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AS ORIGENS DO TOTALISTARISMO UERJ 2021 “Guerra é Paz Liberdade é Escravidão Ignorância é Força” (George Orwell) “AS ORIGENS DO TOTALITARISMO” DE HANNAH ARENDT De origem judaica, nascida em 1906 na Alemanha, a autora do livro foi uma pensadora da política ocidental. Atuando em 1933 contra o regime nazista e a perseguição aos judeus, Hannah também critica os colegas intelectuais que abarcam ao nacional- socialismo de Hitler, até certo ponto omissos. Presa nos campos de concentração, ela conseguiu fugir em 1941, indo, enfim, para os Estados Unidos. Escreveu o livro com base nas atitudes de Hitler e Stalin como representantes do totalitarismo, a manipulação da massa e o uso do terror para a autopromoção do regime. O MOVIMENTO TOTALITÁRIO Segundo a autora: • Quando o totalitarismo não está instaurado ou instalado efetivamente, usa-se da propaganda do terror e do medo, de maneira a coibir aqueles que se posicionam contrário ao seu modo de agir, especialmente em um regime constitucional ou em uma democracia no Estado. • O terror e o medo são usados para propagar as ideias de um governo totalitário, mas depois de concluído e tomado o poder, esses dois instrumentos serão substituídos pela doutrinação e "educação" dentro dos moldes que o regime vê como adequado. TERROR MEDO “DOUTRINA/EDUCAÇÃO” Exemplo: • A propaganda nazista se baseava no antissemitismo, no qual visava criar o terror sobre a mistura de sangue, podendo levar a extinção da “pureza” ariana alemã. Quando conseguiram isolar os intelectuais poloneses e avançar sobre a ideia de raça pura na massa da população, o terror fora substituído pela doutrinação. • A propaganda do totalitarismo está voltada para aquele público que não se alinha, ainda, aos dogmas do regime almejado. • O foco do terror e do medo é sobre o externo, sejam grupos, facções, classes ou territórios que ainda não se coadunam com a forma de pensar do totalitarismo e que representam uma certa resistência à tomada do poder. • O convencimento é necessário para que o totalitarismo possa se sentir seguro em suas raízes e expandir sua forma de agir, porque ele sempre encontrará quem pense da mesma maneira ou se identifique com ele ou seu representante. “(...) a propaganda é um instrumento do totalitarismo, possivelmente o mais importante para enfrentar o mundo não-totalitário: o terror, ao contrário, é a própria essência de sua forma de governo. Sua existência não depende do número de pessoas que a infringem" (p.393). • Se o movimento é forte, não precisará demandar maiores esforços da propaganda, mas se ele não se apresenta bem estabelecido, a propaganda necessitará se estender mais para sua formulação e desenvolvimento. Assim sendo, o ritmo será ditado pelo externo, e a doutrinação será determinada pelo movimento interno. Contextualizando... • Os nazistas introduziram a "propaganda de força", matando membros influentes dos partidos contrários ou funcionários socialistas, desestabilizando a sociedade e demonstrando o destino daqueles que se filiavam ou seguiam uma ideologia contrária a deles. • O terror era instaurado de forma aberta, sem receio, publicamente exposto e apontando quais eram os seus inimigos. Consequentemente, os tribunais e a polícia não davam atenção séria a esses crimes da Direita: o terror entre a população foi alimentado com tais atitudes de um lado e a omissão do outro. • A contextualização social alemã acabava por contribuir para um estabelecimento do nazismo, visto que estes admitiam seus crimes em público e pareciam estar acima da lei, ocasionando na população um sentimento de que deveria estar do lado do mais forte, gerando uma sensação de segurança. Dessa forma, os nazistas expandiram uma ideologia de medo e opressão sem questionamentos que pudessem abalar essas estruturas do regime totalitário. • Outro aspecto da propaganda totalitária que precisa ser apontado é o seu representante. O líder de um regime totalitário deve se apresentar como um profeta, infalível, que mesmo errando não pode admitir o