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Indaial – 2020 RecuRsos TeRapêuTicos Manuais Prof. Eduardo Luiz Stapait 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Eduardo Luiz Stapait Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S793r Stapait, Eduardo Luiz Recursos terapêuticos manuais. / Eduardo Luiz Stapait. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 193 p.; il ISBN 978-65-5663-096-0 1. Fisioterapia. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 615.82 III apResenTação Caro acadêmico, seja bem-vindo a disciplina de Recursos Terapêuticos Manuais! Nesta disciplina você entenderá como suas mãos poderão servir de ferramenta para o tratamento de diversas condições de saúde na prática clínica do fisioterapeuta. A partir de hoje você olhará para suas mãos de uma forma diferente, elas serão suas ferramentas de trabalho. Lembre-se, será com elas que, provavelmente, você avaliará e tratará o seu paciente. Os recursos manuais como ferramenta terapêutica são utilizados há milhares de anos por diferentes culturas, por isto, na Unidade 1 deste livro didático, você conhecerá a história deste recurso e a evolução do uso da mão como uma forma de cuidar da saúde. Além disto, conhecerá as principais técnicas manuais, como a fisioterapia iniciou com o uso dos recursos terapêuticos manuais e terá todo o suporte básico para a correta utilização das mãos no tratamento de pacientes. Como estamos falando de uma disciplina que envolve práticas manuais, preparamos para você um conteúdo com diversas técnicas e com muitas figuras para você praticar no decorrer da disciplina, aproveite! Na Unidade 2 você conhecerá um dos recursos terapêuticos manuais mais utilizados, a massagem, saberá como aplicar e, mais importante, quando utilizar. Nesta Unidade, você também conhecerá sobre a drenagem linfática manual, um conteúdo com muita informação e detalhes da técnica foi disponibilizado para você. Na Unidade 3 falaremos sobre a fisioterapia manipulativa, você conhecerá as principais técnicas de mobilização e manipulação para as diferentes regiões e estruturas do nosso corpo. Entenderá os efeitos destas técnicas e como realiza-las com segurança e efetividade, tudo de forma ilustrativa e com detalhes para você praticar as técnicas e aprimorar seus conhecimentos práticos na área. Preparamos também, ao final de cada tópico, um resumo com as principais evidências científicas destas técnicas na prática clínica. Isso permitirá um uso mais eficiente e seguro das técnicas no seu dia a dia. Esperamos que nossos esforços na elaboração deste livro didático contribuam na construção do seu conhecimento e na sua evolução profissional. Uma ótima leitura e bons estudos! Prof. Eduardo Luiz Stapait IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento. Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL .......................... 1 TÓPICO 1 - PERPECTIVAS HISTÓRICAS ..........................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 VISÃO GERAL SOBRE A HISTÓRIA DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS MANUAIS .......3 3 EVOLUÇÃO DA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL ..................................................................5 4 RECURSOS TERAPÊUTICOS MANUAIS E FISIOTERAPIA ......................................................6 4.1 TERAPIA MANUAL COMO ESPECIALIDADE DO FISIOTERAPEUTA ...............................7 4.2 TÉCNICA VERSUS PACIENTE .......................................................................................................8 4.3 TERAPIA MANUAL VERSUS FISIOTERAPIA MANIPULATIVA ...........................................9 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................11 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................12 TÓPICO 2 - REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL .............13 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................13 2 CONCEITOS BÁSICOS DE MASSAGEM, MOBILIZAÇÃO E MANIPULAÇÃO ................13 2.1 MASSAGEM .....................................................................................................................................13 2.2 MOBILIZAÇÃO E MANIPULAÇÃO ...........................................................................................14 3 ASPECTOS ÉTICOS NA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL ...................................................17 4 ANATOMIA E TERAPIA MANUAL ................................................................................................18 5 A MÃO COMO FERRAMENTA DE TRABALHO .........................................................................23 5.1 PREPARAÇÃO DAS MÃOS PARA TERAPIA MANUAL ........................................................24 5.2 USO DE LUBRIFICANTES E ACESSÓRIOS ...............................................................................24 6 EQUIPAMENTOS AUXILIARES PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL ........................25 6.1 MACAS E MESAS............................................................................................................................25 6.2 CADEIRAS ........................................................................................................................................27 7 POSICIONAMENTO E CONFORTO DO PACIENTE .................................................................27 7.1 POSIÇÕES BÁSICAS PARA TRATAMENTO .............................................................................27 7.2 PRIVACIDADE DO PACIENTE....................................................................................................29 8 MECÂNICA CORPORAL DO TERAPEUTA ..................................................................................31 9 FATORES AMBIENTAIS QUE AUXILIAM NO TRATAMENTO .............................................33 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................34 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................37 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................38 TÓPICO 3 - MOVIMENTOS BÁSICOS NA TERAPIA MANUAL ...............................................39 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................39 2 MASSAGEM ..........................................................................................................................................39 2.1 DESLIZAMENTO ............................................................................................................................41 2.2 PRESSÃO ............................................................................................................................................42 2.3 PERCUSSÃO/TAPOTAGEM ..........................................................................................................45 2.4 VIBRAÇÃO .......................................................................................................................................47 2.5 FRICÇÕES .........................................................................................................................................47 3 MOBILIZAÇÃO E MANIPULAÇÃO ...............................................................................................49 suMáRio VIII 3.1 GRAUS DE OSCILAÇÕES .............................................................................................................50 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................51 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................54 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................55 UNIDADE 2 - MANIPULAÇÃO DOS TECIDOS MOLES (MASSAGEM E DRENAGEM LINFÁTICA) ..............................................................................................................................................57 TÓPICO 1 - EFEITOS MECÂNICOS, FISIOLÓGICO E TERAPÊUTICOS DA MANIPULAÇÃO DO TECIDO MOLE ..................................................................................................................................59 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................59 2 EFEITOS MECÂNICOS ......................................................................................................................60 3 EFEITOS FISIOLÓGICOS .................................................................................................................60 3.1 EFEITOS NA DOR ...........................................................................................................................60 3.2 EFEITOS NA QUÍMICA CORPORAL ..........................................................................................61 3.3 RESPOSTA PARASSIMPÁTICA ............................................................................................61 3.4 NEUROMUSCULAR EXCITABILIDADE E O REFLEXO DE HOFFMAN ............................61 4 EFEITOS TERAPÊUTICOS E USO DA MASSAGEM ...................................................................61 5 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES DA MASSAGEM TERAPÊUTICA .......................63 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................65 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................66 TÓPICO 2 - MASSAGEM GERAL .......................................................................................................67 