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Direito da Criança e do Adolescente

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[direito da criança e do adolescente]
	
temas 1 e 2
fundamentos doutrinários e normativos
HISTÓRICO
No contexto internacional, após as Guerras Mundiais, houve uma mudança de paradigma. Uma série de tratados internacionais são editados a fim de promover a proteção dos direitos humanos, dentre os quais muitos envolviam o direito da criança e do adolescente (Declaração de Genebra de 1924, Declaração Universal dos Direitos Humanos, Convenção Americana sobre os Direitos Humanos). Chegou-se à conclusão de que uma sociedade justa e solidária dependeria de uma atenção maior ao desenvolvimento integral de toda criança e adolescente. Rompeu-se com a doutrina anterior da situação irregular, segundo a qual só mereciam proteção o carente, o abandonado e o infrator.
	Esse rompimento, no Brasil, só se daria posteriormente com o advento da CRFB/88. Até então, estava em vigor o chamado Código de Menores, Lei n. 6.697/79, cuja incidência era voltada precipuamente ao menor em situação irregular. O menor era tratado como objeto de direito. 
Com o advento da CRFB/88, estabeleceu-se um novo paradigma no art. 227, qual seja o de que a infância e a juventude têm de ser tratadas com absoluta prioridade, sendo impossível a recepção de muitos artigos do Código de Menores. O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/90 – surge em função dessa mudança do paradigma. O legislador infraconstitucional, além de dar prioridade absoluta a tal direito, adota expressamente a doutrina da proteção integral. Os menores passam a ser vistos como sujeito de direitos em face do Estado, da família e da sociedade como um todo.
	Código de Menores
	ECA
	Tutela do menor em situação irregular
	Ampla proteção à criança e ao adolescente
	Menor como objeto de direito
	Menor como sujeito de direito
Segundo Andrea Rodrigues Amin, o ECA é uma norma especial que institui um verdadeiro microssistema que cuida de todo o arcabouço necessário para se efetivar o ditame constitucional de ampla tutela do público infanto-juvenil.
PROTEÇÃO INTEGRAL, SUPERIOR INTERESSE E ABSOLUTA PRIORIDADE
	Toda a sistemática do ECA se ampara no princípio da proteção integral, conforme art. 1º. Entende-se por proteção integral o conjunto amplo de mecanismos jurídicos voltados à tutela da criança e do adolescente.
	Esta doutrina guarda ligação com o princípio do superior interesse da criança e do adolescente que impõe que, na análise do caso concreto, os operadores do direito busquem a solução que proporcione o maior benefício possível à criança e ao adolescente. 
	Também guarda relação com a ideia de absoluta prioridade (art. 4º, caput, do ECA e art. 227, 1ª parte, da CF). Trata-se de dever que recai sobre a família e o Poder Público de priorizar o atendimento dos direitos de crianças e adolescentes. Logo, entre atender o direito de um maior ou de um menor, deve prevalecer o direito do menor (ainda que o maior seja idoso, pois a previsão de prioridade para o idoso tem caráter infraconstitucional somente). Prioridade absoluta, contudo, não é um salvo conduto para agir contra a lei.
	O art. 4º, p.ú, do ECA diz, em um rol exemplificativo, que a garantia da prioridade compreende:
· Primazia de receber socorro;
· Precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
· Preferência na formulação e execução de políticas públicas; e
· Destinação privilegiada de recursos públicos.
CRIANÇAS E ADOLESCENTES COMO SUJEITOS DE DIREITOS
	O art. 3º é a cláusula geral que diz que as crianças e adolescentes gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana. Tem como proposta uma inclusão social que garanta seu desenvolvimento pleno, sob os aspectos físico, mental, moral e espiritual.
	A Lei 13.257/2016 reafirma essa diretriz ao estabelecer, no parágrafo único do artigo 3º, que os direitos previstos no ECA são aplicáveis a crianças e adolescentes independentemente de discriminação de qualquer natureza – nascimento, situação familiar, idade, sexo etc.
O art. 5º veda qualquer forma de negligência ou atentado aos direitos fundamentais da criança e do adolescente. Guarda relação com a parte final do art. 227 da CRFB. Ele se dirige não apenas aos pais, mas a quaisquer pessoas que tenham contato com a criança ou adolescente. O ECA prevê sanções de natureza civil (ex. suspensão e perda do poder familiar), penal e administrativa (Título VII do Livro II) a quem descumpre tal norma. 
Cabe ao Poder Público o dever de promover periodicamente a divulgação desses direitos nos meios de comunicação social, inclusive em linguagem acessível a crianças menores de 6 anos (ECA, art. 265-A).
CONCEITO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE
	O art. 2º explica os conceitos de criança e de adolescente, tendo por base um critério cronológico: 
· Criança: de 0 a 12 anos de idade incompletos;
· Adolescente: de 12 completos a 18 anos de idade incompletos.
Essa distinção tem importância no que tange às medidas aplicáveis quando da prática de ato infracional. À criança somente se aplica medida de proteção (art. 105), sobejando as medidas socioeducativas aos adolescentes.
Registre-se que o próprio art. 2º, em seu parágrafo único, admite, excepcionalmente, a aplicação do ECA às pessoas entre 18 e 21 anos de idade, tanto no campo infracional como na área cível.
Na apuração de ato infracional, por exemplo, ainda que o adolescente alcance a maioridade no curso do processo, ele continua a tramitar na Justiça da Infância e da Juventude, sendo-lhe imposta medidas socioeducativas ou protetivas até os 21 anos de idade (ECA, art. 121, §5º).
No âmbito cível, a adoação pode ser pleitada na Justiça da Infância e da Juventude, mesmo que o adotando já tenha completado 18 anos, desde que já se encontre sob a guarda ou tutela dos adotantes (ECA, art. 40).
INTERPRETAÇÃO DO ESTATUTO
	O art. 6º traz uma norma interpretativa. O ECA deve ser lido de forma que leve em conta os fins sociais (c.c. art. 5º da LINDB – interpretação teleológica, ou seja, conforme o objetivo maior de tutela da norma jurídica), as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos e a condição peculiar das crianças e adolescentes como pessoas em desenvolvimento, que merecem uma proteção específica, com conteúdo diferente daquela ordinária prevista para adultos, de forma a permitir a formação de um adulto saudável e ético. 
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
	No que toca à proteção da infância e da juventude, a competência legislativa é concorrente, nos termos do art. 24, XV, da CRFB.
PRINCÍPIOS DO ECA
	Além dos princípios já mencionados que norteiam todo o ECA (proteção integral, superior interesse, prioridade absoluta e condição peculiar de pessoa em desenvolvimento), convém ainda citar alguns outros.
PRINCÍPIO DA MUNICIPALIZAÇÃO
Está em perfeita consonância com a descentralização político-administrativa prevista na CRFB/88. O legislador constituinte chama o Município para ser o órgão responsável pela execução direta dos serviços que tenham que ser colocados à disposição da criança e do adolescente. Os outros entes da federação – União e Estados – são chamados a dar o suporte financeiro na falta de condições do Município. O Município é o ente mais próximo da sociedade e, por isso, a ele foi atribuído esse papel de garantia da efetividade dos direitos fundamentais da criança e do adolescente.
PRINCÍPIOS LIGADOS ÀS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
A Lei 12.010 trouxe mais 12 princípios no art. 100 do ECA, ligados especialmente às medidas de proteção:
a) Princípio da condição da criança e do adolescente como sujeito de direitos: eles são titulares dos direitos previstos no ECA e em outras leis, bem como na CRFB/88. São pessoas em desenvolvimento que devem ser tratadas com dignidade.
b) Princípio da proteção integral e prioritária: remete novamente aos princípios da proteção integral (ECA, art. 1º) e da prioridade absoluta (ECA, art. 4º), que devem nortear não apenas o legislador, mas também o executor das leis. A interpretação e aplicação de toda e qualquer norma contida no ECA deve ser voltada à proteção integral dos direitos de que crianças eadolescentes são titulares.
c) Princípio da responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados as crianças e aos adolescentes, salvo nos casos expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das três esferas de governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por entidades não governamentais.
d) Princípio do interesse superior da criança e do adolescente: a intervenção deve atender prioritariamente aos interesses da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for devida a outros interesses legítimos.
e) Princípio da privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada.
f) Princípio da intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida.
g) Princípio da intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos da criança e do adolescente. Isso significa que o Estado não deve se substituir à família natural ou substituta. A família é que deve ser a base de desenvolvimento da criança, atuando o Estado somente quando esta não cumpra com seu papel.
h) Princípio da proporcionalidade e da atualidade: a intervenção deve ser necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada.
i) Princípio da responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança ou adolescente.
j) Princípio da prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem em sua família natural ou extensa, ou se isto não for possível, que promovam sua integraçao em família substituta.
k) Princípio da obrigatoriedade de informação: a criança e do adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma como esta se processa.
l) Princípio da oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou pessoa por si indicada, bem como seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opiniao devidamente considerada pela autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§1º e 2º do art. 28 do ECA. Atualmente, existe uma equipe interprofissional responsável por ouvir a criança e o adolescente, principalmente em questões envolvendo guarda.
PRINCÍPIO LIGADOS ÀS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
A execução das medidas socioeducativas deve atender aos princípios contidos no art. 35 da Lei do SINASE (Lei 12.594/12), quais sejam: 
I.	Legalidade: o adolescente só pode responder pela prática de ato infracional devidamente previsto em lei e não pode receber tratamento mais gravoso que o adulto.
