa dentária ou em casos de relato de reações alérgicas ao iodo, podemos substituí-lo pelo pó de óxido de zinco ou pelo sulfato de bário. Alternativamente, o pó da pasta LC também pode ser empregado, uma vez que contém hidróxido de cálcio e o radiopacificador carbonato de bismuto. Em canais amplos, pode-se suprimir o agente contrastante. Consideramos a pasta HPG a primeira escolha quando o canal estiver completamente instrumentado. Em função dos resultados obtidos por vários estudos em nosso laboratório, indicamos o tempo mínimo de permanência do medicamento no interior do canal radicular de 7 dias. Opcionalmente, a pasta HCHX pode ser empregada com resultados similares aos da pasta HPG. Para o preparo da pasta recomendamos utilizar o pó do hidróxido de cálcio com óxido de zinco ou sulfato de bário como radiopacificador e a solução ou gel de gluconato de clorexidina de 0,2% a 2%. Agrega-se o pó ao líquido ou gel até a obtenção de consistência cremosa. CASOS EM QUE O CANAL NÃO FOI TOTALMENTE INSTRUMENTADO Hipoclorito de sódio: algodão é umedecida com NaOCl a 2,5% e então colocada e acamada na câmara pulpar, de modo a permitir um espaço de 3 a 5 mm de espessura para a aplicação do material selador temporário. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595152687/epub/OEBPS/xhtml/B9788535279672500354C.xhtml#bib2268 ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 10 Optamos pelo emprego do NaOCl nos casos em que o canal radicular não foi instrumentado ou o foi apenas parcialmente, porque este medicamento pode promover uma desinfecção parcial do conteúdo infectado do canal e, mais importante, atuar como uma barreira química contra a recontaminação do canal por microrganismos da saliva que, porventura, possam adentrar a câmara pulpar, via percolação marginal, pelo selador temporário. Biopulpectomia Necropulpectomia/ Retratamento Canal totalmente instrumentado Obturação; ou medicação com pasta HG Medicação com pasta HPG ou HCHX Canal parcialmente instrumentado Decadron colírio ou Otosporin Hipoclorito de sódio HG: pasta de hidróxido de cálcio em glicerina HPG: pasta de hidróxido de cálcio/paramonoclorofenol canforado/glicerina HCHX: pasta de hidróxido de cálcio em clorexidina Na Endodontia, selamento coronário é o preenchimento da cavidade de acesso e parte da cavidade pulpar por um material selador temporário. É usado entre as sessões do tratamento endodôntico e também após o seu término. Material selador temporário é aquele destinado ao preenchimento de cavidades dentárias por um período de tempo, sem alcançar o desempenho mecânico e biológico, previsto para um material restaurador permanente. o material selador temporário usado entre as sessões de um tratamento endodônticotem como função impedir que a saliva e microrganismos da cavidade oral ganhem acesso ao canal radicular, prevenindo assim o risco de infecção ou reinfecção, e evitar a passagem de medicamento do interior do canal radicular para o meio bucal, preservando a efetividade da medicação intracanal e impedindo qualquer ação deletéria na mucosa oral. Para cumprir tais funções, o material selador temporário deve apresentar estabilidade dimensional, boa adesividade às estruturas dentárias e elevada resistência mecânica. Outros fatores inerentes ao material podem causar microinfiltrações, por exemplo: preparo incorreto da cavidade de acesso; material mal adaptado às paredes da cavidade; resíduos entre as paredes cavitárias e a restauração temporária; e deterioração do material selador pelo tempo. A forma da cavidade coronária também interfere na capacidade seladora do material empregado. A cavidade deve ter suas paredes paralelas ou ligeiramente expulsivas no sentido coronário. Cavidades que apresentam todas as paredes constituídas de estrutura dentária são as ideais para conter o material selador temporário. A ausência de paredes dentárias certamente compromete o selamento da cavidade pulpar. Outro aspecto a ser considerado é a profundidade da cavidade que irá receber o material selador. Diversos estudos evidenciam que uma espessura de 3 a 5 mm é suficiente para permitir o selamento marginal. No selamento coronário entre as sessões de um tratamento endodôntico, os materiais mais empregados são os cimentos à base de óxido de zinco/eugenol e os denominados “pronto para uso”. Os cimentos à base de óxido de zinco/eugenol são encontrados na forma pó/líquido (OZE, Pulpo-San, IRM). CONSIDERAÇÕES CLÍNICAS • Cavidades de acesso simples: são aquelas que apresentam todas as paredes constituídas de estrutura dentária. Para os dentes anteriores, após a colocação da medicação intracanal, uma mecha seca de algodão de dimensão adequada é introduzida abaixo da embocadura do canal e, sobre esta, o material selador temporário. Nestes casos devemos usar materiais prontos para o uso: Cavit ou Coltosol. Para os dentes posteriores, a mecha de algodão deve ser recoberta por uma fina lâmina de guta-percha e a cavidade, selada com material provisório. • Cavidades de acesso complexas: aquelas que apresentam ausência de uma ou mais paredes dentárias. Nos casos de grande perda de estrutura coronária, esta pode ser reconstituída com bandas metálicas e/ou resina composta com ataque ácido. A utilização de material permanente no selamento coronário tem mostrado melhores resultados que os materiais temporários. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 11 PMCC TRICRESOL FORMALINA OU FORMOCRESOL ASSOCIAÇÃO CORTICOSTEROIDE- ANTIBIÓTICO HIDRÓXIDO DE CÁLCIO Atua na redução da toxicidade, Potencializa a ação antimicrobiana; Colocar na cavidade pulpar (embebido em mecha de algodão, por 48 horas) Remover bem o excesso. Ação antimicrobiana; irritante aos tecidos vivos; Tricresol: 90% de formalina; Formocresol: 19 a 43% de formalina; Não utilizamos na prática endodontica. Atenua a intensidade da reação inflamatória; Otosporin: hidrocortisona + sulfato de polimixina b e sulfato de neomicina; Grande poder de penetração tecidual (rápida eliminação e eficiente atuação); Pó branco pH alcalino Pouco solúvel em água Veículos: Inertes – soro, água, glicerina, polietilenoglicol; Biologicamente ativos – PMCC, clorexidina e iodeto de potássio iodetado; Secagem dos condutos com pontas de papel absorvente estéril; Com a Seringa Mário Leonardo, que apresenta um êmbolo rosqueável, adapta- se uma agulha longa e um stop demarcado a 2mm aquém do CRT; Colocar primeiramente o tubete de glicerina, rosquear a seringa no sentido horário, deixando cair 3 gotinhas. Esta não deve ir aos condutos radiculares, serve apenas para lubrificar a agulha, permitindo um melhor escoamento da pasta; Retirar o tubete de glicerina e colocar o CALEN com ou sem PMCC, de acordo com o caso. Rosquear o êmbolo no sentido horário até preencher o(s) conduto(s) radicular(es). É importante que as primeiras gotas do Calen não sejam utilizadas dentro dos condutos, estas provavelmente devem estar misturadas com a glicerina. Limitador de silicone à 2mm aquém do CRT. ANA BEATRIZ CAVALCANTI – ENDODONTIA II – P5 12
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