Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
OCLUSÃO ARTERIAL AGUDA SBCMC III - 2021.1 Cirurgia Vascular DEFINIÇÃO Obstrução súbita de um vaso arterial. ● A oclusão arterial aguda é o bloqueio agudo à passagem do sangue por uma artéria, levando a alterações no metabolismo celular dos territórios supridos/irrigados pela mesma, com repercussões locais (dependendo da artéria e do calibre) e sistêmicas (dependendo do comprometimento). EPIDEMIOLOGIA ● Incidência: aproximadamente 1,5 casos a cada 10 mil pessoas por ano ● A apresentação clínica é considerada aguda se ocorrer dentro de 02 semanas após o início dos sintomas/da dor. ● Morbidade e mortalidade importantes FISIOPATOLOGIA ● Diminuição do fluxo sanguíneo ● Diminuição do oxigênio, glicose e ATP ● Produção energética anaeróbica com produção de lactato e falência da bomba sódio-potássio com despolarização da membrana celular. ● Sem o funcionamento adequado da bomba, há o influxo de íons para a célula, instabilidade do meio intracelular, edema e morte celular. Explicando…: tudo começa com um processo mecânico, onde por algum motivo ocorre um “stop” da circulação, então vão ocorrer reações locais caracterizadas por trombose secundária, aposição de plaquetas, baixo fluxo sanguíneo e distensão da parede do vaso em decorrência de reações inflamatórias levando a um aumento da permeabilidade capilar. Essas reações levam a alterações no fornecimento de O2, glicose e ATP para a célula. Como as células precisam de energia, elas entram em metabolismo anaeróbico, através do qual há produção de radicais ácidos (lactato e piruvato), que fazem com que o organismo entre em uma acidose metabólica, a qual associada ao processos inflamatório da parede do vaso, vai levar a uma falência da bomba de Sódio-Potássio, despolarizando a membrana, a partir de então inicia-se o influxo de íons para o interior da célula, levando a instabilidade do meio intracelular, edema celular, e, consequente, morte celular. ● A repercussão clínica vai depender do tamanho do êmbolo, de qual é a artéria que está sofrendo essa obstrução e do território que ela irriga/nutre. ○ Existem tecidos mais nobres, o encefálico por exemplo, que o tempo de tolerância para a isquemia é reduzido, e outros tecidos que suportam mais tempo sem gerar complicações tão intensas. ETIOLOGIA ● Embolia ● Trombose ● Trauma vascular ● Vasculites ● Outras causas: cisto advencial, compressão extrínseca… EMBOLIA ARTERIAL DEFINIÇÃO Progressão, na corrente sanguínea arterial, de trombos, fragmentos de placas ateromatosas, células tumorais, gases ou outros corpos estranhos, desprendidos ou introduzidos num local qualquer do aparelho cardiocirculatório e que podem ocasionar oclusão parcial ou total de uma artéria em ponto distante da origem deles. ● Locais: obstruem locais onde há alteração do calibre ○ Bifurcações arteriais ○ Emergência de colaterais importantes FONTE DOS ÊMBOLOS ● Em 80-90% dos casos de embolia arterial, os êmbolos se originam do coração, principalmente do átrio esquerdo, em decorrência de fibrilação atrial crônica (60%) ○ Se tiver origem no átrio esquerdo o êmbolo vai para o pulmão, a não ser que haja uma comunicação interventricular. ○ A fibrilação atrial favorece a trombose do átrio, devido ao acúmulo de sangue, ocorre que quando há uma situação de taquicardia, esse trombo pode embolizar iniciando o mecanismo de embolia ● 10% são de origem não-cardíaca → aneurismas, paradoxais ● E os 10% restantes são de origem idiopática. Êmbolos Cardiogênicos: ● 73% dos êmbolos cardiogênicos vão atingir o segmento aorto-descendente, em direção à aorta, ilíacas e membros inferiores CAUSAS CARDÍACAS DAS EMBOLIAS Fibrilação Atrial Crônica: ● O êmbolo surge de trombos murais atriais. ● O paciente com fibrilação atrial terá o átrio aumentado de volume com o trombo mural em seu interior e quando esse átrio entra em episódio de taquicardia ou quando tem um pico de hipertensão, o coração bate com mais força, podendo soltar um êmbolo desse trombo. IAM: ● O êmbolo surge de trombos murais provenientes do ventrículo, formados dentro de horas ou semanas. ● O infarto leva a uma hipotonia ou atonia da parede do músculo ventricular: a parede não contrai