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AMIZADE E ETICA SANTO AGOSTINHO rtfcd

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A RELAÇÃO AMIZADE E ÉTICA NAS CONFISSOES DE SANTO AGOSTINHO
José Ricardo da Silva Oliveira [footnoteRef:1] [1: Frade da Ordem Carmelita. Graduando do terceiro período de licenciatura em Filosofia na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Caruaru.
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RESUMO
Este artigo vista estudar a relação entre ética e Amizade, nas confissões de santo agostinho. Têm-se que em seu livro Confissões, Santo Agostinho inova ao atribuir à verdadeira amizade um caráter que transcende ao conceito convencional. Diserta que quem não é amigo de Deus, não pode ser amigo do homem, assim fará uma relação entre está amizade e a ética. Será usado método de pesquisa bibliográfica, com pesquisa no livro Confissões, de Santo Agostinho, bem como artigos especializados no tema, para assim chegar a relação entre amizade e ética.
PALAVRAS-CHAVE: Amizade. Ética. Confissões. Santo Agostinho
ABSTRACT
This article studies the relationship between ethics and friendship in the confessions of Saint Augustine. It should be noted that in his book Confessions, St. Augustine innovates by attributing to true friendship a character that transcends the conventional concept. He says that whoever is not a friend of God can not be a friend of man, so he will make a relation between this friendship and ethics. A method of bibliographic research will be used, with research in the book Confessions, by Saint Augustine, as well as articles specialized in the subject, in order to reach the relationship between friendship and ethics.
KEY WORDS: Friendship. Ethic. Confessions. Saint Augustine
	
INTRODUÇÃO
Este artigo visa, estudar a relação entre a amizade e a ética nas confissões de Santo Agostinho. Segundo Agostinho, Deus é a causa perfeita, explicativa de todo o ser em suas diversas naturezas e ações. Suas demonstrações levam à existência divina e a suas características básicas, como unidade, imutabilidade e eternidade.
Nesta perspectiva, Agostinho afirma que quando Deus cria algo, esse novo ser passa a ter existência autônoma em relação a Ele, afastando-se de Sua perfeição. 
Se Deus criasse coisas que compartilhem, na plenitude, de sua perfeição, então criaria novos deuses, o que, em termos lógicos, seria impossível, posto que Deus é único. Assim, toda a obra de Deus padece de um grau de imperfeição.
Deste modo, estudaremos a relação da amizade e da ética trazido a nós pelo Santo Agostinho. 
DESENVOLVIMENTO
Com o nome de Aurélio Agostinho, o Santo Agostinho de Hipona, teve o seu nascimento na localidade da região norte da África em 354 e viveu até 430, foi um respeitável bispo cristão e teólogo, estimado como sendo o mais relevante filósofo da época patrística, filho de mãe que adotava o cristianismo, no entanto seu pai era considerado pagão, e em seu desenvolvimento, apresentou enorme influência do maniqueísmo (movimento que muito influenciou sua filosofia-teologia. Buscando por respostas nas doutrinas de Maniqueu permaneceu neste grupo por nove anos)[footnoteRef:2] que é um preceito religioso que une concepções cristãs e pagãs. [2: Disponível em: < https://www.napec.org/reflexoes-teologicas/agostinho-e-o-problema-do-mal-o-maniqueismo/> acesso em 16 de maio de 2019.] 
Têm-se que Santo Agostinho doutrinou oratória nas cidades italianas de Roma e Milão. Ressalta-se que foi em Milão que teve a primeira relação com o neoplatonismo cristão, e ainda viveu num monastério por um tempo. 
Foi quando em 395, começou a exercer a religião como bispo, operando em Hipona uma cidade do norte do continente africano. Ressalta-se que Santo Agostinho ponderava a vida observando os preceitos da psicologia e o conhecimento da natureza. Assim, para o bispo, não existia nada com mais relevância do que a fé em Jesus e em Deus. 
Dissertava que a Bíblia, deveria ser estudada, levando-se em consideração as ciências naturais de cada época, contudo, a informação e as ideias eram de origem divina. Defendia ainda a predestinação, autoridade teológica que assegura que a vida das pessoas é desenhada anteriormente por Deus. Quando morreu em 28 de agosto de 430, tinha setenta e seis anos, durante um ataque dos vândalos (povo bárbaro germânico) ao norte da África.
