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O universo judaico-cristão é detidamente próspero no que diz respeito aos âmbitos da palavra, do nome e do verbo. No entanto, a relação estabelecida aqui é muito diferente da que vimos na aula anterior. Filoso�a da Linguagem Aula 2: Linguagem sob o ponto de vista místico Apresentação Nesta aula, averiguaremos de que maneira a compreensão linguística ensaia um distanciamento em relação às abordagens platônica e aristotélica. A partir desse fenômeno, houve um percurso de paradigma linguístico da mera representação do mundo a uma prototeoria de língua como práxis (prática ou ação), muito além do modelo representacionista visto na aula anterior. Os textos sagrados da Torá e da Bíblia ainda serão as principais referências em nosso estudo, mas registraremos também as contribuições de pesquisadores no âmbito da Cabala, como Gershon Sholem. Em relação ao Evangelho, destacaremos as cartas de Paulo a romanos e coríntios sob os vieses �losó�co e linguístico, como aborda, por exemplo, o professor Guilherme Cardozo. Na primeira parte desta aula, recordaremos os aspectos onomásticos (isto é, sobre os atos de nomear) presentes logo nas primeiras linhas da Torá. Em seguida, apontaremos a importância que os nomes possuem e a signi�cação concreta de sua atuação nas pessoas que os carregam. Tendo à mão alguns trechos do diálogo Crátilo, realizaremos ainda algumas comparações entre essas questões já apontadas e o ponto de vista platônico. Objetivos Identi�car nos cânones sagrados uma referência �losó�ca à linguagem; Relacionar a abordagem presente no universo judaico-cristão com uma nova teoria sobre a metáfora; Registrar o percurso de paradigmas linguísticos. Enquanto a �loso�a grega buscou tornar o estudo sobre a linguagem algo extremamente concreto, os ícones judaico- cristãos aproximaram-se de uma compreensão mística. O estreitamento dessa relação com os mistérios da linguagem gerou um afastamento da concretude grega e uma valoração riquíssima do pensamento sobre a metáfora. Desde a Torá judaica, constatamos que a origem da linguagem se confunde com a do próprio mundo. Os atos de comunicação entre Deus e os homens ganham um status diretivo e legislativo, ao contrário do ornamento e da retórica da Antiguidade Clássica. Para nossos estudos onomásticos (sobre os nomes), esta aula é de vital importância, pois, além de trazer um conhecimento novo sobre a relação da sociedade com a linguagem, também ousa realizar um estudo multidisciplinar do elo entre o que muitos chamam de “religião” e a �loso�a da linguagem. 1 Torá em sua forma tradicional, enrolada em pergaminho. (Fonte: Wikpedia) Para ter uma melhor compreensão dessa referência, acesse o texto de leitura essencial que contém: Versículos 19 e 20 do Livro de Gênesis 1, com a fala de Adão e um paralelo entre a fala de Sócrates e Hermógenes, na obra de Platão. Adão e Sócrates Clique no botão acima. Adão e Sócrates Nos versículos 19 e 20 do Livro de Gênesis, temos a reveladora instituição de Adão como aquele legislador de nomes de que falava o personagem Sócrates a Hermógenes na obra de Platão. No entanto, como, no universo judaico-cristão, temos a �gura onipotente do Deus único – crença que não comparecia na cultura grega –, Adão receberá poder e autoridade do próprio Deus, criador dos universos, para ser aquele que, ciente da essência de cada coisa no mundo, passará a lhes dar nomes. Vejamos este trecho do Texto Sagrado: 19 - Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais do campo, e todas as aves dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome. 20 - E Adão pôs os nomes a todo gado, e às aves dos céus, e a todo animal do campo. (Gênesis, 1:19-20) A criação de Adão é uma obra que retrata a autoridade transferida à criatura humana. (Fonte: Wikipedia). Já é possível perceber nesta passagem bíblica uma semelhança entre o ponto de