corretamente para bombear o sangue, o que predispõe a formação de coágulos, com o passar do tempo pode ter uma dilatação da musculatura formando um aneurisma apical (aneurisma de ventrículo) – o sangue pode se depositar nesse aneurisma formando coágulo. ICC: ● Quando ocorre um aumento muito grande do ventrículo, o sangue em sua periferia começa a turbilhonar e fica lentificado, propiciando a formação de coágulos que podem migrar para a circulação. Próteses Valvulares Cardíacas: ● Quando substituímos a válvula cardíaca por uma válvula metálica, o paciente precisa ficar anticoagulado para o resto da vida, pois a válvula metálica favorece a formação de trombos na parede da própria válvula. ● Quando ocorre do paciente não estar adequadamente anticoagulado, vai haver a formação desses trombos, que embolizam e se tornam uma fonte de OAA. Outras causas: aneurisma ventricular, lesões orovalvulares, mixoma atrial, e endocardite bacteriana ou micótica. ● Os êmbolos formados em decorrência das endocardites ocluem vasos da microcirculação, pois são menores. CAUSAS ARTERIAIS DAS EMBOLIAS Aneurisma de Aorta: ● Quando ocorre um aneurisma de aorta pode ocorrer diversas consequências sistêmicas – o aneurisma é composto por diversos trombos e, quando ocorre um desprendimento de um desses trombos, eles se encaminham para outras regiões. ○ É importante lembrar que o fluxo da aorta se direciona para o resto do corpo, então o êmbolo não pode ir para o cérebro caso o aneurisma seja formado após a formação da subclávia no arco aórtico. Aterosclerose: ● Quando ocorre lesão da placa de ateroma, vai haver desprendimento de fragmentos que podem ocluir vasos levando a embolização. Arterites: ● As artrites são as vasculites (processo inflamatório dos vasos) que causam espessamento da parede dos vasos e microembolização. Traumas: ● Principalmente aqueles associados às fraturas, nos quais ocorre a dissecção dos vasos, causando síndrome isquêmica aguda do membro acometido.. Procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos invasivos e cirurgia endovascular: ● Podem ser por cateteres, stents, guias metálicas, fragmentos de próteses, fragmentos de ateromas, etc. ● Ocorre ruptura desses materiais no momento da manipulação. Injeções intra-arteriais de drogas ou corpos estranhos ● Endarterite química ● Injeção de drogas inadequadamente, as quais podem formar microtrombos, que embolizam, obstruindo a circulação. CAUSAS VENOSAS DAS EMBOLIAS Embolia Paradoxal: ● A embolia paradoxal ocorre por trombose venosa profunda com persistência de forame oval ou shunts intracardíacos. ● O paciente desenvolve a trombose venosa e um pedaço do trombo (coágulo) sai do sistema venoso, cai no coração direito e através dessa comunicação, ele vai para o coração esquerdo, podendo sair para a circulação causando oclusão arterial aguda. TROMBOSE ARTERIAL Obstrução total ou parcial de uma artéria por trombo formado localmente. CAUSAS DA TROMBOSE: ● Vasos afetados por aterosclerose pré existente - a principal causa é a aterosclerose. ● Artérias sadias em pacientes com trombofilia - apesar dos vasos sadios, o paciente trombofílico tem alterações importantes de coagulação que predispõem a formação de trombos. ● Aneurismas da artéria poplítea ● Dissecção de aorta, doença cística, entrapment, trauma e iatrogenia. OBSERVAÇÕES: ● O vaso periférico mais acometido é a artéria femoral superficial ● A isquemia resultante da trombose é menos grave quando o paciente já tem circulação colateral ○ A gravidade clínica da trombose é menor quando comparada à embolia, porque o paciente já possui uma doença de base, e consequentemente têm circulação colateral, o que diminui a isquemia. ETIOLOGIA DAS TROMBOSES O desenvolvimento da trombose é favorecido pela presença de alterações na parede do vaso (aterosclerose), associadas a situações clínicas que fazemcom que a área estreitada na circulação do paciente acabe se complicando. ● “Situações Clínicas” → baixo fluxo sanguíneo, aumento da viscosidade do sangue, ● Depende de: ○ Estado de choque ○ Desidratação ○ Hipovolemia ○ Poliglobulia - aumenta a viscose do sangue ○ Hemorragia intraplaca - desestabilização da placa de ateroma, com consequente