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Aula 02Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRANINICIAÇÃO À CIÊNCIA Esta aula procura explicitar o conceito de ciência e as aplicações básicas que permeiam o conhecimento e a produção científica. Para tanto apresentamos um texto específico que foi extraído do site para o estudo dessa temática. Então vamos lá... Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • conhecer métodos e técnicas de investigação e elaboração de trabalhos acadêmicos e científicos; • avaliar e responder com senso crítico as informações que estão sendo oferecidas durante a graduação e no exercício profissional; • exercer, além das atividades técnicas pertinentes a profissão, o papel de educador, gerando e transmitindo novos conhecimentos para a formação de novos profissionais e para a sociedade como um todo. Seções de estudo Seção 1 - A Ciência 1.1 - Do medo à Ciência 1.2 - A evolução da ciência Seção 2 - A Neutralidade Científica 2.1 - Teoria e Leis 2.2 - Metodologia e Método Para a Pesquisa Seção 3 - A Pesquisa Dependerá do Pesquisador 3.1 - Preparação do Investigador 3.2 - O Investigador e a Comunidade 3.3 - Sistematização das Informações 3.4 - Análise e Interpretação dos Dados 3.5 - Avaliação 23 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN SEÇÃO 1 - A Ciência O que é Ciência5? O que é Tecnologia? Qual sua fronteira? Bunge (1980 apud SILVA, 1996) delimita a fronteira entre ciência e tecnologia colocando a tecnologia como ciência eminentemente aplicada, ou seja, para um usufruto. Seja para aplicar conhecimentos em pesquisas básicas, buscar conhecimentos mais específicos, ou produzir artefatos úteis e mesmo obter lucros. A ciência, pura ou básica, como ele denomina, seja teórica ou experimental (a ciência aplicada também pode ser teórica ou experimental), se propõe unicamente a enriquecer o conhecimento humano, geralmente de interesse do pesquisador (por motivos cognoscitivos). Para a ciência aplicada (tecnologia), a ciência pura ou básica é um meio e não um fim. Define ainda ciência aplicada como “o conjunto das aplicações da ciência básica” (Bunge, 1980, p. 28) estabelecendo a sua indissociabilidade. Já Galli (1993) coloca a tecnologia no universo da história e da cultura (filosofia - ciência - tecnologia - sociedade) como aplicação da ciência para usufruto da sociedade (Bunge também ressalta que o pesquisador da ciência aplicada estuda somente os problemas de interesse social). A tecnologia faz uma ponte entre os descobrimentos científicos e suas leis para usufruto da sociedade na produção de artefatos e artifícios. A circunstancialidade, que é sua marca que a separa da ciência, requer tempo e espaço para sua execução (cronogramas definidos e ambiente físico determinado para sua implantação, execução, prestação ou exploração). Não há, pois, como inferir que a ciência básica ou pura não tenha o seu locus, apesar de a exigência de sua temporalidade não ter o rigor da ciência aplicada, geralmente encomendada ou para um propósito de menor espaço de tempo. Tecnologia também é conhecida como ciência do trabalho produtivo. Mantém relação profunda com o trabalho. Diria que é sua conceituação econômica, que, como argumenta Bunge, a economia necessita da tecnologia, assim como da ciência básica e da técnica, todas interagindo fortemente. Fonte: <http://joelderv.fi les.wordpress.com/2010/03/ciencias. jpg> Acesso em: 30/09/2010. 24 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN Integra ainda na definição de tecnologia as capacidades de perceber, compreender, criar, adaptar, organizar e produzir insumos, produtos e serviços. Inovação e adaptação constituem a sua dinâmica. Já o caráter intelectual da ciência, constitui-se da abstração teórica, do raciocínio lógico-matemático sobre um objeto ou fenômeno. Sobre esse último argumento, Japiassu (1992, p. 15) concebe ciência como: “o conjunto das aquisições intelectuais de um lado e das matemáticas, do outro, das disciplinas de investigação do dado natural e empírico, fazendo ou não uso das matemáticas, mas tendendo mais ou menos à matematização”. A ciência, no sentido filosófico-epistemológico, foi separada da filosofia a partir das abordagens de realidades mais próximas, em saberes autônomos, porém interdisciplinares. Diferente da filosofia, a ciência tem, como atribuição, desvendar, explicar o real nas suas particularidades, já que não pode explicar todo o real (nenhuma ciência pode, nem a filosofia). Por real, se compreendem os diversos conhecimentos que a humanidade descobre, cria e consome. Do conhecimento “cotidiano” ao conhecimento científico e tecnológico. O