II.	Excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas: deve-se dar prioridade aos meios de autocomposição dos conflitos quando da prática de ato infracional pelo adolescente.
III.	Prioridade a práticas ou medidas restaurativas e que, sempre que possível, atendam às necessidades da vítima.
IV.	Proporcionalidade em relação à ofensa cometida;
V.	Brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em especial em relação ao art. 122 do ECA (internação);
VI.	Individualização da medida: devem ser levados em conta a idade, capacidade e circunstâncias pessoais do adolescente.
VII.	Mínima intervenção: a intervenção deve se restringir ao necessário para a realização dos objetivos da medida.
VIII.	Não discriminação do adolescente por qualquer razão;
IX.	Fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
INTRODUÇÃO
	Um dos dogmas estabelecidos pela CRFB/88 é a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) que, conforme preleciona Ana Paula de Barcellos, pressupõe que todo indivíduo tem direito a um conjunto de prestações materiais mínimas que lhe possibilitem vida digna (educação fundamental, saúde básica, assistência aos necessitados e acesso à justiça) – mínimo existencial –, as quais poderão ser exigidas judicialmente de forma direta (eficácia jurídica positiva). Em relação às crianças e aos adolescentes, a dignidade deve ser alcançada da forma mais plena possível.
	O ECA elenca de forma minuciosa os direitos fundamentais entre os arts. 7º a 69, com espeque na proteção integral, na prioridade absoluta e na condição especial de pessoa em desenvolvimento. Em sua maioria, são direitos de caráter prestacional e de segunda geração.
DIREITO À VIDA E À SAÚDE (ECA, ARTS. 7º AO 14)
Os arts. 7º ao 14 regulamentam o direito à vida e à saúde da criança e do adolescente. O direito à vida é pressuposto de todos os demais direitos fundamentais e sua previsão no ECA está em consonância com o art. 5º, caput e art. 227 da CRFB.
Ao regulamentar o direito à vida, o legislador protege ainda os direitos do nascituro, na medida em que expressamente diz que são necessárias políticas públicas que “permitam o nascimento”, tal qual a restrição dos casos de aborto (atualmente permitido somente nos casos expressamente previstos em lei e no caso do feto anencéfalo), o acompanhamento da gestante durante toda a sua gravidez etc.
Ao lado do direito à vida, desponta o direito à saúde. O meio para garantir o direito à vida e à saúde daquele que é nascituro passa pelos cuidados com a gestante. Por isso, o art. 8º, com redação dada pela Lei 13.257/2016, garante o acesso da gestante aos programas e políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo, a nutrição adequada da gestante e a atenção humanizada à sua gravidez, devendo o SUS englobar atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal (c.c. art. 198 da CRFB).
O ECA impõe ainda ao poder público e aos empregadores da iniciativa privada o dever de proporcionar condições adequadas para o aleitamento materno. Esta previsão também está contida no art. 396 da CLT. 
Todos esses dispositivos visam garantir o adequado desenvolvimento do recém-nascido durante os primeiros meses de vida. O direito alcança também as mães submetidas a medidas privativas de liberdade, inclusive as adolescentes (art. 63, §2º, da Lei 12.594/2012), na medida em que o direito não é da mãe, mas sim do filho.
	O legislador trata ainda das obrigações que considera importantes em relação aos hospitais públicos e particulares, tais quais manter o registro do neonato por 18 anos, fornecer declaração de nascido vivo – DNV – aos genitores para registro civil e outras mencionados no art. 10, sob pena de responsabilidade administrativa. Esse dispositivo regula a adequada identificação dos recém-nascidos e suas genitoras. Os arts. 228 e 229 do ECA preveem como crime as condutas omissivas daqueles que deixam de cumprir esse dispositivo.
	É garantido à criança e ao adolescente o direito de acesso ao SUS (art. 11), observado o princípio da equidade. Quanto às crianças com deficiência, estas devem ser atendidas em suas necessidades gerais e específicas.
	A criança e o adolescente internada tem direito a acompanhamento em tempo integral de um dos pais ou responsável em estabelecimento de saúde, inclusive UTI, conforme art. 12.
	A criança e o adolescente devem ser protegidos contra casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, tratamento cruel ou degradante e maus-tratos (rol ampliado pela Lei 13.010/2014), qualquer que seja o local ou o agressor, sendo necessária a comunicação ao Conselho Tutelar para adoção das providências (art. 13). Garante-se prioridade e atendimento as crianças na primeira infância. Inclusive é infração administrativa a não comunicação dessa suspeita/confirmaçãopelo médico, professor ou responsável por estabelecimento de saúde ou de ensino fundamental, pré-escola ou creche (art. 245).
	Uma das diretrizes do ECA é a preservação da família natural, razão pela qual o art. 8º, §5º estabelece a necessidade de acompanhamento psicológico da gestante que quer entregar o bebê para adoção e o art. 13, §1º diz que ela será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude para orientação devida. O não encaminhamento pelo médico/enfermeiro/dirigente do estabelecimento é infração administrativa (art. 248-B). Isto visa à manifestação de vontade consciente da mãe. 
	Por fim, o art. 14 garante o direito à saúde bucal do menor.
DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE (ECA, ARTS. 15 A 18)
	A liberdade da criança e do adolescente cessa a partir do momento que esta liberdade seja prejudicial a ele mesmo, ou seja, quando afete seu próprio desenvolvimento. A criança e o adolescente não podem invocar seus próprios direitos fundamentais em seu desfavor. 
	O art. 16 destrincha o conteúdo do direito à liberdade. Trata-se de rol exemplificativo, na medida em que há diversos outros dispositivos que tutelam e restringem aspectos referentes à liberdade, como o ingresso e permanência em shows e casas de espetáculo (arts. 74 a 76), a autorização para viajar (arts. 83 a 85) e, com maior destaque, a privação de liberdade em caso de prática de ato infracional (art.106).
	O art. 17 garante o direito ao respeito, que engloba a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, ou seja, guarda íntima relação com os direitos da personalidade. Convém salientar que o direito à intimidade e à privacidade também deve ser visto sob o aspecto do superior interesse, de forma a admitir que pais controlem o acesso à Internet pelos seus filhos, por exemplo. Quanto ao direito de imagem, sua violação pode configurar crime ou infração administrativa. 
	O art. 18 garante a dignidade da pessoa humana ao estabelecer que a criança deve ser posta à salvo de qualquer tratamento desumano, cruel, constrangedor etc. Trata-se de postulado normativo, ou seja, valor que deve ser perseguido por toda a sociedade. 
A Lei 13.010/2014, mais conhecida como Lei da Palmada, incluiu os arts 18-A e 18-B a fim de dar maior efetividade a esse direito. Ela amplia a possibilidade dos réus nesse tipo de ação para qualquer pessoa que cause prejuízo ao menor e não somente seus pais (art. 18-A). Registre-se que tal lei não impede os pais de imporem limites seus filhos, dentro do exercício do poder familiar, sem que incorram, entretanto, em maus-tratos, crime previsto no art. 136 do CP. 
O art. 18-B possibilita a aplicação de algumas medidas pelo Conselho Tutelar: (i) encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família/a tratamento psicológico ou psiquiátrico/a cursos ou programa de orientação; (ii) obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado; (iii) advertência.
DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA (ECA, ARTS. 19 A 52-D)
	Dentro da convivência familiar, a lei prioriza a família natural, formada pelos pais ou pelos seus representantes legais (ECA, arts. 19 e 25 c.c. CRFB, art. 226), qualquer que seja a sua formação. Excepcionalmente, admite-se sua inclusão em família substituta, por meio de guarda, tutela ou adoção, quando a convivência com a família natural lhe seja prejudicial.
A Lei 12.010 criou ainda duas outras formas de família: família extensa ou ampliada (são os parentes mais próximos) e família acolhedora (visa evitar o acolhimento institucional do menor).
Obs. O direito à convivência familiar e a prioridade absoluta que lhe é garantida torna inconstitucional a norma do art. 1611 do CC/02 (posição defendida por Katia Maciel – a doutrina majoritária defende a validade da norma).
Verifica-se qual família tem condições de proporcionar o ambiente mais adequado ao desenvolvimento sadio do menor, embora a prioridade legal seja a família natural. Logo, devem ser esgotadas as possibilidades de sua manutenção na família natural mediante programas de proteção, apoio e promoção (art. 19, §3º). O art. 130 do ECA permite o afastamento cautelar do responsável em razão de maus-tratos, opressão ou abuso sexual da moradia comum. 
	Preferência
	Família natural
	Exceção
	Família substituta
	Programa de acolhimento
	Excepcional e pelo mínimo tempo necessário
Registre-se que a criança e o adolescente cujo genitor esteja privado de liberdade tem direito de visitá-lo independente de autorização judicial (art. 19, §4º).
É possível que o menor permaneça fora do convívio de sua família em programa de acolhimento institucional ou familiar. Nesse caso, esse afastamento deve ser reavaliado, no máximo, a cada seis meses (§1º), sendo de dois anos o prazo limite para permanência em programa de acolhimento, salvo se necessária a dilatação excepcional no interesse exclusivo do menor (§2º).
O art. 20, em consonância com o art. 227, §6º, da CRFB e com o art. 1.596 do CC, proíbe qualquer tipo de discriminação entre filhos. 
