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1 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Normas Constitucionais Desde o início de discernimento verificamos a existência de regras, as quais são impostas inicialmente pelo Direito Natural de maneira não escrita. O Estado também deve viver sobre regras, tanto o Estado pessoa jurídica quanto os seus representantes (pessoas físicas). Os direitos fundamentais foram criados para barrar os abusos praticados pelo Estado e seus agentes. Direito Constitucional é o ramo do direito público que estuda as regras de estruturação do Estado. A Constituição Federal é o dispositivo normativo onde estão as regras de estruturação. Existem normas inconstitucionais na Constituição Federal? Quanto à origem, as normas originárias são aquelas que nasceram com a Constituição Federal, estão na constituição desde quando essa entrou em vigor. Já as normas secundárias ou derivadas são aquelas que foram incorporadas na constituição após a sua entrada em vigor, via emenda constitucional. No Direito alemão, admite que possa reconhecer como inconstitucional uma norma originária da Constituição, como sustenta a doutrina de Otto Bachof em sua monografia “Normas Constitucionais Inconstitucionais?”. Neste, adota-se a "Lei Fundamental Da Alemanha" assim como o vaticano. A jurisprudência do STF entendeu que não se aplica esta regra ao sistema jurídico constitucional brasileiro, ou seja, não há que se falar em norma constitucional inconstitucional. As normas originais ou originarias da CF não podem sofrer controle de constitucionalidade, pedidos de declaração de normas constitucionais como inconstitucionais são carecedores/impossíveis, salvo os resultantes de PEC. Controle de constitucionalidade só se aplica a normas infraconstitucionais. Exemplos: 1. A obrigatoriedade do serviço militar apenas para homens presente no artigo 143 da constituição, por exemplo, mesmo sendo oposta ao artigo 5 inciso I da constituição, não pode ser considerada inconstitucional por ser norma originária. Art. 143 § 2º da CF: As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir. Art. 5 I CF: Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição. 2. O artigo 226 da CF § 3º reconhece como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, e o § 4º reconhece, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. Seguindo esse artigo, as uniões estáveis de casais homoafetivos e famílias pluriparentais não seriam reconhecidas como entidade familiar, tampouco pessoas que vivem sozinhas, que consequentemente não possuiriam bens de família. Apesar de esse artigo ser considerado ultrapassado nos dias atuais, não se pode declara-lo como inconstitucional, visto que ele é uma norma constitucional. A Resolução n. 175 de 14/05/2013 feita pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) deu a possibilidade aos casais homoafetivos de casarem civilmente. Essa 2 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo resolução surgiu de decisão do Supremo e também exprime um conceito de família Art. 1 da Lei n. 8.009/90: O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. A jurisprudência não admite a penhora da casa de um indivíduos que moram sozinhos, pois nessa interpretação ele está protegido pela impenhorabilidade do bem de família, mesmo contradizendo a constituição. O casamento com alguém casado é crime seguindo o artigo 235 do Código Penal. Entretanto, a união estável com alguém casado não é tipificada como crime, podendo haver um relacionamento poligâmico ser considerado entidade familiar nessa hipótese. Tudo que está na Constituição Federal é Direito Constitucional? Para uma norma ser considerada Direito Constitucional é necessário que essa seja regra de estruturação do Estado. Os artigos seguintes, por exemplo, apesar de serem normas constitucionais, não podem ser considerados de Direto Constitucional. Art. 242 da CF § 2º: O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal. Art. 220 da CF § 4º: A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso. Já os artigos seguintes são de Direito Constitucional por serem regras de estruturação do Estado. Art. 2 da CF: São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Art. 44 da CF: O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Art. 76 da CF: O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado. Art. 92 da CF: São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I- A - o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; II-A - o Tribunal Superior do Trabalho; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. § 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional. 3 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Constituição Federal Brasileira Lei fundamental do Estado da Cidade do Vaticano Art. 44, 76 e 92. Art. 1: O Sumo Pontífice, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano, tem a plenitude dos poderes legislativo, executivo e judicial. Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente. Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal. Art. 1- II: Durante o período de Sede vacante, os mesmos poderes pertencem ao Colégio dos Cardeais, o qual todavia poderá emanar disposições legislativas só em caso de urgência e com eficácia limitada ao período de vacância, a não ser que elas sejas confirmadas pelo Sumo Pontífice sucessivamente eleito segundo a norma da lei canónica. No Brasil, toda norma que está na Constituição Federal é constitucional, porém, nem todas serão de Direito Constitucional. A constituição não apresenta a diferença entre as normas que são de estruturação do Estado e as que não são, e todas elas se modificam com a Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Esta tem como objetivo mudar algumas partes do texto constitucional sem precisar convocar uma nova assembleia constituinte. Qual a força normativa da Constituição Federal? Não há hierarquia entre qualquer dos dispositivos da Constituição, independentemente se for de Direito constitucional ou não. Por exemplo, não há hierarquia entre o direito à vida e a questão do colégio Pedro II para fins constitucionais. Tanto a PEC relacionada ao direito a vida quanto à relacionada ao colégio Pedro II terá o mesmo rito e procedimento. Não existe uma hierarquia prática, mas há uma pseudo-hierarquia. Seja norma "materialmente" constitucional (de matéria constitucional) ou norma "formalmente" constitucional (não são de estruturação), para fins constitucionaiselas serão iguais. Quanto ao modo de alteração, elas serão flexíveis, semirrígidas ou rígidas. A Constituição Federal é rígida desde 1891, por possuir apenas uma forma de alteração de qualquer de seus dispositivos. Quando ela entrou em vigor havia dois modos de altera-la, a partir de revisão e PEC. Atualmente permite-se apenas o uso da PEC (art. 60 da CF). A atual constituição poderia se tornar semirrígida através de uma emenda constitucional, possibilitando a criação de um sistema complexo para alterar regras de estruturação e de direitos fundamentais e outra regra menos complexa para possibilitar a alteração de normas que não sejam de direito constitucional. Por exemplo: Art. 60 CF: A Constituição poderá ser emendada, em casos de normas de estruturação e direitos fundamentais, mediante proposta: [...]. Art 60- A: Nos demais casos a constituição poderá ser emendada na seguinte forma. Dessa forma, seria criada uma hierarquia das normas da constituição. Pode haver proposta de emenda buscando alterar direitos fundamentais? 4 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Art. 60 § 4º CF: Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. Sim, o artigo 60 diz que não poderá ser objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir, portanto para aumentar pode. O artigo 6 caput, por exemplo, sofreu PEC para incluir o direito a moradia. Tudo que está na Constituição Federal é norma? Nem tudo que está da Constituição Federal é norma, o preâmbulo não é apenas do 1º até o ultimo artigo da constituição tudo é norma. Quando a constituição entrou em vigor a doutrina de forma majoritária entendia que o preâmbulo não possuía força normativa. As interpretações quanto a este assunto podem ser feitas de maneira autêntica (pelos legisladores), doutrinária e jurisprudencial, sendo a ultima palavra a do STF, que necessita ser provocado para atuar. Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. O STF então determinou: Art. 11 da ADCT: Cada Assembléia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta. O Estado do Acre criou a sua constituição, entretanto, gerou discussões. A ASSEMBLEIA ESTADUAL CONSTITUINTE, usando dos poderes que lhe foram outorgados pela CONSTITUIÇÃO FEDERAL, obedecendo ao ideário democrático, com o pensamento voltado para o POVO, inspirada nos HERÓIS DA REVOLUÇÃO ACREANA, promulga a seguinte CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ACRE. Não há neste preâmbulo o termo "sob a proteção de Deus" e diante desta ausência o PSL promoveu uma ADI (2.076-5/AC) contra a Constituição Estadual do Acre alegando violação do preâmbulo da CF. O STF julgou essa ação improcedente, pois não cabe ADI tendo como base de fundamentação violação do preâmbulo, pois este não possui força normativa, logo não é norma, trata-se de dispositivo da CF sem força normativa, mas sim força filosófica e sociológica. Acrescentaram “sob a proteção de Deus” na redação dada pela Emenda Constitucional n. 19/2000: A ASSEMBLEIA ESTADUAL CONSTITUINTE, usando dos poderes que lhe foram outorgados pela CONSTITUIÇÃO FEDERAL, obedecendo ao ideário democrático, com o pensamento voltado para o POVO, inspirada nos HERÓIS DA REVOLUÇÃO ACREANA e SOB A PROTEÇÃO DE DEUS, promulga a seguinte CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ACRE. Apesar de não ter força normativa, o preâmbulo somente pode ser alterado por norma ou projeto de emenda, porque é Constituição Formal. 