Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Microbiologia e Imunologia – 2020.1 Aspectos Imunológicos da Cárie O que é cárie? Consiste em uma lesão causada por microrganismos no tecido dentário, que depende da dieta, tempo de instalação, do hospedeiro e do meio – sendo considerada multifatorial. A principal bactéria relacionada a carie é o Streptococcus mutans. Fatores como fluxo salivar, higiene bucal e exposição ao flúor, participam diretamente da resistência do hospedeiro à cárie. A bactéria libera ácidos que permitem a destruição progressiva dos cristais de hidroxiapatita presente na dentina, e causando uma descalcificação do elemento dentário, permitindo a instalação dela no dente. Elas, também, liberam polímeros extracelulares que permitem a sua adesão ao tecido dentário, através de proteínas. A bactéria é sacarolítica, ou seja, precisa de sacarose como fonte de energia; não tendo capacidade de quebrar ligações de polissacarídeos (embora, quando há a ação da amilase salivar, pode haver liberação de glicose, se tornando uma forte de energia para a bactéria). Aspectos Imunológicos A intervenção imunitária na cavidade oral é tida principalmente de maneira inata, mas podemos perceber a atuação de anticorpos, quando se falando de cárie, do tipo IgA. Algumas das enzimas presentes na saliva possuem ação antimicrobiana/antibactericida; a saliva funciona como um sistema tampão, devido suas propriedades que permitem o aumento da concentração de cálcio e fosfato, e auxilia na limpeza e remoção dos microrganismos na cavidade oral. Entre essas enzimas, podemos nomear a lisozima, que está presente em altas quantidades na saliva, tendo a capacidade de promover a lise dos estreptococos cariogênicos. Podemos, também, citar a lactoperoxidase salivar e a lactoferrina; a primeira, quando em contato com o peróxido de hidrogênio possibilita a formação de um composto que é tóxico a bactéria cariogênica, inibindo suas funções enzimáticas; a segunda, inibe a proliferação bacteriana quando se liga ao ferro. OBS.: as proteínas presentes na saliva não possuem memoria imunológica, por isso são inespecíficas. Os anticorpos presentes na saliva são tidos como agentes secundários, que se juntam com as imunoglobulinas e atuam na defesa contra os agentes cariogênicos; estas podem ser divididas entre secretórias, IgA, e séricas, IgM, IgG e IgA. A ação dos anticorpos IgA, só é possível mediante aos compostos solúveis da saliva, que chegam na boca por meio do liquido crevicular gengival que lubrifica o periodonto e o dente, sendo um composto cheio de substâncias protetoras. A IgAsecretora, está presente na saliva em maior quantidade, seguidas das imunoglobulinas IgG e IgM. A IgA-s atua na placa supragengival e impede a aderência das bactérias no esmalte; e faz com elas se juntem possibilitando uma remoção da cavidade oral a partir da saliva. A IgG e a IgM, atuam similarmente a IgA, mas de maneira subgengival, facilitam o processo de fagocitose bacteriana (opsonização) e ativam o sistema complemento pela via clássica, gerando a lise das bactérias, posteriormente. OBS.: a maioria dos microrganismos cariogênicos estimulam a produção de linfócitos, principalmente TCD4, e a produção de citocinas – estabelece uma correlação negativa ente os índices de carie e estimulação de linfócitos Quando a criança nasce, notamos a ausência de IgA na saliva, seu desenvolvimento vai depender da exposição da criança a agentes como: bactérias, nutrição, entre outros. No entanto, a proliferação de bactérias só vai ser observada algum tempo depois, principalmente quando os dentes começarem a erupcionar; assim teremos A bactéria se fixa, criando o biofilme dental e diminuindo o pH da boca; A bactéria vai atuar sobre a hidroxiapatita, causando sua solubilidade; Sua dissolução permite a entrada da bactéria, por meio da dismineralização do dente. O corpo reage com uma solução tampão para