	Obs. A Lei 12.010 estabelece uma obrigação para o juiz da VIJ no sentido de marcar audiências que monitorem a situação da criança e do adolescente no abrigo (audiência de monitoramento). Em contrapartida, também cria a obrigação para as entidades de acolhimento de ter uma equipe especializada para elaborar o Plano Individual de Atendimento (PIA) para cada criança e adolescente, dando condições ao juiz para que tome a decisão mais adequada ao menor.
	Durante 6 meses, deve o juiz tentar reintegrar o menor na família natural; em não havendo, busca-se a família extensa. Se nenhuma destas soluções for possível, o menor é abrigado e entra para o cadastro de adoção. A institucionalização do menor tem caráter temporário e excepcional (regulamentação pela Lei 12.010).
DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER (ECA, ARTS. 53 AO 59 C.C. CRFB, ARTS. 205 E 217)
	Esses direitos não podem ser vistos como meramente programáticos. Eles devem ser observados e realizados da melhor forma possível de forma a garantir o desenvolvimento completo do menor. 
	O art. 205 da CRFB enquadra a educação como um direito de todos e um dever do Estado e da família. O art. 53 também garante tal direito à criança e ao adolescente, de forma a privilegiar: (i) seu desenvolvimento como pessoa; (ii) seu preparo para exercício da cidadania; (iii) sua qualificação para o trabalho.
O legislador do ECA não tratou sobre o direito de educação de forma específica, visto que tal questão é regulamentada pela Lei de Diretrizes e Bases. O ECA só analisa o direito à educação à luz da CRFB/88 como um instrumento de transformação social.
No que diz respeito a crianças e adolescentes, o art. 54 do ECA lista os deveres do Estado (c.c. art. 208 da CRFB), sendo de sua competência oferecer:
· Ensino fundamental	obrigatório e gratuito (inclusive para quem não teve acesso na idade própria);
· Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
· Atendimento educacional especializado aos deficientes, preferencialmente na rede regular de ensino;
· Atendimento em creche e pré-escola para crianças de 0 a 6 anos;
· Acesso aos níveis mais elevados de ensino, pesquisa e criação artística;
· Oferta de ensino noturno regular;
· Atendimento no ensino fundamental (material didático, transporte, alimentação e assistência à saúde).
É um direito público subjetivo, pelo que é possível recorrer ao Judiciário para sua implementação (art. 54, §1º) e para responsabilidade da autoridade competente (art. 54, §2º). 
	Frequentemente, o Estado suscita a teoria da reserva do possível para dizer que não tem como garantir o direito à educação no caso concreto em razão de um processo de “escolhas trágicas”. A expressão reserva do possível identifica o fenômeno econômico de limitação dos recursos disponíveis do ente público para atender todos os comandos constitucionais. Contudo, o STJ e o STF já decidiram que, em um primeiro momento, essa tese não pode ser oposta à efetivação de direitos fundamentais que compõemo mínimo existencial, como o direito à educação, visto que não cabe ao administrador preteri-los. Ademais, a real insuficiência de recursos deve ser demonstrada pelo poder público, não sendo admitido que a tese seja utilizada como uma desculpa genérica para a omissão estatal (STJ, AgRg no AREsp 790.767, DJ de 14/12/2015 e STF, ARE 639337, 23/08/2011).
A educação é uma obrigação essencial do Estado. Logo, quando o particular presta tal serviço, está prestando um serviço estatal típico, não podendo, por exemplo, retirar um aluno inadimplente antes que termine o ano letivo (só pode se recusar a renovar a matrícula).
A educação escolar se divide em dois ciclos: a educação básica – composta da pré-escola, ensino fundamental (1º ao 9º ano) e ensino médio – e a educação superior. As etapas educacionais da educação básica são de prestação obrigatória. Logo, ao interpretar o art. 54, I, do ECA, deve-se pensar como de prestação obrigatória do Estado não apenas o ensino fundamental, mas toda a educação básica, dando-se, contudo, prioridade ao ensino fundamental. Registre-se que ao Estado deve ser concedido um prazo razoável para se adequar a tal norma (ex. construir creches para atender às crianças entre 0 e 6 anos), contudo, não pode ser um prazo indefinido. 
Os pais têm obrigação de matricular seus filhos na rede regular de ensino (art.55), uma vez que a Lei de Diretrizes e Bases traz uma série de regras para a certificação, ou seja, para conceder o diploma para o aluno. Logo, já decidiu o STJ que os pais podem e devem complementar/acompanhar a educação de seus filhos (art. 53, p.ú), mas sem que possam se substituir à escola. A ausência de matrícula pode caracterizar o crime de abandono intelectual (art. 246 do CP) e ensejar a aplicação de medida protetiva aos pais ou responsável (art. 129, V, do ECA).
Atenção! A possibilidade de ensino domiciliar como meio de prover a educação é objeto de repercussão geral no STF ainda não analisada em seu mérito (RE 888815 RG, Tema 822).
É responsabilidade das escolas criar um estatuto escolar para dizer o que é permitido ou não no âmbito da escola. Estas questões serão resolvidas administrativamente pela própria escola. Só questões não abrangidas por esse estatuto serão levados ao juízo da infância e da juventude (ex. menor que leva arma à escola).
O art. 56 determina ao dirigente do estabelecimento de ensino que proceda à comunicação de certas situações ao Conselho Tutelar:
· Maus tratos envolvendo alunos – nesse caso, a omissão do dirigente configura infração administrativa (art. 245);
· Reiteração de faltas injustificadas;
· Evasão escolar;
· Elevados níveis de repetência. 
Feita tal comunicação, o Conselho Tutelar poderá adotar as providências elencadas no art. 136, III, do ECA.
DO DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO NO TRABALHO (ECA, ARTS. 60 A 69)
	O direito à profissionalização deve observar dois aspectos (art. 69):
· Respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
· Capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.
	Embora a redação do art. 60 do ECA dê margem a uma interpretação errônea, ele deve ser interpretado em conjunto com os arts. 7º, XXXIII, e 227, §3º, I, da CRFB e com o art. 402 e ss. da CLT. 
	Criança
	Não pode exercer nenhum trabalho
	Adolescente de 12 anos completos a 14 incompletos
	Não pode exercer nenhum trabalho
	Adolescente de 14 anos completos a 16 incompletos
	Trabalho apenas na condição de aprendiz
	Adolescente de 16 anos completos a 18 incompletos
	Pode trabalhar regularmente, salvo no período noturno ou em função perigosa ou insalubre
	A partir de 18 anos
	Qualquer trabalho
O contrato de aprendizagem, segundo a CLT, deve ser temporário, com prazo máximo de 2 anos. O art. 61 do ECA remete tal regulamentação aos arts. 402 a 441 do CLT, mas há alguns aspectos protetivos específicos nos arts. 62 a 69. 
· Garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular;
· Atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;
· Horário especial para o exercício das atividades;
· Garantia de direitos trabalhistas e previdenciários;
· Trabalho protegido ao adolescente portador de deficiência;
· Vedação ao trabalho realizado em locais prejudiciais à sua formação e desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
· Vedação ao trabalho realizado em horários e local que impeçam a frequência escolar.
Pela CLT (art. 405, §3º), cabe ao juiz da VIJ autorizar a participação do menor com idade inferior a 14 anos em eventos cinematográficos, televisivos, teatrais etc. mediante alvará, desde que o trabalho não seja prejudicial à sua formação moral e que seja essencial à subsistência do ator mirim ou de sua família. A matéria também está regulada pelo artigo 8 da Convenção n. 138 da OIT (Decreto 4.134/2002). Alguns entendem que se trata de trabalho, autorizado em condições excepcionais. Outros entendem que não é hipótese de trabalho, mas de participação em televisão, teatro ou afim (Andrea Rodrigues Amin), dependendente de autorização judicial e sujeita ao regime especial definido em portaria da VIJ. 
DA PREVENÇÃO (ECA, ARTS. 70 A 85)
	Os arts. 70 a 85 estão fortemente ligados à doutrina da proteção integral. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação aos direitos da criança e do adolescente (art. 70). Além desse dever geral, a Lei 13.010/2014 trouxe ainda um dever específico de prevenção dos entes federativos no art. 70-A com o objetivo de coibir o uso de castigo físico ou tratamento cruel ou degradante. Em complemento, a Lei 13.046/2014 inseriu o art. 70-B com um dever específico às entidades públicas e privadas. 
	O art. 71 indica as áreas sobre as quais atua a prevenção especial do ECA. Os entes da federação devem ter programas suficientes de forma a conscientizar a sociedade e dar meios para que ela fiscalize a promoção desses direitos.
PREVENÇÃO REFERENTE À INFORMAÇÃO, CULTURA, LAZER, ESPORTES, DIVERSÕES E ESPETÁCULOS
	O Poder Público deve regulamentar o acesso dos jovens a diversões e espetáculos, qualificando a natureza dos eventos de entretenimento, bem como sua faixa etária, locais e horários de exibição (art. 74 do ECA c.c. art. 220, §3º, da CRFB).
Não se trata de censurar a liberdade de expressão e o acesso à informação por crianças e adolescentes, até mesmo porque a censura é vedada no art. 220, caput, da CRFB, mas tão somente de compatibilizar tais eventos com a condição peculiar da criança e do adolescente de pessoa em desenvolvimento.
