Buscar

Mecanismos de Agressão e Defesa

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 124 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 124 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 124 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

MEDICINA UNIME – 2019.2 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
 
PROBLEMA 1- ABERTURA: 
A IMUNIDADE INTATA: 
A imunidade diz respeito à capacidade de 
proteção contra doenças e infecções, sendo 
um processo deflagrado pelo sistema imune, 
que desencadeia processos baseados no 
contato com a matéria contaminante 
(composto por células e moléculas 
específicas), e executado por meio de 
respostas imunológicas, reações 
deflagradas contra macromoléculas e 
organismos estranhos, não importando as 
consequências fisiológicas ou patológicas 
desse mecanismo. O papel desse sistema é 
garantir a defesa do corpo humano contra 
agressões promovidas por microrganismos. 
A imunidade inata ou natural representa a 
primeira barreira contra esses organismos 
nocivos, sendo formada por defesas 
celulares e bioquímicas já atuantes mesmo 
antes da infecção ocorrer. A especificidade 
dos mecanismos adotados por essa 
modalidade de resposta é mais ampla, 
abrangendo grandes categorias de 
microrganismos, mas incapaz de reconhecer 
pequenas alterações entre seus 
componentes. Suas principais formas de 
ação são barreiras físicas (pele, tecidos do 
trato gastrointestinal e respiratório) e 
químicas (lágrimas e suco gástrico), células 
fagocíticas e assassinas naturais e proteínas 
sanguíneas. 
As superfícies epiteliais, em seu estado 
íntegro, formam uma verdadeira barreira 
física entre o meio externo e os tecidos do 
hospedeiro. Além do fator estrutural, tais 
células produzem e secretam substâncias 
químicas antimicrobianas que também 
impedem o contato desses organismos com 
o meio interno. As funções físicas 
desempenhadas pela barreira epitelial são 
desempenhadas por células epiteliais, que 
são aderidas firmemente umas às outras, 
pela camada queratinizada externa, e pelo 
muco, secreção viscosa capaz de impedir 
invasões patogênicas, facilitando sua 
eliminação. As funções químicas dessa 
camada de proteção são reservadas para 
alguns peptídeos de propriedades 
antimicrobianas como defensinas e 
catelicidinas, além de algumas formas de 
linfócitos (linfócitos T intraepiteliais), capazes 
de responder e reconhecer microrganismos 
comumente encontrados. 
 
Fagócitos são tipos celulares de função 
especializada representados principalmente 
por macrófagos e neutrófilos, primeira linha 
de defesa após a ultrapassagem da barreira 
epitelial. Essas células são capazes de 
englobar e matar microrganismos, 
produzindo assim citocinas que aumentam a 
função antimicrobiana das células no sítio de 
infecção e promovem inflamação. Os 
macrófagos, além de desempenharem essa 
função, também estão envolvidos no 
processo de reparo tecidual do hospedeiro. 
As células dendríticas desempenham um 
papel fundamental no reconhecimento de 
invasores, sendo efetivas também no 
direcionamento de respostas adaptativas 
mediadas por linfócitos T, uma vez que 
possuem a capacidade de internalizar 
antígenos proteicos, transportando-os aos 
gânglios linfáticos e apresentando-os às 
células efetoras linfoides. Estão localizadas 
em diversos tecidos do corpo, contando com 
processos citoplasmáticos longos 
semelhantes a dendritos e sendo 
representantes de um conjunto heterogêneo 
de derivados da medula óssea. 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
Células Natural Killer (NK) são linfócitos 
responsáveis por funções importantes na 
defesa contra bactérias intracelulares e 
vírus, sendo capazes de executar sua morte 
sem necessidade de expansão clonal e 
diferenciação, o que ocorre para as demais 
células do corpo que realizam apoptose. As 
células NK conseguem reconhecer 
estruturas em estresse, seja por infecções ou 
por danos endógenos, tendo sua ativação 
regulada pelo equilíbrio de sinais gerados 
por receptores de ativação/inibição, sendo 
que os primeiros identificam ligantes 
presentes em compostos danificados (IL-12 
enviados por macrófagos), e o último 
percebe marcadores de células normais. A 
interação de uma NK com outras células tem 
como função a morte dessas ou a ativação 
de macrófago para destruição microbiana, o 
que se dá pela liberação de grânulos 
proteicos mediadores da morte celular. 
 
Os linfócitos são, em sua maioria, 
componentes do sistema imune adaptativo 
(grande repertório de especificidades), 
porém alguns deles expressam receptores 
de antígenos análogos aos dos linfócitos T e 
B, mas com menor diferenciação, capazes 
de identificar somente características mais 
amplas de grupos microbianos. Nesse 
contexto, é possível destacar as células T NK 
invariantes (iTNK), células γδ e células T 
intraepiteliais com TCR αβ, células B-1 e 
células B da zoa marginal. 
Mastócitos são tipos celulares presentes na 
pele e no epitélio da mucosa capazes de 
secretar de forma rápida citocinas pró-
inflamatórias e mediadores lipídicos em 
reação aos estímulos infecciosos. Possuem 
grânulos abundantes em seu citoplasma que 
protegem mediadores inflamatórios, 
liberados em caso de ativação celular por 
microrganismos ou em resposta a um 
anticorpo. Essas reservas contêm 
compostos vasoativos (histamina) e enzimas 
proteolíticas capazes de matar ou inativar 
ameaças e toxinas. Tais células também 
podem secretar mediadores lipídicos e 
citocinas que auxiliam os mecanismos de 
defesa do organismo. Por estarem 
localizados na periferia dos vasos 
sanguíneos as respostas induzidas por 
essas células são rapidamente 
disseminadas, promovendo um quadro de 
inflamação aguda. Os mastócitos expressam 
TLRs, e os ligantes do TLR podem induzir 
desgranulação da célula em questão, além 
de apresentarem importante papel na 
proteção do hospedeiro contra helmintos e 
no desenvolvimento de sintomas alérgicos. 
Algumas moléculas capazes de reconhecer 
ameaças microbianas encontram-se 
dispersas no sangue e fluidos extracelulares, 
sendo a primeira defesa contra agentes 
patogênicos fora das células do hospedeiro, 
atuando de duas formas principais: 
 Agem como opsoninas ao ligarem-se aos 
microrganismos, ampliando a habilidade 
de células fagocíticas em eliminar tais 
ameaças, uma vez que essas 
apresentam receptores específicos para 
esse complexo; 
 Promovem, após o contato com o 
antígeno, respostas inflamatórias 
responsáveis por aumentar a atração de 
fagócitos para o sítio de infecção, 
podendo participar diretamente da 
eliminação desses agentes patogênicos. 
Por estarem dispersas pela circulação do 
hospedeiro, esses mecanismos são também 
chamados de ramo humoral do sistema 
imune inato, segmento que também é 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
composto por sistema complemento, 
colecitinas, pentaxinas e ficolinas. 
O sistema complemento é formado por 
diversas proteínas plasmáticas que agem 
juntas para “opsonizar” microrganismos, 
recrutar células realizadoras de fagocitose 
para o local de infecção, e até mesmo na 
morte direta de um patógeno. Sua ativação 
se dá por meio de um sistema em cascata 
proteolítica que depende de seus próprios 
produtos, gerando assim três vias: 
 Via clássica: emprega a proteína C1q na 
identificação de anticorpos ligados pela 
porção Fc a um microrganismo ou demais 
estruturas, gerando os compostos C1r e 
C1s, que criam uma cascata proteolítica, 
participando tanto da imunidade humoral 
adaptativa quanto da inata (eficiente 
ligação entre anticorpos IgM e C1q); 
 Via alternativa: disparada quando a 
proteína C3 reconhece estruturas da 
superfície microbiana, com 
lipopoliproteinas de uma bactéria, 
distinguindo-a do tecido normal do 
organismo por meio da ausência de 
enzimas reguladoras; 
 Via da lectina: é deflagrada pela proteína 
plasmática lectina ligante de manose 
(MBL), capaz de reconhecer resíduos 
desse composto em glicoproteínas e 
glicolipídios microbianose receptores de 
manose em membranas de fagócitos. 
 
 As pentraxinas são proteínas plasmáticas 
que reconhecem estruturas microbianas, 
representadas por proteína C-reativa 
(PC-R) e amiloide P sérico (SAP), 
capazes de identificar múltiplas espécies 
de bactérias e fungos, além da pentraxina 
longa (PTX3). Todas essas estruturas 
ativam a via clássica por ligação com a 
C1q. 
Os níveis de PC-R no sangue são 
normalmente baixos, porém, em casos de 
inflamação, sua produção hepática é 
aumentada em mil vezes devido à 
secreção de IL-6 e IL-1, citocinas 
produzidas por fagócitos como parte da 
resposta inata, sendo, portanto, 
denominadas reagentes de fase aguda. 
 O PTX3 é produzido por vários tipos 
celulares, incluindo células dendríticas, 
macrófagos e células endoteliais, em 
resposta aos ligantes TLR e citocinas 
inflamatórias, porém não é considerado 
reagente de fase aguda, uma vez que 
permanece armazenado nos grânulos de 
neutrófilos e só são liberados após sua 
morte. Reconhece bactérias Gram-
positivas e negativas, fungos, vírus e 
células apoptóticas, contribuindo 
inclusive para a proteção contra o vírus 
influenza; 
 Colectinas são proteínas pertencentes a 
uma família em que cada subunidade 
apresenta cauda colágena ligada à região 
do pescoço por uma cabeça de MBL, que 
serve tanto como receptor de padrões 
quanto como opsonina, ligando-se a 
microrganismos para aumentar sua 
fagocitose; 
 Ficolinas são estruturalmente parecidas 
com as Colectinas, apresentando apenas 
um domínio reconhecedor de fibrinogênio 
no local de sua região de MBL, ainda 
assim mantendo ação similar ao grupo 
anteriormente citado. Seus ligantes 
referem-se a substâncias de paredes 
celulares de bactérias Gram-positivo. 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
 
Muitos microrganismos patogênicos 
evoluíram para resistir à imunidade inata e 
sua eliminação necessita dos mecanismos 
mais potentes da imunidade adaptativa, o 
que evidencia as diversas conexões entre 
essas formas de defesa do corpo humano. A 
resposta imune inata aos microrganismos 
estimula as respostas imunes adaptativas e 
influencia a natureza das respostas 
adaptativas. 
 