erro. O valor de ser reconhecer como aquele que nunca erra é importante para a propaganda, pois a postura de líder não pode ser relacionada a alguém que comete erros, o que poderia levar toda uma população à calamidade. • O ditador se apresentava em público e no seu alto escalão como uma figura imbatível, com poder da fala e linguagem corporal, instrumentos também importantes para a propaganda: a comunicação visual. Especialmente quando se almeja uma tomada de poder, não se pode demonstrar fraqueza ou titubear diante da massa. “...somente num mundo sob seu controle pode o governante totalitário dar realidade prática às suas mentiras e tornar verdadeiras todas as suas profecias" (p.399). ORGANIZAÇÃO TOTALITÁRIA • A organização do totalitarismo estava empenhada em manter o mundo fictício criado na propaganda, de maneira a consolidar o regime, seja ele Comunista, Fascista, Socialista ou Nacionalista. • Em ambos os casos, o autoritarismo estaria regulado por lei e autorizado e a ditatura militar estaria voltada para uma emergência de combate em que o comando de cima não seria questionado pelo executor, mas o totalitarismo não se resume a essas características. “Hitler foi o primeiro a traçar uma política de contínua ampliação dos escalões de simpatizantes, ao mesmo tempo em que mantinha o número de membros do partido estritamente limitado. Essa noção de uma minoria de membros do partido cercada por uma maioria de simpatizantes aproxima-se do que vieram a ser as organizações de vanguarda.” (p.415). • O raciocínio era lógico: era importante manter reduzido o núcleo dos partidos, pois haveria pouca ou nenhuma divergência de ideias enquanto que uma camada densa de simpatizantes em volta dos partidos serviria como proteção do mundo exterior e ao mesmo tempo uma ponte que faria essa ligação necessária às massas, amortecendo o impacto da verdadeira realidade diante do mundo ficcional criado pelo totalitarismo. • Com isso, os simpatizantes espalhavam, divulgavam o mundo ficcional de maneira natural, suave e respeitável, sem parecer um fanático opressor que impunha uma realidade falsa, e lentamente um clima favorecido para a instauração do regime totalitário ia sendo criado até a tomada do poder. • Os grupos dominantes do regime se mantinham "protegidos" e inertes, enquanto que a massa apoiava sem saber exatamente o que estava de fato fazendo. Acreditava em um mundo irreal, mas também não conseguia identificar que esse "mundo" era fictício. ENTENDE-SE ENTÃO... • Parece que a propaganda sempre foi a alma do negócio. Divulgar mensagens, sejam elas reais ou não, sempre foi um instrumento de valorização pessoal ou de um movimento que procura atingir um objetivo. No presente caso, Hitler e Stalin se valeram da propaganda a fim de difundir, inicialmente, um mundo irreal, ficcional, de maneira a manipular o pensamento de alemães e soviéticos e, posteriormente, instaurar seus respectivos regimes totalitários. • Dessa forma, a criação de um mundo ficcional se mostra fundamental para alimentar e alicerçar um regime que almeja se instalar como governo. A alienação da população, juntamente com a falta ou desinteresse pela informação correta de fontes confiáveis, proporciona a concretização de tal mundo fantasioso. EM 1984... • A obra 1984 de George Orwell, pseudônimo de Arthur Blair (nascido em 1903), possui características bem peculiares no que se refere a sua mentalidade contemporânea e a influência de suas críticas sob o sistema totalitário. • As impressões incumbidas por George Orwell, durante o século XX em meio às devastações ocasionadas a partir das 1ª e 2ª Guerras Mundiais, formularam um senso crítico acerca dos sistemas políticos vigentes na época e das represálias sofridas, como forma de denunciar as atrocidades que poderiam acontecer se o estado conseguisse se manter por mais tempo no poder. “Em sua representação da sociedade distópica,Orwell potencializa os mecanismos totalitaristas, contrapondo-os à realidade do pós-guerra e oferecendo um alerta contra a disseminação dos princípios stalinistas e