agregação de plaquetas e formação de trombo plaquetário que pode acabar obstruindo a artéria em questão. OBSTRUÇÃO ARTERIAL AGUDA - GENERALIDADES Fatores de que independem da causa DIAGNÓSTICO CLÍNICO Síndrome dos 6 Ps: ● Pain → dor de início súbito ● Pulseless → ausência de pulso ● Paresthesia → parestesia ● Paralysis → paralisia ● Pallor → palidez ● Paikilothermia → poiquilotermia, diminuição de temperatura/frio Exame Físico: ● Colabamento das veias superficiais ● Provas funcionais ○ Acentuação da palidez à elevação ○ Acentuação do rubor com membro pendente ○ Retardo variável no enchimento venoso Obs: sinais de irreversibilidade → cianose fixa e paralisia → risco eminente de perda do membro Obs 2: a gravidade depende do grau de obstrução, da circulação colateral e da necessidade metabólica do tecido. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ● TVP aguda: dor aguda de início súbito e coloração arroxeada, porém os outros sinais de isquemia não estão presentes, os pulsos estão presentes e o membro não é frio. ● ICC: as alterações estão relacionadas com o baixo DC, é possível que os pulsos não sejam palpáveis, mas não estão presentes os sinais de isquemia. ● Neuropatia progressiva aguda: por exemplo por uma hérnia de disco, que faz uma compressão nervosa, levando à dor aguda e súbita, porém sem a presença de outros sinais de isquemia. ● Ergotismo ou injeção de drogas: fazem um vasoespasmo intenso, então existem sinais de isquemia, porém é passageiro. Embolia X Trombose: GRAVIDADE Varia de acordo com: ● Local da oclusão ● Trombose secundária ● Trombose venosa associada; ● Comorbidades; ● Espasmos arterial; ● Resistência dos tecidos à hipóxia CLASSIFICAÇÃO Quanto à viabilidade do Membro - Critérios de Rutherford: (disse que não costuma pedir em prova) ● O paciente categoria I tem o melhor prognóstico possível diante de uma isquemia arterial aguda, O categoria III é irreversível, e o tratamento é a amputação do membro. EXAMES LABORATORIAIS E DE IMAGEM Pede para todo mundo. ● Aumento de Hb e Ht - hipovolemia intravascular ● Aumento de CPK e DHL - necrose muscular ● Acidose metabólica ● Aumento de Potássio - falha da bomba, o K+ sai do meio intracelular e fica na circulação ● Trombocitopenia - trombose secundária e consumo dos fatores de coagulação ● Função renal alterada tardiamente - pode cursar com insuficiência renal ao eliminar os produtos provenientes da isquemia ● RX de tórax - importante para avaliar área cardíaca, vai contribuir na investigação da causa (na ICC há aumento da área cardíaca) ● ECG - também é importante na pesquisa da causa, vamos avaliar a existência de arritmias. DIAGNÓSTICO COMPLEMENTAR Não-invasivo: ● Dopplerfluxometria: auxilia no tratamento ○ Ausência ou presença de fluxo nas artérias distais ○ Fluxo venoso pode estar ausente nos casos mais graves ○ Índice de pressão tornozelo braquial ■ Normal: 1,00 ■ Claudicação: 0,4 - 0,8 ■ Dor em repouso: 0,2 - 0,4 ■ Úlcera/gangrena: 0,1 - 0,4 ■ Isquemia aguda inaudível ou 30-45 mmHg ● Outros: são mais importantes para pesquisa de etiologia ○ Ecodopples (Duplex-scan) ○ Ecocardiograma ○ TC de abdome ○ Angiorressonância ○ Angiotomografia Invasivo: ● Arteriografia Convencional ou Digital por Subtração: ○ Vai “desenhar” toda a árvore arterial: ■ Aspecto da oclusão ■ Aspecto dos vasos distais ■ Circulação colateral ○ Deve ser indicada em casos viáveis, selecionados de modo a não retardar o tratamento - vai auxiliar no planejamento cirúrgico ○ Padrão-ouro para diferenciação entre embolia e trombose: Obs: embora o modo de aparecimento e os efeitos secundários da insuficiência arterial aguda sejam semelhantes, o tratamento e prognóstico são diferentes, dependendo da etiologia. Obs 2: a gravidade da isquemia implica na decisão terapêutica. TRATAMENTO Conservador: ● É recomendado para os pacientes categoria I de Rutherford, e para aqueles muito idosos, com muitas comorbidades que provavelmente não conseguiriam passar pelo pós-operatório. ● Sem intervir no trombo ou êmbolo diretamente ● Mantém o tratamento com anticoagulação: ○ Pacientes graves com fatores de risco, como ICC ○ Pós-operatório recente de cirurgia de grande porte ○ Casos em que a isquemia é mínima