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A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM EMPRESAS PRIVADAS: NOTAS SOBRE A PRODUÇÃO DA CATEGORIA. Alessandra Ribeiro de Souza1 Eliza Ribeiro Chaves2 Resumo O presente texto resulta da revisão da produção acerca do trabalho do assistente social em empresas privadas. A revisão empreendida abarcou a produção mais recente expressa em revista e em congressos da categoria e indica as tendências mais gerais das condições de trabalho e das demandas apresentadas ao profissional. As tendências evidenciadas situam como a profissão tem sido impactada pela reestruturação produtiva neste espaço ocupacional. Palavras-chave: “Reestruturação Produtiva,” ; “Serviço Social,”; “Empresa”. Abstract The present text results from the revision of the production about the work of the social worker in private companies. The revision undertaken included the most recent production in magazine and category conferences and indicates the more general tendencies of the working conditions and the demands presented to the professional. The evidenced trends show how the profession has been impacted by the productive restructuring in this occupational space. . Keywords: “Productive Restructuring,”; “Social Work,”; “Company” 1 Assistente Social. Mestre. Universidade Federal de ouro Preto – UFOP. alessandra.rsouz@gmail.com 2 Estudante. Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP. eliza.chaves26@gmail.com mailto:alessandra.rsouz@gmail.com I. INTRODUÇÃO O presente artigo que resulta da pesquisa intitulada “O Trabalho do Assistente Social nas empresas privadas da Região dos Inconfidentes3“ parte da compreensão de que as mudanças na dinâmica capitalista empreendidas à partir da década de 1970 impuseram como resposta à crise do capital a reestruturação produtiva que promove alterações substancias no interior das empreses. A complexificação da sociedade capitalista associada às mudanças no mundo do trabalho, ao protagonismo dos organismos internacionais e à pressão do empresariado imprime a redefinição do processo de produção de mercadorias que objetiva potencializar o desenvolvimento da dinâmica de acumulação. Nas ultimas décadas a atuação do assistente social nas empresas privadas também passa por alterações e se torna objeto de novas exigências e qualificações assumindo, nesses espaços, uma configuração e um estatuto bastante distintos daqueles expressos nas ações problematizadoras do projeto profissional dos anos de 1980. Nesse contexto o Assistente Social passa por uma reatualização de sua intervenção incorporando a prevenção de acidentes e doenças, bem como uma revalorização das atividades desportivas e recreativas voltadas para o combate ao “stress” além da responsabilidade social. Conhecer e problematizar as novas demandas dirigidas ao trabalho do Assistente Social nessa área de atuação é primordial para a qualificação tanto do exercício profissional quanto da formação. Nesse sentido consideramos importante analisar a produção desenvolvida acerca desse espaço ocupacional e indicar as tendências gerais das condições de trabalho do profissional bem como das demandas apresentadas ao mesmo. II. DESENVOLVIMENTO Á partir da década de 1970 o capitalismo entra em nova crise e as respostas construídas naquela conjuntura se diferem das elaboradas no contexto do Segundo Pós Guerra. Tais respostas se fundamentaram no neoliberalismo, na reestruturação produtiva e na flexibilização, que irão incidir diretamente no pacto social responsável pelos chamados “30 anos gloriosos” do capitalismo. 3 A referida pesquisa é desenvolvida com apoio da FAPEMIG e busca analisar como tem ocorrido a inserção dos assistentes sociais em empresas privadas da região denominada Inconfidentes. A referida crise tem como principal determinação a estagnação das taxas de lucro e expressa num movimento convergente em que a crise de superprodução é administrada mediante expansão do credito para financiar tanto os déficits dos países hegemônicos como a integração funcional dos países periféricos ao processo de internacionalização do capital. De acordo com Netto, no que toca às exigências imediatas do grande capital, o projeto neoliberal restaurador viu se resumido no tríplice mote da “flexibilização” (da produção, das relações de trabalho), da “desregulamentação” (das relações comerciais e dos circuitos financeiros) e da “privatização” (do patrimônio estatal). Se esta última transferiu ao grande capital