Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 2 Neurociência cognitiva do Autismo Roberto Aguilar Machado Santos Silva1 Suzana Portuguez Viñas2 O autismo é um transtorno do desenvolvimento neurológico abrangente, englobando, principalmente dificuldades nos domínios social, linguístico e comunicativo. O diagnóstico geralmente é feito nos primeiros 2-3 anos de vida, de comportamentos como falta de contato com os olhos, atenção conjunta, comportamento imitativo e falta de resposta ao discurso. Outras características identificáveis são semelhantes às de condições relacionadas, como comportamentos repetitivos e desatenção observados em transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de déficit de atenção, respectivamente. 1 Roberto Aguilar Machado Santos Silva é escritor, médico-veterinário, Doutor, Membro da Academia de Ciências de Nova York e pós-graduando em neuropsicopedagogia. Possui vários livros publicados sobre filosofia e neuropsicopedagogia. 2 Suzana Portuguez Viñas é escritora, agente literária, pedagoga, psicopedagoga e pós- graduanda em neuropsicopedagogia. Possui vários livros publicados sobre filosofia e neuropsicopedagogia. 3 Também são observados distúrbios de humor secundários comuns, incluindo ansiedade e depressão. Classificação do Autismo segundo o Centers for Diseases Control and Prevention De acordo com Centers for Diseases Control and Prevention (CDC, em Português Centros de Controle e Prevenção de Doenças, EUA), a revista científica Journal of Autism and Developmental Disorders, publicou uma nova análise da forma como as crianças são classificadas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) para explorar o diagnóstico precoce (https://www.cdc.gov/seed). O TEA é diagnosticado por clínicos experientes (por exemplo, pediatras e psicólogos infantis) que realizam uma revisão completa do comportamento e do desenvolvimento de uma criança. Esta revisão completa geralmente leva em consideração os resultados de ferramentas padronizadas - como observações e entrevistas - que oferecem uma maneira uniforme de definir comportamentos. Esta abordagem para diagnosticar TEA, também conhecida como julgamento clínico, é considerada o padrão-ouro ou gold standard (em inglês) na classificação do TEA. Na nova análise publicada, os pesquisadores do CDC desenvolveram um método para classificar crianças com TEA, que se baseiam em ferramentas de diagnóstico padronizadas - uma entrevista com os pais e observação clínica da criança - que pode ser usada para criar grupos bem definidos de crianças, para ajudar a orientar as decisões de tratamento ou projetos de pesquisa. Os pesquisadores do CDC examinaram o quanto este método classifica bem as crianças com TEA em comparação com o julgamento clínico padrão-ouro. O método utilizado pelos pesquisadores do CDC para classificar crianças com TEA, combina bem com o julgamento clínico e identifica uma diversidade de crianças com transtorno autista. O método do CDC também fornece orientação, sobre como resolver as diferenças entre o relatório dos pais e a observação clínica e como interpretar alguns sintomas de TEA, relatados pelos pais em crianças pequenas. Por fim, o método do CDC permite aos pesquisadores colocar crianças em diferentes subgrupos, o que, por sua vez, pode melhorar nossa capacidade de aprender mais sobre as semelhanças e diferenças entre crianças com TEA. Essas descobertas são importantes para os pesquisadores, pois buscam maneiras eficazes de classificar as crianças com TEA, particularmente em estudos que analisam as causas da desordem. Diagnóstico padronizados para classificar crianças com autismo O estudo para explorar o desenvolvimento precoce (SEED, Study to Explore Early Development) é um estudo de caso-controle, projetado para explorar a relação entre os fenótipos e as etiologias do transtorno do espectro do autismo (ASD). Os objetivos deste artigo foram: (1) descrever o algoritmo SEED que usa o Autism Diagnostic Interview- Revised (ADI-R) e Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS) para classificar crianças com TEA, (2) examinar propriedades psicométricas de diferentes métodos de classificação, incluindo o método SEED que incorpora regras para a resolução da discordância ADI-R e ADOS e (3) determinar se os interesses restritos e os comportamentos repetitivos foram observados para crianças que tiveram discordância de instrumento 4 resolvidas usando os resultados sociais e de comunicação ADI-R. Os resultados suportam a utilidade dos critérios SEED, quando grupos bem definidos de crianças são um resultado clínico ou de pesquisa importante. A integra do artigo para classificar crianças com autismo pode ser encontrada em: WIGGINS, L. D.; REYNOLDS, A.; RICE, C. E.; MOODY, E. J.; BERNAL, P.; BLASKEY, L.; ROSENBERG, S. A.; LEE, L- C.; LEVY, S. E. Using Standardized Diagnostic Instruments to Classify Children with Autism in the Study to Explore Early Development. