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Objetivos 1. Definir diarreia, e classificar os quadros diarreicos quanto a duração e mecanismos, exemplificando-os. REFERÊNCIA: FISIOPATOLOGIA – PORTH • DEFINIÇÃO A definição comum de diarreia é eliminação excessivamente frequente de fezes moles ou malformadas. A queixa de diarreia é inespecífica e pode estar relacionada com alguns fatores fisiológicos e patológicos. A diarreia pode ser aguda ou crônica e tem como causa agentes infecciosos, intolerância alimentar, fármacos ou doença intestinal. As diarreias agudas com menos de 4 dias de duração são causadas principalmente por agentes infecciosos e têm evolução autolimitada. → Diarreia aguda: A diarreia que começa subitamente e persiste por menos de 2 semanas geralmente é causada por agentes infecciosos (ver descrição da enterocolite infecciosa nos parágrafos anteriores). As diarreias agudas frequentemente são subdivididas em não inflamatórias (volumes grandes) e inflamatórias (volumes pequenos) com base nas características das fezes diarreicas. Patógenos entéricos causam diarreia por vários mecanismos. Alguns não são invasivos e não provocam inflamação, mas secretam toxinas que estimulam a secreção de líquidos. Outros invadem e destroem as células epiteliais e, deste modo, alteram o transporte de líquidos, de modo que a atividade secretória continua, mas a atividade absortiva é interrompida. A diarreia não inflamatória está associada à eliminação de fezes líquidas volumosas, mas sem sangue; cólicas periumbilicais, distensão abdominal por gases; e náuseas ou vômitos. Em muitos casos, esse tipo de diarreia é causado por bactérias que produzem toxinas (p. ex., S. aureus,94 E. coli enterotoxigênica, Cryptosporidium parvum, Vibrio cholerae) ou outros patógenos (p. ex., vírus, Giardia) que interrompem a absorção ou o processo secretório normal do intestino delgado. Vômitos abundantes sugerem enterite viral ou intoxicação alimentar por S. aureus. Embora geralmente seja branda, a diarreia (que se origina do intestino delgado) pode ser volumosa e causar desidratação com hipopotassemia e acidose metabólica (i. e., cólera). Como não há invasão dos tecidos, também não aparecem leucócitos nas fezes. A diarreia inflamatória geralmente se caracteriza por febre e diarreia sanguinolenta (disenteria). Esse tipo de diarreia é causado pela invasão das células intestinais (p. ex., Shigella, Salmonella, Yersinia e Campylobacter) ou toxinas associadas às infecções descritas antes por C. difficile ou E. coli. Como as infecções associadas a esses microrganismos afetam predominantemente o intestino grosso, as evacuações são frequentes, têm volume pequeno e estão associadas a cólicas no quadrante inferior esquerdo, urgência para defecar e tenesmo. A disenteria infecciosa deve ser diferenciada da colite ulcerativa aguda, que pode causar diarreia sanguinolenta, febre e dor abdominal. Diarreia que persiste por 14 dias não pode ser atribuída aos patógenos bacterianos (exceto C. difficile) e o paciente deve ser avaliado quanto a alguma outra causa de diarreia crônica. → Diarreia crônica: A diarreia é considerada crônica quando os sintomas persistem por 4 semanas ou mais. A diarreia crônica está associada frequentemente aos distúrbios como DII, SCI, síndromes de má absorção, doenças endócrinas (hipertireoidismo, neuropatia autônoma diabética) ou colite pós irradiação. Existem quatro grupos principais de diarreia crônica: conteúdo intraluminal hiperosmótico; aumento dos processos secretórios do intestino; doenças inflamatórias; e processos infecciosos. A diarreia factícia é causada pelo uso indiscriminado de laxantes ou pela ingestão excessiva de alimentos laxativos. Com a diarreia osmótica, a água é atraída para dentro do lúmen intestinal pela concentração hiperosmótica do seu conteúdo, a tal volume que o cólon não consegue reabsorver o excesso de líquido. Isso ocorre quanto partículas osmoticamente ativas não são absorvidas. Nos pacientes com deficiência de lactase, a lactose do leite não pode ser decomposta e absorvida. Os sais de magnésio no leite de magnésia e em alguns antiácidos não são bem absorvidos e causam diarreia quando são ingeridos em quantidades expressivas. Outra causa de diarreia crônica é a redução do tempo de trânsito, que interfere na absorção. Em geral, a diarreia osmótica regride com a suspensão da ingestão alimentar. A diarreia secretória ocorre quando os processos secretórios do intestino estão exacerbados. Esse tipo de diarreia também ocorre quando ácidos biliares em excesso permanecem no conteúdo intestinal à medida que chegam ao cólon. Isso acontece frequentemente com as doenças do íleo, porque os sais biliares são absorvidos neste segmento intestinal. Também pode ocorrer quando há proliferação bacteriana excessiva no intestino delgado, interferindo na absorção da bile. Alguns tumores (p. ex., síndrome de Zollinger-Ellison e síndrome carcinoide) produzem hormônios, que aumentam a atividade secretória do intestino. A diarreia inflamatória está associada comumente à inflamação aguda ou crônica, ou a uma doença intrínseca do intestino grosso, inclusive colite ulcerativa ou doença de Crohn. Em geral, a diarreia inflamatória evidencia-se por aumento da frequência e urgência das evacuações e dor abdominal em cólicas. Em muitos casos, as evacuações acompanham-se de tenesmo (i. e., esforço doloroso para evacuar), escapes de fezes nas roupas e despertamento durante a noite com desejo urgente de evacuar. Infecções parasitárias persistentes podem causar diarreia crônica por alguns mecanismos. Os patógenos associados mais comumente à diarreia crônica incluem os protozoários Giardia, E. histolytica e Cyclospora. Pacientes imunossuprimidos são especialmente suscetíveis aos agentes infecciosos que podem causar diarreias agudas e crônicas, inclusive Cryptosporidium, citomegalovírus (CMV) e complexo Mycobacterium aviumintracellulare. → Doença diarreica aguda em crianças: As causas da diarreia aguda em crianças variam com a localização geográfica, a época do ano e a população estudada. Hoje em dia, há uma percepção crescente de que tem ocorrido ampliação da gama de patógenos entéricos que causam diarreia aguda na população pediátrica. Os vírus são os patógenos que mais comumente causam doença diarreica na infância. Os rotavírus e os norovírus são patógenos isolados frequentemente. Outros vírus detectados nas fezes das crianças são astrovírus e adenovírus entéricos. Alguns desses patógenos são transmitidos facilmente pelos alimentos e pela água, ou de um paciente para outro. Prevenção ainda é a medida mais fundamental para controlar as doenças diarreicas infantis. Entre as medidas importantes para evitar disseminação dos patógenos estão técnicas higiênicas adequadas para o processamento e a preparação dos alimentos; suprimentos de água tratada; higiene adequada das mãos; afastamento dos pacientes infectados das atividades de manuseio de alimentos ou cuidados de saúde; e impedimento de que pacientes com diarreia utilizem águas recreativas públicas (i. e., piscinas, lagos e lagoas). REFERÊNCIA: Semiologia Médica – PORTO A diarreia é a manifestação mais comum das doenças do intestino delgado. É conceituada como o aumento do teor líquido das fezes, frequentemente associado ao aumento do número das evacuações e do volume fecal em 24 h. Pode ser decorrente dos seguintes mecanismos: • aumento da pressão osmótica do conteúdo intraluminal (diarreia osmótica). O acúmulo de substâncias não absorvíveis no intestino delgado pode determinar retardo da absorção de água e eletrólitos ou passagem de líquidos do meio interno para o lúmen intestinal. Este tipo de diarreia aparece quando há defeito na digestão ou na absorção de nutrientes, como se observa na síndrome de má absorção. • aumento da secreção de água e eletrólitos pela mucosa intestinal (diarreia secretora). Este mecanismo ocorre quando há estímulosà síntese de AMP cíclico intracelular, resultando em secreção ativa de água e eletrólitos pela mucosa do intestino delgado. Na diarreia por enterotoxinas bacterianas (Vibrio cholerae, Escherichia coli) e por alguns medicamentos (teofilina, prostaglandinas), este é o mecanismo responsável. • aumento da permeabilidade da mucosa intestinal (diarreia exsudativa). Alterações inflamatórias, neoplásicas ou isquêmicas na mucosa intestinal resultam em passagem anormal de líquidos do meio interno para o lúmen do intestino delgado. São exemplos a diarreia das doenças inflamatórias e dos linfomas difusos do intestino delgado. • alteração da motilidade do intestino delgado (diarreia motora). Este mecanismo ocorre quando há uma alteração capaz de modificar o padrão normal do trânsito no intestino delgado. São exemplos o hipertireoidismo e a diarreia funcional, condições nas quais o trânsito pelo intestino delgado é acelerado. É necessário certificar-se, em primeiro lugar, da própria existência da diarreia. Isto porque, em alguns casos, o aumento do teor de líquido das fezes pode não provocar mudanças exuberantes ou ser tão gradual que passa despercebido ao paciente. Em contrapartida, há condições nas quais ocorre o aumento do número das dejeções sem que haja aumento do teor de líquido das fezes, condição definidora da diarreia. Assim sendo, devem-se buscar na anamnese informações objetivas acerca do volume de cada evacuação, da frequência diária das mesmas e da consistência ou teor de líquido das fezes. Sempre que tiver oportunidade, o médico deve examiná-las pessoalmente. A determinação da duração do processo diarreico é muito útil, em especial para estabelecer o diagnóstico etiológico. As diarreias de poucos dias de duração apresentam, em geral, causas diferentes das crônicas. Os dados relativos ao volume, consistência e aspecto das fezes, bem como à frequência das evacuações, são