5 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Qual foi a intenção do constituinte ao acrescentar no preâmbulo o termo "sob a proteção de Deus"? Está ele se referindo a alguma religião? Como fica o estado laico? Essa frase demonstra que o povo brasileiro é formado por pessoas que creem em um ser superior ou supremo. Se houver conflito entre o que está no preâmbulo e o que está dentro dos artigos da CF, como solucionar? Deve prevalecer sempre o texto normativo, prevalecendo no caso da questão religiosa o art. 5º que descreve que "todos são iguais perante a lei". Desde 1891 o Brasil rompeu laços com a igreja. Existem três tipos de laços entre igreja e Estado, situação de “confusão”, como no Vaticano e Irã no qual esses são inerentes; situação de “união”, no qual esses estão juntos e a religião muitas vezes ocupa cargos no governo, como na Argentina (catolicismo) e Israel (câmara de magistrado que analisa os casos conforme determina o Torá); e situação de “separação” no qual esses não mantém qualquer relação e vinculo como no Brasil. Aplicabilidade das normas José Afonso da Silva (Direito Constitucional positivo), sobre a aplicabilidade das normas, as dividiu em: normas de aplicabilidade plena, normas de aplicabilidade contida, normas de aplicabilidade limitada (programáticas ou constitutivas). Normas constitucionais de aplicabilidade plena são aquelas que desde o momento em que a constituição entrou em vigor possuem aplicabilidade imediata e total. Art. 5 CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. As normas plenas, apesar de não necessitarem de dispositivo infraconstitucional, poderão ter uma lei para tratar do assunto com o objetivo de reforçar a intenção do constituinte, podendo ser atingido através de imposição de sanção, caráter sancionatório. Por exemplo, a Lei n. 9.455, de 7 de abril de 1997 que define os crimes de tortura e pune; a Lei n. 9029/95 que pune a discriminação no trabalho; e as Leis n. 8.078/90 (CDC) que garantem os direitos do consumidor. Normas constitucionais de aplicabilidade contida possuem semelhança com as plenas no sentido de que elas também possuem aplicabilidade imediata desde o momento em que a constituição entrou em vigor no ordenamento jurídico. 6 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Por sua vez as normas contidas necessitam e pedem a criação de um dispositivo infraconstitucional para regulamentá-la (a constituição pede expressamente). Por exemplo: “A lei desposará sobre...”, “nos termos da lei...” e “... conforme a lei”. Enquanto não sobrevier a norma infraconstitucional determinada pela constituição, não pode o agente ser impedido de exercer esse direito, e caso venha a ocorrer, poderá o agente se socorrer do poder judiciário, através de ação judicial. A ausência da norma infraconstitucional não impede que o agente possa fazer. Art. 5 XIII da CF: É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Caso um moto taxista ou motorista de moto de entrega seja impedido de trabalhar, ele deve procurar a cessação do ato através do poder judiciário, pedindo a liberação da moto, dos documentos e que o poder públiconão o impeça de trabalhar até que venha a norma regulamentadora. Hipoteticamente, com o surgimento da lei (dispositivo infraconstitucional) que passe a regulamentar a profissão do moto taxista, por exemplo, criando deveres e obrigações, ele deve se enquadrar realizando tudo o que a lei propõe a partir do momento em que a lei entrar em vigor. Caso não tenha o agente se enquadrado nesta lei a partir deste momento, ele poderá ser impedido de exercer a sua profissão. O direito de trabalhar é um direito fundamental que para ser exercido deve o agente preencher os requisitos que a lei impor. Normas constitucionais de aplicabilidade limitada são aquelas que dependem expressamente de um dispositivo infraconstitucional. Nelas, enquanto não vier o dispositivo infraconstitucional o agente não pode valer o seu direito (não pode exercer), se cria uma “expectativa de direito”. A constituição diz para criar essa lei, mas o legislador não à cria. Exemplo: Art. 7 da CF: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei. Devido à ausência da lei, ficariam alguns questionamentos em relação ao artigo 7 XI, como: Quanto deveria ser pago aos empregados? Se pago, todos deveriam receber o mesmo valor? Como deveria ser pago? A prestação seria única ou continuada? Incidiria sobre o valor pago no imposto de renda? Poderia receber "in natura"? Este dispositivo foi regulamentado apenas em 2001. Caso a lei que define não existisse, uma ação exigindo esse pagamento deveria ser julgada improcedente, sendo permitido nesse caso o ativismo judicial. Art. 8 § 3º do ADCT: Aos cidadãos que foram impedidos de exercer, na vida civil, atividade profissional específica, em decorrência das Portarias Reservadas do Ministério da Aeronáutica n. S-50-GM5, de 19 de junho de 1964, e n. S-285-GM5 será concedida reparação de natureza econômica, na forma que dispuser lei de iniciativa do Congresso Nacional e a entrar em vigor no prazo de doze meses a contar da promulgação da Constituição. Durante esse ano muitas pessoas foram impedidas de