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Breve percurso histórico da linguística 
 
Antiguidade Clássica até a Gramática de Port-Royal 
 
O primeiro passo que inicia o percurso, mesmo que breve, da história da linguística não começa na 
sua emancipação enquanto ciência no início do século XX a partir de Ferdinand de Saussure. Na 
verdade, desde muito tempo atrás, o ser humano já se indagava acerca da natureza da linguagem. 
 
Assim, de acordo, com Lyons (2008) e Mattoso Câmara Jr. (1975), um dos principais marcos das 
primeiras investigações sobre a linguagem pode ser encontrada na obra “Crátilo”, de Platão. Nela, 
escrita a partir dos famosos diálogos platônicos, o filósofo apresenta uma discussão entre dois 
pensadores: Crátilo e Hermôgenes. 
 
Basicamente, o primeiro argumentava que as coisas possuem um nome natural, ao passo que o 
segundo defendia que isso não passava de uma convenção, por um acordo prévio (PLATÃO, 1973). 
Todavia, essas abordagens eram mais de cunho filosófico e metafísico. 
 
Essa abordagem filosófica impulsionou, na época, um estudo o qual se objetiva “[...] estabelecer uma 
relação entre linguagem e lógica, buscando sistematizar, através da observação das formas 
linguísticas, as leis de elaboração do raciocínio” (CUNHA, COSTA, MARTELOTTA, 2010, p. 25). 
 
Os gramáticos tradicionais se preocuparam mais ou menos exclusivamente com a linguagem literária, 
padrão; e tendiam a desconsiderar ou a condenar como “incorreto” o emprego de formas não 
consagradas ou coloquiais, tanto no falar como no escrever. Com frequência, deixavam de 
compreender que a linguagem padrão é, de um ponto de vista histórico, tão somente o dialeto regional 
ou social que adquiriu projeção, tornando-se o instrumento da administração, da educação e da 
literatura. 
 
Assim, os estudos sobre a linguagem, por um bom tempo, ficaram praticamente centrados na 
formulação das gramaticais, principalmente, as de caráter normativo. 
 
Ao você ler normativo, associe-o com norma, ou seja, considerar um modo de se falar uma língua 
como paradigma, algo valorizado, correto e que deve ser seguido pelos usuários de um idioma. 
 
Da antiguidade até a Idade Média, a maioria dos estudos gramaticais giravam em torno das línguas 
latinas e grega. Já na transição do medievo para a época moderna, começou o período da formação 
das nações europeias. Em virtude disso, as línguas nacionais também passaram a ser estudadas: 
 
No Renascimento, começaram a surgir gramáticas das línguas vernáculas (Gramática de la lengua 
castellana, de Antonio de Nebrija, 1492; Gramática da linguagem portuguesa, de Fernão de Oliveira, 
1536; a gramática de João de Barros, 1540), mas fortemente inspiradas nas gramáticas clássicas de 
até então (AZEVEDO, apud SPERANÇACRISCUOLO, 2014, p. 20). 
 
Porém, em 1660, foi elaborada uma gramática a qual se diferenciou das anteriores. Com base no 
racionalismo francês e nas pesquisas de René Descartes, surgiu a Gramática de PortRoyal 
(Grammaire générale et raisonnée de Port-Royal). 
 
Escrita por Antoine Arnauld e Claude Lancelot, essa gramática 
 
[...] representa um corte epistemológico e uma ruptura com o modelo latino. Surge como resposta às 
insatisfações com a gramática formal do Renascimento. Inicia-se a busca do rigor científico, na 
ruptura com o método das gramáticas anteriores (RANAURO, 2003, p. 253). 
 
Isto é, em vez de se buscar analisar e estruturar uma forma ideal de se manifestar uma língua, esse 
estudo teoriza os princípios e normas ideais que regem todas as línguas, bem como explicar a 
associação entre linguagem e pensamento do ser humano, porém com uma postura científica ainda 
incipiente. 
 
Portanto, nesta primeira fase, os estudos sobre a linguagem, mas ainda não linguísticos, enfocaram o 
aspecto gramatical das línguas, objetivando descrever e apregoar as regras e normas de uma forma 
de se falar e de escrever uma língua. 
 
Aproveitando esse momento, convidamos você a refletir sobre uma questão: será que os estudos da 
gramática tradicional ainda existem nos dias de hoje? Se sim, são do mesmo jeito, ou apresentam 
formas diferentes? 
 