conhecimento “cotidiano”, Galli (1993) define como sendo o conhecimento que o homem depreende no dia a dia (senso comum), ou seja, um conjunto de qualidades de que necessita para exercer suas atividades e resolver problemas que enfrenta para viver: habilidades, destreza, criatividade, iniciativa. E vai além, dizendo que, do indivíduo mais isolado ao indivíduo urbano, cada um é técnico ou artesão do seu próprio destino, em consonância com o contexto histórico, cultural, econômico e social em que está inserido. O conhecimento “cotidiano”, muitas vezes, assume contornos mais elaborados quando exige planejamento prévio para uma ação, mas que não constitui ainda uma cientificidade na elaboração. O conhecimento científico e tecnológico, por sua vez, tem em comum a premissa de formulação/elaboração pelo método científico para problemas diferentes, seja de natureza puramente científica ou tecnológica. Referindo-se à ciência básica ou aplicada, Bunge (1980, p. 31) diz que: Tanto uma como a outra partem de problemas, só que os problemas científi cos são puramente cognoscitivos, enquanto que os técnicos são práticos. Ambas buscam dados, formulam hipóteses e teorias, e procuram provar essas ideias por meio de observações, medições, experiências ou ensaios. Ele ainda completa mais adiante: “a pesquisa científica se limita a conhecer; a técnica emprega parte do conhecimento científico, somado a novo conhecimento para projetar artefatos e planejar linhas de ação que tenham algum 25 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN valor prático para algum grupo social” (BUNGE, 1980, p. 31). No entanto, Bunge (1980) não deixa bem claro o que é técnica, confundindo com a própria tecnologia da ciência. Recorrendo a Etges (1995, p. 71), para esclarecer o termo, vamos encontrar a seguinte definição: A técnica não é uma ciência aplicada, mas um processo de cientifi cação, de generalização, de controle de informação e extensão a setores antes refratários. Ela assume resultados relevantes e os métodos das ciências e os integra em sistemas abrangentes. Ela não tem pretensão à verdade ou à produção do saber, mas a regras tecnológicas que prescrevem ações tanto quanto possível fundamentada em leis científi cas. Visa a fi ns práticos e seus produtos são resultados de projetos e condições claramente determinadas. Considerando que o conhecimento tecnológico possui sua natureza própria, específica, de ciência aplicada e técnica, por incluir a tecnologia (e a técnica) como pressuposto fundamental, ele se constrói a partir do conhecimento científico. Este, tanto quanto o conhecimento tecnológico, não se formula sem as operações da inteligência, concebidas como operações do pensamento: concepção, juízo e raciocínio. Na classificação de Pe. Francisco Lopes (1968, p. 30-32), as operações da inteligência são três. A primeira, a apreensão, Ato em que a inteligência conhece alguma coisa sem dela afi rmar ou negar alguma coisa. Seu termo ou ideia ou noção ou verbo mental. A expressão oral desse termo é a palavra. A segunda operação é o juízo, ato em que a inteligência afi rma ou nega alguma coisa de um ser (...).A expressão oral do juízo é a oração ou proposição (...). A terceira operação da inteligência é o raciocínio, ato em que se passa do mais conhecido para o menos conhecido. A expressão oral do raciocínio é o argumento. O raciocínio é indutivo, se parte do mais particular para o mais geral; dedutivo se parte do geral para o geral ou para o particular. Esta longa citação é para destacar que a última operação definida por Pe. Lopes, o raciocínio, “constitui a operação intelectual mais valorizada no mundo moderno” (valor da verdade), implica todas as outras operações e traduz-se na arte do raciocínio correto. Recebe na filosofia o nome de lógica e é concebido como ciência, a ciência da racionalidade, do raciocínio como sistema de conhecimentos certos, válidos, fundados em princípios universais, a lógica científica. A importância da lógica científica para a sociedade se traduz em poder, descobertas, invenções, novos conhecimentos: “A lógica estuda a razão como 26 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN instrumento do conhecimento” (MARITAIN, 1981, p. 102). Para a psicologia, entretanto, o conhecimento se traduz em ação do pensamento pela inteligência. Enquanto a lógica formal considera as formas adotadas pelas ideias, juízos ou raciocínio que o pensamento produz, a psicologia estuda o processo de pensar tal como realmente ocorre. A ciência da lógica científica, do raciocínio, no campo da filosofia- epistemologia e as ciências cognitivas, no campo da psicologia e a construção