nazistas. Assim sendo, 1984 não constitui um refúgio para aqueles que se mostram desgostosos com o mundo real, mas uma representação aterrorizante de um futuro possível fundamentado sobre aspectos concretos do panorama sociopolítico do final da década de 40”. Evanir Pavloski • A conscientização de que a sociedade estava passando por profundas transformações e pelas constantes intercessões dos regimes totalitários, Orwell se incumbiu de expor todos os seus receios pelo futuro da sociedade em sua obra, se opondo aos meios de opressão social. • O autor estabelece uma distopia literária, que desmitifica por inteiro a estrutura da sociedade coletiva, e insere uma linha de reflexões acerca da influência dos regimes de controle social, discriminando qualquer tipo de manipulação que estimule qualquer tipo de submissão. “Grande parte das sociedades utópicas apresenta como característica um rígido controle das ações individuais, como forma de manutenção da estabilidade alcançada. Para esses autores, o modelo utópico se baseia em grande medida na uniformidade política e ideológica de seus cidadãos. Não basta desejar o paraíso social, os indivíduos devem oferecer sacrifícios pessoais para que a ordem seja preservada.” (Pavloski) • É nessa perspectiva de controle uniformizado da individualidade social que a distopia é delineada com o intuito direto de criticar as imposições totalitárias, que supriam todo e qualquer traço de espontaneidade a fim de alcançar a tão pregada sociedade estável mesmo que, para alcançar esse objetivo, significasse alguns sacrifícios em prol da organização. A DISTOPIA NA OBRA 1984: O EXTREMO CONTROLE SOCIAL Nas paredes do cubículo havia três orifícios. À direita do falascreve, um pequeno tudo pneumático para mensagens escritas; à esquerda, outro maior, para jornais; e no meio, bem ao alcance do braço de Winston, uma grande abertura retangular protegida por uma grade de arame. [...] Por um motivo qualquer, haviam sido apelidados de buracos da memória. Quando se sabia que algum documento devia ser destruído, ou mesmo quando se via um pedaço de papel usado largado no chão, era gesto instintivo, automático, levantar a tampa do mais próximo buraco da memória e jogar o papel dentro dele [...]. (ORWELL, 1991, p.29-30) • Winston (protagonista) era um membro do partido externo que trabalhava no Ministério da Verdade manipulando diretamente as informações que eram mais coniventes ao partido. Todas as provas que expusessem alguma contradição às leis do “Ingsoc” eram incineradas para que a população acreditasse nas “verdades absolutas” e, por isso, é observável essa característica de manipulação das informações ministradas pelo estado, dissipando até mesmo instintivamente o passado em detrimento do “presente” conveniente ao partido. • Winston possuía certo grau de inconformidade ao aperceber-se que manipulava dessas informações e passou a questionar-se acerca da opressão do partido em relação à população e se utilizando de um bloco de anotações comprado em um antiquário na região dos proles. Ele servia para expressar suas dúvidas e anseios acerca do partido e da sociedade, visto que, essa era a única forma de demonstrar sua insatisfação para com a realidade, já que não podia conversar com mais ninguém, por correr o risco de ser denunciado. “De nada tinha consciência exceto da brancura do papel à sua frente [...]. De repente, pôs-se a escrever por puro pânico, mal percebendo o que estava registrando. A letra miúda e infantil traçou linhas tortas pelo papel, abandonando primeiro as maiúsculas e depois até os pontos: 4 de Abril de 1984. Ontem à noite ao cinema. Tudo fitas de guerra. Uma muito boa dum navio cheio de refugiados bombardeado no Mediterrâneo.” [...]