O Comparativismo Histórico 
 
Até a gramática de Port-Royal no século XVII, os estudos da linguagem praticamente eram centrados 
nas formulações de gramáticas. Porém, gradativamente, houve uma mudança desse paradigma, 
porque, a partir do século XVIII, passou-se a estudar a evolução delas. 
 
Em 1768, Sir Willians Jones apresentou à Sociedade Asiática de Bengali um discurso denominado 
“On Hindus”, o qual era baseado em seus estudos sobre o sânscrito (LYONS, 2008). 
 
Sânscrito é uma língua da região do Nepal e da Índia, além de ser empregada nos textos sagrados 
hindus. 
A partir de seu discurso, Jones mostrou na época uma série de similaridades entre as línguas antigas, 
no caso, o latim, o grego, o persa e o próprio sânscrito. Tal descoberta não só trouxe um alvoroço na 
época por comprovar que existia um parentesco entre idiomas de diferentes continentes, como 
também revolucionou a maneira de se estudar as línguas e, por sua vez, os estudos da linguagem da 
época. 
 
De um modo geral, a pesquisa de Jones era baseada na observação de palavras de diferentes línguas 
a partir do seu nível fonético e morfológico, a fim de identificar semelhanças e diferenças ocorridas 
ao longo do tempo. 
 
Em outras palavras, a pesquisa dele foi feita por meio de um método comparativo-histórico. 
 
Na visão de Weendwood (2002, p. 103), 
Concorda-se em geral que a mais extraordinária façanha dos estudos linguísticos do século XIX foi 
o desenvolvimento do método comparativo, que resultou num conjunto de princípios pelos quais as 
línguas poderiam ser sistematicamente comparadas no tocante a seus sistemas fonéticos, estrutura 
gramatical e vocabulário, de modo a demonstrar que eram “genealogicamente” aparentadas. 
 
Aproveitando ainda a fala de Weendwood (2002), queremos destacar outros desdobramentos 
causados pelo surgimento do método comparativo-histórico. Um deles é de que foi constatado que as 
línguas mudam de fato ao longo do tempo de modo sistemático e também geográfico, 
independentemente dos seres humanos que as falam. 
 
Além disso, essas, por mudarem constantemente, tinham um caráter orgânico, característica advinda 
das influências do darwinismo da época. Outra consequência é a de pesquisadores da época se 
empenharem em procurar a chamada “proto-língua”, ou seja, a língua mãe a qual originou todas. 
 
Um exemplo desse tipo de investigação linguística pode ser encontrado em Lyons (2008, p. 145): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura - Exemplo de estudo linguístico a partir do método comparativo-histórico. | Fonte: Lyons 
(2008, p. 145). 
Somado a isso, existiram outros pesquisadores de destaque na época os quais eram adeptos do método 
comparativo-histórico, como Friedrich Schlegel, August Schlegel, Ramus Rask, J. Adelung, Wilhelm 
Von Humboldt, August Schleicher, Hermann Steinthal. 
 
Por conseguinte, nesta segunda fase, os estudos da linguagem passaram a ter uma natureza filológica, 
ou seja, estudar o desenvolvimento de um idioma baseado em documentos históricos. 
 
Os Neogramáticos 
 
Já no final do século XIX, hegemonia dos estudos comparativos-históricos nos estudos linguísticos 
encontrou o seu auge. Todavia, isso começou a mudar, principalmente, com o surgimento dos 
Neogramáticos. 
 
Nas universidades alemãs, vários estudos sobre os idiomas germânicos e escandinavos começaram a 
aparecer, porém, diferentemente dos comparativistas - históricos, esses pesquisadores olhavam os 
idiomas fazendo um recorte temporal presente, isto é, as “línguas vivas atuais” (FARACO, 2005, p. 
140), e não mais a partir da sua evolução. 
 
Somado a isso, esses também começaram a incluir fatores individuais dos falantes, a fim de observar 
quais são os aspectos que regulam as alterações nas línguas. Aliás, de todos os níveis de uma língua, 
o fonético é o maissensível e que mais evidencia as mudanças em um idioma. Em virtude disso, os 
pesquisadores neogramáticos pesquisaram mais os aspectos sonoros do que os sintáticos, 
morfológicos etc. 
 
