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SOCIALISMO E MISSÃO CRISTÃ: CARLOS MUGICA, O PADRE PERONISTA

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SOCIALISMO E MISSÃO CRISTÃ: CARLOS MUGICA, O PADRE PERONISTA
“Tudo isso me agrada, mas a missão me chama.” - Padre Carlos Mugica 
A primeira metade do século XX na Argentina foi marcada por uma intensa movimentação política, econômica e social. Uma mescla de conturbações, confrontos e reformas riscam as primeiras linhas de uma virada na história argentina que envolve a massa trabalhadora, ideologias e execução de poder. Não distante dessa realidade, os membros da Igreja Católica são atuantes ativos no que se entende por povo, miséria, espaço de representação, poder político, luta armada e justiça, embasados na teologia cristã. Não é de se estranhar o surgimento de uma liderança dentro da instituição religiosa, que pelas margens do cenário em questão, o sacerdote jesuíta Carlos Mugica é protagonista sob o véu autoritário que encobre a população argentina.
Carlos Francisco Sergio Mugica Echagüe, nasceu na capital argentina Buenos Aires no dia 7 de outubro de 1930 - no período que os argentinos presenciaram o golpe de estado de 30 - em uma família que adotou a fé e a pátria como valores de formação e também que era diretamente ligada à política. Tendo como patriarca Adolfo Mugica que foi político de apoio aos interesses britânicos e um importante membro do Partido Conservador, a educação familiar recebida por Carlos estava intrínseca nesta atmosfera. Após deixar a graduação em Direito na Universidade de Buenos Aires, ingressou no Seminário e se ordenou em 1952. 
Mugica não se abstém da situação política na Argentina no ano de 1955. É líder social cristão, um dos idealizadores do Partido Democrático Cristão. Essa inserção do sacerdote no posicionamento político da Igreja é interessante de se destacar, pela situação conflituosa e conturbada na qual a Argentina se encontrava, durante a segunda fase do governo de Juan D. Perón. O peronismo representou um período de transição para a modernidade - enfrentando crises, oligarquias, o conservadorismo, reformas políticas, inclusão participativa de organizações sindicais, melhoria no piso salarial da classe trabalhadora, planos para habitação e previdência social e, principalmente, a nacionalização da economia. 
Operários se reuniram na Praça de Maio em apoio ao presidente.1955. (Foto: AFP)
Mesmo que seja evidente o avanço político-econômico da Argentina e, consequentemente, do apoio e da condição de vida da população, o governo de Perón aderiu aspectos autoritários - principalmente no Executivo - que depois de sua reeleição em 1951, as relações com as instituições presentes no plano nacional ficaram mais estreitas. No que diz respeito à Igreja Católica como instituição política que também é voltada às massas, há divergências e oposições. Perón operava em seu governo a base do que se entende por Estado Laico - não que esse funcionamento fosse descartável, mas o que está a se considerar é a influência de dominação que a religiosidade exerce sobre as massas. Um governo que tinha um controle tão eficaz sobre da população, entrava em estado de crise com outra forma [indiretamente] de poder popular que era a Igreja Católica. A questão da laicidade não foi de fato o motim para o surgimento da oposição religiosa, mas sim outras medidas posteriores de Perón que desafiavam o domínio moral cristão, como a consideração de se legitimar filhos fora do contexto familiar e a permissão do divórcio - questões de esfera social que abrange a realidade da época e atropela os valores morais da cristandade, tornando-os ultrapassados. Por mais que seja um considerável trato jurídico de legitimação de problemáticas ocorrentes na sociedade, a decisão governo de se proibir as celebrações públicas de fé católica e o ensino religioso provocou sucessivas reações de resistência tanto da Igreja em si, como dos fiéis. 
A Igreja Católica foi um dos instrumentos de dominação política inserido no projeto de colonização direcionado, também, a tratativa de questões morais-sociais nas raízes de ocupação europeia na América. Seja de ordem dominicana ou jesuíta, a Igreja era um responsável político no quesito popular que não estava em harmonia com o governo - que privou a liberdade celebrativa religiosa, teve então o autoritarismo como alvo de ataque e mobilização de massa (fiéis). 
Os sacerdotes consentiram com o peronismo até 1954, que foi o ano dos desacertos regados a repressão, violência, as queimas das igrejas e as inúmeras mortes de fiés. A criação do Partido Democrático Cristão de cunho liberal e opositor a Perón foi fator principal que desencadeou em um conflito de poder e não doutrinário ou ideológico - que não estava direcionado exclusivamente ao peronismo versus a igreja argentina, mas sim versus ao Vaticano. Esse choque de inconformidades colocou em cheque algumas convicções da Igreja - o que levou um revisionismo, modificando hábitos e costumes nos seminários: as ordens de formação religiosa entraram em processo de reforma.