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 45, n. 5, p 1271–1280, 2015. Os principais achados dos pesquisadores do CDC, foram: Mais de 2.600 crianças inscritas no SEED completaram uma visita clínica e foram classificadas como tendo TEA ou não tendo TEA. O método SEED classificou mais de 700 crianças com TEA com base em uma combinação de sintomas relatados pelos pais na entrevista diagnóstica de autismo revisada (ADI-R) e observada por um clínico na Agenda de Observação de Diagnóstico do Autismo (ADOS), que são as melhores ferramentas de diagnóstico disponíveis para o TEA. A forma como as crianças foram classificadas com TEA na SEED tem várias vantagens em comparação com outros métodos de classificação. Por exemplo, o método SEED: . Teve um bom equilíbrio de sensibilidade (o que significa que crianças com TEA foram identificadas corretamente como tendo a condição) e especificidade (significando que crianças sem TEA foram corretamente identificadas como não tendo a condição). Também, os pesquisadores criam grupos bem definidos de crianças, que podem experimentar diferentes sintomas ou que podem desenvolver de maneiras diferentes; . Identificou mais crianças com TEA, incluindo crianças com idade mental muito baixa; e oferecido maneiras de resolver as diferenças entre o relatório dos sintomas e a observação clínica dos sintomas. . Em geral, os resultados sugerem o uso do método SEED para classificar crianças com TEA ao criar grupos bem definidos de crianças, o que pode ser importante para orientar o processo de tratamento ou o projeto de pesquisa. Os pesquisadores podem usar o método de classificação SEED para aprender mais sobre ASD e suas causas complexas e sintomas associados para ajudar crianças e famílias. 5 Desde o reconhecimento por Leo Kanner em 1943, a pesquisa etiológica do autismo resultou em uma ampla gama de teorias. As primeiras teorias, como a noção de "mães geladeira" de Bettelheim, já foram derrubadas, com teorias modernas que categorizam o autismo como uma desordem do desenvolvimento neurológico. Bruno Bettelheim Bruno Bettelheim (Viena, 28 de agosto de 1903 — Silver Spring, 13 de março de 1990) foi um psicólogo norteamericano, nascido na Áustria. Após a anexação da Áustria pelo Terceiro Reich, na véspera da Segunda Guerra Mundial, foi deportado com outros judeus austríacos para o campo de concentração de Dachau e, mais tarde, para Buchenwald. Aí pôde observar os comportamentos humanos quando o indivíduo é sujeito a condições extremas, percepcionadas como radicalmente destrutivas (desumanização), que estiveram mais tarde na base das suas teorias sobre a origem do autismo. Após a anexação da Áustria pelo Terceiro Reich, na véspera da Segunda Guerra Mundial, foi deportado com outros judeus austríacos para o campo de concentração de Dachau e, mais tarde, para Buchenwald. Aí pôdeobservar os comportamentos humanos quando o indivíduo é sujeito a condições extremas, percepcionadas como radicalmente destrutivas (desumanização), que estiveram mais tarde na base das suas teorias sobre a origem do autismo. Graças a uma anistia em 1939, Bettelheim e centenas de outros prisioneiros foram libertados, o que lhe salvou a vida. Emigrou então rumo aos Estados Unidos, onde foi professor de psicologia em universidades americanas e dirigiu o Instituto Sonia- Shankman em Chicago para crianças psicóticas, destacando-se o seu trabalho com crianças autistas. Acerca de seus trabalhos com pacientes autistas, Bettelheim reivindicou que a causa do autismo seriam "As mães geladeiras": mães frias, sem sentimentos, que levavam os filhos a um isolamento mental. Suas teorias foram aceitas internacionalmente por mais de duas décadas. Bruno Bettelheim suicídou-se aos 86 anos de idade, em 1990, acredita-se pelo fato de ter começado a perder sua credibilidade. Embora haja uma alta concordância de gêmeos idênticos com o autismo, encontrar os marcadores genéticos específicos do autismo ainda continua sendo uma tarefa difícil, com múltiplos genes candidatos. As teorias cognitivas atuais concentram-se em funções principalmente mediadas pelos lobos frontais, incluindo a teoria da mente, fraca coerência central e disfunção executiva como áreas primárias de déficit. As teorias biologicamente fundamentadas implicam anormalidades em estruturas como o cerebelo, a amígdala, o hipocampo e os gânglios basais. Os pesquisadores também encontraram anormalidades de desenvolvimento grosseiras, como o aumento do volume total de cérebro (TBV) e a conectividade anormal dos tratos da substância branca. Muitas doenças do desenvolvimento têm dismorfologias padronizadas, como nos aspectos faciais das Síndromes de Willliam e Down. 6 Síndrome de Williams A Síndrome de Williams também conhecida como síndrome Williams- Beuren é uma desordem genética que, talvez, por ser rara, frequentemente não é diagnosticada. Sua transmissão não é genética. O nome desta síndrome vem do médico, Dr. J.C.P. Williams que a descreveu em 1961 na Nova Zelândia e pelo Dr. A. J. Beuren da Alemanha em 1962. Acometendo ambos os sexos, na maioria dos casos infantis (primeiro ano de vida), as crianças têm dificuldade de se alimentar, ficam irritadas facilmente e choram muito. A síndrome de Williams é uma doença caracterizada por "face de gnomo ou fadinha”, 7 nariz pequeno e empinado, cabelos encaracolados, lábios cheios, dentes pequenos e sorriso frequente. Estas crianças normalmente têm problemas de coordenação e equilíbrio, apresentando um atraso psicomotor. Seu comportamento