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Resenha Terra para Rose e a reforma agrária

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SOCIOLOGIA RURAL
São Luís – Ma
2021
Universidade Estadual do Maranhão 
Centro de Ciências sociais aplicadas
Curso de Ciências sociais - Licenciatura
Disciplina: Sociologia Rural 
Professor: Emmanuel Farias
Aluna: Bianca Estefanny Pereira Feitosa
 Documentário Terra para Rose e a Reforma Agrária no Brasil
Em “Terra para Rose”, documentado por Tetê Moraes, é retratado a luta pela terra na década de 80, assim que houve o fim do regime militar e iniciou-se o período democrático no Brasil. A luta pela reforma agrária se faz presente durante todo o documentário, e conta a vivência de 1.500 famílias que se encontravam acampadas na fazenda Anoni, onde a mesma estava em processo de desapropriação. Além desse processo que demorou anos, vale dizer que esta fazenda estava improdutiva na época. 
Após um breve resumo sobre a questão agrária no Brasil, inicia-se as ações na fazenda Anoni. Mostra-se o cotidiano dessas famílias no assentamento na fazenda: corta-se lenha, as mulheres cozinham, etc., e os barracões cobertos por lonas traz de certa forma uma ideia de luta, resistência, de força no desejo de uma divisão igualitária da terra. Assim, como diz Wanderley, a história do campesinato no Brasil pode ser definida como o registro das lutas para conseguir um espaço próprio na economia e na sociedade.
Logo na primeira cena do documentário, onde algumas pessoas marcham cantando com instrumentos de lavoura em mãos, percebe-se um cerceamento por parte da polícia militar, que impedia o grupo de sair para ocupar outras fazendas. Na segunda cena, um grupo passa por uma ponte cantando e segurando galhos verdes. Estes era um grupo de romeiros que saíram em manifestação para pressionar o governo quanto a desapropriações e dar-lhes a posse das terras.
Orientados pela esquerda comunista e pelo Clero, a luta pelo direito a terra constitui-se como um forte movimento da luta popular, que se organizou para exigir seus direitos e fazer valer suas ideias, almejando uma mudança na estrutura política e social no campo, contando com os elementos políticos e religiosos que os cercavam. 
Quando se fala em Reforma Agrária, os assentados falam em seus depoimentos sobre restabelecer a produção agrícola e sobre ter um lugar para chamar de seu. Além disso, muitas mulheres afirmam seu desejo de apenas terem uma terra para plantar, cultivar e criar animais, reafirmando seu desejo de permanecer no campo e com seu modo de vida intacto.
Assim, o MST mobilizou muita gente em prol dessa causa ganhando até repercussão nacional, e isso é mostrado no documentário através da longa caminhada até a Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, onde muitas pessoas acompanharam os manifestantes, incluindo artistas, chegando a 100 mil pessoas na marcha. O movimento contou também com a solidariedade daqueles que não puderam seguir caminhada com o povo.
Durante o período em que ficaram na Assembleia, duas mulheres, incluindo Rose, ficaram responsáveis pela organização do alimento das pessoas acampadas. Tem também um grupo responsável para cozinhar, cortar os alimentos e entre outros deveres diários, ou seja, todos se ajudam. Nota-se desde a organização com a higiene até a alimentação que há uma coletivização forte entre os membros do movimento. 
Vê-se claramente nessa organização dos grupos, o modo como Shanin (1980) vê o campesinato. Ele diz que o campesinato é formado por características próprias, que são capazes de estabelecer relações sociais distintas do restante da sociedade. A unidade familiar para ele é extremamente autossuficiente e sua organização interna orienta-se em função da produção, consumo, sociabilidade, suporte moral e ajuda econômica mútua dos membros.
Rose e Serli puderam também dividir seus aprendizados no documentário, reafirmando que essa talvez tenha sido a maior lição de todas: a de trabalhar em conjunto, trabalhar em comunidade, todo mundo se ajudando, colocando em prática a confiança e a dependência mútua, assumindo responsabilidades por e para o próximo, realizando o conceito de comunidade na prática. Rose acabou morrendo em uma manifestação, atropelada por um caminhão. Ela deixou um filho, o primeiro nascido no acampamento, chamado Marcos, e ele foi um dos símbolos que manteve a esperança e o grupo coeso se movendo.
Apesar de o MST ter reunido forças a caminho da Assembleia e ter conquistado muitos simpatizantes, a realidade foi, e ainda é outra. O confronto com a polícia é um impasse social. O Estado por um lado se encontra diante da demanda de um grupo, de outro, a sociedade cobra uma maior presença do Estado. Esse dilema faz com que o Estado acabe por prolongar esses processos relacionados ao movimento, pois estes processos não são do interesse da classe detentora do poder, mas sim de uma classe desprivilegiada.
