Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Versos da Semana: Conversa com Drummond Se Drummond gastou uma hora pensando um verso; eu, que não sou poeta, gastarei três, quatro, cinco dias. A pena do Itabirano é temperamental; a minha, por outro lado, é analfabeta no entanto, temos algo em comum: a poesia-enchente que inunda a vida. Importante é possuir a matéria-prima ainda que não saibamos usá-la e, quem sabe um dia, a pena queira começar a escrever. Obrigado, gauche, por nos comunicar a incomunicabilidade da poesia e nos fazer saber que, mesmo escondida, ela se faz presente para nos inundar. Braulio Queiroz VANGUARDAS EUROPEIAS A palavra VANGUARDA deriva do francês AVANT-GARDE, termo militar que designa aqueles que, em campanha, vão à frente da unidade. A partir do início do séc. XX, passou a ser empregada para designar aqueles que, no campo da arte e das ideias, estavam à frente de seu tempo (1). As Vanguardas surgem, no início do século XX, atravessando a I Guerra Mundial e finda com o início da II Guerra Mundial, momento em que as produções artísticas cessam diante do terror nazista. Entende-se VANGUARDA como um movimento que discute um conhecimento ideológico na arte. As Vanguardas europeias anunciavam e deliberavam uma subversão radical da cultura e dos costumes sociais. VANGUARDAS EUROPEIAS Principais movimentos europeus: FUTURISMO EXPRESSIONISMO CUBISMO DADAÍSMO SURREALISMO VANGUARDAS EUROPEIAS O FUTURISMO A ARTE DA DESTRUIÇÃO VANGUARDAS EUROPEIAS: FUTURISMO O Manifesto Futurista, de autoria do poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876 - 1944), é publicado em Paris em 1909. PROPOSTAS: o Futurismo propunha a ruptura com o passado. Mais que isso: destruir o passado. Exaltavam: a velocidade, o progresso; a coragem, a audácia e a revolta; o soco e a bofetada; a guerra – única higiene do mundo; pregava a demolição de bibliotecas e museus, além de combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas e utilitárias. VANGUARDAS EUROPEIAS: FUTURISMO Em 1912, surge um Manifesto Técnico da Literatura Futurista, propondo “a destruição da sintaxe”, eliminando os adjetivos, advérbios. Usar os substantivos como nascem. Trocar sinais de pontuação por símbolos matemáticos e notas musicais. É relevante salientar a total identificação entre o movimento e seu líder, a ponto de virarem sinônimos FUTURISMO/MARINETTI e, a partir de 1919, as evidentes afinidades do movimento com Fascismo de Mussolini. VANGUARDAS EUROPEIAS: FUTURISMO ODE TRIUNFAL (Álvares de Campos) À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! (...) VANGUARDAS EUROPEIAS: FUTURISMO Boccioni Unique form of continuity in space Umberto Boccioni 1913 VANGUARDAS EUROPEIAS: FUTURISMO Boccioni A rua entra na casa (1911) Umberto Boccioni, VANGUARDAS EUROPEIAS: O EXPRESSIONISMO A EXPRESSÃO DA DOR HUMANA VANGUARDAS EUROPEIAS: EXPRESSIONISMO Na França e na Alemanha, no início do século XX, surge um grupo de pintores chamados expressionistas, na Alemanha, e fauvistas, na França. O objetivo era expor a subjetividade do mundo interior do artista, e isto implicava no distanciamento da beleza, seja pela “caricatura” (resultado da distorção da imagem), seja pela expressão do sofrimento humano como pobreza, violência, paixão, visão da morte e outros sofrimentos humanos. VANGUARDAS EUROPEIAS: EXPRESSIONISMO O Morcego Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. "Vou mandar levantar outra parede..." — Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, Circularmente sobre a minha rede! Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh'alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?! A Consciência Humana é este morcego! Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto! Augusto dos Anjos VANGUARDAS EUROPEIAS: EXPRESSIONISMO O GRITO Edvard Munch VANGUARDAS EUROPEIAS: EXPRESSIONISMO Os retirantes Portinari VANGUARDAS EUROPEIAS: CUBISMO A REALIDADE EM FORMAS GEOMÉTRICAS “A arte é uma mentira que nos faz perceber a verdade” Pablo Picasso VANGUARDAS EUROPEIAS: CUBISMO O Cubismo nasceu das experiências de Pablo Picasso e Georges Braque em 1907. A pintura cubista, valorizando as formas geométricas (cones, esferas, cilindros, etc.), objetivava revelar o objeto em seus variados ângulos. Na literatura, o Cubismo viveu seu primeiro momento com um manifesto-síntese assinado por Guillaume Apollinaire e publicado em 1913 e, neste caso, buscava-se aproximar, ao máximo, as várias manifestações artísticas (pintura, música, literatura, escultura), ressaltando a importância dos espaços em branco e em preto da folha de papel e da impressão tipográfica. Propunha ainda as “palavras em liberdade”, “invenção de palavras” e a “destruição da sintaxe já condenada pelo uso” (2). VANGUARDAS EUROPEIAS: CUBISMO Poema concreto de Guillaume Apollinaire 1908 VANGUARDAS EUROPEIAS: CUBISMO Os três músicos Pablo Picasso VANGUARDAS EUROPEIAS: CUBISMO Les demoiselles d’avignon Picasso VANGUARDAS EUROPEIAS: DADAISMO A arte que não é arte, mas é arte... VANGUARDAS EUROPEIAS: DADAISMO Em 1916, em plena guerra, quando tudo fazia supor uma vitória alemã, um grupo de refugiados em Zurique, na Suíça, inicia o mais radical movimento de Vanguarda Europeia: o Dadaísmo. Este movimento foi iniciado por TRISTAN TZARA, em seu manifesto DADÁ, em 1918 (3). Embora a palavra DADA em francês signifique cavalo de madeira, sua utilização marca o non-sense ou falta de sentido que pode ter a linguagem (como na fala de um bebê). Para reforçar esta ideia, foi estabelecido o mito de que o nome foi escolhido aleatoriamente, desta forma, abrindo-se uma página de um dicionário e inserindo-se um estilete sobre ela. Isso foi feito para simbolizar o caráter antirracional do movimento (4). VANGUARDAS EUROPEIAS: DADAISMO CARACTERÍSTICAS: “Eu escrevo um manifesto e não quero nada, eu digo portanto certas coisas e sou por princípio contra os manifestos, como sou também contra os princípios.” (Tristan Tzara) - Objetos comuns do cotidiano são apresentados de uma nova forma e dentro de um contexto artístico; - Irreverência artística; - Combate às formas de arte institucionalizadas; - Crítica ao capitalismo e ao consumismo; - Ênfase no absurdo, nos temas e nos conteúdos sem lógica; - Uso de vários formatos de expressão (objetos do cotidiano, sons, fotografias, poesias, músicas, jornais, etc.) na composição das obras de artes plásticas; - Forte caráter pessimista e irônico, principalmente com relação aos acontecimentos políticos do mundo. VANGUARDAS EUROPEIAS: DADAISMO Para fazer um poema dadaísta Pegue um jornal, Pegue uma tesoura, Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar ao seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam este artigo e meta-os no saco. Agite suavemente,Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tirada do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público. Tristan Tzara VANGUARDAS EUROPEIAS: DADAISMO DUCHAMP A Fonte, 1917 VANGUARDAS EUROPEIAS: SURREALISMO A arte do sonho, do subconsciente, da não razão, da influência Freudiana VANGUARDAS EUROPEIAS: SURREALISMO O Manifesto Surrealista foi lançado em Paris, em 1924, por André Breton, um ex-participante do Dadaísmo que rompera com Tristan Tzara. É importante salientar que o Surrealismo é um movimento iniciado num período entre guerras – entre as cinzas da I Guerra Mundial e as experiências acumuladas de todos os outros movimentos (3). O movimento recebe forte influência das teorias psicanalíticas de Sigmund Freud. A partir daí, os surrealistas proclamam que a arte nunca pode ser produzida pela razão inteiramente desperta. É influenciado também pelo Expressionismo, sondando o mundo interior, em busca do homem primitivo, da libertação do inconsciente, da valorização do sonho. VANGUARDAS EUROPEIAS: SURREALISMO Os escritores do surrealismo rejeitaram o romance e a poesia em estilos tradicionais e que representavam os valores sociais da burguesia. As poesias e textos deste movimento são marcados pela livre associação de ideias, frases montadas com palavras recortadas de revistas e jornais e muitas imagens e ideias do inconsciente (4). VANGUARDAS EUROPEIAS: SURREALISMO O livro MACUNAÍMA de Mário de