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Medicina UnP – Laura Reis HPB Fonte: Medcurso Introdução Consideramos de tamanho normal a próstata com peso estimado de até 25 a 30 gramas, pela ultrassonografia. A grande maioria dos indivíduos com HPB tem próstata > 20 g. A prevalência de HPB é bastante alta e aumenta com a idade. Anatomia da próstata • A próstata é uma glândula localizada inferiormente à bexiga, que envolve a porção inicial da uretra em todo o seu diâmetro. • Pode ser dividida em três porções principais: as zonas central (periuretral), de transição e periférica, sendo esta última a maior (75% do volume prostático). • Entre as regiões central e periférica encontramos uma camada fina de tecido conjuntivo, chamada de cápsula cirúrgica. • Existe ainda uma pequena zona anterior denominada zona fibromuscular ou estroma. Na hiperplasia prostática benigna, a proliferação celular predomina inicialmente na zona transicional, seguindo para zona central, o que causa sintomatologia urinária (obstrutiva e irritativa) pela íntima relação das mesmas com a uretra prostática proximal, sobretudo a zona de transição. No câncer de próstata, a zona mais afetada é a periférica, o que explica tanto a menor incidência de sintomas urinários quanto o fato de o câncer ser frequentemente acessível através do exame físico (toque retal). Fatores de risco Idade (principal), presença de testículos (a hipertrofia prostática ocorre a partir de estímulo hormonal) e história familiar positiva. Recentemente, o sedentarismo, a obesidade, o IMC elevado e a presença de síndrome metabólica vêm sendo relacionados com a presença HPB sintomática. Analogamente, realização de atividade física regular possuiria um efeito protetor ao desenvolvimento dos sintomas. Quadro clínico Podemos dividir em sintomas obstrutivos e irritativos: Obstrutivos • Presentes em 70-80% dos pacientes. • Retenção urinária, esforço miccional, hesitação. • Jato urinário fraco e intermitente, gotejamento terminal, tenesmo vesical (sensação de esvaziamento vesical incompleto). Irritativos • Presentes em 50-70% dos pacientes. • Urgência urinária, nictúria (acorda para urinar à noite), polaciúria (urina pequenos volumes várias vezes). • Dor suprapúbica. Os sintomas obstrutivos são de fácil entendimento: as zonas acometidas pela HPB são justamente aquelas que envolvem a porção inicial da uretra, acometendo a zona central e de transição, o que causa sua obstrução mecânica. Devido à sua característica puramente obstrutiva, os sintomas obstrutivos respondem muito bem ao tratamento cirúrgico. Medicina UnP – Laura Reis Já os sintomas irritativos são um pouco mais complexos. A obstrução mecânica da uretra reduz o esvaziamento da bexiga, aumentando a pressão intravesical. Com este aumento pressórico, o músculo detrusor, que é o responsável pelo esvaziamento vesical, sofre hipertrofia, o que reduz a complacência e a capacidade da bexiga. Esta é a razão dos sintomas irritativos. Mesmo após a retirada de tecido prostático e a consequente redução da pressão intravesical, a hipertrofia do detrusor nem sempre regride, o que torna os sintomas irritativos refratários ao tratamento cirúrgico em muitos pacientes. Os sintomas obstrutivos não são proporcionais ao volume da próstata. Isso ocorre, pois Além da obstrução mecânica da uretra existe um componente funcional relacionado à contração das fibras musculares do colo vesical e da próstata, ricas em receptores alfa-1-adrenérgicos. O único fator que se correlaciona diretamente com o aumento da sintomatologia é a idade. A severidade dos sintomas pode ser classificada de acordo com o IPSS (escore internacional de sintomas prostáticos). 0 e 7 = sintomas leves 8 a 19 = moderados 20 a 35 = graves O IPSS não deve ser empregado com ferramenta diagnóstica, ficando reservado para avaliação da gravidade da sintomatologia, resposta terapêutica e detecção da progressão sintomática nos pacientes em observação clínica. Diagnóstico O diagnóstico de HPB começa pela coleta de uma boa história clínica do paciente, que deve ser questionado quanto à presença dos sintomas obstrutivos e irritativos. Diagnóstico diferencial: Febre: pode indicar infecção urinária, prostatite infecciosa. Hematúria macroscópica: pensar em neoplasia ou cálculo vesical. Sintomas neurológicos: considerar o diagnóstico de bexiga neurogênica. História de trauma ou instrumentação uretral: avaliar estenose de uretra. Paciente usuário de drogas anticolinérgicas ou simpaticomiméticas pode ter disfunção vesical medicamentosa O toque retal deve ser feito em todos os pacientes – na HPB, encontramos uma próstata aumentada, mas de consistência fibroelástica e geralmente sem nodulações. A presença de uma próstata endurecida com nódulos palpáveis sugere o diagnóstico de câncer de próstata, sendo mandatória a biópsia transretal frente a esta suspeita. Exames complementares EAS A presença de piúria sugere infecção (ITU, prostatite), enquanto hematúria deve ser investigada com US de vias urinárias – além disso, todo homem com mais de 40 anos que apresenta