Acerca disso, Melo e Pimentel ( 2018, p. 500) afirmam que diferentemente dos estudos anteriores 
que buscavam chegar a uma língua comum, gênese das demais línguas, chamada de indo-europeia, 
os estudos neogramáticos buscavam dar ênfase nas línguas vivas e à investigação que ocasionam as 
mudanças. Fazendo correspondências sistemáticas entre as línguas para seus estudos. 
 
Essa mudança de perspectiva trouxe uma visão distinta em relação aos comparativistas-históricos, 
conforme Faraco (2005, p. 141) atesta: 
 
A linguística anterior, como ninguém pode negar, aproximava-se de seu objeto de investigação , as 
línguas indo-europeias, sem ter previamente construído uma ideia clara de como a linguagem humana 
realmente vive e se desenvolve, que fatores operando em conjunto causam a progressão e a mudança 
da substância da fala. 
 
Um dos principais marcos dos neogramáticos é a publicação do livro “As investigações morfológicas” 
(Morphologischen Untersuchungen), de Hermann Osthoff e Karl Brugmann, em 1879. 
 
Além de Osthoff e Brugmann, existiram outros pesquisadores neogramáticos de destaque, como 
Theodor Wilhelm Braune, Hermann Paul, Berthold Delbrück e Karl Verner. 
 
Então, após um longo período referente aos estudos sobre a linguagem, os neogramáticos foram o 
último elemento que pavimentou a estrada que levou à Linguística a se tornar a ciência que estuda a 
linguagem, principalmente, através de Ferdinand de Saussure. 
 
Saussure e o Estruturalismo 
 
A linguística somente passou a ser uma ciência a partir de Ferdinand de Saussure, o qual recebeu a 
alcunha de pai da linguística moderna. Nascido em meados do séc. XIX em Genebra na Suíça, 
Saussure estudou física e química, mas também tinha uma formação humanística considerável, a qual 
o levou a se dedicar a diversas línguas, como o grego, latim e o sânscrito. Inclusive, o seu doutorado 
defendido na Universidade de Leipzig na Alemanha estava relacionado com o genitivo sânscrito. 
 
Já no início do século XX, o mestre genebrino passou a dar aula de filologia na Universidade de 
Genebra. Em 1907, começou a ministrar temas sobre o que ele chamou de linguística geral, sendo 
que elas renderam ao pesquisador dois discípulos: Charles Bally e Albert Sechehauge. 
 
Infelizmente, de maneira precoce, Saussure morre aos 56 anos. Contudo, a partir das anotações de 
seus dois discípulos referentes às aulas de seu antigo professor, esses publicam a obra póstuma 
denominada “Curso de Linguística Geral” (Cours de Linguistique Générale). 
Desta forma, um dos importantes desdobramentos que a publicação do Curso trouxe foi de oficializar 
a linguística como ciência da linguagem, essencialmente, por meio da definição de dois elementos: o 
objeto de estudo e um método de pesquisa relacionado ao primeiro. 
 
Na visão de Saussure, o objeto de estudo do linguista é a língua (langue), uma parte essencial da 
linguagem pela qual os seres humanos interagem uns com os outros. Portanto, é papel do linguista, 
segundo o mestre genebrino, de entender e descrever os [...] elementos coesos, inter-relacionados, 
que funcionam a partir de um conjunto de regras, [que constituem] uma organização, um sistema, 
uma estrutura (COSTA, 2012, p. 114). 
 
Por causa disso, a primeira teoria da linguística enquanto ciência foi denominada Estruturalismo. 
 
Assim, com a delimitação da língua como objeto de estudo, Saussure também (2012) definiu uma 
série de pressupostos teórico-metodológicos voltados à análise desse sistema - mais adiante, vamos 
nos aprofundar acerca disso. 
 
Nesse viés, é interessante destacar outras diferenças que a linguística a partir de Saussuere passou a 
ter em relação aos estudos da linguagem anteriores a ele. Inicialmente, os estudos pré-Saussure 
estavam vinculados e subjulgados diretamente a outras áreas do saber, como a Filosofia, a Filologia, 
a História etc. Por causa disso, os estudos sobre a linguagem não possuíam um objeto e um aporte 
teórico-metodológico próprio, estando, assim, em função de objetivos e de maneiras distintas de se 
pesquisar o que se pretendia. 
 
Em relação às diferenças entre os estudos sobre a linguagem e a linguística moderna, podemos 
apontar alguns exemplos disso. 
 