Atenção! O STF está discutindo na ADI 2404 a previsão contida no art. 254 do ECA que caracteriza como infração administrativa transmitir no rádio ou na televisão espetáculo em horário diverso do autorizado (Inf. 650 e 806). O julgamento ainda não se encerrou. Contudo, a votação está assim:
· Toffoli, Fux, Carmen Lúcia, Ayres Britto: procedência total com declaração de inconstitucionalidade da expressão “em horário diverso do autorizado”, ao argumento de que não é possível se realizar uma censura prévia em homenagem à liberdade de expressão e de programação, sendo a classificação etária mera recomendação aos pais;
· Fachin: procedência parcial para dar interpretação conforme a CRFB sem redução de texto, reconhecendo a nulidade de interpretação que condicione a veiculação de espetáculos públicos ao juízo censório da Administração, admitindo-se apenas o juízo indicativo. 
O responsável pelo evento deve exibir de forma clara na entrada do local a informação sobre sua natureza e faixa etária indicada (art. 74, p.ú), estendendo-se tal obrigatoriedade aos programas de rádio e televisão (art. 76, p.ú), às locadoras e vendas de programas de vídeo (art. 77) e às revistas e publicações (art. 78). 
Desacompanhado, o menor só pode participar de espetáculos adequados a sua faixa etária, desde que maiores de dez anos (ECA, art. 75). Há quem entenda que, acompanhado dos pais, os menores poderiam ingressar em qualquer local, com base na interpretação a contrário senso do art. 149, I, do ECA. Contudo, há quem entenda que esse poder familiar não é absoluto, mas também se submetea limitações (ECA, arts. 75, p.ú e 80). Pela Portaria 1.100, é permitido aos pais irem com seus filhos, desde que a classificação não seja igual ou superior a 18 anos.
	Idade
	Previsão legal
	Menor de 10 anos
	Somente acompanhado
	Entre 10 e 18 anos incompletos
	Desacompanhado, se compatível com sua faixa etária, e acompanhado, se incompatível
Há ainda uma proibição taxativa de acesso de crianças e adolescentes às casas de bilhar e de jogos (art. 80).
O descumprimento de quaisquer dessas previsões caracteriza as infrações administrativas dos arts. 252 a 258-C do ECA.
PREVENÇÃO À VENDA DE PRODUTOS E SERVIÇOS
	Os arts. 81 e 82 apresentam um rol de itens, produtos e serviços que não podem ser vendidos a crianças e adolescentes. 
· Venda proibida a crianças e adolescentes (art. 81): Armas, munições e explosivos; bebidas alcoólicas; produtos que causem dependência física ou psíquica; fogos de estampido e de artifício, salvo se de nenhuma potencialidade lesiva; revistas e publicações do art. 78; bilhetes lotéricos.
· Serviço proibido (art. 82): Hospedagem em hotel, motel, pensão ou congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável legal
A venda dos produtos pode caracterizar infração administrativa ou crime, conforme o caso (ex. venda de arma – art. 16, p.ú, IV, da Lei 10.826/2003 – revogação tácita do art. 242 do ECA; venda de fogos de artifício com potencialidade lesiva – art. 244 do ECA). A venda do serviço caracteriza infração administrativa do art. 250 do ECA.
Atenção! A jurisprudência do STJ entendia que não era crime do ECA a venda de bebidas alcoólicas a menores de idade por conta da disposição do art. 243 que somente mencionava “produtos ... que possam causar dependência física ou psíquica”, em remissão ao art. 81, III, sem incluir o inciso II (Resp n. 942.288). Contudo, a Lei 13.106/2015 resolveu tal questão e incluiu as bebidas alcoólicas no art. 243. Ela incluiu ainda o art. 258-C de forma a permitir a interdição do estabelecimento que vende tal bebida à criança ou ao adolescente.
AUTORIZAÇÃO PARA VIAJAR (ECA, ARTS. 83 A 85)
	Quando a criança ou adolescente viaja com ambos os pais ou com um dos pais, autorizado expressamente pelo outro por meio de documento com firma reconhecida, a autorização judicial não se faz necessária, ainda que seja viagem ao exterior, conforme art. 84, I e II, do ECA. 
	Em se tratando de criança, exige-se autorização judicial para viajar desacompanhada para fora da comarca onde reside (art. 83), salvo nos casos de dispensa do §1º:
· Comarca contígua no mesmo estado ou na mesma região metropolitana;
· Acompanhada de ascendente ou colateral maior até 3º grau (com documentação comprobatória do parentesco) ou pessoa maior, autorizada expressamente pelos pais ou responsável.
Em se tratando de adolescente, ele pode viajar o Brasil inteiro desacompanhado sem autorização judicial. Só se exige a referida autorização quando se tratar de viagem para o exterior (art. 85). 
Obs. Critica-se a colidência deste dispositivo com o art. 82 que só permite a hospedagem de qualquer menor em hotel se acompanhado ou autorizado.
A viagem ao exterior de crianças e adolescentes encontra-se regulamentada pela Resolução n. 131/2011 do CNJ.
MEDIDAS DE PROTEÇÃO
conceito
	O Título II, Livro II, do ECA dispõe sobre as medidas protetivas que visam salvaguardar crianças e adolescentes em situação de risco, ou seja, cujos direitos tenham sido violados ou estejam ameaçados de violação nos casos do art. 98:
· Por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
· Por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
· Em razão de sua conduta.
	Da leitura, compreende-se que podem ser agentes responsáveis pela lesão ou ameaça de lesão: a sociedade (punição: arts. 225 a 258-C), o Estado (ações individuais e coletivas), os pais (perda do poder familiar, crimes e infrações administrativas), o responsável, a própria criança ou adolescente.
A aplicação da medida de proteção deve sempre levar em conta suas necessidades pedagógicas, preferindo aquelas que objetivem o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários (art. 100, caput). Os princípios do art. 100, p.ú, já foram analisados em momento anterior. 
espécies
O Estatuto traz um rol de medidas específicas de proteção no art. 101 que podem ser aplicadas aos menores infratores, menores carentes ou aos pais, de forma isolada ou cumulativa, e substituíveis a qualquer tempo. Trata-se de rol meramente exemplificativo. 
· Encaminhamento aos pais ou responsável mediante termo de responsabilidade;
· Orientação, apoio e acompanhamento temporários;
· Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
· Inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;
· Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
· Inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente;
· Acolhimento institucional;
· Inclusão em programa de acolhimento familiar;
· Colocação em família substituta.
acolhimento
conceito e características
	É a determinação pela autoridade competente do encaminhamento de determinada criança ou adolescente à entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional, em razão de abandono ou após a constatação de que a manutenção na família ou ambiente de origem não é a alternativa mais apropriada à sua proteção.
	As entidades de acolhimento são regidas pelos princípios do art. 92, dentre os quais se destaca a preservação da família natural (art. 92, I e II c.c. art. 101, §1º), razão pela qual se entende que o acolhimento institucional e o familiar são medidas provisórias e excepcionais, pois são formas de transição para reintegração familiar ou, se não for possível, colocação em família substituta, sem implicar privação de liberdade. 
	Tanto é assim que: (i) o art. 92, §4º estimula o contato entre o acolhido e sua família (local próximo da residência dos pais ou responsável); (ii) o art. 101, §7º determina a inclusão da família em programas de orientação, apoio e promoção social (“trabalhar a família”); (iii) o art. 101, §9º diz que, primeiro, deve ser constatada a impossibilidade de reintegração à família (esgotar as possibilidades) para, depois, a entidade de acolhimento enviar relatório ao MP com vistas à destituição do poder familiar.
	O período máximo de permanência em acolhimento é de dois anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao interesse do menor (art. 19, §2º).
guia de acolhimento
Em regra, o acolhimento institucional depende de decisão judicial do juízo da Infância e da Juventude (art. 101, §2º). O encaminhamento à entidade é feito com a expedição de guia de acolhimento (art. 101, §3º). Importa na deflagração a pedido do MP ou de quem de interesse de procedimento judicial contencioso (destituição do poder familiar). 
Obs. Ao Conselho Tutelar cabe uma função meramente administrativa, podendo somente aplicar de imediato as medidas protetivas do art. 101, I a VII, dentre as quais não se inclui o acolhimento (art. 136, I e p.ú). 
Excepcionalmente, as entidades de acolhimento podem receber crianças ou adolescentes sem determinação judicial, mas a comunicação do ocorrido deve ser feita à VIJ no prazo de 24 horas (art. 93).
plano individual de atendimento
	Realizado o acolhimento, deve ser elaborado um plano individual de atendimento para a criança ou adolescente pela equipe técnica do programa (art. 101, §§4º ao 6º). 
cadastro dos programas de acolhimento
	Deve a VIJ manter um cadastro atualizado das crianças e adolescentes em programa de acolhimento institucional ou familiar, ao qual terão acesso o MP, o Conselho Tutelar, o órgão gestor de Assistência Social e os Conselhos de Direitos Municipais e de Assistência Social. Questiona-se o porquê de a Defensoria não constar do rol, visto que sua missão constitucional é prestar assistência jurídica ao hipossuficiente (art. 101, §§11 e 12). 
regularização do registro
	Se o menor não constardos assentos de nascimento, o juiz ordena a lavratura do mesmo, com base nos dados existentes (art. 102, §1º). São isentos de multas, custas e emolumentos e têm prioridade. Incumbe ao MP o papel de mover ação de investigação de paternidade (§3º), salvo se a criança tiver sido encaminhada para adoção. (§4º). 
situação de risco e fixação de competência
	A ocorrência de situação de risco serve como critério de fixação da competência da Justiça da Infância e da Juventude (art. 148, p.ú c.c. art. 98). 
medida protetiva x medida socioeducativa
	
	Medida de proteção
	Medida socioeducativa
	A quem é aplicável
	Criança e adolescente
	Adolescente
	Hipótese de aplicação
	Violação ou ameaça de violação aos direitos
	Prática de ato infracional
	Elenco de medidas
	Art. 101
	Art. 112, I a VI
	Tipo de rol
	Exemplificativo
	Taxativo
DOS CONSELHOS DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente são órgãos extremamente importantes para a participação comunitária na política de atendimento desses direitos (art. 88, II, do ECA). Em uma democracia participativa, é muito relevante a atuação da sociedade em conjunto com o governo, auxiliando na promoção, na proteção, na fiscalização desses direitos. São órgãos colegiados e paritários (mesmo número de representantes do povo e do governo). Existem no nível federal, estadual e municipal, sendo criados mediante lei.