é sociável e comunicativo embora utilizem expressões faciais, contatos visuais e gestos em sua comunicação. Embora comecem a falar tarde, por volta dos 18 meses, demonstram facilidade para aprender rimas e canções, demonstrando muita sensibilidade musical e concomitantemente boa memória auditiva. Seu desenvolvimento motor é mais lento. Demoram a andar, e tem grande dificuldade em executar tarefas que necessitem de coordenação motora tais como: cortar papel, desenhar, andar de bicicleta, amarrar o sapato etc... Síndrome de Down Síndrome de Down, também denominado trissomia 21, é uma anomalia genética causada pela presença integral ou parcial de uma terceira cópia do cromossoma 21. A condição está geralmente associada com atraso no desenvolvimento infantil, feições faciais características e deficiência mental leve a moderada. O quociente de inteligência de um jovem adulto com síndrome de Down é, em média, de 50, sendo equivalente à capacidade mental de uma criança de oito ou nove anos, embora isto possa variar significativamente. No entanto, no autismo, as dismorfologias fora do substrato neural foram encontradas sutis ou inexistentes, com achados limitados em características como quarto dígito reverso e rotação posterior da orelha. Dismorfologia A Dismorfologia é a área da Genética Médica que estuda e busca interpretar os padrões de crescimento humano e as anomalias morfológicas. O termo "Dismorfologia" foi primeiramente empregado por David Smith na década de 1960. As anomalias morfológicas incluem as malformações, disrupções, deformações e displasias. Padrões de anomalias morfológicas, por sua vez, são agrupados em síndromes, sequencias e associações. Síndromes, em Dismorfologia, são padrões de anomalias morfológicas relacionadas de modo causal, mas não necessariamente relacionadas em sua patogenia. Exemplos de síndromes incluem: síndrome de Down e síndrome de Gorlin. Sequencias compreendem uma ou mais anomalias morfológicas secundárias que sabidamente ou presumidamente resultantes de uma única malformação, disrupção, displasia ou deformação. Exemplos incluem: sequência de Pierre-Robin e sequencia de Potter. Associações são padrões de anomalias, pelo menos duas das quais morfológicas, que ocorrem mais frequentemente do que seria esperado pelo acaso e nas quais uma relação causal não foi identificada. Teorias cognitivas Teoria da Mente Uma das mais comuns teorias social-cognitiva do autismo é baseada na Teoria da Mente (ToM, do inglês Theory of Mind), a habilidade de "mentalização" precisa inferir que os outros têm suas próprias crenças e desejos para entender seu comportamento. Usado como uma medida básica da inteligência social, o ToM geralmente é adquirido por 3-4 anos de idade, e geralmente está 8 correlacionado com a habilidade linguística tanto em crianças em desenvolvimento como em populações autistas. Também designada por mentalização ou perspectiva cognitiva, é a habilidade de atribuir e representar, em si próprio e nos outros, os estados mentais independentes - crenças, intenções, desejos, conhecimento, etc - e de compreender que os outros possuem crenças, desejos e intenções que são distintas da sua própria. É um processo que se baseia apenas na compreensão cognitiva do estado mental de outrem e no qual o sujeito que consegue representar o estado mental do outro indivíduo não se torna emocionalmente envolvido. Déficits nessa função acontecem em pessoas com autismo, esquizofrenia, déficit de atenção, bem como consequência de intoxicação cerebral decorrente de abuso de álcool. Embora existam abordagens filosóficas aos questionamentos levantados por essas discussões, a Teoria da Mente como tal é distinta da Filosofia da Mente. A Teoria da Mente é uma teoria na medida em que a mente não é diretamente observável. O pressuposto que outros têm uma mente é chamado de teoria da mente porque cada humano só pode intuir a existência de sua própria mente através de introspecção, e ninguém tem acesso direto à mente de outra pessoa. Normalmente é aceite que outros possuem mentes por analogia com a própria mente, e baseado na natureza recíproca da interação social, como observado na atenção compartilhada, uso funcional da linguagem e a compreensão das emoções e ações dos outros. Possuir uma teoria da mente permite que se possa atribuir pensamentos, desejos e intenções aos outros, predizer ou explicar suas ações e pressupor suas intenções. Como definido originalmente, a teoria da mente permite compreender que estados mentais podem ser a causa - e consequentemente serem utilizados para explicar e predizer - do comportamento dos outros. Ser capaz de atribuir estados mentais aos outros e compreendê-los como causa do comportamento implica, em parte, que uma pessoa seja capaz de compreender a mente como um "gerador de representações". Se uma pessoa não possui a teoria da mente completamente desenvolvida, isto pode ser um sinal de comprometimento cognitivo ou prejuízo no desenvolvimento. Teoria da mente parece ser uma habilidade potencial inata em humanos, mas são necessárias experiências sociais durante muitos anos para ativá-la. Diferentes pessoaspodem desenvolver teorias da mente mais ou menos efetivas. Empatia é um conceito