histórica, no campo da sociologia, se complementam e se interpenetram para a compreensão ampla do fenômeno conhecimento-científico ou tecnológico. Segundo Merkle (1995, p. 46), numa interessante abordagem de ciências cognitivas, diz que: As ciências cognitivas devem ser compreendidas como o estudo da inteligência humana, indo de sua estrutura formal e de seu substrato biológico, passando por sua modelagem, até suas expressões psicológicas, linguísticas e antropológicas. E vai mais além, “as disciplinas envolvidas são a psicologia cognitiva, a epistemologia, a filosofia, a semiótica e a linguística, a biologia e a neurofisiologia, e a inteligência e a vida artificiais”. Física e matemática também são incluídas. Veremos agora a importância do surgimento desta ciência que acabamos de estudar. Neste primeiro momento iremos estudar, como e porque se originou a ciência. Peço que se atente com os detalhes, isso ajudará muito, pois temos que nos tornar personagens da história. 1.1 Do Medo à Ciência Os seres humanos pré-históricos não conseguiam entender os fenômenos da natureza. Por esse motivo, suas reações eram sempre de medo: tinham medo das tempestades e do desconhecido. Como não conseguiam compreender o que se passava diante deles, não lhes restava alternativa senão o medo e o espanto daquilo que presenciavam. Em um segundo momento, a inteligência humana evoluiu do medo para a tentativa de explicação dos fenômenos por meio do pensamento mágico, das crenças e das superstições. Era, sem dúvida, uma evolução já que tentavam explicar o que viam. Assim, as tempestades podiam ser, fruto de uma ira divina, a boa colheita da benevolência dos mitos, as desgraças ou as fortunas do casamento do humano com o mágico. Como as explicações mágicas não bastavam para compreender os fenômenos, os seres humanos finalmente evoluíram para a busca de respostas através de caminhos que pudessem ser comprovados. Dessa forma, nasceu a ciência metódica, que procura sempre uma aproximação com a lógica. 27 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN O ser humano é o único animal na natureza com capacidade de pensar. Essa característica permite que os seres humanos sejam capazes de refletir sobre o significado de suas próprias experiências. Assim sendo, é capaz de novas descobertas e de transmiti-las a seus descendentes. Assim, o desenvolvimento do conhecimento humano está intrinsecamente ligado à sua característica de viver em grupo, ou seja, o saber de um indivíduo é transmitido a outro, que, por sua vez, aproveita-se desse saber para somar outro. Assim evolui a ciência. 1.2 A Evolução da Ciência Os egípcios já tinham desenvolvido um saber técnico evoluído, principalmente nas áreas de matemática, geometria e na medicina, mas os gregos foram provavelmente os primeiros a buscar o saber que não tivesse, necessariamente, uma relação com atividade de utilização prática. A preocupação dos precursores da filosofia (filo = amigo + sofia (sóphos) = saber e quer dizer amigo do saber) era buscar conhecer o porquê e o para quê de tudo o que se pudesse pensar. O conhecimento histórico dos seres humanos sempre teve uma forte influência de crenças e dogmas religiosos. Mas, na Idade Média, a Igreja Católica serviu de marco referencial para praticamente todas as ideias discutidas na época. A população não participava do saber, já que os documentos para consulta estavam presos nos mosteiros das ordens religiosas. Agora passaremos para uma discussão mais abrangente, essa discussão é referente aos grandes cientistas que marcaram e marcam épocas. Não estamos para nos tornarmos iguais, mas sim te nos tornarmos capazes de superar grandes problemas, através disso dermos grandes soluções. Começo a discussão mostrando o período do Renascimento. Foi no período do Renascimento, aproximadamente entre os séculos XV e XVI (anos 1400 e 1500) que, segundo alguns historiadores, os seres humanos retomaram o prazer de pensar e produzir o conhecimento por meio das ideias. Nesse período as artes, de uma forma geral, tomaram um impulso significativo. Nesse período, Michelangelo Buonarrote esculpiu a estátua de David e pintou o teto da Capela Sistina, na Itália; Thomas Morus escreveu A Utopia (utopia é um termo que deriva do grego onde u = não + topos = lugar e quer dizer em nenhum lugar); Tomaso Campanella escreveu A Cidade do Sol; Francis Bacon, A Nova Atlântica; Voltaire, Micrômegas, caracterizando um pensamento não descritivo da realidade, mas criador de uma realidade ideal, do dever ser. No século XVII e XVIII (anos 1600 e 1700) a burguesia assumiu uma característica própria de pensamento, tendendo para um processo