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................67 2 SEQUÊNCIA E TÉCNICA PARA MASSAGEM.............................................................................68 2.1 SEQUÊNCIA DE MASSAGEM PARA MEMBROS INFERIORES ...........................................69 2.2 SEQUÊNCIA DE MASSAGEM PARA TRONCO POSTERIOR E PELVE ...............................75 2.3 SEQUÊNCIA DE MASSAGEM PARA TRONCO ANTERIOR .................................................79 2.4 SEQUÊNCIA DE MASSAGEM PARA CABEÇA E PESCOÇO ................................................80 2.5 SEQUÊNCIA DE MASSAGEM PARA MEMBROS SUPERIORES ...........................................83 3 EVIDÊNCIAS DO USO DA MASSAGEM NA PRÁTICA CLÍNICA ........................................86 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................87 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................88 TÓPICO 2 - DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL ..........................................................................89 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................89 2 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA LINFÁTICO ..........................................................89 3 DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL ..............................................................................................93 3.1 MANOBRAS ESPECIFICAS DA DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL ...............................95 3.2 DRENAGEM LINFÁTICA PARA MEMBROS INFERIORES ...................................................97 3.3 DRENAGEM LINFÁTICA PARA MEMBROS SUPERIORES ................................................100 3.3 DRENAGEM LINFÁTICA DA CABEÇA E DO PESCOÇO ....................................................102 3.4 DRENAGEM LINFÁTICA DO TRONCO ................................................................................106 4 EVIDÊNCIAS DO USO DRENAGEM LINFÁTICA NA PRÁTICA CLÍNICA .....................106 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................107 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................113 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................114 UNIDADE 3 - FISIOTERAPIA MANIPULATIVA: MOBILIZAÇÃO E MANIPULAÇÃO .......115 TÓPICO 1 - EFEITOS FISIOLÓGICOS E TERAPÊUTICOS DA MOBILIZAÇÃO E MANIPULAÇÃO ...................................................................................................................................117 IX 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................117 2 EFEITOS FISIOLÓGICOS ................................................................................................................117 2.1 EFEITOS MECÂNICOS ................................................................................................................118 2.2 EFEITOS NEUROFISIOLÓGICOS ..............................................................................................119 3 INDICAÇÕESE CONTRAINDICAÇÕES DA MOBILIZAÇÃO E DA MANIPULAÇÃO .120 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................123 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................124 TÓPICO 2 - MOBILIZAÇÃO ARTICULAR E DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO .......125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125 2 TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO ARTICULAR ...........................................................................128 2.1 SELEÇÃO E PROGRESSÃO DAS TÉCNICAS DE MOBILIZAÇÃO ARTICULAR ...........129 2.2 MOBILIZAÇÃO ARTICULAR POR REGIÕES ........................................................................130 2.2.1 Coluna Lombar ....................................................................................................................130 2.2.2 Coluna Torácica ....................................................................................................................134 2.2.3 Coluna Cervical .....................................................................................................................136 2.2.4 Quadril..........................................................................................................................................139 2.2.5 Joelho ......................................................................................................................................142 2.2.6 Tornozelo-pé ..........................................................................................................................144 2.2.7 Cintura escapular ..................................................................................................................148 2.2.8 Cotovelo e antebraço ............................................................................................................152 2.2.9 Punho e Mão ..........................................................................................................................154 2.3 EVIDÊNCIAS DO USO DA MOBILIZAÇÃO ARTICULAR NA PRÁTICA CLÍNICA ......156 3 MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO .......................................................156 3.1 AVALIAÇÃO DA TENSÃO NEURAL ADVERSA ...................................................................157 3.2 TÉCNICAS DE TRATAMENTO PARA O MEMBRO SUPERIOR ..........................................159 3.3 TÉCNICAS DE TRATAMENTO PARA O MEMBRO INFERIOR ..........................................160 3.4 EVIDÊNCIAS DO USO DA MOBILIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO NA PRÁTICA CLÍNICA ......................................................................................................................162 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................163 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................164 TÓPICO 3 - MANIPULAÇÃO ARTICULAR ...................................................................................165 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165 2 TÉCNICAS DE MANIPULAÇÃO ARTICULAR .........................................................................165 2.1 MANIPULAÇÃO DA COLUNA CERVICAL ...........................................................................166 2.2 MANIPULAÇÃO DA COLUNA TORÁCICA ..........................................................................168 2.3 MANIPULAÇÃO DA COLUNA LOMBAR ..............................................................................169 3 EVIDÊNCIAS DO USO DA MOBILIZAÇÃO ARTICULAR NA PRÁTICA CLÍNICA ......169 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................170 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................174 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................175 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................177 X 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • refletir acerca da história da terapia manual e os fatores contribuintes de sua evolução; • distinguir a terapia manual da fisioterapia manipulativa; • discutir os requisitos essenciais à prática adequada da terapia manual; • definir as principais técnicas/manobras da terapia manual. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PERPECTIVAS HISTÓRICAS TÓPICO 2 – REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL TÓPICO 3 – MOVIMENTOS BÁSICOS NA TERAPIA MANUAL Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 PERPECTIVAS HISTÓRICAS 1 INTRODUÇÃO A mão é utilizada como uma ferramenta terapêutica há milhares de anos, em diferentes culturas ao redor do mundo. Diversos problemas musculoesqueléticos eram tratados com o uso de massagens, manipulações e mobilizações. Tenho certeza que em algum momento da sua vida você já a utilizou a sua mão para aliviar uma dor. Lembre-se de quando você bateu o seu braço em algum lugar, por exemplo, em uma mesa, o que você fez imediatamente e sem pensar? Provavelmente, você esfregou sua mão no local para aliviar a dor provocada pela batida. Essa intuição foi umas das propulsoras para o estudo dos efeitos terapêuticos do uso das mãos a milhares de anos. Interessante, não? Em breve, abordaremos a história do uso terapêutico das mãos e seu desenvolvimento no decorrer do tempo. Você saberá como nasceu a massoterapia, as manipulações vertebrais e como elas eram utilizadas em benefício do nosso corpo. Olharemos para o passado e entenderemos como está dividido o uso das mãos pelo fisioterapeuta atualmente. Tenho certeza que você ficará fascinado com a história por trás da terapia manual e todo o avanço que tivemos no decorrer do tempo. Além disso, conversaremos sobre o que precisamos para usar nossas mãos com eficiência no tratamento das principais disfunções do nosso corpo. Conheceremos as principais técnicas de terapia manual e os cuidados necessários para a utilização ética e eficiente das nossas mãos como uma ferramenta terapêutica. Você provavelmente já percebeu que esta unidade é importante para fundamentarmos nossos futuros estudos, portanto, divirta-se com a leitura! 