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Hanseníase: A hanseníase é um problema de saúde grave em alguns países de baixa renda (regiões tropicais e subtropicais da Ásia, da África e das Américas do Sul e Central) doença deformante, incapacitante e estigmatizante. - Doença infecciosa crônica causada pela bactéria álcool-ácido resistente Mycobacterium leprae e M lepromatosis, caracterizada por lesões cutâneas e envolvimento dos nervos periféricos. • Mycobacterium leprae (parasita intracitoplasmático de macrófagos e células de Schwann) - O bacilo necessita de uma temperatura de aproximadamente 35°C para crescer **** regiões mais frias do corpo **** (nariz, testículos e lóbulos das orelhas) e pelas regiões onde os nervos periféricos estão próximos à pele. Muito pequeno e ligeiramente curvo - caracteristicamente acidorresistente micro-organismo intracelular obrigatório (macrófagos e células de Schwann) • As lesões cutâneas podem ser máculas, pápulas ou nódulos únicos ou múltiplos, eritematosos ou hipopigmentados, às vezes com perda da sensibilidade. • O raspado intradérmico pode ou não resultar positivo para bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) dependendo da classificação (multibacilar versus paucibacilar). • Os nervos podem ser danificados nos troncos nervosos periféricos, com perda de sensibilidade na pele e fraqueza dos músculos inervados pelo nervo afetado, o que causa incapacidades. • Comumente, o diagnóstico baseia-se em sinais e sintomas clínicos, e, na prática, as pessoas geralmente comparecem por conta própria a um centro médico. • O tratamento padrão recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para hanseníase é realizado com uma terapia polimedicamentosa. DEFINIÇÃO: A hanseníase (também conhecida como lepra) é uma doença infecciosa crônica definida por uma ou mais das seguintes características: lesão(ões) cutânea(s) hipopigmentada(s) ou eritematosa(s) com perda de sensibilidade; envolvimento de nervos periféricos, demonstrado pela perda de sensibilidade, parestesias (formigamento das mãos e dos pés) e fraqueza dos músculos das mãos, dos pés ou da face. O diagnóstico precoce e o início imediato da terapia são as bases da estratégia para o controle desta doença infecciosa crônica. Aspectos principais • presença de fatores de risco • lesões cutâneas típicas • acometimento do nervo • perda sensitiva Outros fatores de diagnóstico • reações imunológicas • lesões oculares Fatores de risco • contato próximo com um paciente com hanseníase multibacilar • pobreza • residência em áreas endêmicas • predisposição genética • transmissão zoonótica Classificações classificaçã obaseada nas formas polares, com virchowiana (VV) em uma ponta do espectro, a forma tuberculoide (TT) na outra, e três tipos de hanseníase borderline entre elas: • borderline virchowiana (BV, polo dos imunodeprimidos) • borderline – borderline (BB, no meio do espectro) • borderline tuberculoide (BT, polo dos imunocompetentes) (1) virchowiano, que ocorre em pacientes com depressão da imunidade mediada por células; (2) tuberculoide, em pacientes com imunidade celular intacta; (3) dimorfo - A forma dimorfa é “ instável” e capaz de evoluir para as formas virchowiana ou tuberculoide, de acordo com a melhora ou a piora da imunidade celular; (4) indeterminado; Em 1997, a OMS criou uma divisão operacional (Esta classificação simplificada é baseada apenas no número de lesões cutâneas, independente de seu tamanho, sua localização e suas características histológicas) em três grupos: (1) paucibacilar com lesão única (uma única lesão cutânea) (2) paucibacilar (duas a cinco lesões cutâneas) (3) multibacilar (mais de cinco lesões cutâneas) OMS: (1) paucibacilar com lesão única (uma única lesão cutânea) (2) paucibacilar (duas a cinco lesões cutâneas) (3) multibacilar (mais de cinco lesões cutâneas) Macrofagos - IL-1, TNF-ALFA E IL2 - aumentam numero e atividade dos macrofagos - polo tuberculóide: resposta das células T CD4+ predominantemente Th1 IL-2, INF-γ e TNF-β manutenção da inflamação - polo virchowiano resposta é humoral predominantemente Th2 IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13 suprimem a atividade dos macrófagos e células T. Manifestações clínicas da hanseníase envolvem principalmente a pele e o sistema nervoso: • a lesão cutânea primária é eritematosa ou hipopigmentada e é frequentemente anestésica • os nervos periféricos podem se tornar espessados e palpáveis • alterações neuropáticas (p. ex ., atrofia muscular, contraturas em flexão do quarto e quinto dedos), alterações vasomotoras e distúrbios