que tivesse 28 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN imediata utilização prática. Com isso surgiu o Iluminismo, corrente filosófica que propôs “a luz da razão sobre as trevas dos dogmas religiosos”. O pensador René Descartes* mostrou ser a razão a essência dos seres humanos, surgindo a frase “penso, logo existo”. No aspecto político o movimento Iluminista expressou-se pela necessidade do povo escolher seus governantes através de livre escolha da vontade popular. Lembremo-nos de que foi neste período que ocorreu a Revolução Francesa em 1789. No fim do período do Renascimento, Francis Bacon* pregava o método indutivo como meio de se produzir o conhecimento. Este método entendia o conhecimento como resultado de experimentações contínuas e do aprofundamento do conhecimento empírico. Por outro lado, por meio de seu Discurso sobre o método, René Descartes defendeu o método dedutivo como aquele que possibilitaria a aquisição do conhecimento por meio da elaboração lógica de hipóteses e a busca de sua confirmação ou negação. A Igreja e o pensamento mágico cederam lugar a um processo denominado, por alguns historiadores, de “laicização da sociedade”. Se a Igreja trazia até o fim da Idade Média a hegemonia dos estudos e da explicação dos fenômenos relacionados à vida, a ciência tomou a frente deste processo, fazendo da Igreja e do pensamento religioso razão de ser dos estudos científicos. Ao que se poderia chamar de: “desvinculação religiosa”. No século XIX (anos 1800) a ciência passou a ter uma importância fundamental. Parecia que tudo só tinha explicação por meio da ciência. Como se o que não fosse científico não correspondesse à verdade.Se Nicolau Copérnico*, Galileu Galilei*, Giordano Bruno*, entre outros, foram perseguidos pela Igreja, em função de suas ideias sobre as coisas do mundo, o século XIX serviu como referência de desenvolvimento do conhecimento científico em todas as áreas. Na sociologia, Augusto Comte desenvolveu sua explicação de sociedade, criando o Positivismo, vindo logo após outros pensadores; na Economia, Karl Marx procurou explicar as relações sociais por meio das questões econômicas, resultando no Materialismo-Dialético; Charles Darwin revolucionou a Antropologia, ferindo os dogmas sacralizados pela religião, com a Teoria da Hereditariedade das Espécies ou Teoria da Evolução. A ciência passou a assumir uma posição quase que religiosa diante das explicações dos fenômenos sociais, biológicos, antropológicos, físicos e naturais. O Método Cien fi co surgiu como uma tenta va de organizar o pensamento para se chegar ao meio mais adequado de conhecer e controlar a natureza. 29 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof.Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN CHARLES DARWIN Nascido de uma família abastada, Darwin recebeu educação nas melhores instituições de seu tempo, posteriormente cursando medicina na Universidade de Edimburgo. Abandonou o curso de medicina dois anos após sua entrada na universidade. Mais tarde entrou para a Universidade de Cambridge, de 1828 a 1831. Nos primeiros anos de 1840, Darwin trabalhou nas bases de sua teoria de seleção natural e mecanismos de evolução. Tal processo é a base do que Darwin denominou seleção natural. Desse conceito fundamental originou-se, no ano de 1859, a publicação da grande obra de Darwin, A origem das espécies. Tal foi o grande impacto de suas teorias em sua época que a primeira edição de A origem, com tiragem de mil duzentos e cinquenta exemplares, esgotou-se no primeiro dia. As ideias de Darwin logo encontraram fortes oponentes, tanto cientistas como religiosos. A teoria de Darwin revolucionou definitivamente o modo como o mundo científico e o homem de maneira geral compreendem a existência da vida no planeta. AUGUSTO COMTE A Metodologia tem como função mostrar a você como andar no “caminho das pedras” da pesquisa, ajudá-lo a refl e r e ins gar um novo olhar sobre o mundo: um olhar curioso, indagador e cria vo. Mirian Goldenberg Fonte: <http://www.geocities.com/gilson_medufpr/darwin2. html>. Acesso em: 09/10/2008. Fonte: <http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/colecaoridendo.htm>. Acesso em: 09/10/2008. 