fundamentais para que se conclua se há acometimento exclusivo ou predominante do intestino delgado. Nestes casos, as dejeções costumam ser volumosas e amolecidas, quando não francamente líquidas ou semilíquidas. O volume aumentado das fezes pode ser aparente, quer em cada evacuação, quer quando se calcula o volume de 24 h. Sua frequência está aumentada, mas dificilmente alcança a que se observa nas afecções inflamatórias das porções mais distais do intestino grosso. São comuns as modificações do aspecto das fezes, que podem estar mais claras, brilhantes, leves e espumosas. As evacuações podem se acompanhar da eliminação de grande quantidade de gases, o que confere um caráter "explosivo" às dejeções. Muitas vezes são precedidas de cólicas abdominais, de localização periumbilical, ou de dor difusa, a qual predomina no hemiabdome direito. São comuns os restos alimentares nas dejeções, sendo importante diferenciar os restos de alimentos normalmente não digeríveis, como os que contêm fibras vegetais, dos normalmente digeríveis. Restos não digeríveis são inespecíficos e nada mais indicam do que a liquefação das fezes, enquanto o reconhecimento de restos de alimentos normalmente digeríveis é uma forte evidência a favor de defeitos na digestão, levantando sempre a possibilidade de acometimento do intestino delgado. REFERÊNCIA: HARRISON A diarreia aguda é uma das principais causas de doença em todo o mundo e está associada a aproximadamente 1,4 milhão de morte por ano. Em crianças < 5 anos de idade, a diarreia só fica atrás das infecções respiratórias como causa mais comum de morte por infecção. A taxa de incidência de diarreia em crianças em países de baixa e média renda é estimada em 2,9 episódios por criança por ano, para um total de 1,7 bilhão de episódios anualmente. Sua morbidade também é significativa. Infecções intestinais recorrentes estão associadas a déficits físico e mental, perda de peso, deficiências de micronutrientes e desnutrição. Em resumo, a diarreia é um fator determinante de morbidade e mortalidade em todo o mundo. A ampla variedade de manifestações clínicas da doença gastrintestinal aguda está associada a um grande número de agentes infecciosos envolvidos, incluindo vírus, bactérias e parasitas. PATÓGENOS GASTRINTESTINAIS QUE CAUSAM DIARREIA AGUDA Mecanismo Localização Doença Achados nas fezes Exemplos dos patógenos envolvidos Não inflamatório (enterotoxinas) Intestino delgado proximal Diarreia aquosa Ausência de leucócitos fecais; ausência ou leve aumento da lactoferrina fecal Vibrio cholerae, Escherichia coli, E. coli, Clostridium perfringens, Bacillus cereus, Staphylococcus aureus, Aeromonas hydrophilia, etc. Inflamatório (invasão ou citotoxina) Cólon ou intestino delgado distal Disenteria ou diarreia inflamatória Leucócitos polimorfonucleares fecais; elevação importante da lactoferrina fecal Shigella spp. Salmonella spp. Campylobacter jejuni, E. coli, etc. Penetrante Intestino delgado distal Febre entérica Leucócitos mononucleares fecais Salmonella typhi, Y. enterocolitica REFERÊNCIA: Tratado de Gastroenterologia • DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO A diarreia é um sintoma/sinal caracterizado por dois componentes principais: aumento no número de evacuações (mais de três vezes ao dia) e diminuição da consistência. Um terceiro componente, o peso (mais de 200 g/dia), pode ser considerado, porém, é de difícil avaliação na clínica diária. As diarreias podem ser classificadas, basicamente, de duas maneiras: quanto ao tempo de evolução, em agudas e crônicas, e quanto à etiologia, em infecciosas e não infecciosas. A classificação quanto ao tempo é definida pela duração do sintoma, sendo consideradas diarreias agudas aquelas com duração de até 15 dias, e diarreias crônicas quando os sintomas duram mais de 30 dias. O intervalo entre 15 e 30 dias é considerado, por alguns, diarreia persistente, enquanto outros preferem classificar a diarreia que dura mais de 15 dias como crônica. Uma vez que o tempo é fator determinante das diarreias agudas e crônicas, toda diarreia crônica começa como um quadro de diarreia aguda, insidiosa ou exuberante, e, dependendo da regressão espontânea ou da resposta a medidas terapêuticas utilizadas, poderá se prolongar até caracterizar uma diarreia crônica. O agente/fator etiológico será indicativo da maior ou menor probabilidade de evolução crônica. Outra forma de classificação das diarreias, baseada no mecanismo fisiopatológico mais importante, separa- as em quatro tipos: osmóticas, secretoras, exsudativas e motoras. O quadro apresenta um resumo das classificações das diarreias. REFERÊNCIA: Tratado de Gastroenterologia e Cecil • CLASSIFICAÇÃO Existem diversas formas de classificar as diarreias. Todas são úteis e podem ser aplicadas simultaneamente para guiar uma abordagem diagnóstica racional (as diferentes classificações não são mutuamente exclusivas). A diarreia adequadamente classificada apresenta um número reduzido de etiologias possíveis... A primeira forma de classificar as diarreias faz referência a sua duração: 1- Diarreia aguda (< 2 semanas) 2- Diarreia protraída ou persistente (entre 2-4 semanas) 3- Diarreia crônica (> 4 semanas) A segunda forma de classificar as diarreias visa caracterizar se a origem é “alta” (delgado) ou “baixa” (cólon). Na diarreia “alta” (proveniente do intestino delgado), os episódios diarreicos são mais volumosos. Nos casos mais graves, a perda líquida pode ultrapassar 10 litros/dia, provocando choque hipovolêmico... O cólon saudável só consegue aumentar sua absorção de líquidos para um máximo de 4 litros/dia. Se o volume de fluido proveniente do delgado estiver acima desse valor, o paciente terá diarreia. É importante lembrar que, como o delgado é o responsável pela absorção dos nutrientes, a síndrome disabsortiva (ou síndrome de má absorção intestinal), associada à esteatorreia, pode ocorrer em alguns pacientesportadores de duodenojejunopatia. Caracteriza-se pela grande quantidade de fezes e, geralmente, normais ou pastosas. Desnutrição é frequente. Não há alívio da dor após evacuação. Na diarreia “baixa” (proveniente do cólon), as evacuações são em pouca quantidade, mas muito frequentes e ainda associadas a tenesmo (desconforto ao evacuar) e urgência fecal, sintomas clássicos de irritação do reto. Se o problema for exclusivo do cólon, o total de líquido eliminado não excede 1,5 litros. É comum presença de sangue e muco nas fezes. Raramente há desnutrição associada. Alívio da dor após evacuação. Características da apresentação Intestino Delgado Intestino Grosso Número de Evacuações Pouca Grande Volume das fezes e consistência Grande e fezes normais ou pastosas Pequena e fezes líquidas não consistentes Coloração das fezes Normal ou brilhante Normal Puxo e Tenesmo Não Sim Urgência para evacuação Rara Frequente Dor abdominal Periumbilical e/ou dor na FID Dor localizada na FIE Alívio da dor após evacuação Não Sim Muco Não Sim Sangue nas fezes Raro Comum Resíduos alimentares visíveis Frequente Raro Desnutrição associada Frequente Raro A terceira forma de classificar as diarreias enfoca o mecanismo fisiopatológico das mesmas, permitindo a divisão em 5 grandes grupos: 1. Diarreia Osmótica Existe alguma substância osmoticamente ativa e não absorvível pelo epitélio intestinal. O que isso quer dizer? Em termos práticos, significa que uma quantidade maior de água obrigatoriamente será retida na luz do tubo digestivo (equilibrando a osmolalidade de seus conteúdos inabsorvíveis com a do meio extracelular, a qual está em torno de 290 mOsm/L). Tanto o delgado quanto o cólon não são capazes de sustentar um gradiente osmótico, e por isso não conseguem evitar que o equilíbrio entre os dois lados da mucosa seja atingido! Aproximadamente 3,5 litros de água são perdidos para cada 1 mOsm de aumento na osmolalidade intraluminal... Principais exemplos: ingestão ou clister de sais de magnésio, sais de fosfato, sorbitol, manitol, glicerina, lactulose; deficiência de lactase (intolerância à lactose), forma primária ou secundária às enteropatias (lesão da borda em escova dos enterócitos); diarreia dos antibióticos. A deficiência de lactase é o principal exemplo da “diarreia dos carboidratos”, de mecanismo osmótico. Além da diarreia, o paciente apresenta um grande acúmulo de gás intestinal, provocando cólica abdominal e intensa flatulência, pela fermentação bacteriana no cólon. A fermentação dos carboidratos produz ácidos graxos de cadeia curta (acetato, propionato, butirato), gerando fezes ácidas (pH fecal < 5,5). A “diarreia dos antibióticos” geralmente é leve e explicada na maioria das vezes pela redução da flora colônica, prejudicando a metabolização dos carboidratos (que não foram absorvidos no delgado) em ácidos graxos de cadeia curta que seriam prontamente absorvidos pelo cólon. A sobra desses carboidratos provoca um efeito osmótico no lúmen colônico, explicando a diarreia. A diarreia osmótica cessa completamente com o estado de jejum, logo, não há diarreia noturna, ao contrário das diarreias secretórias! A suspensão da substância incriminada – por exemplo: lactose na deficiência de lactase – também melhora rapidamente o quadro. Como a absorção de eletrólitos está intacta nas diarreias osmóticas, a quantidade de sódio e potássio tende a ser reduzida nas fezes. Por causa disso, observamos um gap osmolar fecal elevado (> 125 mOsm/L). Este parâmetro é calculado pela fórmula: 290 – 2 x (Na + K), que utiliza a dosagem do sódio e potássio fecal – ver adiante. Diarreia aquosa pode ser decorrente de alteração osmótica, secretora, ou mecanismos inflamatórios. Com a ingestão do pouco absorvido (p. ex., Mg2+) ou não absorvível (polietileno glicol, lactulose ou, em indivíduos deficientes em lactase, lactose) de soluto, a força osmótica do soluto puxa a água e secundariamente os íons de sódio e cloreto para o lúmen intestinal. Uma proporção considerável da osmolalidade das fezes resulta de solutos não absorvidos. Esse hiato entre a osmolalidade fecal e a soma dos eletrólitos nas fezes causa a diarreia osmótica (CECIL). 