Perante às campanhas bem sucedidas promovidas por párocos e fiéis, a queda de Perón (e este ocorrido não se atribui somente ao conflito com a religiosidade, mas também à outras instâncias políticas), gera uma sensação satisfatória na interioridade católica, contudo nas camadas mais baixas não foi notado um entusiasmo com esta virada de poder - caso que sensibilizou os sacerdotes, inclusive e, principalmente, Pe. Mugica a partir da consciência de classe: a sua condição econômica e a classe a qual sua família pertencia, não condizia com a realidade social da situação de classe das camadas baixas da sociedade argentina e que era uma questão de luta política do popular marginalizado.
No Concílio Ecumênico Vaticano II, o papa João XXIII revisou as questões que envolviam o ensino, a integridade e a exatidão dos princípios e fundamentos que suprissem as necessidades daquela época, portanto, houve uma inclinação a favor das camadas pobres a nível mundial - o que incorpora a situação argentina - e a renovação da consciência da missão religiosa, que envolve a ação, a relação e a função entre Igreja e povo - a instituição que correspondia doutrinariamente às classes altas, se corrige e se direciona aos pobres.
 
Papa João XXIII no Concílio Vaticano II. 1964. (Foto: Hank Walker)
 
Com o aval do Vaticano, Pe. Mugica se posicionou a frente de grupos para ação social imediata, se tornou líder popular dos fiéis e discursava em prol dos levantes dos pobres e humildes que eram vítimas da exploração do poder econômico:
Penso que a palavra patrão e a opressão significam a mesma coisa, pois o sistema capitalista é ser patrão/empresário. Necessariamente a posição de opressão, porque a estrutura de uma empresa no sistema capitalista é de exploração de homem por homem. De modo que, se o patrão se denominar peronista ou cristão, o que for… O que oprime, tenho o dever de lutar, não contra ele [o indivíduo em si], mas por minha liberdade. Tenho que tirar o poder que [o patrão] impõe sobre mim e não para ser igual [igualdade de exercer opressão], mas por amor - porque a ele se há de oprimir e, a mim, se há de não aceitar que me oprima. [MUGICA, 1973].
É notável no discurso do sacerdote a consciência das relações de trabalho que o capitalismo impõe, assim como o apoio à massa na reação contra esse sistema explorador - o reagir está inserido no sentido cristão de fazer por amor e não por violência numa gama vingativa, mas sim por justiça (ser um cristão justo). A implicação está em exercer o cristianismo simultaneamente ao que se é considerável de cidadania e resistência, pois a isto compete a justiça e a luta de classe.
Dentro da organização que sucedeu na Ação Católica redigida pelo padre ativista, surgiu o Grupo de Missionários argentinos que expediam missões em pontos do interior do país: comunidades pobres, exploradas por ceder mão-de-obra e produção econômica de qualidade, regiões de extrema miséria que careciam de uma intervenção de consciência social de modo urgente. Enfrentar os problemas que as comunidades continham como a desnutrição e a desidratação era o grande desafiodos missionários - levar o evangelho aos marginalizados já era uma ação política, mas não os protegia. 
Onde a injustiça reina, como solucionar uma problemática nacional complexa que envolve pobreza e violência? O consentimento da luta armada existia popularmente - mesmo que houvesse apoio às missões, apenas havia uma única forma de defender as pessoas em situação marginal no meio rural.
O nosso povo é um povo humilde, um povo que padece pela violência. A violência está onde o indivíduo se questiona se vai conseguir trabalho, cada vez que tem uma pessoa que oferece o meu trabalho e jogá-lo a poucas pessoas, sendo que há centenas precisando e que não sabem como vão comer no dia seguinte. (...) O povo é completamente pacífico, mas paciência tem limite. [MUGICA, 1973]
Padre Carlos Mugica apostava que a luta armada era a solução. Enfatizava a necessidade do radicalismo, do compromisso e de modificar profundamente o sistema. Se valer do uso da “violência”, se as circunstâncias requerem e, por vezes, isso implicava a luta armada.
Grupo guerrilheiro Montoneros que se manteve ativo entre 1960-1970
Na segunda metade da década de 1960, alguns ocorridos influenciaram causas que viriam à tona nos anos seguintes: a morte de Che Guevara, a criação do Movimento de Sacerdotes para o Terceiro Mundo e uma viagem realizada por Mugica ao continente europeu. Entre transições Madri e Paris, o padre conheceu o ex-presidente argentino Juan D. Perón - contato determinante - e presenciou a revolta estudantil francesa. O regresso do líder religioso à Argentina é carregado de compromisso político, pois a experiência adquirida na Espanha e na França, a influência ideológica de Perón, a situação de calamidade a qual sua pátria se encontrava e o descontentamento pessoal são pontos que se coincidem e resultam na inclinação ao peronismo.