30 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN Augusto Comte, cujo nome completo era Isidore-Auguste-Marie-François- Xavier Comte, (1798 – 1857). Filósofo e autoproclamado líder religioso, deu à ciência da Sociologia seu nome e estabeleceu a nova disciplina em uma forma sistemática. De família pobre, sustentou seus estudos com o ensino ocasional da matemática e oportunidades no jornalismo. A contribuição principal de Comte à filosofia do positivismo foi sua adoção do método científico como base para a organização política da sociedade industrial moderna. SEÇÃO 2 - A Neutralidade Científi ca É sabido que, para fazer uma análise desapaixonada de qualquer tema, é necessário que o pesquisador mantenha certa distância emocional do assunto abordado. Mas será isso possível? Seria possível um padre, ao analisar a evolução histórica da Igreja, manter-se afastado de sua própria história de vida? Ou ao contrário, um pesquisador ateu abordar um tema religioso sem um consequente envolvimento ideológico nos caminhos de sua pesquisa? Provavelmente a resposta seria não. Mas, ao mesmo tempo, a consciência desta realidade pode nos preparar para trabalhar essa variável de forma que os resultados da pesquisa não sofram interferências além das esperadas. É necessário que o pesquisador tenha consciência da possibilidade de interferência de sua formação moral, religiosa, cultural e de sua carga de valores para que os resultados da pesquisa não sejam influenciados por eles além do aceitável. 2.1 Teoria e Leis6 Podemos conceituar teoria como: “um meio para interpretar, criticar e unificar leis estabelecidas, modificando-as para se adequarem a dados não previstos quando de sua formulação e para orientar a tarefa de descobrir generalizações novas e mais amplas” (KAPLAN, 1975, p. 302). Fonte: <http://www.insoonia.com/wp-content/uploads/2009/08/ciencia.jpg>. Acesso em: 30/09/2010. Fonte: <http://www.myastrologybook. com/Albert-Einstein.jpg>.Acesso em: 30/09/2010 31 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof.Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN Ao analisarmos teoria e fatos, deixamos de lado uma etapa intermediária, constituída pelas leis. Estas, assim como as teorias, surgem da necessidade que se tem de encontrar explicações para os fenômenos (fatos) da realidade. Os fatos ou fenômenos são apreendidos por meio de suas manifestações, e o estudo destas visa a conduzir à descoberta de aspectos invariáveis comuns aos diferentes fenômenos, por meio da classificação e da generalização. Duas são as principais funções de uma lei específica: • resumir grande quantidade de fatos; • permitir e prever novos fatos, pois, se um fato ou fenômeno “se enquadra” em uma lei, ele se comportará conforme o estabelecido pela lei. Para Kneller (1980, p. 129), a finalidade da classificação, assim como da generalização, é “conduzir à formulação de leis – enunciados que descrevem regularidades ou normas”. Assim, a palavra “lei” comporta duas acepções: uma regularidade e um enunciado que pretenda descrevê-la (portanto, “um enunciado de lei”). Uma lei científica é geralmente formulada do seguinte modo: “Sempre que tiver a propriedade A, então terá a propriedade B”. Dessa forma, a lei pode afirmar que tudo o que tiver “A” também tem “B”. Exemplo: toda barra de ouro tem um ponto de fusão de 1.063º. Esse tipo de lei descreve uma regularidade de coexistência, isto é, um padrão de coisas. Mas a lei também pode afirmar que sempre que uma coisa, tendo “A”, se encontra em determinada relação com outra coisa de certa espécie, esta última tem “B”. Exemplo: sempre que uma pedra é jogada na água, produzirá na superfície da mesma uma série de ondas concêntricas que se expandem de igual forma do centro à periferia. Portanto, esse segundo tipo de lei descreve uma regularidade de sucessão, ou seja, um padrão nos eventos. O cientista está enunciando uma lei ao propor as regularidades que se apresentam uniformemente com as manifestações de uma classe de fenômenos; portanto, o “universo” de uma lei é limitado, abrangendo apenas determinada classe de fenômenos. Exemplo: a lei da queda livre dos corpos, de Galileu; as leis de Kepler, referentes as trajetória dos planetas em torno do Sol, indicando que estas se apresentam em forma de eclipse, pois os planetas estão sujeitos à atração gravitacional do Sol. Por sua vez, a teoria é mais ampla do que a lei, surgindo, segundo Hempel (1974, p. 92), “quando um estudo prévio de uma classe de fenômenos revelou um sistema de uniformidades que podem ser expressas em forma de leis empíricas mais amplas”. Em outras palavras, se a lei declara a existência de um padrão estável em eventos e coisas, a teoria da gravitação de Newton é muito mais ampla e abrangente do que as leis de Kepler, pois, referindo-se, especificamente, à trajetória dos planetas, indicou que essas são determinadas não apenas pela influência gravitacional do Sol, mas também de outros planetas; a teoria de 32 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN Newton explica também a lei de Galileu, ao postular uma força