2. Diarreia Secretória não Invasiva Algum fator, geralmente uma toxina, droga ou substância neuro-hormonal, está estimulando a secreção ou inibindo a absorção hidroeletrolítica pelo epitélio intestinal. Pode ser uma diarreia “alta” ou “baixa”, ou as duas ao mesmo tempo. Principais exemplos: laxativos estimulantes (fenoftaleína, bisacodil), bactérias produtoras de toxinas (cólera), VIPoma, síndrome carcinoide, diarreia dos ácidos biliares e diarreia dos ácidos graxos. A “diarreia dos ácidos biliares” acontece toda vez que estas substâncias atingem o cólon, o que pode ser decorrente de sua absorção parcial no íleo (doença ileal leve a moderada), ou do lançamento súbito de uma grande quantidade dessas substâncias no TGI, excedendo a capacidade absortiva ileal (diarreia pós-vagotomia troncular, diarreia pós-colecistectomia). Uma vez no lúmen colônico, os ácidos biliares provocam secreção de cloreto e água e, portanto, diarreia, que melhora quase sempre com o uso da colestiramina, um quelante de ácidos biliares. Lembre-se que os ácidos biliares são reabsorvidos exclusivamente no íleo... A “diarreia dos ácidos graxos” ocorre nos estados mais acentuados de má absorção de lipídios e no supercrescimento bacteriano. Os ácidos graxos (exceto os de cadeia curta) são hidroxilados pelas bactérias colônicas, tornando-se substâncias secretórias. A diarreia secretória não cessa com o jejum e possui um gap osmolar fecal baixo (< 50 mOsm/L), pela riqueza de Na e K nas fezes. 3. Diarreia Invasiva ou Inflamatória Decorrente da liberação de citocinas e mediadores inflamatórios por lesão direta da mucosa intestinal (enterite, colite ou enterocolite), o que estimula a secreção intestinal e o aumento da motilidade. O marco deste tipo de diarreia é a presença de sangue, pus e muco nas fezes, podendo ser chamada de disenteria. Pode ser infecciosa ou não infecciosa (ex.: doença inflamatória intestinal). O exame que avalia a presença de sangue, pus e muco nas fezes é o EAF (Elementos Anormais nas Fezes). A lactoferrina fecal (marcador de ativação leucocitária) também está aumentada nas disenterias. Diarreias inflamatórias, que podem ser aquosas ou com presença de sangue, caracterizam-se por lesão e morte de enterócitos, atrofia das vilosidades e hiperplasia das criptas. A membrana danificada do enterócito do intestino delgado diminui a atividade da hidrolase dissacaridase e peptídeo hidrolase, com redução ou ausência dos mecanismos de transporte de açúcares ou aminoácidos ligados ao Na+ e redução ou ausência de transportadores de absorção de cloreto de sódio. Por outro lado, as criptas hiperplásicas preservam sua capacidade de secretar Cl- (e talvez HCO3 -). Se a Inflamação for grave, a lesão vascular imunomediada ou a ulceração permite a perda de sangue, pus e extravasamento de proteína (exsudato) dos capilares e linfáticos, o que contribui para a diarreia. A ativação de linfócitos, fagócitos e fibroblastos liberam vários mediadores inflamatórios que induzem a secreção de cloreto intestinal. lnterleucina-1 (IL) e TNF também são liberados no sangue, causando febre e mal-estar. (CECIL) 4. Diarreia + Esteatorreia (Síndrome disabsortiva) A presença de esteatorreia (aumento da eliminação fecal de lipídios) sempre tem origem numa doença do intestino delgado. Principais exemplos: doença celíaca, espru tropical, doença de Crohn, doença de Whipple, giardíase, estrongiloidíase, linfangiectasia, linfoma intestinal. O mecanismo da diarreia na síndrome disabsortiva inclui o mecanismo secretório colônico (“diarreia dos ácidos graxos”), o mecanismo osmótico da má absorção de carboidratos dissacarídeos (deficiência secundária de lactase) e, em menorgrau, a própria massa lipídica fecal. 5. Diarreia Funcional Causada pela hipermotilidade intestinal. Os principais exemplos são a síndrome do intestino irritável (pseudodiarreia) e a diarreia diabética (neuropatia autonômica). Por fim, uma forma muito útil de abordar as diarreias é classificá-las de acordo com fatores de risco conhecidos (classificação epidemiológica). Isso pode poupar tempo e direcionar a pesquisa diagnóstica para o agente etiológico com maior probabilidade de ser o responsável pelo quadro. 2. Caracterizar as diarreias agudas, quanto a: • Epidemiologia REFERÊNCIA: Cartilha do Ministério da Saúde sobre Doença Diarreica Aguda (DDA) Situação epidemiológica das doenças diarreicas agudas (diarreia aguda) Os casos individuais de DDA são de notificação compulsória em unidades sentinelas para monitorização das DDA (MDDA). O principal objetivo da Vigilância Epidemiológica das Doenças Diarreicas Agudas (VE-DDA) é monitorar o perfil epidemiológico dos casos, visando detectar precocemente surtos, especialmente os relacionados a: acometimento entre menores de cinco anos; agentes etiológicos virulentos e epidêmicos, como é o caso da cólera; situações de vulnerabilidade social; seca, inundações e desastres. Os casos de DDA são notificados no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica das DDA (SIVEP_DDA) e o monitoramento é realizado pelo acompanhamento contínuo dos níveis endêmicos para verificar alteração do padrão da doença em localidades e períodos de tempo determinados. Diante da identificação de alterações no comportamento da doença, deve ser realizada investigação e avaliação de risco para subsidiar as ações necessárias. Segundo a Organização Mundial de Saúde, as doenças diarreicas constituem a segunda principal causa de morte em crianças menores de cinco anos, embora sejam evitáveis e tratáveis. As DDA são as principais causas de morbimortalidade infantil (em crianças menores de um ano) e se constituem um dos mais graves problemas de saúde pública global, com aproximadamente 1,7 bilhão de casos e 525 mil óbitos na infância (em crianças menores de 5 anos) por ano. Além disso, as DDA estão entre as principais causas de desnutrição em crianças menores de cinco anos Nesse cenário diversificado das regiões do país, relacionado ao desenvolvimento socioeconômico, às condições de saneamento, ao clima e às situações adversas, como os desastres, ocorrem anualmente, mais de 4 milhões de casos e mais de 4 mil óbitos por DDA, registrados por meio da vigilância epidemiológica em unidades sentinelas e pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). (VER SLIDE) REFERÊNCIA: Perfil Epidemiológico e Análise Espaço-Temporal dos óbitos por Diarreia e Gastroenterite em crianças e adolescentes no Brasil – 2020 A presente pesquisa configura-se como estudo ecológico, cujos dados foram coletados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), referentes às faixas etárias compreendidas entre < 1 ano a 19 anos e às variáveis sexo, cor/raça, escolaridade e estado civil. Utilizou-se estatística descritiva e cálculo da taxa de mortalidade proporcional. Encontrou-se como resultados o registro de 7.813 óbitos no período e uma redução numérica de 51,6% ao comparar-se os resultados de 2008 e de 2016. A Região Nordeste somou o maior quantitativo de óbitos (47,7%) e também apresentou a diminuição numérica mais significativa no período, de 69,5%. Destacaram-se o sexo masculino (55,9%), cor/raça parda (48,4%), faixa etária de < 1 ano (67,1%) e subnotificações em 93,9% e 93,2% dos dados referentes à escolaridade e estado civil, respectivamente. Com isso, observou-se que houve uma importante redução do número de mortes devido às doenças diarreicas no país, entretanto os maiores números ainda se concentram em regiões específicas, possivelmente devido aos baixos índices socioeconômicos-culturais. Ademais, ressalta-se que o conhecimento dessas informações e das características populacionais mais acometidas por essa condição pode nortear o desenvolvimento de políticas públicas e de saúde mais adequadas à realidade nacional. REFERÊNCIA: Fatores de risco para ocorrência de diarreia em crianças residentes na Ilha de Guaratiba (RJ) – SCIELO – 2020 Em todo o mundo, a diarreia aguda representa uma doença de alta morbimortalidade, especialmente nos países em desenvolvimento. Entre as faixas etárias mais suscetíveis à doença encontram-se as crianças de até 5 anos de idade. Relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) aponta que, em 2017, 8% da mortalidade, equivalentes a 448 mil crianças com menos de 5 anos morreram devido à diarreia no mundo. No Brasil, foram contabilizados 218.012 indivíduos internados por essa doença em 2018, sendo 36,2% deste total compostos por crianças menores de 5 anos. A ocorrência da doença diarreica engloba um conjunto de fatores relacionados tanto a condições de saúde individual quanto a determinantes sociais, econômicos, culturais e ambientais. Entre estes fatores, a doença está associada, sobretudo, a condições de habitação precárias e saneamento inadequado com impacto negativo no ambiente, causando a contaminação do solo e de mananciais hídricos que favorecem a transmissão de doenças infecciosas, entre elas, a diarreia. REFERÊNCIA: Informativo Epidemiológico julho de 2019 – Vigilância Epidemiológica Em 2017, foram registrados sete óbitos por doenças diarreicas, no DF, correspondendo a 0,9% do total de óbitos em menores de cinco anos (757) e em 2018, foram quatro óbitos, o que correspondeu a 0,5% do total de óbitos na mesma faixa etária (745). Em relação à notificação de surtos de doenças transmitidas por alimentos – DTA, no período, foram notificados 33 surtos e investigados 14 (42,4%). Do total de 442 pessoas expostas, 246 (55,7%) apresentaram algum sintoma gastrointestinal (doentes). Dos que ficaram doentes, 30 (12,2%) precisaram de atendimento