2 VISÃO GERAL SOBRE A HISTÓRIA DOS RECURSOS TERAPÊUTICOS MANUAIS Estamos no século XXI, ou seja, passamos do ano 2000 d.C., então você pode imaginar que 2000 a.C. ocorreu há muito tempo. Foi aproximadamente nesta época (2000 a.C.) que os primeiros relatos sobre a massagem foram feitos por escrito na cultura chinesa (FRITZ, 2002; GOATS, 1994). Entretanto, somente em 500 a.C. a massagem começou a ser difundida nos textos do médico grego Hipócrates. Em seus textos, Hipócrates relatou a eficiência da massagem no UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 4 controle da dor, edema, espasmos musculares e outras afecções do sistema musculoesquelético. Junto à massagem, as técnicas de manipulação da coluna vertebral também obtiveram destaque dentre os médicos gregos, especificamente no livro de Hipócrates sobre as articulações (WITHINGTON, 1928 apud PETTMAN, 2007).Neste livro, as técnicas de manipulação da coluna vertebral foram escritas pela primeira vez, Hipócrates utilizou a manipulação para tratar os desvios da coluna vertebral (escoliose) associada a exercícios. Obviamente, a comunicação entre as culturas não era tão eficiente como atualmente e, desta forma, o uso das mãos na cura de problemas de saúde foi desenvolvido em diferentes culturas e com diversas filosofias para explicar os efeitos das diferentes técnicas. Por isso, hoje você observa diversas nomenclaturas para o uso da massoterapia. Veja na tabela a seguir alguns exemplos e suas origens: TABELA 1 – TÉCNICAS DE MASSOTERAPIA Técnica Origem Shiatsu Do-in Tui-na Reflexologia Medicina Oriental Deha samvahana Medicina Ayurvédica – Índia Shantala Massagem Sueca Cyriax Medicina Ocidental FONTE: Adaptado de Fritz (2002) Apesar de atualmente utilizarmos as técnicas manuais no tratamento, a sobrevivência dessas técnicas no decorrer da história não foi fácil, somente por volta do século XIX é que as técnicas de massagem e manipulação vertebral passaram a ter uma boa aceitação na comunidade científica (DOMENICO, 2008; FRITZ, 2002). A massagem moderna teve sua principal influência no desenvolvimento de um sequenciamento de técnicas proposto por Per Henrik Ling em 1814. Ling desenvolveu um estilo de tratamento que envolvia massagem e exercícios terapêuticos, apesar de não ter formação médica, sua técnica foi reconhecida e disseminada pelo mundo e é conhecida atualmente como massagem clássica ou sueca. Seus ensinamentos servem como base para uma boa parte das técnicas de massagem desenvolvidas na atualidade (FRITZ, 2002; DOMENICO, 2008; GOATS, 1994). As técnicas de manipulações vertebrais tiveram tempos difíceis no século XVI, foram utilizadas por médicos e cirurgiões, mas em virtude dos riscos envolvidos em doenças específicas daquele tempo, foram “esquecidas” por esses TÓPICO 1 | PERPECTIVAS HISTÓRICAS 5 profissionais. Tornaram-se comuns entre os curandeiros da época, conhecidos como bonesetters (ajustador de ossos). Já no século XIX, devido as observações de dois grandes médicos, Even Paget e Whaton Hood, a manipulação vertebral foi considerada segura na maioria das situações e voltou a ser utilizada na área médica. Dois grandes nomes são responsáveis pela popularização dessas técnicas nos tempos atuais, Andrew Taylor Still, fundador da osteopatia em 1874, e David Palmer, que criou a quiropraxia em 1897 (PETTMAN, 2007). Neste subtópico, você percebeu que o percurso da terapia manual no decorrer dos tempos foi difícil. Contudo, apesar dessas dificuldades, o uso da mão na fisioterapia ainda permanece como um excelente recurso. Então, convidamos você para ler os próximos subtópicos e descobrir como foi a evolução da terapia manual e como ela é utilizada atualmente pelos fisioterapeutas. 3 EVOLUÇÃO DA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL Conforme você observou no tópico anterior, a terapia manual se expandiu com suas diferentes filosofias e vertentes, quer seja na osteopatia, quiropraxia ou na massagem. A osteopatia evoluiu para uma profissão médica em alguns países, a quiropraxia continuou como uma alternativa aos tratamentos convencionais buscando seu espaço como tratamento das disfunções da coluna vertebral. Já a massagem foi utilizada principalmente pela enfermagem, para auxiliar no tratamento das disfunções musculoesqueléticas de soldados no século XIX (PETTMAN, 2007). Apesar de várias pessoas utilizarem as técnicas manuais, na história, algumas personalidades foram importantes para disseminar o uso das terapias manuais. Quatro enfermeiras (Lucy Robinson, Rosalind Paget, Elizabeth Manley, e Margaret Palmer) fundaram em 1894 a Society of Trained Masseuses. Essa sociedade foi fundamental para criação da fisioterapia pelo mundo e, em 1944, ela passou a ser chamada de Chartered Society of Physiotherapy (PETTMAN, 2007). Outro expoente da época ajudou na disseminação da terapia manual, James Mennel publicou o seu livro Physical Treatment by Movement, Manipulation and Massage em 1917. Nesse livro, Mennel relatou a importância da avaliação detalhada antes de utilizar as técnicas de manipulação. Seu filho John McMillan Mennell e James Henry Cyriax foram incentivados com essa abordagem e dedicaram boa parte do seu tempo no estudo do processo de avaliação e sua relação com o uso das técnicas de terapia manual (PETTMAN, 2007; HUIJBREGTS, 2010). Com a organização da fisioterapia e de diversas sociedades profissionais pelo mundo, aliada à evolução do conhecimento científico, as técnicas de terapia manual e seus efeitos passaram a ser estudadas com maior ênfase. Isso possibilitou uma evolução significativa no uso dessas técnicas e na criação de diferentes escolas de terapia manual. No quadro a seguir, é possível observar os principais nomes que contribuíram ou contribuem para a disseminação da terapia manual pelo mundo. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 6 QUADRO 1 – PESQUISADORES NA ÁREA DA TERAPIA MANUAL Pesquisador País Contribuição Freddy Kaltenborn Noruega Considerado o pai da terapia manual. Criador do Método Kaltenborn- Evjenth Olaf Evjenth Noruega Criador do Método Kaltenborn- Evjenth Gregory Peter Grieve (1918 -2001) Grã- Bretanha Professor e incentivador da terapia manual. Autor do livro: Terapia manual moderna Geoff Maitland (1924- 2010) Austrália Criador do Método Maitland Stanley V Paris Nova Zelândia Professor e incentivador da terapia manual. Robin Mckenzie Nova Zelândia Criador do Metódo Diagnóstico e Terapia Mecânica (MDT) Brian Mulligan Nova Zelândia Criador do Método Mobilização com Movimento David Butler Austrália Pesquisador na área de neurodinâmica Michael Shacklock Austrália Pesquisador na área de neurodinâmica FONTE: Adaptado de Huijbregts (2010) Atualmente, a terapia manual é considerada uma ferramenta valiosa no tratamento das principais disfunções musculoesqueléticas, nas próximas unidades você verá que ela é utilizada para aliviar rapidamente os sintomas dos pacientes, melhorar o movimento e a função. Além disso, você sabe o que é mais importante? Hoje, por meio do conhecimento científico, sabemos quando utilizar e quando não utilizar as técnicas manuais. Talvez essa seja a principal evolução da terapia manual, por muito tempo, na sua história mais recente dentro da fisioterapia, ela foi utilizada em quase todas as disfunções. Na prática clínica, esse período foi conhecido como hands on, ou seja, coloque as suas mãos para trabalhar. É fácil perceber que, talvez, nem todas as disfunções/pacientes se beneficiam das técnicas manuais. Fique tranquilo, nas próximas unidades falaremos mais sobre isso. 4 RECURSOS TERAPÊUTICOS MANUAIS E FISIOTERAPIA Você percebeu que os recursos terapêuticos manuais são utilizados por diversos profissionais. Provavelmente, você já ouviu alguém comentando sobre um conhecido que faz uso da massagem e de técnicas de manipulações da coluna (famosos estalidos) para reduzir as dores da coluna. Aqui fica a dúvida: como podemos diferenciar a atuação do fisioterapeuta das demais profissões que utilizam a terapia manual? Será que existe diferença? TÓPICO 1 | PERPECTIVAS HISTÓRICAS 7 Neste tópico, tentaremos responder a essas perguntas, ou seja, verificaremos como a fisioterapia utiliza na sua prática clínica os recursos terapêuticos manuais e de que forma os conselhos de classes e as associações internacionais recomendam utilizar estas técnicas. 