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Contribuições Pós-Freudianas à Psicologia do Desenvolvimento

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Contribuições Pós-Freudianas à Psicologia do Desenvolvimento
Pedro Teodósio Mansur
	A psicanálise, fundada por Sigmund Freud e Josef Breuer, é uma teoria psicoterapêutica que revolucionou a concepção psicológica da infância. Isso por conta não só das teorias da sexualidade infantil, extremamente rechaçadas na época, mas também pela atenção, na constituição do Sujeito psicanalítico, às fases primordiais do desenvolvimento humano.
	Dentre as principais contribuições pós-freudianas à psicanálise e à psicologia do desenvolvimento está a obra de Melanie Klein. Talvez a mudança mais interessante a nós que sua obra opera com relação à teoria freudiana seja a chamada teoria das posições. Basicamente, para Klein o desenvolvimento é o processo de passagem da posição esquizo-paranóide à posição depressiva, o que se dá ainda nos primeiros momentos da infância, inclusive anteriormente à tradicional emergência do complexo de Édipo.
	A posição esquizo-paranóide é caracterizada por uma não aceitação do objeto de desejo enquanto ente desejante. Isso configura, principalmente, uma relação com a mãe – e com o seio materno - que é marcada pela não distinção entre a criança e o seio; fundamentalmente, entre sujeito e objeto.
	Ainda durante esse momento indistinto, o bebê passa pela percepção do desamparo. Antes mesmo da integração de um eu, o sujeito se funda na percepção de que o objeto amado, seu outro fundamental, é desejante e, com isso, pode amá-lo de volta ou não. Isso, poderíamos dizer, tem duas consequências fundamentais à constituição subjetiva: por um lado, surge uma certa tendência à integralidade, uma divisão entre sujeito e mundo ou objeto amado; por outro, há um dos primeiros encontros com o risco radical de não ser tomado como objeto de desejo do outro.
	A partir disso nasce a dualidade da posição esquizo-paranóide entre o objeto de amor e o objeto de ódio – ou o seio bom e o seio ruim. O objeto de amor é aquele que provê, que cuida, que sustenta; poderíamos aproximar do que na teoria freudiana aparece como a função materna, de cuidado primordial. Já o objeto de ódio é aquele investido de temor da perda; é o objeto essencial que não se faz presente, o que funda a angústia do desamparo, o temor.
	O encontro com esse temor acompanha a passagem da posição esquizo-paranóide à posição depressiva. Isso porque a raiva frente ao objeto de ódio faz nascer um desejo de destruição do objeto que emerge atravessado por uma culpa, não só pelo desejo de aniquilamento de um outro com o qual se mantem uma relação ambivalente de amor e ódio, mas também pela inscrição da possibilidade da perda fundamental.
	A posição depressiva é, portanto, marcada pelo encontro com essa possibilidade. Com Lacan, talvez pudéssemos dizer que a condição depressiva abordada na obra kleiniana deriva da função paterna que expõe um Sujeito não-todo – inclusive por conta do que aparece na obra da autora como autoridade parental, que modifica os laços do sujeito com o outro. Em Klein, podemos dizer que o que caracteriza essa posição é a ultrapassagem de um mundo polarizado e dual entre objeto de amor e de ódio, que aparece na aceitação da não-perfeição do outro.
	Um pouco posterior a Melanie Klein, outra contribuidora da psicanálise à psicologia do desenvolvimento foi Anna Freud. Filha de Freud, a autora não faz em sua obra grandes mudanças com relação a obra do pai. A maior parte de sua contribuição, na verdade, é mais prática do que teórica: a partir da observação clínica e do tratamento psicanalítico das crianças traumatizadas pela Segunda Guerra, Anna Freud consegue articular a teoria à clínica infantil e, com isso, promove uma interface da psicanálise com uma instituição inédita: a escola.
	No que diz respeito à contribuições teóricas, Anna Freud concentra sua atenção ao longo de sua obra em uma questão essencial à psicologia do desenvolvimento: o detalhamento dos mecanismos de defesa do eu – especialmente em crianças e adolescentes. Seu enfoque teórico está no ego humano e na autonomia de suas funções, que, tomando o protagonismo dos processos psíquicos, constitui o que a autora chama de “maturação psicológica”.
	O desenvolvimento para ela, portanto, passa pela consolidação dos mecanismos de defesa do ego. Mecanismos esses que a autora vê com certa positividade: segundo ela, a defesa do ego infantil é a forma de resistência frente aos impulsos. Vê-se que os mecanismos de defesa do ego na obra de Anna Freud tomam uma posição de certa forma “civilizatória”, apaziguadora do conflito do Sujeito com suas pulsões e instintos. Uma das propostas da autora é justamente a de elucidar o comportamento do eu frente aos impulsos.
	As defesas do ego para ela podem ser decompostas entre componente ideativo e componente afetivo. O componente afetivo diz respeito aos afetos do sujeito, enquanto fazem parte do componente ideativo as elaborações desses afetos em ideias.
	Uma das críticas feitas à sua clínica pelos psicanalistas diz respeito à desvalorização da dimensão do inconsciente. A psicoterapia de Anna Freud trabalha com o foco no ego, tendo em vista um aprimoramento de suas defesas, o que nos permite dizer que é uma clínica que toma como base processos que, em larga medida, são conscientes.
	Com isso, passamos a Donald Woods Winnicott, um dos mais prestigiados contribuidores pós-freudianos à psicanálise. Pediatra e neurologista infantil, seu trabalho também tem como base a criança e seu desenvolvimento. Para Winnicott, o desenvolvimento (ou processo de amadurecimento) é a capacidade de integração do eu e de separação entre eu e mundo, que se dá por uma tendência geral à integralidade.