Destaca-se que Santo Agostinho viveu no fim do período designado como filosofia antiga (dominado pelas correntes helenísticas, céticas, estóicas e neoplatônicas). 
Este recebeu uma grande influência do neoplatonismo, chegando a reconhecer (nas suas Confissões) que os livros de orientação neoplatônica desempenharam papel central no seu desenvolvimento enquanto filósofo e religioso, inclusive em sua conversão ao cristianismo, em 386. 
Também influenciaram em grande medida o pensamento do filósofo (no que tange à sua conversão) as Epístolas de Paulo de Tarso. Do mesmo modo, antes de decidir-se pela religião cristã, Agostinho filiava-se à corrente de pensamento maniqueísta (fundada pelo profeta Maniqueu, crucificado na Pérsia em 277). 
Neste sentido, transferindo-se para Cartago (atual Tunísia) em 372 d.C., Agostinho descobre o pensamento de Cícero, de quem tornar-se-ia discípulo, passando a conhecer as correntes do neoplatonismo, do estoicismo e do epicurismo.
No que tange a amizade, destaca-se que Agostinho confessa ter percorrido os tortuosos caminhos da amizade corrompida, do consórcio e da amizade fundamentada na satisfação do prazer e interesses próprios.
Assim para delinearmos a relação entre amizade e ética faz-se necessário trazer alguns conceitos de amizade percorridos por ele. No que diz respeito a amizade corrompida, Agostinho relata ter vivenciado, no alvorecer de sua adolescência, a amizade ao nível da paixão corporal, ao que ele próprio chamou torpezas e corrupções carnais de sua alma. 
Ele ainda comenta que com a chegada da puberdade foi como a chegada de uma violência sem precedentes, a tal ponto que fê-lo buscar satisfação em prazeres infernais, ousando até entregar-se a tenebrosos amores.
Quanto a amizade do consórcio, relata que, o consórcio implica cumplicidade “que nada vale”. O homem age ora fundamentado no desejo de ser louvado pelos parceiros, ora por medo de proceder diferente, ora pelo prazer de saber que está cometendo algo ilícito.
Nesta senda a abordagem destas explanações, Agostinho contrapõe a tese, também, de que Deus teria dado ao ser humano a alternativa de eleger entre o “bem” e o “mal”, como coisas paralelas. E confirma ter dúvidas que fosse finalidade divina oferecer as pessoas a capacidade integral de fazer coisas ruins, disseminando, assim, a maldade.
Comenta que na realidade, os seres humanos ficariam no nível mais longínquo da criação divina, posicionando-se entre os seres que sofrem do maior grau de defeitos. Com isso, se mostram impossibilitados de operar de modo pleno e correto ou de fazer o bem movidos pela razão. Dada a imperfeição humana, torna-se suscetível de praticar o mal.
Têm-se que o pensamento agostiniano desvaloriza, de modo descomunal, o ser humano e sua razão. Que é analisado como um ser defeituoso, e que a salvação não depende de seus atos racionais. 
Dizia Agostinho que Deus elege antecipadamente quais as pessoas que vai salvar, no momento da criação, pois é onisciente, e sabe quais as escolhas que serão confessados por cada ser humano. Mas, da perspectiva de cada um, a salvação é alcançada no dia-a-dia. Dessa forma, as pessoas necessitam manifestar fé em seus atos, evidenciando, em vida, que estão em contato com Deus e podem ser salvas.
A ética, do mesmo modo é baseada na busca da fé como critério que orienta a ação humana, pois a razão não explana que a pessoa está em contato com Deus. 
No caso correto, isso constitui em respeitar os comandos que representam a vontade divina, como a Igreja, involuntariamente observando o valor racional de suas ordens, mas em decorrência da fé. Em termos gerais, a ética, é tida na filosofia como, estudo do conjunto de valores morais de um grupo ou indivíduo. A palavra "ética" vem do grego ethos e significa caráter, disposição, costume, hábito.
A ética é a parte da filosofia responsável pela investigação dos princípiosque motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.