parcelas expressivas de riquezas públicas, especial mas não exclusivamente nos países periféricos, a “desregulamentação” liquidou as proteções comercial alfandegárias dos Estados mais débeis e ofereceu ao capital financeiro a mais radical liberdade de movimento, propiciando, entre outras consequências, os ataques especulativos contra economias nacionais. Quanto à “flexibilização”, embora dirigida principalmente para liquidar direitos laborais conquistados a duras penas pelos vendedores da força de trabalho, ela também afetou padrões de produção consolidados na vigência do taylorismo fordista. No Brasil, a década de 1980 é marcada pela redemocratização com o fim do regime militar. Trata se de um contexto em que a classe trabalhadora experimenta um massivo processo de organização política, a exemplo da fundação de partidos, sindicatos, comissões de fábrica, entre outras representações, imprimindo formas combativas na sua relação com o capital. Coincide com este cenário de alterações no âmbito das empresas no Brasil a expansão do mercado de trabalho do assistente Social. Do ponto de vista da profissão, o serviço social ao longo da década de 1980 é marcado por um processo de renovação e de ruptura com o conservadorismo. Essa ruptura resultou no interior da direção hegemônica da categoria profissional na incorporação do pensamento crítico, organicamente articulado às necessidades sociais das classes subalternas, pautado em bases teóricas metodológicas, éticas e prático operativas assentadas na teoria social de Marx, capazes de compreender a realidade na trama das relações sociais contraditórias, determinada por condições históricas objetivas. (Netto, 1990, Iamamoto, 1998) Conforme indicam os estudos de Mota (1985), naquela década havia como uma particularidade da intervenção do assistente social na empresa uma ação voltada tanto à preservação da força de trabalho dos empregados como a necessidade de mediar conflitos/comportamentos que surgiam na relação entre capital e trabalho. A requisição profissional, portanto, atenderia, tanto às necessidades do capital – contratante dos serviços profissionais – como as do trabalho, pela via de uma intervenção voltada a considerar as necessidades básicas dos trabalhadores e de suas famílias. Ao final dos anos de 1980 e início dos anos de 1990, parte do setor industrial brasileiro já tinha realizado os ajustes e reformas organizacionais como parte das estratégias de integração econômica à dinâmica capitalista mundial. Mas, é no trânsito da década de 1990 para os anos 2000 com a vitória do projeto neoliberal que vamos assistir profundas mudanças que reorganizam o processo de produção de mercadorias e realização do lucro. Nesse cenário, são evidenciados um extensivo programa de privatizações, fusões empresariais, drástico enxugamento de postos de trabalho que redefiniram a composição do mercado, intenso processo de concentração e descentralização de capitais e introdução de métodos “participativos”, em decorrência das imposições de competitividade das empresas transnacionais que instalaram suas subsidiárias no Brasil. De acordo com Antunes Combinando elementos herdeiros do fordismo (vigentes em vários ramos e setores produtivos) com uma nova pragmática pautada pela acumulação flexível,pela empresa enxuta (lean production), pela implantação de programas de qualidade total e sistemas just-in-time e kanban, além da introdução de ganhos salariais vinculados à lucratividade e à produtividade (como o PLR, programa de participação nos lucros e resultados), sob uma pragmática que se adequava fortemente aos desígnios do capital financeiro e do ideário neoliberal, tudo isso acabou possibilitando uma reestruturação produtiva de grande intensidade no Brasil, que teve como consequências a ampliação da flexibilização, da informalidade e da precarização da classe trabalhadora. (Antunes, 2014:40) De acordo com Antunes as mudanças empreendidas decorreram em uma nova fase no Brasil com características emblemáticas no caso da indústria metalúrgica, da agroindústria e do setor de serviços de telemarketing e call center. Destes setores destacamos as análises do autor que indicam que no setor da indústria metalúrgica assiste se a uma clara articulação entre as diferentes formas de exploração do trabalho causadas pela aceleração intensa dos ritmos e pela intensificação da atividade laborativa, acarretando na alta incidência de acidentes e de adoecimentos do trabalho. No que tange ao setor de