médico em unidade de saúde, 145 (58,9%) eram do sexo feminino e 101 (41,1%) eram do sexo masculino, 83 (33,7%) na faixa etária de 20 a 49 anos. Dos 14 surtos investigados, cinco (35,7%) ocorreram em restaurantes/lanchonetes/padaria. No período não ocorreram casos graves e nenhum óbito foi registrado. Não foram coletadas amostras clinicas e nem bromatológicas. • Etiologia REFERÊNCIA: Tratado de Gastroenterologia A etiologia das diarreias infecciosas e não infecciosas é extremamente variável, tendo, cada uma, características fisiopatogênicas e clínicas específicas. A seguir, são descritas as características epidemiológicas, fisiopatológicas e clínicas das diarreias infecciosas: → Vírus: inúmeros agentes virais podem desencadear quadros diarreicos. Há, no entanto, um grupo que tem predileção pelo tubo digestivo. São transmitidos por água contaminada ou de uma pessoa para outra, estando associados a surtos epidêmicos. Os mais prevalentes são o rotavírus e o norovírus. A fisiopatologia das alterações intestinais ainda é mal compreendida, porém, sugere-se um possível efeito de proteína viral como enterotoxina. Outro agente viral, o citomegalovírus, consiste também em uma infecção prevalente em todo o mundo, a qual é usualmente sintomática apenas em indivíduos imunocomprometidos. As diarreias virais manifestam-se em um contexto de gastroenterite aguda, com fezes aquosas, tendo como característica importante a presença de vômitos, com duração habitualmente curta (máximo de 72 horas). A infecção pelo citomegalovírus pode se apresentar, no entanto, como forma persistente (entre 15 e 30 dias) e disentérica. → Bactérias: são a segunda causa mais frequente das diarreias agudas, após os vírus. As características individuais das mais prevalentes são: - Campylobacter: bactéria Gram-negativa, em espiral, que pode se apresentar sob a forma cocoide quando em ambiente hostil. A espécie mais frequentemente associada a gastroenterites é o Campylobacter jejuni, seguida pelo Campylobactercoli. Os fatores de risco mais importantes são a ingestão de água e alimentos (aves domésticas) contaminados. Nos países em desenvolvimento, o contato com animais é outro fator de risco importante. A enterite secundária à infecção pelo Campylobacter tem período de incubação de 2 a 5 dias e é, quase sempre, autolimitada, raramente exigindo abordagem terapêutica específica. Manifesta-se por febre, dores abdominais em cólica e diarreia, com duração habitual do quadro diarreico de 2 a 3 dias. A dor abdominal pode se prolongar por mais alguns dias. O aspecto das fezes varia de aquoso a sanguinolento, dependendo da intensidade da infecção e do tempo de enfermidade. Uma característica importante é a possibilidade de desencadear a síndrome de Guillain-Barré, o que acontece em 1 de cada 1.000indivíduos infectados. - Clostridium difficile: bactéria Gram-positiva, responsável por 15 a 20% dos casos de diarreia secundária ao uso de antibióticos e de praticamente todos os casos de colite pseudomembranosa. Inicialmente considerado microrganismo habitualmente presente no intestino de indivíduos saudáveis. Em estudo sobre sua prevalência nessa população, entretanto, foi demonstrado em menos de 3% desses indivíduos. É ingerida na forma de esporos e, se encontra microbiota alterada pelo uso de antibióticos ou outros fatores, converte-se na forma vegetativa. Produz toxinas (A e B) que provocam aumento da permeabilidade intestinal e destruição das células epiteliais colônicas. Manifesta-se sob a forma de diarreia aquosa em indivíduos com história de uso recente de antibióticos (3 ou mais dias). Pode ser grave o suficiente para por em risco a vida do paciente. - Clostridium perfringens: bactéria Gram-positiva, anaeróbica, geralmente em forma de esporos. É abundante no meio ambiente, ocorrendo com frequência no intestino humano. Transmitida, geralmente, por alimentos contaminados, como carnes e maioneses. Bloqueia a absorção de água através de enterotoxinas, provocando diarreia aquosa. - Escherichia coli: bastonete Gram-negativo, não formador de esporos, flagelado. Em relação às manifestações abordadas neste capítulo, interessa a E. coli diarreiogênica, que inclui cinco diferentes sorotipos com características patogênicas individuais: enteroinvasiva (EIEC), enterotoxigênica (ETEC), enteroagregante (EAEC), enteropatogênica (EPEC) e entero-hemorrágica (EHEC). É transmitida por alimentos e água contaminados com fezes humanas ou de animais, raramente podendo ocorrer transmissão pessoa a pessoa. Atuam por meio da produção de enterotoxinas, que estimulam a secreção de cloro e reduzem a absorção de sódio, e de citotoxinas, que agridem o epitélio intestinal, alterando sua estrutura. As características da diarreia dependem do sorotipo. A diarreia aquosa está associada à infecção pelos sorotipos EPEC, ETEC e EAEC, ao passo que os sorotipos EIEC e EHEC causam disenteria. A EHEC produz a toxina Shiga, que pode causar complicações sistêmicas graves, incluindo síndrome hemolítico-urêmica. - Salmonella: bastonete Gram-negativo, transmitido por ovos, aves domésticas, leite e outros alimentos contaminados. A S. typhimurium está intimamente relacionada com gastroenterites, enquanto a S. typhi está mais relacionada a efeitos sistêmicos tóxicos (febre tifoide). Produz enterotoxinas que estimulam secreção de cloro, e invadem a mucosa, ativando eventos inflamatórios. Manifesta-se inicialmente por diarreia aquosa, seguida de diarreia sanguinolenta. Na infecção pela S. typhi, a diarreia é o evento menos importante, uma vez que os eventos sistêmicos são proeminentes e podem ser graves. - Shigella: bastonete Gram-negativo, transmitido por via fecal-oral e por meio de alimentos e água contaminados. Produz enterotoxina potente, além de penetrar nas células colônicas, provocando degeneração do epitélio e inflamação da lâmina própria, o que resulta em descamação e ulceração. Os sintomas surgem após um período de incubação de um a dois dias. A fase inicial, de enterite, manifesta-se por diarreia aquosa, seguida por colite, com diarreia mucossanguinolenta. - Staphylococcus: coco Gram-positivo. A diarreia causada por esse microrganismo está relacionada à contaminação de alimentos e produção de toxina termoestável, cuja ingestão causa diarreia e vômitos. Os sintomas surgem 2 a 8 horas após a ingestão e tendem a regredir espontaneamente em até 48 horas. As fezes apresentam aspecto aquoso. - Vibrio cholerae: bacilo Gram-negativo, com flagelo polar, transmitido principalmente por água contaminada. Provoca diarreia por meio de uma potente toxina que estimula o AMP cíclico, ocasionando a redução da absorção de sódio e a secreção de cloreto. A diarreia secundária a essa infecção é aquosa, extremamente volumosa e coloca a vida do paciente em risco por desidratação. - Yersinia enterocolitica: bacilo Gram-negativo. Responsável por quadros de diarreia aguda, linfadenite mesentérica, ileíte terminal e pseudoapendicite. Transmitido por leite cru, água e alimentos contaminados, vegetais crus e de animais para pessoas. A diarreia é usualmente aquosa, porém, pode ser sanguinolenta nos casos severos. Os vômitos podem estar presentes em 10% a 40% dos casos. → Fungos: - Candida Albicans: fungo comensal, presente habitualmente no trato gastrointestinal. Torna-se patogênico em situações específicas que envolvem imunodepressão, uso de corticosteroides e uso de antibióticos. Possivelmente causa diarreia por inibição da lactase. Produz enzima proteolítica que degrada a mucina. A diarreia secundária a essa infecção é aquosa e, às vezes, explosiva. → Protozoários: - Cryptosporidium: transmitido por meio da ingestão de oocistos presentes em água e alimentos contaminados, podendo ser transmitido também de uma pessoa para outra e de um animal para uma pessoa. Tem ação predominantemente secretora, mas pode se associar a atrofia vilositária e infiltrado inflamatório da lâmina própria. Desencadeia diarreia aquosa, que pode ser prolongada. - Giardia lamblia: protozoário flagelado, binucleado, é um dos parasitas intestinais mais comuns em todo o mundo. Sua transmissão ocorre a partir da ingestão de cistos em água contaminada, podendo ser transmitido de uma pessoa para outra em lugares com más condições de higiene. A patogênese ainda não é completamente entendida, mas sabe-se que pode provocar destruição da borda em escova das células epiteliais, assim como induzir resposta imune do hospedeiro. Infestações maciças podem resultar em má absorção, tanto pelas lesões da mucosa como, em algumas situações, pelo impedimento mecânico da absorção de nutrientes provocada pelo revestimento da mucosa em decorrência da enorme quantidade do protozoário. A apresentação clínica varia de ausência de sintomas a diarreia aquosa. Pode se tornar crônica, causando má absorção e perda de peso. - Entamoeba histolytica: espécie patogênica do gênero Entamoeba, é transmitida por meio da ingestão de cistos maduros a partir de água, alimentos ou mãos contaminadas. Produz enzimas proteolíticas que provocam ulcerações, hemorragia e, até mesmo, perfuração. A infestação por esse protozoário pode não ter qualquer manifestação clínica aparente, mas pode se manifestar como quadro de amebíase invasiva intestinal, com colite disentérica, apendicite, megacólon tóxico e ameboma, e extraintestinal (peritonite, abscesso hepático e outras). → Nematoide: - Strongyloides stercoralis: a infestação por esse helminto acontece por meio da penetração de larvas filariformes através da pele. Em situações especiais, como constipação intestinal, alterações da motilidade intestinal e moléstia diverticular dos cólons, a permanência da larva rabditiforme por tempo prolongado no intestino pode favorecer sua evolução para larvas filariformes, iniciando um ciclo de infestação interna, a autoinfecção. Essa condição pode