secretórios (p. ex ., olhos e nariz ressecados) O médico também deve determinar através de um exame neurológico se há uma diminuição da sensibilidade dolorosa, térmica e/ou tátil nas extremidades distais. Isto além da inspeção à procura de alterações neuropáticas (atrofia muscular, contraturas em flexão do quarto e quinto dedos), alterações vasomotoras e distúrbios secretórios (olhos e nariz ressecados. Biópsia: • No padrão virchowiano, observa-se um infiltrado na derme, no subcutâneo, nos linfonodos, nos órgãos abdominais, nos testículos e na medula óssea. Uma faixa de derme com aparência normal (faixa de Unna ou zona de Grenz) separa a epiderme do infiltrado, que é composto por plasmócitos e linfócitos associados às células de Virchow, que são macrófagos com numerosos bacilos e gotículas lipídicas em seu citoplasma. Na derme, observam-se tanto bacilos isolados quanto em globias (aglomerados de bacilos), e quando o paciente está tendo sucesso no tratamento, os micro-organismos se fragmentam e se tornam granulares. Em lâminas coradas pelo H&E, estas células têm aparência espumosa. Pela coloração Sudan III, o lipídio dentro das células de Virchow aparece na cor laranja. Os bacilos na hanseníase podem ser detectados pelas colorações de Gram, Ziehl-Neelsen, Fite (a mais comumente utilizada) ou Wade, todas estas corando o bacilo em vermelho-brilhante. O Sudan III e o Sudan IV (também conhecido como vermelho- escarlate) coram os bacilos em preto e vermelho, respectivamente. A coloração pela prata metanamina é útil para a detecção de bacilos acidorresistentes fragmentados. • No padrão tuberculoide observa-se um infiltrado granulomatoso dérmico, que pode ter padrão linear conforme segue o curso de um nervo. Células epitelioides e células gigantes de Langhans são rodeadas por linfócitos. Os nervos cutâneos são edematosos e há ausência de micro-organismos, mesmo em colorações especiais. A inflamação e a fragmentação das fibras nervosas na hanseníase tuberculosa a diferenciam da sarcoidose e de outras doenças granulomatosas. • O padrão borderline contém características histológicas tanto da forma virchowiana (p. ex ., células de Virchow) quanto da forma tuberculoide (p. ex, granulomas). O predomínio do primeiro em relação ao último depende do paciente apresentar as formas BV, BB ou BT. Baciloscopia: Quando se suspeita de hanseníase, o diagnóstico das diversas formas pode ser confirmado pelo achado dos bacilos nos fragmentos cutâneos, nos linfonodos ou nas secreções nasais. amostras: lóbulos das orelhas, da fronte, do queixo, da região extensora dos antebraços e do dorso dos dedos, das nádegas e do tronco. Para evitar o sangramento, uma prega cutânea é firmemente segurada entre o indicador e o polegar do examinador ou com fórceps e faz-se uma pequena incisão com uma lâmina de bisturi. O líquido obtido é espalhando sobre uma lâmina e deixado para secar. A amostra é frequentemente corada pelo método de Fite (ou Ziehl-Neelsen) e procuram-se bacilos vermelhos (contra um plano de fundo azul) com um aumento de 100 vezes em imersão em óleo. Encontram-se micro-organismos em 100% dos pacientes com hanseníase virchowiana, em 75% daqueles com a forma borderline e apenas em 5% dos pacientes tuberculoides. Sorologia: Ensaios sorológicos para anticorpos anti-PGL somente são sensíveis para o diagnóstico da hanseníase no cenário da doença multibacilar. Pode ajudar a classificar pacientes, monitorar a respostaao tratamento e prever as reações da hanseníase. Outros testes • Três testes clássicos – a histamina, pilocarpina e o Mitsuda – podem ser feitos para aux iliar no diagnóstico e no prognóstico. Entretanto, atualmente estes testes são realizados com menor frequência. • No primeiro, uma gota de histamina 0,001% é aplicada na placa suspeita e outra na pele normal. Faz-se uma picada superficial em ambas as áreas com uma agulha (através da gota) e, após 10 minutos, a intensidade e a extensão da urtica e do eritema são registradas. Esta resposta é dependente da integridade das fibras nervosas simpáticas e, nas lesões hipopigmentadas da hanseníase (o tipo de lesão mais comumente testado), ela será reduzida, retardada ou ausente. • No teste da pilocarpina, aplica-se tintura de iodo na lesão suspeita (e na pele normal como controle) antes da injeção de pilocarpina nestes locais. Depois, estas áreas são polvilhadas com farinha de amido, que se tornará azulada se houver sudorese normal. A sudorese depende da integridade das fibras nervosas parassimpáticas e, assim, é reduzida nas lesões de hanseníase. A quinizarina, que muda de branco para azul, pode