serviços evidencia se uma significativa expansão da inserção da classe trabalhadora partir do call center e telemarketing. De acordo com dados explicitados por Antunes (2014), o telemarketing é composto em mais de 70% por mulheres que ficam de 85% a 90% de sua carga horária diária sentadas e com atenção total ao visor do microcomputador, ao teclado e ao headset (fone de ouvido). Os processos de trabalho implementados quase anulam as possibilidades de relações interpessoais entre os trabalhadores e são marcados por um alto controle do tempo de desenvolvimento das operações. Tais transformações afetam, sobremaneira, a intervenção profissional, nos seus aspectos técnico operativos e também no arsenal de conhecimentos acumulados e consolidados no caldo cultural da profissão na década de 1980. O processo de reestruturação produtiva inflexiona as políticas de recursos humanos, no Brasil, principalmente no que tange ao crescimento dos investimentos empresariais com a qualificação da força de trabalho; introduz técnicas e métodos de gerenciamento participativo, com forte apelo ao envolvimento dos trabalhadores com as metas empresariais; combina o sistema de benefícios e serviços sociais com as políticas de incentivo à produtividade do trabalho; e adota práticas de avaliação e monitoramento do ambiente interno. Nesse contexto, o trabalho do assistente social ainda é requisitado para atuar nas situações de trabalho que interferem na produtividade das empresas e nas suas necessidades de reprodução material e de sua família, mas, agora, também são chamados para intervir em novos projetos, mais amplos e “extra muros” da empresa, que requerem uma ação “colada” à filosofia e às práticas empresariais modernas de gestão do trabalho. Acerca das novas demandas postas ao trabalho do Assistente Social destacamos a participação nos programas Participativos que são pautados pela Qualidade Total, de Qualidade de Vida, de Treinamento e Programas de Clima ou Ambiência Organizacional. (cf. Amaral e César 2009) Nossas análises tem indicado até aqui os contornos assumidos pela dinâmica de acumulação do capital no contexto da reestruturação flexível e os impactos nas condições de trabalho dos assistentes sociais. Ressaltamos que a atuação profissional nas empresas passa a requerer cada vez mais habilidades e a experimentar condições de trabalho diversificadas, neste sentido, é importante buscarmos aprofundar nossas análises acerca das requisições apresentadas pelas instituições empregadoras, as demandas apresentadas, bem como as condições de trabalho deste profissional. Com o objetivo de aprofundar tais analises, desenvolvemos uma revisão da produção acerca do tema presente nos anais dos principais eventos nacionais da profissão e à partir da revista Serviço Social e Sociedade A revista Serviço Social & Sociedade foi escolhida tendo em vista o reconhecimento de sua abrangência e longo tempo de existência (aproximadamente trinta anos). Para efeito dessa pesquisa definimos como recorte o período recente compreendido entre os anos de 2010 até abril de 2016 totalizando 25 edições. A pesquisa foi desenvolvida através da busca em todas as edições pelos descritores “empresa privada”, “assistente social” e “empresa privada” que deveriam constar nos títulos dos artigos. A busca resultou na identificação de apenas quatro artigos que publicados em setembro de 2010, maio de 2011, junho de 2013 e abril de 2015. A revisão dos artigos indicou importantes elementos acerca das condições de trabalho do assistente social e das novas configurações assumidas nas empresas privadas que buscaremos apresentar e problematizar. O primeiro texto identificado, publicado na revista n.103, intitulado “O Serviço Social e a “responsabilidade social das empresas”: o debate da categoria profissional na Revista Serviço Social & Sociedade e nos CBAS” (Menezes, 2010) tem como objetivo analisar a chamada “responsabilidade social das empresas” (RSE). A autora destaca que as empresas tem incorporado a RSE concebendo a como uma alternativa para agregar valor à sua marca e que esta tem se constituído como um novo campo de atuação para os profissionais assistentes sociais sendo assim necessário conhecer quais são seus principais objetivos. A RSE facilita a ampliação dos níveis de acumulação adotando, de forma ideológica, os discursos de defesa dos direitos, da cidadania e de solidariedade e parceria para se enfrentar a “Questão Social”. Menezes em suas analises busca verificar