Penso que, em primeiro lugar, Che Guevara era o que mais estava próximo da valorização do movimento peronista (...). Eu fui à rua contra o peronismo, mas passamos por uma revolução, por um processo à medida que passei a ter contato com o povo e muitos setores marxistas que no momento em que pensam em trabalhar em contato público à apresentar e valorizar o movimento concreto. [MUGICA, 1973]
Introduzir o evangelho para os pobres visando os valores e a maneira de ser, de se pensar e de viver com “essa gente” e isso resultar em um povo que se manifesta e tem forma era o objetivo mínimo da missão de Mugica. A autorreforma, mediante a consciência dos problemas sociais fez que o retorno do peronismo, assim cogitado, fosse uma nova saída. Além das armas - conflito direto - era necessário uma política de fato, um poder que se ligasse às massas.
Padre Mugica na Ação Católica década de 1960.
O fato da Argentina passar novamente pelo peronismo, trazia à tona muitas contradições, mas em 1968, o grito era de guerra e a bandeira carregada pelo popular era Perón - pois a repressão exacerbada, represálias aos ativistas políticos e o crescente empobrecimento dos setores populares, transformaram as ruas em palco de guerra: conflitos incessantes, população violentada e desesperada. No início da década de 1970, representantes do movimento peronista agem em manifestação, articulam contra ícones da ditadura - resultando no aumento acentuado das perseguições. Neste contexto, a luta armada se intensifica como uma guerra justa - pelas causas que fizeram as massas enfrentarem o governo ditatorial.
Segundo Mugica, servir a Cristo implica na luta popular pela justiça, pela fraternidade, por uma pátria sem exploração, sem marginalização do pobres e humildes para que possa construir uma grande pátria - na qual, o povo esteja em condição de irmandade (como discípulos), “tem que lutar e não esperar que se resolvam as coisas”.
Os levantes de massas populares se movimentam pelos recursos apelativos nos discursos (sermões) do jesuíta que envolviam, através da evangelização, a consciência e a situação de classe - junto ao ativismo político e religioso - chamam a atenção da ditadura e não há perdão pela parte do estado em deter essa influência popular. A prisão de Mugica inaugurou uma sucessão de perseguições, ameaças e atentados na vida civil do padre. 
Penso que o seguinte: que os modos de como lidar com os humildes e os pobres que, uma vez que eles, radicalmente, assumem a condição da classe trabalhadora e os estudantes que começam a trabalhar numa fábrica para viver, integram a classe trabalhadora. [MUGICA, 1973]
Com a derrocada da ditadura, a pressão social para convocação de eleições e o regresso de Perón, após exílio, fizeram as esperanças argentinas emergirem. Com a vitória de Juan D. Perón, instaura- se um governo legítimo através do voto popular, a Igreja Católica proíbe a candidatura de representantes religiosos à cargos públicos - mesmo com a negativa católica, Mugica assume o convite do presidente para a responsabilidade de assessor do governo no Ministério Social - e é considerado como “cura” dos problemas de dirigência, já que a categoria arrecadava muito dinheiro e possuía dificuldade em direcionar verbas para os setores mais pobres.
A decisão do padre de assumir uma responsabilidade pública em meio político de poder recebeu críticas da esquerda popular. Desta forma, a renúncia de Mugica pela opinião da sua inclinação ideológica e pela compreensão de que como sacerdote sua missão não competia à cargos relacionados ao governo, mas sim à serviço diretamente com o povo, dizendo que “Nada e nem ninguém me impedirá de servir a Jesus Cristo e a sua Igreja [fiéis-povo]. Lutando junto aos pobres por sua liberdade.”
No primeiro semestre de 1974, após a celebração de uma missa, Padre Carlos Mugica volta sua atenção ao indivíduo que o chama pelo nome e, inesperadamente, é atingido por um tiro à queima-roupa e uma hemorragia interna impede que haja sucesso nos socorros da equipe médica. Por fim, uma missão acaba, junto com a preocupação da direita nas ações sociais de um padre popular e influente que mobilizou massas contra a ditadura argentina e liderou levantes armados em proteção dos humildes e pobres violentados pela condição de tirania do governo.
Pe. Carlos Mugica década de 1970.
Referências Bibliográficas
SANCHEZ, Giovana. Líder habilidoso, Perón deixou 'legado eterno' na política argentina, 2009. Disponível em: http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1207760-16107,00-LIDER+HABILIDOSO+PERON+DEIXOU+LEGADO+ETERNO+NA+POLITICA+ARGENTINA.html.
http://www.snpcultura.org/concilio_vaticano_ii_origem_e_documentos.html
http://www.pensaracreditar.com/25-most-feared-guerrilla-groups-ever/
https://www.santiagocarreras.com/wp-content/uploads/2016/05/Carlos-Mugica.jpg

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