estar exacerbada em indivíduos imunocomprometidos,o que pode ocasionar hiperinfecção, quadro clínico grave, frequentemente fatal. As diarreias não infecciosas são também secundárias a um sem número de etiologias diferentes. REFERÊNCIA: Gastroenterologia Pediátrica Diarreia determinada por vírus Rotavírus, adenovírus entérico, astrovírus, calicivírus (norovírus, sapovírus) e outros levam à diarreia por mecanismo semelhante. Há, basicamente, aumento de solutos no lúmen intestinal por diminuição de digestão e absorção pelo enterócito maduro lesado. Células renovadas são imaturas, com redução da atividade das dissacaridases, da absorção de glicose e, às vezes, em casos graves, da absorção de sódio acoplado à glicose. Esse é o mecanismo principal, osmótico, causador de diarreia por vírus; mecanismo secundário, secretor, é determinado pela proteína viral NSP4. A patogenia básica pode ser resumida em: •Evento inicial: invasão do enterócito maduro na vilosidade intestinal •Efeito na mucosa intestinal: lesão do enterócito •Mecanismo patogênico principal: renovação do epitélio com células imaturas com má absorção de di e monossacarídios, em graus variados •Mecanismo patogênico secundário: proteína viral NSP4, ocasionando secreção. Aparecimento de diarreia, na maioria dos casos, líquida, volumosa, sem sangue, dá-se após período de sinais prodrômicos, febre e vômito. Pela fisiopatologia vemos que ela se instala depois e em consequência, principalmente, de lesão do enterócito em diferentes graus. À medida que o epitélio se recupera e amadurece o quadro se autolimita. Diarreia determinada por bactérias Bactérias promovem diarreia por diversos mecanismos, mas todos eles iniciados pela sua aderência à mucosa intestinal. Sem aderência não há doença diarreica. Resumimos a patogenia dividindo as bactérias em três grupos. Algumas têm modos de produção de diarreia ainda pouco conhecidos e outras atuam por mais de um mecanismo. Grupo I •Evento inicial: aderência (sempre necessária) •Efeito na mucosa intestinal: célula epitelial intacta •Mecanismo patogênico principal: produção de enterotoxinas com aumento das concentrações de cAMP e/ou GMPc, aumentando secreção •Bactérias que assim agem: Vibrio cholerae, Escherichia coli enterotoxigênica. Não há lesão do enterócito, apenas há aderência da bactéria com produção de enterotoxinas. Por isso não existem pródromos. Vômito e febre são secundários à desidratação pela diarreia líquida e volumosa. Não há sinais sistêmicos prévios porque a bactéria fica no lúmen intestinal. Grupo II •Evento inicial: aderência (sempre necessária) •Efeito na mucosa intestinal: lesão do epitélio em graus variáveis •Mecanismos patogênicos: (a) alteração da borda em escova; (b) citotoxicidade; (c) invasão celular •Bactérias que agem assim: (a) Escherchia coli enteropatogênica, Escherichia coli enteroaderente, Escherichia coli enteroagregativa; (b) Clostridium difficile, Escherichia coli êntero-hemorrágica; (c) Shigella, Escherichia coli enteroinvasiva. Quanto mais profunda a penetração da mucosa pelo patógeno, mais intensos serão os sinais anteriores à diarreia (com febre e vômito antes da desidratação). Como sinal desta invasão, aparecem células do sangue nas fezes (leucócitos e hemácias) e piócitos. Grupo III •Evento inicial: aderência (sempre necessária) •Efeito na mucosa intestinal: invasão da mucosa •Mecanismo patogênico principal: (a) penetração da mucosa, lâmina própria e linfonodos mesentéricos; (b) infecção generalizada •Bactérias que agem assim: (a) Salmonella não tifoide, Escherichia coli enteroinvasiva, Yersinia enterocolitica, Campylobacter jejuni; (b) Salmonella typhi, Salmonella paratyphi. Nesse grupo a infecção não se restringe ao sistema digestório, manifestações sistêmicas são mais intensas e ocorrem antes da diarreia. De acordo com as condições de defesa do paciente, as bactérias podem ser mais invasivas, com mudança do grupo II para o grupo III. Condições de defesa, imunológicas ou não, interferem, também, na autolimitação da diarreia aguda, além das propriedades do microrganismo envolvido. Diarreia determinada por protozoários Protozoários (Giardia lamblia, Entamoeba histolytica, Cryptosporidium) lesam o intestino com inflamação, por mecanismos diversos. Intensidade e duração do quadro dependem da capacidade imunológica do paciente. Figura 56.3 Mecanismos de produção de diarreia aguda por bactérias: 1. evento inicial; 2. efeito na mucosa intestinal; 3. mecanismo patogênico principal; 4. agentes. Quadro clínico O quadro clínico varia de acordo com o agente, como visto na fisiopatologia. Vírus e bactérias invasivas iniciam o quadro com pródromos, como febre e vômito, em graus variáveis. Nesses, o organismo toma conhecimento do agente antes da diarreia, pois não ficam restritos ao lúmen intestinal. Podem abrir o quadro com febre alta e até convulsões, como nas shigeloses. Apenas depois, são seguidos por diarreia sem sinais de invasão, no caso de vírus, e com sinais de invasão, no caso das bactérias que levam à disenteria. Bactérias não invasivas geralmente não apresentam pródromos. Ficam restritas ao lúmen intestinal e o organismo não toma conhecimento delas. Febre e vômito são secundários à desidratação e melhoram com o controle dela. O mais importante na avaliação clínica é verificar o estado de hidratação do paciente, o que norteará a parte mais importante do tratamento: a manutenção da hidratação ou a reidratação. • Fisiopatologia (relação de cada agente com o hospedeiro) REFERÊNCIA: Cecil 24ª edição A diarreia é decorrente, principalmente, de alterações de líquido intestinal e transporte de eletrólitos e menos de alteração muscular. A cada 24 horas, 8 a 10 L dos fluidos entram no duodeno. A dieta fornece 2 L desse líquido; o restante provém das secreções salivar, gástrica, hepática, pancreática e duodenal. Normalmente, o intestino delgado absorve 8 a 9 L desse líquido, apresentando 1,5 L ao cólon para absorção. Do fluido restante, o cólon absorve todos, restando aproximadamente 100 mL. A diarreia pode ser resultado de uma secreção aumentada pelo intestino delgado ou cólon quando a capacidade máxima diária absortiva do cólon (4 L) é excedida. Por outro lado, se o cólon é doente de modo a não poder absorver até mesmo 1,5 L normalmente apresentado pelo intestino delgado, resulta em diarreia. Diarreia aquosa pode ser decorrente de alteração osmótica, secretora, ou mecanismos inflamatórios. Com a ingestão do pouco absorvido (p. ex., Mg2++) ou não absorvível (polietileno glicol, lactulose ou, em indivíduos deficientes em lactase, lactose) de soluto, a força osmótica do soluto puxa a água e secundariamente os íons de sódio e cloreto para o lúmen intestinal. Uma proporção considerável da osmolalidade das fezes resulta de solutos não absorvidos. Esse hiato entre a osmolalidade fecal e a soma dos eletrólitos nas fezes causa a diarreia osmótica. A secreção de cloreto que ativa ou inibe a absorção de sódio, que também cria um gradiente osmótico favorável para a circulação de fluidos a partir de sangue para a luz, explica a fisiopatologia das diarreias secretoras. Agentes que aumentam o monofosfato cíclico de adenosina (cAMP) (p. ex., a toxina da cólera, prostaglandinas), monofosfato cíclico de guanosina (cGMP) (p. ex., Escherichia coli toxina estável), ou o cálcio ionizado intracelular (Ca2++) (p. ex., a acetilcolina) inibem a absorção de nutriente não Na++ e estimulam a secreção de Cl−. Diarreias inflamatórias, que podem ser aquosas ou com presença de sangue, caracterizam-se por lesão e morte de enterócitos, atrofia das vilosidades e hiperplasia das criptas. A membrana danificada do enterócito do intestino delgado diminui a atividade da hidrolase dissacaridase e peptídeo hidrolase, com redução ou ausência dos mecanismos de transporte de açúcares ou aminoácidos ligados aoNa++ e redução ou ausência de transportadores de absorção de cloreto de sódio. Por outro lado, as criptas hiperplásicas preservam sua capacidade de secretar Cl– (e talvez HCO3-). Se a inflamação for grave, a lesão vascular imunomediada ou a ulceração permite a perda de sangue, pus e extravasamento de proteína (exsudato) dos capilares e linfáticos, o que contribui para a diarreia. A ativação de linfócitos, fagócitos e fibroblastos liberam vários mediadores inflamatórios que induzem a secreção de cloreto intestinal. Interleucina-1 (IL) e fator de necrose tumoral também são liberados no sangue, causando febre e mal-estar. • Quadro clínico (correlacionar com o agente etiológico) Aproximadamente 80% das diarreias agudas se devem a infecções por vírus, bactérias, helmintos e protozoários. O restante é decorrente de medicações que têm um efeito osmótico, estimulam a secreção de fluido intestinal ou contêm açúcares mal ou não absorvíveis (p. ex., sorbitol) ou, menos comum, de impactação fecal, inflamação pélvica (p. ex., apendicite aguda), ou isquemia intestinal. Diarreia Esporádica de Origem Alimentar e Diarreia Infecciosa Originada da Água A maioria das diarreias infecciosas é adquirida por meio da transmissão fecal-oral pela água, alimentos, ou contato interpessoal. Os pacientes com diarreia infecciosa muitas vezes se queixam de náuseas, vômitos e cólicas abdominais associados à má absorção ou diarreia aquosa, sanguinolenta (disenteria) e febre. Conforme documentado por meio de métodos diagnósticos usando a reação em cadeia de polimerase, quase todos os surtos de gastroenterite aguda não bacteriana nos Estados Unidos e em outros países são causados por norovirus. O rotavírus causa diarreia predominantemente em bebês, na maioria das vezes nos meses de inverno; mas também pode causar diarreia aguda não sazonal em adultos, particularmente em idosos. Os mecanismos da diarreia são a diminuição da absorção de líquido, provocada pela destruição de enterócitos nas