As citocinas são um conjunto de proteínas 
secretadas com múltiplas estruturas e 
funções, responsáveis por regular diversas 
atividades inerentes a imunidade inata e 
adaptativa. Essas substâncias são 
secretadas por todas as células do sistema 
imune, sendo que essas também possuem 
receptores com sinalização específica para 
tais compostos. Essas proteínas têm por 
função o crescimento e diferenciação das 
células imunológicas, ativação de funções 
efetoras em linfócitos e fagócitos e o 
direcionamento de células desse sistema do 
sangue para os tecidos e sua migração 
dentro dessa estrutura, papel esse 
desempenhado pelas quimiocinas. 
 
O sistema imune inato desempenha três 
funções importantes: 
 Primeira resposta aos microrganismos, 
capaz de eliminar, prevenir ou controlar a 
infecção do hospedeiro por agentes 
patogênicos: se qualquer uma das 
barreiras inerentes à imunidade inata for 
inibida ou danificada o corpo se torna 
mais susceptível a processos 
infecciosos, mesmo que a ação do 
sistema imune adaptativo se mantenha 
íntegra; 
 Desencadeiam o processo de reparação 
tecidual ao reconhecer células mortas ou 
danificadas no corpo do hospedeiro; 
 Estimula os processos de resposta 
imunológica adaptativa, influenciando a 
natureza das respostas específicas, 
aumentando sua efetividade contra as 
diversas formas patogênicas. 
É de competência do sistema imune inato, 
como supracitado, identificar estruturas 
moleculares características de patógenos 
microbianos, o que é realizado por meio da 
análise de padrões moleculares associados 
aos patógenos (PAMP), estruturas que 
possuem ácidos nucleicos, proteínas, 
lipídios e carboidratos essenciais à 
sobrevivência de microrganismos. Além dos 
PAMPS, a imunidade inata atua na 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
delimitação de danos ou morte de células 
endógenas por códigos moleculares 
específicos, denominados padrões 
moleculares associados a danos (DAMP). 
PAMPs e DAMPs são reconhecidos por 
diferentes receptores pelo sistema imune 
inato, compondo um grupo denominado 
receptores de reconhecimento de padrões, 
localizados na membrana plasmática, 
membrana enndossômica e citoplasma de 
células dendríticas, células epiteliais e 
fagócitos, garantindo respostas efetivas para 
ameaças intra e extracelulares. A junção dos 
receptores a PAMP e DAMP causa a 
ativação de transdução de sinais que 
provocam as funções antimicrobianas e pró-
inflamatórias nas células desencadeantes. O 
sistema imune inato não age contra células 
saudáveis, o que é fundamental para a 
manutenção da saúde individual. Os 
receptores de reconhecimento de padrões 
presentes nesse sistema são: 
 Receptores semelhantes a Toll (TLR): 
localizados nas membranas plasmática e 
endossômica de fagócitos, células 
dendríticas, linfócitos B, células 
endoteliais e diversas outras. Seus 
principais ligantes são moléculas 
microbianas, como ácidos nucleicos 
virais, lipopolipeptídeos bacterianos e 
proteoglicanos. Sua capacidade de 
reconhecimento é ampla, levando à 
ativação de vias de sinalização e fatores 
de transcrição que induzem a expressão 
inflamatória/antiviral; 
 
 Receptores semelhantes a NOD (NLR): 
presentes no citoplasma de fagócitos, 
células epiteliais e outros tipos de células. 
Seus ligantes principais são 
peptideoglicanos da parede bacteriana, 
flagelina, dipeptídeo muramil, 
lipopoliproteínas, cristais de urato e 
produtos de células danificadas. Alguns 
de seus componentes recrutam outras 
proteínas ao perceber a ligação com 
PAMPS e DAMPS, iniciando um 
complexo de reações promotoras de 
inflamação com citocinas IL-1 e IL-18; 
 Receptores semelhantes a RIG (RLR): 
localizados no citoplasma de fagócitos e 
outras células, tendo por principal ligante 
o RNA viral. Sua resposta à presença de 
PAMPs é a indução da produção de 
interferons (interferem no processo de 
replicação de compostos nocivos) 
antivirais; 
 Receptores similares à lectina de tipo C: 
presentes na membrana plasmática de 
fagócitos. Seus principais ligantes são 
carboidratos de superfície microbiana 
presentes em paredes celulares fúngicas. 
Os receptores facilitam a fagocitose 
desses patógenos, estimulando também 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
o desenvolvimento das futuras respostas 
adaptativas; 
 Receptores Scavenger: presentes na 
membrana plasmática de fagócitos, 
possuindo diacilglicerídeos microbianos 
como ligantes; 
 Receptores N-Formil met-leu-phe: 
presentes em membranas plasmáticas 
de células fagocitárias, seus ligantes 
principais são peptídeos que contêm N-
formilmetionil. 
As defensinas são peptídeos catiônicos 
produzidas pelas células epiteliais de áreas 
mucosas e leucócitos contendo grânulos 
(células T intraepiteliais, células NK e 
neutrófilos) e diferenciadas em α e β. As 
células de Paneth, no intestino delgado, são 
as principais produtoras de α-defensinas, 
responsáveis por limitar o número de 
microrganismos na luz do órgão. As ações 
protetoras das defensinas abrangem a 
toxicidade direcionada aos microrganismos, 
incluindo bactérias, fungos e vírus em 
envelope, e a ativação de células envolvidas 
na resposta inflamatória aos 
microrganismos. As defensinas matam os 
microrganismos por uma variedade de 
mecanismos, muitos dos quais dependem de 
suas habilidades em se inserir e romper 
funções das membranas microbianas. 
A catelicidina é produzida pelos neutrófilos e 
células da barreira epitelial da pele, TGI e 
trato respiratório, sendo um composto de 
dois domínios que é clivado em duasunidades protetoras, processo que, junto à 
síntese do composto, podem ser estimulados 
por citocinas e produtos microbianos. As 
catelicidinas ativas protegem contra 
infecções por múltiplos mecanismos, 
incluindo toxicidade direta a uma grande 
variedade de microrganismos e ativação de 
várias respostas em leucócitos e outros tipos 
celulares que promovem a erradicação dos 
microrganismos. 
 
FATORES DE VIRULÊNCIA E SEUS MECANISMOS: 
Os fatores de virulência são estruturas, 
estratégias ou produtos empregados por 
bactérias e vírus para ultrapassar as 
barreiras de defesa orgânicas e causar uma 
infecção no hospedeiro, podendo tanto estar 
relacionados à colonização microbiana 
quanto com ferramentas que lesionem o 
organismo. Todas essas ferramentas, 
expressos em condições especiais, são 
armazenadas em ilhas patogênicas, regiões 
cromossômicas ou em plasmídeos que 
codificam genes mediante fatores de 
expressão como a alteração do pH local, 
permitindo a formação de um complexo 
gênico que pode ser transportado a outros 
cromossomos ou organismos. 
Para que ocorra uma infecção, é necessário 
que os microrganismos penetrem as 
barreiras naturais do corpo humano, o que 
pode ocorrer por meio de cortes na pele 
(cirúrgicos ou não) deixados aberto ou 
úlceras no epitélio gastrointestinal, 
permitindo assim que produtos da microbiota 
normal penetrem os tecidos mais internos e 
susceptíveis à ação dessas. 
 
FATORES DE VIRULÊNCIA EM BACTÉRIAS: 
A colonização bacteriana no corpo do 
hospedeiro é realizada em locais variados 
para cada espécie, podendo ocorrer tanto 
em regiões próximas ao local de infecção 
primária quanto em locais com 
características ótimas de crescimento. Em 
alguns casos o local adequado não é o único 
pré-requisito de uma colonização eficiente, 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
sendo necessárias estruturas e funções que 
mantenham ideais as condições do sítio. 
 
A presença de adesinas, tipo de lectina que 
se conectam a açúcares no tecido-alvo, em 
algumas bactérias favorece sua 
probabilidade de sobrevivência, uma vez que 
ao aderirem aos receptores específicos de 
uma estrutura sua remoção passa a ser 
inviável. Esses compostos estão presentes 
nas pontas das fímbrias (pili), mas também 
podem ser empregados de outras formas, 
como pela ação de ácidos lipoproteicos para 
ligação à fibronectina. 
O biofilme também se enquadra como uma 
estratégia de colonização favorável, 
principalmente em equipamentos cirúrgicos, 
pois é composto por uma estrutura viscosa 
que garante não só a coesão entre bactérias, 
mas entre elas e a superfície, podendo 
inclusive proteger a colônia de ações 
antibióticas. Sua produção só se dá com um 
quórum mínimo de microrganismos (quorum 
sensing), momento no qual uma camada de 
polissacarídeos é construída para 
composição dessa membrana e para 
nutrição do grupo colonizador. 
Bactérias também podem usar de outras 
ferramentas para penetrar em epitélios, 
como a secreção tipo III, que emite proteínas 
efetoras que originam poros na estrutura 
epitelial/mucosa do hospedeiro, favorecendo 
o processo de interiorização bacteriana e sua 
replicação, além de poder induzir a apoptose 
celular. 
O crescimento das bactérias tem por 
subprodutos uma coleção de ácidos, gases e 
outras substâncias tóxicas ao tecido, 
situação que pode ser agravada devido à 
produção natural de enzimas degradantes 
por diversos microrganismos, promovendo 
assim os nutrientes necessários para sua 
replicação e disseminação. 
As toxinas são os verdadeiros produtos 
bacterianos que causam prejuízos diretos ao 
tecido ou às funções biológicas normais do 
hospedeiro por meio da lise celular ou 
proteica específicas, ligando-se a receptores 
e desencadeando uma cascata de reações 
tóxicas. Endotoxinas e proteínas 
superantígenos promovem a estimulação 
excessiva de respostas inatas e adaptativas, 
intensificando os quadros inflamatórios. 
Algumas vezes a própria toxina é suficiente 
para desencadear os sintomas 
característicos da doença, como 
representado pelas toxinas pré-formadas 
nos alimentos, responsáveis pelas 
intoxicações alimentares e pela Clostridium 
tetani, bactéria causadora do tétano. 
As proteínas superantígenos são grupos 
tóxicos especiais que ativam as células de 
forma simultânea ao receptor de célula T e a 
uma molécula do complexo principal de 
histocompatibilidade classe II (MHC) numa 
célula apresentadora de antígeno sem 
necessidade desses. A ativação de 
interleucinas é altamente elevada com a 
ação desse composto (tempestade de 
citocinas), causando risco de morte por 
respostas autoimunes, que pode também 
destruir as células T verdadeiramente 
ativadas, eliminando clones para ameaças 
específicas e enfraquecendo as defesas do 
organismo hospedeiro. 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
 
