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[ 2 ] Treinamento de Força na água para idosos Estratégias para maximizar os resultados Prof. Ms. Henrique França Rodrigues [ 3 ] [ 4 ] [ 5 ] Capítulo1: Envelhecimento e Sociedade ............................. 10 Capítulo 2: O que é ser idoso? .............................................. 13 Capítulo 3: Envelhecimento fisiológico ................................. 16 Capítulo 4: Programas de exercício regular e o idoso ......... 22 Capitulo 5: Efeitos psicoemocionais da prática de Atividade Física Regular na qualidade de vida .................................... 25 Capitulo 6: A força muscular e o sistema músculo esquelético ............................................................................. 28 Capítulo 7:A importância da capacidade funcional no idoso ............................................................................................... 34 Capítulo 8: O exercício Aquático ......................................... 37 Capítulo 9: O treinamento de força na água ....................... 49 Capítulo 10:Como tornar seu programa de treinamento de força na água mais atrativo .................................................. 62 Capítulo 11:Dicas para montar um programa de treinamento de força na água ............................................... 74 Capítulo 12:Resultados de um programa de treinamento de força na água ......................................................................... 82 Capítulo 13:refêrencias bibliográficas ............................... 103 Agradecimentos e dedicatória Gostaria de agradecer e dedicar essa obra a Deus e as seguintes pessoas: A minha família que me apoiou desde o começo da minha jornada academica, principalmente aos meus pais Silvio e Rita que sempre acreditaram no meu potencial; A minha esposa Isabella por todo o amor e carinho nos momentos mais difíceis dessa caminhada; As minhas filhas por serem o motivo principal da minha dedicação; Aos meus sogros Magno e Rosi por estarem sempre ao meu lado; A todos os meus alunos e companheiros de trabalho que de forma gloriosa participaram do estudo com muito louvor e dedicação; Ao secretário de Esportes José Carlos de Souza, o Chefe do departamento de Esportes Cláudio Camarão e a todos os funcionários da secretaria de esportes do município de Praia grande pelo apoio incondicional. Ao prefeito Alberto Mourão pelo completo apoio ao projeto. Prefácio Na pesquisa científica não há espaço para amadores ou improvisos. Ou você sabe ou você não sabe. Instigo aos leitores de nossa área a leitura do treinamento de força na água para o idoso com olhos de mudança e abertura de oportunidades para sua carreira. Ainda insisto em minhas palestras sobre a relevância das Disciplinas Fisiologia, Anatomia e Cinesiologia na vida dos professores de educação física. O Professor Henrique une todas essas possibilidades de nossa área em sua obra. Treinamento de força na água para o idoso do Professor Mestre Henrique França vem discutir aspectos importantes durante seu projeto: Será que o conforto de nossos lares tem nos levado a aumentar o sedentarismo? O avanço da tecnologia pode influenciar a minha qualidade de vida? A sociedade atual tem trocado o prazer do movimento por atividades de lazer hipocinéticas? Ficar mais tempo em casa sem movimento pode prejudicar a minha saúde? Passar muito tempo no computador pode prejudicar a minha postura corporal? Será que estou ficando mais tempo sozinho em isolamento do que em contato real com a sociedade? Questões importantes são levantadas e discutidas durante os capítulos do livro. Falar de idoso tem relevância nacional e internacional em dias atuais. Sim, estamos envelhecendo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, entre 1950 e 2025 a população idosa somente do Brasil crescerá 16 vezes, contra cinco vezes da população total. O Brasil será o sexto país do Mundo em população idosa, terá mais de 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade. O livro descreve com propriedade esse processo de envelhecimento saudável que deve ser feito naturalmente e se preocupa em mostrar como o treinamento de força na água para a para a terceira idade deve ser aplicado , respeitando e sanando principais dúvidas sobre esse tema que realmente irá se tornar uma das principais fontes de pesquisa em nosso país. Outro marco relevante dessa obra é que o Professor Henrique não traz respostas prontas, no mínimo te levará e apensar em subsídios para construir suas aulas e atender o público no qual você trabalha. Para mim, o Professor Henrique, ao longo desses anos de nossa amizade, cria a quantidade exata de seu Sucesso, mostrando seu espírito de busca o tempo todo em nossa área. Ele joga o jogo da Educação para ganhar. Eu realmente admiro e copio essas pessoas estudadas e bem-sucedidas. Eu creio que Educação é importante. Educação é liberdade e Educação faz a vida mais divertida. Acredito que você leitor merece ter esse conhecimento por que acrescentará valor às vidas de muitas pessoas. Eu sou verdadeiramente grato por prefaciar essa excelente obra que engrandecerá a Educação Física de nosso país. Gratidão Professor Dr. Caio Graco Simoni da Silva http://lattes.cnpq.br/1076141900856592 . Capítulo1: Envelhecimento e Sociedade Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a expectativa de vida da população mundial está em amplo crescimento. De 1995 até 2015 a expectativa de vida aumentou de 65 para 71 anos e a previsão é que em 2100 esse número passe para 83 anos (Organization, 2015). No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2020 a população acima de 60 anos chegará a 25 milhões(LISBOA, 2016). Frente a isto, a OMS elaborou um relatório mundial de envelhecimento e saúde, que recomenda mudanças significativas na formulação de políticas em saúde e na prestação de serviços à população idosa, sugerindo a modificação dos sistemas baseados em modelos curativos para cuidados de longo prazo(Unidos, 2015). Com o avanço da idade, ocorre o declínio das funções fisiológicas e dos sistemas sensoriais do organismo (Santos, Andrade, & Bueno, 2009). Esse declínio é variável uma vez que este processo é influenciado por fatores inerentes ao indivíduo, como a hereditariedade, e outros ainda mais importantes, decorrentes do ambiente e estilo de vida, como por exemplo, hábito alimentar e nível de atividade física (AF) (Harada, Love, & Triebel, 2013; Müller, Tavares, & Schneider, 2016). Esses fatores acima citados nos rementem a tentar entender algumas questões sobre o que é ser idoso na sociedade atual? Quais as consequências do envelhecimento sobre o organismo humano? E se nossa sociedade está preparada para acolher esses indivíduos com eficiência e acolhimento necessário. Gráfico 1. Previsão da expectativa de vida ao longo do tempo. Adaptado IBGE(2015) Capítulo 2: O que é ser idoso? Definição de idoso: de acordo com a OMS (2005) ser idoso são todos os indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos para países subdesenvolvidos e 65 anos para os países desenvolvidos. Ser idoso na sociedade atual é extremante difícil, não só pelo fato de ser mais velho, mas a sociedade marginaliza as pessoas que passaram dos 60 anos, pois a maioria acredita que os mesmos não são capazes de realizar tarefas como as pessoas mais jovens. Uma das coisas que esquecemos é que esses indivíduos tem uma históriade vida rica em experiencias, que podem contribuir com as nossas vidas de forma a nos tornar mais sábios nas escolhas que temos a fazer. Cada vez mais vemos filhos, netos e familiares largarem seus idosos aos cuidados de instituições especialistas no tratamento de pessoas da terceira idade, mas o que será que eles precisam realmente? além é claro dos cuidados médicos. Atualmente sou professor de hidroginástica de aproximadamente 700 idosos na Secretaria da Juventude Esporte e Lazer da Prefeitura da Estância Balneária da Praia Grande, no litoral sul de São Paulo, e o que me chama a atenção é que muitos deles são pessoas maravilhosas, com trajetórias de vida diversas e muitas vezes sofridas, que deveriam servir como exemplo para os jovens do nosso país. Nas sociedades orientais o respeito aos anciãos é um fator primordial na educação familiar, onde o indivíduo mais velho é o mais sábio e a ele são concedidas as decisões da família. Porem nossa realidade é outra, nossos parentes e familiares necessitam trabalhar cada vez mais para sustentar as famílias e acabam envolvidos com o estresse da vida moderna, esquecendo daqueles que necessitam de atenção. Capítulo 3: Envelhecimento fisiológico A diminuição da massa e da função muscular que ocorre durante o processo de envelhecimento é denominado de sarcopenia(Rosenberg, 2011). Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento da sarcopenia podemos citar as alterações fisiológicas que ocorrem com o avançar da idade e o estilo de vida, nível de atividade física, comportamento sedentário e hábitos nutricionais(Marzetti et al., 2017). A força muscular tem importante papel no processo de envelhecimento, pois está diretamente relacionada capacidade funcional idosos. (Waller & health, 2016). Tanto a diminuição da AF diária como do exercício sistematizado podem acelerar o desenvolvimento da sarcopenia, acarretando diminuição da capacidade funcional, aumentando a dependência do indivíduo, comorbidades associadas, risco de quedas e mortalidade(Sparling, Howard, Dunstan, & Owen, 2015; Van Kan & Aging, 2009). Além das alterações no sistema musculo esquelético, outros sistemas também são afetados com o avanço da idade. Vejamos abaixo algumas dessas alterações: Alterações cardiovasculares • Aumento da massa cardíaca de 1 a 1,5 g por ano • Leve aumento da espessura das paredes do ventrículo esquerdo • Maior rigidez da aorta • Maior depósito de tecido colágeno na parede posterior do ventrículo esquerdo • Infiltração de colágeno no miocárdio, dificultando a contração • Diminuição da elasticidade, distensibilidade e dilatação das artérias • Aumento da pressão arterial • Menor resposta vaso dilatadora • Diminuição do débito cardíaco máximo • Redução do consumo máximo de oxigênio • Dificuldade do retorno venoso Alterações músculo esqueléticas • Redução da força muscular na escala de 30 a 40% após os 60 anos • Redução da massa óssea • Alterações nas cartilagens articulares • Diminuição da função locomotora • Menor capacidade para hipertrofia • Diminuição das fontes energéticas • Diminuição da velocidade de condução • Diminuição da capacidade de regeneração • Diminuição da flexibilidade • Aumento da rigidez de tendões, ligamentos e cartilagens Alterações neurais • Diminuição do número de neurônios • Diminuição da velocidade de condução nervosa • Menor tempo de reação • Diminuição do fluxo sanguíneo cerebral • Diminuição da coordenação Figura- Fatores impactantes no envelhecimento Humano Alterações pulmonares • Diminuição da capacidade vital • Aumento do volume residual • Aumento da ventilação durante o exercício • Dificuldade para respira • Diminuição das trocas gasosas Alterações fisionômicas e antropométricas • Aumento do peso corporal • Aumento da quantidade de gordura • Diminuição da estatura • Perda da dentição • Aumento na flacidez da pele • Aumento das rugas Outras perdas: • Perda da esposa ou esposo • Perda dos amigos • Perda dos familiares • Perda do emprego • Aumento da incapacidade Por fim a perda da independência Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 21 ] Todas essas perdas e alterações são assustadoras, porem fazem parte da vida e do envelhecimento natural dos seres humanos, portanto mais do que ser capaz de envelhecer com saúde os idosos tem que ser capazes de lidar com a mudança. Para muitos a capacidade de mudar é o próprio amadurecimento, convivendo com as limitações biológicas, culturais e sociais, por outro lado temos que lembrar que a vida foi feita para ser vivida em todos os momentos e muitos de nossos amigos , familiares, alunos da terceira idade devem respeitar as limitações, mas não serem derrotados por elas, deixando de curtir as maravilhas que a vida nos remete, preocupados se vão conseguir ou não continuar a caminhada da vida. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 22 ] Capítulo 4: Programas de exercício regular e o idoso Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 23 ] Estudos sugerem que programas de exercício físico, principalmente de alta intensidade, podem preservar a massa e força muscular, minimizando os efeitos deletérios do envelhecimento (Lavin et al., 2019; Sparling et al., 2015). Segundo o posicionamento oficial do American College of Sports Medicine (ACSM), a inclusão de idosos em programa de exercício regular pode: • prevenir avanço de doenças degenerativas, • prevenir declínio da aptidão física, • maximizar saúde psicológica, • auxiliar na reabilitação de doenças, • inverter processos da síndrome de desuso • gerar maior autonomia (Chodzko-Zajko et al., 2009). É consenso na literatura que manter um estilo de vida fisicamente ativo é benéfico para melhorar a qualidade de vida e a capacidade funcional de idosos (Lavin et al., 2019; Salin, Mazo, Cardoso, & Garcia, 2011; Sparling et al., 2015). Porém, a busca por AF sistematizada não está apenas relacionada aos Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 24 ] benefícios morfológicos e fisiológicos, mas também aos fatores emocionais e sociais (Araújo, Moreira, Freitas, Silva, & do Val, 2017; Bavoso, Galeote, Montiel, & Cecato, 2018; Cheik et al., 2008). De acordo com estudos recentes, o convívio social e aprendizado de novas tarefas parecem ser importantes para a maior aderência em programas de treinamento, levando os idosos a ficarem mais tempo engajados ou evitando que abandonem. Apesar dos problemas com a saúde e a preocupação com a mudança no estilo de vida serem uma motivação, idosos praticantes de hidroginástica geralmente procuram os programas de treinamento em ambientes aquáticos por estarem impossibilitados de praticar em outros ambientes e, principalmente, por indicação médica. Normalmente se mantêm aderidos, principalmente, pelo fato das atividades serem realizadas em grupo e também por auxiliarem em tratamentos de combate ao tabagismo e doenças degenerativas(Marcus et al., 2000; R. V. Teixeira, Lima, Andrade, & França, 2018; van Stralen, De Vries, Mudde, Bolman, & Lechner, 2009). Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 25 ] Capitulo 5: Efeitos psicoemocionais da prática de Atividade Física Regular na qualidade de vida Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues[ 26 ] Nas últimas décadas temos vivido o culto a saúde, onde uma das áreas em ascensão nos meios de comunicação é a atividade física a favor de uma melhor qualidade de vida. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) qualidade de vida é definida como a percepção do indivíduo acerca de sua posição na vida, de acordo com o contexto cultural, o sistema de valores com os quais convive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Essa definição mostra o quanto é difícil manter uma boa qualidade de vida com tantas mudanças acontecendo com o passar dos anos, pois acabamos subestimando ou superestimando nossas expectativas, aumentam as preocupações com saúde e nossos padrões de desempenho se tornam totalmente diferenciados quando comparados década a década. A autoestima parece ser um fator relevante nas pessoas mais velhas que sofrem com a máquina inexorável do tempo, em uma das minhas conversas com meu pai tive a oportunidade de vivenciar essa experiência na prática, ao me descrever o que fazia quando jovem e o que hoje com os seus 53 anos já não pode mais fazer por causa de duas hérnias de disco lombares, sobrepeso, cirurgia de reconstrução dos ligamentos cruzados anteriores, hipertensão e etc. Será que tudo isso não mexe com Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 27 ] nosso autoestima? Mazo (2006) descreve em seu artigo que existem evidencias do efeito positivo de um estilo de vida ativo com envolvimento em atividades físicas e exercícios na prevenção e minimização dos efeitos deletérios do envelhecimento (Mazo, Cardoso, & Aguiar, 2006), portanto ainda há uma saída para continuarmos vivendo com saúde, e ele ainda continua dizendo poeticamente que a atividade física aumenta a possibilidade de sucesso, que por sua vez ressalta a sua autoestima. Para a OMS um dos componentes mais importantes para se ter boa saúde é o estilo de vida adotado pelas pessoas, ou seja, o conjunto de atividades que o levam a agregar benefícios e paulatinamente melhorar sua condição física, psicológica e social. Porem com todas as dificuldades que o idoso enfrenta e todas as barreiras biológicas que os mesmos encontram devemos ter cautela ao escolher o tipo de atividade a praticar para alcançar o resultado tão esperado. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 28 ] Capitulo 6: A força muscular e o sistema músculo esquelético Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 29 ] O envelhecimento tem sido descrito como um processo, ou conjunto de processos, inerente a todos os seres vivos e que se expressa pela perda da capacidade de adaptação e pela diminuição da funcionalidade(Carvalho & Soares, 2004). Segundo Guedes e colaboradores a força muscular é um dos componentes fundamentais da aptidão física (C. V. L. S. Teixeira & Guedes Jr, 2017) e parece ser um dos componentes mais afetados pelo envelhecimento. Diversos estudos vem demostrando que o decréscimo da força tem impacto na capacidade do indivíduo realizar as suas tarefas rotineiras. Segundo Soares e colaboradores entre os 50 e os 70 anos existe uma perda de aproximadamente 15% por década, após o que a redução da força muscular aumenta para 30% em cada 10 anos Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 30 ] Figura 1- mostra a evolução do torque da força ao longo dos anos. Fig.1 Adaptado de Soares (2004) Assim função de força de um músculo é determinada pela magnitude de força que ele pode produzir, tanto de forma estática, quanto de forma dinâmica (SPIRDUSO, 2005) e o envelhecimento pode afetar essa relação e tornar o indivíduo menos apto a realizar funções de deslocamento, equilíbrio, e estar mais susceptível a acidentes de queda por um aumento da fragilidade e fraqueza.