Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 1 Cocos: Staphylococcus aureus e Neisseria meningitidis Diferenciar as Bactérias Gram Positivas e Gram Negativas Gram Positivas: Parede celular espessa, de múltiplas camadas que consiste principalmente em peptidoglicanos em torno da membrana citoplasmática. O peptidoglicano funciona como um exoesqueleto e é suficientemente poroso para permitir a difusão de metabólitos até a membrana plasmática. O peptidoglicano pode ser degradado por lisozima, enzima presente nas lágrimas e no muco de seres humanos, mas é também produzida pelas bactérias e outros organismos. Sem o peptidoglicano, as bactérias não resistiriam às grandes diferenças de pressão osmótica ao longo da membrana citoplasmática e lisariam. A remoção da parede celular produz um protoplasto que lisa, a menos que seja estabilizado osmoticamente. A parede celular também pode incluir outros componentes como proteínas, ácidos teicoicos (polímeros ligados ao peptidoglicano que se ligam aos receptores do hospedeiro e importantes fatores de virulência), lipoteicoicos e polissacarídeos complexos (geralmente chamados de polissacarídeos C). Os ácidos lipoteicoicos estão ancorados na membrana citoplasmática. Estas moléculas são antígenos de superfície que distinguem os sorotipos bacterianos e promovem a fixação às outras bactérias e aos receptores específicos das superfícies de células de mamíferos. São liberados no meio e no hospedeiro, e podem induzir respostas de defesa inata similar à endotoxina, embora de maneira mais fraca. O peptideoglicano das estafilococos estão associados à proteína R e o das estreptococos à proteína M. A maioria são as cocos. Gram Negativas: Parede celular mais complexa tanto estrutural quanto quimicamente. Não possuem ácidos teicoicos ou lipoteicoicos na parede celular. A parede celular é atravessada por diversos sistemas de transporte, como os sistemas de secreção dos tipos I, II, III, IV, V. Os sistemas de transporte possibilitam a captação e liberação de diferentes compostos. Esses sistemas de secreção são produzidos durante a infecção e contribuem para a virulência da bactéria transportando moléculas que facilitam a adesão bacteriana ou o crescimento intracelular. O sistema de secreção III é o principal fator de virulência para algumas bactérias, com uma estrutura complexa que atravessa tanto a membrana interna quanto a membrana externa e pode agir como uma seringa para injetar proteínas em outras células. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 2 Estruturalmente contém duas camadas externas à membrana citoplasmática e imediatamente externa à essa membrana existe uma fina camada de peptidoglicano. Possui uma membrana externa que é como um saco rígido em torno da bactéria, mantendo seu formato e forma uma barreira de permeabilidade a grandes moléculas (como a lisozima) e moléculas hidrofóbicas (alguns antimicrobianos). Também proporciona proteção contra as condições adversas, como o sistema digestivo do hospedeiro. A monocamada interna da membrana externa contém fosfolipídos e a monocamada externa é composta principalmente de lipopolissacarídeos (LPS), único local em que as moléculas de LPS são encontradas. LPS também é chamado de endotoxina, um estimulador de respostas imune. Ele é liberado pelas bactérias nos meios no hospedeiro, induzindo febre e podendo causar choque. As Neisserias liberam grandes quantidades de uma molécula relacionada, lipoligossacarídeo (LOS), resultando em febre e sintomas graves. A área entre a membrana citoplasmática e a membrana exterior é denominada de espaço periplasmático. Esse espaço contém componentes do sistema de transporte de ferro, proteínas, açúcares e outros metabólitos, e uma variedade de enzimas hidrolíticas (proteases, lipases, nucleases, fosfatases e de degradação de carboidratos) que participam da clivagem de macromoléculas para o metabolismo bacteriano. Nas gram negativas patogênicas, muitos dos fatores de virulência, como colagenases, hialuronidases, proteases e β‑lactamases, localizam‑se no espaço periplasmático. Na membrana externa existem proteínas transmembranas como as porinas, que formam poros que permitem a difusão de moléculas hidrofílicas, como metabólitos e moléculas pequenas de antimicrobianos. Além de porinas, possuem proteínas estruturais, moléculas receptoras de bacteriófagos e outros ligantes e componentes dos sistemas de transporte e de secreção. A membrana externa é conectada à membrana citoplasmática em sítios de adesão e é unida ao peptidoglicano através da lipoproteína que fica