As endotoxinas, descritas pela fração do 
lipídio A do lipopolissacarídeo (LPS), são 
compostos proteicos produzidos 
exclusivamente por bactérias Gram-
negativas, ativando de forma potente a fase 
aguda e as reações inflamatórias. Sua 
ligação é realizada com receptores 
exclusivos (CD14 e TLR4) em macrófagos e 
células B, estimulando tanto a produção 
quanto a liberação de citocinas de fase 
aguda (IL-1, TNF-α, IL-6 e prostaglandinas), 
promovendo também a replicação 
mitogênica de células B. 
Em baixas quantidades as endotoxinas 
estimulam o desenvolvimento de respostas 
protetoras como vasodilatação e expressão 
inflamatória, porém, em doses mais 
elevadas, como em quadros sépticos por 
bactérias Gram-negativas, a resposta 
orgânica torna-se desmedida ao ativar a via 
alternativa do sistema complemento, 
produzindo anafilatoxinas (C3a e C5a), 
favorecendo a dilatação dos vasos e o 
extravasamento capilar, o que combinado às 
pré-existentes IL-1 e TNF-α culmina em 
hipotensão e choque, que podem levar o 
hospedeiro a óbito. A coagulação 
intravascular disseminada (CID) também é 
um produto da ativação da LPS, uma vez que 
ela também ativa a cascata de coagulação 
sanguínea. 
 
Exotoxinas são proteínas produzidas tanto 
por bactérias Gram-positivas quanto 
negativas, contendo enzimas citolíticas e 
receptores proteicos para alterações 
celulares, sendo armazenada em muitos 
casos no plasmídeo ou fago lisogênico. As 
toxinas citolíticas podem romper a 
membrana da célula afetada, criar poros que 
permitam o extravasamento de água e íons 
ou até mesmo causar lise celular. Essas 
substâncias são, em sua maioria, diméricas, 
formadas por uma parte A (action) e uma B 
(binding), sendo a última responsável pela 
ligação com receptores no tecido alvo e a 
primeira pela realização efetiva das ações 
danosas ao ser transferida para o meio 
intracelular. Os alvos desses compostos são 
ribossomos, sinalizadores bioquímicos 
(produção de AMPc) e mecanismos de 
transporte, agindo em tecidos delimitados. 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
 
Em muitos casos de doenças infecciosas os 
sintomas são causados pelas próprias 
respostas imunológicas do paciente, que 
geralmente são limitadas e controladas, 
resultando num desfecho antibacteriano 
protetor. Esse estímulo, no entanto, pode se 
dar de forma exacerbada, culminando em 
sintomas de sepse e meningite, com 
prognóstico muito pior para o doente. Esses 
sinais negativos são ativados in loco pela 
presença de neutrófilos e macrófagos, 
ocorrendo em outras regiões com o 
desencadeamento da tempestade de 
citocinas ou da ativação do sistema 
complemento, sendo essas ferramentas 
muito favoráveis à replicação bacteriogênica, 
uma vez que o organismo do hospedeiro 
está respondendo a estímulos ameaçadores 
de seu próprio sistema de defesa. 
A presença de cápsula é um dos fatores de 
virulência maisimportantes para as 
bactérias, pois as camadas polissacarídicas 
viscosas de revestimento protegem esses 
seres de retaliações imunológicas e 
fagocitárias, apresentando baixa 
imunogenicidade (mimetizam tecidos do 
corpo humano). Além disso, essas cápsulas 
são difíceis de serem capturadas e se 
rompem facilmente quando retidas por um 
fagócito, protegendo-as inclusive quando já 
englobadas por macrófagos e leucócitos. 
Essas barreiras são uma estratégia para 
garantir maior tempo de permanência no 
sistema circulatório (aumento da bacteremia) 
antes que os microrganismos sejam 
eliminados pelos mecanismos de defesa. 
Variações antigênicas, inativação de 
anticorpos e crescimento celular são formas 
microbianas de evitar a ação de antibióticos, 
exigindo assim a atuação de uma célula T 
para ativar macrófagos capazes de destruir 
ou criar uma parede (granuloma) ao redor 
das células afetadas. A inativação do 
sistema complemento também pode ocorrer 
por meio da ocultação de seus sítios ligantes. 
Além disso, bactérias também podem tentar 
combater o mecanismo de fagocitose, seja 
por meio da lise dos fagócitos, da inibição da 
fagocitose ou do bloqueio da morte celular. 
 
FATORES PATOGÊNICOS EM VÍRUS: 
Os vírus, assim como as bactérias, causam 
doenças ao romper a barreira defensiva do 
corpo do hospedeiro, induzindo respostas 
imunes e degradando células de algum 
tecido importante. A intensidade do quadro 
patológico desenvolvido irá ser determinada 
pela carga viral presente no organismo, no 
estado geral de saúde do paciente e a 
variante viral, sendo que por diversas vezes 
a resposta imune acaba por desencadear 
diversos dos sintomas vivenciados. Uma 
doença pode ser causada por múltiplos vírus 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
de tropismo semelhante (ex.: gripe – vias 
aéreas superiores), porem um determinado 
vírus pode causar doenças diversas ou não 
induzir sintomas aparentes. 
A natureza de uma infecção viral depende de 
características virais e das células-alvo. Uma 
célula não permissiva não apresentará 
receptores, vias enzimáticas importantes, 
mecanismos de transcrição ou antivirais que 
não permitirão a replicação de determinados 
vírus, podendo também reduzir sua síntese 
proteica para evitar a produção de novas 
partículas virais. Uma célula permissiva, por 
sua vez, possui todo o “equipamento” 
biossintético necessário para completar o 
ciclo de replicação viral, havendo, por fim, a 
célula semipermissiva, que apresenta 
elevada ineficácia durante o processo 
replicativo ou permite que apenas alguns 
tipos virais executem-no. 
 
As respostas imunes contra ameaças virais 
têm por objetivo prevenir a entrada e 
disseminação ou eliminar o conteúdo virótico 
e as células afetadas, sendo o principal 
mecanismo de tratamento para esse tipo de 
infecção. Quanto mais tempo passa com 
replicações virais em meio orgânico, maior o 
potencial de imunopatogênese e maior a 
intensidade necessária para a resposta 
imune controlar tal quadro, utilizando como 
mecanismos iniciais as células T citotóxicas 
e o interferon. Certas formas de DNA e o 
RNA de fita simples, além de algumas 
glicoproteínas virais, ativam a produção de 
interferon do tipo I e respostas celulares 
inatas por meio da interação com receptores 
citoplásmicos ou os receptores Toll-like 
(TLR) em endossomos presentes na 
superfície celular. A resposta inata evita que 
a maioria das infecções virais resulte em 
doença. 
 
O interferon e as citocinas são estimulantes 
sistêmicos de sintomas análogos aos da 
grupe, associados a infecções respiratórias e 
viremia, geralmente precedendo (pródromo) 
os reais sintomas da infecção viral durante o 
estágio virêmico. Algumas formas de 
infecções desencadeiam respostas amplas 
para citocinas, desencadeando doenças 
autoimunes em pessoas geneticamente 
predispostas, o que, junto ao posterior 
processo de ativação do sistema 
complemento clássico e da 
hipersensibilidade tardia causada por células 
T, aumenta o potencial de dano tecidual, cujo 
controle é difícil, principalmente em 
infecções por vírus envelopados. 
No geral, as crianças apresentam resposta 
imune celular menos ativa que a dos adultos 
e, portanto, geralmente apresentam 
sintomas mais leves durante as infecções 
por alguns vírus comuns, como varicela, 
caxumba e sarampo. 
FATORES PATOGÊNICOS PARA FUNGOS: 
A patogênese fúngica ainda não é tão 
conhecida como os mecanismos bacterianos 
e virais. São poucos os fungos virulentos a 
ponto de serem classificados como 
patógenos primários, ou seja, capazes de 
iniciar infecções em indivíduos saudáveis e 
imunocompetentes, podendo penetrar as 
defesas orgânicas, encontrar um sítio 
adequado com substratos para seu 
crescimento e desenvolver uma colônia 
nesse microambiente. Em geral, indivíduos 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
saudáveis e imunocompetentes apresentam 
alta resistência inata à infecção fúngica, 
apesar de serem constantemente expostos 
às formas infecciosas de diversos fungos 
presentes como parte da microbiota normal 
(endógenos) ou no ambiente (exógenos). 
Os patógenos oportunistas só são 
infectantes em caso de violação das 
barreiras de proteção de mucosas e epitélios 
ou quando o sistema imune hospedeiro 
apresenta falhas que permitam tal instalação 
infecciosa, sendo os fatores que 
desencadeiam os sintomas referentes aos 
microrganismos, não ao corpo do indivíduo 
parasitado. 
FATORES PATOGÊNICOS EM PARASITAS: 
A patogênese de doenças causadas por 
protozoários e helmintos é muito variável, 
porém eles ou não são muito virulentos, não 
conseguem se replicar no hospedeiro, ou até 
mesmo uma combinação desses dois 
fatores, o que explica o fato de que a 
gravidade da doença instalada depende 
diretamente da dose infectante e do número 
de organismos adquiridos com o tempo, uma 
vez que quadros parasitários apresentam 
caráter majoritariamente crônico. 
Por serem quase sempre exógenos em 
relação ao hospedeiro é necessário que os 
parasitas entrem no corpo humano ou pela 
ingestão ou pelo rompimento de barreiras 
anatômicas. A duração e a forma da 
exposição aos microrganismos interferem 
fortemente na capacidade patogênica do 
parasito. Uma vez realizada a invasão, os 
parasitos aderem a células ou órgãos 
específicos do hospedeiro, evitam a 
detecção imune, replicam-se, produzem 
substâncias tóxicas que destroem tecidos e 
provocam doenças secundárias à própria 
resposta imunológica do hospedeiro, 
podendo também ocasionar obstruções 
físicas devido a seu tamanho. 
A transmissão de doenças parasitárias é 
frequentemente facilitada pela contaminação 
ambiental com excrementos humanos e 
animais. Isso se aplica principalmente a 
doenças transmitidas pela via fecal‑ oral, 
mas também se aplica a infecções 
helmínticas, transmitidas pela penetração da 
larva na pele. A transmissão de doenças 
parasitárias por meio da picada de 
artrópodes é extraordinariamente eficiente, o 
que pode ser evidenciado por meio da ampla 
disseminação de patologias como malária, 
filariose e tripanossomíase. 
 