Cabe aos Conselhos de Direitos a deliberação das políticas públicas com vistas ao atendimento dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, à fiscalização do processo de escolha do Conselho Tutelar, ao cadastramento de todas as entidades e programas que visam ao atendimento desses direitos. O Conselho de Direitos municipal é que tem efetivamente as três funções acima mencionadas. Já os Conselhos federal e estaduais focam mais na deliberação de políticas públicas.
Para um melhor funcionamento do Conselho de Direitos, a lei prevê a criação de um fundo especial da criança e do adolescente, vinculados aos Conselhos (art. 88, IV, do ECA). Nas três esferas há esses fundos. Todas as multas que as pessoas são condenadas a pagar por infrações administrativas na VIJ são revertidas ao fundo, todas as doações feitas etc. Trata-se de verba vinculada às deliberações dos Conselhos, que não podem ser destinadas a determinada criança ou entidade.
dos conselhos tutelares
conceito e características
	Os Conselhos Tutelares estão disciplinados nos arts. 131 a 140 do ECA. Eles não se confundem com os Conselhos de Direitos, pois enquanto estes têm função deliberativa, aqueles promovem concretamente ações destinadas à proteção dos direitos infanto-juvenis.
· Órgão autônomo e permanente, não jurisdicional, integrante do Poder Executivo municipal, sem natureza jurisdicional (art. 131); 
· Deve haver ao menos um Conselho Tutelar em cada Município (ou por região administrativa no DF) (art. 132);
· Composição: 5 membros , com idoneidade moral, mais de 21 anos e residência no Município, eleitos pela comunidade na forma a lei;
· Mandato do Conselheiro de 4 anos, com uma recondução em novo processo eletivo;
· Eleição unificada em todo o país no 1ª domingo seguinte à eleição presidencial (art. 139) (ver proibição art. 139, §3º).
· Posse dos Conselheiros em 10 de janeiro do ano seguinte à eleição;
· Remuneração obrigatória, com pagamento de cobertura previdenciária, terço de férias, licenças maternidade e paternidade e gratificação natalina (direitos mínimos dos membros – art. 134).
· Impedimentos para elegibilidade e atuação no Conselho Tutelar nos arts. 140, caput e p.ú.; 
· Lei municipal (distrital) prevê local, dia e horário de funcionamento;
· Os recursos constarão de lei orçamentária municipal ou distrital;
· Presunção de idoneidade moral (serviço público relevante);
· Decisões passíveis de revisão pela autoridade judiciária, sendo cabível recurso de apelação;
· Revogação da previsão de prisão especial para o conselheiro até a decisão final de processo criminal (Lei 12.696/12);
· Atribuições: art. 136.
tema 3
políticas de atendimento
histórico sobre a política de atendimento
O discurso do direito da criança e do adolescente está vinculado ao Estado Democrático de Direito, que tem como uma de suas características a proteção de determinados grupos sociais e seus direitos mínimos, tal qual a infância e juventude.
Veja o seguinte histórico da proteção deste direito no Brasil:
	Aspecto considerado
	Código Mello de Mattos (Dec. 17.943/27 e Lei n. 4513/64)
	Código de Menores 
(Lei n. 6.697/79)
	ECA 
(Lei n. 8.069/90)
	Concepção política implícita
	Instrumento de proteção e vigilância da infância e adolescência, vítima da omissão e transgressão da família, em seus direitos básicos
	Instrumento de controle social da infância e da adolescência, vítima da omissão e transgressão da família, da sociedade e do Estado em seus direitos básicos
	Instrumento de desenvolvimento social, voltado para o conjunto da população infanto-juvenil do país, garantindo proteção especial àquele segmento considerado de risco social e pessoal
	Visão da criança e do adolescente
	Menor abandonado ou delinquente, objeto de vigilância da autoridade pública (juiz) - FUNABEM
	Menor em situação irregular, objeto de medidas judiciais - FEBEM
	Sujeito de direitos e pessoa em condição peculiar em desenvolvimento
	Mecanismos de participação
	Institui o Conselho de Assistência e Proteção aos Menores, como associação de utilidade pública, com personalidade jurídica. Os Conselheiros, nomeados pelo governo, eram auxiliar do juízo de menores, na qualidade de “delegados da assistência e proteção aos menores”.
	Não abria espaço à participação de outros atores, limitando os poderes da autoridade judiciária e administrativa
	Institui instâncias colegiadas de participação (Conselhos de Direito paritários, Estado e Sociedade civil) e cria no nível municipal os Conselhos Tutelares. Estabelece a construção de uma rede de atendimento.
	Fiscalização do cumprimento da lei
	
	Era de competência exclusiva do juiz e seu corpo de auxiliares. Obs. Perdura aqui a ideia do Comissariado de Menores.
	Cria instâncias de fiscalização na comunidade, podendo estas utilizarem os mecanismos de defesa e proteção dos interesses difusos e coletivos para casos de omissão e transgressão por parte das autoridades públicas. CNJ. 
política de atendimento atual (eca, art. 86)
	As diretrizes da política de atendimento de crianças e adolescentes estão delineadas no art. 204 da CRFB, que adota o modelo da descentralização político-administrativa, com participação efetiva e complementar das entidades federativas na execução da política de atendimento. São os Municípios que têm melhores condições de identificar as necessidades e as ações a serem tomadas para tutela da infância e da adolescência. Rompeu-se com o modelo de atendimento centralizado, vertical, assistencialista e correicional-repressivo construído sob a égide do Código de Menores.
	O art. 86 do ECA conceitua a política de atendimento como um conjunto articulado de medidas, ações e programas governamentais (ex. entidades federativas) e não governamentais (ex. terceiro setor, família, sociedade) voltados ao atendimento de crianças e adolescentes, materializando os direitos que lhe são assegurados pela lei. Ao MP, à DP e à sociedade civil organizada cabe o papel também de fiscalizar essas atividades.
	Abandona-se a doutrina da situação irregular e abraça-se a doutrina da proteção integral, ou seja, a concepção de uma única infância e adolescência integradas como destinatárias da norma, abordando-os sob a ótica dos direitos humanos. Passa-se a ver a criança como sujeitos de direitos, em condição peculiar de desenvolvimento (art. 6º), e não como meros portadores de necessidades ou como indivíduos que tenham manifestado comportamento social inadequado. Por isso, o Estado deve considerar estes direitos, priorizando-os tanto na execução de políticas públicas como na destinação de recursos orçamentários.
Em razão da adoção da proteção integral, surge a necessidadede criação de uma política de atendimento, cujas premissas são:
· Direito à sobrevivência;
· Direito ao desenvolvimento pessoal e social;
· Direito à integridade física, psicológica e moral. 
O objetivo desta política é dar efetividade aos direitos da criança e do adolescente previstos no ECA (art. 4º), na CRFB (art. 227) e em outras leis.
Dentro da ideia de articulação integrada, a União é a responsável por editar as normas gerais, o Estado se responsabiliza pelo ato infracional e o Município pela proteção (art. 227, §7º e 204 da CRFB e art. 86 do ECA).
A função social implica um conjunto articulado de ações por meio do qual fica estabelecida que a unidade de atendimento é autônoma e dinâmica, mantida a identidade do sistema destinado a garantir todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, consagrando objetivamente a proteção integral (art. 3º).
As políticas básicas estão consolidadas mediante a integração articulada pelo governo federal e sua execução pelos governos estaduais e municipais, articulando políticas relacionadas com a infância e juventude, tudo sob a supervisão do juiz competente (arts. 145 ao 149).
linhas de ação (eca, art. 87)
Por conta do princípio da intervenção mínima, deve o Estado intervir o mínimo possível, uma vez que a responsabilidade principal é da família.
As linhas de ação são ações indicadas pelo legislador como imprescindíveis para a construção e desenvolvimento da política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente (comandos normativos sobre educação, saúde, serviço de identificação e localização dos pais).