exercer suas atividades civis lhe causando prejuízos, portanto foi concedida a reparação de 7 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo natureza econômica. Ficariam alguns questionamentos que a lei deveria apresentar, como: Quem são as pessoas que teriam direito a indenização? Quanto seria pago? De que forma seria pago? Incidiria sobre o valor pago no imposto de renda? A prestação seria única ou mensal? Entraria em precatório? Essa lei que regulamenta o artigo 8 do ADCT surgiu como medida provisória n. 65 de 2002 que foi convertida como a Lei n. 10.559 de 13 de novembro de 2002. Art. 2 da Lei n. 10.559/02: São declarados anistiados políticos aqueles que, no período de 18 de setembro de 1946 até 5 de outubro de 1988, por motivação exclusivamente política, foram: I - atingidos por atos institucionais ou complementares, ou de exceção na plena abrangência do termo; II - punidos com transferência para localidade diversa daquela onde exerciam suas atividades profissionais, impondo-se mudanças de local de residência; III - punidos com perda de comissões já incorporadas ao contrato de trabalho; V - impedidos de exercer, na vida civil, atividade profissional específica em decorrência das Portarias Reservadas do Ministério da Aeronáutica no S-50-GM5, de 19 de junho de 1964, e no S-285-GM5. Art. 3 A reparação econômica de que trata o inciso II do art. 1o desta Lei, nas condições estabelecidas no caput do art. 8o do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, correrá à conta do Tesouro Nacional. Art. 4 A reparação econômica em prestação única consistirá no pagamento de trinta salários mínimos por ano de punição e será devida aos anistiados políticos que não puderem comprovar vínculos com a atividade laboral. § 2o Em nenhuma hipótese o valor da reparação econômica em prestação única será superior a R$ 100.000,00 (cem mil reais). Art. 5 A reparação econômica em prestação mensal, permanente e continuada, nos termos do art. 8o do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, será assegurada aos anistiados políticos que comprovarem vínculos com a atividade laboral, à exceção dos que optarem por receber em prestação única. Art. 6 O valor da prestação mensal, permanente e continuada, será igual ao da remuneração que o anistiado político receberia se na ativa estivesse, considerada a graduação a que teria direito, obedecidos os prazos para promoção previstos nas leis e regulamentos vigentes, e asseguradas as promoções ao oficialato, independentemente de requisitos e condições, respeitadas as características e peculiaridades dos regimes jurídicos dos servidores públicos civis e dos militares, e, se necessário, considerando-se os seus paradigmas. Comissão da verdade, indenizando a família de Vladimir Herzog e Marcelo Rubens Paiva, por exemplo. Art. 6 São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. As normas limitadas são divididas em programáticas e constitutivas. As normas programáticas são normas constitucionais de aplicabilidade limitada programática, aquelas que visam à criação de programas de governo. A Lei n. 11.977, de 7 de julho de 2009 que surgiu a partir da Medida Provisória n. 459, de 2009 dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida. Para garantir o direito à moradia do artigo 6 para famílias com renda mensal de até R$ 4.650,00. A Lei n. 14.118, de 12 de janeiro de 2021 institui o Programa Casa Verde e Amarela para famílias residentes em áreas urbanas com renda mensal de até R$ 7.000,00 e a famílias residentes em áreas rurais com renda anual de até R$ 84.000,00, associado ao desenvolvimento econômico, à http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#DT8 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#DT8 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#DT8 8 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo geração de trabalho e de renda e à elevação dos padrões de habitabilidade e de qualidade de vida da população urbana e rural. Há um entendimento moderno, feito por Vlater Foleto Santin, Vidal Serrano Nunes Júnior e Ingo Wolgang Sarlet, de que há direitos sociais chamado de “mínimo vital” que, apesar de serem normas limitadas, deve o Estado resguardar. São elas as normas limitadas assecuratórias. Normas constitucionais de aplicabilidade limitada constitutiva são aqueles que para criar (constituir, fazer nascer) algo há a necessidade de uma prévia lei autorizando tal medida. Art. 18 § 3º da CF: Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. Trata da criação de Estados. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. Trata da criação de municípios. Requisitos para que se possa criar um novo município no Brasil: Divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal; Consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos; Lei Complementar Federal autorizando os Estados a criarem novos municípios e; Lei Estadual autorizando a criaçãodo município. Art 37 XIX da CF: Somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação. XX - depende de autorização legislativa, em cada caso a criação de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de qualquer delas em empresa privada. Para a criação de algo que envolva dinheiro público, somente pode ocorrer mediante lei. Normas constitucionais de aplicabilidade exaurida (Prof. Ricardo Cunha Chimenti – Apontamento de Direito Constitucional) tratavam de algum determinado assunto, questão, muitas delas prevendo datas que estes previam a acontecer. Com a vinda do acontecimento o assunto perdeu a importância no ponto de vista político por não se usar mais. Art. 2 do ADCT: No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País. Esta norma se exauriu em 7 de setembro de 1993. Art. 3 A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral. Art. 4 O mandato do atual Presidente da República terminará em 15 de março de 1990. 9 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Estas normas não possuem nenhuma aplicabilidade, simplesmente se exauriram. É possível modificar uma norma exaurida, criar outra regra nela, através de emenda. Eficácia e aplicabilidade Aplicabilidade vem do verbo aplicar, significando usar, utilizar, poder fazer valer o dispositivo constitucional ou não. Exemplo: Em 1977 foi criada uma lei (Lei n. 001/77) que vedava expressamente o direito a participação dos empregados nos lucros da empresa. Isso quer dizer que no dia da entrada em vigor da CF o empregado já poderia pedir a participação nos lucros da empresa? Não, ele tinha apenas o direito, sem poder aplicá-lo. Apesar do inciso XI, art. 7º não ter aplicabilidade imediata, ele produziu efeito imediato (eficácia, irradiou efeitos ao passado) de dizer que a lei 001/77 deveria deixar o ordenamento jurídico. Mesmo não tendo aplicabilidade, uma norma limitada gera efeitos ao passado para possibilitar a retirada do ordenamento jurídico de dispositivos que com ela venham a contrariar, sob pena de inconstitucionalidade. Mesmo sendo limitada ela possui eficácia. Todos os dispositivos infraconstitucionais de contrariavam com a sua entrada em vigor, com qualquer de seus dispositivos (plenos, contidos e limitados) não foram recepcionados. Uma norma constitucional, ainda que limitada, gera efeitos ao futuro, pois determinará ao legislador que crie uma lei dentro do que ela especificou, não podendo ser contrariada. Caso contrário, ela será inconstitucional. Todas as normas, não só as constitucionais como as infraconstitucionais, são eficazes. Assim que uma lei nova entra em vigor, ela revoga as anteriores. Uma norma declarada inconstitucional terá declarada a perda da sua eficácia (ineficaz). Perdendo esta, ela perde simultaneamente a vigência, aplicabilidade e funcionalidade. Perdendo a vigência ela vale efeito a tudo que foi feito antes, ou seja, foi eficaz. Nem toda norma tem aplicabilidade, mas todas as normas tem eficácia. Se tornando ineficaz volta ao ordenamento a norma que ela revogou, como se fosse natimorto (já nasceu morta). 1977: Lei n. 001/77 que vedava expressamente o direito a participação dos empregados nos lucros da empresa. 1988: Art. 7 XI da CF/88 que permite a participação dos empregados nos lucros da empresa. 2021: Suposição de art. Z que veda expressamente o direito a participação dos empregados nos lucros da empresa. 10 Bianca Marinelli – Direito Constitucional I – 3º termo Vigência: Quando entra em vigor, passa a existir. Aplicabilidade: Não basta existir, pode ser usada? Funcionalidade: A norma já existe, mas ela soluciona o problema? Dependerá de outra norma ainda, em regra um decreto. Possui funcionalidade discriminada em lei, para determinadas hipóteses. Eficácia: Ela gera algum efeito? Sobre festas clandestinas durante a pandemia: Regras de vulnerabilidade, infração de medida sanitária preventiva. Art. 268 CP - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro. Omissão de notificação de doença. Art. 288 CP - Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: (Redação dada pela Lei n. 12.850, de 2013) (Vigência) Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei n. 12.850, de 2013) (Vigência) Parágrafo único - A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente. (Redação dada pela Lei n. 12.850, de 2013) (Vigência). O presidente da república não pode ser preso de forma provisória. Art. 86 CF - § 3º enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o presidente da república não estará sujeito à prisão. Se RS legisla para autorizar a corrida de cachorros com maus tratos, há no mínimo duas violações, da lei ambiental que proíbe os maus tratos e a que impede jogos de azar. Ministro Alexandre de Moraes suspendeu uma lei do estado de Roraima que autorizada o uso de mercúrio na busca de ouro. O governador de Roraima, Antonio Denarium sancionou a Lei n. 1.453/2031, que regulamenta o licenciamento ambiental para garimpo no estado, ação para resguardar os direitos constitucionais de todos. Art. 225 CF - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
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