. (ORWELL, 1991, p.7-8) • Neste ponto fica perceptível a necessidade de Winston em expressar-se mesmo que brevemente acerca de assuntos cotidianos, recorrendo a registros memoriais, que não seriam simplesmente incinerados como os artigos manipulados no departamento de registros do Ministério daVerdade. • Em todos os lugares da antiga Londres, (local onde se passa todo o enredo do livro) eram localizadas as Teletelas, televisores “particulares” que monitoravam todos os passos dos indivíduos participantes do rol partidário do Ingsoc. Por toda cidade estavam espalhados essa teletelas e cartazes que, traziam consigo a seguinte frase:“O grande irmão zela por ti”. • Diante de inúmeras tentativas de lembrar-se do passado, Winston recorreu aos proles, cidadãos que viviam à margem do mundo partidário, para que pudesse compreender o que se passava, porém, sua tentativa foi inútil pelo fato de que eles eram devidamente controlados pelo Ingsoc, para que, mesmo sendo maioria, não viessem a se rebelar contra o estado. “ [...] O partido ensinara que os proles eram naturalmente inferiores, que deviam ficar em sujeição, como animais, pela aplicação de algumas regras simples. [...] Não era desejável que os proles tivessem sentimentos políticos definidos. Tudo o que se lhes exigia era uma espécie de patriotismo primitivo ao qual se podia apelar sempre que fosse necessário levá-los a aceitar rações menores ou maior expediente de trabalho.” (ORWELL, 1991, p.53) • Conheceu Júlia, um membro do partido que trabalhava no departamento de ficção. Ela era contra alguns preceitos veiculados pelo partido, porém não acreditava em uma revolta contra o Ingsoc como Winston cogitava, mais agia como militante ativa a fim de disfarçar os desvios de conduta. • Com ela, Winston alimentou um relacionamento amoroso, proibido aos olhos do partido visto que, não era permitido o relacionamento entre militantes, se não fosse com a simples finalidade de procriação. Júlia assume um papel de cidadã conformada com a doutrina partidária, apesar de não concordar com alguns preceitos. “Aos seus olhos, a vida era muito simples. Queria divertir-se; ‘eles’, isto é, o Partido, não queriam deixá-la; por isso infringia a lei da melhor maneira possível. Parecia achar igualmente natural que ‘eles’ quisessem proibir os prazeres e que os cidadãos buscassem fugir da prisão. Odiava o Partido, e confesava-o em outras tantas palavras cruas, mas não criticava em geral. Exceto no que tangia à sua vida particular, não lhe interessava a doutrina partidária. [...] Nem nunca ouvira falar da Fraternidade, recusando-se a acreditar na sua existência. Considerava estúpida qualquer revolta organizada contra o Partido; fadada ao insucesso, dizia”. (ORWELL, 1991, p.96) • Certo de que havia uma fraternidade, uma conspiração contra o partido, Winston afirma à O’Brien, membro da elite interna do partido, que faria qualquer coisa para desmascarar as mentiras disseminadas pelo estado. O’Brien lhe entrega um livro supostamente escrito por Goldstein, principal inimigo do partido e suposto formador da fraternidade, lê seu conteúdo e começa a entender o real significado dos lemas utilizados pelo partido na manipulação das massas: Liberdade é escravidão; Guerra é paz e Ignorância é força. • Com o devido conhecimento acerca de toda a estrutura do partido e do sistema de manipulação por eles utilizado, além de alguns métodos de manutenção desse controle estatal, Winston percebe que a vida de todos é controlada de tal forma que o estado não se limita a ordenar o indivíduo fisicamente falando, mais sim procura controlá-lo mentalmente, para que este se torne inofensivo e conivente com as designações estabelecidas. • Já sob efeito dos métodos iniciais de tortura, O’Brien, o qual arquitetou todo o esquema de captura, explica a Winston que tudo a que foi submetido é para exclusiva finalidade de “curá-lo”. REDAÇÕES PARA ANÁLISE Tema: É preciso controle para viver em sociedade? A dicotomia da proibição A música “É proibido proibir”,escrita por Caetano Veloso durante a Ditadura Militar brasileira, demonstra um lado sombrio do abuso de controle social pelo Estado; entretanto, quando usada de maneira coibida, essa gestão faz-se fundamental. A dicotomia presente ao pensarmos em uma população controlada torna-se visível quando alguns associam essa realidade a regimes totalitários, enquanto outros remetem a ideia de harmonia. Nesse