hematúria macroscópica deve ser submetido a uma cistoscopia, para investigação de câncer de bexiga. PSA Na HPB, o Antígeno Prostático Específico (PSA) pode estar elevado, mas geralmente é < 4 ng/ml. Nas próstatas muito grandes, pode chegar até 10 ng/ml; níveis superiores a 10 ng/ml devem sempre levantar a suspeita de câncer de próstata. Ureia/Creatinina Apesar de não obrigatórios, podem ser solicitados a fim de avaliar uma possível insuficiência renal devido à nefropatia obstrutiva, uma complicação dos casos mais graves de HPB. Citologia Deve ser solicitada sempre que houver sintomas irritativos (especialmente em tabagistas) devido ao risco de presença de câncer de bexiga. Tratamento Farmacológico Está indicado para os pacientes com sintomatologia mais exuberante, que prejudique sua qualidade de vida (não existe pontuação no IPSS que sozinha indique o tratamento, pois cada paciente deve ser avaliado individualmente). O volume da próstata isoladamente não serve como indicação para tratamento. Os pacientes sem necessidade imediata de tratamento devem ser monitorados periodicamente quanto à sua sintomatologia (watchful waiting). Medicina UnP – Laura Reis É importante frisar que os sintomas nem sempre pioram com o passar dos anos, e podem até regredir mesmo sem tratamento. Os indivíduos com sintomas obstrutivos mais pronunciados geralmente possuem próstata volumosa, sendo o principal estímulo para este crescimento a di-hidrotestosterona, que é produzida a partir da testosterona convertida pela enzima 5-Alfa-redutase. As drogas indicadas neste grupo são os antiandrogênicos (inibidores da 5-Alfa-redutase), como a finasterida e a dutasterida. Estas drogas reduzem o volume prostático em até um terço, após seis meses de tratamento. A melhora clínica pode demorar um pouco, já que o volume da próstata é reduzido aos poucos. O principal efeito adverso é a impotência sexual (10% dos casos) e a ginecomastia. Aqueles com predominância de sintomas irritativos têm mais benefício com drogas que diminuem o tônus da próstata e a resistência do colo vesical. A droga mais antiga utilizada é o prazosin, um alfabloqueador não seletivo. Hoje temos também o tamsulosin, o alfuzosin, o silodosin, o terazosin e o doxazosin, bloqueadores alfa-1 seletivos, com menos efeitos adversos, em especial os três primeiros, que causam menos hipotensão postural (efeito adverso mais notável da classe). Ao contrário dos antiandrogênicos, o efeito dos alfabloqueadores é praticamente imediato. A associação de antiandrogênicos e alfabloqueadoresé útil em vários casos, especialmente nos pacientes com próstata muito volumosa. Existem, inclusive, alguns autores que preconizam o tratamento combinado para todos os pacientes. Cirúrgico O tratamento cirúrgico na HPB está indicado para os pacientes com sintomatologia refratária ao tratamento farmacológico e na presença das seguintes complicações: Retenção urinária aguda. Infecção urinária recorrente. Hematúria recorrente. Cálculos vesicais. Dilatação alta de vias urinárias / Hidronefrose. IRA pós-renal (secundária à HPB). A cirurgia menos invasiva é a Ressecção Transuretral da Próstata (RTUP), que pode ser indicada para pacientes com próstata pesando até 80-100 g. Pacientes com próstata maior devem ser submetidos à cirurgia convencional (adenectomia prostática suprapúbica), que também é indicada para aqueles com complicações locais da HPB, como litíase e divertículos vesicais. Essas cirurgias trazem alívio importante dos sintomas em até 90% dos pacientes. Peculiaridades das cirurgias • Durante a RTUP, deve ser mantida irrigação vesical abundante com solução hipotônica (geralmente glicina a 1,5%), que é absorvida pelo leito prostático. • Cerca de 2% dos pacientes apresentam hiponatremia sintomática, que neste caso é chamada de síndrome da ressecção transuretral ou síndrome da TUR (da sigla em inglês). • Além disso, a irrigação vesical contínua necessária nas 24 horas após a cirurgia também pode contribuir para a hiponatremia. • Ou seja, muita atenção se o seu paciente apresentar confusão mental, sonolência e convulsões no pós-operatório imediato. • Após adenectomia prostática suprapúbica, a irrigação vesical também está indicada, durante pelo menos 24 horas. O cateter uretral só deve ser retirado no mínimo três dias após a cirurgia. • Nas cirurgias para HPB, a próstata não é totalmente retirada. • Na RTUP restam ainda a cápsula e a zona periférica (que, como sabemos, é onde se originam os tumores do órgão). • Nas prostatectomias retropúbicas ou transvesicais todo parênquima é retirado, mas a cápsula ainda é deixada no local. Medicina UnP – Laura Reis • Assim, independentemente da cirurgia, o paciente deve continuar o rastreio anual para câncer de próstata, caso indicado. A ablação de tecido prostático por laser, sob anestesia peridural, traz redução sintomática importante. Trata-se de um procedimento sem sangramento; assim, é indicado principalmente para os pacientes com distúrbios da coagulação ou em uso de anticoagulante.
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