A manutenção da vida de um parasita no 
corpo de seu hospedeiro depende do seu 
tropismo tecidual e de sua capacidade de 
adesão, que pode se desenvolver por meio 
de contato mecânico, com uma “boca” 
conectando o microrganismo a algum tecido, 
ou pela ação de adesinas, que se ligam a 
glicoproteínas teciduais e garantem uma 
adesão química. Após esse período, é 
necessária a replicação parasitária, 
recorrente principalmente entre protozoários, 
podendo ser tanto intra quanto extracelular. 
A temperatura também pode desempenhar 
um papel importante na habilidade dos 
parasitos infectarem um hospedeiro e 
causarem doenças. 
Protozoários e helmintos não produzem 
toxinas tão potentesquanto as bacterianas, 
porém seus processos patológicos podem 
ser estabelecidos pela elaboração de 
produtos tóxicos, dano tecidual mecânico e 
processos imunopatológicos. Alguns 
exemplos desses processos são a secreção 
de proteases e fosfolipases pela destruição 
de microrganismos, sendo essas 
substâncias potenciais causadoras de dano 
tecidual e processos inflamatórios. As formas 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
mais óbvias de dano direto causado por 
parasitos helmínticos são aquelas que 
resultam do bloqueio mecânico de órgãos 
internos ou de efeitos da pressão exercida 
pelos parasitos em crescimento, porem a 
migração parasitária e a hipersensibilidade 
também possuem elevada 
representatividade. 
 
Parasitas são eficientes no processo de 
interferir ou evitar as defesas humorais e 
celulares do hospedeiro, o que pode ser 
expressado pela constante mudança 
antigênica realizada pelo tripanossomo 
africano a cada nova resposta humoral do 
paciente, pela mimetização de antígenos 
naturais, ou pelo mascaramento dos 
antígenos por meio da aquisição de 
moléculas pertencentes ao microambiente 
do organismo parasitado. Outro importante 
mecanismo é a migração para meio 
intracelular, ambiente no qual o patógeno 
passa a inibir ou dificultar o processo de 
fusão fagocítica, que pode ser associado, em 
caso de evoluções crônicas, a uma 
imunossupressão do hospedeiro, induzida 
por sobrecarga antigênica ou degradação de 
imunoglobulinas, por exemplo. 
 
PRICIPAIS ANTÍGENOS E RESPOSTAS 
IMUNOLÓGICAS PARA O CENÁRIO DO CASO: 
STAPHYLOCOCCUS: 
Staphylococcus são um grupo bastante 
diverso de bactérias, apresentando como 
características comuns sua forma esférica 
(Cocos), reação positiva à coloração de 
Gram e catalases, e ausência de 
endósporos. São bactérias imóveis e 
capazes de se desenvolver em condições 
aeróbias ou não. 
Esse conjunto de bactérias está presente 
naturalmente na pele e nas mucosas, sendo 
que algumas espécies apresentam nichos 
específicos de adesão, como narinas (S. 
Aureus), testa e locais de atividade sebácea 
(S. Capitis), e axilas e locais com 
adensamento de glândulas apócrinas (S. 
Haemolyticus e S. hominis). Esses 
estafilococos são patógenos importantes 
para o ser humano, pois desempenham 
papel infeccioso em doenças de diversas 
gravidades, atingindo pele, tecidos moles e 
trato geniturinário, além de promover 
infecções oportunistas. 
 
A patologia de infecções estafilocócicas 
depende da capacidade bacteriana em 
escapar da fagocitose, expressar proteínas 
de adesão e gerar dano tecidual ao 
hospedeiro. A expressão gênica de fatores 
de virulência está sob encargo do sistema 
AGR (acessory gene regulator), de controle 
via quorum sensing, promovendo processos 
de colonização quando baixo e toxinas 
quando elevado. 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
 
Os estafilococos ligam opsoninas do soro 
(IgG + C3 do complemento), porém a 
cápsula bacteriana recobre esses ligantes, 
protegendo o organismo da fagocitose, 
mecanismo que só falha em caso de 
produção excessiva de linfócitos 
direcionados a esse grupo. A camada 
mucoide e o biofilme também são 
mecanismos de proteção contra ações 
fagocíticas, ao passo que a proteína A 
previne uma remoção total de S. aureus por 
anticorpos ao ligar-se à imunoglobulina. 
 
 
CLOSTRIDIUM TETANI: 
As bactérias do gênero Clostridium são 
Gram-positivas, anaeróbias obrigatórias e 
formadoras de endósporos, presentes no 
solo, água e esgoto, mas também residentes 
na microbiota gastrointestinal fisiológica 
humana. Alguns de seus representantes são 
incapazes de causar doenças, mas ouros já 
apresentam históricos patogênicos 
extensos, como o C. tetani, sendo essa 
capacidade infecciosa atribuída a habilidade 
de sobreviver a situações adversas com a 
formação de esporos, ao crescimento 
acelerado em ambientes desprovidos de 
oxigênio e à produção de toxinas. 
 
As células de Clostridium tetani são 
sensíveis à presença de ar com O2, porém 
são capazes de resistir por mais tempo a 
meios adversos graças a produção de 
esporos. Duas toxinas também são 
produzidas por essa bactéria, um hemolisina 
(tetanolisina) sensível a oxigênio e uma 
neurotoxina codificada por plasmídeos 
(tetanoespasmina), substância que impede a 
transformação de cepas não tóxicas em 
toxigênicas. 
A tetanoespasmina, toxina responsável 
pelas manifestações clínicas num quadro 
tetânico, apresenta forma A-B e é 
responsável por inativar proteínas que 
regulam a liberação dos 
neurotransmissoress GABA (inibitórios), o 
que desregula a atividade simpática nos 
neurônios motores, culminando assim em 
paralisia espástica. As ligações formadas por 
esse material são irreversíveis, sendo 
necessário formar novos axônios terminais 
para a recuperação do movimento. 
 
 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
PSEUDOMONAS: 
O gênero Pseudomonas corresponde a um 
conjunto de bacilos não fermentadores 
agrupados conforme suas semelhanças 
morfológicas e denominadas dessa forma 
devido a estarem frequentemente dispostas 
em pares que se assemelham a uma única 
célula. A espécie mais relevante é 
Pseudomonas aeruginosa, Gram-negativas, 
pequenas e aeróbias obrigatórias, possuem 
cápsula mucoide e múltiplos fatores de 
virulência, como adesinas e toxinas, além de 
resistência a antibióticos. Doenças incluem 
infecções do trato respiratório, trato urinário, 
pele e tecidos moles, olhos, ouvidos, bem 
como bacteremia e endocardite, geralmente 
atuando como infectantes oportunistas. 
Essas bactérias são encontradas na 
microbiota humana normal, mas também 
podem ser observadas por todo o ambiente 
incluindo hospitais, distribuição essa que é 
favorecida por seus simples requisitos 
nutricionais e de proliferação. 
A Pseudomonas aeruginosa é responsável 
por uma sequência de infecções cutâneas de 
caráter primário, principalmente em feridas 
por queimaduras (colonização seguida por 
dano vascular localizado, necrose de tecidos 
e, por fim, bacteremia). Além disso, a 
foliculite é um outro quadro patológico de 
encargo da P. aeruginosa, resultante 
principalmente de imersão em água 
contaminada, sendo que infecções cutâneas 
secundárias podem atingir pacientes com 
acne ou que depilam as pernas, e de 
infecções nas unhas de pessoas que estão 
expostas frequentemente à água e a 
atividades de manicure. 
A AÇÃO INFLAMATÓRIA CELULAR NO CONTEXTO 
DE IMUNIDADE INATA: 
O sistema imune inato tem como principal 
forma de lidar com processos infecciosos o 
estímulo a inflamações agudas, que são 
acúmulos de leucócitos, proteínas 
plasmáticas e fluido oriundo do sangue em 
meio extracelular, local lesionado ou 
infectado, iniciando o processo de reparo 
tecidual e eliminação de microrganismos. As 
principais células enviadas para esses sítios 
são os neutrófilos, porém a população de 
mastócitos (se tornam macrófagos nos 
tecidos) pode aumentar em algumas 
infecções. 
A inflamação aguda pode se desenvolver em 
minutos a horas e duram por dias. A 
inflamação crônica é um processo que 
demora mais do que a inflamação aguda, 
ocorrendo se a infecção não for eliminada ou 
se a lesão tecidual for prolongada. 
Normalmente, ela envolve o recrutamento e 
ativação de monócitos e linfócitos. Os locais 
de inflamação crônica também passam por 
remodelamento tecidual, com angiogênese e 
fibrose. Embora o estímulo imune inato 
possa contribuir para a inflamação crônica, o 
sistema imune adaptativo também pode 
estar envolvido porque as citocinas 
produzidas pelas células T são potentes 
indutores da inflamação. 
As citocinas são polipeptídios ou 
glicoproteínas extracelulares hidrossolúveis 
e secretadas por múltiplas células, capazes 
de alterar a capacidadeefetora de sua célula 
produtora ou de outras adjacentes, 
mediando respostas tanto da imunidade 
inata quanto da adquirida. Elas são 
produzidas nas fases de ativação e efetora 
da imunidade como forma de regular a 
resposta inflamatória e imune, recrutando 
células efetoras para o local de lesão e 
induzindo a geração e maturação de novas 
células. Além disso, apresentam papel 
importante no processo de especificação das 
respostas imunológicas com a indução de 
estruturas efetoras, delimitando, por esse 
motivo o tempo e a intensidade das reações 
imunes. 
Esses compostos geralmente agem em 
âmbito local, podendo ser autócrino, quando 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
age sobre a célula que a produziu, ou 
parácrino, se age sobre estruturas vizinhas 
por meio de ligações de elevada afinidade 
nas células-alvo. Se forem produzidas em 
quantidade suficiente, as citocinas podem ter 
função endócrina, pois são despejadas na 
corrente sanguínea para agir à distância. 
A ação das citocinas é redundante, uma vez 
que ações semelhantes podem ser 
desencadeadas por múltiplos tipos de 
citocinas. Diferentes células podem secretar 
o mesmo produto, e um só tipo de substância 
pode agir em diversas células, fenômeno 
chamado pleiotropia, responsável por 
permitir a ação sistêmica dessas citocinas. 
Esses compostos podem apresentar 
também o sinergismo, que ocorre com a 
potencialização da ação de duas citocinas de 
mesmo efeito, e o antagonismo, quando um 
dos produtos invalida a ação do outro. 
 