	Esse amadurecimento passa por uma forma de lidar com objetos externos. Esses objetos podem ser objetos de investimento libidinal e pulsional, como as figuras parentais, ou objetos físicos. Por isso, inclusive, a ênfase winnicottiana no brincar. A relação com os brinquedos para o autor inglês vai ser extremamente significativa no que diz respeito ao processo transicional de integração.
	Daí o conceito de objeto transicional. Normalmente um brinquedo, um pano, travesseiro, qualquer coisa à qual a criança se apegue, é um primeiro objeto com o qual a criança começa a manter uma relação de distinção. Por isso transicional, pois é um objeto de investimento tomado pela criança que a faz pela primeira vez experenciar um corpo em separado do mundo, mesmo que não completamente. O objeto então transita entre corpo e mundo; no brincar, na relação, a criança constitui suas fronteiras, seus jogos pulsionais e investimentos. 
	A brincadeira então, é tida como metáfora do processo transicional de se lidar com a desilusão. Essa desilusão, fundamentalmente relacionada a um outro principal, na obra freudiana à função materna, é promovida pela percepção da criança com relação ao desejo da mãe. A ilusão da onipotência do outro fundamental é atravessada pelo encontro com o desejo desse próprio outro, que faz com que a criança viva a possibilidade de ser tomada ou não como objeto de desejo. A ambivalência manifesta na obra de Melanie Klein quando a autora trata do seio bom e do seio ruim também aparece na relação que Winnicott evidencia entre a criança e a mãe.
	Em sua observação clínica, Winnicott conceitua, então, a mãe suficientemente boa. Esse conceito, que diz respeito não só aos cuidados providos à criança, mas também à toda a construção de um ambiente ao seu redor que a permita amadurecer com maior facilidade, é interessante por carregar em seu seio a ambivalência da relação psicanalítica entre a mãe e o bebê. A mãe suficientemente boa é uma mãe não-toda, que não superprotege ou sustenta a ilusão primordial de onipotência materna.
	Esse amadurecer que envolve a construção e a desconstrução de uma ilusão aparece na clínica winnicottiana como processo terapêutico. Winnicott desenvolve sua clínica a partir da observação de crianças traumatizadas pela Segunda Guerra mundial, que não passaram pela ilusão materna. Assim, o papel do analista seria promover a construção de uma ilusão, cumprindoo papel de um outro persistente, para que depois opere um corte. O brincar está muito envolvido na clínica de Winnicott justamente porque o processo de desilusão com a mãe não acontece sem a experiência transicional.
	O principal expoente da psicanálise desde Freud, no entanto, com certeza é Jacques Lacan. Com um expressivo trabalho na metade do século XX, o francês retoma psicanálise freudiana e a visibiliza fortemente, dizendo fazer um retorno rigoroso a Freud.
	Sua principal contribuição à psicanálise, mas também à psicologia do desenvolvimento, reside na importância dada à linguagem em sua obra. Isso aparece, por exemplo, na atualização da função paterna da obra freudiana na metáfora paterna, ou no significante Nome-do-Pai. Trazendo à tona a primazia do significante, não mais do significado, Lacan constrói um Sujeito cujo inconsciente se estrutura como uma linguagem, imerso e constituído por ela.
	O Nome-do-Pai em Lacan opera a interdição. Assim como a desilusão em Winnicott, o desamparo na obra lacaniana e na psicanálise “tradicional” é fundante do Sujeito. Frente a interdição à mãe, a criança é alçada, pela impossibilidade da simbiose à mãe operada pela inscrição do Nome-do-Pai, à linguagem. O Sujeito se inscreve então em uma linguagem que se dá fundamentalmente enquanto metáfora, pois a ânsia da significação, da simbolização, da condensação de sentido da experiência radical de desamparo é o motor da inserção do Sujeito na linguagem. 
	Em outras palavras, o Simbólico para Lacan é o registro que articula a impossibilidade de se ser todo. O domínio simbólico aparece como tentativa mais ou menos bem sucedida de apaziguamento de um Real que incessantemente inscreve a falta, a lacuna, o não-todo do Sujeito. A metáfora paterna é a tentativa de tamponamento dessa falta.
	Falando em Simbólico e Real, é preciso articulá-los com o Imaginário. Os três planos são um dos pontos centrais da obra de Lacan, mas, para além disso, um dos principais de seus textos sobre a constituição do Sujeito, ainda pré-psicanalítico, é justamente sobre a constituição imaginária. O estádio do espelho aborda principalmente a construção do eu enquanto revestimento de um corpo que se integraliza no domínio do Imaginário; aproximando a Freud, um corpo que é tomado enquanto objeto de investimento libidinal.
	Chegamos, então, a uma das principais transformações que Lacan opera à obra de Freud: a substituição da base mítica de Freud por uma base estruturalista. Não mais tendo o Édipo como cena fundamental, teatralizada, o complexo edipiano passa a ser tomado como uma configuração contemporânea de resposta ao significante primordial da falta, que se enlaça na família enquanto instituição privilegiada da sociedade moderna.
	Mesmo que Lacan não tenha se dedicado extensamente ao desenvolvimento infantil propriamente dito, suas contribuições à psicanálise foram essenciais para a rearticulação da clínica psicanalítica da criança e do adolescente. Com todas as adições e transformações à obra de Freud, Lacan aparece como seu principal sucessor.

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