o debate da categoria profissional sobre a responsabilidade social nas empresas e ressalta que o profissional ainda que ocupe este espaço, deve compreender sua natureza e objetivo: Mas não deve também nutrir ilusões quanto à possibilidade de as práticas sociais das empresas serem a solução para o pauperismo em que se encontra grande parcela da população e nem deve se enganar, acreditando que o mercado está comprometido realmente com a superação da desigualdade social. (MENEZES, 2010: 525 e 526) À partir da identificação de que a RSE nas empresas é uma área que tem inserido assistentes sociais, é importante que se tenha nitidez acerca de seus objetivos e sua incapacidade no enfrentamento da questão social e ainda que se tenha compreensão de como a responsabilidade social se situa na logica do capital como uma estratégia de marketing e de isenção de impostos. O segundo artigo, publicado por Raichelis em 2011, na revista n.107, sob o título “O Assistente Social como trabalhador assalariado: desafios frente às violações de seus direitos” tem como finalidade problematizar algumas das dimensões do processo de precarização do trabalho do assistente social no contexto das transformações e redefinições do trabalho na contemporaneidade. Ou seja, a autora tem o objetivo de analisar o processo de precarização do trabalho do assistente social no contexto mais geral. Suas reflexões indicam a importância de compreendermos que o Assistente Social como trabalhador assalariado também sofre os impactos decorrentes do processo da reestruturação produtiva do capital que conforme já apontamos anteriormente, tem como características principais a superexploração do trabalho dada principalmente a redução do quantitativo de trabalhadores, o alto índice de adoecimento e a imposição da incorporação de novas tecnologias. Segundo a autora: Torna-se urgente, pois, a formulação de uma agenda de pesquisa que possa produzir conhecimentos sobre essas situações de sofrimento do assistente social, pois é daí que poderão resultar subsídios fundamentais para a continuidade das lutas e embasamento de novas reivindicações e direitos que particularizemas específicas condições de trabalho do assistente social no conjunto da classe trabalhadora. (RAICHELIS, 2011, p.435) A autora demonstra que é necessário aprofundar o conhecimento acerca da condição assalariada do assistente social em seu campo de atuação e os impactos que tal dinâmica institucional desencadeia. No que tange à atuação em empresas privadas, compreendemos que é de suma importância analisar como tem se dado as relações de trabalho estabelecidas pelo profissional tendo em vista que este também está sujeito à vínculos precarizados, à terceirização e também à novas requisições institucionais decorrentes. O terceiro artigo identificado é de autoria de Giampaoli publicado em 2013, na revista n.114, intitulado “Serviço Social em empresas: consultoria e prestação de serviços”. O referente artigo apresenta a analise acerca do trabalho do assistente Social em duas empresas de consultoria, relatando o papel do assistente social neste espaço. A autora indica elementos importantes acerca das condições de trabalho dos Assistentes Sociais como a utilização de nomes genéricos em seus cargos como “consultores em Serviço Social” e “consultores de atendimento”; relações autônomas de trabalho em relação à empresa a qual se vincula e também contratos celetistas; banco de cadastro de profissionais em todo o território brasileiro e também na América Latina; os atendimentos demandados pelas empresas para os trabalhadores são realizados 24 horas a partir de central telefônica ou a partir de atendimento móvel e os profissionais são considerados consultores externos para as empresas clientes, uma vez que não as integram legal e administrativamente seus quadros. Os elementos apontados indicam como a precarização do trabalho atinge o assistente social. A utilização do subterfúgio de cargos genéricos tem representado tanto no setor público quanto no privado a tentativa de negar atribuições privativas e as condições éticas e técnicas que cada profissão possui como carga horária reduzida, garantia de espaço sigiloso para atendimento, etc. Os vínculos de trabalho terceirizados que também constituem característica da reestruturação produtiva que elimina direitos trabalhistas como férias e descanso remunerado e dispersa a organização coletiva do trabalhador. Apesar desses apontamentos, um aspecto que chama