ligada ao peptidoglicano e é ancorada na membrana externa. Os locais de adesão proporcionam uma rota para a liberação de componentes da membrana externa recém‑sintetizados para a membrana externa. O rompimento da membrana externa enfraquece as bactérias e permite a permeabilidade de grandes moléculas hidrofóbicas. A adição de lisozima às células com uma membrana externa rompida produz esferoplastos, que como os protoplastos, são osmoticamente sensíveis. Maioria são os bacilos. Cocos: Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 3 • Neisseria gonorrhoea • Neisseria miningitidis • Haemophilus influenzae Coloração de Gram: Teste que permite a diferenciação entre as duas mais importantes classes de bactérias, permitindo o diagnóstico inicial e começar uma terapêutica. As bactérias são fixadas pelo calor na superfície de uma lâmina, coradas pelo cristal de violeta ou violeta genciana. Lugol é adicionado para precipitar o corante e depois o descorante vai retirar a violeta não ligada ao peptidoglicanos. A fucsina é adicionada para corar as bactérias não coradas por violeta genciana. As Gram positivas ficam roxas porque o corante fica retido na camada de peptidoglicano,. As Gram negativa ficam rosa. Compreender as Staphylococcus aureus São cocos gram positivos aeróbios, possuem forma esférica e ausência de endósporos. As catalases são enzimas que convertem peróxido de hidrogênio em água e oxigênio. Quando uma gota de peróxido de hidrogênio é colocada sobre uma colônia bacteriana produtora de catalase, aparecem bolhas decorrentes da liberação de oxigênio formado. O gênero catalase positivos é Staphylococcus. As estafilococos crescem em formato de cacho de uva. Podem crescer em ambientes aeróbios e anaeróbios. Estão presentes na pele e nas membranas mucosas dos seres humanos. As espécies mais comumente associadas a doenças humanas são S. aureus (o membro mais virulento e conhecido do gênero), Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus saprophyticus. Os membros de S. aureus resistentes à meticilina (MRSA) causam infecções graves em pacientes hospitalizados e, também, no ambiente extra‑hospitalar em crianças e adultos. As colônias de S. aureus podem apresentar uma coloração Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 4 amarelo‑ouro e produzem a enzima coagulase, que converte fibrinogênio em fibrina, formando um coágulo no plasma. Teste da Coagulase: faz diagnóstico de Staphylococcus aureus que são coagulase +. Permite subdividir os gêneros de cocos. Fisiologia e Estrutura das Estafilococos: ➢ Cápsula e Camada Mucoide A cápsula recobre a camada mais externa da parede celular. Na S. aureus foram identificados 11 sorotipos capsulares. Os sorotipos 5 e 8 estão associados à maioria das infecções humanas. A cápsula tem ação protetora porque inibe a fagocitose do microrganismo pelos leucócitos polimorfonucleares (PMN). A maioria dos estafilococos produz um filme hidrossolúvel (camada mucoide ou biofilme) que possibilita a ligação da bactéria aos tecidos, dispositivos médicos ou corpos estranhos, como cateteres, enxertos, próteses valvulares, sendo importante para a sobrevivência dos estafilococos coagulase negativos. ➢ Peptidoglicano: O peptidoglicano consiste em camadas de cadeias de glicano construídas por 10 a 12 subunidades alternadasde ácido N‑acetilmurâmico e N‑acetilglicosamina. O peptidoglicano das Gram‑positivas consiste em muitas camadas unidas por ligações cruzadas, o que torna a parede celular mais rígida. As enzimas que catalisam a construção das camadas de peptidoglicano são chamadas de proteínas ligadoras de penicilina (PBP), porque são os alvos das penicilinas e outros antimicrobianos β‑lactâmicos. A resistência bacteriana à meticilina e às penicilinas relacionadas é mediada pela aquisição de um gene (mecA) que codifica para uma proteína ligadora de penicilina alterada (PBP2A), que apresenta baixa afinidade por meticilina, penicilinas relacionadas e cefalosporinas. O peptidoglicano tem uma atividade semelhante à endotoxina, estimulando a produção de pirogênio endógeno, a produção de interleucina 1 (IL‑1) pelos monócitos e a agregação de PMN (um processo responsável pela formação de abscesso). Quanto mais peptidoglicano tiverem, mais virulentas elas vão ser e mais leucócitos vão ser atraídos no local, formando pus. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 5 ➢ Ácidos Teicoicos Ácidos teicoicos são componentes da parede celular e são espécie-específicos ligados aos ácidos N- acetilmurâmico da camada de peptidoglicano ou aos lipídios da membrana plasmática (ácidos lipoproteicos). Apesar de os ácidos teicoicos serem imunógenos fracos, uma resposta de anticorpos específicos é estimulada quando eles estão ligados ao peptidoglicano. Ajudam a bactéria a se ancorarem no tecido humano. ➢ Proteínas de Adesão da Superfície Na S. aureus existem grandes quantidades de proteínas de superfície. Elas são importantes para adesão aos tecidos do hospedeiro (colágeno, elastina). Em estafilococos, a maioria está ligada ao peptidoglicano da parede celular e são denominadas de componentes da superfície microbiana que reconhecem moléculas adesivas da matriz ou proteínas. Proteína A: presente na superfície das cepas de S. aureus, mas não dos estafilococos coagulase-negativos. Essa proteína fica ligada aos peptideoglicanos ou à membrana citoplasmática e se liga nas imunoglobulinas. A detecção da proteína A pode ser utilizada como um teste de identificação específica para S. aureus. Vira o anticorpo ao contrário, se liga às imunoglobulinas na porção FC (responsável por se ligar nas células do sist.. imune e sinalizar presença de bactérias) e se ligando ali inibem esse sistema. Coagulase: São fatores de coagulação e estão presentes também na S. aureus. É um importante fator de virulência, pois se liga no fibrinogênio e o converte em fibrina insolúvel, fazendo com que os estafilococos se agrupem. ➢ Membrana Citoplasmática Consiste em um complexo de proteínas, lipídios e uma pequena quantidade de carboidratos. Funciona como uma barreira osmótica para a célula e como ancoradouro para as enzimas celulares biossintéticas e respiratórias. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 6 Patogênese e Imunidade das Estafilococos: A patologia das infecções por estafilococos depende da habilidade da bactéria em evadir da fagocitose, expressar proteínas de superfície que medeiam a adesão aos tecidos do hospedeiro, e produzir dano tecidual através da elaboração de toxinas específicas e enzimas hidrolíticas. A expressão de fatores de virulência em estafilococos está sob o controle de sistemas regulatórios, sendo o mais importante o sistema regulador de genes acessórios ou AGR. Esse sistema de controle determina a expressão de proteínas de adesão, promovendo a colonização dos tecidos quando a densidade celular bacteriana é baixa e de enzimas hidrolíticas e toxinas quando alta. ➢ Defesas contra a Imunidade Inata As estafilococos ativam opsoninas (IgG) do soro, mas a cápsula recobre essas opsoninas e protege a bactéria, inibindo a fagocitose por leucócitos. Na presença de anticorpos específicos direcionados contra os estafilococos, uma quantidade aumentada de C3 liga‑se a célula bacteriana promovendo a fagocitose. A camada mucoide extracelular também protege a bactéria contra fagocitose. A habilidade da proteína A de se ligar a imunoglobulinas previne a remoção (clearance) de S. aureus mediada por anticorpos. A proteína A extracelular pode também ligar anticorpos, formando, assim, complexos imunes. A proteína A se liga na porção FC das imunoglobulinas para inibir o sistema imune. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 7 ➢ Toxinas Estafilocócicas Citotoxinas: São hemolisinas, mas a atividade não é restrita apenas às hemácias porque a PVL é incapaz de causar lise em eritrócitos. Podem causar lise em neutrófilos, o que resulta na liberação de enzimas lisossômicas que danificam o tecido circundante. Todas produzidas por S. aureus • Alfa: pode ser codificada no cromossomo e em plasmídeos. Rompe a musculatura lisa dos vasos sanguíneos e é tóxica para muitos tipos de células, como os eritrócitos, leucócitos, hepatócitos e plaquetas. Causa formação de poros na membrana celular dos humanos, causando efluxo de K+ e influxo de Na+ e Ca++, levando ao desequilíbrio osmótico, turgescência e lise celular. É um importante mediador de dano tecidual. Muito ruim para o músculo cardíaco por causa de arritmia. • Beta: também chamada de esfingomielinase C. Possui especificidade para esfingomielina e lisofosfatidilcolina e é tóxica para eritrócitos, fibroblastos, leucócitos e macrófagos. Nas células suscetíveis, catalisa a hidrólise dos fosfolipídios de membrana, promovendo a lise celular. • Delta: Também produzido por S. epidermidis e S. haemolyticus. É tóxico para as membranas celulares das células, atuando como um surfactante, rompendo membranas celulares por meio de uma ação semelhante à de um detergente. • Gama e Leucocidina Panton-Valentine (PVL): relacionada a infecções pulmonares e cutâneas graves. São compostas por componente S e F com potencial para produzir 6 