As citocinas da imunidade inata são 
produzidas principalmente por macrófagos 
teciduais e células dendríticas. A maioria 
destas citocinas têm ação parácrina, sendo 
que em algumas infecções graves há um 
aumento toda produção de tal forma que elas 
entram na circulação e passam a ter ação 
endócrina. Essas substâncias atuam em 
várias frentes, seja na indução de 
inflamações, restrições na replicação viral ou 
na promoção de respostas de células T e 
limitando a ação inata. 
O Fator de Necrose Tumoral alfa (TNFα) é 
um mecanismo mediador da inflamação 
aguda em resposta a bactérias e demais 
patógenos, sendo produzido por macrófagos 
e células dendríticas. Tem por principal 
função recrutar fagócitos e ativar neutrófilos 
e macrófagos, estimulando também a 
secreção de quimiocinas (citocinas de baixo 
peso molecular que agem no processo de 
resposta inflamatória aguda direcionando o 
movimento dos leucócitos), liberação de IL-1 
e opsonização de antígenos. Devido a sua 
ação pleiotropia, o TNFα atinge o hipotálamo 
e induz o aumento da temperatura corporal, 
desencadeando um quadro febril. Sua 
produção é estimulada pelo reconhecimento 
de PAMPs, principalmente do LPS, 
componente de membrana em bactérias 
Gram-negativas. Essa categoria de citocina 
é responsável por mediar as reações de 
choque séptico. 
A Interleucina-1 (IL-1) é também uma 
mediadora das inflamações agudas, agindo 
de forma similar ao TNF. Sua produção se dá 
primeiramente por macrófagos e monócitos, 
assim como por células não imunológicas 
(fibroblastos e células epiteliais ativadas na 
lesão). Há um antagonista natural e 
endógeno para esse composto, a IL-1Ra, 
que compete com os mesmos receptores da 
interleucina-1. 
Existem duas formas de IL-1, a Il-1 β, que 
produz inflamação sistêmica com quadro de 
febre por meio da ativação da ciclo-oxigenae 
2 (COX 2), resultando em formação de 
prostaglandina E2. A IL-1 atua no fígado 
induzindo a produção de proteínas de fase 
aguda. Além disso, estimula a formação de 
neutrófilos e plaquetas. 
A IL-6 é outra importante citocina nas 
respostas inflamatórias que tem efeito local e 
sistêmico. Ela estimula a maturação e 
ativação dos neutrófilos, a maturação de 
macrófagos e a diferenciação de linfócitos T 
citotóxicos e células natural killer (NK). Essa 
substância é sintetizada por fagócitos 
mononucleares, células endoteliais 
vasculares, fibroblastos e outras células em 
resposta aos PAMPs e em resposta a IL-1 e 
TNF. 
A Interleucina-6 se mostra como um fator 
precoce de controle da síntese e liberação 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
proteica de fase aguda pelos hepatócitos em 
estímulos dolorosos, sendo detectada em 60 
minutos, com pico em 4 a 6h e persistência 
por até 10 dias. Devido a essas 
características a IL-6 é utilizada como um 
preditor de morbidade pós-operatória, pois 
seu aumento excessivo e prolongado indica 
danos teciduais. 
A IL-10 é a principal citocina anti-inflamatória 
e atua inibindo as citocinas pró-inflamatórias 
e estimulando a produção endógena de anti-
inflamatórias. Além disso, todas as células 
estimuladas por IL-10, tem uma diminuição 
na expressão do MHC tipo 2, ou seja, a 
resposta imune entra em declínio. 
A IL-12 é uma citocina secretada pelos 
linfócitos B, neutrófilos, células dendríticas e 
macrófagos após a ativação por células 
apresentadoras de antígenos (APC). 
Funciona como uma ponte entre a imunidade 
inata e a imunidade adquirida, estimulando a 
produção de interferon gama (INF-γ) por 
células NK e linfócitos T do tipo CD4 
(auxiliares), aumentando as respostas 
citotóxicas e agindo de forma antagônica à 
IL-10. 
A ação da IL-18, IL-23 e IL-27 é redundante 
à IL-12. Elas também atuam aumentando as 
funções das células natural killer. 
Os interferons induzem um estado de 
resistência antiviral em células teciduais não 
infectadas. O vírus, ao replicar-se, ativa o 
gene codificante do interferon. A proteína 
sintetizada deixa a célula produtora, liga-se à 
membrana celular das células adjacentes 
não infectadas e ativa o gene codificante de 
proteínas antivirais. Estas proteínas 
antivirais, por sua vez, vão impedir a 
replicação do vírus, quando este tentar 
replicar-se nessas células. Os IFN são 
produzidos na fase inicial da infecção e 
constituem a primeira linha de resistência a 
muitas viroses. Os IFN da imunidade inata 
são os do tipo I, que são divididos em alfa e 
beta. A forma alfa é produzida por leucócitos 
e a forma beta por fibroblastos. 
 