vilosidades, estimulação da secreção de líquido pela rotatoxina NSP4 e ativação viral do sistema nervoso entérico. Intoxicações Ambiental e Alimentar A cadeia alimentar na passagem de outras espécies dinoflageladas (Gambierdiscus toxicus) para a barbatana dos peixes (cavala, olho de boi, vermelho, garoupa ou barracuda) resulta no acúmulo de ciguatoxina que causa uma intoxicação por frutos do mar, chamada ciguatera. A ciguatoxina ativa os canais de sódio sensíveis à voltagem e causa sintomas neurológicos e gastrointestinais. Os peixes do estuário do Albemarle- Pamlico (leste dos Estados Unidos) ingerem dinoflagelados tóxicos causadores de intoxicação por Pfiesteria piscicida. As toxinas dos dinoflagelados causam náusea, vômito, dor abdominal, diarreia e sintomas neurológicos como fraqueza, prurido, parestesia perioral, inversão da sensação térmica (bebidas quentes são percebidas como geladas e vice-versa), anormalidades psiquiátricas e perda da memória. Os sintomas neurológicos podem persistir por meses ou anos. A intoxicação do baiacu pela tetrodotoxina, um bloqueador canal de sódio sensível à voltagem produzida pelo peixe, causa sintomas neurológicos, paralisia respiratória e morte. Diarreia dos Viajantes A maioria da diarreia do viajante (85%) é ocasionada pelo E. coli enterotóxica. A toxina termoestável da E. coli liga-se à enzima guanilato ciclase na membrana da borda em escova do enterócito, resultando na elevação do cGMP intracelular. A toxina da E. coli termolábil, similar à toxina da cólera, liga-se ao monosialogangliosídeo GM1 na membrana de borda em escova, resultando na ativação da adenilato ciclase e na elevação do AMPc intracelular. O AMP cíclico e o GMP cíclico estimulam a secreção intestinal de cloreto e inibem a absorção de sódio e cloreto independente de nutrientes. A absorção de sódio-glicose não é afetada, o que forma a base para a terapia de reidratação oral. A toxina do cólera liga-se permanentemente ao adenilato ciclase (até a renovação natural do epitélio intestinal, em 5 a 7 dias), resultando em secreção persistente e diarreia grave. Diarreias Associadas a Antibióticos Os antibióticos são uma causa comum de diarreias adquiridas em hospitais ocorridas em cerca de 20% dos pacientes que receberam antibióticos de amplo espectro, cerca de 30% destes são diarreias devido a Clostridium difficile. Cepas de fluoroquinolonas hipervirulentas resistentes que produzem aumento dos níveis de toxinas A e B, além de uma toxina binária, tem aumentado. Estas cepas estão associadas a um aumento na incidência e severidade de infecções pelo C. difficile, incluindo colite fulminante pelo C. difficile que pode levar à colectomia ou até mesmo à morte. As toxinas A e B produzidas por C. difficile podem causar diarreia. Em modelos animais, a IL-8, substância P e leucotrieno B4 foram associados como mediadores da secreção de líquido intestinal estimulada pela toxina A. A C. difficile pode causar diarreia grave, colite pseudomembranosa ou megacólon tóxico. Diarreias Nosocomiais Hospitalares A diarreia é a enfermidade nosocomial mais comum entre pacientes hospitalizados e residentes em instituições de tratamento prolongado. As causas mais comuns incluem diarreia associada a antibióticos, infecção pelo C. difficile, medicamentos, impactação fecal, alimentação por sonda e doença subjacente. O magnésio contendo laxantes, antiácidos e a lactulose causam diarreias osmóticas. Laxantes como bisacodil causam diarreia secretora. A colchicina, neomicina, metotrexato e o ácido para-aminosalicílico causam lesão da membrana dos enterócitos. Colestiramina, colestipol e colesevelam se ligam a sais biliares e podem resultar em má absorção. Terapia com ouro causa inflamação intestinal e diarreia. As formulações líquidas de medicamentos (elixir) podem causar diarreia por causa do alto teor de sorbitol ou outros açúcares não absorvíveis (p. ex., manitol) usados para adoçar o elixir; os pacientes podem receber medicamentos líquidos prescritos por meio de tubos de alimentação mais de 20 g de sorbitol ao dia. Uma causa importante, porém pouco compreendida, de diarreia é a alimentação enteral (por sonda), em particular nos pacientes criticamente enfermos, que frequentemente sofrem de diarreia. Dismotilidade, aumento da permeabilidade intestinal e baixo teor de sódio nas fórmulas enterais podem ser fatores contribuintes. Tratamento do Câncer – Relacionado à Diarreia Dor abdominal ou radiação de corpo inteiro praticamente sempre causam um aumento da frequência de evacuações que são, em geral, líquidas. A quimioterapia para o câncer com amsacrine, azacitidina, citarabina, dactinomicina daunorrubicina, doxorrubicina, floxuridine, 5-fluorouracil, 6-mercaptopurina, metotrexato, plicamicina, IL-2 e o resveratrol pode causar diarreia leve a moderada. Irinotecano (CPT-11) e a combinação de 5-fluorouracil mais leucovorin são causas frequentes de diarreia aquosa grave. Diarreia das Creches Mais de sete milhões de crianças nos Estados Unidos frequentam creche, onde a diarreia é extremamente comum, e a infecção secundária de membros da família ocorre em 10 a 20% dos casos. A maioria dos surtos de diarreia ocorrem por rotavírus ou norovírus; causas menos comuns são Shigella, Giardia e Cryptosporidium. Diarreia dos Corredores A diarreia ocorre em 10% a 25% dos indivíduos que se exercitam vigorosamente, especialmente mulheres corredoras de maratonas e triatletas. Alguns atletas têm associado ao quadro as cólicas abdominais, urgência, náusea ou vômito. A fisiopatologia da diarreia do corredor é desconhecida. A liberação de secretagogos intestinais, especialmente as prostaglandinas, hormônios ou isquemia, podem estar envolvidos. • Distúrbios hidroeletrolíticos (como e por que ocorrem) Anormalidades do Transporte de Líquidos e Eletrólitos Para melhor compreensão dos mecanismos secretório, osmótico e inflamatório dadiarreia é necessário compreender como o intestino normal manipula o fluido e os solutos na saúde e na doença. Não importa se uma pessoa consumiu uma refeição hipotônica como um bife e água, ou hipertônica como leite e uma rosca, o volume da refeição será aumentado pelas secreções gástrica, pancreática, biliar e duodenal. Em seguida, o duodeno permeável faz com que a refeição fique aproximadamente isotônica, com um conteúdo de eletrólitos semelhante ao do plasma ao alcançar o jejuno proximal. Durante a movimentação do quimo em direção ao cólon, as concentrações de Na+ no líquido luminal permanecem constantes, mas o Cl– é reduzido para 60 a 70 mmol/L, e o bicarbonato (HCO3–) aumenta até uma concentração similar, como resultado dos mecanismos de transporte de Cl– e HCO3– no enterócito e da secreção de HCO3– no íleo. No cólon, o K++ é secretado, e o mecanismo de transporte de Na+ do colonócito junto com a baixa permeabilidade epitelial extrai Na+ e líquido das fezes. Em decorrência disso, o conteúdo de Na+ nas fezes diminui para 30 a 40 mmol/L; K++ aumenta, de 5 a 10 mmol/L e no intestino delgado para 75 a 90 mmol/L; e cátions bivalentes pouco absorvidos, como Mg2++ e Ca2++, ficam concentrados nas fezes em valores de 5 a 100 mmol/L. As concentrações aniônicas no cólon mudam drasticamente, porque a degradação bacteriana de carboidratos (i. e., amidos, açúcares e fibra não absorvidos) cria ácidos graxos de cadeia curta que chegam a alcançar concentrações de 80 a 180 mmol/L. No pH do cólon, esses produtos estão presentes como ânions orgânicos, como acetato, propionato e butirato. Na configuração da má absorção do hidrato de carbono, a geração de concentrações elevadas destes ácidos gordos de cadeia curta pode diminuir o pH das fezes a 4 ou inferior. Ao serem eliminadas, as fezes têm osmolalidade aproximadamente igual à do plasma (280 a 300 mOsm/kg H2O) quando ele é passado. O transporte epitelial de Na++ do lúmen até o sangue (por meio do transporte de aminoácidos e açúcares ligados ao Na++ no intestino delgado, por proteínas trocadoras de Na++/H++ no intestino delgado e cólon proximal, e por canais de +Na++ regulados pela aldosterona no cólon distal) cria um gradiente osmótico favorável para absorção O transporte de cloreto através do epitélio do sangue para o lúmen (pela regulação de condutância transmembrana da fibrose cística [CFTR] e o canal de cloreto do regulador de condutância da transmembrana cálcio-ativado no intestino delgado e cólon) cria um gradiente osmótico para secreção. Normalmente, o intestino está em um estado líquido de absorção, regulado por nervos adrenérgicos extrínsecos e pró-absortivos neuropeptídios e hormônios. A estimulação da secreção por neurotransmissores, hormônios e mediadores inflamatórios pode compensar esse equilíbrio. A, absorção de sódio intestinal. O sódio é ativamente absorvido nas células das vilosidades do intestino delgado e nas células da superfície do cólon. A sódio-potássio adenosina trifosfatase (Na++, K++-ATPase) presente na membrana basolateral da célula mantém uma concentração baixa de Na+++ intracelular e um interior celular eletronegativo, favorecendo o movimento de Na+++ para dentro da célula através da membrana apical do lúmen. No intestino delgado, a glicose e a galactose são carreadas, junto com o sódio e a água, pelo cotransportador de sódio-glicose (SGLT1) na membrana apical. Diferentes carreadores de aminoácidos dependentes de sódio, alguns com especificidades de substrato sobrepostas, transportam aminoácidos catiônicos, aniônicos e neutros para o interior das células das vilosidades. Dipeptídeos e tripeptídeos são transportados por um oligopeptídeo carreador acoplado ao hidrogênio, PepT1, que é impulsionado por íons hidrogênio luminais gerados pelos permutadores epiteliais de Na+/ H++. A glicose é retirada através do transporte de glicose facilitador (GLUT5). B, O sódio também é absorvido no intestino delgado e cólon