contexto, entende-se que a monitoração dos indivíduos pode apresentar uma face positiva, buscando viabilizar o bem-estar geral, ou um aspecto ditatorial, marcado por um cenário excessivamente coercitivo. O controle social, usado como poder de regulação da sociedade, é essencial para assegurar que os indivíduos se comportem de acordo com os valores coletivos, morais e éticos prevalecentes. Nesse sentido, a monitorização possibilita o bom funcionamento dos vínculos de interdependência firmados entre os cidadãos, garantindo relações mais harmônicas. Isso permite que o pensamento do filósofo Émile Durkheim, segundo o qual a sociedade funciona como um organismo vivo, no qual todos os seus componentes devem estar conciliados para que seja possível conquistar o bem-estar geral, seja efetivado. Desse modo, nota-se a importância da supervisão como forma de certificar a existência de um corpo social coeso. No entanto, quando administrado de maneira demasiadamente intensa, esse controle pode ser usado para repressão. Por meio do medo, esse domínio excessivo sobre a população serve para inibir condutas contrárias aos interesses de seus gerenciadores, configurando, pois, um regime totalitário. Sob esse viés, a regulação da sociedade torna-se tirana e, como consequência, infringe as liberdades inviduais. Na obra “1984” do escritor George Orwell, esse arbítrio é evidenciado por intermédio da “Polícia do Pensamento”, cuja função é fiscalizar o comportamento dos cidadãos, repreendê-los e puní-los, caso eles tivessem pensamento próprio e fossem contra o “Big Brother” – como quando Júlia e Winston, após algumas atitudes de rebeldia contra o Partido, foram desmascarados e presos. Sendo assim, pode-se inferir que uma regulação desmesurada pode implicar em abuso de autoridade ao invés de garantir o funcionamento adequado da sociedade. Em suma, o controle social apresenta efeitos díspares: pode ser usado de maneira conciliadora, propiciando a manutenção de uma comunidade integrada e coesa ou de forma agressiva, ameaçando a democracia. Nessa perspectiva, a direção apontada pelos órgãos detentores desse comando identifica se a função exercida por eles é apenas de auxílio ou de domínio excessivo. Resta saber se, tornar-se-ia possível extinguir essa dualidade e, assim, acabar por completo com o contexto radical da música de Caetano Veloso, passando a usar o controle apenas para assegurar a harmonia e a ordem. NOTA 20 Calados “Pai, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue”. Na canção do músico Chico Buarque, nota-se o jogo de palavras entre o substantivo cálice e o verbo cale-se, remetendo à vigilância constante da expressão durante a Ditadura Militar brasileira e o seu caráter opressor sobre o povo. Nesse viés, a presença do controle na sociedade é um assunto sutil, pois, por um lado a presença de órgãos políticos é vital para assegurar os direitos da população, por outro, o abuso de poder gera uma anomalia distoante do ideal de preservação do bem-estar de todos. Assim, os efeitos de haver autoridade dependem dos objetivos de quem a possui. Em um cenário onde não há leis ou normas para censurar a integridade dos sujeitos e promover o respeito mútuo, a ausência de controle acaba por lesar certas parcelas. No contexto de um ambiente sem uma autoridade estabelecida, é possível associá-lo ao filme “Cidade de Deus”, baseado no cotidiano de jovens moradores de uma favela no Rio de Janeiro formado pela indiferença do governo, porque, como é dito na própria obra, era uma área longe do cartão postal da cidade carioca. Paralelamente, o fato de não haver uma mínima presença política como meio de auxílio ao longo da trama levava as crianças a entrarem nas práticas criminosas e os moradores a viverem sob o medo e a violência constantes, circunstâncias semelhantes à realidade, pautada em um descaso gerador de faces de poder ilegítimo, por exemplo, as milícias, os traficantes e os políciais corruptos, todos lutando por domínio e colocando os habitantes em risco. Logo, uma sociedade sem qualquer organização fere