Deste modo, a ética é tida normalmente como o estudo da moral e, por sua vez, a moral se faz dos princípios universais do que é certo e do que é errado. Uma das dimensões do seu estudo, ética profissional, é a aplicação de todos os princípios morais ao exercício profissional. Essa seria uma definição ampla do assunto. Noutro sentido, todavia, ela envolve somente a regulação da atividade profissional e sugestão de regras de conduta.
O neoplatonismo de Agostinho definiu a sua ética, e dele existe uma definição bastante agradável de Platão, pois Agostinho coloca Platão, sobre de todos os outros filósofos, pois Platão viu que “Deus não é nenhuma coisa corpórea, mas que todas as coisas recebem a sua forma de Deus, e de algo imutável”.
Ocorre que na prática, Agostinho admirou bastante dos filósofos anteriormente ao seu convertimento e procurou mesmo com grande dificuldade harmonizar os conhecimentos éticos dos gregos juntamente com a moral do cristianismo, ele dizia que possuía uma questão comum a ser explorado: o valor das virtudes, e desde os períodos homéricos “a virtude [...] significava o mais alto ideal cavalheiresco aliado a uma conduta cortesã e ao heroísmo guerreiro, e em Sócrates virtude era “ser o que realmente deseja parecer”[footnoteRef:3]. [3: MARCONDES, Danilo. INICIAÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA, Dos pré-socráticos a Wittgenstein, 2013.p58.
] 
E por ele quatro dessas virtudes eram invariavelmente deslumbradas nos escritos filosóficos: a temperança, a fortaleza, a justiça e a prudência.
 Assim, a ética agostiniana individualiza-se pela formulação de uma explicação de como pode existir o mal se tudo vem de Deus que é bom, esboça uma ética harmonizada com os preceitos morais cristãos baseados na fé, esperança e amor.
Entretanto, se para os gregos o homem bom é aquele que sabe e conhece, para Agostinho o homem bom é aquele que ama aquilo que deve amar.
CONCLUSÃO 
Agostinho se comportou como exemplo de moral para os homens, não por sua perfeição, mas por sua busca filosófica. Desde a infância até a idade adulta mostrou-se uma pessoas aberta ao diálogo, e por isso, sempre polêmico. 
Conseguiu como poucos tocar as várias pontas dos extremos, ambicionando resolver racionalmente as demandas do cérebro e da alma, sem, no entanto, conseguir tamanho empreendimento.
Uma forma de viver os ensinamentos de Santo Agostinho sobre a amizade e sobre a ética é ter claro em nossos relacionamentos, que só se consegue ser amigo de verdade, quem é amigo de Deus.
A Sagrada Escritura afirma que “amigo fiel não tem preço, é imponderável o seu valor. Amigo fiel é bálsamo vital e os que temem o Senhor o encontrarão” (Eclesiástico 6, 15-16). E Santo Agostinho fala que “só há verdadeira amizade quando é Deus que enlaça os que Nele estão unidos pela caridade do Espírito Santo.”[footnoteRef:4] [4: Confissões. Edit. Nova Cultural [Trad. J. Oliveira Santos, S.J., e A. Ambrósio de Pina, S.J.] Coleção Os Pensadores, 1996. (Livro IV)] 
 Por fim, Agostinho e seus amigos nutriam uma amizade desinteressada e livre de amarras. Nisso, a ética e a amizade em suas ‘Confissões’ passam por um amor maduro e desinteressado entre os amigos, cujo maior interesse é que ambos sejam amigos de Deus.
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, Santo. A doutrina cristã: manual de exegese e formação cristã. São Paulo: Paulus, 2002.
	
Confissões; De magistro - Do mestre / Santo Agostinho. — 2. ed. — São Paulo: Abril Cultural, 1980.
AGOSTINHO, Santo. Confissões. Edit. Nova Cultural [Trad. J. Oliveira Santos, S.J., e A. Ambrósio de Pina, S.J.] Coleção Os Pensadores, 1996.
AGOSTINHO, Santo. A Trindade. [Trad. do original latino e introd. Augustinho Belmonte; rev. Nair de Assis Oliveira]. São Paulo: Paulus, 1994.
MARCONDES, Danilo. INICIAÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA, Dos pré-socráticos a Wittgenstein, São Paulo: ed. ZAHAR, 2013. [13° edição]

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