toxinas diferentes que lisam neutrófilos e macrófagos e possuem atividade hemolítica. A PVL é leucotóxica mas não possui atividade hemolítica. *não precisa saber cada uma Esfoliativas A e B: Causam a síndrome da pele escaldada estafilocócica (que é uma dermatite esfoliativa). Elas são serina proteases que quebram desmogleína-1 (um dos membros de uma família de adesão celular – desmossoms). Enterotoxinas A a R: São associadas à intoxicação alimentar, pois são encontradas em produtos lácteos contaminados e também causam enterocolite pseudomembranosa estafilocócica. Elas são estruturalmente perfeitas para causar doenças veiculadas por alimentos, porque são termoestáveis a 100 °C por 30 minutos e são resistentes à hidrólise pelas enzimas gástricas e do jejuno. São superantígenos, capazes de induzir ativação de células T e intensa liberação de citocinas. Causam peristalse muito intensa. Superantígeno: antígeno que prova uma resposta muito intensa do sistema imune, o que pode ser danoso, porque esse sistema pode causar quadros graves, como uma vasodilatação muito intensa. Toxina-1 da síndrome do choque tóxico (TSST-1): Também são superantígenos e é uma exotoxina resistente ao calor e proteólise. Atacam o sangue e causam a síndrome do choque tóxico, muitas vezes causada pelo uso de absorvente interno. Para serem produzidas precisam de um ambiente com muito O2 e pH neutro. Por isso não causam TSS por ferimentos (são relativamente anaeróbios e ácidos). Ela possui habilidade de penetrar nas barreiras mucosas estimulando o aumento de citocinas. ➢ Enzimas: Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 8 Possuem duas formas de coagulase: ligada à parede celular, que pode converter fibrinogênio em fibrina e livre que reage com um fator globulina do plasma para formar estafilotrombina, que catalisa a conversão de fibrinogênio em fibrina insolúvel. A coagulase serve para criar uma capa de coagulo nas bactérias fazendo elas ficarem mais unidas, mas esse coagula é feito com material do nosso corpo, logo ele não identifica essecoágulo como um intruso, sendo uma “capa da invisibilidade”. Apenas a aureus produz. Hialuronidase que hidrolisa os ácidos hialurônicos presentes na matriz acelular do tecido conjuntivo. Fibrinolisina (estafiloquinase) que dissolve os coágulos de fibrina – exclusiva do aureus. Lipases que hidrolisam lipídios e asseguram a sobrevivência dos estafilococos nas áreas sebáceas do corpo. Nucleasse para hidrolisar o DNA. Epidemiologia São presentes em toda a pele, na orofaringe, no trato gastrointestinal e urogenital e nas dobras úmidas vivem principalmente as S. aureus. Em recém-nascidos vivem no coto umbilical e na região perineal. Alguns adultos saudáveis são portadores persistentes de S. aureus na nasofaringe, com uma incidência maior em pacientes hospitalizados, médicos, indivíduos com doenças eczematosas da pele e aqueles que usam agulhas regularmente, tanto de forma ilícita quanto por razões médicas. São suscetíveis a temperatura alta, desinfetantes e soluções antissépticas; entretanto, podem sobreviver em superfícies secas por longos períodos. Crescem em locais com altas concentrações de sal. Podem ser transferidos para um indivíduo suscetível através do contato direto ou através do contato com fômites (p. ex., vestimentas e roupas de cama contaminadas). Doenças S. aureus causa doença através da produção de toxinas ou da invasão direta e destruição do tecido, sendo as manifestações clínicas quase que exclusivamente resultado das toxinas, mas algumas doenças são da proliferação mesmo (infecções cutâneas, endocardite, pneumonia, empiema, osteomelite, artrite séptica). Na presença de corpos estranhos (p. ex., pinos, cateteres, derivações, válvulas ou articulações protéticas), um número menor de estafilococos é necessário para estabelecer doença. Causam em geral: infecções de feridas, do trato urinário, de cateteres e derivações e dispositivos protéticos. Doenças Mediadas por Toxinas: • Síndrome da pele escaldada ou doença de Ritter (SSS): descamação do epitélio em crianças causadas pelas toxinas esfoliativas A e B. Começa com uma vermelhidão (eritema) e inflamação ao redor da boca que se espalha para todo o corpo em dois dias. As bolhas contêm um fluido claro, mas não apresentam microrganismos ou leucócitos, consistente com o fato de que a doença é causada pela toxina bacteriana. O epitélio volta ao normal em 10 dias, quando aparecem anticorpos contra a toxina. Não deixa cicatrizes porque só a camada superior da epiderme é destruída. O óbito é resultado de infecções bacterianas secundárias nas áreas descamadas – taxa de mortalidade menor que 5%. Ocorre mais em crianças e recém-nascidos, em adultos apenas quando estão imunocomprometidos ou com doenças renais – nesses casos a taxa de mortalidade é alta. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 9 • Intoxicação alimentar estafilocócica: ocorre após o consumo de alimento contaminado com a enterotoxina, início rápido com vômito severo, diarreia (aquosa e não sanguinolenta) e dores abdominais sem febre. Os alimentos mais comumente contaminados são as carnes processadas, bolos recheados com creme, saladas de batata e sorvetes. A contaminação pode ser prevenida não sendo permitido que indivíduos com evidência de infecções de pele por estafilococos atuem no preparo de alimentos, mas metade dos casos tem origem na colonização de nasofaringe em portadores assintomáticos. Após terem sido introduzidos no alimento, (através de um espirro ou de mãos contaminadas), ele deve ficar em temperatura ambiente ou aquecido para o microrganismo cresça e libere a toxina. O aquecimento no preparo do alimento irá matar a bactéria, mas não inativa a toxina. A toxina não é produzida por estafilococos ingeridos, assim a doença é de curso rápido, com os sintomas geralmente durando menos de 24 horas. O tratamento é apenas para aliviar os sintomas. Não se faz antibioticoterapia porque é causada pela toxina e não pela bactéria. • Choque tóxico: intoxicação multissistêmica que causa febre, hipotensão e uma erupção eritematosa macular difusa; mortalidade elevada na ausência de terapia antimicrobiana e da eliminação do foco de infecção. Tem início com o crescimento localizado de cepas de S. aureus produtor de toxina no canal vaginal ou em uma ferida, seguido da liberação da toxina para a corrente sanguínea. Múltiplos sistemas de órgãos são envolvidos e a pele inteira descama, incluindo a palma das mãos e a sola dos pés. Infecções Supurativas (com pus e bactéria que realmente causa a doença): • Impetigo bolhoso: forma localizada de SSS. Ocorre uma formação bolhosa superficial na pele que apresentam uma cultura positiva para o microrganismo. O eritema não se estende para além das bordas das bolhas. É altamente contagiosa e também ocorre em bebês e crianças. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 10 • Foliculite: infecção de folículos pilosos. A base do folículo fica elevada e avermelhada com pus. Se ocorrer onde nascem os cílios, é chamado de terçol. • Impetigo: infecção superficial em crianças pequenas e atinge principalmente a face e os membros. Surge um pequeno ponto vermelho plano e depois se desenvolve uma vesícula cheia de pus (pústula). Após o rompimento da vesícula, aparece uma crosta. São comuns múltiplas vesículas em diferentes estágios de desenvolvimento, devido ao espalhamento secundário da infecção para sítios adjacentes da pele. • Furúnculos ou pústulas: São uma extensão da foliculite, nódulos elevados, grandes e dolorosos que estão cheios de tecido morto e necrótico. Podem drenar espontaneamente ou por procedimentos cirúrgicos. • Carbúnculo: quando os furúnculos se unem e se estendem para o tecido subcutâneo mais profundo. Os pacientes desenvolvem calafrios e febre porque está ocorrendo uma disseminação sistêmica de estafilococos para outros tecidos. • Bacteremia e endocardite: bacteremia = presença de bactérias na corrente sanguínea. Podem ter um foco de infecção identificado como infecção pulmonar, mas também podem não ter, sendo provável Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 11 por uma infecção de pele. São em sua maioria adquiridos no hospital, após cirurgia. A endocardite é grave, e no início possuem sintomas semelhantes ao da gripe mas geram distúrbios do débito cardíaco. • Infecções de feridas: ocorrem após um procedimento cirúrgico ou trauma, com os microrganismos que colonizam a pele sendo introduzidos na ferida. Não são capazes de estabelecer infecção em um indivíduo imunocompetente, a menos que um corpo estranho (p. ex., pontos de sutura, estilhaços, sujeira) esteja presente na ferida. • Pneumonia e empiema: pode se desenvolver após a aspiração de secreções orais ou pela disseminação do microrganismo por via hematogênica, a partir de um sítio distante. Pneumonia por aspiração ocorre principalmente em crianças muito jovens, idosos, pacientes com fibrose cística. O microrganismo secreta enzimas e toxinas citotóxicas e forma abscessos localizados. Pneumonia por disseminação hematogênica é comum em pacientes com bacteremia ou endocardite. • Osteomelite: pode resultar da disseminação