os direitos dos cidadãos e cria novas mazelas. Todavia, a vigilância excessiva sobre a vida dos sujeitos configura um caráter de opressão e de cerceamento das liberdades. No livro 1984, do escritor George Orwell, o domínio constante se faz presente sob a forma do onipresente Grande Irmão, a imagem de um homem com função ditatorial e coercitiva em um mundo distópico. Sob essa perspectiva de controle a partir do medo, a maioria vive miserável, com moradias precárias e alimentos insuficientes, e sempre cercada pelo Ministério da Verdade e as teleterlas, com propagandas e normas de doutrinação, aspectos semelhantes aos regimes totalitários seja, o Fascismo, o Stalinismo, o Nazismo ou a Ditadura Militar no Brasil, em que todos, por meio da mídia e da violência física e psicológica, tiveram suas vidas violadas. Desse modo, a exacerbada articulação política para o suposto bem-estar, também lesa a integridade de muitos. Portanto, percebe-se como a sutileza na quantidade de controle exercido, e, os objetivos de quem o possui, pode tanto beneficiar, quanto ferir a dignidade humana. Na ótica do exercício do domínio, seja pela sua ausência completa, gerando outros grupos ilegítimos, ou pelo seu uso exacerbado, promovento um governo repressor, os extremos acarretam malefícios a socidade. Com isso, a busca pelo equilíbrio é imprescindível para o bem-estar do povo, evitando o derramamento do vinho tinto do cálice dos calados. NOTA 16 Corpos Dóceis No episódio “Engenharia Reversa” da série “Black Mirror”, retrata uma guerra inicialmente contra as “baratas”, cuja quais na verdade são pessoas, onde os militares possuem um chip implantado em suas cabeças que alteram a visão e pensamento deles. De forma análoga, a as Instituições de poder e a sua capacidade de controle social. Diante disso, pode-se inferir a importância do uso saudável das tecnologias para uma convivência harmoniosa, como também, o questionamento por parte da sociedade em questão das relações de poder. Inicialmente, é importante destacar na obra “1984”, de George Orwell, o poder das teletelas na vida da população. O “Grande Irmão” a partir da tecnologia demonstra que ela tem contribuído como um mecanismo de controle social, a partir da perda da privacidade, isso se dá pela necessidade de dominar e aliviar a sociedade para que ela não conteste as autoridades governamentais, como no pensamento do filósofo “Foucault”: “É dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser transformado e aperfeiçoado”. Em paralelo, é perceptível o quão desumano isso é, principalmente pelo fato de que aqueles que iam contra ao comando eram perseguidos e eliminados, bem como nos governos totalitários. Dessa forma, nota-se a indispensabilidade por parte da soberania de criar métodos para controlar a população. Ademais, destaca-se que, atualmente o poder se tornou extraterritorial, vigilância irrestrita e contínua de câmeras, escutas telefônicas que maximizam o controle dos indivíduos a um patamar abissal, similar a exposta na distópica obra “1984”. Por conseguinte, é possível afirmar uma necessidade de controle para uma melhor convivência, entretanto de forma justa e formal, já que o direito de punir do estado pode interferir na esfera íntima das pessoas, visto que o mecanismo de controle das aspirações individuais consiste na ideia de que o bem-estar do indivíduo somente será conquistado através da supressão da sua liberdade pessoal. Sendo assim, a sociedade perde sua autonomiae passa a ser padronizada, tal como o modelo de produção “Fordismo”, descartando os que não seguirem. Torna-se claro, portanto, que o desejo dos governantes em alienar o indivúduo e transforma-lo em autômato incapaz de escrever uma linha da vida com suas próprias mãos, somada às tecnologias atuais, viabilizam severos impactos na sociedade, danificando seu pensamento crítico e contribuindo para um controle social. Resta saber se, torna-se-ia possível reverter o cenário retratado em “1984”, para assim deixa-lo apenas ficcional. NOTA 16
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