gravitacional, que especifica um modo de funcionamento. Assim, se as leis geralmente expressam enunciados de uma classe isolada de fatos oufenômenos, as teorias caracterizam-se pela possibilidade de estruturar as uniformidades e regularidades, explicadas e corroboradas pelas leis, em um sistema cada vez mais amplo e coerente, relacionando-as, concatenando- as e sistematizando-as, com a vantagem de corrigi-las e de aperfeiçoá-las. Por outro lado, à medida que as teorias se ampliam, passam a explicar, no universo dos fenômenos, cada vez mais uniformidades e regularidades, mostrando a interdependência existente entre eles. O objetivo das teorias é compreender e explicar os fenômenos de uma forma mais ampla, por meio da reconstrução conceitual das estruturas objetivas dos mesmos. Dessa forma, de um lado, a compreensão e a explicação estabelecem as causas ou condições iniciais de um fenômeno e, de outro, proporcionam a derivação, tanto de consequências quanto de efeitos, e, assim, possibilitam a previsão da existência ou do comportamento de outros fenômenos. Portanto, a teoria fornece-nos dois aspectos relacionados com os fenômenos: de um lado, um sistema de descrição e, de outro, um sistema de explicações gerais. Concluindo, a teoria não é uma mera descrição da realidade, mas uma abstração. 2.2 Metodologia e Método para a Pesquisa7 Pesquisar é um trabalho que envolve um planejamento análogo ao de um cozinheiro. Ao preparar um prato, o cozinheiro precisa saber o que ele quer fazer, obter os ingredientes, assegurar-se de que possui os utensílios necessários e cumprir as etapas requeridas no processo. Um prato será saboroso na medida do envolvimento do cozinheiro com o ato de cozinhar e de suas habilidades técnicas na cozinha. O sucesso de uma pesquisa também dependerá do procedimento seguido, do seu envolvimento com a pesquisa e de sua habilidade em escolher o caminho para atingir os objetivos da pesquisa. A pesquisa é um trabalho em processo não totalmente controlável ou previsível. Adotar uma metodologia significa escolher um caminho, um percurso global do espírito. O percurso, muitas vezes, requer ser reinventado a cada etapa. Precisamos, então, não somente de regras e sim de muita criatividade e imaginação. A disciplina Metodologia visa a fornecer a você informações básicas de metodologia da pesquisa servindo de guia à elaboração do projeto e da monografia. Descreve princípios teóricos e fornece orientações práticas que ajudarão você a aprender a pensar criticamente, ter disciplina, escrever e apresentar trabalhos conforme padrões metodológicos e acadêmicos. 33 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof.Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN SEÇÃO 3 - A Pesquisa Dependerá do Pesquisador Como conhecer uma realidade? E mais: Uma vez conhecida, como realizar uma intervenção nessa realidade? A ação educativa só se justifica com o envolvimento da comunidade e sua orientação para as possíveis soluções de problemas comunitários. Uma ação que considere como necessidade a participação das pessoas no processo de mudanças. Contudo, que formas podem ser utilizadas para efetivá-la? Além do mais, essa ação educativa, determinada pelo conhecimento da realidade, não pode ser sinônimo de transferência de conhecimento e sim ato dinâmico e permanente no processo de sua descoberta. Enfim, que metodologia desenvolver para atender às expectativas de participação social de uma dada comunidade? Tornam-se possíveis descobertas, na realidade local, a partir da ação daqueles que vivem na própria região e com eles implementar o processo de sistematização. Daí, então, pode-se promover ou mesmo apoiar encontros informais na comunidade. Pode-se também procurar descobrir grupos existentes naquela realidade, como grupos de danças folclóricas, professores, sindicatos, associações, pessoas comuns, grupos esportivos, religiosos e coletar dados estatísticos. De posse dessas informações, a metodologia da pesquisa-ação é uma opção, uma metodologia que estimula a participação das pessoas envolvidas na pesquisa e abre o seu universo de respostas, passando pelas condições de trabalho e vida da comunidade. Buscam-se as explicações dos próprios participantes que se situam, assim, em situação de investigador. Vejamos abaixo, como podemos atingir uma pesquisa qualificada. 