hematogênica para os ossos, ou pode ser uma infecção secundária decorrente de trauma ou da extensão de uma infecção em uma área adjacente. A disseminação hematogênica em crianças geralmente resulta de uma infecção estafilocócica cutânea e, usualmente, acomete a metáfise de ossos longos, uma área altamente vascularizada de crescimento ósseo. Esta infecção é caracterizada pelo aparecimento repentino de uma dor localizada no osso acometido e por febre alta. A hemocultura é positiva em aproximadamente 50% dos casos. S. saprophyticus: causam infecções do trato urinário em mulheres jovens sexualmente ativas. Elas apresentam disúria (dor ao urinar), piúria (pus na urina) e microrganismos na urina. Coagulase negativo. S. epidermides: são coagulase-negativos e podem infectar válvulascardíacas, causando endocardite. Coagulase negativo. Diagnóstico Laboratorial ➢ Microscopia Estafilococos são gram-positivos que formam arranjos em grumos. Um número relativamente reduzido de microrganismos é encontrado no sangue de pacientes com bacteremia, assim a avaliação de preparações coradas pelo Gram não é útil, devendo ser realizado cultivo do sangue. ➢ Teste de Cultura Espécimes são semeados em ágar-sangue de carneiro. Os estafilococos crescem rapidamente em meios não seletivos incubados em atmosfera aeróbia ou anaeróbia, apresentando colônias grandes e lisas que são visualizadas em 24 horas. As colônias de S. aureus se tornam amarelas. Caso o espécime clínico (p. ex., feridas ou espécime respiratório) apresente diferentes microrganismos, S. aureus pode ser isolado seletivamente em vários meios de cultura especiais, como o ágar manitol salgado, que é suplementado com manitol (fermentado pelo S. aureus, mas não pela maioria dos demais estafilococos) e cloreto de sódio a 7,5% (que inibe o crescimento da maioria dos outros microrganismos). Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 12 ➢ Teste de Identificação: Testes com coagulase, proteína A, nucleasse e fermentação do manitol para identificar S. aureus, que vai dar positivo para todos. A caracterização dos estafilococos coagulase‑negativos é mais complexa, necessitando do uso de sistemas comerciais de identificação ou detecção de genes espécie‑específicos por técnicas de sequenciamento de ácidos nucleicos. ➢ Testes Baseados em Ácidos Nucleicos: Testes comerciais para amplificação de ácidos nucleicos. Atualmente a extração do DNA, amplificação e detecção do gene‑alvo são realizadas em cartuchos descartáveis, com resultados disponíveis dentro de uma a duas horas. Compreender a Neisseria Neisseria gonorrhoeae e Neisseria meningitidis são os membros mais importantes do gênero Neisseria. Fisiologia e Estrutura Bactérias gram-negativas, aeróbias e na forma de cocos dispostas em pares (diplococos). São oxidase-positivas e a maioria produz catalase. A N. meningitidis produz ácidos pela oxidação de glicose e maltose. Outros carboidratos não são oxidados, sendo o perfil de utilização de carboidratos útil para diferenciar esses patógenos das outras espécies de Neisseria. Ferro é essencial para o crescimento e metabolismo de N. gonorrhoeae e N. meningitidis. Essas Neisserias patogênicas são capazes de competir pelo ferro com o hospedeiro humano, pela ligação da transferrina da célula do hospedeiro a receptores específicos da superfície bacteriana. ➢ Parede celular e Proteínas da Membrana Externa A estrutura da parede celular de N. gonorrhoeae e N. meningitidis é típica de uma bactéria Gram‑negativa, com uma fina camada de peptidoglicano localizada entre a membrana citoplasmática e a membrana externa. O principal fator de virulência de N. meningitidis é a cápsula polissacarídica. Diferenças antigênicas no polissacarídeo capsular de N. meningitidis são a base para a sorogrupagem desta bactéria e representam um papel importante na determinação na capacidade de causar infecção. Atualmente são conhecidos 13 sorogrupos (A, B, C, D, H, I, K, L, W‑135, X, Y, Z, 29E), sendo a maioria das infecções causada pelos sorogrupos A, B, C, Y e W135. As Neisseria possuem pili que tem várias funções, incluindo aderência às células do hospedeiro, transferência de material genético e motilidade, e sua presença parece ser importante para a patogênese de N. gonorrhoeae e N. meningitidis. A expressão de pili é associada à virulência, em parte porque esse apêndice permite a adesão às células epiteliais não ciliadas, conferindo resistência à morte causada pelos neutrófilos. Na membrana externa também estão presentes as porinas, codificadas por genes porA e porB. A N. meningitidis expressa os dois. O porB não é bom para o desenvolvimento de vacinas porque ele possui muitos antígenos, gerando muitas variantes sorológicas, fazendo dele um alvo fraco para o desenvolvimentos de vacinas. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 13 Possuem proteína Opa (de opacidade) que medeiam a ligação ao epitélio e aos fagócitos, e são importantes para sinalização entre as células. Proteínas Rmp (modificadas por redução): estimulam anticorpos bloqueadores que interferem na atividade bactericida do soro contra Neisserias patogênicas. ➢ Antígenos e Enzimas Lipo-oligossacarídeo (LOS): antígenos composto peloclipídio A e um núcleo de oligossacarídeo, mas não expressa o antígeno polissacarídico O da molécula declipopolissacarídeo (LPS). A molécula de lipídio A tem atividade de endotoxina. Tanto N. gonorrhoeae quanto N. meningitidis formam vesículas na membrana externa (blebs) durante o crescimento celular que contêm LOS e proteínas da superfície, e podem aumentar a toxicidade mediada pela endotoxina e proteger a replicação bacteriana pela ligação direta da proteína aos anticorpos. Protease imunoglobulina (Ig) A1: cliva imunoglobulina fazendo ela inativa. Patogênese e Imunidade: Penetram nas células, multiplicam-se e formam grandes agregados bacterianos ancorados às células hospedeiras. As proteínas da Pili, PorB e Opa medeiam a aderência e a invasão nas células do hospedeiro. O meningococo adere‑se seletivamente a receptores específicos para a pilina IV, presentes nas células colunares não ciliadas da nasofaringe. Meningococos sem pili são menos capazes de se ligarem às células. Algumas horas após a adesão, os pili sofrem modificações pós‑translacionais, levando à desestabilização dos agregados. Isto resulta no aumento da capacidade da bactéria tanto para penetrar nas células hospedeiras quanto para ser liberada pelas vias aéreas, e, assim, a transmissão pessoa‑pessoa é potencialmente aumentada. A doença meningocócica ocorre em pacientes que não possuem anticorpos específicos contra a cápsula polissacarídica e outros antígenos expressos pela bactéria. Os recém‑nascidos são protegidos pela transferência passiva de anticorpos maternos. No entanto, aos seis meses de idade, esta imunidade protetora desaparece, fato consistente com a observação de que a maior incidência da doença ocorre em crianças menores de dois anos de idade. Os meningococos são internalizados dentro do vacúolo fagocítico e são capazes de evitar a morte intracelular, replicar‑se e migrar para o espaço subepitelial. A cápsula polissacarídica protege N. meningitidis da fagocitose. Os danos vasculares disseminados associados às infecções meningocócicas (p. ex., danos endoteliais, inflamação das paredes dos vasos, trombose e coagulação intravascular disseminada) são largamente atribuídos à ação da endotoxina LOS presente na membrana externa. Epidemiologia Os seres humanos são os únicos portadores naturais de N. meningitidis. A prevalência de portadores na via oral ou na nasofaringe é mais alta em crianças em idade escolar e em adultos jovens; é alta em populações de baixo nível socioeconômico (devido à transmissão pessoapessoa em aglomerações), e não varia com as estações, embora a doença seja mais comum nos períodos frios e secos do ano. O estado de portador é tipicamente transitório, terminando após o desenvolvimento de anticorpos específicos. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 14 A doença meningocócica endêmica ocorre em todo o mundo, e epidemias são comuns em países em desenvolvimento. A expansão epidêmica da doença resulta da introdução de uma nova cepa virulenta em uma população imunologicamente desprotegida. N. meningitidis é transmitida por aerossóis respiratórios entre pessoas com contato prolongado, como membros da família que vivem na mesma casa e militares que compartilham o mesmo alojamento. Colegas de sala da escola e funcionários de hospitais não são considerados contatos próximos e não têm alto risco de adquirir a infecção, a menos que tenham contato direto com secreções respiratórias da pessoa infectada.Doenças da Neisseria meningitidis Meningite: inflamação purulenta das meninges que começa abruptamente com dor de cabeça, sinais meníngeos e febre. Porém, crianças menores podem apresentar apenas sintomas não específicos, como febre e vômitos. A incidência de sequelas neurológicas é baixa, sendo deficiências auditivas e artrites as mais comumente relatadas. Meningococcemia: infecção disseminada, caracterizada por trombose de pequenos vasos sanguíneos e envolvimento de múltiplos