relacionado, significando a experiência de reconhecimento e compreensão dos estados mentais, incluindo crenças, desejos e particularmente emoções dos outros, frequentemente caracterizada como a habilidade de "compreender o ponto de vista do outro". Apesar das capacidades usadas na teoria da mente serem, na sua maior parte, também utilizadas na empatia, estes dois sistemas baseiam-se em circuitos neuronais distintos. Estudos neuro-etológicos de comportamentos animais recentemente desenvolvidos sugerem que mesmo roedores podem exibir habilidades éticas ou empáticas. Teorias neo- Piagetianas sobre o desenvolvimento cognitivo mantém que a teoria da mente é um produto da habilidade hipercognitiva dos humanos para registar, monitorizar e representar seu próprio funcionamento. Assim, foi colocada a hipótese de as pessoas usarem o seu próprio estado mental como ponto de partida na inferência de estados mentais de outros, seguida de um ajustamento com base nas diferenças existentes entre a própria pessoa e o outro sujeito. O número de pesquisadores da teoria da mente que em diferentes populações 9 (humanas e animais, adultos e crianças, com desenvolvimento normal e atípico) cresceu rapidamente nos últimos 40 anos desde o trabalho de Premack e Woodruff3 "Does the chimpanzee have a theory of mind?", assim como cresceram as diferentes teorias da mente. O emergente campo de discussão da neurociência social também começou a se interessar por este tipo de debate, imaginando os seres humanos em atividades que necessitam da compreensão de uma intenção, crença ou outro estado mental. Uma explicação alternativa para a Teoria da Mente (ToM) é fornecida dentro do Behaviorismo e possui evidências empíricas significativas para uma explicação funcional tanto da perspectiva da fala quanto da empatia. A abordagem mais desenvolvida dentro do behaviorismo é a chamada "Relation Frame Theory". De acordo com essa visão da empatia e da fala, estas estão em relação direta com um complexo sistema de habilidades relacionais baseadas na discriminação e respostas verbais à relações ainda mais complexas sobre o si próprio, os outros, espaço e tempo, e a transformação destas funções através de relações estabelecidas. Usado como uma medida básica da inteligência social, o ToM geralmente é adquirido por 3-4 anos de idade, e geralmente está correlacionado com a habilidade linguística tanto em crianças em desenvolvimento como em populações autistas. Estudos comportamentais demonstraram que indivíduos com autismo, dependendo do nível de funcionamento e da idade, muitas vezes têm atraso no desenvolvimento de um ToM qualitativamente diferente. Em um estudo de PET de adultos, as diferenças nas regiões de ativação foram mostradas em um paradigma ToM baseado em história, com ativação relacionada à tarefa no córtex pré-frontal medial em controles normais e em uma região frontal mais ventral em indivíduos com Síndrome de Asperger. Classificação atual da Síndrome de Asperger Atualmente a síndrome de Asperger, é considerada um transtorno neurobiológico enquadrado dentro dos TEA. Esta doença neurológica foi considerada, por muitos anos, como uma forma leve do autismo, em relação ao autismo clássico de Kanner. Esses resultados sugerem uma diferença qualitativa e não quantitativa na resposta neural às tarefas do estado mental. As diferenças neurais podem ser devidas ao desenvolvimento atípico de ToM nos adultos autistas, onde as habilidades sociais relacionadas são muitas vezes aprendidas em um nível intelectual tardia em desenvolvimento, em vez de em um nível intuitivo nos primeiros estágios da infância, causando diferenças regionais nas respostas corticais às tarefas ToM. Uma habilidade importante necessária para desenvolver o ToM é inferir as emoções de outras da expressão facial. Além dos paradigmas ToM baseados na história acima mencionados, estudos também foram realizados, ilustrando a dificuldade em inferir emoções nos olhos entre os indivíduos adultos autistas. Em tarefas semelhantes de inferência emocional, a evidência 3 PREMACK, D.; WOODRUFF, G. Does the chimpanzee have a theory of mind? V. 1, n. 4 A Special Issue on Cognition and Consiousness in Nonhuman Species, p. 515-526, 1978. 10 de fMRI4 aumenta essa distinção, mostrando diminuição da ativação da amígdala e ativação aumentada no giro temporal superior, áreas classicamente implicadas na percepção emocional e na compreensão da linguagem. Uma vez que os sujeitos nestes estudos foram instruídos a olhar para as imagens dos olhos, uma disfunção no nível sensorial da falta de contato com os olhos não pode explicar o desempenho dos indivíduos autistas. No entanto, a falta de contato com os olhos é uma característica comum do autismo, tanto em adultos como em crianças, e ainda confirmada em estudos de rastreamento ocular, mostrando diminuição da atenção nos olhos e aumento da atenção na boca ou ambiente circundante. É bem provável que a falta de atenção nos estímulos socialmente relevantes durante a primeira infância dificulte o desenvolvimento social adequado e, consequentemente, afeta habilidades sociais de nível superior, como a ToM. Disfunção executiva Funções executivas "geralmente é usado como um termo guarda-chuva referente a funções de alto nível, incluindo memória de trabalho, planejamento, iniciação, flexibilidade cognitiva e inibição. Os lobos frontais estão implicados para processar essas funções, com evidências de pacientes com dano de lobo frontal adquirido. A função executiva dificulta-se no autismo, bem como em outras condições, como transtorno obsessivo compulsivo, esquizofrenia, síndrome de Tourette e transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) 4 A imagem por ressonância magnética funcional (fMRI, do inglês Functional Magnetic Ressonance Imaging), é uma técnica específica do uso da imagem por ressonância magnética (MRI, do inglês Magnetic Resonance Imaging) capaz de detectar variações no fluxo sanguíneo em resposta à atividade neural. 