(Carvalho & Soares, 2004) O treinamento de força na água tem como objetivo inverter esses processos de declínio haja vista que o sistema musculo esquelético tem capacidade de hipertrofiar ao longo da vida e Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 31 ] principalmente aumentar a força, quando estimulado de forma eficiente. A força muscular é definida como a força máxima que pode ser exercida por um músculo ou grupo muscular contra uma resistência (Shape, 2001). Na água a resistência é determina pela junção de alguns fatores: flutuabilidade, arrasto ou peso que o equipamento proporciona e a aceleração ou velocidade com que o mesmo é executado. Assim água é uma excelente maneira de oferecer resistência às contrações musculares e promover ganhos de força em idosos. O problema do destreinamento Estudos sugerem que a interrupção do treinamento (destreinamento) resulta em perda gradual da aptidão física em idosos(N. Psilander et al., 2019). Salientamos que a interrupção é muito comum nesta população, devido a vários fatores, como: interrupção voluntária, viagens e hospitalização (Henwood & Taaffe, 2008), além de motivação reduzida para a prática de AF (Hasselmann, Oesch, Fernandez-Luque, & Bachmann, 2015). Além disso, o período prolongado de férias dos programas Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 32 ] públicos de atividade física para idosos pode acarretar redução da capacidade funcional (Henwood & Taaffe, 2008), porém, a magnitude dessas alterações ainda não é totalmente conhecida. O destreinamento tem sido uma preocupação de diversos estudos na literatura, com foco nas modificações fisiológicas ocorridas nos indivíduo que interrompem repentinamente o seu programa de treinamento (Esain, Gil, Bidaurrazaga-Letona, Rodriguez-Larrad, & research, 2019; Niklas Psilander et al., 2019). A diminuição ou cessação do treinamento pode levar à diminuição do condicionamento físico e agravar doenças degenerativas causadas pelo envelhecimento. Um estudo realizado por Toraman e colaboradores (Toraman & Ayceman, 2005) mostrou que a flexibilidade de membros inferiores foi reduzida aos níveis iniciais após 4 semanas de destreinamento e a capacidade de equilíbrio dinâmico/agilidade após 6 semanas de destreinamento em idosos entre de 60 e 83 anos, que praticavam treinamento multicomponente. O aumento da força muscular é um dos fatores que potencializa a capacidade funcional e combate os problemas ocasionados pela sarcopenia e a falta de movimento. Estudos recentes demonstram que o aumento na capacidade de força pode diminuir os riscos de quedas em idosos(Gregg, Pereira, & Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 33 ] Caspersen, 2000; Streit et al., 2011). A força muscular é importante para a manutenção da qualidade de vida e parece ser a capacidade mais afetada com o destreinamento(Häkkinen, Alen, Kallinen, Newton, & Kraemer, 2000). De acordo com estudo realizado por Bezerra et al. (ano), indivíduos idosos que praticaram treinamento de força foram capazes de aumentar a força muscular após 12 semanas, porém, quando submetidos a um período de destreinamento de 12 semanas, voltaram aos níveis de quando começaram o programa de treinamento(de Souza Bezerra et al., 2019). Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 34 ] Capítulo 7:A importância da capacidade funcional no idoso Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 35 ] A capacidade funcional é considerada a habilidade do indivíduo em realizar atividades instrumentais do seu cotidiano; garantindo sua autonomia.(Moreira et al., 2020). Autonomia por definiçãoé a capacidade de governar-se pelos próprios meios sem influência exógena de qualquer forma e tipo está relacionada com o nível de atividade motora cotidiana, o surgimento de doenças associadas ao envelhecimento e a falta de atividade física levando à redução da autonomia funcional da população idosa em geral (Waller et al, 2016). O avanço da idade, associado as modificações naturais do envelhecimento podem ser potencializados pelos hábitos de vida cotidiana (de Almeida Campos et al., 2020). O sedentarismo é um dos aspectos relevantes que podem aumentar a probabilidade da fragilidade e incapacidade por parte do idoso, haja vista que ao longo doa anos a diminuição da massa muscular pode chegar a 24% entre os 40 e 70 anos e 15% a cada década após os 70 anos de idade(Bachettini et al., 2020). A diminuição da mobilidade pode aumentar o risco de acidentes com quedas, de acordo com estudo realizado por idosos com medo de queda podem reduzir significativamente a qualidade de vida e autonomia funcional. (Cho et al., 2020). A atividade física regular é uma forma eficaz de potencializar a capacidade funcional, pois pode reduzir os Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 36 ] efeitos da sarcopenia, diminuir a fraqueza muscular, diminuir a imobilidade, a incapacidade e a perda de independência. Assim garantir com que os mesmos possam praticar atividade física orientada e segura parece ser o caminho mais eficiente de melhorar a capacidade funcional desses idosos. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 37 ] Capítulo 8: O exercício Aquático Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 38 ] Existem relatos de que a imersão do corpo em meio líquido é praticada desde 375 A.C., quando Hipócrates se utilizava de banhos terapêuticos de contraste para tratamento de doenças (Bonachela, 1994). Ao longo do tempo foram sendo utilizados de forma recreativa e terapêutica, haja vista as modificações morfofuncionais ocasionadas por imersão no meio líquido e seus benefícios fisiológicos para a saúde.(Yoo, 2020) Esses benefícios vêm sendo um atrativo para o exercício aquático ser procurado por pessoas idosas, principalmente por ajudar a combater as doenças crônico-degenerativas e melhorar a qualidade de vida (Martinez-Carbonell Guillamon, Burgess, Immins, Martinez-Almagro Andreo, & Wainwright, 2019; Scheer et al., 2019; Silva et al., 2018; Zucolo, Eduardo, Konda, dos Santos, & Teixeira, 2015). Além disso, o ambiente aquático pode ser benéfico para indivíduos que têm medo de cair, sofrem com dor, são severamente cifóticos ou têm equilíbrio prejudicado. Dessa forma, no ambiente aquático podem se sentir mais seguros e alcançar melhoras na condição física(Devereux, Robertson, & Briffa, 2005). Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 39 ] Caracterização do exercício aquático Os exercícios aquáticos podem ser caracterizados de acordo com a profundidade da água em que são realizados ( Shalow water: exercício realizado em água rasa ou Deep water: exercício realizado em água profunda sem apoio ao solo), tipo de modalidade que são realizados (Hidroginástica, Hidro- treinamento, Aquafitness, Treinamento funcional aquático e Treinamento de força na água ) ou objetivo do programa (Terapêutico, Condicionamento físico ou Recreacional) (Shape, 2001). Uma das modalidades mais comuns de exercício aquático é a hidroginástica, que se baseia em exercícios na posição vertical, com intensidade predominantemente aeróbia, com benefícios fisiológicos bem fundamentados na condição física de seus participantes (Bonachela, 1994; Guimãraes et al., 2018; Matosa, de Moraisa, de Souzab, & Ribasc; Park, Wong, Son, & Pekas; Perkins et al., 2020; Shape, 2001). A prática da hidroginástica pode ser uma forma de melhorar a qualidade de vida de pessoas com medo de queda e potencializar a estabilidade postural (Lim & Yoon, 2014; Marinho-Buzelli et al., 2017). Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 40 ] Hidrodinâmica e princípios físicos do meio líquido O meio líquido possui uma diversidade de princípios que chamamos de mecânica dos fluidos que podem influenciar direta ou indiretamente na prática de exercícios na água: • Massa: quantidade de matéria existente em uma determinada substancia ou corpo. • Peso: definido como força de aceleração de um corpo para o centro da terra, portanto é o resultado da aceleração da gravidade (9,81N) vezes a massa do corpo em questão. O meio liquido proporciona ao praticante uma redução da aceleração da gravidade (dependendo da profundidade) haja vista que, quando imerso a atuação gravitacional pode chegar à zero, se não temos a gravidade atraindo o corpo para o solo com tanta eficiência, obtemos diversos benefícios para a população que possui problemas de locomoção, desgastes articulares, osteoporose, desvios posturais, obesidades, pessoas que estão se recuperando de lesões, pois favorecem a realização de movimentos com segurança permitindo a maior sensação de liberdade motora, quando comparado com o exercício terrestre. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 41 ] Segundo Lopes e Silva (2002) no meio líquido as articulações ficam menos expostas a sobrecargas o que para Kenitz (2010) apresentam a vantagem de ser realizado com um menor impacto, diminuindo assim, os riscos de lesões. Muitos de nossos alunos sofrem com problemas articulares principalmente nos membros inferiores, pelo próprio desgaste natural das articulações ou por doenças adquiridas ao longo dos anos, assim nos professores devemos estar alerta a essa população e oferecer exercícios mais seguros e eficientes, de acordo com Kruel (1994) quando o corpo está imerso na altura do processo Xifoide observa-se uma redução de 70,86% do peso corporal, o que, por exemplo, uma pessoa que pesa 100 kg estará apenas com 30 kg em média sobre as articulações, de acordo com Cassady & Nielsen (1992) atividades aquáticas como a hidroginástica que incorporam grandes grupos musculares, tanto de membros inferiores quanto superiores, apresentam menor estresse articular e ainda aproveitam a resistência da água para obter e manter a aptidão cardiorrespiratória. Outros princípios que favorecem os praticantes de hidroginástica são: • Densidade: é a relação entre a massa e volume de um corpo, por exemplo, a água do mar é mais densa do que a água Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 42 ] pura, pois existem mais componentes na água do mar do que na água pura. A aguá pura, sua densidade é igual a 1, todo o corpo imerso na água que a densidade for maior do que 1 ele afundará e todo o corpo que a densidade for menor que 1 flutuará. • Flutuação: o flutuar de um corpo depende do PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES (empuxo), quando um corpo está completa ou parcialmente imerso em um líquido em repouso, ele sofre uma força de baixo para cima para cima ou empuxo, igual ao peso do líquido deslocado. (ver figura 1) Figura 2- exemplo da ação do princípio de Arquimedes A densidade e a flutuação são dois princípios da mecânica dos fluidos de alta utilidade durante as aulas de hidroginástica, como vimos acima por definição todo o corpo imerso e em repouso Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 43 ] sofre a ação contrária de baixo para cima de mesma magnitude, um dos problemas enfrentados pela população idosa é a dificuldade do retorno do sangue da regiãoperiférica para a região central (retorno venoso) causando problemas circulatórios como as varizes e edemas de membros inferiores, ao estar imerso a ação gravitacional que dificultaria o retorno do sangue é facilitado pela ação do empuxo diminuindo a sobrecarga no sistema circulatório, reduzindo a frequência cardíaca e o trabalho do coração. Ao estar imerso o empuxo facilita um redirecionamento de fluxo de 750 ml da periferia para a região central do corpo o que potencializa as funções renais, aumentando a diurese, potencializando a eliminação de impurezas. As articulações que estavam sendo pressionadas com a ação gravitacional passam a ter um ligeiro espaçamento e uma maior mobilidade articular, o praticante passa a ter uma sensação de leveza, haja vista que a flutuabilidade do corpo pode proporcionar a sensação de liberdade. Tudo isso e ainda não estamos nem falando dos benefícios da prática do exercício na água. A água é um ambiente maravilhoso que engrandece o número de possibilidades motoras para seus praticantes. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 44 ] • Pressão hidrostática: todo o corpo imerso na água sofre uma pressão sobre cada partícula de sua superfície de acordo com a LEI DE PASCAL essa pressão é exercida igualmente sobre todas as áreas da superfície de um corpo imerso em repouso, a uma dada profundidade. A pressão aumenta com a densidade do líquido e com a profundidade, por isso que quando os alunos entram na água com profundidade acima dos ombros sentem dificuldade para respirar, alguns até descrevem com agonia esse momento. (ver figura 2) Figura 3- exemplo de ação da pressão hidrostática sobre o indivíduo imerso Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 45 ] A pressão hidrostática além de favorecer também o retorno venoso favorece com que os alunos tenham um maior fortalecimento dos músculos respiratórios, pois os mesmos tem que trabalhar com maior eficiência para cobrir a demanda respiratória causada pelo aumento da pressão ao ficar imerso quando comparado com o ar (ver figura 3). Isso favorece ao combate e a prevenção da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) que afetam boa parte da população idosa. Figura 4- alterações na pressão atmosférica com a imersão do corpo • Resistência (viscosidade): Como a água possui muito mais viscosidade do que o ar, pois suas moléculas aderem à superfície Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 46 ] causando um maior arrasto ficcional na tentativa de mover qualquer objeto, quando comparada com o ar à água oferece uma resistência de 700 vezes maior,o que em movimento pode quadruplicar de acordo com o principio de Karpovic, que descreve que o dobro da velocidade de qualquer movimento realizado na água gera o quádruplo da resistência sobre o mesmo, isso nos remete ao um principio muito antigo da física chamado de ação e reação ou terceira lei de Newton. Durante as aulas de hidroginástica esse principio é fundamental para a quantificação da sobrecarga dos exercícios durante a aula, pois utilizando da velocidade e da amplitude dos movimentos podemos atingir exercícios mais intensos ou menos intensos, cabe ao professor orientar seus alunos, quanto maior a velocidade e a amplitude do movimento maior será a intensidade do exercício, é claro se mantida a amplitude, pois a maioria dos alunos que tenta aumentar a velocidade de movimento tende a diminuir a amplitude diminuindo o trabalho muscular. Além desse aspecto outro fator relevante é que ao tentar se deslocar na água o indivíduo tem a resistência do fluido oferecendo oposição ao deslocamento (arrasto), fazendo com que os músculos sejam fortalecidos com eficiência. A Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 47 ] viscosidade pode ser benéfica quando falamos de equilíbrio que segundo Johnson e Nelson (1986) é a qualidade física conseguida por uma combinação de diversas ações musculares, pois os alunos conseguem realizar mais movimentos em segurança diminuindo o risco de quedas e favorecendo o desenvolvimento dessas sinergias musculares. • Temperatura: a temperatura da água adequada é fundamental para possamos ter as melhores respostas fisiológicas para o exercício, de acordo com MacArdle (2005) a água deve estar entre 28 e 30 graus para atingirmos os melhores resultados. Temos que tomar alguns cuidados com exercícios em água aquecida, pois se a mesma estiver acima dos padrões recomendados pode levar a uma série de alterações maléficas ao metabolismo como a hipertermia e desidratação, o mesmo se aplica em água sem aquecimento, o que pode levar a vasoconstrição, edema de glote, cianose das extremidades e hipotermia. O corpo perde calor na água com maior facilidade, assim toda a sudorese produzida pelo organismo durante o exercício pode gerar desidratação, pois na água temos a sensação de sudorese ludibriada, onde por condução e convecção perdemos calor. Durante as aulas em piscina Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 48 ] aquecida os alunos devem ser orientados a sempre se hidratarem para evitar a desidratação e a fadiga precoce. Outro fator importante a ser levado em consideração é que a água aquecida proporciona uma sensação de relaxamento, diminuindo o stress físico e mental proporcionando momentos regenerativos aos alunos. O meio liquido apresenta uma gama abrangente de benefícios ao praticante quando comparado com o exercício fora da água, é claro que não estamos aqui escrevendo e dizendo que as outras modalidades não possuem benefícios, mas a hidroginástica apresenta diversas peculiaridades que atraem a população. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 49 ] Capítulo 9: O treinamento de força na água Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 50 ] Nos últimos anos, novos estudos com treinamento de força na água têm ganho maior notoriedade, a fim de elucidar seus efeitos sobre a força muscular. Estes estudos se utilizam de exercícios similares à hidroginástica, porém, com maior velocidade de execução, uso de equipamentos específicos de controle de intensidade e de batidas por minuto (música ou metrônomo)(Handa et al., 2016) e padronizações de séries e intervalos (Heywood et al., 2017; Reichert, Delevatti, Prado, Bagatini, Simmer, Meinerz, Barroso, Costa, Kanitz, Kruel, et al., 2018; Silva, Alberton, Braga, & Pinto, 2019), diferenciando o treinamento de força na água da hidroginástica tradicional. Da mesma forma que a hidroginástica, seus efeitos sobre a força muscular ainda são inconclusivos, principalmente em idosos. O treinamento de força na água é definido como Exercícios realizados contra a resistência da água ( com ou sem material resistivo) em alta intensidade, a fim de potencializar a força muscular(Aboarrage, 2008) o que diferencia esse tipo de programa de outras modalidades de treinamento aquático. Apesar de existirem diversos estudos que mostram que o treinamento de força na água pode trazer resultados eficientes, Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 51 ] essa átrea de investigação é recente na literatura científica (Kruel, Costa, Liedtke, & Kanitz, 2018) e se faz necessário o entendimento das capacidades físicas e coordenativas que interferem neste mecanismo do ganho de força muscular no