Durante a Grécia Antiga até a Era Moderna, período no qual as gramáticas eram muito estudadas, a 
meta era sistematizar as regras que regem uma língua e definir uma melhor forma de se falar/escrever 
tal idioma, diferentemente da proposta de Saussure que era analisar, compreender e descrever como 
o sistema de uma língua se comporta. 
 
Já no que diz respeito ao Comparativismo-Histórico, esse grupo tinha uma natureza filológica e 
privilegiavam a evolução históricas das línguas. Já a linguística do mestre genebrino propunha estudar 
a língua enquanto sistema, descartando esse olhar temporal. 
 
Principais teorias linguísticas 
Um dos principais motivos deste tópico estar no plural e não no singular se deve ao termo de Borges 
Neto (2004): a pluralidade teórica linguística. Segundo o autor, a linguagem é tão complexa e 
multifacetada, que uma teoria não dá conta de abarcar todos os fenômenos linguísticos. 
 
Essa característica, porém, não faz a linguística uma área do conhecimento inferior, ou deficitária. Na 
verdade, segundo Cabral (2014, p. 88), “[...] isso é importante na medida em que dá ao pesquisador 
a liberdade de escolher seu objeto teórico – e favorece, também, o desenvolvimento da área”. 
 
Pode-se afirmar que essa pluralidade começou depois da publicação do Curso de Linguística Geral. 
Ou seja, após o estabelecimento da linguística enquanto ciência, Segundo Wilson (2012), dois grandes 
polos de pesquisas linguísticas surgiram a partir da obra: O polo formalista e o funcionalista. 
 
O polo formalista deu ênfase à língua enquanto sistema, perpetuando e aprofundando os estudos 
saussurianos, como é o caso do Gerativismo. Já o polo funcionalista privilegiou a língua em uso, 
quando ela é aplicada em situações reais de comunicação. Alguns exemplos disso são a 
Sociolinguística, a Linguística Textual e a Pragmática. 
 
Logo, considerando essa fala inicial, vamos discutir neste tópico as principais teorias linguísticas em 
voga não só no Brasil, mas também no mundo, apontando suas características básicas e pesquisadores 
de destaque. 
 
Gerativismo 
 
O Gerativismo é o ramo da linguística a qual objetiva explicar a maneira pela qual o ser humano, a 
partir de um conjunto de regras internalizadas em sua mente, consegue criar inúmeras sentenças e 
enunciados. 
 
Ele surgiu, a fim de contestar o Estruturalismo saussureano, o Distribucionalismo de Bloomfield e do 
Behaviorismo de Skinner. 
 
Logo, se você encontrar temas, como competência e desempenho linguístico, gramática gerativa, 
Dispositivo de Aquisição de Linguagem, princípios e parâmetros, esses fazem parte do interesse do 
Gerativismo. 
 
O cerne dessa teoria linguística está intrinsecamente associada ao seu fundador: Noam Chomsky. Em 
1957, quando lecionava no MIT nos EUA, Chomsky publicou o livro “Estruturas Sintáticas” 
(Syntactic Structures). 
 
Para Chomsky (1972), todos os seres humanos falam e entendem uma língua, pois existe um 
dispositivo inato presente em nossa mente, a faculdade da linguagem. Assim, todos nós temos 
internalizados em nossos cérebros um conjunto de regras e de normas as quais utilizamos para 
construir e gerar infinitas frases e sentenças. Por isso que é denominado Gerativismo. 
 
Esse posicionamento de que a linguagem humana possui um caráter natural, na visão gerativista, pode 
parecer inconsistente, porém, conforme Kenedy (2010, p. 129) nos mostra, 
 
[...] excluindo-se os casos patológicos graves, todos os indivíduos humanos, de todas as raças , em 
qualquercondição social, em todas as regiões do planeta e em todos os tempos da história foram e 
são capazes de manifestar, ao cabo de alguns anos de vida e sem receber instrução explícita para tanto, 
uma competência linguística - a capacidade natural e inconsciente de produzir e entender frases. 
 
Logo, devido a isso, Chomsky (1972) notou que existe um caráter universal da linguagem humana, a 
qual é regida por uma Gramática Universal (GU). Desta forma, com o intuito de descrever a GU, foi 
desenvolvido duas outras teorias, as chamadas Princípios e Parâmetros. Na visão de Kenedy (2010, 
p. 135), 
 
As pesquisas da teoria de princípios e parâmetros foram e são desenvolvidas sobretudo na área da 
sintaxe, pois é exatamente nas estruturas sintáticas que mais evidentemente se percebem as grandes 
semelhanças entre todas as línguas do mundo, mesmo entre aquelas que não possuem nenhum 
parentesco. 
 