11 Transtorno obsessivo-compulsivo Perturbação obsessiva-compulsiva (POC) (português europeu) ou transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) (português brasileiro) é uma perturbação mental caracterizada por obsessões e compulsões. As obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes que provocam na pessoa ansiedade ou mal-estar. A pessoa sente a necessidade de ignorar ou suprimir a ansiedade causada por essas obsessões através de pensamentos, rotinas ou atividades repetitivas denominadas compulsões ou rituais. As obsessões mais comuns são o medo de contaminação por germes, sujidade ou produtos químicos, medo de contrair uma doença, medo de prejudicar outras pessoas de forma acidental ou intencional ou medo de cometer um erro grave. As compulsões mais comuns são lavar as mãos ou limpar compulsivamente para diminuir o medo de contaminação ou de contrair uma doença; confirmar repetidamente as coisas para diminuir o medo de prejudicar outrem ou de cometer um erro; e ordenar, organizar por determinada ordem, contar ou repetir compulsivamente nomes, frases ou rotinas para diminuir a ansiedade. Algumas pessoas têm dificuldade em deitar fora objetos. A maior parte dos adultos com POC está consciente que os comportamentos não fazem sentido. A condição está associada a tiques, perturbações de ansiedade e risco acrescido de suicídio. Esquizofrenia Esquizofrenia é uma perturbação mental caracterizada por comportamento social fora do normal e incapacidade de distinguir o que é ou não real. Entre os sintomas mais comuns estão delírios, pensamento confuso ou pouco claro, alucinações auditivas, diminuição da interação social e da expressão deemoções e falta de motivação. As pessoas com esquizofrenia apresentam muitas vezes outros problemas de saúde mental, como distúrbios de ansiedade, depressão ou distúrbios relacionados com o consumo de substâncias nocivas. Os sintomas geralmente manifestam-se de forma gradual, desde o início da idade adulta, e permanecem durante um longo período de tempo. Síndrome de Tourette A síndrome de Tourette é um transtorno neuropsiquiátrico hereditário que se manifesta durante a infância, caracterizado por diversos tiques físicos e pelo menos um tique vocal. Estes tiques têm remissões e recidivas características, podem ser suprimidos temporariamente e são precedidos por impulsos premonitórios. A síndrome é definida enquanto parte do espectro dos transtornos devido a tiques, no qual se incluem tiques transitórios e crônicos. A Tourette era considerada uma síndrome rara que na maior parte das vezes é associada à vocalização de termos obscenos ou afirmações depreciativas e socialmente impróprias (coprolalia), embora este sintoma se manifeste apenas numa pequena minoria de pessoas com a doença. A Tourette já não é considerada uma condição rara, embora nem sempre seja corretamente identificada, uma vez que a maior parte dos casos são moderados e a gravidade dos tiques diminui à medida que a pessoa atravessa a adolescência. Estima- se que entre 0,4 e 3,8% das crianças entre os 5 e 18 anos possam ter Tourette. A prevalência de outros transtornos devido a tiques nas crianças em idade escolar é maior, sendo os mais comuns piscar os olhos, tossir, limpar a garganta, fungar e determinados movimentos faciais. Os casos graves em adultos são raros. A Tourette não afeta a inteligência ou a esperança de vida. 12 Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade Perturbação de hiperatividade com défice de atenção (PHDA) (português europeu) ou transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) (português brasileiro) é uma perturbação do neurodesenvolvimento caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade inconsistentes com a idade da pessoa. Os critérios de diagnóstico requerem que os sintomas se comecem a manifestar antes dos doze anos de idade, que estejam presentes durante mais de seis meses e que causem problemas em pelo menos dois cenários diferentes, como na escola e em casa, por exemplo. Em crianças, a desatenção é muitas vezes a causa de maus resultados escolares. Embora cause dificuldades, sobretudo na sociedade contemporânea, muitas crianças com PHDA ou TDAH conseguem-se concentrar em tarefas que consideram interessantes. A disfunção executiva no autismo é evidente em comportamentos perseverantes comuns, como uma forte preferência pela mesmice, rituais elaborados e maneirismos motorizados repetitivos. O Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST)5 