e-Tec Brasil Aula 1 – A importância da organização dos agricultores Objetivos Compreender a realidade do mundo do trabalho e a importância da organização dos agricultores para o enfrentamento dessa rea- lidade. Reconhecer o processo organizativo como uma importante ferra- menta de desenvolvimento rural, identificando as potencialidades e os problemas inerentes às organizações. 1.1 A realidade do mundo do trabalho: por que cooperar? A cooperação não é algo novo ou da contemporaneidade. Sempre existiu na história da humanidade. Desde que há agrupamento humano, há cooperação. Imagina construir um vilarejo, um acampamento, sair em busca de alimentos sem cooperação? A cooperação nas famílias antigas era exercida em todas as atividades do agrupamento, inclusive nas comunidades nômades. Os homens mais fortes saiam para caçar, outros ficavam de guarda no acampamento. Tinha o grupo das mulheres que cuidava das crianças, outro grupo coletava frutos e sementes nos arredores para alimentação. Ainda, havia os que fabricavam os utensílios. Enfim, as atividades eram divididas conforme as características de cada grupo e a capacidade física destes em executá-las, sendo exercidas coletivamente. As mulheres, nestes agrupamentos nômades, eram responsáveis pelo cuidado das crianças, idosos e doentes, além disso, coletavam alimentos na volta do acampamento. Com o tempo começaram a perceber que as sementes que coletavam para alimentação, quando jogadas no chão, com o auxílio da umidade, germinavam, e delas surgia uma nova planta igual àquela em que coletaram as mesmas. A mulher foi a grande responsável pela “invenção da agricultura”. Essa descoberta, aliada à domesticação dos animais, possibilitou aos agru- pamentos trocar a vida nômade, baseada na caça, pesca e coleta, por uma e-Tec BrasilAula 1 - A importância da organização dos agricultores 15 vida sedentária. A vida sedentária trouxe a possibilidade dos seres humanos aprimorarem as moradias, além dos utensílios, das ferramentas e das artes de guerra e de defesa do grupo. O desenvolvimento da agricultura e a domes- ticação dos animais é um marco fundamental para a evolução das grandes civilizações humanas. Isso porque era possível trazer para perto do agrupamento os alimentos, não sendo mais necessário andar quilômetros e quilômetros em busca de comida. Assim, as cidades e vilarejos eram construídos em locais de terras férteis e com possibilidade de se fazer agricultura. Podemos afirmar que a cooperação permitiu o surgimento das grandes civilizações. No entanto, com a Revolução Industrial, a forma de como o trabalho passou a ser visto mudou. Surge a especialização produtiva, a fragmentação do processo produtivo e a separação do trabalho mental e do trabalho físico. A Revolução Industrial aconteceu na Europa nos séculos XVIII e XIX, com essa mudança no processo produtivo, o trabalho artesanal foi substituído pelo trabalho realizado por operários com o auxílio de máquinas em fábricas. Figura 1.1: Linha de montagem, principal mudança do trabalho na Revolução Industrial Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/29/Ford_assembly_line_-_1913.jpg Vamos pegar o exemplo da fabricação de um sapato. Antes da Revolução Industrial, os sapatos eram fabricados pelos artesãos. O artesão dominava o conhecimento de todo o processo produtivo, desde a seleção dos materiais, o desenho do sapato e todas as etapas de fabricação. O conhecimento do processo produtivo e do produto não podiam ser separados, pois era de domínio do artesão e imprescindível para que o mesmo chegasse ao produto final. Com a Revolução Industrial, o conhecimento relacionado à concepção do produto foi separado do processo produtivo. Mais tarde, com o Fordismo, o processo produtivo foi organizado em linhas de montagem. Tem o designer, que faz o projeto do sapato, o especialista que faz a compra dos materiais e O vídeo que se encontra na URL abaixo