Como bem atestou Kenedy (2010), em virtude dessa preocupação de investigar tais conjuntos de 
normas e regras de caráter universal, o Gerativismo acabou privilegiando o nível sintática da língua, 
pois é a partir dela que as diversas combinações entre palavras, frases, orações etc. são feitas, bem 
como os aspectos universais das línguas. Por sua vez, essa postura teórico-metodológica acabou não 
considerando elementos extralinguísticos, muito menos a heterogeneidade dos idiomas. 
 
A Sociolinguística 
 
A Sociolinguística é o ramo da linguística que estuda a língua inseridas nas comunidades de fala, 
associando aspectos formais (elementos da própria língua) com fatores externos a ela (elementos 
sociais). Ela foi fruto das contribuições teóricas de Ferdinand de Saussure (Dicotomia Língua x Fala), 
de Antoine Meillet (Língua como fato social) e Bakhtin (Língua possui natureza ideológica). 
 
Assim, ao você se deparar com os termos variação linguística, comunidades linguísticas, preconceito 
linguístico, contato linguístico, políticas linguísticas, fatalmente estarão relacionadas com esta área 
da linguística. 
 
O principal nome da Sociolinguística é William Labov. 
 
A grande contribuição de Labov é que, além de praticamente fundar a Sociolinguística, ele propôs 
uma mudança de perspectiva das estruturas das línguas, principalmente, observando a questão da 
variação linguística. 
 
De acordo com o autor, as línguas não são homogêneas, pois elas são afetadas pelo fenômeno da 
variação, isto é, a existência de duas, ou mais formas de se manifestar uma unidade linguística (seja 
nos mais variados níveis, como o fonético, o morfológico, o sintático etc.) dentro de um mesmo 
idioma, denominada variantes (LABOV, 2008). 
 
Para aprofundar um pouco nessa discussão, sugerimos o vídeo “Variação linguística diversidade de 
usos da língua - não sou burro”. 
 
Assim, no que se refere ao papel da Sociolinguística, Mollica (2008, p. 11) afirma que ela pretende 
 
[...] investigar o grau de estabilidade ou de mutabilidade da variação, diagnosticar as variáveis que 
têm efeito positivo ou negativo sobre a emergência dos usos linguísticos alternativos e prever seu 
comportamento regular e sistemático. 
 
Somado a isso, essa vertente linguística também pode analisar a relação entre uma variante de 
prestígio e outra marginalizada, observando se existem propostas políticas associadas a elas, por 
exemplo, se nos currículos escolares elas são retratadas e ensinadas. 
 
Linguística Textual 
 
A Linguística Textual é a vertente da linguística que estuda o texto, desde a sua concepção até a sua 
compreensão. Ela nasceu nos anos 60 na Europa, principalmente, na Alemanha, em resposta a uma 
série de questionamentos e de limites teóricos do Estruturalismo (ROCHA; SILVA, 2017). 
 
Logo, caso você se esbarre com algum tema envolvendo textualidade, coesão e coerência, 
intertextualidade, anáforas, referenciação, processamento textual, progressão textual, gênero textual, 
produção textual etc., com certeza estarão relacionados com a Linguística Textual. 
 
Conforme falamos anteriormente, o desenvolvimento desse ramo da linguística está associado 
diretamente a estudos que vão além do sistema da língua do Estruturalismo. 
 
Neste contexto, ao falarmos “além do sistema da língua”, associe diretamente a texto, inclusive, 
vamos falar sobre ele mais adiante. 
 
Assim, uma das obras que foi considerada balizar da Linguística Textual é a “Introdução à Linguística 
Textual” (Einführung in die textlinguistik) dos pesquisadores da universidade de Leipzig, Robert 
Beaugrande e Wolfang Dressler. 
 
Uma das contribuições relevantes que os autores deram e que abriram espaço para a Linguística 
Textual está no conceito de texto produzido por eles. Segundo Beaugrande e Dressler (1983), o texto 
é uma unidade de sentido pela qual todos os seres humanos se comunicam, indo além de um 
amontoado de frases e palavras. 
 