é uma tarefa de flexibilidade cognitiva comumente empregada, onde o sujeito deve classificar os cartões de acordo com um conjunto de regras que mudam periodicamente. Os sujeitos autistas mostraram um aumento do número de erros persistentes nesta tarefa. Uma medida típica de planejamento é a tarefa da Teste Torre de Londres6, onde os sujeitos devem mover os discos de uma sequência definida para diferentes pinos nos poucos movimentos possíveis. Novamente, o desempenho prejudicado foi visto em crianças com autismo. Nas tarefas de memória de trabalho, houve resultados mistos, possivelmente atribuíveis à dificuldade em dissociar a memória de trabalho de outras funções executivas. Um estudo, no entanto, descobriu que o desempenho estava inversamente relacionado à dificuldade da tarefa, sugerindo que os déficits de memória de trabalho são resultado das demandas na organização e integração de informações. A evidência de neuroimagem também fornece evidências de disfunção executiva de achados que mostram anomalias corticais frontais. Embora a evidência anedótica e clínica sugira disfunção executiva para explicar com precisão o fenótipo cognitivo do autismo, surgem problemas, pois é um fenômeno não unitário. Há um grande número de processos abrangidos pelo termo e nenhum consenso geral sobre qual das funções executivas são afetadas no autismo. No entanto, dada a evidência até agora, mais estudos que podem dissociar os efeitos de diferentes funções executivas podem esclarecer o debate. 5 O Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST) é um instrumento bastante relevante na avaliação neuropsicológica, considerado internacionalmente como padrão de referência para exame das Funções Executivas do cérebro, amplamente reconhecido a partir de 1993. 6 O Teste Torre de Londres (TOL) avalia a capacidade de decisão estratégica e de resolução de problemas em crianças de 4 a 13 anos. Baseia-se na utilização de um instrumento (incluso na caixa) que é constituído por três cavilhas de comprimentos diferentes, em que são amarrados três bolas (uma vermelha, uma verde e azul): a pessoa deve mover estas bolinhas em um determinado número de movimentos de modo a obter a configuração indicada pelo examinador. 13 Coerência Central Outra teoria cognitiva é a noção de fraca coerência central (WCC, do inglês Weak Central Coherence) ou simplesmente Coerência Central, na língua portuguesa, um termo referente a uma diminuição da capacidade no processamento global e uma habilidade aprimorada no processamento de detalhes locais. Este padrão de habilidade se reflete na apresentação clínica do autismo, bem como em estudos que mostram indivíduos autistas para ter desempenho superior em tarefas perceptivas que requerem atenção aos detalhes, como no design de blocos e pesquisa visual. A falta da tendência natural em juntar partes de informações para formar um 'todo' provido de significado (Coerência Central) é uma das características mais marcantes no autismo. Embora a principal fonte de evidências experimentais dessa teoria seja derivada de tarefas visuo-espaciais, como no caso de ToM, as dificuldades sociais podem resultar da inatenção precoce de estímulos socialmente relevantes. No entanto, uma combinação de desatenção, bem como a incapacidade de integrar adequadamente estímulos sociais em um contexto significativo, pode explicar melhor o comportamento social. Uma vez que os indivíduos autistas demonstraram que não são completamente desatentos para os estímulos sociais, ainda apresentam diferenças qualitativas nos estudos de neuroimagem funcional do processamento facial, é provável que a Coerência Central seja uma disfunção de nível superior que afete características sociais e não-sociais do autismo . Ao aplicar a Coerência Central ao perfil autista, áreas específicas de talento e interesses especiais podem ser atribuídas a um foco intenso e estreito, às vezes levando a dificuldades de atenção ou, por outro lado, a um alto nível de competência em uma tarefa ou hobby. Artigos de Happé7 exploram ideias semelhantes ainda mais na caracterização do autismo como um estilo cognitivo, ao invés de um déficit, com uma atenção crescente total aos detalhes. Em estudo de Ring e colaboradores (19998), os indivíduos autistas mostraram maior ativação em áreas occipito-temporais9 ventrais e diminuição da ativação em áreas corticais pré-frontais, sugerindo aumento do processamento no nível sensorial e diminuição do processamento das funções executivas mediadas pelo córtex pré-frontal necessário para holística integração de estímulos sensoriais. Embora a evidência sugira que a Coerência 7 HAPPE, F. Autism: cognitive deficit or cognitive style? Trends Cogn Sci, v. 3, n. 6, p. 216- 222, 1999. HAPPE, F., et al. 'Theory of mind' in the brain. Evidence from a PET scan study of Asperger syndrome. Neuroreport, v. 8, n. 1, p. 197-201, 1996. 8 RING, H.A., et al. Cerebral correlates of preserved cognitive skills in autism: a functional MRI studyof embedded figures task performance. Brain, v. 122, n. Pt 7, p. 1305-1315, 1999. 