A questão fundiária no Brasil reporta-se à criação das capitanias hereditárias em 1530, e ao sistema de sesmarias – porções de terra distribuídas pela Coroa Portuguesa. Aqui origina-se o latifúndio, e apenas com a industrialização do país e a urbanização da sociedade, essa questão começou a ser debatida. 
O MST hoje no Brasil representa uma melhor visibilidade política, porém, há uma menor mobilização física, ao contrário do que é retratado no documentário. Portanto, percebe-se a importância desse movimento social na história da formação das Políticas Públicas do Brasil, assim como todos os outros aspectos supracitados, tais como solidariedade, união, organização e sobretudo a mobilização coletiva para alcançar um bem em comum.
Segundo Shanin, o campesinato é um modo de vida, e é capaz de se recriar e sobreviver às crises ao longo de sua jornada. Dessa forma, o campesinato se ressignifica enquanto sujeito na luta pela ou na terra, tendo sempre a família como centro e se lembrando de suas constantes transformações e afirmações. Assim, o autor considera o campesinato “[...] um grupo social que existe na consciência direta e na ação política de seus membros” e deve ser compreendido como “[...] ator e sujeito da história social” (SHANIN, 1980, p. 70).
Martins (1981) enfatiza que o termo camponês é importante, pois dá uma conotação política ao povo do campo que até hoje é visto preconceituosamente como um povo retrógrado, que permanece na ignorância. O autor também afirma que a luta pela terra é uma luta contra o capital, o que fortalece ainda mais o sentido do termo campesinato, pois aqui ele se torna uma referência política e ideológica dentro da luta de classes.
Com a industrialização, também houve a modernização da agricultura e com isso, a união indústria/agricultura se deu porque o próprio capitalista era o dono das terras onde o camponês trabalha, ou seja, latifundiário. Segundo Wanderley, para Chayanov, o importante na economia camponesa não era a propriedade em si, mas sim a posse dela, pois é através dela que ocorre a produção da subsistência dessa classe.
O camponês tem um projeto, segundo Wanderley: trabalhar para si, com os seus, no que lhe pertence, e, para concretizar esse objetivo, o camponês se submete à modernização. Em busca desse espaço econômico e social, a produção camponesa atuaria nas “brechas” do sistema capitalista, preenchendo uma série de funções e assim contribuir direta ou indiretamente para a expansão do capitalismo. Além de ocupar esse espaço, o camponês se transforma em função da sua integração, sob diversas formas aos mecanismos do Estado.
Ademais, para Wanderley, o camponês constrói a sua própria história, mesmo com essas dificuldades que são enfrentadas diariamente, principalmente pelo fato de o meio rural e a agricultura estarem inseridos em uma sociedade moderna. Com essas provocações, o agricultor familiar resiste procurando se adaptar sempre aos novos moldes da sociedade, mas sem perder a sua essência.
Para Fernandes (2005), a questão agrária surge em um contexto onde ocorre uma contradição do sistema capitalista que, de um lado tem a concentração de terras nas mãos de poucos, e de outro, a expansão da pobreza. Isso ocorre pela sujeição e aomesmo tempo resistência dos camponeses à lógica do capital. Por seu histórico de lutas e vivências, os camponeses se consolidam mais nos movimentos sociais e se recriam, seja através do arrendamento ou da compra de terras.
REFERÊNCIAS
FERNANDES, Bernardo Mançano. Questão agrária: conflitualidade e desenvolvimento territorial. In: Luta pela terra, reforma agrária e gestão de conflitos no Brasil. Antônio Marcio Buainain (Org). Ed.: UNICAMP, 2005.
MARTINS, José de Souza. A sujeição da renda da terra ao capital e o novo sentido pela reforma agrária. In: Os camponeses e a política no Brasil: as lutas sociais no campo e seu lugar no processo político. 2 ed. Petrópolis: Vozes. P. 151-177. 1981.
SHANIN, T. A. A. Definição de camponês – conceituações e desconceituações. Estudos CEBRAP, 26, Petrópolis: Vozes, 1980.
WANDERLEY, M. M. B. Em busca da modernidade social: uma homenagem a Alexander V. Chayanov. Campinas: UNICAMP, 1989, p. 83.
_____. Estudos Sociedade e Agricultura. In: Agricultura familiar e campesinato: rupturas e continuidade. Rio de Janeiro, 21, Outubro, 2003: p. 42-61

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