vista grego e o judaico acerca do paradigma de linguagem adotado como verdade: Adão é eleito como aquele que, por entender a essência das coisas, pode dar-lhes nome. A linguagem do Gênesis, então, também assume a função de meramente representar as coisas do mundo. O paradigma da representação comparece em duas das grandes culturas da época. Isso é motivo su�ciente para se entender por que, até os dias de hoje, muitas instituições educacionais, ao ensinarem línguas, trabalham com listas de nomenclaturas �xas, como se a linguagem fosse um repertório bem-sucedido de classi�cação das coisas. Diálogo entre Torá e Crátilo Pretendemos estabelecer agora um diálogo entre a Torá e a obra Crátilo, de Platão, para ilustrar a importância dos atos de nomeação no universo judaico. Para ter uma melhor compreensão desse diálogo, acesse o texto de leitura essencial que contém: Duas passagens da Torá; Análise sobre os nomes Abrão e Jacó. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Torá; Abrão e Jacó Clique no botão acima. Torá; Abrão e Jacó Abrão prostrou-se com o rosto em terra, e falou Deus com ele: Quanto a mim, a minha aliança é contigo, e serás pai de uma multidão de nações. O teu nome não se chamará mais Abrão, mas Abraão será o teu nome; pois te hei posto por pai de uma multidão de nações. [...] “Seu nome é Jacó, mas você não será mais chamado Jacó; seu nome será Israel”. Assim, Deus lhe deu o nome de Israel. (Gênesis, 17:3,4,5, 35:10) Nessas duas passagens, observamos que a mudança de nome se dá especialmente pela mudança de essência. No primeiro caso, o nome “Abrão” quer dizer “pai elevado”; no entanto, devido à nova missão que Abrão possuía perante Deus e seu povo, ele passa-se a chamar Abraão, com uma vogal a mais, o que signi�ca “pai de muitos”. Já a passagem sobre Jacó é uma das mais interessantes: seu nome quer dizer “aquele que segura pelo calcanhar”, uma alusão antecipada do que faria com seu irmão mais velho, Esaú, para ganhar a bênção de seu pai, Isaac. Lembre- se de que as benções eram tradicionalmente dadas ao primogênito. Porém, após a demonstração de �delidade a Deus pelo novo batismo (também) feito pelo próprio Criador, ele receberia uma nova alcunha: Israel. Esta palavra signi�ca “aquele que luta e prevalece com Deus”. Se a linguagem tem como função primordial nomear os seres de acordo com suas características essenciais, a transformação do nome velho em um novo – o novo batismo – faz jus ao paradigma linguístico adotado. Isso também �ca ilustrado no diálogo de Sócrates com Hermógenes sobre o nome deste interlocutor. Essa etimologia parece uma resposta à alusão de Crátilo, no início do diálogo (Crátilo 383b), quanto à impossibilidade de Hermógenes ter esse nome, uma vez que o mesmo não seria o �lho de Hermes. Mais adiante, ao examinar o nome do deus Hermes (Crátilo 408a-d), atribui-se ao mesmo o signi�cado de "aquele que preside os discursos". Nesse momento, Hermógenes acaba por admitir que Crátilo estaria certo, pois ele mesmo não poderia ser �lho de alguém com tais características, dada a refutação do argumento convencionalista que defendera inicialmente. (MONTENEGRO, 2007, p. 3) Platão articula o pensamento onomástico de forma que essa vinculação com a essência do ser seja algo intrínseco à linguagem verdadeira, ao real sentido das coisas. No universo judaico, isso acontece da mesma forma: os novos batismos se sucederão em diversas partes do Texto Sagrado, sendo agregados à tradição cristã, extremamente rica no que diz respeito à onomástica e à linguagem. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online A concepção incipiente de metáfora fundante Cabala Veri�caremos agora a parte considerada mais mística do universo judaico. Ela é conhecida como a Cabala. Os estudos cabalísticos são tão interessantes do ponto de vista linguístico que provavelmente você já viu ou ouviu algumas das informações abordadas nesta aula em alguns �lmes de Hollywood ou mesmo em canais da internet. Vejamosalgumas informações sobre o meio cabalístico: No meio cabalístico, acredita-se que a Torá não é apenas um livro sagrado compost mas que ela própria também é o grande nome de Deus. Neste livro, Deus expressa s daquilo que se pode revelar à criação. A Torá não é apenas um livro sagrado A Torá não seria somente uma obra que rege as relações sociais e religiosas entre o da comunicação divina: uma metáfora de Deus. A Torá é um símbolo de comunicação divina Acredita-se que a linguagem não nasce de forma literal, e sim metafórica, já que jam linguagem da verdade, mas somente a partes dela materializadas no livro sagrado h A Torá é metafórica A árvore da vida - Cabala (Fonte: Wikipedia Para os cabalísticos, então, a metáfora não seria um ato de transferência, deslocamento ou desvio – como vimos em Aristóteles na aula anterior –, mas a primeira linguagem propriamente, pois o nosso acesso a ela se deu por um ato de metaforização. Estudioso da onomástica em âmbito judaico-cristão, o professor Guilherme Cardozo esclarece: Se antes da criação do mundo já havia a Torá, e se ela emanou da essência oculta de Deus, isso fez com que alguns cabalistas, como Menahem Recanati, chegassem à conclusão, através de um antigo ditado que ‘‘antes que o mundo fosse criado, só Deus e o Seu nome existiram’’, de que Deus, Ele mesmo, é a Torá, ‘‘pois a Torá não é algo além d’Ele, Ele não está além da Torá’’. (Zohar, II 60ª) Para eles, as letras representam o corpo místico de Deus, enquanto Deus é a alma das letras. (CARDOZO, 2016, p. 53) A metáfora é a primeira linguagem Comentário Vemos que o simbolismo é algo muito presente na tradição dos cabalistas – a ponto de eles acreditarem que a Torá é um organismo vivo, possuindo, entre outros órgãos, uma cabeça, um corpo, uma boca e um coração. Para eles, o coração é a Torá escrita; a boca, a Torá oral (os cabalistas referem-se às chamadas ‘‘narrativas metafóricas’’, cujo nome em hebraico é mashal). O que seriam essas narrativas? Para ter uma melhor compreensão dessas narrativas, acesse o texto de leitura essencial que contém: Concepção cabalística de que a Torá é o próprio Deus; A metáfora é diferente da concepção de metáfora aristotélica; Análise da metáfora como um elemento fundante do discurso �losó�co, religioso, político. Narrativas metafóricas Clique no botão acima. Narrativas metafóricas Em primeiro lugar, os cabalistas consideram a Torá como o próprio Deus, mas é a partir da Torá oral, ou seja, dessas narrativas metafóricas, que os homens têm acesso às verdades ali presentes. Segundo tal princípio, pode-se veri�car que, diferentemente da concepção aristotélica, no universo cabalístico judaico o enunciado inteiro se constitui metáfora. Ela não é mais um desvio do sentido literal para o �gurado, e sim a resposta a uma certa inconsistência do enunciado interpretado literalmente. (CARDOZO, 2016, p. 55) Para que você entenda rapidamente a ruptura dos estudos cabalísticos sobre a linguagem com as diretrizes platônica e aristotélica, vale guardar em mente que a metáfora é apresentada, sob a ótica judaica, como um elemento fundante do discurso �losó�co, religioso, político, pois ela é a primeira manifestação comunicativa existente, sendo materializada através das narrativas metafóricas (mashal). Vídeo Conheça alguns mistérios da Cabala neste vídeo. Acesso em: 17 abr. 2019. A mística cristã quanto aos atos de nomeação Para ter uma melhor compreensão do processo de batismo onomástico cristão, acesse o texto de leitura essencial que contém: Batizados realizados pelos padres católicos na colonização brasileira; Batismo no Novo Testamento. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Batizados Clique no botão acima. Batizados Você já deve ter ouvido falar que, no início da colonização portuguesa no Brasil, lá pelos idos de 1500, muitos nativos, conhecidos como indígenas, eram batizados pelos padres católicos e, assim, adquiriam um “novo nome”, abandonando a sua antiga alcunha (que, para os padres, carregava toda uma história de pecados e heresias). Esses nativos seriam, então, presenteados com uma nova vida graças a um nome cristão. Por isso, muitos nomes provenientes da cultura nativa foram desaparecendo de nossa história, já que, à medida que eram batizados, eles recebiam nomes de santos (exemplos: João, Antonio e Pedro) ou o complemento “de Jesus” ou “de Deus”. Exemplo Simão, nomeado por Jesus como Pedro; Levi, que passa a se chamar Mateus; e o episódio onomástico mais emblemático, quando Saulo cai do cavalo e, em seguida, é chamado por Paulo. Batismo de um nativo por um jesuíta (século XVI). Fonte:Centro de Mídias de Educação do Amazonas. (Fonte: centrodemidias.gov.br Todos esses batismos onomásticos levam em conta a mesma questão debatida nesta disciplina: a natureza, a essência daquele que é nomeado. Nos casos descritos acima, Simão seria o líder da nova �loso�a de Jesus Cristo, responsável, portanto, por edi�car o Cristianismo entre os judeus. Por isso, Jesus o batiza como Pedro (que signi�ca “pedra”, “rocha �rme”). Já o caso de Saulo (cujo signi�cado é “grande”), segundo Guilherme Cardozo, trata-se de um autobatismo, já que ele mesmo passa a se denominar Paulo (quer dizer “pequeno”), pois ele não se considerava, em nenhuma medida, grandioso, e sim pequenino diante de Cristo. Os casos citados no texto 4 são bastante relevantes no que diz respeito aos nomes na cultura cristã. Mas é exatamente com Paulo de Tarso, o chamado “apóstolo dos gentios”, que o pensamento acerca da linguagem ganhará um novo curso. Por ser um conhecedor das letras da lei judaica, bem como da tradição romana e da cultura grega, Paulo de Tarso pôde confrontar literalidade e metaforicidade em duas de suas famosas epístolas bíblicas: as cartas aos romanos e as cartas aos coríntios. O legado de Paulo: uma prototeoria da práxis A contribuição de Paulo de Tarso com uma prototeoria da linguagem se dá no campo da discussão entre o sentido literal da lei e o que de fato ela provoca no espírito humano. Se já pudemos examinar com os gregos que cada palavra possui um signi�cado essencial e preciso, não havendo possibilidade de duplo sentido, esse conceito, com as cartas paulinas, sofrerá um abalo considerável. Para ter uma melhor compreensão sobre as cartas paulinas, acesse o de leitura essencial que contém: O trecho bíblico de Romanos, 7:7-8; O que Paulo quer mostrar aos cristãos de Roma; Paulo aos Romanos Clique no botão acima. Paulo aos Romanos Em sua carta aos romanos, escrevia o apóstolo dos gentios: Portanto, que concluiremos? A lei é pecado? De forma alguma! De fato, eu não teria como saber o que é o pecado a não ser por intermédio da lei. Porquanto, na realidade, eu não haveria conhecido a cobiça se primeiro a lei não tivesse dito: Não cobiçarás! Mas o pecado, aproveitando-se da ocasião dada pelo mandamento, provocou em mim todo tipo de cobiça; porque, onde não há lei, o pecado está morto. (Romanos, 7:7-8). Neste trecho, Paulo quer mostrar aos cristãos de Roma que a letra da lei não possui aquele signi�cado petri�cado (no sentido platônico) e sagrado (como os judeus acreditavam). Muito mais importante é o que está além da letra da lei: seu sentido prático. Paulo provoca uma re�exão sobre o sentido literal da lei: se ela diz “não cobiçarás”, como explicar então a a�rmativa paulina de que, graças à lei, todo tipo de cobiça comparece como vontade? Se as letras dizem “não”, por que a interpretação a�rma “sim”? Para responder a isso, o apóstolo iniciara uma linha de raciocínio que terminou com a frase clássica presente em sua primeira carta aos coríntios: “[Cristo] nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivi�ca”. (2 Coríntios, 3:6) Aí está a empreitada de Paulo no combate