é um vídeo educativo que mostra as contribuições do Fordismo e do Taylorismo para a administração. Produzido pela coordenação de vídeo de Unitins. https://www.youtube.com/ watch?v=3H-f9brwABQ Os outros endereços que seguem contêm uma série de vídeos, para quem quer se aprofundar mais sobre as noções que determinaram a divisão e a especialização do trabalho. Taylorismo: https://www.youtube.com/ watch?v=nSnbZc3ng8Y Fordismo: https://www.youtube.com/ watch?v=noIo3tYkHq4 https://www.youtube.com/ watch?v=shlYNvuGcuc Toyotismo: https://www.youtube.com/ watch?v=OjUGjjGZcaw Pós-fordismo: https://www.youtube.com/ watch?v=sMB-D3yA_as Associativismo e Cooperativismoe-Tec Brasil 16 os operários que fabricam o sapato, sendo que cada etapa do processo de fabricação é realizada por uma pessoa diferente. É importante lembrar que a Revolução Industrial aconteceu porque houve uma grande mudança na concentração de pessoas residentes nas cidades. Até o final do Século XVII, a maioria da população vivia no campo e os moradores rurais fabricavam a maior parte dos utensílios, roupas e calçados que necessitavam. No entanto, a população urbana começou a aumentar e houve uma maior necessidade de oferta de bens de consumo, assim as oficinas de artesãos deram lugar às fábricas. Um fator que foi preponderante para a migração dos moradores do meio rural para o meio urbano, principalmente no Reino Unido, o berço da Revolução Industrial, foi o “cercamento das terras”, ou seja, os antigos Feudos deram origem a propriedades privadas e os camponeses que antes viviam atrelados aos feudos foram expulsos do meio rural e obrigados a se mudarem para as cidades. O que gerou um contingente de mão de obra para as indústrias e, ao mesmo tempo, criou-se uma massa de consumidores. Os conceitos de Taylorismo, Fordismo e Toyotismo são importantes para enten- dermos as transformações no mundo do trabalho. Estas transformações romperam o modo de organização do trabalho com base na cooperação das sociedades antigas. Além disso, transformaram o trabalho em individual e fragmentado. 1.1.1 Taylorismo Frederick Taylor, engenheiro mecânico, no final do século XIX, publicou um livro chamado “Princípios de Administração Científica”. Este livro era um conjunto de ideias defendidas por Taylor para melhorar a produção industrial. “De acordo com Taylor, o funcionário deveria apenas exercer sua função/tarefa em um menor tempo possível durante o processo produtivo, não havendo necessidade de conhecimento da forma como se chegava ao resultado final” (FRANCISCO, [2015]). O Taylorismo considera o processo de divisão técnica do trabalho como fun- damental para aumentar o rendimento e a lucratividade. Assim, os operários não necessitam conhecer o processo produtivo, apenas executar tarefas mecânicas e sempre iguais. O conhecimento é de responsabilidade apenas do responsável pela gerência. Institui-se, assim, o empregado chamado gerente da seção produtiva, que detém a informação, coordena e fiscaliza o trabalho. Sendo que, da fiscalização, faz parte monitorar o tempo despendido pelos operários em cada etapa de produção. Outra característica do Taylorismo foi e-Tec BrasilAula 1 - A importância da organização dos agricultores 17 a padronização e a repetição, assim diferentes fábricas poderiam executar o mesmo processo produtivo. A ideia é que o operário, ao executar uma única tarefa, várias vezes ao dia, venha apresentar um maior rendimento do trabalho, pois se torna especialista naquela tarefa e não tem distrações, pois fica sempre no mesmo lugar. 1.1.2 Fordismo As mudanças introduzidas por Ford na sua fábrica, para a fabricação do carro Ford modelo T foram baseadas no Taylorismo e visavam a produção em série para o consumo em massa. A fabricação em série e em massa do Ford modelo T, inaugurou o consumo em massa na sociedade moderna, a era do consumismo (TOMAZI, 2010). O Fordismo inspirou a mudança produtiva