4.1 TERAPIA MANUAL COMO ESPECIALIDADE DO FISIOTERAPEUTA É importante entendermos que a fisioterapia é uma profissão de nível superior regulamentada no Brasil. Para se tornar fisioterapeuta, você percorrerá um longo caminho, para ser mais exato, no mínimo 4000 horas durante cinco anos, esse é o mínimo exigido pelas diretrizes curriculares nacionais. Além disto, as atividades do fisioterapeuta estão regulamentadas pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO),o conselho regulamenta e fiscaliza a nossa profissão. Portanto, a terapia manual torna-se somente mais uma técnica dentro do arsenal terapêutico do profissional. Com o conhecimento científico adquirido durante a sua formação, o fisioterapeuta saberá escolher as melhores técnicas para o tratamento e prevenção das disfunções do nosso corpo, que, em alguns casos, poderá ser a terapia manual. Esse simples fato nos mostra que as técnicas que veremos neste livro só deverão ser utilizadas se precedidas de uma avaliação detalhada do problema do paciente. Discutiremos isso no próximo subtópico. Obviamente, após a formatura, nossa tendência é atuar de forma generalista, trabalhando nas mais diversas áreas da fisioterapia. É natural gostarmos de algumas áreas específicas no decorrer da nossa trajetória profissional e direcionarmos nossos estudos para essa área. Na área da terapia manual, temos duas especialidades regulamentadas pelo COFFITO no Brasil. Você lembra da osteopatia e da quiropraxia que falamos anteriormente? Por aqui, elas são especialidades do fisioterapeuta, diferente de outros países onde elas são consideradas profissões independentes. Viste o site do COFFITO e conheça nossas especialidades. Disponível em: https://www.coffito.gov.br/. DICAS UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 8 4.2 TÉCNICA VERSUS PACIENTE Você lembra que falamos de um movimento chamado de hands on? Então, aqui vamos alertá-lo para um equívoco comum do fisioterapeuta que utiliza a terapia manual. Você provavelmente conhece aquela sensação que direciona nossas ações para o que gostamos de fazer, podemos chamar isso de hipótese favorita. Isso ocorre com frequência na prática clínica, se você acredita que a terapia manual é a melhor opção, tudo que você fizer será direcionado para utilizar essas técnicas. Talvez essa seja uma das principais dificuldades na prática clínica do profissional de saúde, pois para oferecermos o melhor tratamento aos nossos pacientes, devemos deixar nossas preferências de lado e utilizarmos sempre o que há de mais eficiente no tratamento. Pode parecer fácil, mas nossa formação ainda é bastante tecnicista (JÚNIOR; PATRÍCIO, 2009). Assim, nossa tendência é sempre priorizarmos a técnica, normalmente a que temos segurança. Percebeu como é fácil direcionarmos nossas ações para a hipótese favorita? A grande pergunta é como conseguimos fugir dessa situação? A resposta é relativamente simples, avaliação cinético-funcional. Devemos inverter a importância no nosso processo de trabalho, não importa a técnica e sim o que o paciente apresenta. Somente em uma avaliação detalhada você saberá o que o paciente apresenta, assim ficará fácil escolher o melhor tratamento, que poderá, em alguns casos, ser a sua técnica favorita. Não é tarefa fácil, mas é importante começarmos a pensar dessa forma durante nossa formação profissional. Além disso, a avaliação também não deve ser direcionada para a utilização da técnica. Uma dica: sua avaliação cinético- funcional é que direcionará o seu tratamento e não sua técnica. Para entendermos melhor a posição da técnica dentro do processo de tratamento, podemos recorrer a figura proposta por (MAITLAND et al., 2007) que demonstra a importância relativa da técnica. FIGURA 1 – RELAÇÃO ENTRE AVALIAÇÃO E TÉCNICA FONTE: O autor TÓPICO 1 | PERPECTIVAS HISTÓRICAS 9 4.3 TERAPIA MANUAL VERSUS FISIOTERAPIA MANIPULATIVA Somente o fisioterapeuta pode utilizar recursos terapêuticos manuais no tratamento das disfunções? A resposta é: não! Temos diversos profissionais que utilizam a mão como forma terapêutica. Você provavelmente conhece um massoterapeuta que usa diversas técnicas de massagem para aliviar dores (como técnicas de relaxamento), uma esteticista que utiliza técnicas manuais com fins estéticos e até mesmo um fonoaudiólogo que utiliza técnicas manuais para auxiliar no uso correto do sistema estomatognático (sistema responsável pelas funções de sucção, mastigação, deglutição, fonoarticulação e respiração). Na fisioterapia, utilizamos as mãos em diferentes áreas, para a maioria das áreas utilizamos o significado de terapia manual proposto pela American Physical Therapy Association (AMERICAN PHYSICAL THERAPY ASSOCIATION, 2001, p. 51): Consiste em um grupo de movimentos habilidosos da mão, incluindo mas não limitado as mobilizações ou manipulações, usado por fisioterapeutas para mobilizar ou manipular tecidos moles e articulações com o objetivo de reduzir a dor; aumentar a amplitude de movimento; reduzir ou eliminar edemas, inflamações ou restrições de tecidos moles; induzir o relaxamento; melhorar a extensibilidade de tecidos contráteis ou não contráteis; e melhorar a função pulmonar. Entre as técnicas encontramos a massagem, drenagem linfática manual, tração, mobilização/manipulação, mobilização neural, exercícios passivos para aumento da amplitude, entre outros (HUIJBREGTS, 2010). É fácil perceber que utilizamos a terapia manual e todas as áreas da fisioterapia, entretanto, seguindo uma definição da International Federation of Orthopaedic Manipulative Physical Therapy (IFOMPT) nas situação que envolvem as disfunções do sistema neuro- músculo-esquelético utilizaremos o termo fisioterapia manipulativa, definida como “uma área especializada da fisioterapia para tratamento das disfunções neuro-músculo-esqueléticas, com base no raciocínio clínico, usando abordagens de tratamento altamente específicas, incluindo técnicas manuais e exercícios terapêuticos” (RUHSTOM, 2016, p. 7). Neste livro didático, utilizaremos o termo “fisioterapia manipulativa” quando falarmos de mobilizações e manipulações articulares, e de técnicas manuais, tais como: massagem, liberação miofascial e tração para tratar os problemas ortopédicos do sistema neuro-músculo-esquelético. Já para as demais Não “encaixe” o seu paciente na técnica! A avaliação cinético-funcional é que mostrará se a técnica é a melhor opção para o problema do paciente. IMPORTANT E UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 10 técnicas, utilizaremos o termo recursos terapêuticos manuais. Essa nomenclatura é importante para diferenciar a atuação do fisioterapeuta dos demais profissionais, pois o termo “terapia manual” é genérico e utilizado por vários profissionais atualmente. Além disso, você colocará a técnica como fator secundário no processo de reabilitação e evitará a hipótese favorita. Veja que interessante, você conheceu sobre o uso das mãos como recurso terapêutico e todo o seu caminho no decorrer da história. Além disso, você sabe que a fisioterapia utiliza os recursos terapêuticos manuais como uma ferramenta importante no tratamento das disfunções do nosso corpo nas diversas áreas de atuação. Espero que você tenha aproveitado as informações deste tópico. Nos próximos tópicos, conheceremos as bases para o correto uso dos recursos terapêuticos manuais. Visite o site e conheça um pouco sobre a associação internacional IFOMT! Disponível em: http://www.ifompt.org/. DICAS Acadêmico, para finalizar este tópico, indicamos a leitura do artigo Evolução histórica da fisioterapia: da massagem ao reconhecimento profissional (1894-2010), disponível no link: http://portalatlanticaeditora.com.br/index.php/fisioterapiabrasil/article/view/944. DICAS 11 Neste tópico, você aprendeu que: • O uso da mão como forma terapêutica é antigo e os primeiros relatos feitos são anteriores a 2000 a.C. • A massagem foi a técnica precursora da terapia manual e foi base para a consolidação da fisioterapia no mundo. • A terapia manual abrange diversas técnicas que utilizam a mão como ferramenta terapêutica. Destacam-se entre elas, a massagem, as manipulações e as mobilizações. • Mais importante que utilizar as técnicas é saber como e quando utilizá-las. • A IFOMT recomenda o uso do termo fisioterapia manipulativa e define de maneira mais abrangente e científica o uso das mãos no tratamento das disfunções neuro-músculo-esquelético.RESUMO DO TÓPICO 1 12 1 O uso das mãos como ferramenta terapêutica é antigo, entretanto, na história da massagem moderna, destaca-se a atuação de Per Henrik Ling. Apesar de não ter formação médica, Ling teve uma considerável influência no desenvolvimento das técnicas de massagem atualmente. Descreva o que diferenciou Ling na disseminação da sua técnica. 2 É comum na nossa prática termos algumas preferências por técnicas ou filosofias de tratamento, isso faz com que quase sempre, nossa escolha terapêutica seja direcionada para estas técnicas. Infelizmente, trabalhando desta forma, nem sempre obtemos resultados satisfatórios aos nossos pacientes. Ciente de que esta conduta pode prejudicar nosso raciocínio clínico, justifique: de que forma podemos evitar o uso de técnicas de tratamento baseado nas nossas preferências pessoais? AUTOATIVIDADE 13 TÓPICO 2 REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Para o uso correto dos recursos terapêuticos manuais, é necessário que você entenda alguns requisitos básicos para obter sucesso no seu tratamento. Você já imaginou a influência que o toque proporciona às pessoas? Diversas sensações podem ser desencadeadas quando tocamos alguém, e, obviamente, respostas serão geradas. Você usará sua mão como ferramenta terapêutica e deverá saber como utilizá-la com esse objetivo. Neste tópico, falaremos disso e quais as formas de utilizarmos nossa mão de maneira profissional e ética. Você também entenderá a importância de conhecer o nosso corpo do ponto de vista anatômico, pois diversas estruturas anatômicas guiarão as técnicas. Do ponto de vista mecânico, você precisará saber como se posicionar para que a técnica seja realizada com segurança, efetividade e conforto para você e para o paciente. É claro que teremos algumas dicas relacionadas aos equipamentos que utilizamos e a influência do ambiente no tratamento. Divirta-se com a leitura deste tópico. Bons estudos! 2 CONCEITOS BÁSICOS DE MASSAGEM, MOBILIZAÇÃO E MANIPULAÇÃO Ao realizar uma busca na internet sobre massagem ou mobilização/ manipulação você encontrará diferentes conceitos e diferentes técnicas sobre esses assuntos. Entender um pouco mais sobre os conceitos básicos das técnicas manuais, permitirá que você compreenda a diferença entre elas, o que auxiliará no processo de tomada de decisão clínica. 