atenção na pesquisa da autora é o fato dos profissionais afirmarem que não se sentem desprotegidos com esta situação de trabalho. No que tange às requisições apresentadas ao assistente social a autora destaca: atendimento 24 horas para situações de emergência; entrevista social; visitas domiciliar e hospitalar; captação de recursos públicos; suporte social aos gestores, funcionários e familiares; orientação em casos de falecimento, nos âmbitos nacional e internacional; apoio a incidente crítico (violência urbana, acidente de trabalho, entre outros); orientação e acompanhamento decorrentes de desequilíbrio orçamentário; dependência química; práticas vinculadas às relações de trabalho e problemas pessoais que interferem na produtividade. É possível identificar que as requisições das instituições ao assistente social mantém traços históricos de atendimentos a situações individualizadas que interferem na produtividade, porém, tem se a ausência da explicitação das demandas apresentadas pelos trabalhadores ao profissional. Acreditamos que é importante diferenciar o que são requisições da instituição do que são as demandas ao trabalho do assistente social e neste sentido é importante indicar a necessidade de aprofundar as reflexões sobre tais demandas. O quarto artigo em análise, publicado por Gomes em 2015 na revista n. 122, intitulado “Consultoria social nas empresas: entre a inovação e a precarização silenciosa do Serviço Social” tem como propósito refletir sobre o trabalho desenvolvido pelo assistente social em empresas de consultoria e assessoria. Gomes (2015) assim como Giampaoli (2013), indica que as empresas de consultorias são contratadas por outras empresas, na maioria das vezes, privadas com o objetivo de fazer com que, tanto o trabalhador quanto a empresa tenham benefícios. Os serviços dessas consultorias são prestados 24 horas por dia, fazendo com que no lugar da conquista de um direito o trabalhador passe a ter um benefício cedido pelo empregador. Cabe destacar que a autora indica as principais características valorizadas pelas profissionais que atuam em consultorias: 1) autonomia, dinamicidade, inovação e criatividade, 2) ética entendida como sinônimo de sigilo profissional e suposta neutralidade, 3) capacidade de quantificação dos serviços prestados. Essas aparentes inovações das “consultorias”, entre outros aspectos, têm revelado nas empresas o oposto dos seus reais objetivos, tornando-se obscurecedores da precarização silenciosa do trabalho do assistente social via trabalho terceirizado e por vezes informal com status de um trabalho moderno. (Gomes, 2015: 357) As analises empreendidas por Gomes se tornam ainda mais preocupantes quando associada ás indicações de Giampaoli de que os profissionais não se sentem desprotegidos pelas relações de trabalho estabelecidas pautadas pela flexibilização. Em linhas gerais a produção acerca do trabalho do assistente social em empresas indica que o atendimento do assistente social, necessita de alguns recursos como estrutura física que garanta condições éticas e técnicas de trabalho porém, o que vem acontecendo dentro dessas empresas de consultoria e assessoria é um trabalho, muitas das vezes, realizado por telefone na maioria das vezes realizado em suas próprias residências estando disponíveis durante 24 horas por dia, sem nenhum contato físico com o trabalhador que necessita desse atendimento. As relações de trabalho do profissional com as empresas tem seguido a tendência da terceirização das atividades consideradas “meio” e não finalidade e o trabalho realizado pelos profissionais seguem ligadas às requisições das empresas principalmente relacionadas à manutenção da produtividade do trabalhador. Com o objetivo de adensar nossas reflexões foi desenvolvido o levantamento da produção acerca da temática nos anais dos principais congressos da categoria que são o Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) e o Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social (ENPESS). Para efeito dessa pesquisa foram utilizados os anais dos CBAS’s realizados no período compreendido entre 2004 a 2016 e dos ENPESS’s compreendidos entre 2010 a 2012. Para identificação dos trabalhos relacionados à temática da atuação profissional no setor privado inicialmente foram aplicados como descritores os termos: “reestruturação produtiva”, “serviço social em empresas” e “assistentes sociais e empresas privadas” que deveriam constar nos títulos dos trabalhos. À partir