restaurar o pH da boca, A SALIVA. Moisés Santos|@eumoisesantos_ Odontologia UFPE – Microbiologia e Imunologia – 2020.1 uma maior proliferação de anticorpos contra os antígenos bacterianos. Percebe-se também, a transmissão dos anticorpos IgG, da mãe para o feto durante a gestação, o que posteriormente ajudará a criança, quando nascer a desenvolver os próprios anticorpos de maneira mais rápida, quando for exposto as bactérias. A relação mãe-bebê é fundamental tanto para o desenvolvimento de microrganismos anticariogênicos, como para o desenvolvimento de bactérias cariogênicas. Quando as bactérias atingem a polpa, ela reage, dano inicio a uma resposta inflamatória. Proteínas da fase aguda da inflamação: São proteínas séricas produzidas no fígado e atuam na inibição das proteases, sendo inespecíficas; possuindo a capacidade de aumentar a eficácia da imunidade inata, atuando sobre estímulos agressores ou inflamatórios. • Atuações positivas: aumentam em concentração; ação microbicida → Opsonização (facilita a fagocitose do microrganismo); coagulativa; atividade antiprotease (atua na produção de proteases das bactérias); ativa o sistema complemento; • Atuações negativas: diminuem em concentração; limitam a inflamação (não permite a restauração do tecido lesado; aumento de albumina sérica e transferrina (emite um feedback negativo para a inflamação); PROTEÍNAS LIBERADAS NA FASE AGUDA PROTEÍNA C REATIVA (maior sensibilidade) Atua como PRR; promove opsonização; se liga ao componente c da parede celular das bactérias; ativa a via clássica do complemento. α1-ANTITRIPSINA (pH ~ 7) Neutraliza as proteases liberadas pelas bactérias; limita a lesão causada pelo excesso de atividade enzimática. PROTEÍNA LIGADORA DE MONOSE (produzida no fígado) Funciona como PRR solúvel; ativa a via de lectinas do complemento; promove a inflamação e a quimiotaxia. Mecanismos orais de defesa • Mucosa oral; • Saliva e Glândulas salivares (lisozimas e mucinas); • Língua; • Tecido linfoide associado a nasofaringe; • Fluido do biofilme dentário e crevicular adjacente (Calprotectina e Trombospondina- 1); ENZIMAS ANTIMICROBIANAS LISOZIMA Enzima catiônica; hidrolise da parede celular das bactérias (Gram +); armazenada por neutrófilos e macrófagos; Ação fungistática; Ação antirretroviral; Lise de células antitumorais; Agregação bacteriana; inicia o processamento de IL-1b. PEROXIDASE Da família da mieloperoxidase; Atividade antioxidante; AGLUTINAÇÃO E ADESÃO BACTERIANA MUCINA Adesão seletiva de agentes microbianos; produzidas por todas as glândulas salivares, exceto parótidas; MG1 é a principal mucina formadora de gel da saliva; MG2 mais importante na aglutinação. GP340 Aglutina S. mutans, estreptococos do grupo A e HIV; PEPTIDEOS CATIONICOS DEFENSINAS Peptídeos ricos em cisteína; regulam a inflamação; inibe proteases do hospedeiro; inibe citocinas. SLPI (Inibidor leucocitário secretório) Conhecido como inibidor específico de elastase; produzido pelas glândulas submandibulares; elimina tanto bactérias Gram + quanto Gram -; propriedades antibacterianas, antirretrovirais e anti-inflamatórias. INIBIDORES DE PROTEASES CISTATINAS Peptídeos ricos em cisteína; regulam a inflamação; inibe proteases do hospedeiro; inibe citocinas. SLPI (Inibidor leucocitário secretório) Conhecido como inibidor específico de elastase; produzido pelas glândulas submandibulares; elimina tanto bactérias Gram + quanto Gram -; propriedades antibacterianas, antirretrovirais e anti-inflamatórias. Referências: DE SOUZA, Gleicy Fátima Medeiros et al. Abordagem imunológica da cárie dental. Brazilian Dental Science, v. 4, n.2, 2001. PINTO, Leão Pereira et al. Aspectos imunológicos da cárie dentária. Revista da Faculdade de Odontologia de Porto Alegre, v. 46, n. 1, p. 19-22, 2005. Defensinas: peptídeos formadores de poros na membrana, causam lise osmótica – Sua fonte são: leucócitos e células epiteliais.
Compartilhar