2.1 MASSAGEM A massagem terapêutica pode ser definida como a manipulação de tecido mole que envolve áreas de todo o corpo, buscando melhoras generalizadas na saúde, tais como: relaxamento, melhora do sono, redução de dores ou desconfortos UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 14 musculares (VICKERS; ZOLLMAN, 1999). Na prática moderna já não é mais considerada uma técnica simples ou um conjunto de técnicas. Você deve conhecer diferentes abordagens e nomes para técnicas de massagem, até mesmo nomes de técnicas iguais com aplicações um pouco diferentes por profissionais distintos. Se utilizarmos a definição proposta pela American Massage Therapy Association (AMTA) que a massagem é manipulação manual de tecidos moles que inclui apertar, causar movimento e/ou aplicar pressão no corpo, podemos observar que é uma técnica extremamente ampla (MOYER; ROUNDS; HANNUM, 2004). Considerando a raiz da palavra massagem nas suas diferentes formas (grego, latina ou francesa) todos direcionam para tocar, manusear, apertar ou amassar. Essas variações vão de acordo com as definições anteriores, mostrando a abrangência da massagem (FRITZ, 2002). Atualmente, temos diversas técnicas que se popularizaram na prática clínica do fisioterapeuta, você já deve ter ouvido falar da liberação miofascial, da massagem clássica ou do Rolfing. Apesar das suas particularidades, todas envolvem a manipulação de tecidos moles. Em virtude dessa abertura na sua definição, hoje, grande parte das técnicas de massagem são consideradas terapias alternativa/complementar ou conforme a nomenclatura do sistema único de saúde (SUS), terapia integrativa. No total são 29 terapias integrativas, veja, no quadro a seguir, a lista com as técnicas de massagem incluídas nessas terapias. QUADRO 2 – PRÁTICAS INTEGRATIVAS E MASSAGENS NO SUS Técnicas Integrativas do SUS relacionadas com a massagem terapêutica Aromaterapia Ayurveda Reflexoterapia Shantala FONTE: Adaptado de Ministério da Saúde (2019) 2.2 MOBILIZAÇÃO E MANIPULAÇÃO Você viu anteriormente que a mobilização e a manipulação são consideradas técnicas que pertencem a fisioterapia manipulativa. Agora, sua dúvida deve ser sobre qual é a diferença entre fisioterapia manipulativa e a osteopatia/quiropraxia que abordamos no primeiro tópico. Esse é um questionamento bastante frequente entre acadêmicos. Vamos lá, se levarmos em consideração os conceitos adotados por cada área, temos algumas diferenças, principalmente na forma de explicar o motivo de utilizarmos as técnicas e seus efeitos. Por exemplo, a quiropraxia utiliza o termo sub-luxação para classificar as alterações da coluna vertebral, já a osteopatia fala sobre o bloqueio do movimento em uma posição específica e na fisioterapia manipulativa é abordado a restrição do movimento e os efeitos neurofisiológicos associados. TÓPICO 2 | REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL 15 Ok, mas e com relação às técnicas? Para responder a isso, é importante buscarmos uma explicação feita por Grieve (1994), no seu clássico livro Moderna Terapia Manual da Coluna Vertebral. Ao explicar essa diferença, Grieve salienta que existem dois tipos de manipulações, a boa e a má. Obviamente, nossa busca sempre será pela primeira. Se você lembra dos relatos históricos da manipulação comentados no início deste livro, a manipulação foi descrita a.C. Portanto, é fácil entender que a diferença está na filosofia das áreas. Contudo, lembre-se que o conceito proposto pela IFOMT ressalta o uso da técnica com base no raciocínio clínico. A manipulação pode ser definida de diversas formas, se buscamos no dicionário on-line Michaelis (2015) encontraremos: “MED – Qualquer procedimento manual, como, por exemplo, toque, exame feito com os dedos, percepção pelo tato etc.”. Podemos considerar que é um termo geral para descrever qualquer técnica de movimento passivo de qualquer estrutura do nosso corpo. Entretanto, nesta unidade do livro, utilizaremos a definição proposta por Maitland et al. (2017), que define a manipulação “como uma técnica realizada em uma velocidade de tal forma que ocorra antes que a pessoa na qual ela é realizada seja capaz de evitar”. Você também encontrará o termo thrust ou HVLA (High Velocity, Low Amplitude) para descrever a manipulação. Ambos os termos relacionam a manipulação com uma técnica de pequena amplitude realizada com velocidade. Já a mobilização é um movimento passivo que o paciente tem sempre a capacidade de evitar o movimento. Podemos mobilizar nossos pacientes de duas formas: uma mais especifica na articulação, envolvendo movimentos oscilatórios ou um estiramento sustentado (Figura 2) e outros mais globais com a finalidade de promover o movimento funcional de uma articulação (Figura 3), por exemplo, elevar o braço de um paciente dentro da sua amplitude de movimento fisiológica (MAITLAND et al., 2007). FIGURA 2 – MOBILIZAÇÃO OSCILATÓRIA FONTE: O autor UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 16 FIGURA 3 – MOBILIZAÇÃO GLOBAL FONTE: O autor Um aspecto importante dentro das técnicas de mobilização e manipulação é descrito por Maitland et al. (2007), de acordo com esses autores, o fisioterapeuta precisa ter a mente aberta para que possa modificar a técnica até atingir seu objetivo. Contudo, isso não quer dizer que a técnica não segue um princípio. A liberdade proposta por Maitland precisa vir acompanhada de responsabilidade, ou seja, é necessário que você conheça os movimentos fisiológicos e acessórios da articulação tratada, bem como a anatomia e biomecânica da região.Sem esses conhecimentos é impossível atingir os objetivos da execução técnica. Outro fator importante no uso das técnicas de mobilização e manipulação é o grau de irritabilidade do paciente, conceito também definido por Maitland e com boa confiabilidade no uso da prática clínica. De acordo com esse conceito, a escolha da técnica (intensidade/velocidade) de mobilização/manipulação precisa ser selecionada com base no quadro de dor do paciente. Quanto mais dor ele sente ao realizar um movimento, mais cuidado devemos ter no uso da técnica, preferindo mobilizações com menor amplitude e menor velocidade (BARAKATT et al., 2009; MAITLAND et al., 2007). Achou interessante os conceitos básicos para utilização da fisioterapia manipulativa? Saiba mais no capítulo Princípios das técnicas do livro Maitland Manipulação Vertebral. DICAS TÓPICO 2 | REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL 17 3 ASPECTOS ÉTICOS NA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL Ao utilizar os recursos terapêuticos manuais ou a fisioterapia manipulativa na sua prática clínica, você realizará contato direto com a pele do paciente e, em alguns casos, o paciente pode estar despido parcialmente ou por completo. Assim, você deve conduzir seu tratamento com maior profissionalismo e respeitando a intimidade e a dignidade do paciente. A exposição de parte do corpo do paciente e o contato direto entre o paciente e o terapeuta, o toque inapropriado e a exposição desnecessária devem ser evitados a todo o momento (DOMENICO, 2008). Nosso código de ética define isso no Capítulo III, no Artigo 14, veja a seguir: II- prestar assistência ao ser humano, respeitados a sua dignidade e os direitos humanos de modo a que a prioridade no atendimento obedeça a razões de urgência, independentemente de qualquer consideração relativa à raça, etnia, nacionalidade, credo sociopolítico, gênero, religião, cultura, condições sócios-econômicas, orientação sexual e qualquer outra forma de preconceito, sempre em defesa da vida; III- respeitar o natural pudor e a intimidade do cliente/paciente/usuário; IV- respeitar o princípio bioético de autonomia, beneficência e não maleficência do cliente/paciente/usuário de decidir sobre a sua pessoa e seu bem estar; V- informar ao cliente/paciente/usuário quanto à consulta fisioterapêutica, diagnóstico e prognóstico fisioterapêuticos, objetivos do tratamento, condutas e procedimentos a serem adotados, esclarecendo-o ou o seu responsável legal. VI- prestar assistência fisioterapêutica respeitando os princípios da bioética (COFFITO, 2013). No item V listado, você observa que o fisioterapeuta deve informar ao paciente o que será feito com ele. Isso é extremamente importante no uso de técnicas manuais. Você deve informar o paciente e ter o consentimento dele para realização das técnicas. Vamos a alguns exemplos: mais para frente você saberá que a manipulação vertebral normalmente produz um estalido. Isso pode ser estranho para algumas pessoas, pois o estalido pode passar a sensação de algo sendo danificado. Você sabe que nada de errado acontecerá e, que o paciente não controlará durante o procedimento, pois você realizará uma técnica que o paciente não conseguirá inibir/bloquear, conforme explicação no tópico anterior. Pergunto: caso a manipulação vertebral da região cervical seja o tratamento mais indicado para um paciente com dor na região, e esse paciente não se sente bem com a sensação do estalido e relatou verbalmente que prefere não realizar o tratamento, você realiza a manipulação pensando nos benefícios da técnica ou muda sua conduta? A resposta parece óbvia para a pergunta, mas nem sempre isso acontece na prática clínica. Com a certeza de que a técnica melhorará o