Andrade é um bom exemplo do surrealismo na literatura brasileira. Ele foi escrito em apenas seis dias, possuindo uma narrativa mágica, quase automática, o autor reelabora temas de mitologia indígena e visões folclóricas. “Nesse momento, um mulato da maior mulataria trepou numa estátua e principiou um discurso entusiasmado, explicando pra Macunaíma o que era o dia do Cruzeiro. No céu escampado da noite não tinha uma nuvem nem Capei. A gente enxergava os conhecidos, os pais-das-árvores os pais-das-aves os pais-das-caças e os parentes manos pais mães tias cunhadas cunhãs cunhatãs, todas essas estrelas piscapiscando bem felizes nessa terra sem mal adonde havia muita saúde e pouca saúva, o firmamento lá (5).” VANGUARDAS EUROPEIAS: SURREALISMO Poeminha surrealista Gostaria, querida, De ser inesperado Como uma madrugada amanhecendo À noite E engraçado, também, Como um pato num trem. Millôr Fernandes VANGUARDAS EUROPEIAS: SURREALISMO Salvador Dalí O maior nome do Surrealismo VANGUARDAS EUROPEIAS: SURREALISMO Desmaterilização próximo à rosa de Nero Salvador Dalí PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS PSICOLOGIA DE UM VENCIDO Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme — este operário das ruínas — Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há-de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! Augusto dos Anjos PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS Assim como seus contemporâneos – Lima Barreto, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e Graça Aranha –, Augusto dos Anjos está filiado ao Pré-Modernismo, período da Literatura Brasileira marcado pelo sincretismo cultural, característica que o aproxima tanto do Simbolismo quanto do Parnasianismo, sendo, portanto, difícil classificá-lo em apenas um movimento literário. Para facilitar a compreensão de sua obra, os críticos literários convencionaram três diferentes fases de sua poesia: a primeira é marcada pelo Simbolismo; a segunda apresenta inovações temáticas e estilísticas (elementos que o consagraram), e a terceira aponta para um amadurecimento literário do poeta. PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS Versos Íntimos Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera - Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija! Augusto dos Anjos PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS Budismo Moderno Budismo Moderno Tome, Dr., esta tesoura, e... corte Minha singularíssima pessoa. Que importa a mim que a bicharia roa Todo o meu coração, depois da morte?! Ah! Um urubu pousou na minha sorte! Também, das diatomáceas da lagoa A criptógama cápsula se esbroa Ao contato de bronca destra forte! Dissolva-se, portanto, minha vida Igualmente a uma célula caída Na aberração de um óvulo infecundo; Mas o agregado abstrato das saudades Fique batendo nas perpétuas grades Do último verso que eu fizer no mundo! Augusto dos Anjos PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS O Morcego Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. "Vou mandar levantar outra parede..." — Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, Circularmente sobre a minha rede! Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh'alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?! A Consciência Humana é este morcego! Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto! Augusto dos Anjos PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS O Morcego Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. "Vou mandar levantar outra parede..." — Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, Circularmente sobre a minha rede! Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh'alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?! A Consciência Humana é este morcego! Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto! Augusto dos Anjos PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS Exercícios: PSICOLOGIA DE UM VENCIDO Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme — este operário das ruínas — Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há-de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! Augusto dos Anjos PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS EXERCÍCIOS: A partir desse soneto, é correto afirmar: Ao se definir como filho do carbono e do amoníaco, o eu lírico desce ao limite inferior da materialidade biológica pois, pensando em termos de átomos (carbono)e moléculas (amoníaco), que são estudados pela Química, constata-se uma dimensão onde não existe qualquer resquício de alma ou de espírito. II. O amoníaco, no soneto, é uma metáfora de alma, pois, segundo o eu lírico, o homem é composto de corpo (carbono) e alma (amoníaco) e, no fim da vida, o corpo (orgânico) acaba, apodrece, enquanto a alma (inorgânica) mantém-se intacta. III. O soneto principia descrevendo as origens da vida e termina descrevendo o destino final do ser humano; retrata o ciclo da vida e da morte, permeado de dor, de sofrimento e da presença constante e ameaçadora da morte inevitável. Está(ão) correta(s) (A) apenas II (B) apenas III (C) apenas I e II (D) apenas I e III (E) apenas II e III PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS EXERCÍCIOS: A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como pré-modernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se marcas dessa literatura de transição, como (A) a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas, o vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no Modernismo. (B) o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em metáforas como “Monstro de escuridão e rutilância” e “Influência má dos signos do zodíaco”. (C) a seleção lexical emprestada do cientificismo, como se lê em “carbono e amoníaco”, “epigênesis da infância”, “frialdade inorgânica”, que restitui a visão naturalista do homem. (D) a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo, dimensionada pela inovação na expressividade poética e o desconcerto existencial. (E) a ênfase no processo de construção de uma poesia descritiva e ao mesmo tempo filosófica, que incorpora valores morais e científicos mais tarde renovados pelos modernistas. PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS EXERCÍCIOS: (MACK-SP) Assinale a alternativa onde aparece uma característica que não se aplica à obra de Augusto dos Anjos. a) referência à decomposição da matéria. b) pessimismo diante da vida. c) amor reduzido a instinto. d) incorporação de vocabulário científico. e) nacionalismo exaltado. AUGUSTO DOS ANJOS: EXERCÍCIOS O Morcego Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. "Vou mandar levantar outra parede..." — Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, Circularmente sobre a minha rede! Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh'alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?! A Consciência Humana é este morcego! Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto! Augusto dos Anjos PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS O poema apresenta-se, enquanto percepção do mundo, como forma estética capaz de a) reencantar a vida pelo mistério com que os fatos banais são revestidos na poesia. b) representar realisticamente as dificuldades do cotidiano sem associá-lo a reflexões de cunho existencial. c) expressar o caráter doentio da sociedade moderna por meio do gosto pelo macabro. d) abordar dilemas humanos universais a partir de um ponto de vista distanciado e analítico acerca do cotidiano. e) conseguir a atenção do leitor pela inclusão de elementos das histórias de horror e suspense na estrutura lírica da poesia. PRÉ-MODERNISMO: AUGUSTO DOS ANJOS O Deus Verme Fator universal do transformismo. Filho da teleológica matéria, Na superabundância ou na miséria, Verme - é o seu nome obscuro de batismo. Jamais emprega o acérrimo exorcismo Em sua diária ocupação funérea, E vive em contubérnio com a bactéria, Livre das roupas do antropomorfismo. Almoça a podridão das drupas agras, Janta hidrópicos, rói vísceras magras E dos defuntos novos incha a mão... Ah! Para ele é que a carne podre fica, E no inventário da matéria rica Cabe aos seus filhos a maior porção! Augusto dos Anjos
Compartilhar