3.1 - Preparação do Investigador8 A seguir estudaremos como chegar à investigação, ou seja, quais os passos mais seguros para analisarmos e qualificarmos uma boa pesquisa. Esta é a etapa inicial na qual se dá o processo de aproximação do Investigador com a comunidade escolhida e sua posterior Para que a pesquisa se torne efi ciente e também efi caz, isso dependerá somente do pesquisador, pois não existe pesquisa pobre, existe pesquisador pobre, aquele que não domina o conhecimento. Para isso devemos estudar, ler e refl e r sobre todas as coisas. Acredito que isso é possível, mas como disse dependerá somente da capacidade do pesquisador em dominar a sua inquietação. Fonte: <http://jlgregorio.blogspot.com/2011/05/ importancia-da-metodologia-cientifi ca.html>. 34 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN inserção. São então contatados grupos ou instituições, organizações e membros da comunidade, representativos de seus diversos setores sociais. Nesta etapa, inicia-se o conhecimento da comunidade. O investigador observa como ela apresenta seus problemas, tendo como base os dados coletados de fontes faladas, vivas ou sensoriais e as observações sobre a vida diária, bem como dados oficiais da atividade econômica, social e cultural. Outros dados são coletados nas reuniões de câmara de vereadores, em discursos na comunidade, nas áreas rurais, se for o caso, ou quaisquer outros ambientes políticos. As visitas e entrevistas são relatadas em pequenos informes para posterior devolução aos participantes da pesquisa. A devolução acontece durante reunião com participantes daqueles grupos ou pessoas já contatadas na comunidade. Nessa ocasião, expõe-se todo o material coletado, elaborando-se um elenco de necessidades apresentadas. Selecionam-se aqueles problemas mais citados na coleta. A partir daí, inicia-se o estudo de como a comunidade percebe e analisa sua realidade. Com esta sistematização inicial, efetiva-se o primeiro retorno dos resultados aos grupos ou pessoas que iniciam a investigação. É comum que pessoas não pertencentes a grupos, nesta fase, cheguem a formar grupos, posteriormente. A partir daí, elabora-se um questionário que volta aos que estão presentes nessas reuniões. 3.2 O Investigador e a Comunidade Para a aplicação do questionário, leva-se em conta o número de domicílios da região. Nesta fase de pesquisa, na qual se estabelece maior organização de busca das necessidades e problemas, é definida uma amostra de domicílios, aleatoriamente escolhida. Os questionários são aplicados na amostra domiciliar. Elaborada a amostra, segue-se o treinamento de entrevistadores que deverão ser do próprio ambiente da pesquisa. Alguns critérios são utilizados para a seleção desses entrevistadores como: pertencer a algum dos grupos existentes ou em formação e poder cumprir o calendário das entrevistas. A entrevista dá-se coletivamente com os residentes, nos ambientes de moradia. Procede-se à entrevista nos domicílios selecionados. Os dados coletados saem do consenso dos que se fazem presentes no momento da entrevista no domicílio. 3.3 - Sistematização das Informações Concluída a aplicação dos questionários, inicia-se a sistematização dos dados com a finalidade de oferecê-los à reflexão dos grupos. Elabora-se para tal uma codificação das respostas, utilizando-se da computação de dados como instrumento de ajuda neste trabalho. Muitas propostas ou questões levantadas são mantidas, mesmo que quantitativamente pudessem ser desprezíveis. 35 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof.Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN Posteriormente, podem ser devolvidas a todos os envolvidos na investigação. Com base nos resultados encontrados, confeccionam-se fichas problemas contendodados, juízos, apreciações que são utilizados na devolução do material aos grupos. Um dos grupos existentes encarrega-se da elaboração dessas fichas. 3.4 - Análise e Interpretação dos Dados Busca-se, nesta fase, desenvolver a análise crítica das necessidades e outros aspectos coletados, extraindo-se as dimensões positivas e negativas das questões levantadas, encarando a realidade numa perspectiva de mudança, impulsionando os grupos à reflexão e à ação, desenvolvendo seu poder de organização e intervenção na realidade. O estímulo à reflexão e ao diálogo é o princípio fundamental em todo esse processo. Apresentam-se os resultados da investigação aos grupos já existentes ou criados na comunidade, num primeiro momento. Num segundo momento, através de novas reuniões, estabelece-se uma ordem na prioridade dos problemas (aquele ligado ao grupo de pesquisa). Cada grupo passa a tratar dos temas de seu especial interesse, sem deixar, entretanto, de tomar conhecimento com as demais questões. Aprofundam-se as análises dos problemas mais expressivos, quantitativamente, em pelo menos uma reunião. Nesse momento, discutem-se as tarefas urgentes a serem encaminhadas. Grupos há que chegam a elaborar documentos contendo propostas, ratificadas ou não, posteriormente, em encontros com os demais grupos. Sendo aprovados, alguns desses documentos, são encaminhados às autoridades competentes do município, através de encontro entre essas autoridades e os grupos. Em seguida, divulga se o documento à comunidade. 