à literalidade da letra da lei. Para o apóstolo, ela nunca era corretamente interpretada – e ele mesmo era a prova disso. Apesarde haver estudado a lei por anos, ele nunca a compreendeu de fato, já que seu verdadeiro sentido estava por trás da letra, além da letra, naquilo que ele chama de espírito da lei. O que dará vida às letras é esse “espírito”, que, no dizer de Paulo em diversas partes das suas cartas, é o ato de caridade e a prática da lei entendida não na letra da lei, mas no campo da práxis. Comentário Obviamente, não podemos a�rmar que Paulo foi o fundador de um paradigma linguístico da práxis em contraposição ao da representação. Porém, ao trazer essas discussões à tona, ele se posicionou de certa forma contra o modelo que determinava que uma palavra possui um sentido irrefutável, único e inconfundível. Paulo deu testemunho em suas cartas de que as palavras possuem sentidos criados pelas interpretações que se lhe dão por um processo prático (da mente ou do corpo). As metáforas de Paulo Metáforas para Aristóteles Para o �lósofo Aristóteles, as metáforas tinham uma função meramente ornamental a �m de enfeitar o discurso. Metáforas no universo judaico No universo judaico, especialmente com os cabalistas, podemos atestar que a linguagem nasce como metáfora, pois não temos acesso à verdadeira, que é a linguagem de Deus. Metáforas para Paulo Já em Paulo, a metáfora adquire um caráter pedagógico, instrutivo, como se pode reconhecer em partes de seus textos cujo objetivo é passar algum ensinamento não pelo sentido literal, mas pelo metafórico, como podemos ver em: “Tomai também o capacete da salvação e a espada do espírito, que é a palavra de Deus”. (Efésios 6:17). E também em: “porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas”. (2 Coríntios 10:4). Quanto a essa tendência de uma linguagem metafórica nas cartas de Paulo, explica Cardozo: Portanto, se Paulo insistia, no decorrer de suas cartas, em ensinar por �guras algo que pela literalidade talvez fosse compreendido com menor facilidade, é devido a esse caráter didático da metáfora [...] Paulo reutiliza �guras já trabalhadas por ele em outros contextos, mas sempre aparece com novas metáforas conceituais. - CARDOZO, 2016, p. 107 Para ter uma melhor compreensão sobre as metáforas conceituais trabalhadas nos textos sagrados, acesse o texto de leitura essencial que contém: Sentido positivo e negativo das metáforas conceituais; A carga conceitual das metáforas dicotômicas. Metáforas conceituais e metáforas dicotômicas Clique no botão acima. Metáforas conceituais e metáforas dicotômicas Se formos exempli�car algumas dessas metáforas conceituais trabalhadas nos textos sagrados, poderemos relembrar em nosso dia a dia muitas delas, pois algumas foram eternizadas devido ao uso popular. Quem nunca trabalhou com as noções de cima-baixo, claro-escuro e direita-esquerda, em que “cima” traz uma ideia positiva e “baixo”, uma negativa? Isso também ocorre com as outras metáforas citadas: o primeiro termo possui uma conotação positiva, ao contrário do segundo. Podemos ver no texto sagrado frases como: “O que vos digo às escuras, dizei-o às claras. E o que escutai aos ouvidos, dize-o aos telhados”. (Mateus 10:27) Essa oposição �ca mais clara em trechos como “diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia enumerar […] diante do trono e do cordeiro, com vestes brancas”. (Apocalipse 7:9). Podemos inferir, desse modo, que a dicotomia claro-escuro e suas variantes possuem uma carga conceitual muito presente nos dias de hoje da mesma forma que outras metáforas utilizadas nos textos sagrados. Atenção Podemos ver no texto sagrado frases como: “O que vos digo às escuras, dizei-o às claras. E o que escutai aos ouvidos, dize-o aos telhados”. (Mateus 10:27) Essa oposição �ca mais clara em trechos como “diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia enumerar […] diante do