Intervencionista: ● Pode ser por cirurgia aberta ou endovascular ● É recomendado para os casos de isquemia moderada ○ Pacientes classe I, nos casos em que o tratamento conservador foi descartado ○ Classe II de Rutherford Amputação Primária ● É a recomendação para os casos em que o membro é inviável - classe III de Rutherford. TRATAMENTO CLÍNICO/CONSERVADOR Medidas Gerais: ● Sedação e analgesia ○ Analgésicos comuns (dipirona) ou opióides (tramadol) ● Não puncionar veias nem colocar eletrodos no membro isquêmico, pois pode piorar a isquemia ● Proteção térmica da região afetada. ○ Aquecimento com algodão ortopédico. ○ Enfaixamento frouxo - não pode apertar porque piora a isquemia ○ Não colocar bolsas quentes ou similares - o paciente pode apresentar alterações neurológicas, podendo não sentir caso ocorra alguma lesão. ● Elevação da cabeceira e manutenção dos membros em proclive - melhora a isquemia inicialmente, porque a gravidade contribui com a circulação arterial ● Correção das complicações clínicas e doenças de base - tentar reverter a situação, pois pode ocorrer piora do DC e do fluxo sanguíneo. ● Hidratação endovenosa, para corrigir a desidratação prévia que ele pode apresentar. ● Sondagem vesical para monitorização do débito urinário - evitar evolução para IRA Tratamento Medicamentoso: ● Anticoagulação: Heparina Não Fracionada ○ Prevenção de trombose secundária e TVP. ○ Bolus venoso de 5.000 a 10.000UI. ● Vasodilatadores: são indicados apenas para pacientes compensados clinicamente, que não serão submetidos a procedimento cirúrgico - o uso é controverso em pacientes complicados devido a possibilidade de causar vasoespasmo, piorando a isquemia. TRATAMENTO INTERVENCIONISTA/CIRÚRGICO Cirurgia Aberta: ● Embolectomia: ○ É o procedimento recomendado nas embolias ○ É realizado com o cateter de Fogarty ○ O objetivo desse procedimento é retirar o coágulo: a gente transpassa o coágulo com o balão vazio, e quando ultrapassar ele inflamos o balão e puxamos o cateter para fora, restabelecendo o fluxo arterial. ● Tromboendarterectomia: ○ É o procedimento recomendado para a OAA por trombose ○ Abre a artéria, retira a placa de ateroma e o trombo entupindo a circulação. ● Pontes/Derivações: ○ É recomendado nas OAA por trombose com acometimento mais extenso ○ Consiste na revascularização por pontes venosas ■ Pode ser: aorto-ilíaca, aorto-femoral, ilíaco-femoral, femoro poplíteo supra, femoro poplíteo infra. Endovascular: ● Angioplastia ○ Colocação de stent ● Fibrinolítico locorregional + Tromboaspiração: ○ Indicada quando não há sinais ou sintomas de isquemia avançada e o paciente pode esperar 12-18h pelo restabelecimento do fluxo sanguíneo COMPLICAÇÕES NO PÓS-OPERATÓRIO ● IAM ● Arritmias ● Edema – síndrome compartimental (*) ● Lesões arteriais – 0,5-1% ● Reoclusão arterial ○ Tratar causa embólica ○ Corrigir lesão aterosclerórica de base ○ Reavaliar técnica cirúrgica ● Síndrome de isquemia - reperfusão ou mionefrotóxica ou Haimovici ou metabólica: acidose metabólica + hiperpotassemia + insuficiência respiratória e renal. (*) Síndrome Compartimental: ● O paciente faz um edema no local da cirurgia, com liberação de substâncias inflamatórias, nesse local foi feita uma revascularização. ● Conforme o edema aumenta, a musculatura incha, e vai encontrar a fáscia, que é inelástica, passando a comprimir as estruturas próximas, gerando uma nova isquemia ● Tratamento: Fasciotomia ○ A gente faz uma abertura na pele e fáscia,permitindo a herniação da musculatura. ○ O fechamento se dá por enxerto ou por cicatrização de segunda intenção. ● Quadro Clínico: o paciente encontrava-se bem, com boa recuperação no pós-cirúrgico, e de repente evolui com um quadro sugestivo de isquemia no membro operado - dor, palidez e frio - com endurecimento da região à palpação. RESULTADOS ● Mortalidade: ○ 7,5% - 41% (Trombose x Embolia: 8 x 20%). ○ Causas de morte: ■ Cardiopatias: ICC 60% (trombose) e IAM 50% (embolia). ■ Embolia pulmonar 20%. ● Taxa de amputação: 5% - 26%. ○ Maior quando o tempo de isquemia é > 6 horas. ○ Maior na embolia (taxa de salvamento de membros em média 74%). ○ Menor quando isquemia de membros superiores (taxa de salvamento de MMSS: 91 –100%).
Compartilhar