MICRORGANISMOS COMENSAIS E SUA INTERAÇÃO 
PARA MANUTENÇÃO DA VIDA HUMANA: 
Os microrganismos desempenham papel 
crítico para a manutenção da vida humana, 
uma vez que participam do processo de 
metabolismo de produtos alimentares, 
fornecem fatores essenciais de crescimento, 
estimulam a resposta imune e protegem o 
organismo de compostos altamente 
virulentos. 
Há um fluxo contínuo na flora microbiana, 
sendo ele determinado por fatores variados 
como idade, hábitos alimentares, saúde, 
higiene pessoal e níveis hormonais, com 
essa exposição iniciada no momento em que 
o ser humano deixa o útero e passa a 
interagir com o ambiente ao seu redor, 
havendo uma colonização microbiana 
gradual desde a pele, passando por 
orofaringe e TGI, até as demais superfícies 
mucosas, disposição que permanece em 
dinamismo, conforme supracitado. 
Modificações no estado geral de saúde 
podem alterar o equilíbrio delicado entre a 
combinação microbiana existente no corpo, 
substituindo um composto não virulento 
presente na orofaringe por alguma bactéria 
Gram-negativa de maior virulência que pode 
atacar outras estruturas, promovendo assim 
as doenças. Essa relação harmônica pode 
ser também afetada pelo uso de antibióticos, 
que eliminam bactérias benéficas ao corpo, 
permitindo assim a proliferação de estruturas 
antes moderadas. 
Ao ser exposto a um microrganismo, um 
indivíduo pode enfrentar três possíveis 
consequências: ser colonizado por ele de 
forma transitória, ser colonizado 
permanentemente, ou produzir uma doença, 
sendo que os dois primeiros processos não 
interferem nas funções normais do 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
hospedeiro, ao passo que o último 
representaum estado de interação 
desarmônica entre patógeno e portador, 
caracterizada por danos teciduais no ser 
humano, sejam elas induzidas diretamente 
por fatores microbianos ou pela própria 
resposta imune às ameaças. 
Poucos são os patógenos considerados 
estritos, ou seja, sempre associados a uma 
doença, sendo representantes desse grupo 
o Mycobacerium tuberculosis (tuberculose), 
Plasmodium spp. (malária), vírus da raiva 
(raiva), entre outros. A maioria das infecções 
é fruto de patógenos oportunistas, 
organismos da biota comum do paciente e 
que não geram doenças em seus sítios 
regulares, mas podem ser danosos ao 
entrarem em contato com regiões 
desprotegidas, sendo um exemplo a E. coli. 
Segmentando a colonização microbiana por 
sistema/região, temos: 
 Trato respiratório e cabeça: Fungos como 
Candida e parasitas como Trichomonas e 
Entamoeba também podem ser 
observados. 
o Boca, orofaringe e nasofaringe: há 
uma proporção maior de organismos 
anaeróbios em relação àqueles de 
caráter aeróbio, sendo que os mais 
comuns são Peptostreptococcus e 
cocos anaeróbios relacionados, e 
Streptococcus, Haemophilus e 
Neisseria spp. (aeróbios). A maioria 
deles não é virulenta e raramente 
relaciona-se com doenças, exceto se 
inseridas em sítios atípicos. Alguns 
organismos potencialmente 
patogênicos também podem ser 
encontrados na região, como 
Streptococcus pyogenes, 
Streptococcus pneumoniae, S. 
aureus, Neisseria meningitidis, 
Haemophilus influenzae, Moraxella 
catarrhalis e Enterobacteriaceae, 
porém sua identificação em 
espécimes clínicos não é suficiente 
para comprovar infecção, sendo 
necessário excluir possíveis 
causadores; 
o Ouvido: em como mecanismo mais 
encontrado como colonizador do 
ouvido externo o Staphylococcus 
coagulase-negativo. Alguns 
patógenos potenciais como S. 
pneumoniae, Pseudomonas 
aeruginosa e membros da família 
Enterobacteriaceae também podem 
ser isolados na região; 
o Olho: sua superfície é colonizada por 
Staphylococci coagulase-negativos, 
apresentando também algumas 
bactérias presentes na nasofaringe. 
A doença é tipicamente associada a 
S. pneumoniae, S. aureus, H. 
influenzae, N. gonorrhoeae, 
Chlamydia trachomatis, P. 
aeruginosa e Bacillus cereus. 
 Trato respiratório inferior: essa região é 
geralmente estéril, podendo haver 
colonizações transitórias causadas por 
secreções oriundas das vias aéreas 
superiores, sendo que as bactérias mais 
virulentas para região também estão 
presentes na boca, causando doenças 
agudas nos pulmões. A aspiração crônica 
pode levar a uma doença poli microbiana 
na qual os anaeróbios são os patógenos 
predominantes, principalmente 
Peptostreptococcus, cocos anaeróbios 
relacionados e bacilos Gram‑ negativos 
anaeróbios 
 Trato gastrointestinal: é colonizado após 
o nascimento e assim permanece por 
toda a vida. Mesmo com oportunidades 
contínuas de colonização, os números 
populacionais mantêm-se constantes. 
o Esôfago: ocorrem somente 
colonizações transitórias de fungos e 
bactérias presentes na orofaringe, 
com raros casos de bactérias 
causadoras de esofagites, cuja 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
responsável geralmente é a Candida 
spp. Ou vírus, como a herpes e o 
citomegalovírus; 
o Estômago: seu microambiente ácido 
permite a sobrevivência de umas 
poucas bactérias acidotolerantes em 
pequena quantidade, como aquelas 
que produzem ácido lático 
(Lactobacillus e Streptococus spp.) e 
H. pilori, causador de gastrite e 
úlceras; 
o ID: essa região é densamente 
colonizada por múltiplos tipos de 
bactérias, fungos e parasitas, 
majoritariamente anaeróbios 
(Peptostreptococcus, 
Porphyromonas e Prevotella). 
Resíduos assintomáticos de 
bactérias causadoras de gastrite 
como Salmonella spp. Podem estar 
presentes, geralmente indicando 
doença. Se o intestino delgado for 
obstruído, como acontece após uma 
cirurgia abdominal, uma condição 
denominada síndrome da alça cega 
pode ocorrer. Nesse caso, a estase 
do conteúdo intestinal leva à 
colonização e proliferação dos 
organismos tipicamente presentes no 
intestino grosso, com o 
desenvolvimento subsequente de 
uma síndrome de má absorção; 
o IG: é o local com maior adensamento 
de colônias microbianas em todo o 
corpo, prevalecendo os compostos 
anaeróbios. A bactéria E. coli está 
virtualmente presente em todos os 
seres humanos e, mesmo 
representando um número ínfimo na 
população total, é a forma aeróbia 
mais frequente para infecções intra-
abdominais, ao passo que a 
Bacteroides fragilis é o organismo 
anaeróbio mais comum em casos de 
infecção local, contando com mais 
fatores de virulência que as bactérias 
mais frequentes. 
 Sistema geniturinário: em geral, a uretra 
anterior e a vagina são as únicas porções 
anatômicas do sistema geniturinário 
colonizadas permanentemente com 
micróbios. Embora a bexiga urinária 
possa ser colonizada transitoriamente 
com bactérias que migram de modo 
ascendente a partir da uretra, esses 
colonizadores devem ser rapidamente 
eliminados pela atividade antibacteriana 
das células uroepiteliais e pela ação de 
lavagem do jato urinário. As outras 
estruturas do sistema urinário devem ser 
estéreis, assim como o útero. 
o Uretra anterior: os principais 
organismos comensais dessa região 
são caracterizados por lactobacilos, 
estreptococos e Staphylococci 
coagulase-negativos, os quais 
raramente estão associados a 
doenças. Por outro lado, a uretra 
pode ser colonizada transitoriamente 
por organismos fecais, como 
Enterococcus, Enterobacteriaceae e 
Candida, que podem invadir o trato 
urinário, multiplicar‑ se na urina e 
causar doença significativa. 
Patógenos como N. gonorrhoeae e C. 
trachomatis são causas comuns de 
uretrite e podem persistir como 
colonizadores assintomáticos da 
uretra; 
o Vagina: possui população diversa e 
facilmente modificável conforme os 
fatores hormonais. A primeira 
colonização num RN do sexo 
feminino é por lactobacilos, que 
continua por 6 semanas até a 
redução dos níveis de estrogênio 
materno, momento no qual começam 
a se proliferar estafilococos, 
estreptococos e Enterobacteriae. Na 
puberdade, com a retomada dos 
níveis hormonais, há um 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
ressurgimento da população de 
lactobacilos (população dominante), 
mas com participação de diversos 
outros tipos celulares, alguns deles 
ainda remanescentes da infância. A 
N. Gonorrhoeae é uma das principais 
causas de vaginite, principalmente se 
algum fator reduz a replicação de 
lactobacilos em função da 
multiplicação de Mobiluncus e 
Gardnerella. Embora o vírus herpes 
simples e o papilomavírus não sejam 
considerados componentes da 
microbiota do trato geniturinário, 
esses vírus podem estabelecer 
infecções persistentes 
o Cérvix: Embora a cérvix não seja 
normalmente colonizada por 
bactérias, N. gonorrhoeae e C. 
trachomatis são causas importantes 
de cervicite. Actinomyces podem 
também produzir doença nesse sítio 
 Pele: apesar de este ser o mecanismo 
com o qual o ser humano mais explora o 
ambiente que o cerca, o ambiente hostil 
desse epitélio não permite a 
sobrevivência de muitos microrganismos, 
com maior presença de bactérias Gram-
positivas como Staphylococci coagulase-
negativos e S. aureus. Os fungos 
Candida e Malassezia são também 
encontrados na superfície da pele, 
principalmente em áreas úmidas. 
Estreptococos podem colonizar 
transitoriamente a pele; no entanto, os 
ácidos graxos voláteis produzidos pelo 
anaeróbio Propionibacterium são tóxicos 
para esses organismos. 
O NOVO MODELO DE CASCATA DE COAGULAÇÃO: 
A hemostasia requer que seja constituído um 
tampão de plaquetas e fibrinas sobre uma 
lesão vascular bem como a manutenção da 
ativação de pró-coagulantes nesselocal. O 
controle da coagulação do sangue é 
realizado por meio da execução de tais 
fatores em sítios específicos de modo a 
evitar coagulações propagadas pelo sistema 
vascular. O novo modelo de coagulação 
sanguínea, devido a incongruências com a 
fisiologia vascular e a incapacidade de 
explicar a propensão a sangramentos por 
parte de hemofílicos, delimitou que a 
coagulação se dá em 4 fases, a saber: 
 
 Fase de iniciação: 
o O processo de coagulação sanguínea 
é iniciado pela exposição de fator 
tecidual (FT) na corrente sanguínea, 
somente presente nesse local em caso 
de lesões, uma vez que faz parte de 
estruturas na periferia vascular, 
encontrados em anexos como 
músculo liso e fibroblastos. Esse 
composto será integrado ao fator 
VII circulante formando o complexo 
FVIIa/FT, responsável por ativar em 
pequenas quantidades os fatores IX e 
X. O FXa associado com seu cofator, 
FVa (pode ser ativado tanto pelo fator 
X quanto por proteases não 
coagulantes), forma a prototrombinase 
na superfície celular que expressou 
inicialmente o fator tecidual, 
transformando gradualmente 
protrombina (fator II) em trombina. 
Essa modificação, no entanto, ainda é 
insuficiente para completar a formação 
de um coágulo de fibrina, mas 
apresenta suma importância no 
decorrer do processo de amplificação 
da coagulação, que ocorre somente 
em casos de dano vascular. 
o Os fatores desencadeantes do 
processo de coagulação foram 
identificados em meio externo ao 
vascular, participando da circulação 
linfática entre tecidos, o que evidencia 
que essa via está sempre ativa para 
potencializar o mecanismo de 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
recuperação do leito vascular, criando 
quantidades ínfimas de fatores 
ativados em estado basal. 
 Fase de amplificação: 
o Por serem muito grandes, 
plaquetas e o FVIII ligado ao fator 
de von Willebrand (FvW) só 
extravasam em caso de danos 
vasculares, ligando-se ao 
colágeno e a outros componentes 
extracelulares no local lesionado, 
onde são parcialmente ativadas, 
criando um tamponamento 
plaquetário (branco) para 
hemostasia primária. Nesse 
momento, pequenas porções de 
trombina oriundas da célula que 
expressou o FT podem se ligar 
com plaquetas ou com o complexo 
FVIIIa/FvW, dando início ao 
processo de formação de fibrina 
estável, consolidando o primeiro 
tampão e resultando em 
hemostasia secundária. 
o Essa amostra de trombina tem por 
finalidade a ativação máxima de 
plaquetas, que alteram a 
permeabilidade de suas 
membranas de modo a permitir a 
entrada de íons cálcio e saída de 
substâncias quimiotáticas que 
agem como atrativo de fatores de 
coagulação e liberam FV 
parcialmente ativado. A trombina 
também ativa cofatores V e VIII 
com a dissociação do complexo 
FVIIIa/FvW, promovendo a 
migração do último para a 
mediação da adesão e agregação 
plaquetárias no local lesionado. 
Além disso, os FXI a FXIa na 
superfície das plaquetas, 
evidenciando assim a não 
necessidade de fator XII para a 
hemostasia normal. 
o De forma simultânea a todas essas 
mudanças, todos os fatores são 
atraídos à periferia plaquetária, 
onde é deflagrada rapidamente a 
próxima fase. 
 Fase de propagação: 
o O FIXa ativado ainda durante a 
iniciação passa a se ligar com o 
FVIIIa na superfície das plaquetas, 
compondo assim o complexo 
tenase. Caso necessário, o FXIa 
ligado na mesma região pode 
produzir uma quantidade extra de 
fator IXa. 
o Visto que o FXa não pode mover-
se das células que expressam 
fatores teciduais para a plaqueta, é 
preciso que o complexo 
FIXa/FVIIIa produza diretamente o 
fator Xa, que prontamente se 
associa ao FVa ligado à plaqueta 
durante a amplificação, resultando 
assim na formação de 
prototrombinase, convertendo 
prototrombina em trombina 
(responsável por clivar o 
fibrinogênio em fibrina, 
polimerizado sobre o coágulo 
branco inicial). 
 Fase de finalização: 
o Com a formação do coágulo de 
fibrina, o processo em andamento 
deve limitar-se somente ao sítio da 
lesão para evitar oclusões 
vasculares por trombose, situação 
manejada por 4 anticoagulantes 
naturais, o inibidor da via do fator 
tecidual (TFPI), a proteína C (PC), 
a proteína S (OS), e a antitrombina 
(AT). 
o O TFPI é secretado pelo endotélio, 
formando um complexo 
quaternário FT/FVIIa/FXa/TFPI, 
inativando os fatores e, portanto, 
limitando a coagulação. 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
o As proteínas C e S são 
responsáveis por inativar os 
cofatores de pró-coagulação FVa 
e FVIIIa, sendo que PC é regulada 
por seu cofator PS, ambos 
dependentes de vitamina K, e 
ativada pela trombina, ligada a 
proteína transmembrana 
trombomodulina presente nas 
células sadias. 
o A proteína AT inibe tanto a 
atividade da trombina quanto de 
FIXa, FXa, FIXa e FXIIa, sendo 
sua ligação realizada em 
glicosaminoglicanos de alta 
afinidade com a antitrombina. 
 