por processos transportadores independentes de nutrientes. Os trocadores de Na++/H++ (NHE) e Cl-/HCO3- (DRA) são inibidos por agentes que elevam a adenosina monofosfato cíclico intracelular (cAMP), monofosfato de adenosina cíclico (cGMP) ou o cálcio. C, Secreção clorídrica pelas células da cripta intestinal. O cloreto pode ser secretado ativamente por todo o intestino delgado e cólon. Mediadores intracelulares de secreção (cAMP, cGMP, Ca2++) abrem canais de Cl- apicais (regulador de condutância transmembrana da fibrose cística [CFTR], canal de cloreto ativado por cálcio [CaCC]) e canais de K++ basolaterais. O cloreto se move das células da cripta para o lúmen intestinal, favorecendo o movimento de Cl- do sangue para o interior das células pelo cotransportador Na++/K++/2Cl-(NKCC1). O bicarbonato (HCO3−) também pode ser secretado via canal CFTR. D, Regulação do transporte de água e eletrólitos no intestino. Normalmente, o intestino fica em estado absortivo sob o controle de nervos adrenérgicos extrínsecos do sistema nervoso simpático. A guanilina, ligante natural do receptor da toxina estável da E. coli (guanilil ciclase acopladora de membrana [GC-C]), pode ser importante na regulação da secreção clorídrica local. O tônus normal do intestino é modificado pelo sistema nervoso entérico, células inflamatórias e endócrinas na mucosa intestinal e hormônios circulantes. O sistema nervoso entérico libera uma variedade de neurotransmissores, alguns dos quais estimulam a secreção clorídrica (p. ex., peptídeo intestinal vasoativo [VIP], acetilcolina) e outros que promovem a absorção de sódio (p. ex., encefalinas, neuropeptídeo Y). Hormônios produzidos localmente por células enterocromafins (ECC) no epitélio intestinal e mediadores inflamatórios liberados das células do sistema imune afetam diretamente os enterócitos e os nervos adjacentes. Os hormônios circulantes (p. ex., aldosterona, glicocorticoides) elevam a absorção de sódio no intestino. Os glicocorticoides também inibem a liberação de ácido araquidônico e a produção de prostaglandinas por células inflamatórias. DISTÚRBIOS HÍDRICOS - DESIDRATAÇÃO: Desidratação é a contração do volume extracelular secundária à perdas hidroeletrolíticas, cuja gravidade irá depender da magnitude do déficit em relação às reservas corpóreas e da relação entre o déficit de água e de eletrólitos, principalmente do sódio. A desidratação pode ser classificada de acordo com a magnitude do déficit de água, estimada através de sinais clínicos e pela perda ponderal (Tabela 1), em leve ou de 1º grau (perdas de até 5% do peso), moderada ou de 2º grau (de 5 a 10%) e grave ou de 3º grau (>10%). Por outro lado, o nível sérico do sódio resultante dessas perdas, determinará a sua classificação em desidratação isotônica, hipotônica e hipertônica. Desidratação hipotônica ou hiponatrêmica: Caracterizada por sódio sérico menor que 130 mEq/l. Há uma depleção de sódio e água, porém com uma perda proporcional excessiva de sódio em relação à perda hídrica. A conseqüente hipotonicidade do líquido extracelular gera um gradiente osmótico com conseqüente movimentação de água do espaço extracelular para o espaço intracelular, o que agrava o déficit extracelular, acentuando os sinais e sintomas da desidratação. Desidratação isotônica ou isonatrêmica: Caracterizada por sódio sérico entre 135 mEq/l e 150mEq/l. Há uma depleção de sódio e água, com uma perda proporcional à concentração do fluido extracelular. Não há, portanto, gradiente osmótico entre os compartimentos intra e extracelular, sendo este o tipo mais freqüente de desidratação. Desidratação hipertônica ou hipernatrêmica: Caracterizada por sódio sérico maior que 150 mEq/l. Há depleção de sódio e água, porém com uma perda proporcional maior de água. Há, portanto, gradiente osmótico, sendo que a maior tonicidade do meio extracelular leva à desidratação celular com graves sintomassecundários, principalmente ao comprometimento do sistema nervoso central. Independentemente da etiologia da desidratação, que pode ser muito variável, os princípios gerais de tratamento são os mesmos, devendo-se levar em consideração o grau das perdas de água (gravidade) e o nível de sódio (tipo de desidratação), não se esquecendo de que outros distúrbios eletrolíticos e metabólicos poderão estar presentes, merecendo atenção especial o equilíbrio ácido-base e os níveis de potássio. De um modo geral, a desidratação leve e moderada pode ser tratada através da via oral (terapia de reidratação oral, TRO), reservando-se a via parenteral para os casos mais graves, para a correção dos distúrbios eletrolíticos severos e para aqueles com vômitos incoercíveis ou com perdas continuadas muito intensas (>100 ml/kg/h). A terapia de reidratação endovenosa consiste em três fases com objetivos terapêuticos distintos: fase de reparação ou expansão, fase de manutenção e fase de reposição. REFERÊNCIA: Distúrbios hidroeletrolíticos – Jornal de Pediatria DISTÚRBIOS DO SÓDIO HIPONATREMIA: Caracterizada por Na+ sérico < 135 mEq/l, assume maior gravidade em situações em que os níveis de sódio se encontram abaixo de 120 mEq/l, ocasião em que necessita de correção imediata e cuidadosa. É o distúrbio eletrolítico mais comumente encontrado em pacientes instáveis, podendo ser decorrente de uma série de condições. A hiponatremia com osmolaridade plasmática normal (pseudohiponatremia) quase sempre está associada à hiperlipidemia (hipertrigliceridemia). Nessas situações, o que ocorre é um artefato na dosagem do Na+, pois como há aumento do teor lipídico na amostra de sangue, há uma consequente redução na quantidade de sódio por unidade de volume, sem que haja excesso de água em relação ao soluto (a osmolaridade medida é normal). Naturalmente, esses pacientes não devem ser tratados como se tivessem excesso de volume. Muito raramente, concentrações elevadas de proteínas (>10 g/dl) também podem causar pseudohiponatremia. A hiponatremia com osmolaridade plasmática aumentada (hiponatremia dilucional) ocorre em situações em que há hiperosmolaridade por aumento de solutos. Nesses casos, há um desvio de água do intra para o extracelular, com conseqüente diluição do sódio plasmático por unidade de volume. No caso da hiperglicemia, pode-se empiricamente corrigir o sódio para o nível de glicose, fazendose a adição de 1 mEq/l de Na+ para cada 60 mg/dl de glicose que ultrapasse 100 mg/dl. Por exemplo: Na+ sérico medido = 130 mEq/l, glicemia = 580 mg/dl (portanto, 480 mg/dl acima de 100 mg/dl); assim o Na+ sérico corrigido será de 130 + 8 = 138 mEq/l17. A hiponatremia com osmolaridade plasmática baixa compreende os casos de hiponatremia verdadeira, onde há uma real diminuição da concentração do Na+ sérico em relação à água corpórea total, resultado de um excesso de água (retenção hídrica ou ingesta exagerada) ou de perdas de sódio proporcionalmente maiores do que as perdas hídricas. Essas situações, que correspondem à maioria dos casos de hiponatremia, podem cursar com volume intravascular normal, alto ou baixo, e têm causas variadas. HIPERNATREMIA: Caracterizada por Na+ sérico >145 mEq/l, costuma assumir maior gravidade quando os níveis de Na+ ultrapassam 150 a 155 mEq/l, com grande potencial de mortalidade e risco de sequelas. Está sempre associada a hiperosmolaridade plasmática e normalmente é causada por um déficit de água (aporte baixo ou perdas anormais) ou aporte excessivo de sódio, podendo cursar com hipovolemia, normovolemia ou hipervolemia. Independentemente do fator causal, o aumento da concentração de sódio no plasma acarreta um desvio de água do compartimento intracelular para o extracelular, situação particularmente grave quando se considera o sistema nervoso central, onde a hipertonicidade nos capilares sanguíneos frente à barreira hemato- encefálica leva a um desvio de água do líquor, do insterstício cerebral e dos neurônios, com consequente ingurgitamento vascular e desidratação neuronal, sendo comum o desenvolvimento de hemorragias e fenômenos trombóticos. Quando a hipernatremia se instala mais lentamente, há uma adaptação neuronal, com a formação de radicais osmoticamente ativos no interior dos neurônios (osmóis idiogênicos), que resulta num certo equilíbrio com o meio extracelular. Esse mecanismo de defesa, no entanto, precisa ser considerado na ocasião do tratamento, pois a restauração muito rápida da osmolaridade plasmática pode resultar no desvio abrupto de água para o interior dos neurônios, resultando em edema cerebral, hipertensão intracraniana e suas potenciais complicações. DISTÚRBIOS DO POTÁSSIO O potássio é o principal eletrólito intracelular e a relação entre os seus níveis intra e extracelulares é a principal determinante do potencial elétrico transmembrana. Portanto, qualquer alteração significativa na concentração extracelular de potássio pode ter sérios efeitos não apenas na função metabólica, mas também na condução nervosa, com repercussões na musculatura e, principalmente, no ritmo cardíaco, predispondo ao desenvolvimento de arritmias nos casos mais graves. HIPOPOTASSEMIA: Caracterizada por K+ < 3,5 mEq/l geralmente é assintomática, embora nos casos graves possa cursar com alterações que vão desde fraqueza muscular até a arritmias cardíacas. HIPERPOTASSEMIA: Caracterizada por K+ > 5 mEq/l, frequentemente é assintomática, embora nos casos graves possa cursar com sérias alterações da função muscular e do ritmo cardíaco. De um modo geral, pode ser causada por aporte excessivo de potássio, redistribuição interna ou excreção inadequada. DISTÚRBIOS DO CÁLCIO HIPOCALCEMIA: Caracterizada por níveis séricos de cálcio < 7 mg/dl, muitas vezes é assintomática, porque o cálcio iônico (fração que participa dos mecanismos neuromusculares) pode estar normal apesar do cálcio total baixo. Se houver hipoalbuminemia concomitante, os