paciente, muitos profissionais não informam o paciente e realizam a técnica sem o seu consentimento. É claro que você não irá fazer isso, correto? UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 18 O consentimento do paciente antes de realizar a técnica é fundamental para respeitar o desejo do paciente e para o sucesso do tratamento. ATENCAO Alguns cuidados podem ajudar na prática diária com o uso dessas técnicas. O simples fato de informar o paciente sobre o que vestir para o tratamento já auxilia no tratamento e na exposição desnecessária. Além disso, a utilização de padrões e explicações das necessidades para cobrir e despir regiões durante o tratamento são fundamentais para que o paciente fique confortável (DOMENICO, 2008). É claro que todos os preceitos éticos deverão ser seguidos também no uso dos recursos terapêuticos manuais e da fisioterapia manipulativa. Vale ressaltar a confidencialidade do tratamento e o respeito aos princípios bioéticos (Autonomia, Beneficência, Não Maleficência, Justiça). Assim, você não terá problemas com relação a isso na sua prática clínica. Saiba mais sobre o código de ética do fisioterapeuta no link: https://www. coffito.gov.br/nsite/?page_id=2346. DICAS 4 ANATOMIA E TERAPIA MANUAL Conhecer a anatomia é fundamental para a prática da terapia manual. É importante saber a relação entre as estruturas anatômicas. Por exemplo: quando for realizar uma técnica em um músculo, a profundidade dele direcionará sua pressão na realização da técnica e quanto mais profundo, maior a pressão. A anatomia de superfície destaca-se no uso das técnicas manuais, pois por meio dela você encontrará os pontos de referência da região. Obviamente, se você utilizar uma técnica em uma estrutura errada, você não atingirá o seu objetivo e poderá piorar a situação do seu paciente (DOMENICO, 2008). Portanto, para conseguir aplicar com segurança e efetividade as técnicas manuais é importante conhecer a anatomia palpatória. O recurso que possuímos na prática clínica é a palpação. Apesar de todos os avanços tecnológicos, a palpação continua sendo uma técnica importante para o processo de avaliação cinético-funcional. De maneira bem simples, o dicionário Michaelis (2015) TÓPICO 2 | REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL 19 define palpação como uma forma de exame clínico de certos órgãos por meio do tato. Para sermos mais específicos, podemos afirmar que durante o processo de palpação, além de auxiliar no exame, ela é indicada para localizar um ponto focal no nosso corpo, identificando sua estrutura e sua posição. Dessa forma, determinaremos a forma, tamanho, consistência, posição e mobilidade do tecido palpado (REICHERT, 2011; DOMENICO, 2008). Dentro do processo de palpação, alguns aspectos são importantes para definirmos a estrutura palpada. A técnica aplicada deve estar de acordo com o tecido investigado. Por exemplo, se você quer palpar o tecido nervoso periférico, provavelmente utilizará a região distal dos seus dedos e, em alguns casos, até a ponta da sua unha. Já para uma proeminência óssea, a ponta dos dedos deverá ser utilizada. Outro aspecto importante é a sensação esperada para cada tecido, no exemplo citado, a sensação na palpação do nervo periférico é de uma corda de violão, já para a proeminência óssea, você notará uma consistência rígida (REICHERT, 2011; KINSINGER; BYFIELD, 2008). Outro fator importante é o conhecimento da anatomia, Reichert (2011) afirma que você não poderá sentir o que você não conhece, dessa forma, conhecer as estruturas anatômicas principais será fundamental. É fácil imaginar que, se não soubermos a direção das fibras musculares, dificilmente aplicaremos a técnica na direção e com a precisão necessária para atingir o objetivo do tratamento, veja na figura a seguir um exemplo para essa situação. Para facilitar o seu estudo, acompanhe nos quadros as principais estruturas anatômicas para cada região do nosso corpo, eles foram divididos em referências ósseas e estruturas de tecido mole, entretanto, não há relação entre as estruturas. FIGURA 4 – IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO ANATÔMICO NA APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS FONTE: Clay e Pounds (2003, p. 133) UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DATERAPIA MANUAL 20 QUADRO 3 – CABEÇA E PESCOÇO Referências Ósseas Estruturas de Tecido Mole Mandíbula Ligamento da nuca/Ligamento nucal Ângulo da Mandíbula Esplênio da cabeça Ossos frontais Músculos escalenos Ossos temporais Linfonodos supraclaviculares Occipital Veias jugulares Protuberância occipital externa Artéria e pulso carotídeos Processo mastoide Canal auditivo externo Margem supra-orbitária Ouvido externo Margem infra-orbitária Músculos faciais Arco zigomático Músculos da mastigação Processo transverso de C2 Processo espinhoso de C2-C7 FONTE: Adaptado de Domenico (2008) QUADRO 4 – MEMBRO SUPERIOR Referências Ósseas Estruturas de Tecido Mole Acrômio Bursa subacromial Processo coracoide Manguito rotador Tuberosidade maior e menor Deltoide Sulco bicipital Bíceps Olécrano Tríceps Fossa do olecrano Nervo medial Epicôndilo medial e lateral Nervo ulnar Cabeça do rádio Nervo radial Linha articular umerorradial Extensores do punho Processo estiloide do rádio Origem/tendão flexor comum Borda posterior da ulna Origem/tendão extensor comum Processo estiloide da ulna Ligamento colateral do rádio Linha articular radiocarpal Licagmento colateral ulnar Tubérculo dorsal do rádio Fossa cubital Ossos do carpo Fossa radial Ossos do metacarpo Artéria radial Articulações metacarpofalângicas Tendões flexores Falanges Artéria ulnar Tendões extensores Eminência tenar e hipoternar. FONTE: Adaptado de Domenico (2008) TÓPICO 2 | REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL 21 QUADRO 5 – TRONCO E PELVE Referências Ósseas Estruturas de Tecido Mole Acrômio Romboide Ângulo do acrômio Supre-espinhal Bordas escapulares Supra-espinhal Espinha da escápula (nível de T3) Serrátil anterior Ângulo inferior da escápula (nível de T8) Grande dorsal Processos espinhosos (todos os níveis) Eretores da coluna Costelas flutuantes Quadrado lombar Sínfise púbica Músculos glúteos Crista ilíaca Ligamento inguinal Espinha ilíaca ântero-superorior (EIAS) Espinha ilíaca póstero-superorior (EIPS) Articulações sacroilíacas Bordas do sacro Tuberosidade isquiática FONTE: Adaptado de Domenico (2008) QUADRO 6 – MEMBRO INFERIOR Referências Ósseas Estruturas de Tecido Mole Trocânter maior Trígono femoral Bordas patelares Nervo, artéria e veia femorais Tubérculo adutor Bursa trocantérica Côndilos femorais medial e lateral Nervo ciático Epicôndilos femorais medial e lateral Músculo sartório Platô tibial e linha articular do joelho Tendão infrapatelar Tuberosidade da tíbia Músculos isquiotibais Cabeça e colo da fíbula Tensor da fáscia lata Maléolo lateral Trato iliotibial Borda anterior da tíbia Pata de ganso Maléolo medial Ligamento colateral medial e ligamento colateral lateral do joelho Calcâneo Nervo fibular comum Tubérculo/tróclea da fíbula Artéria poplítea Metatarsos Fossa poplítea Processo estiloide do quinto metatarso Músculo gastrocnêmicos Cuboide Artéria tibial posterior Tubérculo/tuberosidade navicular Tendão anterior Sustentáculo do tálus Pulso dorsal do pé Ossos sesamoide do pé Tendões fibulares UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 22 Ligamento colateral medial (deltoide) Ligamento colateral lateral do tornozelo Tendão do calcâneo FONTE: Adaptado de Domenico (2008) Para saber mais sobre anatomia palpatória, consulte a obra Anatomia Palpatória e Funcional, da autora Christy Cael. DICAS A palpação pode ser dividida em duas técnicas: palpação estática e palpação ativa. Na palpação estática, o paciente fica imóvel e o avaliador utiliza o contato manual para detectar estruturas, sua função é identificar estruturas dolorosas que possam ser indícios de disfunção na região. Já na palpação ativa, a avaliação acontece dentro da amplitude de movimento fisiológico do paciente e é utilizada para determinar a qualidade e quantidade do movimento (KINSINGER; BYFIELD, 2008). Além disso, durante a palpação, você poderá identificar estruturas básicas para confirmar a posição de outras estruturas com maior dificuldade de identificação. Veja na figura a seguir o exemplo para confirmar a posição do processo espinhoso de L4, a linha formada pela base da crista-ilíaca conectará ao processo espinhoso de L4. FIGURA 5 – CONFIRMAÇÃO DE ESTRUTURA PELA PALPAÇÃO FONTE: Reichert (2011, p. 14) Você percebeu que a anatomia e a identificação das estruturas são importantes para a utilização das técnicas manuais. Durante a graduação, o futuro fisioterapeuta desenvolve, no decorrer das atividades práticas do curso, o TÓPICO 2 | REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL 23 que podemos chamar de sensibilidade das mãos. Quanto mais prática mais fácil será para interpretar as informações da palpação e regular a pressão necessária para utilização dos recursos terapêuticos manuais e da fisioterapia manipulativa. Então, não perca tempo, comece a praticar hoje! 5 A MÃO COMO FERRAMENTA DE TRABALHO Você utilizará suas mãos para o tratamento com os recursos terapêuticos manuais e a fisioterapia manipulativa. Assim, é evidente que uma atenção especial dever ser dada a essa ferramenta de trabalho. Primeiramente, é importante conhecermos