idoso. Princípios essenciais para o treinamento de força na água Existem alguns princípios fundamentais que devemser levados em consideração para que o treinamento de força na água seja eficiente: 1- Mecânica dos fluidos 2- Forças de arrasto 3- Amplitude articular de movimento 4- Velocidade de execução 5- Ancoragem 6- Intensidades e intervalos Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 52 ] Mecânica dos fluidos: o meio líquido oferece uma condição impar quando se diz respeito ao movimento, principalmente por causa da viscosidade aumentada quando comparado com o ambiente terrestre. Fluido: substância que não tem forma própria e assume a forma do recipiente que o contem, o líquido é um fluido que é pouco compressível e exerce força sobre o corpo humano. Quando o corpo se desloca no fluido ele é influenciado pela relação com o mesmo, pois um do corpo em movimento no meio líquido depende da direção e da velocidade do mesmo. Assim podemos começar a entender o objetivo do treinamento de força na água que é deslocar a resistência oferecida contra os movimentos. Forças de arrasto: O meio líquido quando está em movimento constante e (sem interferências) possui um fluxo contínuo chamado de fluxo laminar (ver figura abaixo) Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 53 ] Figura 5- Exemplo de fluxo laminar onde as moléculas de água estão alinhadas paralelamente umas com as outras. Quando o fluxo recebe interferência (movimento do corpo) o fluxo laminar é interrompido gerando uma turbulência chamado de fluxo Turbulento (ver figura abaixo) fazendo com que as moléculas de água entrem em colisão gerando vórtices em diferentes direções. Figura 6-Exemplo de fluxo turbulento Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 54 ] Esse conceito é muito importante para o treinamento de força na água, haja vista que o objetivo do programa de treinamento é oferecer um aumento da resistência contra o movimento, assim o fluxo turbulento é uma forma de atingir esse objetivo. Existem diferentes formar de se aumentar o fluxo turbulento e uma delas é a utilização de aparelhos que aumentem a área de contato com água fazendo com que o arrasto seja aumentado. Por definição arrasto ou resistência do fluido é a força de atrito, que se opõe ao movimento em um fluido diminuindo sua velocidade. As força de arrasto é proporcional ao aumento da velocidade de movimento e está relacionada com o tamanho da secção transversal do aparelho ou parte do corpo que está em movimento. Tipos de arrasto: 1.Arrasto de forma: caraterizado pela forma ou estrutura que tenta quebrar o fluxo laminar durante um movimento, esse tipo de arrasto é o mais comum que encontramos no treinamento de força na água e varia de acordo com a forma do implemento que utilizamos. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 55 ] Figura 7- exemplo de objeto em movimento gerando arrasto Ao gerar uma determinada velocidade de movimento, o objeto cria uma diferença de pressão na sua parte posterior gerando o fluxo turbulento e aumentando assim a força de arrasto, essa força negativa tenta frear o movimento e é isso que favorece o aumento da resistência contra o movimento. É importante ressaltar aqui os tipos de materiais que podem aumentar ou diminuir as forças de arrasto durante o movimento. Tipos de materiais mais utilizados para o treinamento de força na água 1- Flutuantes: materiais que tem sua densidade menor que a do fluido e podem ser utilizados para sustentar o corpo na água ou oferecer maior resistência contra o Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 56 ] movimento, se utilizados contra a ação do empuxo. Uma das características deste material é aumentar a flutuabilidade do indivíduo, aumentando índice de incidentes de desequilíbrios quando utilizado nos membros inferiores, haja vista que muitos idosos tem uma densidade corporal menor, menor quantidade de massa magra e equilíbrio debilitado. Ex: caneleiras flutuantes de eva, halteres de eva, pranchas de borracha, coletes e aquatubes(espaguete) 2- Materiais resistidos: a principal característica desses materiais são a sua rigidez e sua semelhante densidade com o meio líquido, o que favorece com que o mesmo crie uma maior área de contato com a água, possibilitando uma maior exploração da resistência dinâmica. Ex: palmar, luvas, globo halter, aquafins, caneleiras, hidroboxe, aqualogix e etc Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 57 ] Figura 8- Exemplo de coeficiente de arrasto em diferentes formas de aparelhos 2.Arrasto de onda: força de arrasto causada quando um corpo tenta se deslocar próximo a superfície da água gerando ondulações. Esse tipo de arrasto é muito comum ao tentarmos realizar exercícios de membros superiores quando estamos com a superfície da água na altura do processo xifoide. Essas ondulações podem gerar mais resistência contra o movimento, Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 58 ] principalmente pela influencia da terceira lei de Newton (ação e reação). Amplitude e velocidade de movimento: um dos conceitos explorados no treinamento de força na água é a amplitude de movimento e a velocidade de execução, porem para que o exercício seja realizado com eficiência é necessário que nos atentemos as aspectos físicos do meio líquido para gerar a melhor condição de Força de Resistencia Dinâmica. A aplicação correta da formula de Resistencia dinâmica na água favorece com que os exercícios sejam otimizados e atinjam a maior resistência contra os músculos. Figura 9- Formula de Resistencia dinâmica FR= força de resistência dinâmica Cd= coeficiente de arrasto P= densidade do fluido A= área frontal projetada V=velocidade relativa em relação ao fluido FR= 1/2CR p Ap V2 Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 59 ] A aplicação da formula pode ser uma forma eficiente de analisar a intensidade do movimento, favorecendo o aumento da força em idosos. Ancoragem: é a capacidade de fixação do movimento durante sua execução. Uma boa ancoragem é uma forma de garantir que o aluno possa realizar o movimento correto, pois o mesmo sofre influencia da pressão hidrostática, do arrasto de forma e da força do empuxo que podem desestabilizar o movimento. De acordo com kruel a redução do peso hidrostático do indivíduo pode variar de 2,5 % na altura do tornozelo para 92% na altura do pescoço (Kruel, 1994) por causa da diminuição da atuação gravitacional sobre o corpo imerso. Um outro aspecto importante para uma boa ancoragem é o polígono de sustentação (base de sustentação em forma de polígono ver figura 9), assim quanto mais próximo o centro de equilíbrio estiver do solo mais fácil fica a ancoragem. Uma dica é usar a base anteroposterior afastada para movimentos que sejam executados no mesmo eixo de rotação. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 60 ] Figura 9- polígono de sustentação Controle de intensidade: Para o controle de intensidade o professor pode usar o controle da frequência cardíaca com utilização de freqüencímetros, mantendo a frequência cardíaca dentro de padrões aceitáveis e estabelecidos pela literatura (60 a 80% da F.C. M) e usufruir dessa tecnologia adaptada para o meio líquido, haja vista a redução de 17 batimentos do indivíduo imerso em comparação ao indivíduo em meio terrestre, segundo a Aquatic Exercise Assosiation (2001), calculando as porcentagens da frequência cardíaca de trabalho através da formula Karvonen:FC de treino= FC+ % de trabalho (FC MAX – FC de repouso) Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 61 ] proposta por Mcardle et all (2003) e estando atento a essa alterações durante a aula. Existem também as escalas de percepção de esforço (TEP) ou escala de Borg (2000) que vem sendo utilizadas para o autocontrole durante séries de exercícios durante a aula e após a sua prática a fim de classificar o esforço pelos próprios alunos e suas sensações de esforço durante a prática. A Aquatic Exercise Assosiation (2001) indica que durante as aulas de hidroginástica sejam utilizados tanto as escalas de percepção de esforço como o monitoramento da frequência cardíaca de trabalho, tornando a prática mais segura para os idosos. Porem quando falamos de treinamento de força na água o ideal é que mantenhamos o controle de intensidade através das escalas de esforço percebido, haja vista que as mesmas tem grande relação com o consumo máximo de oxigênio e com a s zonas de treinamento de frequência cardíaca. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 62 ] Capítulo 10:Como tornar seu programa de treinamento de força na água mais atrativo Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 63 ] Avaliando um programa de treinamento de força na água A avaliação física é uma bateria de testes criados pelo professor que possibilitam a visualização dos resultados do programa antes, durante e depois de um determinado período de tempo. Existem diversos tipos de baterias de testes que já foram validados na hidroginástica e que podem compor a avaliação física durante o período de treinamento dos idosos. A montagem de um programa de avaliação física para a hidroginástica deve conter testes trimestrais, mensais e semanais, segundo a Sociedade Brasileira de medicina do esporte a população sexagenária vem crescendo nas academias e para que a mesma tenha segurança deve conhecer o histórico de cada aluno e manter um arquivo atualizado de seus progressos através de: Histórico: Obtido por meio de questionário sobre hábitos de vida, doenças anteriores, saúde dos familiares e uso de remédios. No jargão médico, é chamado de anamnese o que possibilita ao professor conhecer um pouco melhor os seus alunos e possibilite um trabalho mais personalizado buscando Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 64 ] assim melhor atender seus objetivos dentro do programa de treinamento. Exame clínico: O médico mede a pressão arterial, ausculta o coração e o pulmão e faz um exame visual das condições corporais. De acordo com a legislação vigente em nosso país estado é obrigatório a apresentação de um atestado médico que garanta que o aluno está apto a praticar atividades físicas a cada 6 meses ( lei 11.383/1993 ). Como trabalhamos com uma população especial onde às condições fisiológicas podem mudar rapidamente devido a doenças crônicas, devemos sempre orientar com que nossos alunos busquem a orientação médica. Ergométrico: Acompanhado por um médico e com eletrodos colocados no peito para monitorar a atividade cardíaca, o aluno corre na esteira ou pedala na bicicleta, aumentando progressivamente o esforço até atingir a frequência cardíaca máxima. Este tipo de avaliação é aplicada por especialistas que podem elaborar os laudos que serão usados para controlar as intensidades seguras para a pratica de atividade física. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 65 ] Antropométrico: Medem-se peso, altura, circunferência da cintura, quadril, coxas, braços e tórax. Com uma espécie de compasso, são medidas dobras cutâneas para o cálculo da porcentagem de massa gorda (gordura corporal) e de massa magra (peso dos músculos, ossos, vísceras etc.). Estes testes podem ser executados pelo professor para que sirvam de parâmetros para estabelecimento de metas dentro do programa de treinamento e diminuam as estatísticas de desistências dentro dos programas de treinamento. Teste de Força de Preensão Manual Unilateral: dinamometria isométrica. Para a medida e avaliação da força de preensão manual máxima (Kg/f) pode ser utilizado um dinamômetro manual ( existem diferentes marcas e modelos ). O teste adotado pode ser baseado no protocolo de Shiratori e colaboradores(Shiratori, Iop, Borges Júnior, Domenech, & Gevaerd, 2014), com o resultado sendo expresso em quilograma /força (Kg/f). Para a realização do teste, os avaliados permanecem sentados, com o braço apoiado a 90o, e a partir do comando “atenção, vai”, Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 66 ] realizaram a preensão manual máxima no dinamômetro, sendo anotado o maior valor de três tentativas. O teste deve ser realizado para ambos os braços. Figura 10. Exemplo Teste de Preensão manual Teste de Força de extensão do joelho Unipodal: teste de dinamometria isométrica Para a medida e avaliação da força dos membros inferiores pode ser utilizado um dinamômetro digital , baseado no protocolo de Mentiplay e colaboradores [(Mentiplay et al., 2015), sendo o resultado expresso em quilograma/força (Kg/f). Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 67 ] Para a realização do teste, os avaliados permanecem sentados em uma maca, com flexão de 90o dos joelhos, e a partir do comando “atenção, vai”, realizaram a extensão unipodal máxima do joelho contra o dinamômetro, sendo anotado o maior valor de três tentativas. O teste deve ser realizado para ambas as pernas. Figura 11. Exemplo de teste de extensão de Joelho Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 68 ] Teste de equilíbrio dinâmico e agilidade e Teste de aptidão cardiovascular: Para avaliar a capacidade funcional, os voluntários devem ser submetidos a testes que verificaram as capacidade de equilíbrio dinâmico, agilidade e aptidão cardiovascular através de alguns testes: Teste de agilidade Time Up and Go (TUG) (Podsiadlo & Richardson, 1991) onde o indivíduo se encontra sentado na cadeira, ao comando “atenção, valendo!” , o mesmo deve levantar, caminhar 3 metros, dar uma volta de 180 graus e voltar a posição inicial no menor tempo possível, sendo registrado o tempo de execução em segundos. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 69 ] Figura 12: ilustração do teste de Time up and go Teste de Caminhada de 6 Minutos (TC6M):Para avaliar a aptidão cardiovascular foi utilizado o onde cada indivíduo teve que percorrer a maior distância possível em uma pista de 30 metros, sendo registrada a distância percorrida em metros (Med, 2002). Figura 13: ilustração do teste de 6 minutos de caminhada Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 70 ] Teste de levantar e sentar da cadeira(Safons & Pereira, 2007): com o avaliado sentado no meio da cadeira, com as costas retas e os pés afastados à largura dos ombros e totalmente apoiados no solo. Os braços devem permanecer cruzados contra o peito. Ao comando o avaliado levanta-se, ficando totalmente em pé e só então retorna à posição sentada. A pontuação é obtida pelo número total de execuções corretas num intervalo de 30 segundos. Se o idoso estiver a meio da elevação no final dos 30 segundos, esta deve contar como um movimento completo. Figura 14: ilustração do teste de sentar e levantar da cadeira Teste de sentar e alcançar (Safons & Pereira, 2007): O avaliado senta-se na beirada da cadeira,a dobra entre a linha inguinal e os g lúteos devem coincidir com a beirada Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 71 ] da cadeira. Uma das pernas fica fletida com os pés no chão. A outra é estendida o máximo possível na frente do quadril, com o calcanhar no chão e pé fletido em aproximadamente 90º. Com as mãos sobrepostas e os dedos médios na mesma altura, o participante se curva lentamente para frente, mantendo a coluna o mais ereta possível e a cabeça alinhada com a coluna. Se o joelho começar a flexionar soli citar ao participante para recuar as costas até que o joelho fique estendido. O alcance máximo deve ser sustentado por 2 segundos. Registrar a distância da ponta dos dedos até a ponta do tênis, o número de centímetros mais próximo. O meio do hálux na extremidade do sapato representa o zero. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 72 ] Figura 15: lustração do teste de sentar e alcançar Escore negativo: mãos não alcançaram o ponto; Escore zero: sobre o ponto central; Escore positivo: mão ultrapassaram o ponto. Assim o professor cria um programa de avaliação que poderá fornecer uma série de resultados comparativos a cada 2 meses. A visualização dos resultados é uma forma de combater a evasão e aumentar a aderência do aluno ao programa de treinamento de força na água. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 73 ] Figura 16: Exemplo de laudo q ser entregue ao aluno Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 74 ] Capítulo 11:Dicas para montar um programa de treinamento de força na água Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 75 ] Para a montagem de um progarama de treinamento de força na água existem alguns passos que acredito que possam fascilitar a organização e consequentemente a criatividade dos treinamentos. São 10 passos que facilitam a montagem da aula. Figura 17: Método para montagem do programa de treinamento de força na água. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 76 ] Escolha o objetivo do seu treino e o tipo de treino Treino aeróbio: Fartleck: é o termo em sueco para “jogo de velocidade”. O método consiste basicamente em alternar a intensidade em uma corrida contínua. Ex: deep water, corrida aquática, jump, bike e etc Contínuo: é caracterizado por exercícios físicos sem intervalo de descanso durante a sessão. Ex: corrida aquática, deep water running, caminhada aquática Intervalado : consiste num método de treino caracterizado pela fragmentação do esforço total, com períodos de recuperação, ou seja, você alterna períodos de alta intensidade com períodos de baixa intensidade EX: HIIT Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 77 ] Tipos de treino de força: Múltiplas Séries: mais de uma série por grupo muscular (sendo 2 ou 3 séries de aquecimento com cargas progressivas , seguidas por várias séries com a mesma carga) Método da Pirâmide Pirâmide crescente: aumentar a carga e diminuir o número de repetições ao longo da série. Pirâmide Decrescente: pequeno número de repetições com cargas elevadas, com progressiva redução da carga e aumento do número de repetições. Método Bi-Set (tri ou super): dois exercícios consecutivos, sem descanso, para o mesmo grupo muscular. (FLUXO SANGUE) Método do Treinamento em Circuito Este método consiste em realizar diversos exercícios com um intervalo controlado mínimo (aproximadamente 15 segundos), ou sem intervalo, entre eles Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 78 ] Método Pliométrico: Consiste na realização de exercícios em que a musculatura é alongada rapidamente, produzindo