Esse novo modo de explicação e 
esquematização da coagulação sanguínea 
foi fundamental para explicar alguns 
questionamentos acerca das hemofilias, 
sendo o principal deles relacionado ao FXa e 
sua aparente incapacidade de produção, 
teoria essa que foi refutada, uma vez que o 
FXa produzido pelo complexo FT/FVIIIa está 
retido na célula de demarcação de lesão, o 
que induz a produção, em menor escala, de 
fator X na superfície plaquetária, local no 
qual está móvel, mas susceptível à ação de 
TFPI e AT. A hemofilia passa a ser, portanto, 
apenas uma deficiência na produção desse 
fator em meio plaquetário. Suas fases de 
iniciação e ampliação ocorrem de forma 
relativamente normal, havendo a formação 
de um coágulo branco no local, porém são 
incapazes de gerar trombina suficiente para 
estabilizar o coágulo de fibrina. 
PRINCIPAIS GRUPOS PATOGÊNICOS E SUAS 
CARACTERÍSTICAS: 
BACTÉRIAS: 
Organismos procariontes, possuem somente 
uma célula, que não apresenta membrana 
nuclear nem organelas citoplasmáticas, 
apenas um plasmídeo com material 
genético, citoplasma, ribossomos e uma 
membrana plasmática, acompanhada ou 
não por uma parede celular de 
proteoglicanos fina ou espessa (diferença 
essa que origina as denominações Gram-
negativo e positivo). Os organismos 
desprovidos desse revestimento 
compensam tal defasagem por sobreviverem 
apenas em meio intracelular ou em meio 
hipertônico. 
 
O tamanho, forma (esferas, bastões, hélices) 
e agrupamento espacial são critérios de 
classificação preliminar de tais 
microrganismos, sendo definitivamente 
organizados segundo suas marcas 
fenotípicas e genotípicas. Bactérias estão 
presentes tanto na microbiota fisiológica 
humana quanto no ambiente externo, sendo 
que ainda que muitas delas sejam não 
virulentas, algumas são capazes de 
promover processos e reações que 
ameacem a vida, seja por meio de efeitos 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
tóxicos de produtos metabólicos ou por seu 
contato com regiões anteriormente estéreis. 
 
VÍRUS: 
Os vírus são as menores partículas 
infecciosas, contendo normalmente DNA ou 
RNA, mas nunca os dois simultaneamente. 
Os materiais necessários à replicação viral 
estão armazenados num envelope proteico 
que pode ou não ser acompanhado de outro, 
dessa vez com caráter lipídico. 
 
O capsídeo é uma estrutura rígida resistente 
a intempéries que atua na transmissão viral 
entre hospedeiros ao garantir sua fixação por 
meio da proteína de fixação viral (VAP). É 
esse componente que permite a preservação 
de componentes intrínsecos à capacidade 
viral em caso de ressecamento, ácidos e a 
bile humana. 
O envelope é uma membrana lipídica que se 
desintegra facilmente em caso de 
ressecamento ou mudança de pH, fazendo 
com que esses tipos virais tenham que ser 
transmitidospor fluidos, favorecendo assim 
sua umidificação. 
Esse grupo se configura como sendo de 
parasitas verdadeiros, uma vez que 
necessitam da célula hospedeira para seu 
processo de multiplicação. As infecções por 
esses compostos podem resultar numa 
rápida replicação seguida de degradação 
celular ou num processo crônico de longo 
prazo que pode contar com a incorporação 
do material genético viral no genoma do 
portador. 
FUNGOS: 
Organismos eucariotos de estrutura 
complexa, possuem mitocôndrias, complexo 
de Golgi, núcleo definido e retículo 
endoplasmático. Existem tanto em forma 
unicelular (leveduras), de replicação 
assexuada, ou como fungos filamentosos 
(presença de hifas), podendo se reproduzir 
de forma sexuada ou não. Ainda existem 
fungos dimórficos, ou seja, que apresentam 
as duas formas. 
 
PARASITAS: 
Correspondem a um grupo complexo e 
variado de microrganismos eucariotos, 
podendo ser uni ou pluricelulares, variando 
em tamanho desde estruturas microscópicas 
até platelmintos com mais de 10m de 
comprimento. 
Seus ciclos de vida apresentam diversas 
complexidades, podendo haver relações 
permanentes com o homem ou mecanismos 
transitórios de desenvolvimento em 
diferentes organismos. 
Os protozoários são organismos simples 
com núcleo coberto por membrana e 
presença de diversas organelas, com 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
destaque para os vacúolos digestórios e 
contráteis e os múltiplos grânulos de reserva 
nutricional. Sua motilidade abrange desde 
pseudópodes (prolongamentos da 
membrana plasmática) até flagelos e cílios. 
Suas duas principais classificações dentro 
do reino Animalia dizem respeito a 
Platelmintos, vermes monoicos (presença de 
gônadas de ambos os sexos) de corpo 
achatado dorsoventralmente que não 
possuem tubo digestório e dependem do 
corpo hospedeiro para obtenção de 
nutrientes. Dividem-se ainda em 
trematódeas, com aspecto de folha e 
complexo ciclo de vida, e cestoides, com 
corpo em fita e ciclos de vida variados, sendo 
um exemplo a Taenia solium, e a 
Nematelmintos, vermes cilíndricos e dioicos 
(sexos diferentes) com tubo digestório 
completo, como a Ascaris lumbricoides. 
PROBLEMA 1 – INTERMEDIÁRIA: 
O SISTEMA IMUNE ADAPTATIVO: 
A imunidade adaptativa, chamada também 
de imunidade adquirida, é a resposta 
imunológica que se desenvolve ao longo da 
vida, ativada por meio do contato com vários 
antígenos, aumentando assim a capacidade 
do organismo em se defender de ameaças 
patogênicas. 
 
As características que diferenciam a 
imunidade adaptativa da inata são a 
especificidade (distinção entre diversas 
substâncias), o tempo de ativação (demanda 
um maior período até que seja formada), 
mecanismos efetores distintos e a 
capacidade de memória (resposta vigorosa a 
exposições repetidas a um mesmo 
antígeno). Os componentes específicos 
desse tipo de imunidade são os linfócitos e 
suas secreções, enquanto as substâncias 
que induzem tais respostas imunes são 
denominadas anticorpos. 
 
Esse tipo de imunidade divide-se em dois 
grupos, atuantes em diferentes 
microrganismos e compostas por 
mecanismos efetores distintos. A imunidade 
humoral é mediada por moléculas presentes 
no sangue e por secreções mucosas, 
denominadas anticorpo, que são produzidos 
por linfócitos B. Esse produto é capaz de 
reconhecer agentes microbianos e reduzir 
sua infectividade, promovendo assim sua 
eliminação por outras substâncias. Essa é a 
principal forma de defesa contra organismos 
extracelulares e suas toxinas. 
A imunidade celular, por sua vez, é 
delimitada pela ação dos linfócitos T, 
eficazes principalmente contra ameaças 
intracelulares, pois eles mediam a destruição 
dos microrganismos infectantes ou das 
células afetadas. Além disso, alguns 
linfócitos T podem auxiliar na defesa 
extracelular ao recrutar leucócitos para 
erradicar ameaças e auxiliar as células B a 
gerar anticorpos. 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
 
A forma de proteção promovida contra um 
microrganismo é geralmente induzida pela 
resposta do hospedeiro a ele. A imunidade 
ativa é aquela na qual o indivíduo apresenta 
papel ativo com sua exposição direta ao 
antígeno. Os linfócitos que não encontraram 
seu agente estimulador particular são 
denominados naive (inativos), desprovidos 
de experiência imunológica. Após serem 
apresentados aos agentes patogênicos 
esses indivíduos tornam-se imunes, pois os 
linfócitos desenvolveram e maturaram seus 
mecanismos específicos, garantindo 
respostas eficazes em novos contatos. 
 