trono e do cordeiro, com vestes brancas”. (Apocalipse 7:9). A obra escrita de Paulo de Tarso, portanto, traz algumas novidades do ponto de vista linguístico: Tira a literalidade de seu posto superior, atribuindo-lhe um sentido duplo, controverso; Elege a metáfora como ferramenta de instrução; Introduz uma espécie de ponto de vista pragmático sobre a letra da lei. Atividade 1 - Pelo que aprendemos na aula de hoje, seria equivocado a�rmar que os livros dos cânones sagrados da cultura judaico- cristã: a) São livros religiosos, embora também possuam conteúdo filosófico, inclusive na área da linguagem. b) Mostram uma vertente mística sobre a linguagem, especialmente na Torá. c) Apresentam um aspecto diferente das obras de Platão e Aristóteles, apesar de também conterem elementos interessantes sobre os nomes. d) São livros religiosos e não podem ser trazidos para a discussão sobre linguagem. e) Mostram uma visão bastante diferente sobre a metáfora em comparação com os estudos dos gregos antigos. 2 - Falamos na aula de hoje que os judeus cabalistas possuem uma concepção de metáfora bem diferente da que os �lósofos gregos tinham. Analise as assertivas abaixo: I- Vê-se a metáfora como elemento fundante, ou seja, ela é fruto de um desvio do sentido literal. II - Vê-se a metáfora como elemento fundante, ou seja, ela inaugura a linguagem, inclusive a literal. Não é fruto de um desvio, mas fundadora do sentido primeiro das coisas. III - Para os cabalistas, a Torá escrita representa o próprio Deus, porém é a parte que podemos entender. Logo, a linguagem escrita é uma metáfora da verdadeira linguagem divina. A sequência correta relacionada é: a) F, F, V. b) V, V, F c) F, V, F d) V, V, V. e) F, V, V. 3 - Sobre a frase de Paulo “a letra mata, mas o espírito vivi�ca”, podemos entender que: a) Paulo valoriza o sentido literal da lei. b) Não há nenhuma referência a uma linguagem metafórica. c) Há uma preferência pela linguagem literal em vez da metafórica. d) Paulo quer ir além da literalidade, buscando uma linguagem mais ligada à práxis do que à representação. e) A letra possui um sentido indiscutível. 4 - Entre as diversas metáforas conceituais presentes no texto sagrado, identi�que abaixo uma delas: a) E criou-se a mulher da costela de Adão. b) E porei uns à minha direita e outros à minha esquerda. c) E não há nada oculto que não venha a ser revelado. d) A letra mata, o espírito vivifica. e) Eis que o Filho de Deus vem com as nuvens. Notas Torá1 A Torá é o principal livro sagrado dos judeus. À moda da �loso�a grega, a tradição judaica remonta a tempos mais que pretéritos. As contribuições do universo hebreu à nossa história são diversas: a simbologia, o misticismo, a riqueza de detalhes relativos à linguagem e o pensamento �losó�co teológico judaico contribuíram bastante para uma compreensão linear da evolução do pensamento linguístico. Referências ______. Decifrando o passado - os segredos da Cabala. History. Disponível em: https://www.youtube.com /watch?v=42tvmUj9Brw. Acesso em: 17 abr. 2019. CARDOZO, G. L. A questão da linguagem nas cartas de Paulo de Tarso: análise linguística das epístolas aos romanos e aos coríntios. Saabrücken (Alemanha): Novas edições acadêmicas, 2016. MONTENEGRO, M. A. de P. Linguagem e conhecimento no Crátilo de Platão. In: Kriterion: revista de Filoso�a. v. 48. n. 116. Belo Horizonte, jul./dez. 2007. Disponível em: //www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-512X2007000200006. Acesso em: 17 abr. 2019. SCHOLEM, G. A Cabala e seu simbolismo. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2015. Próxima aula O estudo �losó�co da linguagem na Idade Média; A Bíblia como centro do saber medieval; Contribuições de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Leia estes dois artigos cientí�cos: Ato de nomear no Brasil colonial; O universo da Torá.
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