desta busca fram identificados 72 artigos sobre a temática, porém, a partir da leitura destes foi identificado que apenas 33 estavam relacionados ao exercício profissional e indicavam algumas atribuições desenvolvidas na atualidade pelos profissionais. O numero de artigos foi novamente reduzido após o aprofundamento das leituras tendo em vista que alguns destes artigos tinham o objetivo de descrever condições especificas de algumas empresas e situações relacionadas a estágios. Assim, ao final da revisão o numero de artigos foi reduzido a 8 relacionados diretamente a atividade dos profissionais de Serviço Social nas empresas. A análise preliminar dos artigos nos permite observar como o assistente social cumpre o seu exercício profissional no âmbito privado, demonstrando as condições de trabalho que os trabalhadores estão inseridos; as demandas postas/colocadas aos profissionais de serviço social e também aos trabalhadores da empresa, relatando formas especificas de trabalho; os desafios postos ao Projeto ético político profissional;desafios e contradições da classe trabalhadora frente a reestruturação produtiva; resultados de práticas profissionais; atuação em consultoria e dificuldades relacionadas a impossibilidade de acesso ao trabalhador. III. CONCLUSÃO Este trabalho teve o objetivo de realizar uma revisão sobre a produção teórica que trata do trabalho dos assistentes sociais dentro das empresas privadas, e pode indicar o crescimento e a diversificação da demanda pelo profissional neste espaço desde os anos 1980. Contudo algumas indagações foram construídas ressaltando que tanto na revista Serviço Social & Sociedade quanto nos trabalhos publicados nos anais dos Congressos CBAS e ENPESS há ainda uma produção pequena em termos quantitativos, mas que apresenta importantes elementos a serem problematizados pela categoria. Tais elementos se referem principalmente às novas demandas das empresas e dos trabalhadores nesta área de atuação, a incorporação de tecnologias e os impactos da reestruturação produtiva para os trabalhadores de forma geral e os contornos que atinge para a categoria dos assistentes sociais. A produção analisada indicou que novas demandas como a responsabilidade social atendimento 24 horas para situações de emergência, consultoria, captação de recursos públicos tem sido postos como requisições aos profissionais de forma conjugada com a histórica demanda pelo trabalho profissional de acompanhamento e orientação às situações que interferem na produtividade do trabalhador. Acreditamos que é importante diferenciar o que são requisições da instituição do que são as demandas ao trabalho do assistente social e neste sentido a analise da produção nos indicou a necessidade de aprofundar as reflexões sobre tais demandas. Outro aspecto importante evidenciado pela revisão se refere às condições de trabalho. Foi possível identificar uma tendência à terceirização da contratação do trabalho do Assistente Social e do desenvolvimento do trabalho em estruturas externas à empresa como, por exemplo, a partir de central telefônica ou a partir de atendimento móvel em sistemas de Call Center. 24 horas. Assim, os profissionais, considerados consultores externos para as empresas clientes, não as integram legal e administrativamente em seus quadros e compreendemos ser necessário refletir sobre a precarização nas condições de trabalho decorrentes dessa forma de inserção no trabalho. Por fim, é importante ressaltar que a produção indicou uma ampliação da inserção profissional nesse espaço e assim, consideramos ser fundamental conhecer tanto em termos quantitativos quanto no que tange às demandas e às respostas profissionais nesta área através de outros estudos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, N. L. T. de; ALENCAR, M. T. de. Serviço Social, trabalho e políticas públicas: os desafios do presente. Saraiva, 2011. 186p. ALMEIDA, J. de M.; RODRIGUES, H. de C. P.; SANTANA, J. M.; Reestruturação no mundo do trabalho: os limites do fazer profissional frente è reestruturação produtiva. 2013 CBAS AMARAL, Ângela Santana. Qualificação dos trabalhadores e estratégia de hegemonia: o embate de projetos classistas. (Tese) Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. _________, Angela Santana de; CESAR, Mônica. O trabalho do assistente social nas em- presas capitalistas. In: CFESS/ABEPSS (Orgs.). Serviço social: direitos e competências profissionais. 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