9 Os lobos temporais estão localizados na zona por cima das orelhas, tendo como principal função processar os estímulos auditivos. Os sons produzem-se quando a área bocasiva é estimulada. Tal como nos lobos occipitais, é uma área de associação - área auditiva secundária - que recebe os dados e que, em interação com outras zonas do cérebro, lhes atribui um significado permitindo-nos reconhecer o que ouvimos. Curiosidade: É na zona onde convergem os lobos occipital, temporal e parietal que se localiza a área de Wernicke, que desempenha um papel muito importante na produção do discurso. É esta área que nos permite compreender o que os outros dizem e que nos faculta a possibilidade de organizarmos as palavras em frases sintaticamente corretas. 14 Central possa explicar uma variedade de características no autismo, ainda são necessários estudos adicionais para investigar seus correlatos neurais. Teoria do cérebro masculino extremo Primeiro, informalmente observado por Hans Asperger em seu artigo original, uma teoria proposta por Baron-Cohen10 é a noção de que o autismo pode ser uma manifestação extrema de um perfil cognitivo sexualmente diferente, mais frequentemente visto em homens. Embora exista uma controvérsia notável sobre essa teoria a partir de seus estereótipos de gênero destacados, existem evidências comportamentais de suporte consideráveis. Os exemplos incluem o aumento do desempenho que favorece as mulheres nas tarefas ToM, níveis de contato visual, desenvolvimento de linguagem, comunicação pragmática e várias outras tarefas, principalmente com base em medidas sociais e comunicativas. O suporte biológico inclui níveis aumentados de testosterona em crianças autistas de 6 a 10 anos e o dimorfismo sexual de diminuição da relação de 2º para 4º dígito em homens, e foi correlacionado com os níveis de testosterona fetal. Neuroanatomia Volume total de cérebro Um dos achados estruturais mais consistentes no autismo é a alta incidência de macrocefalia. Embora a macrocefalia possa ocorrer por várias razões, incluindo ampliação do espaço subaracnóideo benigno, hidrocefalia ou hematoma subdural, tais patologias não contribuem desproporcionalmente para a macrocefalia no autismo, mas sim um aumento no volume cerebral total (VTC). Aumento do tamanho do cérebro no autismo Conforme as pesquisadoras Flora M. Vaccarino e Karen Müller Smith (200911) da Universidade de Yale (EUA), a última década testemunhou uma explosão de pesquisas sobre as origens neurológicas dos transtornos do espectro autista (ASD). Os estudos de ressonância magnética (MRI) apoiam a hipótese de que o aumento do tamanho do cérebro (BS, do inglês Brain Size) é a causa subjacente da macrocefalia, que se desenvolve em aproximadamente 20% dos pacientes nos dois primeiros anos de vida. Em comparação com pessoas controles com desenvolvimento típico ou indivíduos não autistas com atraso mental, indivíduos com TEA têm um aumento de 5-10% no volume cerebral total aos 18 meses-4 anos de idade. O BS aumentado foi atribuído a um aumento nos volumes de matéria cinza e branca. As diferenças na BS e na circunferência da cabeça aparecem mais robustas na primeira infância. Se o aumento do cérebro persiste no TEA após os 5 anos não é claro, embora vários estudos tenham relatado um aumento de 6-12% no volume de matéria cinza em adolescentes e adultos com TEA. Embora existam muitas perguntas sem resposta sobre como as perturbações 10 BARON-COHEN, S. The extreme male brain theory of autismo. TRENDS in Cognitive Sciences, v. 6, n.6, p. 248-254, 2002. 11 VACCARINO, F. M.; SMITH, K. M. Increased brain size in autism—what it will take to solve a mystery. Biol Psychiatry, v. 66, n. 4, p. 313–315, 2009. 15 neuroanatômicas observadas no TEA conduzem às manifestações cognitivas e comportamentais dessas doenças, está se tornando cada vez mais claro que a trajetória alterada do desenvolvimento do cérebro no TEA é provavelmente o biomarcador mais confiável neste transtorno( Circunferência da cabeça e tamanho do cérebro na desordem do espectro do autismo Sacco e colaboradores (2015), em artigo intitulado “Head circumference and brain size in autism spectrum disorder: A systematic review and meta-analysis” (Circunferência da cabeça e tamanho do cérebro no transtorno do espectro do autismo: uma revisão sistemática e meta- análise) afirmaram que a macrocefalia e o crescimento excessivo do cérebro foram associados à desordem do espectro autista. Realizamos uma revisão sistemática e meta-análise para fornecer uma estimativa geral do tamanho do efeito e significância estatística tanto para a circunferência da cabeça quanto para o volume total de cérebro no autismo. Nossa estratégia de pesquisa de literatura identificou 261 e 391 registros, respectivamente; 27 estudos que definem porcentagens de pacientes macrocefálicos e 44 estudos estruturais de imagem cerebral fornecendo volumes cerebrais totais para pacientes e controles foram incluídos em nossas meta-análises. A circunferência da cabeça foi significativamente maior em indivíduos autistas em comparação com controles, com 822/5225 (15,7%) indivíduos autistas que apresentam macrocefalia. Estudos estruturais de imagens cerebrais que medem o volume de volume estimado do volume cerebral. O tamanho do efeito é maior em autistas de baixo funcionamento em comparação com indivíduos de alto funcionamento e ASD. O crescimento