ser utilizada em vez de iodo e amido. • O teste da lepromina ou Mitsuda consiste na injeção intradérmica de 0,1 ml de suspensão de M. leprae termicamente mortos. A resposta é positiva quando se forma um nódulo no local da injeção (que é lido 3–4 semanas após) e indica que o paciente é capaz de ter uma resposta celular específica ao bacilo. O teste fornece informação prognóstica, mas não diagnóstica. É positivo nas formas TT e BT8. • Por fim, a hanseníase, especialmente VV e BL, é uma das causas de VDRL e FTA-ABS biologicamente falso-positivos para sífilis (Cap. 82). Três testes clássicos – a histamina, pilocarpina e o Mitsuda – podem ser feitos para aux iliar no diagnóstico e no prognóstico. Entretanto, atualmente estes testes são realizados com menor frequência. No teste da histamina, uma gota de histamina 0,001% é aplicada na placa suspeita e outra na pele normal. Faz-se uma picada superficial em ambas as áreas com uma agulha (através da gota) e, após 10 minutos, a intensidade e a extensão da urtica e do eritema são registradas. Esta resposta é dependente da integridade das fibras nervosas simpáticas e, nas lesões hipopigmentadas da hanseníase, ela será reduzida, retardada ou ausente. No teste da pilocarpina, aplica-se tintura de iodo na lesão suspeita (e na pele normal como controle) antes da injeção de pilocarpina nestes locais. Depois, estas áreas são polvilhadas com farinha de amido, que se tornará azulada se houver sudorese normal. A sudorese depende da integridade das fibras nervosas parassimpáticas e, assim, é reduzida nas lesões de hanseníase. teste da lepromina ou Mitsuda consiste na injeção intradérmica de 0,1 ml de suspensão de M. leprae termicamente mortos. A resposta é positiva quando se forma um nódulo no local da injeção (que é lido 3–4 semanas após) e indica que o paciente é capaz de ter uma resposta celular específica ao bacilo. O teste fornece informação prognóstica, mas não diagnóstica. É positivo nas formas TT e BT. Reações hansenicas: - Um dos maiores problemas encontrados pelos clínicos e pacientes, especialmente durante a fase de tratamento, é o desenvolvimento das reações. - São caracterizadas por inflamação aguda que surge subitamente. REAÇÕES TIPO 1: As reações do tipo 1 podem afetar pacientes com qualquer forma de hanseníase (exceto para a início precoce indeterminado), com predileção pelas categorias limítrofes (borderline). As reações tipo 1 (reversa) são em função da alteração do estado imunológico do paciente e estão frequentemente associadas à neurite. Quando há um aumento da imunidade celular, são consideradas reações de “ upgrading”. Além da administração de drogas antimicrobianas, as causas mais frequentes de reações são a gravidez, outras infecções ou até mesmo distúrbios mentais. REAÇÕES TIPO 2: As reações tipo 2 ocorrem com mais frequência em pacientes com hanseníase virchowiana ou borderline virchowiano. Ocorrem em pacientes com a forma clínica de hanseníase virchowiana que estão sendo submetidos ao tratamento. São secundárias à formação de complexos imunes em associação à excessiva resposta humoral. A reação tipo 2 representa uma vasculite de pequenos vasos (cutâneos e sistêmicos) e a manifestação clínica mais comum é o eritema nodoso hansênico. Podem desenvolver o fenômeno de Lúcio, um estado reacional caracterizado tanto por fenômenos trombóticos quanto por vasculite necrotisante de pequenos vasos. Tratamento • Poliquimioterapia é extremamente eficaz. • É importante saber que após a primeira dose, o paciente não é mais infectante, isto é, a transmissão da hanseníase é interrompida. • Todos os pacientes que completaram o regime presc • Para as duas maiores reações inflamatórias, medicações adicionais são necessárias. A prednisona oral (20–60 mg/dia) é utilizada nas reações tipo 1 (reversas), enquanto a talidomida (100–200 mg/dia) é a principal terapia para as reações tipo 2 (eritema nodoso hansênico). Recomendam- se corticosteroides sistêmicos para o fenômeno de Lúcio Apesar de a hanseníase ser considerada uma doença curável com bom prognóstico e excelente taxa de sobrevida, ela ainda pode ser incapacitante e estigmatizante. É muito importante que o diagnóstico seja feito o mais cedo possível, assim como o exame dos contatos, uma vez que o tratamento nos estágios iniciais da doença previne incapacidades. O reconhecimento da hanseníase nas fases iniciais (em particular os achados cutâneos) por profissionais de saúde, bem como a população em geral em países endêmicos, é essencial para reduzir o impacto dessa doença.
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