3.5 Avaliação A avaliação deve estar presente no decorrer de todas as etapas do processo, desde os contatos iniciais até o final das atividades. Este trabalho também passa pela avaliação global de todo o processo, no que se refere à capacidade dos grupos de responderem aos problemas concretos da vida diária. Finalmente, o documento resultante da pesquisa retorna aos grupos envolvidos no processo. Com isso novas pesquisas podem estar se iniciando. Neste momento, vamos recordar esta aula? Gostaria que vocês lessem e depois escrevessem sobre o que entenderam. Isso é muito importante. 36 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN Retomando a Conversa Inicial SEÇÃO 1 - A Ciência Vimos o início da ciência, ou seja, sua origem, não no sentido de nascimento, mas sim na forma e perspectiva de análise. Observamos o medo à ciência. Vimos também alguns cientistas que fizeram e fazem parte do nosso contexto científico. SEÇÃO 2 - A Neutralidade Científi ca Neutralidade Científica: neste ponto devemos aprimorar para que não caiamos no emocional, ou seja, devemos ser razão, não deixar que as influências externas influenciem a pesquisa. SEÇÃO 3 - A Pesquisa Dependerá do Pesquisador Passamos pela origem da ciência, a preocupação da análise ser desapaixonada, e nesta seção, estudamos a importância de se dedicar cada vez mais a pesquisa, para se tornar um pesquisador, devemos conhecer, analisar, refletir, indagar, questionar, ler... Enfim não podemos dizer que algo é certo sem ter o conhecimento profundo do objeto de estudo. GLOSSÁRIO: • interpretação: é uma ação que consiste em estabelecer, simultânea ou consecutivamente, comunicação verbal ou não verbal entre duas entidades que não usem o mesmo código. • neutro: que não toma partido; não carregado eletricamente; imparcial. • eficiente: mede a capacidade da organização em utilizar, com rendimento máximo, todos os insumos necessários ao cumprimento dos seus objetivos e metas. A eficiência preocupa-se com os meios, com os métodos e procedimentos planejados e organizados a fim de assegurar otimização dos recursos disponíveis. • sistemático: relativo à ou próprio de um sistema; que segue um procedimento para realizar uma tarefa ou ação. Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar esse tópico, vamos recordar: 37 Pesquisa e Linguagem Científi ca - Prof. Me. Fábio Henrique Cardoso Leite - UNIGRAN Sugestões de Filmes Filmes A Beautiful Mind - Baseado no livro , A Biography of John Forbes Nash Jr., de Sylvia Nasar. O filme conta a história real de John Nash que, aos 21 anos, formulou um teorema que provou sua genialidade. Brilhante, Nash chegou a ganhar o Prêmio Nobel. Diagnosticado como esquizofrênico pelos médicos, Nash enfrentou batalhas em sua vida pessoal, lutando até onde pôde. Como contraponto ao seu desequilíbrio está Alicia (Jennifer Connelly), uma de suas ex-alunas com quem se casou e teve um filho. Legalmente Loira - A loira Elle Woods levou um fora do namorado, Warner Huntington III, um garoto de família aristocrata que está indo estudar direito em Harvard. O motivo: ela é “loira” demais. Elle decide provar que não tem apenas beleza e se inscreve na mesma universidade, mesmo que isso signifique perder todo o conforto de sua vida fútil. Agora ela tem que lutar e se virar, ao mesmo tempo em que tenta reconquistar seu amado. E está decidida a provar, em nome de todas as loiras, que também é capaz de ser uma boa advogada. Giordano Bruno (1974 – Itália) – Filme que retrata parte da vida de Bruno, envolvido em problemas com a Igreja devido as suas ideias. Mostra o processo movido pela Inquisição até sua morte na Fogueira. O enigma de Kaspar Hauser (1975 – Alemanha) – Filme que se inicia em 1828, na praça central de Nuremberg, onde aparece Kaspar Hauser. Sem conseguir falar nada, é a representação pura e romântica do homem natural, do bom selvagem. Contudo, diante do racionalismo e dos costumes da sociedade a que não consegue se adaptar, acaba morto violentamente por aqueles que não conseguem conviver com a inquietação provocada pela diversidade. Atividades da Aula 02 Após terem realizado uma boa leitura dos assuntos abordados em nossa aula, na Sala Virtual estão disponíveis os arquivos com as atividades (exercícios) que deverão ser respondidas e enviadas. 38
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