Nesse aspecto, podemos citar como exemplo as políticas de assistência social em caráter supletivo, tal qual o Bolsa Família, o PET; os serviços de identificação e localização de pais/responsáveis/crianças e adolescentes desaparecidos (ex. Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos - Lei 12.127/2009).
diretrizes da política de atendimento (eca, art. 88)
	São diretivas ou conjunto de instruções de que deve se valer o Poder Público e os outros atores para implementar as linhas de ação. Compreendem um conjunto de seis princípios básicos:
· Princípio da descentralização: é a municipalização do atendimento;
· Princípio da participação: criação de Conselhos de Direitos, com participação popular paritária; 
· Princípio da focalização: criação e manutenção de programas específicos;
· Princípio da sustentação: manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais, vinculados aos Conselhos de Direitos;
· Princípio da integração operacional: atuação convergente e intercomplementar dos órgãos do Judiciário, MP, DP, Segurança Pública e Assistência Social no atendimento inicial ao adolescente a quem se atribua a autoria de ato infracional;
· Princípio da mobilização: desenvolvimento de estratégias de comunicação, visando à participação dos diversos segmentos da sociedade na promoção e defesa de direitos infanto-juvenis; de pesquisas sobre desenvolvimento infantil e prevenção da violência;
· Especialização e formação continuada dos profissionais que atuam na primeira infância;
· Favorecimento da intersetorialidade no atendimento.
fundos para infância e adolescente – fias (eca, art. 88, iV)
	Os Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente, também conhecidos como FIA, são fundos de natureza especial vinculados à realização de determinados objetivos ou serviços, sendo que os recursos que os constituem se transformam em recursos públicos, devendo ser geridos e administrados conforme os princípios constitucionais que regem os orçamentos públicos: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
· ESTADUAL – Lei nº. 1.697 de 22 de agosto de 1990
· MUNICIPAL – Lei nº. 1.873/92 alterada pela Lei nº. 4.062/05 e regulamentada pelo Decreto Municipal nº.11.873/92 
Os Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente devem ter como receita basicamente: 
· Recursos públicos com destinação específica consignados no orçamento da União, dos Estados, Municípios e do Distrito Federal mediante lei;
· Contribuições de governos e organismos internacionais;
· Doações de pessoas físicas e jurídicas (art. 260); e
· Multas por infrações administrativas (art. 214).
No caso de doação direta para o Fundo (art. 206 do ECA) existe o benefício de abatimento para o imposto de renda em até 6% para pessoas físicas e até 1% para pessoas jurídicas - não pode haver a chamada “doação casada”.
conselho de direitos (ECA, art. 88, II)
	O conselho de direitos é órgão público que exerce atividade administrativa de governo e não possui personalidade jurídica, mas possui independência e autonomia funcionais. É o próprio Executivo exercendo tarefas de gestão de forma conjunta com a sociedade civil.
	Apresenta como objetivo principal estabelecer prioridades e definir a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente e tem por finalidade coordenar e fiscalizar as ações de atendimento à infância e à juventude no âmbito de cada competência. É uma gestão política.
	Os Conselhos de Direitos apresentam-se em 3 níveis: federal (CONANDA), estadual (CEDCA) e municipal (CMDCA). Cada qual tem sua função na esfera de governo, todos são órgãos deliberativos e controladores das ações das políticas de atendimento, órgãos colegiados criados por lei específica e que traduzem a participação da população por meio de organizações representativas. Possuem composição paritária e seus membros exercem atividade não remunerada de interesse público.
	São atribuições dos Conselhos (art. 136):
· Deliberar e controlar as políticas públicas (questões discutidas com a participação da sociedade civil);
· Fiscalizar e acompanhar as ações (as deliberações do Conselho vinculam o administrador público);
· Gestão dos fundos para infância e adolescência;
· Administração da eleição dos membros do Conselho Tutelar local (CMDCA).
conselhos tutelares
	Funcionam como uma espécie de tutor que tem como objetivo proteger os direitos fundamentais da criança e do adolescente em situação de risco. Ao Conselho Tutelar cabe o primeiro atendimento, sendo um órgão emergencial da área da infância e da juventude.
	É órgão permanente (não é extinto quando muda a governança local) e autônomo (não está subordinado ao juiz nem ao MP), não jurisdicional (não é permitido ao Conselheiro exercer funções privativas do juiz, tal qual determinar inversão de guarda), encarregado pela sociedade por zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente (art. 131). Em cada Município, há no mínimo um Conselho Tutelar. No RJ, são 10.
	São requisitos para se candidatar a Conselheiro Tutelar (art. 133):
· Reconhecida idoneidade moral;
· Idade superior a 21 anos;
· Residir no Município.
As atribuições do Conselho Tutelar estão no art. 136. 
	O juiz não pode rever os atos do Conselheiro ex officio. Deve ser provocado em tal sentido, conforme preleciona o art. 137.
	
	Conselhos de Direitos
	Conselhos Tutelares
	Disposição
	Cada Município só pode ter um Conselho de Direitos
	Um Município pode ter vários Conselhos Tutelares 
	Remuneração
	Função não remunerada
	Função remunerada
	Função
	Funções gerais relacionadas à política de atendimento
	Funções específicas relacionadas às famílias, crianças e adolescentes em risco
entidades de atendimento
Conceito
As entidades de atendimento são responsáveis pelo planejamento e execução de programas de proteção para crianças e adolescentes em situação de risco – art. 101 do ECA- e programas socioeducativos para adolescentes que praticaram ato infracional – art. 112 do ECA. São, portanto, dois tipos de entidade de atendimento.
	Campo de atuação das entidades de atendimento (art. 90)
	Programas de proteção
	I – orientação e apoio sócio-familiar
II – apoio socioeducativo em meio aberto
III – colocação familiar
IV – acolhimento institucional
	Programas socioeducativos
	V – prestação de serviços à comunidade
VI – liberdade assistida
VII – semiliberdade
VIII – internação
Atenção! Tais entidades devem pautar sua atuação pelos parâmetros definidos no ECA e no SINASE. 
classificaçãoAs entidades podem ser classificadas de acordo com dois critérios:
I. Quanto à origem:
a) Governamentais: são as ligadas diretamente à Administração Pública e que só podem ser criadas por lei.
b) Não governamentais: são criadas por iniciativa particular, ainda que possam receber recursos públicos para sua manutenção, dependendo de prévio registro no Conselho de Direitos respectivos.
II. Quanto ao regime de atendimento:
a) Programas de proteção (geralmente voltados às questões familiares);
b) Programas socioeducativos (voltados ao acompanhamento das medidas socioeducativas).
princípios
As entidades de atendimento são regidas por alguns princípios:
· Preservação dos vínculos familiares e promoção de reintegração familiar;
· Integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família natural ou extensa;
· Atendimento personalizado e em pequenos grupos (na Lei de Adoção, tem o PAI e, na Lei do SINASE, temos o PIA).
· Desenvolvimento de atividades em regime de co-educação;
· Não desmembramento de grupos de irmãos;
· Evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes acolhidos em instituições de acolhimento;
· Participação na vida da comunidade local;
· Preparação gradativa para o desligamento – o ECA prevê a obrigação de envio de relatórios à autoridade judiciária sobre cada criança ou adolescente e de sua família, no máximo, a cada 6 meses (art. 92, §2º c.c. art. 19 c.c. art. 94, XIV).
· Participação de pessoas da comunidade no processo educativo.
O rol de princípios do art. 92 não é taxativo, pois as entidades devem respeitar também os princípios explícitos e implícitos no ECA e na CRFB/88.
registro
	As entidades governamentais, em virtude de sua origem pública, gozam de presunção de idoneidade para a prestação de atividades ligadas a crianças e adolescentes, razão pela qual podem desde logo funcionar.
	Em relação às entidades não-governamentais, antes do início de suas atividades, é preciso realizar seu registro no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente, respeitadas as condições do art. 91, §2º. Preenchidos os requisitos, recebe autorização para funcionamento pelo prazo de 4 anos, que pode ser renovado.
	É requisito essencial para o funcionamento de todas as entidades de atendimento, governamentais ou não, a inscrição de seus programas no Conselho Municipal de Direitos (art. 90, §1º) Obs. Isso é importante para que, posteriormente, possa haver a responsabilização objetiva do dirigente da entidade.
	Após a inscrição, o Conselho de Direitos comunica ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária para que se possa realizar o encaminhamento da criança ou do adolescente às entidades.
	Compete ao Conselho Municipal reavaliar os programas em execução a cada 2 anos mediante verificação dos requisitos do art. art. 90, §3º, avaliando a conveniência de sua renovação: (i) respeito ao ECA e às recomendações dos Conselhos; (ii) qualidade e eficiência do trabalho, atestada pelo CT, MP e VIJ; (iii) índices de sucesso na reintegração familiar/adaptação à família substituta.
Programas de Proteção
Os programas de proteção se consolidam pela aplicação de medidas protetivas. Verificada qualquer das hipóteses do art. 98, as crianças ou seus pais e responsáveis podem ser encaminhados a alguma das entidades executoras de programas protetivos para aplicação das medidas do art. 101 do ECA.
	O acolhimento institucional e familiar são medidas protetivas previstas no art. 101 do ECA. Após o advento da Lei 12.010/09, conhecida como Lei da Adoção, os programas de acolhimento institucional e familiar ganharam importância, considerando que, ao lado da guarda e da tutela, objetivam de maneira temporária manter a criança e o adolescente acolhidos enquanto se busca a reestruturação familiar.
	A fim de regulamentar a fiscalização nas entidades de acolhimento, a Corregedoria Nacional de Justiça editou o Provimento n. 32/2013, que disciplina a realização de visitas e audiências, preferencialmente in loco, nas próprias entidades de atendimento. O TJRJ, em observância a tal Provimento, implementou o Plano Mater, cujo objetivo é a garantia do direito das crianças e dos adolescentes à convivência familiar e comunitária. O objetivo primordial é a realização de audiências concentradas cuja meta é a plena reinserção destas crianças e adolescentes no seio familiar, a partir da identificação de quais os problemas têm impedido esta reinserção e da adoção de medidas para sua solução, com a presença dos atores do sistema de garantia dos direitos da criança e do adolescente.
programas socioeducativos
	O adolescente (idade maior de 12 anos e menor de 18 anos) e a criança (idade de até 12 anos) são penalmente inimputáveis e sujeitos à aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Desta forma, cometem ato infracional – conduta descrita como crime ou contravenção penal.