níveis de cálcio podem ser corrigidos acrescentando-se 0,75 mg/dl para cada 1 g/dl de albumina abaixo de 3,5 g/dl. Face à abundância do cálcio no organismo, a hipocalcemia sempre significa falha nos mecanismos regulatórios e pode ter várias causas. HIPERCALCEMIA: Caracterizada por cálcio >11 mg/dl, geralmente é assintomática, embora valores >13 mg/dl estejam associados a alterações do estado mental (letargia, psicose), fraqueza muscular e arreflexia profunda, redução da peristalse e constipação, além de arritmias cardíacas. O ECG mostra encurtamento do intervalo QT. DISTÚRBIOS DO MAGNÉSIO Assim como o potássio, o magnésio distribui-se predominantemente no compartimento intracelular, de modo que os níveis séricos não refletem o magnésio corpóreo total. Desempenha um importante papel na contração muscular, primariamente em associação com o cálcio. A hipomagnesemia é caracterizada por magnésio 2,5 mEq/l (sintomática >4 mEq/l). DISTÚRBIOS DO FÓSFORO O fósforo é encontrado no organismo tanto na forma inorgânica (sais de fosfato), quanto na forma orgânica, como participante de importantes funções metabólicas (ATP, 2,3-DPG), concentrando-se principalmente nos ossos e no compartimento intracelular. Os distúrbios de seu metabolismo decorrem basicamente da redistribuição do fósforo entre os compartimentos intra e extracelular e do balanço entre aporte e excreção. • Propedêutica (indicações de exames complementares) Diagnóstico: Diarreia aquosa aguda pode ser causada por infecções, toxinas alimentares ou medicamentosas; já a diarreia aguda pode sinalizar a manifestação de uma doença crônica. A abordagem diagnóstica em pacientes com febre e diarreia aquosa ou sanguinolenta deverá centrar-se nas culturas de fezes para Campylobacter, Salmonella, e espécies Shigella. A cultura de fezes de rotina não é indicada quando a diarreia ocorre após 3 a 5 dias de internação,exceto em pacientes com neutropenia, infecção por vírus da imunodeficiência humana ou sinais de infecção entérica. Em pacientes com histórico de uso recente de antibiótico, hospitalização ou periparto, deve-se coletar fezes para pesquisa do C. difficile. Organismos que causam diarreia, mas não são rotineiramente testados por laboratórios de microbiologia clínica incluem Yersinia, Plesiomonas, entero E. coli sorotipo O157: H7, Aeromonas, Cyclospora, microsporidia e Vibrio não colérico. Parasitas como Giardia, Cryptosporidium, e Strongyloides podem ser difíceis de serem detectados nas fezes, mas ser diagnosticados mediante exame pesquisa do antígeno fecal ou biópsia intestinal. Apesar de todas as técnicas de teste disponíveis, 20 a 40% das diarreias agudas infecciosas permanecem sem diagnóstico. REFERÊNCIA: Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia Exames auxiliares de diagnóstico: Como a diarreia aguda é habitualmente autolimitada, o pedido de exames de diagnóstico está indicado apenas nos casos mais graves, sendo eles: diarreia sanguinolenta, febre > 38,5ºC, mais de 6 dejecções/dia ou duração da doença superior a 48h, dor abdominal severa, doentes idosos ou imunodeprimidos. 1- Exames laboratoriais: O hemograma está indicado para avaliar a presença de anemia e alterações na fórmula leucocitária; o ionograma, a ureia e a creatinina permitem avaliar a depleção de fluidos e eletrólitos e o seu impacto na função renal. 2- Exame das fezes: A detecção dos leucócitos fecais é um teste pouco sensível e específico. Pode ajudar a selecionar quais os doentes que devem realizar coprocultura. A coprocultura está indicada nos imunodeprimidos, nas comorbilidades importantes, na doença severa, diarreia sanguinolenta e na DII. A pesquisa de ovos e parasitas nas fezes apresenta uma baixa relação custo benefício, pelo que está indicada apenas em viagens recentes a regiões endémicas, crianças em infantários, homossexuais e na diarreia sanguinolenta com poucos ou nenhuns leucócitos fecais. Os ovos e parasitas apresentam uma excreção intermitente, pelo que a sua colheita deve ser feita em três dias consecutivos. 3- Exames endoscópicos: A realização de colonoscopia não está indicada na maioria dos casos, mas poderá trazer benefício na suspeita de colite pseudomembranosa, colite isquêmica, DII e imunodeprimidos. • Tratamento não medicamentoso REFERÊNCIA: Cecil 24ª → Prevenção: A vacinação contra o rotavírus (Capítulo 388) reduz o risco de infecção e geralmente resulta em sintomas mais leves entre os infectados. Viajantes para países de alto risco (América Central e partes da América Latina, África, Ásia, Oriente Médio) devem evitar a ingestão de água da torneira, gelo, carne crua, peixe cru e vegetais crus. Uma vacina oral para cólera contra uma subunidade da toxina B recombinante e célula total morta (rBSWC) é eficaz na prevenção da infecção pela cepa O1 El Tor e parcialmente eficaz contra as cepas de E. coli enterotoxigênicas. A vacinação contra a cólera é recomendada para trabalhadores e profissionais de saúde que trabalham nos países endêmicos e para osindivíduos que estão imunocomprometidos ou têm doenças crônicas ou hipocloridria. A rifaximina (200 mg por via oral por dia durante 2 semanas) é segura e eficaz para prevenir a diarreia dos viajantes, no México, e da combinação de rifaximina com loperamida é melhor do que qualquer um deles sozinho. O bismuto subsalicilato (525 mg por via oral 4 vezes ao dia por até 3 semanas) também é eficaz. A loperamida e AINEs são tomados profilaticamente por muitos corredores suscetíveis à diarreia do corredor, mas não está claro se são eficazes. As metas para o tratamento da diarreia incluem reposição de líquido, agentes antidiarreicos, suporte nutricional e a terapia antimicrobiana, quando indicada. Considerando que a morte de pacientes com diarreia aguda é causada pela desidratação, a primeira tarefa é avaliar o grau de desidratação e repor os déficits de líquido e eletrólitos. REFERÊNCIA: Tratamento da Diarreia Aguda – tese de mestrado em Ciências Farmacêuticas → Reidratação: O uso de soluções de reidratação oral (SRO) tem como objetivo reduzir a morbiletalidade por diarreia. Está indicada na prevenção da desidratação e no tratamento das formas leve, moderada, e grave sem choque e na continuidade do tratamento iniciado por via parenteral. Os quadros diarreicos com desidratação grave devem iniciar a reidratação, preferencialmente por via endovenosa, associando depois a reidratação por via oral. No surto de diarreia não se perde apenas água, mas também eletrólitos (sódio, potássio e cloro). Por este motivo a ingestão única de água num episódio diarreico será insuficiente. Dever- se-á oferecer antes líquidos constituídos com SRO equilibradas em água e eletrólitos. Os sais de reidratação oral não vão alterar o sintoma diarreia (no início da administração dos sais as perdas fecais até poderão aumentar), mas o seu uso vai prevenir/tratar a desidratação. As soluções de reidratação oral foram desenvolvidas depois da descoberta do mecanismo de co-transporte. A glicose é um açúcar simples que é facilmente absorvido no tubo digestivo. Na sua absorção, a glicose arrasta sódio, outros eletrólitos e também a água. O uso de outros líquidos como reidratantes (chás, sumos, água de coco, refrigerantes) além de ineficazes podem contribuir para o agravamento da doença, por apresentarem elevado teor de hidratos de carbono, elevada osmolaridade e baixo teor de eletrólitos (excepto a água de coco que apresenta teor relativamente elevado de potássio). O soro caseiro não está indicado no tratamento da desidratação, podendo ser usado na fase de manutenção desde que preparado cuidadosamente. → Tipo de dieta alimentar: A alimentação deve ser mantida e não se recomendam pausas alimentares superiores a 4h. Deve-se manter a dieta habitual, não se justificando a mudança para dietas especiais, nomeadamente com baixo teor de lactose e/ou gorduras ou hidrolisados proteicos. Manter a alimentação durante o episódio de doença diarreica aguda garante: manutenção do crescimento e minimiza a ocorrência dos défices proteicos e energéticos, reduz as perdas fecais, e reduz a hipotrofia funcional e morfológica da mucosa intestinal. → Terapia suplementar: O zinco é um micronutriente essencial na síntese proteica, no crescimento e diferenciação celular, possuindo também funções antioxidantes e anti-inflamatórias que favorecem as funções imunológicas e de barreira da mucosa intestinal. Embora o seu mecanismo de ação não seja claramente conhecido, o tratamento com zinco demonstrou que este apresenta um papel importante no aumento da absorção de água e eletrólitos pelo intestino, favorecendo a rápida regeneração do epitélio intestinal e aumentando os níveis de enzimas nas microvilosidades. As principais fontes de alimentares são as ostras e outros animais marinhos, carnes em geral, cereais, fígado de vitela e castanhas. O leite tem baixo teor de zinco contudo os queijos duros apresentam uma concentração maior. Multivitaminas e Minerais também são aconselhadas, o uso de suplementos multivitamínicos e suplementos minerais (inclusive magnésio) diariamente durante 2 semanas de forma a colmatar as perdas que ocorrem durante o surto, permitindo deste modo uma melhor e mais rápida reposição dos valores recomendados para a saúde humana. No mercado podemos encontrar estes multivitamínicos em diferentes formas farmacêuticas, desde ampolas bebíveis aos comprimidos, assim como em injetáveis, xaropes, soluções orais e pós para soluções orais (saquetas). Os multivitamínicos devem fornecer a gama de vitaminas e minerais mais ampla possível, incluindo pelo menos duas doses diárias recomendadas (RDAs) de folato, vitamina A, zinco, magnésio e cobre. REFERÊNCIA: Cecil → Reposição dos Fluidos: Pacientes gravemente desidratados devem ser tratados com solução intravenosa
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