Quando tal imunidade é conferida pela 
transferência de soro ou linfócitos oriundos 
de algum organismo já imunizado 
(transferência adaptativa), o recebedor 
passa a ter os anticorpos sem ser exposto ao 
antígeno, configurando assim quadro de 
imunidade passiva. Isso ocorre por meio da 
administração de soro antiofídico, retirado de 
cavalos expostos a veneno de cobras, e da 
gestação, momento no qual anticorpos 
maternos são transferidos ao feto pela 
placenta. 
As principais características dessa forma de 
imunidade se referem diretamente às 
propriedades dos linfócitos que geram tais 
respostas, como: 
 Especificidade: os mecanismos 
propostos para combater antígenos são 
extremamente específicos, podendo 
apresentar respostas distintas para 
segmentos de um mesmo 
microrganismo, partes essas 
denominadas determinantes ou epítopos. 
Tal ferramenta existe porque os linfócitos 
individuais possuem receptores de 
membrana que podem distinguir 
diferenças sutis no arcabouço estrutural 
de epítopos distintos. Em indivíduos não 
imunizados, clones de linfócitos de 
variadas especificidades são capazes de 
reconhecer e lidar com ameaças 
estranhas; 
 Diversidade: o repertório linfocitário de 
um ser humano é muito extenso, 
podendo discriminar entre 107 a 109 tipos 
antigênicos, número que é alcançado 
devido à variabilidade nas estruturas dos 
sítios de ligação com antígenos; 
 Memória: exposições repetidas a um 
antígeno aumentam a capacidade de 
resposta imunológica a ele e as tornam 
mais rápidas e desencadeadas em maior 
quantidade, o que é denominado 
resposta secundária. Nesse contexto, até 
mesmo as reações celulares são 
intensificadas, tanto em vigor quanto em 
efetividade, com produção mais 
acentuada de anticorpos e melhor 
desempenho na ligação entre antígenos 
e células T; 
 Expansão clonal: após serem expostos 
às ameaças antigênicas, os linfócitos T 
passam por uma considerável fase de 
proliferação, aumentando assim o 
número de células com receptores para 
aquele microrganismo, permitindo assim 
que o corpo do hospedeiro consiga de 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
certa forma acompanhar o processo de 
replicação do patógeno que o ameaça; 
 Especialização: os linfócitos T e B 
atuantes na imunidade adaptativa 
possuem características específicas para 
se relacionarem com uma determinada 
classe de microrganismos; 
 Contração e homeostasia: a intensidade 
das respostas imunológicas a um 
antígeno decai gradualmente até o 
retorno de seu estado basal, momento no 
qual o hospedeiro retorna à homeostase. 
Essa diminuição é causada devido a 
morte dos linfócitos desprovidos de 
estímulos por apoptose (apenas os 
linfócitos de memória sobrevivem), uma 
vez que os sinais disparados por essas 
células atuam na eliminação de tai 
ameaças; 
 Não reatividade ao próprio: válida tanto 
em imunidade inata quanto na adaptativa, 
a tolerância imunológica aos 
autoantígenos e às demais células do 
corpo é imprescindível para a 
manutenção da fisiologia normal. Esse 
mecanismo é tão importante que o 
organismo humano elimina, em situações 
normais, todos os tipos celulares que se 
fazem reativos ao próprio corpo, sendosuas desregulações uma das causas de 
doenças autoimunes. 
 
As principais células do sistema imune 
adquirido são os linfócitos, células 
apresentadoras de antígeno e células 
efetoras. Os linfócitos se enquadram como 
mediadores tanto da imunidade humoral 
quanto da celular, reconhecendo e 
respondendo a antígenos estranhos. Esse 
tipo de célula se subdivide em duas 
populações, linfócitos B e linfócitos T, que 
apresentam diferentes funções e 
mecanismos de reconhecimento de 
microrganismos. 
Os linfócitos B são os únicos tipos celulares 
capazes de produzir anticorpos, 
reconhecendo antígenos extracelulares 
solúveis e na superfície da célula, 
diferenciando em plasmócitos secretores de 
anticorpos, mediando assim a imunidade 
humoral. 
Os anticorpos são proteínas mediadoras da 
imunidade adaptativa humoral, produzidas 
em resposta à exposição a um antígeno, 
podendo estar ligados à membrana 
plasmática das células B, diferenciando-se 
em plasmócitos com a ativação destas ou 
presentes no plasma, muco e fluido 
intersticial como agentes circulantes. Essas 
estruturas, também chamadas de 
Imunoglobulinas (Ig), fazem parte do 3º 
grupo mais rápido de migração dentre as 
globulinas, as globulinas gama. Sua 
estrutura básica é semelhante para toda a 
população, sendo a maior diferença entre 
essas secreções o sítio de ligação com o 
antígeno. 
A estrutura dessas células é simétrica, com 
núcleo formado por duas cadeias leves e 
duas pesadas idênticas (criando ao menos 
dois pontos de contato com antígenos), 
contendo cada uma série de unidades 
homólogas repetidas, com 110 fragmentos 
de aminoácidos dobrados no domínio Ig. A 
região V é o local mais variável de todo esse 
tipo celular, pois é ali que se ligam os 
microrganismos que ativam a resposta 
imune, ao passo que a região C, incapaz de 
se ligar diretamente a um patógeno, realiza 
funções efetoras 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
 
Existem três sítios na região V de cadeia 
peada e de cadeia leve que apresentam 
extrema variabilidade, formando as 
alças/regiões hipervariáveis (locais de 
conexão antigênica), chamadas também de 
regiões de determinação e 
complementariedade (CDRs), descritas 
principalmente por CDR1, CDR2 e CDR3. 
Além disso, sabe-se que os anticorpos são 
divididos também conforme as diferenças 
que apresentam em sua região C, chamadas 
isotipos e nomeadas como IgA (1 e 2), IgD, 
IgE, IgG (1, 2, 3 e 4) e IgM. 
OS anticorpos secretados e os de membrana 
diferem-se entre si pela sequência de 
aminoácidos em sua porção terminal, sendo 
hidrofílica nas moléculas secretadas e uma 
porção hidrofóbica e outra carregada 
positivamente nas de membrana. 
 
Anticorpos monoclonais possuem uma só 
especificidade, produzidos por um tumor de 
plasmócitos, sendo utilizados em fusão com 
as células B de um animal imunizado a fim 
de produzir hibridomas, produtores 
exclusivos da cepa de Ig do indivíduo imune. 
Esse tipo específico de anticorpo pode ser 
utilizado para diversas aplicações na clínica, 
como identificação tumoral, 
imunodiagnóstico e terapia de artrite 
reumatóide (anticorpos contra TNF). 
Os antígenos, por sua vez, são substâncias 
quaisquer que podem ser ligadas de forma 
específica por uma molécula de anticorpo ou 
receptor de célula T, porém sua ativação é 
mediada somente por imunógenos, 
antígenos especiais. 
O reconhecimento antígeno-anticorpo se dá 
por meio de ligações covalentes não 
reversíveis, com força definida pela afinidade 
do anticorpo com a molécula conectada, 
sendo a mesma para cada determinante de 
antígeno, mas modulada por sua avides, ou 
seja, presença de receptores para cada 
epítopo antigênico. Alguns anticorpos 
conseguem se ligar a um microrganismo 
diferente daquele para o qual foram 
produzidas, resposta essa chamada de 
reação cruzada. 
 
Linfócitos T são os agentes principais da 
imunidade mediada por célula, sendo 
responsável por reconhecer antígenos em 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
meio intracelular e por ajudar os fagócitos a 
matar os invasores ou as estruturas por eles 
contaminadas. Seus receptores antigênicos 
são moléculas de membrana intimamente 
relacionadas aos anticorpos, capazes de 
identificar peptídeos derivados das proteínas 
estranhas ligadas ao conteúdo proteico do 
hospedeiro e são chamados de moléculas do 
complexo maior de histocompatibilidade 
(MHC), expressas sob a superfície de outras 
células, explicando sua incapacidade de 
determinar a existência de antígenos 
solúveis. Essa categoria celular também 
apresenta divisões após sua maturação no 
timo, a saber: 
 Células T auxiliares: atuam como 
“mensageiras” ao secretar citocinas que 
atuam tanto em processos inatos quanto 
adaptativos, estimulando a proliferação e 
diferenciação de células T e ativando 
células B, macrófagos e outros 
leucócitos; 
 Linfócitos T citotóxicos (CTLs): são 
responsáveis por eliminar as células 
produtoras de antígenos estranhos ao 
corpo quando estão infectadas por 
microrganismos; 
 Células T regulatórias: agem na inibição 
de respostas imunes; 
 Células NKT: apresentam 
especificidades e papel desconhecido, 
reconhecendo proteínas que se fazem 
presentes só na membrana de outros 
linfócitos. 
 
O início e desenvolvimento dos mecanismos 
de resposta adaptativa necessitam que 
antígenos sejam capturados e apresentados 
aos linfócitos específicos para sua estrutura, 
o que é realizado por células denominadas 
apresentadoras de antígenos (APCs). As 
APCs mais especializadas são as células 
dendríticas, capazes de deter os antígenos 
oriundos do ambiente externo, 
transportando-os aos órgãos linfoides e 
apresentando-os aos linfócitos T imaturos 
para que as respostas sejam deflagradas. 
As três principais estratégias desenvolvidas 
pelo sistema imune adaptativo no combate 
aos microrganismos são a ligação de 
anticorpos, a fagocitose e a morte celular. 
A ativação dos linfócitos causa a excitação 
dos mecanismos de eliminação de 
antígenos, porém por vezes é necessária a 
atuação de células efetoras para esse fim. 
Os linfócitos T que foram atuados, junto a 
fagócitos e demais leucócitos, que também 
agem como células efetoras em alguns 
cenários, se concentram, junto aos APCs, 
em órgãos linfoides que se tornam pontos de 
interação para geração de respostas. Os 
linfócitos também estão presentes no 
sangue; do sangue, eles podem recircular 
através dos tecidos linfoides e voltar aos 
tecidos periféricos para os locais de 
exposição do antígeno para sua eliminação. 
 
Como o número de linfócitos naive no corpo 
é muito pequeno, faz-se necessária a 
participação de células acessórias (APCs) 
Júlia Figueirêdo – MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 
MEDICINA UNIME – 2019.2 
como parte do processo de deflagração de 
respostas imunes, facilitando a interação 
entre as células de defesa e seus alvos. Esse 
papel é exemplificado pela ação de células 
dendríticas, que capturam microrganismos e 
digerem suas proteínas, expressando-as em 
superfícies junto às moléculas de MHC. Essa 
carga antigênica é transportada aos 
linfonodos de drenagem, locais de 
recirculação constante de linfócitos T, 
aumentando assim a possibilidade do 
encontro. Em caso de microrganismos 
intactos entrarem nos linfonodos ou no baço 
eles serão reconhecidos por linfócitos B, o 
que também pode ocorrer por intermédio de 
APCs. 
A maturação de linfócitos T e B envolvem 
múltiplos eventos que são realizados nos 
órgãos geradores, como: 
 Comprometimento de células 
progenitoras com linhagens específicas 
(formação de linfócitos T ou B); 
 Proliferação de progenitoras e células 
imaturas, criando assim um arcabouço 
celular para geração de linfócitos 
funcionais; 
 Rearranjo sequencial e ordenado dos 
genes reconhecedores

Outros materiais