	A inimputabilidade penal do adolescente significa a insubmissão deste às penalizações previstas na legislação penal, mas não o isenta de responsabilização e sancionamento. Logo, prática de ato infracional autoriza a autoridade competente aplicar ao adolescente medidas socioeducativas do art. 112 do ECA.
As entidades executoras de programas socioeducativos devem observar o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, criado e regulamentado pela Lei 12.594/2012 (Lei do SINASE). Ele representa o instrumento de política governamental responsável pela execução de medidas socioeducativas, consagrando-se como base o princípio da democracia participativa. 
	Esse sistema se constitui de forma integrada, articula os três níveis de governo e permeia seus programas de desenvolvimento, levando em conta a intersetorialidade e a co-responsabilidade da família, sociedade e Estado. 
	O SINASE veio preencher a lacuna legal referente à forma de execução das medidas socioeducativas indo diretamente ao encontro das diretrizes do Conselho Nacional de Justiça no sentido de uniformizar e normatizar os procedimentos bem como buscar continuamente o aperfeiçoamento da legislação.
	As entidades voltadas à internação devem cumprir as obrigações constantes de rol exemplificativo dos arts. 94 e 94-A, dentre as quais uma das mais importantes é a reavaliação periódica a cada 6 meses no máximo da situação do adolescente (inciso XIV). 
	A política de atendimento, portanto, corrobora a previsão constitucional que indica a responsabilidade compartilhada de todos os entes da federação e da sociedade no atendimento das questões infanto-juvenis.
	Desta forma, a primeira diretriz indicada no art. 88 do ECA – municipalização do atendimento – representa o corolário da descentralização político-administrativa adotada na Constituição Federal. Assim, a execução das medidas socioeducativas em meio aberto, não restritivas de liberdade, são de atribuição do Município, que pode melhor coordenar uma política em nível local, agindo diretamente nos programas de atendimento.
Assim, a execução das medidas socioeducativas restritivas de liberdade, em regime de restrição de liberdade será de responsabilidade exclusiva do Estado.
fiscalização das entidades e seus dirigentes
	O artigo 95 dispõe que a fiscalização das entidades compete ao Judiciário, ao MP e aos Conselhos Tutelares. A esse rol, há de se acrescentar a DP. No âmbito do Judiciário, temos a atuação dos Comissariados, que são os “olhos” do juiz. Apurada alguma irregularidade, o comissariado informa ao juiz em um relatório e o juiz pode editar uma portaria para apuração.
	
O ECA elenca as medidas que podem ser aplicadas às entidades em caso de irregularidades em seu art. 97:
a) Entidades governamentais (art. 97, I):
· Advertência
· Afastamento provisório ou definitivo do dirigente
· Fechamento de unidade ou interdição de programa
b) Entidades não governamentais (art. 97, II)
· Advertência
· Suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas
· Interdição da unidade ou suspensão de programa
· Cassação de registro
Já o diretor da entidade, para efeito de lei, é equiparado aum guardião, nos termos do art. 92, §1º, do ECA. Embora a lei só se refira ao diretor que atue junto à unidade de acolhimento institucional, a doutrina entende que o dirigente das unidades destinadas à execução das medidas de internação e de semi-liberdade também se encontram nesta condição.
	A responsabilidade do guardião, segundo o art. 92, §6º, do ECA, é administrativa (arts. 194 a 197 do ECA), civil (art. 37, §6º, da CRFB) e criminal.
	Obs. A Lei n. 13.046/2014 acrescentou os arts. 70-B e 94-A, p.ú, bem como incluiu o inciso XII do art. 136 do Estatuto da Criança e do Adolescente (maus-tratos).
Formas de início de apuração da responsabilidade administrativa (eca, art. 191)
	A apuração da responsabilidade administrativa pode se iniciar por:
· Portaria da Autoridade Judiciária 
· Representação do MP
· Representação do Conselho Tutelar 
O procedimento está previsto nos arts. 192 e 193 do ECA.
A responsabilização do gestor se dá na forma do art. 97 do ECA e do art. 28 da Lei nº 12.594. O descumprimento de quaisquer das disposições do ECA é causa de destituição do diretor da unidade. 
Ver ainda Resoluções CNJ: 54/08, 77/09, 131/11, 157/12, 165/12, 191/14.
justiça restaurativa
	É um modelo alternativo e complementar da Justiça que busca a resolução de conflitos por responsabilidade compartilhada, por métodos pacíficos e educativos, cuja principal ferramenta é o diálogo entre as pessoas, possibilitando oportunidades para os envolvidos (ofensor, vítima, familiares, comunidades) se expressarem e participarem de ações concretas que possibilitem prevenir a violência ou restaurar situações de conflitos. Tem previsão no art. 101 do ECA e no art. 35 da Lei do SINASE (sugere que as medidas socioeducativas priorizem práticas restaurativas que atendam as necessidades da vítima e fortaleçam vínculos comunitários).
Antes de ser oferecida a representação pela prática de ato infracional, deve-se tentar a justiça restaurativa. Chamam-se as partes para ver se é possível a composição do conflito. Não é um procedimento formal, mas informal, via diálogo, cuja finalidade precípua é a assunção de responsabilidades e a reparação do dano, quando possível, pelo adolescente autor do ato infracional. 
	Abordagem
	Retributiva
	Restaurativa
	Forma
	Medidas socioeducativas
	Educativas
	Delito
	Ato infracional
	Conflito entre pessoas
	Foco
	Ofensor
	Necessidades da vítima
	Responsabilidade
	Individual
	Coletiva
	Procedimento
	Judicial
	Diálogo
	Finalidade
	Estabelecer culpados
	Assumir responsabilidade e reparar danos
tema 4
psiquiatria forense
distinção psiquiatria x direito
	A psiquiatria forense é um ramo da Medicina que faz uso dos elementos psiquiátricos para auxiliar o Direito. Ela é um fenômeno científico-natural, pois decorre dos próprios fatos da natureza, ou seja, da constatação clínica de sinais e sintomas. 
O Direito, por sua vez, se baseia em normas, nascendo da inteligência humana, do interesse social. É um fenômeno lógico-formal, pois decorre de normas criadas em determinado tempo e espaço e que podem ser modificadas, revogadas etc.
transtornos mentais
	Durante o interrogatório, o acusado tenta explicar que praticou o ato porque a vítima o perseguia permanentemente com uma voz nos dias ensolarados.Esta situação pode ensejar um pedido de exame de sanidade mental. Não se pode, concluir, porém, que todo criminoso tem transtorno mental. 
Apsicose é a forma mais grave de doença mental. Há um comprometimento grave da capacidade de avaliar a realidade, ocorrendo aquilo que chamamos de “delírio”, ou seja, a formulação de um pensamento bem encadeado a partir de uma premissa totalmente falsa. Pode até ser que o psicótico entenda o caráter ilícito do fato, mas certamente não é capaz de formular um juízo crítico sobre ele, razão pela qual deve ser tido como inimputável na forma do art. 26 do CP. A forma mais conhecida de psicose é a esquizofrenia. 
	A neurose compreende várias espécies de doença como o Transtorno Obssessivo Compulsivo (TOC). 
	Temos ainda os desvios de personalidade e a deficiência de inteligência e a demência (aqui incluídos os retardados mentais, os dementes etc.). 
	Todos esses transtornos podem decorrer de fatores endógenos (como os fatores hereditários) como de fatores exógenos (traumatismos, doenças adquiridas).
temas 5 e 6
família biológica
introdução
	O ECA é um microssistema que basta a si mesmo. Isto porque ele contém normas de ordem material, processual, administrativa, civil e penal. Quando houver lacuna ou quando a matéria já estiver regulamentada por outra norma, pode-se recorrer a ela, a exemplo do que ocorre com a tutela, que já é regulamentada pelo Código Civil.
princípios
a) Princípio da igualdade entre os filhos: todos os filhos são iguais em direitos e deveres independentemente de sua origem (art. 227, §6º, da CF).
	b) Princípio da igualdade entre cônjuges e companheiros: homem e mulher são iguais em direitos e deveres perante a lei (art. 5º, I e 227, §5º, da CF).
	c) Princípio da dignidade da pessoa humana: é um princípio e um fundamento da República (art. 1º, III, da CF).
	d) Princípio da prioridade absoluta: quando se tratar de criança e adolescente, estes vão ter prioridade sobre qualquer outra pessoa (art. 227, caput, da CF). No Estatuto do Idoso, também há prioridade para o idoso, mas é uma previsão somente infraconstitucional, pelo que prevalece o direito da criança ao do idoso.
	e) Princípio da paternidade responsável: é a possibilidade de livre planejamento familiar, ou seja, de ter quantos filhos quiser, desde que tenha recursos suficientes para seus cuidados (art. 227, §7º, da CF).