excessivo do cérebro foi registrado em 142/1558 (9,1%) pacientes autistas. Finalmente, encontramos uma interação significativa entre a idade e o volume cerebral total, resultando em maior circunferência da cabeça e tamanho do cérebro durante a primeira infância. Nossos resultados fornecem tamanhos de efeitos conclusivos e taxas de prevalência de macrocefalia e sobrecrescimento cerebral no autismo, confirmam a variação do crescimento anormal do cérebro com a idade e apoiam a inclusão desse endofenotipo em painéis de diagnóstico multi- biomarcadores para clínicos. Autismo e cognição social Fruto de tradições filosóficas elementaristas e, sobretudo, das teorias cognitivas do processamento da informação, o estudo da cognição humana em geral, e da cognição social em particular, tem adoptado uma abordagem mais microscópica, elementar, individual e simbólica da cognição tentando isolar os seus componentes mais básicos de forma a compreender processos cognitivos mais complexos. Mais recentemente, a natureza algo simplificadora e localizacionista da abordagem das neurociências cognitivas parece contribuir novamente para este elementarismo descontextualizado. Por outro lado, abordagens recentes defendem que o fluxo de informação entre a mente e o mundo é tão denso e contínuo que no estudo da natureza da atividade cognitiva a mente não constitui, por si só, uma unidade de análise com significado (Garrido e colaboradores, 2011). Cognição Social emergiu em meados dos anos 70 como uma abordagem conceptual genérica com o objetivo de compreender e explicar como é que as pessoas se percebem a si próprias e aos outros, e como é que essas percepções permitem explicar, prever e orientar o comportamento social. 16 Assentada na vasta tradição teórica e de investigação da psicologia social, e revigorada pela integração de ideias e metodologias da psicologia cognitiva, a abordagem da cognição social introduziu valiosos contributos para a compreensão de muitas das questões e problemas clássicos da psicologia social, empenhando-se igualmente em áreas ainda não exploradas de investigação. Em 2013, pesquisadores da Universidade René Descartes de Paris12, França, publicaram um estudo intitulado Autism, social cognition and superior temporal sulcus (Autismo, cognição social e sulco temporal superior), onde afirmaram que Estudos deimagem cerebral desenvolvidos durante a última década levaram a uma melhor compreensão dos circuitos neurais envolvidos na cognição social. Ao identificar regiões cerebrais envolvidas na percepção social, esses estudos também permitiram uma melhor compreensão dos circuitos neurais envolvidos em distúrbios do espectro autista (TEA). Os resultados em estudos de imagem cerebral, dos pesquisadores franceses, levaram a uma melhor compreensão dos circuitos neurais envolvidos na cognição social e sua implicação em distúrbios do espectro autista (ASD). Demonstrou-se que o sulco temporal superior (STS) é altamente implicado nos processos sociais, da percepção de informações socialmente relevantes, como movimentos corporais ou olhos, a processos de cognição social mais complexos. Além disso, vários resultados de imagens cerebrais multimodais apontam anormalidades anatomo-funcionais no TEA em crianças e adultos. Estes resultados são altamente consistentes com deficiências sociais no TEA, entre as quais a percepção do olhar do olho é particularmente relevante. As anormalidades do olhar agora podem ser medidas objetivamente usando a metodologia de rastreamento ocular, levando a uma melhor caracterização das deficiências de percepção social no autismo. Além disso, essas alterações anormais foram associadas a anormalidades no TEA. Com base nesses resultados, nossa hipótese é que as anomalias anatomo-funcionais no TEA que 12 ZILBOVICIUS, M. ; SAITOVITCH, A.; POPA, T.; RECHTMAN, E.; DIAMANDIS, L.; CHABANE, N.; BRUNELLE, F.; SAMSON, Y.; BODDAERT, N. Autism, social cognition and superior temporal sulcus. Open Journal of Psychiatry, v.3, p. 46-55, 2013. 17 ocorrem cedo através do desenvolvimento do cérebro podem constituir o primeiro passo na cascata de disfunção neural subjacente ao autismo. 18 Conclusões As pesquisas desenvolvidas ao longo da última década ajudaram a caracterizar melhor os principais prejuízos na cognição social que consistem na principal característica do autismo. No nível comportamental, graças a novas metodologias, temos uma melhor compreensão de como os sujeitos autistas percebem o mundo que os rodeia. Para saber mais FIOCRUZ. Síndrome de Williams http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/sindrome-willians.htm Acesso em 07 fev. 2018. GARRIDO, M. V.; AZEVEDO, C.; PALMA, T. Cognição Social: fundamentos, formulações actuais e perspectivas futuras. Psicologia, v. XXV, n. 1, pp. 113- 157, 2011. KOYAMA, A. A Review on the Cognitive Neuroscience of Autism. https://link.springer.com/article/10.1007/BF03379555 Acesso em 08 fev. 2018. SACCO, R; GABRIELE, S.; PERSICO, A. M. Head circumference and brain size in autism spectrum disorder: A systematic review and meta-analysis. Psychiatry Res., v. 234, n. 2, p. 239-251, 2015. FACEBOOK. NEUROPSICOPEDAGOGIA HOJE. https://www.facebook.com/neuropsicopedagogiahoje/ 19
Compartilhar