órgãos; petéquias cutâneas coalescem em lesões hemorrágicas maiores. Pneumonia: manifestação menos grave da doença meningocócica, caracterizada por broncopneumonia em pacientes com doença pulmonar de base. Os sintomas incluem tosse, dor torácica, estertores, febre e calafrios. A maioria dos pacientes apresenta sintomas de faringite. O prognóstico com pneumonia meningocócica é bom. Diagnóstico Laboratorial ➢ Microscopia N. meningitidis pode ser facilmente visualizada no líquido cefalorraquidiano (LCR) de pacientes com meningite, a menos que o paciente tenha tomado antibiótico antes. A maioria dos pacientes com bacteremia causada por outros microrganismos possui poucos organismos no sangue e a coloração de Gram não tem valor diagnóstico. Por outro lado, pacientes com doença meningocócica grave normalmente possuem um grande número de microrganismos no sangue e estes podem ser visualizados quando os leucócitos de sangue periférico são corados pela coloração de Gram. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 15 ➢ Teste de Cultura N. meningitidis geralmente está presente em grande número no LCR, sangue e saliva. Embora a bactéria possa ser inibida por fatores tóxicos do meio e pelo anticoagulante em hemocultura, N. meningitidis não é tão sensível. O crescimento de N. meningitidis em ágar‑nutriente é variável, e N. gonorrhoeae não é capaz de crescer nesse meio em função de suas complexas necessidades nutricionais. ➢ Identificação Espécies patogênicas de Neisseria são, preliminarmente, identificadas por serem diplococos Gram‑negativos oxidase‑positivos, e por crescerem em ágar‑chocolate ou em meios seletivos para espécies patogênicas de Neisseria. A identificação definitiva é feita pelo perfil de oxidação de carboidratos e outros testes selecionados. Profilaxia da Meningite →bloqueio do meningococo Cefotaxima ou ceftriaxona podem ser inicialmente utilizadas para tratar infecções por N. meningitidis. Se for demonstrado que o organismo é sensível à penicilina, o tratamento pode ser trocado para penicilina G. Quimioprofilaxia é recomendada quando houver exposição significativa a pacientes com doenças meningocócicas (definidos como indivíduos com exposição direta a secreções respiratórias ou mais de oito horas de contato próximo ao paciente). Atualmente, rifampicina, ciprofloxacina ou ceftriaxona são recomendadas para a profilaxia. A erradicação pelo uso de antibióticos em portadores assintomáticos de N. meningitidis é ineficaz. Por essa razão, os esforços têm se concentrado no aumento da imunidade contra os sorogrupos mais associados à doença, por meio do uso de vacinas. Infelizmente, o polissacarídeo B é fracamente imunogênico e não pode induzir uma resposta protetora de anticorpos. Dessa maneira, a imunidade à N. meningitidis sorogrupo B deve ser desenvolvida naturalmente, após a exposição a antígenos com reatividade cruzada. A vacinação com uma suspensão contendo o sorogrupo A pode ser utilizada para o controle de surtos epidêmicos, em viajantes nas áreas hiperendêmicas e em pessoas com maior risco de adquirir a doença (p. ex., pacientes com deficiência do complemento). Profissionais de saúde que atenderam o paciente infectado não necessitam de quimioprofilaxia, exceto aqueles que efetuaram procedimentos invasivos, como intubação endotraqueal ou passagem de sonda gástrica sem a devida proteção individual, através de equipamentos de proteção individual. Maria Paula M. Mattei | Tutorial 1 UC 5 16 No Brasil, para a quimioprofilaxia, é indicado o uso de rifampicina (via oral – VO) como antibiótico de escolha. Os pacientes devem ser hospitalizados imediatamente para início de medidas de suporte e de antibioticoterapia empírica; Todos os casos suspeitos ou confirmados devem ser notificados através da Ficha de Notificação e Investigação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN); Realizar quimioprofilaxia de contactantes. Monitorá-los por 10 dias, orientando sobre a necessidade de procurar atendimento médico caso surjam sinais e sintomas da doença. Orientá-los sobre as manifestações clínicas e para quais serviços os contactantes devem ser direcionados em caso de suspeita da doença; Referências: MURRAY, Patrick R.. Microbiologia Médica. 7. ed. Elsevier, 2014. HIRSCHHEIMER, Mário Roberto. Protocolo Sobre Meningites. Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, 2016. Disponível em: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/HIMJ_protocolo_meningites_12547 73684.pdf>. Acesso em: 19 set. 2019. TORTORA, Gerard J.. Microbiologia. 12. ed. Artmed, 2017.
Compartilhar