	O art. 100, parágrafo único, do ECA traz princípios que regem a aplicação das medidas protetivas e socioeducativas. Dentre eles, importante citar:
	f) Princípio da responsabilidade parental (inciso IX): os pais devem assumir seus deveres para com as crianças e os adolescentes. Há uma ordem na responsabilidade com os direitos infanto-juvenis: pais, família extensa, sociedade, Estado. O Estado, portanto, só intervém se todos os agentes anteriores falharem. 
	g) Princípio da prevalência da família (inciso X): na proteção dos direitos da criança e do adolescente, deve-se buscar a sua manutenção na família natural (pai e mãe) ou na família extensa (parentes). Não sendo isso possível, é que se busca a inserção em família substituta. O que não se pode deixar é que a criança e o adolescente fiquem sem família, dado o direito fundamental à convivência familiar e comunitária.
família natural
	Entende-se por família naturala comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes (ECA, art. 25). Esse conceito é distinto do conceito de família biológica previsto no Código Civil, de caráter mais amplo. 
O legislador, para acabar com esse conflito terminológico, criou o conceito de família extensa ou ampliada que abrange todos os parentes próximos com os quais a criança e o adolescente convive e mantém vínculos de afetividade e afinidade. Essa parte final denota que, em havendo necessidade de reinserção do menor em sua família extensa, o grau de parentesco não influencia, mas sim o grau de afetividade, em homenagem ao princípio do interesse superior da criança e do adolescente.
Em não havendo possibilidade de se manter a criança ou o adolescente na família natural ou extensa, ela será encaminhada a um programa de acolhimento. O prazo máximo do acolhimento é de 2 anos, salvo se a prorrogação for justificável no interesse exclusivo do menor. 
família acolhedora
	No programa “Família Acolhedora”, as famílias devidamente inscritas no programa recebem um subsídio para acolherem crianças e/ou adolescentes em sua residência, cuidando como se filho fosse, pelo tempo necessário. São acompanhadas por uma equipe interprofissional. É uma alternativa criada ao acolhimento institucional de forma a tornar a retirada da família menos traumática para o menor. Não se confunde com acolhimento familiar.
acolhimento familiar
	O programa de acolhimento familiar é para trabalhar todaa família. Ela será acompanhada por equipes interprofissionais de forma que não se desintegre. O objetivo é garantir o direito da criança e do adolescente de permanecer no seio de sua família. 
poder familiar (cc, arts. 1630 a 1638)
	O poder familiar é um complexo de direitos e deveres de ambos os pais com relação ao filho menor, tanto na área pessoal como na área patrimonial. A expressão “poder familiar” veio para substituir a antiga expressão “pátrio poder”, em homenagem ao princípio da igualdade entre os cônjuges. 
	O poder familiar é um dever irrenunciável dos pais, que se destina a proteger a pessoa dos filhos e dar aos pais a prerrogativa de tomar a maioria das decisões em relação a eles até que atinjam a maioridade, independentemente de autorização do juiz. Importante ressaltar que o poder familiar deve ser exercido dentro dos limites legais, sem quaisquer abusos.
	Mesmo quando há um nascituro, os pais já detêm o poder familiar, sendo os responsáveis por tomada de decisões (ex. realização de cirurgia do nascituro).
	Se houver divergência entre os pais, ambos detentores do poder familiar, nos termos do parágrafo único do art. 1.631 do CC, qualquer dos pais pode recorrer ao Judiciário a fim de que se dê uma solução à divergência.
	O art. 1.634 do CC elenca os atributos do poder familiar, ou seja, os deveres dos pais para com seu filho. Ocorre que o primeiro dever de um pai para com seu filho não está expresso em lei, qual seja registrar o filho quando de seu nascimento. São atributos do poder familiar: 
I. Dirigir a criação e educação 
Esse inciso inclui dois deveres:
a)Dever de sustento: os pais devem sustentar o filho até que atinja a maioridade, mesmo que ele exerça atividade laborativa (e seja emancipado, por exemplo) e mesmo que os pais sejam destituídos do poder familiar (as entidades de acolhimento podem, inclusive, entrar com ação de alimentos em face dos pais);
b) Dever de educação: abrange tanto a educação informal (responsabilidade dos pais de ensinar a criança as atividades do dia-a-dia) como a formal (responsabilidade dos pais de matricular a criança em uma rede regular de ensino). O ensino fundamental é obrigatório (art. 54, I, do ECA).A vaga na escola tem que ser providenciada (não é obrigatório ser a escola que os pais querem embora a lei recomende que seja a mais próxima da residência do menor). O ensino médio ainda não é obrigatório, pois este só o será quando todas as crianças tiverem acesso ao ensino fundamental. O dever de educação compreende também o dever de correção e disciplina, exercido dentro dos limites da lei. Registre-se que não há nenhum óbice aos pais em atribuírem responsabilidades aos seus filhos, desde que apropriadas à sua idade. 
II. Exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
A lei já dá o direito de guarda dos filhos aos pais, podendo eles reaver a criança com quem quer que seja o terceiro que o detenha. Ele, a princípio, está vinculado ao poder familiar. 
Nada impede que, em situações excepcionais, a guarda seja deferida a um terceiro, mas, nesse caso, o terceiro deverá ter um provimento judicial em seu favor.
Em caso de dissolução da sociedade conjugal, pode ser determinada:
a) Guarda unilateral: embora o poder familiar compita a ambos os pais, a guarda é deferida somente a um deles, sem que isso retire o direito do outro de visitar, de tomar decisões importantes quanto à vida do filho etc.
b) Guarda compartilhada: a guarda é deferida a ambos os pais, embora o filho resida com um deles. Ela só funciona quando há diálogo entre os pais, na medida em que toda a organização da vida do filho é dividido. O pai que não reside com o menor pode visitá-lo, buscá-lo etc. sem restrições, desde que não prejudique a vida do filho. Nada impede que sejam fixadas regras mínimas para evitar a necessidade de um novo processo ou que os pais estipulem de outra forma (ex. guarda alternada – quando o filho se reveza na casa dos pais; alinhamento – os pais saem de casa, o filho fica na casa e os pais se alternam na casa do filho). 
Dentro do dever de guarda, inclui-se o dever de assistência emocional, religiosa, social etc. 
Há ainda outros deveres no art. 1.634 do Código Civil.
Se os pais violarem o poder familiar, poderão sofrer como sanção a suspensão ou perda do poder familiar. A diferença reside principalmente na gravidade da violação. Se a violação for grave, impõe-se a perda. Se a violação for pequena, suspende-se o poder familiar. Registre-se que caso a suspensão se torne recorrente pode-se proceder à perda. 
O legislador não estipula as hipóteses de perda e suspensão de forma taxativa, deixando sua análise para o caso concreto pelo magistrado, conquanto cite alguns motivos que podem dar causa à perda e a suspensão (arts. 1.637 e 1.638). É muito comum a suspensão em casos de alienação parental (art. 6º da Lei 12.318). 
Como motivos para a perda por ato judicial, o art. 1.638 cita:
i. Castigo imoderado do filho;
ii. Deixar o filho em abandono: o abandono pode ser material ou afetivo.
iii. Praticar atos contrários à moral e aos bons costumes: ex. ver filme pornô ao lado do filho, usar drogas na frente do filho. A moral e os costumes variam conforme tempo e espaço. 
iv. Incidir, reiteradamente, nas faltas do artigo antecedente: se os pais constantemente incidirem em causas de suspensão.
A suspensão pode ser revista. Já a destituição, a princípio, é para sempre. Contudo, alguns autores mais modernos entendem possível o restabelecimento do poder familiar se comprovado que a situação que levou à perda não existe mais há muito tempo, na medida em que se trata de relação jurídica continuativa (assim entendeu o TJRJ no XLIV Concurso para a Magistratura). A única hipótese em que não seria possível o restabelecimento de nenhuma maneira é caso a criança já tivesse sido adotada, dado o caráter irrevogável da medida.
A doutrina civilista mais tradicional entende que a tutela só pode ser dada a uma pessoa, na medida em que o CC só se refere a “tutor” no singular. Contudo, atualmente, a tutela é vista não apenas como forma de administração do patrimônio, mas como uma modalidade de colocação em família substituta, razão pela qual se justifica o seu deferimento a mais de uma pessoa, em homenagem ao princípio do interesse superior da criança e do adolescente. 
família substituta
	Em não havendo mais possibilidade de reinserção da criança em sua família biológica, ela será colocada em uma família substituta. Trata-se de medida protetiva prevista no art. 101, IX, do ECA. 
	O procedimento para colocação em família substituta começa no art. 28. Ela se dará mediante procedimento de guarda, tutela ou adoção. Sempre que possível, a criança deve ser ouvida por equipe interprofissional e sua opinião considerável. Já em se tratando de adolescente, ele será ouvido em audiência, sendo necessário seu consentimento.
Na colocação em família substituta, também se verifica se há vínculo de afetividade e de afinidade entre a criança e o adolescente e o guardião/tutor/adotante.
Em princípio, os grupos de irmãos devem ser colocados na mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação excepcional que o justifique. 
O art. 31 traz uma regra específica para colocação em família substituta estrangeira. É uma exceção, pois deve se tentar manter o menor no seu país de origem, e somente pode ser concedida em modalidade de adoção. Não se dá guarda nem tutela para estrangeiro, uma vez que a guarda e a tutela já permitem que o guardião e o tutor viajem com o menor e este pode sofrer riscos no exterior.
A adoção é precedida de um estágio de convivência. Na adoção internacional, como há vedação de concessão de guarda provisória ao estrangeiro, o estágio de convivência é feita mediante termo de responsabilidade.
guarda (eca, arts. 33 a 35)
	Não transfere o poder familiar como um todo, mas somente alguns de seus atributos como o dever de guarda e de sustento. Nada impede que o guardião mova ação de alimentos em relação aos detentores do poder

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