as áreas da nossa mão. Na figura a seguir, você observará as regiões que poderão ser utilizadas na avaliação e tratamento. Além disso, você poderá utilizar as articulações dos dedos e o dorso da mão para aplicar algumas técnicas (DOMENICO, 2008). FIGURA 6 – ÁREAS DA MÃO UTILIZADAS NOS RECURSOS TERAPÊUTICOS MANUAIS FONTE: O autor A ponta e a polpa dos dedos foram ilustradas somente no dedo indicador, mas servem para os demais dedos da mão. IMPORTANT E As mãos ideais para a prática dos recursos terapêuticos manuais devem ser macias, quentes, flexíveis e secas. Você aprenderá com a prática que deverá relaxar as suas mãos durante a técnica. No início não será tarefa fácil, pois, intuitivamente, colocamos força desnecessária e utilizamos regiões erradas para aplicação da técnica. Fique tranquilo, com a prática você conseguirá relaxar e encontrará o ritmo e a pressão necessária para cada tipo de técnica (DOMENICO, 2008; KINSINGER; BYFIELD, 2008). UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 24 5.1 PREPARAÇÃO DAS MÃOS PARA TERAPIA MANUAL É evidente que a mão deverá estar higienizada e livre de lesões cutâneas ao aplicar as técnicas manuais. A partir de hoje você deverá cuidar dessa importante ferramenta de trabalho, manter a mão sempre limpa, com unhas curtas para evitar ferimentos ao paciente na aplicação das técnicas são requisitos básicos para o fisioterapeuta. O uso de hidrantes para as mãos, além de um cuidado extra ao realizar tarefas que envolvam uma sobrecarga maior das mãos passam a ser fundamental no dia a dia do fisioterapeuta. Algumas atividades domésticas e até esportivas, como a musculação, podem desencadear calos que são indesejáveis para os praticantes de técnicas manuais (DOMENICO, 2008). Durante a aplicação das técnicas, é importante que você esteja relaxado. Em breve, você aprenderá que sua mão será, na maioria das situações, direcionada pela sua mecânica corporal e ela será o meio de transmissão do movimento para o corpo do paciente. Isso requer uma sensibilidade grande das mãos, pressões desnecessárias e a falta de mobilidade da região podem comprometer a efetividade do tratamento. Cuide muito bem das suas mãos, ela será sua ferramenta de trabalho. A higiene e a saúde delas serão fundamentais para atingir os objetivos durante o tratamento. IMPORTANT E 5.2 USO DE LUBRIFICANTES E ACESSÓRIOS No uso dos recursos terapêuticos manuais, o uso de meios deslizante se faz necessário para que o movimento das mãos fique facilitado e a técnica atinja o seu objetivo. Existe no mercado grande quantidade de produtos indicados para essa prática. É importante ficar atento aos compostos de cada produto, para evitar reações alérgicas do paciente e do fisioterapeuta. Procure sempre produtos neutros, sem componentes que possam gerar reações alérgicas, bem como sem fragrâncias, é difícilagradar todos os pacientes com as fragrâncias. É importante ressaltar que os lubrificantes são meios auxiliares na realização das técnicas, a sua mão é que proporcionará o efeito desejado (DOMENICO, 2008). Dentre os lubrificantes mais utilizados, destacam-se: talco, cremes, óleos e sabão. Cada qual possuem suas características e qualidades. O talco é mais interessante de ser utilizado quando buscamos maior atrito na técnica, algo mais difícil de conseguir com os demais lubrificantes. Com relação aos demais lubrificantes (cremes, óleos e sabão) o maior problema está na quantidade utilizada, pois uma quantidade excessiva pode dificultar o manuseio do tecido tratado. É importante ressaltar que o uso de lubrificante é mais comum nas técnicas de massagem (recursos terapêuticos manuais), nas mobilizações e manipulações (fisioterapia manipulativa) os lubrificantes são pouco utilizados (DOMENICO, 2008; FRITZ, 2002). TÓPICO 2 | REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL 25 6 EQUIPAMENTOS AUXILIARES PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL Apesar do seu corpo e da sua mão serem os equipamentos mais importantes para a prática da terapia manual, os equipamentos auxiliares como macas e cadeiras são fundamentais para a correta execução das técnicas. Esses equipamentos auxiliares são importantes para o conforto do paciente e a correta execução da técnica, além de garantir uma aplicação segura e confortável ao fisioterapeuta, evitando sobrecargas desnecessárias devido a postura incorretas durante a aplicação da técnica (DOMENICO, 2008; KINSINGER; BYFIELD, 2008; FRITZ, 2002). 6.1 MACAS E MESAS As macas ou mesas são a primeira escolha da maioria dos fisioterapeutas, são diversos modelos de mesa disponíveis para comercialização. As mais comumente encontradas na prática clínica são as mesas fixas, elas possuem boa estabilidade e servem para uma grande parte dos tratamentos na fisioterapia. Suas desvantagens são a impossibilidade de transporte para atividades domiciliares e a falta de ajustes na altura (DOMENICO, 2008; FRITZ, 2002). FIGURA 7 – MACA FIXA FONTE: Adaptado de Fritz (2002) Algumas macas permitem o ajuste dos pés para regular a altura da maca. Isso é comum nas macas portáteis que são dobráveis e permitem realizar atendimentos fora do seu local fixo de trabalho. Na fisioterapia manipulativa, o ajuste da altura da maca é fundamental para a realização das técnicas. Entre as desvantagens destas macas está a estabilidade que é afetada pela sua construção em forma de mala e seu limite para suporte de peso. Dessa forma, ela requer maior atenção nos efeitos cumulativos do uso, para garantirmos a segurança na aplicação da técnica (DOMENICO, 2008; FRITZ, 2002). UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 26 FIGURA 8 – MACA PORTÁTIL COM REGULAGEM DE ALTURA FONTE: Adaptado de Domenico (2008) Sem dúvida, a melhor opção para utilização tanto com recursos terapêuticos manuais quanto com a fisioterapia manipulativa é a maca hidráulica elétrica. Essa maca permite o ajuste de vários pontos o que facilita o posicionamento do paciente, por exemplo, ao posicionar o seu paciente em decúbito ventral, o antebraço pode ser posicionado individualmente com duas partes ajustáveis ao lado da maca. Obviamente, o ajuste de altura eletricamente é o fator mais importante para correta aplicação da técnica e conforto do fisioterapeuta. Existem diversos modelos disponíveis para comercialização que atendem as necessidades da prática clínica (DOMENICO, 2008). FIGURA 9 – MACA HIDRÁULICA ELÉTRICA FONTE: Adaptado de Domenico (2008) Para facilitar sua escolha, veja, no quadro a seguir, quais características são importantes na escolha da sua maca. Lembre-se, ela auxiliará você na execução do tratamento e proporcionará conforto ao final de um dia de trabalho, o investimento em uma boa maca é necessário quem trabalhará com fisioterapia manipulativa. QUADRO 7 – CARACTERÍSTICAS DE UMA MACA DE TRATAMENTO IDEAL Operada eletricamente e com altura ajustada hidraulicamente. Orifício para face. Possibilidade de ajusta a mesa em diferentes angulações (parte superior e inferior). Descanso ajustados para os braços. Rolamento suave, acessórios retráteis com um mecanismo eficiente de travamento. FONTE: Adaptado de Domenico (2008) TÓPICO 2 | REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL 27 6.2 CADEIRAS Para as técnicas de recursos terapêuticos manuais, especialmente a massagem, a utilização de cadeiras é uma opção para os pacientes que tem difi culdade em permanecer em decúbito ventral ou para técnicas específi cas como a quick massage. Além disso, você encontrará dispositivos que se encaixam na maca para realizar a técnica sentado. FIGURA 10 – CADEIRA PORTÁTIL FONTE: Adaptado de Domenico (2008) 7 POSICIONAMENTO E CONFORTO DO PACIENTE Agora que você já conhece as macas e equipamentos que podem auxiliar a sua prática, é importante sabermos posicionarmos o nosso paciente de maneira confortável. Lembre-se, um paciente desconfortável não conseguirá relaxar e os objetivos do tratamento não serão alcançados. Para o correto posicionamento do paciente são necessários alguns dispositivos auxiliares, os mais utilizados são: travesseiros, rolos e triângulo/cunha de posicionamento. Pode não parecer, mas o conforto do paciente também está ligado a sua privacidade. A maior parte do tratamento e da avaliação envolvendo técnicas manuais requerem a exposição de partes do corpo. Dessa forma, é importante realizarmos a cobertura adequada das partes que não estão sendo tratadas para o melhor conforto do paciente. Veremos algumas dicas de como realizar a cobertura correta a seguir. 7.1 POSIÇÕES BÁSICAS PARA TRATAMENTO Alguns padrões de posicionamento são indicados para melhorar o conforto do paciente, porém, apesar de haver um posicionamento lógico, é sempre importante ter o parecer do paciente com relação à posição e ao conforto. Em alguns casos, os sintomas podem aumentar nas posições padrões. Veja nas fi guras a seguir as posições indicadas e uso correto dos dispositivos para melhorar a posição. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 28 FIGURA 11 – DECÚBITO DORSAL FONTE: Adaptado de Braun e Simonson (2007) FIGURA 12 – DECÚBITO VENTRAL FONTE: Adaptado de Braun e Simonson (2007) FIGURA 13 – DECÚBITO LATERAL FONTE: Adaptado de Braun e Simonson (2007) TÓPICO 2 | REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL 29 7.2 PRIVACIDADE DO PACIENTE Ao utilizar os recursos terapêuticos manuais você precisará deixar exposto partes do corpo, para garantir a privacidade do paciente existem técnicas de cobertura. Elas servem para manter a privacidade e o senso de segurança e proporcionar/manter calor. É importante que o paciente seja coberto com material adequado, normalmente utilizamos um lençol. Lembre-se, não há nenhuma situação que o paciente ficará despido no tratamento, deve ficar descoberta somente a área que estiver sendo tratada (CLAY; POUND, 2003; DOMENICO, 2008; FRITZ, 2002). Algumas técnicas de cobertura são utilizadas, a mais comum é a cobertura simples. Neste caso, é instruído a ficar na maca com um lençol embaixo e outro cobrindo o seu corpo. Nesse caso, o lençol é movido de acordo com a necessidade de tratamento. Além disso, é possível mudar a posição do paciente garantido a sua privacidade, veja uma técnica simples na Figura 18. FIGURA 14 – COBERTURA SIMPLES EM DECÚBITO DORSAL FONTE: Clay e Pounds (2008, p. 28) FIGURA 15 – COBERTURA SIMPLES COM EXPOSIÇÃO DO TORÁX FONTE: Clay e Pounds (2008, p. 28) UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 30 FIGURA 16 – COBERTURA SIMPLES COM EXPOSIÇÃO DO MEMBRO INFERIOR FONTE: Clay e Pounds (2008, p. 28) FIGURA 17 – COBERTURA SIMPLES COM EXPOSIÇÃO DA COLUNA VERTEBRAL FONTE: Clay e Pounds (2008, p. 29) FIGURA 18 – MUDANÇA DE POSIÇÃO FONTE: Clay e Pounds (2008, p. 29) Você conheceu algumas técnicas de cobertura de pacientes, outrastécnicas também poderão ser utilizadas, bem como outros recursos. Alguns profissionais TÓPICO 2 | REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL 31 fazem uso de aventais que também permitem manter a privacidade do paciente. Lembre-se, é importante manter a privacidade do paciente em qualquer situação, respeitando os preceitos éticos da nossa profissão. O conforto do paciente é o primeiro passo para o sucesso do tratamento, preocupe-se em posicionar adequadamente o paciente e garantir a privacidade dele durante todo o tratamento. ATENCAO 8 MECÂNICA CORPORAL DO TERAPEUTA A utilização correta do seu corpo durante a aplicação das técnicas envolvendo os recursos terapêuticos manuais e da fisioterapia manipulativa é fundamental para o tratamento eficiente e para proteger o seu corpo. Ao final de um dia de trabalho, se você utilizou corretamente o seu corpo, provavelmente não sentirá cansaço ou dores pelo corpo. O uso de uma maca adequada auxiliará adotar a mecânica corporal adequada. A altura da maca deve ser ajustada para que possa atingir a parte do corpo a ser tratada, além de garantir que a postura do fisioterapeuta seja efetiva para aplicação da técnica e do seu conforto físico (DOMENICO, 2008; BRAUN, SIMONSON, 2007). Provavelmente, durante uma sessão envolvendo a fisioterapia manipulativa, você realizará mais de uma técnica de tratamento, que poderá exigir alturas diferentes da maca. Percebeu a importância de uma maca com regulagem elétrica? Além do ajuste da altura da maca, sua postura será fundamental para a correta mecânica corporal. Um componente importante é o alinhamento adequado do corpo. Com isso, o esforço físico é distribuído de maneira uniforme por todo o corpo, permitindo um movimento eficiente e a correta realização da técnica (BRAUN; SIMONSON, 2007; FRITZ, 2002). Veja na Figura 19 a mecânica corporal adequada para a maioria das técnicas. Importante ressaltar que o direcionamento da força exigido pela técnica, comandará a posição do seu corpo. Se a técnica exigir uma força mais perpendicular, você deverá se aproximar da maca e diminuir a altura dela. Vamos passar algumas dicas para que você utilize o seu corpo adequadamente e a favor da técnica, você poderá ver nas demais figuras como utilizá-las: • Use o peso do seu corpo para aplicar a força necessária à técnica. • Transferir o peso do seu corpo por meio das articulações em uma linha relativamente reta. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 32 FIGURA 20 – POSTURA SIMÉTRICA COM BASE ESTÁVEL FONTE: Adaptado de Braun e Simonson (2007) FIGURA 21 – POSTURA LATERAL COM BASE ESTÁVEL FONTE: Adaptado de Braun e Simonson (2007) • Controle o seu centro de gravidade com as pernas, aumente sua estabilidade com afastamento das pernas. • Utilize dispositivos que podem facilitar e reduzir o seu esforço (bancos, cintas, entre outros) (BRAUN; SIMONSON, 2007; DOMENICO, 2008; FRITZ, 2002). FIGURA 19 – MECÂNICA CORPORAL CORRETA FONTE: Adaptado de Fritz (2002) TÓPICO 2 | REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL 33 FIGURA 22 – POSTURA SENTADA FONTE: Adaptado de Braun e Simonson (2007) Olhando as figuras, pode parecer fácil adotar essas posturas durante a prática clínica, mas, nas primeiras tentativas você terá um pouco de dificuldade, fique tranquilo. Com a prática é que adquirá maior consciência corporal e, após algum tempo, automaticamente você adotará essas posições na realização das técnicas. 9 FATORES AMBIENTAIS QUE AUXILIAM NO TRATAMENTO Um fator importante no tratamento, especialmente, quando você estiver utilizando a massagem terapêutica é o ambiente. Alguns fatores são importantes para garantir um ambiente favorável ao tratamento, destacam-se: a temperatura da sala, a privacidade do paciente e a higiene do local. Muitas vezes, pensamos que um som ambiente e uma sala perfumada ajudará no conforto do paciente. Entretanto, ao atender uma diversidade de pessoas, nem sempre agradaremos a todos com a música escolhida e, principalmente, com a fragrância adotada no ambiente (BRAUN; SIMONSON, 2007; FRITZ, 2002). Lembre-se, o ambiente deve ser adequado ao paciente e não ao fisioterapeuta. Mesmo sabendo que a temperatura ideal para o tratamento fica em torno de 22 a 24 °C, questione ao paciente se ele está confortável (BRAUN; SIMONSON, 2007). Outro fato importante é a organização da sala e higiene do local. Deixe seus equipamentos e acessórios organizados, desinfecte a maca entre os atendimentos com o produto adequado e higienize suas mãos constantemente. Caso utilize lubrificantes, é indicado o uso de lençol descartável para evitar absorção pela maca e desconforto nas trocas de posições do paciente. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS GERAIS DA TERAPIA MANUAL 34 LEIS DE FRYETTE: É HORA DE REPENSAR O MODELO? Palmiro Torrrieri Junior 1 INTRODUÇÃO Em 1986, quando iniciei minha formação em Osteopatia, um dos assuntos que mais me fascinava eram as LEIS DE FRYETTE. Baseie-me neste modelo durante anos, até que um dia, depois de ter feito um diagnóstico a partir destas leis, preparei-me para executar a manipulação corretiva. Por descuido, posicionei- me de forma inadequada e manipulei tal paciente em FRS, como se estivesse tratando uma ERS. Quando me dei conta já o tinha manipulado. Resolvi colocá-lo em pé e refiz os testes. Surpresa!!! A resposta foi excelente, o que me deixou muito curioso, uma vez que eu já sabia do meu “erro”. A partir daí inúmeros questionamentos passaram a fazer parte do meu raciocínio crítico. Pela primeira vez surgiu minha desconfiança em relação à confiabilidade dos diagnósticos baseados nestas leis, principalmente em relação à coluna lombar e torácica. Esta desconfiança aumentou a partir do momento que comecei a utilizar técnicas baseadas na resposta sintomática dos pacientes (Mulligan, Mckenzie), onde o que é mais importante é como o paciente responde aos reposicionamentos articulares ou exercícios repetidos. Mas afinal, o que são “as leis de Fryette”? Em 1918 Fryette divulgou um modelo biomecânico, baseado nas possibilidades de acoplamento vertebral, cujos estudos partiram de uma coluna dissecada com uma ligeira compressão vertebral e publicou suas observações no seu livro “principles of osteopathic technic”. Baseado nestas leis, encontraríamos três tipos de disfunção: Tipo I, ou primeira Lei, também conhecida como NSR: uma disfunção em inclinação lateral e rotação contra-lateral. A primeira lei postula que quando o sujeito está em pé com a coluna em posição neutra (sem flexão ou extensão), a inclinação para um lado será O texto a seguir foi escrito por um fisioterapeuta que atua com a fisioterapia manipulativa, inclusive como instrutor do método Mulligan no Brasil. Ele relata a sua experiência com a fisioterapia manipulativa e a necessidade de alinharmos nossa prática com a ciência. Podemos afirmar que é preciso quebrarmos nossas crenças para continuarmos evoluindo na nossa profissão. Boa leitura! IMPORTANT E TÓPICO 2 | REQUISITOS ESSENCIAIS PARA PRÁTICA DA TERAPIA MANUAL 35 acompanhada por rotação para o lado oposto. Já a segunda lei diz respeito às lesões não neutras e afirma que quando a coluna é flexionada ou estendida (não neutra) a inclinação para um lado será acompanhada por rotação para o mesmo lado. Por exemplo, se o sujeito flexiona a coluna, e inclina lateralmente para a direita, a rotação ocorrerá para a direita. Tipo II em extensão (ERS), onde encontraremos uma disfunção em extensão, inclinação lateral e rotação ipsilateral; a tipo II em flexão (FRS), com disfunção em flexão, inclinação lateral e rotação ipsilateral. Finalmente a terceira lei, a única que podemos dizer à luz do paradigma mecânico, que realmente funciona: quando introduzimos o movimento em um plano, isto irá reduzir o movimento nos outros dois. Embora o próprio Fryette nunca tenha chamados suas propostas de leis, estas foram adotadas por inúmeras escolas de osteopatia dos EUA
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