através do “reflexo miotático” ou “reflexo de estiramento” um trabalho concêntrico maior. Peso, série e repetição: aquele que você previamente determina o número de repetições, tempo de intervalo e carga a ser usado durante o treino. Escolha o controle de intensidade Neste passo você pode usar as escalas de esforço percebido oucontrole de frequencia cardíaca. Figura 18: Escalas de esforço percebido Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 79 ] Escolha os grupos musculares A escolha dos grupos musculares deve levar em consideração: • Frequência semanal do aluno • Objetivo • Individualidade biológica • Tempo médio de recuperação muscular • Tempo de treinamento disponível E principalmente deve conter as prioridades musculares, haja vista que os treinamentos multiarticulares são essenciais no treinamento de força na água Escolha os exercícios: a escolha dos exercícios é uma forma de potencializar o trabalho muscular, haja vista que na água existe a garnde possibilidade de se trabalhar os musculos agonistas e antagonistas na mesma série de exercícios, o que potenciliza o gasto calórico e otimiza o tempo de treinamento Exercícios incorretos: Com o passar dos anos a coordenação motora vai sofrendo um declínio considerável, quantos de nós já não nos deparamos em Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 80 ] uma situação e tecemos o seguinte comentário: “ah, quando eu tinha meus 20 anos!” “ou ao contrário” já sou velho para isso, não consigo mais”. A coordenação intramuscular ou o recrutamento de unidades motoras e os proprioceptores neuromusculares (órgão tendinoso de golgi e fuso neuromuscular) vão perdendo a sua capacidade de transmitir estímulos e sensações dificultando a realização de alguns gestos motores, além dos encurtamentos e fibroses musculares que dificultam a trajetória do movimento, o que pode favorecer ao aparecimento de lesões. Muitos dos alunos conseguem visualizar o movimento correto, mas não consegue colocar em prática por causa dessas dificuldades, assim o indicado é que o professor toque o aluno e mostre o exercício correto, adaptando ou não para cada individualidade. Exercícios mais comuns: adução e abdução do ombro no plano horizontal, flexão e extensão do ombro, flexão e extensão do cotovelo, flexão e extensão do quadril, flexão e extensão do joelho e adução e abdução do quadril. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 81 ] Formas de execução: Rebote: em pé realiza-se saltos ou saltitos de baixo ou alto impacto. Neutra: ombros dentro da água e os pés seguem em contato com o fundo da piscina, sem realizar rebotes ou saltitos. Supensão: Não há contato com o chão ou parede. Ancorada: alguma parte do corpo está sempre fixa no chão ou parede. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 82 ] Capítulo 12:Resultados de um programa de treinamento de força na água Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 83 ] Dissertação de mestrado do professor Henrique Título do estudo: Efeitos do treinamento de força na água após um período de destreinamento em mulheres idosas praticantes de hidroginástica. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi quantificar as alterações na força muscular e na capacidade funcional, que ocorrem com um programa de retreinamentocom Treinamento de Força na Água (TFA), após um período de destreinamento em mulheres idosas praticantes de Hidroginástica (Hidro). Metodologia: Foram convidadas para participar do estudo 654 mulheres idosas, praticantes de hidroginástica da Secretaria de Esportes da Prefeitura de Praia Grande, dos quais, 350 se voluntariaram e 162 mulheres não atenderam aos critérios de inclusão (97 praticavam outra modalidade além da hidroginástica, 32 apresentaram problemas ortopédicos, 21 apresentaram problemas cardíacos, 7 estavam abaixo da idade preestabelecida para o estudo e 5 não concordaram em participar do estudo). Os seguintes critérios foram adotados como de Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 84 ] inclusão para o estudo: ter idade igual ou superior a sessenta anos; não apresentar transtorno psiquiátrico e/ou neurológico (diagnosticado); estar apta a praticar atividade física, comprovado por um atestado médico trazido pelo voluntária, ter participado do programa de hidroginástica da SEEL nos últimos 6 meses e não realizar nenhum outro tipo de atividade física ou exercício físico nos últimos 6 meses. A amostra final foi composta por 188 mulheres (idade de 68±5 anos; estatura de 1,56±0,70 cm; massa corporal de 71,58±12,54 kg; IMC de 29,15±4,68 kg/m2, tempo médio de prática 6±3 anos.) Foram excluídas da amostra os voluntários afetados por qualquer doença incapacitante que não permitisse a prática de atividade física, que se lesionaram durante o programa, se ausentaram do programa de treinamento por mais de 2 dias consecutivos e que iniciaram qualquer outro programa de atividade física regular nos últimos 6 meses. Durante o programa de retreinamento (após treinamento de força na água) dois indivíduos não realizaram os testes por motivo de falecimento, e 18 indivíduos não compareceram para a realização dos testes finais, totalizando 170 indivíduos (Figura1). O presente estudo foi conduzido de acordo com a declaração de Helsinki e foi aprovado pelo comitê de ética da Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 85 ] Universidade Federal do Estado de São Paulo (número: 3.115.233 e CAAE: 01953018.2.0000.5505). Todos os indivíduos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Desenho experimental O presente estudo teve duração de 26 semanas, que foram divididas em momento 1 (M1), em que as voluntárias foram inicialmente avaliadas enquanto participavam regularmente de um programa de hidroginástica (minimo de 6 meses de prática), momento 2 (M2), em que as voluntárias foram avaliadas imediatamente após por 12 semanas de destreinamento, e momento 3 (M3), no qual as voluntárias foram avaliadas logo após 12 semanas de retreinamento, com um programa de treinamento de força na água TFA ( figura.2). Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 86 ] Programa de treinamento de hidroginástica O programa de hidroginástica realizado antes da interrupção foi caracterizado por exercícios de predominância aeróbia, constando de 10 minutos de aquecimento, 30 minutos de parte principal, com intensidade leve a pouco cansativa, de acordo com a Escala de Percepção Subjetiva de Borg (percepção 11 a 13 na escala de 6 a 20), orientada pelo profissional de educação física e um período de 5 minutos de volta à calma, por meio de descanso com exercícios de alongamento. Os exercícios foram realizados em séries de 45 segundos a 1 minuto de execução, envolvendo exercícios de coordenação geral e deslocamento contra a resistência da água, com materiais variados (flutuantes). Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 87 ] Programa de treinamento de força na água (TFA) O programa de TFA, realizado no m2, foi baseado em consenso com publicações similares sobre o tema (Bento, Pereira, Ugrinowitsch, Rodacki, & activity, 2012; Bergamin et al., 2013; Buttelli et al., 2015; Heywood et al., 2017; Silva et al., 2019). Os indivíduos realizaram 45 minutos de TFA (dez minutos de aquecimento, 30 minutos de TFA e 5 minutos de relaxamento). Os indivíduos foram orientados a realizar ações voluntárias máximas com amplitude máxima (All Out, termo denominado pela AEA(Shape, 2001)) para os movimentos de adução e abdução do ombro no plano horizontal, flexão e extensão do ombro, flexão e extensão do cotovelo, flexão e extensão do quadril, flexão e extensão do joelho e adução e abdução do quadril. Os exercícios foram realizados na forma de circuito (2 exercícios para cada grupo muscular, totalizando 12 exercícios), com intensidade exaustiva, de acordo com a Escala de Percepção Subjetiva de Esforço de Borg (percepção 19 na escala de 6 a 20). Foram utilizados em todos os momentos materiais de arrasto (globohalteres e aquafins, da marca Aquaticslade®). Os blocos de exercícios foram compostos de duas séries de 30 segundos, 3 séries de 20 segundos, 4 séries de Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 88 ] 15 segundos e, por último, dois blocos de 3 séries de 10 repetições máximas, com amplitude total de movimento e velocidade máxima de execução, baseado no estudo de (Reichert, Delevatti, Prado, Bagatini, Simmer, Meinerz, Barroso, Costa, Kanitz, & Kruel, 2018). Entre cada série de exercício houve um intervalo de 40 a 60 segundos de recuperação ativa, com corrida estacionária, com intensidade de 6 a 13 na Escala de Percepção Subjetiva de Esforço de Borg. As sessões de TFA foram realizadas em piscina coberta e aquecida, com temperatura de 30oC e com 1,30 metro de profundidade. Figura 3. Fluxograma do planejamento das 12 semanas de treinamento de força na água. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 89 ] Teste de Força de Preensão Manual Unilateral: dinamometria isométrica Para a medida e avaliação da força de preensão manual máxima (Kg/f) foi utilizado um dinamômetro manual (Commander Echo MMT System-J. Tech Medica). O teste adotado foi baseado no protocolo de Shiratori e colaboradores(Shiratori et al., 2014), com o resultado sendo expresso em quilograma /força (Kg/f). Para a realização do teste, os avaliados permaneceram sentados, com o braço apoiado a 90o, e a partir do comando “atenção, vai”, realizaram a preensão manual máxima no dinamômetro, sendo anotado o maior valor de três tentativas. O teste foi realizado para ambos os braços. Teste de Força de extensão do joelho Unipodal: teste de dinamometria isométrica Para a medida e avaliação da força dos membros inferiores foi utilizado o mesmo equipamento, baseado no protocolo de Mentiplay e colaboradores [(Mentiplay et al., Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 90 ] 2015), sendo o resultado expresso em quilograma/força (Kg/f). Para a realização do teste, os avaliados permaneceram sentados em uma maca, com flexão de 90o dos joelhos, e a partir do comando “atenção, vai”, realizaram a extensão unipodal máxima do joelho contra o dinamômetro, sendo anotado o maior valor de três tentativas. O teste foi realizado para ambas as pernas. Teste de equilíbrio dinâmico e agilidade: teste de levantar e ir Teste de aptidão cardiovascular: teste de caminhada de 6 minutos Para avaliar a capacidade funcional, os voluntários foram submetidos a testes que verificaram as capacidade de equilíbrio dinâmico, agilidade e aptidão cardiovascular através do teste de agilidade Time Up and Go (TUG)(Podsiadlo & Richardson, 1991) onde o indivíduo se encontrava sentado na cadeira, ao comando “atenção, valendo!” , o mesmo teve que levantar, Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 91 ] caminhar 3 metros,dar uma volta de 180 graus e voltar a posição inicial no menor tempo possível, sendo registrado o tempo de excução em segundos. Para avaliar a aptidão cardiovascular foi utilizado o Teste de Caminhada de 6 Minutos (TC6M) onde cada indivíduo teve que percorrer a maior distância possível em uma pista de 30 metros, sendo registrada a distância percorrida em metros (Med, 2002). Resultados dos testes de força muscular Os resultados do presente estudo demonstraram redução estatisticamente significativa (p≤0,001) da força de extensão do joelho entre m1 e m2 (destreinamento) de -14,19% , com tamanho de efeito médio ( y= 0.50) para a perna direita e - 18,41%, com tamanho de efeito médio (y= 0.69) para a perna esquerda. Após as 12 semanas de TFA, ou seja, de m2 para m3, houve aumento estatisticamente significante (p≤0,001) da força de extensão do joelho de 59,28%, com tamanho de efeito grande Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 92 ] (y= 1.59) para a perna direita e 58,26%, com tamanho de efeito grande (y= 1.57 ) para a perna esquerda. Entre m1 e m3 houve aumento estatisticamente significante (p≤0,001) de 36,67% para a perna direita, com tamanho de efeito grande (y=1.05) e de 29,04 % para a perna esquerda, para um tamanho de efeito grande ( y=0.88), como demonstrado na figura 4. Figura 4. Resultados de força de extensão do joelho para três momentos distintos. Os dados de força de extensão do joelho(Kg/f) são apresentados na forma de média e desvio padrão*mostra a diferença significativa para p≤0,05 entre os momentos 1 e 2** mostra a diferença significativa para p≤0,05 Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 93 ] entre os momentos 2 e 3 # mostra a diferença significativa para p≤0,05 entre os momentos 1 e 3. A força de preensão manual não demostrou diferenças significativas entre m1 e m2 para a mão esquerda, porém, quando comparados m1 e m3, houve aumento estatisticamente significante (p≤ 0,05) de 8,52%, com tamanho de efeito pequeno (y=0.26). Já para a mão direita houve aumentos estatisticamente significantes (p≤ 0,05) entre m1 e m2 de +7,35%, com tamanho de efeito pequeno (y=0.25) e entre m2 e m3. Entre m1 e m3 houve aumento estatisticamente significante (p≤ 0,05) de + 14,51%, com tamanho de efeito pequeno (y= 0.48), como mostram a figura 5. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 94 ] Figura 5. Resultados de força de preensão manual para 3 momentos distintos Os dados de força de preensão manual (Kg/f) são apresentados na forma de média e desvio padrão*mostra a diferença significativa para p≤0,05 entre os momentos 1 e 2** mostra a diferença significativa para p≤0,05 entre os momentos 2 e 3 # mostra a diferença significativa para p≤0,05 entre os momentos 1 e 3. Resultados dos testes de caminhada e equilíbrio dinâmico Os resultados para o TC6M demonstrara aumentos significantes (p≤ 0,05) entre m1 e m2, de 2,51%, com tamanho de efeito pequeno (y=0.22), porém, comparando-se m2 e m3, houve aumento significante de (p≤0,001) 5,74%, com tamanho de efeito médio ( y=0.50). A comparação entre m1 e m3 Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 95 ] mostrou aumento significante (p≤0,001) de 8,39%, com tamanho de efeito médio (y=0.65). Para o teste de TUG não houve diferença significativa na comparação entre m1 e m2, porém, quando comparados m2 e m3, houve redução significante do tempo de 30,91% no tempo de execução (p≤0,001), com tamanho de efeito grande (y=2.33). A comparação entre m1 e m3 demonstrou que houve redução significante do tempo de execução do teste de 31,34% (p≤0,001) com tamanho de efeito grande(y=1.92), como apresentado na figura 6. Figura 6. Resultados dos testes funcionais de caminhada de 6 minutos e teste de agilidade de “Time up and go” para três momentos distintos. Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 96 ] Os dados de metros percorridos no TC6 (M) e Tempo de percurso em segundos (S) são apresentados na forma de média e desvio padrão*mostra a diferença significativa para p≤0,05 entre os momentos 1 e 2** mostra a diferença significativa para p≤0,05 entre os momentos 2 e 3 # mostra a diferença significativa para p≤0,05 entre os momentos 1 e 3. DISCUSSÃO Os principais achados do presente estudo foram: 1- O retreinamento com TFA (m3) aumentou a força muscular quando comparado com o m1 e m2, bem como nas capacidades de equilíbrio dinâmico e resistência aeróbia. 2- O destreinamento promoveu diminuição na força de membros inferiores, porém, sem redução nas capacidades de equilíbrio dinâmico e resistência aeróbia. Com as 12 semanas de TFA, observamos um aumento na força muscular em valores significativamente maiores quando comparados com o período de destreino (M2) e com o treinamento de hidroginástica tradicional (M1), o que sugere que este tipo de treinamento pode ser mais eficaz para melhorar Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 97 ] esta capacidade em idosos quando comparado com a hidroginástica tradicional, corroborando com estudos que utilizaram de metodologias similares e obtiveram melhora da força de membros inferiores(Ambrosini, Brentano, Coertjens, & Kruel, 2010; Bento et al., 2012; Heywood et al., 2017; Pöyhönen et al., 2002; Ribeiro et al., 2018). O aumento da força de membros inferiores, demonstrado pela prática do TFA, pode ser uma forma de melhorar a capacidade funcional de idosos e melhorar a realização das tarefas da vida diária, tornando o indivíduo mais independente(Booth, 2004; Pöyhönen et al., 2002; Vale et al., 2020). Estudos relacionados a destreinamento mostram resultados similares aos achados no presente estudo, no que diz respeito à diminuição de força muscular. Psilander e colaboradores(Niklas Psilander et al., 2019), demonstraram que a força regrediu ao nível pré-treinamento após 20 semanas de Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 98 ] destreinamento, enquanto Bezerra e colaboradores encontraram uma queda de 15% na força após 3 meses de destreinamento na musculação(de Souza Bezerra et al., 2019). Em nosso estudo, após 12 semanas de destreinamento, a forca muscular de membros inferiores reduziu em -13,94% para a perna direita e - 17,45% para a perna esquerda, porém, os indivíduos praticavam hidroginástica, um tipo de modalidade de exercício aquático, que não tem como objetivo principal o ganho de forca muscular. Com relação ao equilíbrio dinâmico e potência aeróbia, quando submetidos ao o protocolo de 12 semanas de TFA, a capacidade de equilíbrio dinâmico exibiu melhora significativa, corroborando com achados similares na literatura (Bêta, Dias, Brown, Araújo, & Simão, 2016; de Andrade Bezerra et al., 2011; Reichert, Prado, Kanitz, Kruel, & Saúde, 2015; Vale et al., 2020). Katsura e colaboradores demonstraram aumento na capacidade de força plantar e no teste de equilíbrio dinâmico Treinamento de força na água para o idoso, por Henrique França Rodrigues [ 99 ] (TUG) em indivíduos submetidos a treinamento na água com aparelho resistido (Katsura et al., 2010), o que pode ser relacionado ao ambiente aquático favorecer o aumento da força, por se favorecer da pressão hidrostática (700 mmHg maior que o ar e quando em movimento, sua resistência contra o movimento pode quadruplicar(Aboarrage, 2008; Shape, 2001)), aumentando essa relação com o uso de aparelhos resistidos. Fisken e colaboradores constataram que o treinamento de força na água melhora o equilíbrio e a capacidade postural de idosos(Fisken, Waters, Hing, Steele, & Keogh, 2015) e isso pode estar relacionado