Porém, é importante ressaltar que, no caso dos autores anteriores, eles falam em texto no sentido 
estrito, pois, como Fávero (2009, p. 7), 
 
Texto em sentido amplo, designando toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser 
humano (uma música, um filme, uma escultura, um poema, etc.) e, em se tratando de linguagem 
verbal, temos o discurso, atividade comunicativa de um sujeito, numa situação de comunicação dada, 
englobando o conjunto de enunciados produzidos pelo locutor (ou pelo locutor e interlocutor, no caso 
dos diálogos) e o evento de sua enunciação. 
 
Desta forma, independente de sua extensão, seja uma linha, ou a Ilíada, o texto diz respeito mais a 
um fenômeno dinâmico, do que estático, uma vez que isso envolve tanto a produção dele, quanto a 
leitura e interpretação. 
 
Inclusive, nessa perspectiva teórica, o texto se transforma não em um produto, mas sim em um 
processo por meio do qual os seres humanos se comunicam e os sentidos são construídos entre o(s) 
produtor(es) e o(s) leitor(es) do texto. 
 
Pragmática 
 
A Pragmática é a vertente da linguística que pesquisa a língua em uso, envolvendo também a relação 
entre a interação social e os seus interlocutores. 
 
Ela surgiu como desdobramento dos estudos da Filosofia da Linguagem e também em resposta à falta 
de investigações sobre as manifestações individuais da linguagem humana em situações reais nas 
quais essa é empregada (WEEDWOOD, 2002). 
 
Logo, se você entrar em contato com temas como atos de fala, máximas conversacionais, implicatura 
conversacional, pressuposição e subentendido, princípios da comunicação, com certeza estará 
entrando também em contato com a Pragmática. 
 
Essa vertente linguística foi fundada por John Austin, o qual é estudado e revisitado até hoje. 
 
Em 1962 na Inglaterra, Austin publicou o livro “Quando dizer é fazer” (How to Do Things with 
Words), dando início aos estudos pragmáticos. Ademais, a só pelo título da obra, já podemos 
compreender um pouco mais sobre a Pragmática. 
 
Para o autor, comunicar-se é um ato, isto é, os seres humanos, independente de sua origem, não se 
comunicam apenas empregando morfemas, palavras, frases, orações, mas também possuem intenções 
de agir sobre o outro, através do que ele chama de atos de fala (AUSTIN, 1962). 
 
Inclusive, através do desenvolvimento da Pragmática por meio de Austin, Wilson (2008) nos mostra 
que isso foi muito relevante, porque possibilitou que outros fatores pudessem também ser pesquisados 
da linguística, como o papel das convenções sociais, bem como a aplicação desses nos momentos 
comunicativos, as intenções dos interlocutores no momento da fala etc. 
 
Definição e o objeto da linguística 
Lembra-se de que, com a publicação de o Curso de Linguística Geral, a linguística passou a ser uma 
ciência, uma vez que ela passou a ter um método, como também elegeu um objeto de pesquisa próprio, 
no caso, a língua? 
 
Pois bem, neste tópico, vamos discutir acerca do objeto de estudo e, por sua vez, da possível definição 
da linguística enquanto áreado conhecimento. 
 
Em primeiro lugar, vamos nos recordar qual é a definição de Saussure acerca da linguagem. Para ele, 
 
[...] a linguagem é multiforme e heteróclita; um cavaleiro de diferentes domínios, ao mesmo tempo 
física, fisiológica e psíquica, ela pertence além disso ao domínio individual e ao domínio social; não 
se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua 
unidade. (SAUSSURE, 2012, p. 17). 
 
Assim, ela é muito ampla e diversa, atravessando inúmeros aspectos e níveis. Inclusive, vale ressaltar 
que tal afirmação é coerente, uma vez que existe a linguagem musical, a das artes plásticas e visuais 
etc. 
 
Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é somente uma parte 
determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade 
de linguagem e um produto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o 
exercício desta faculdade nos indivíduos (SAUSSURE, 2012, p. 17). 
 
Desta forma, o objeto da linguística é estudar a linguagem humana em seu caráter verbal, isto é, a 
língua. 
 
Esse fato nos leva a uma possível definição da linguística: 
 
A Linguística Pura de Saussure é constituída por todas as manifestações da língua humana, sem 
considerar apenas a linguagem correta, mas sim todas as expressões” (SILVA; CASTRO, 2017, p. 
36). 
 
Dialogando com as pesquisadoras anteriores, Martinet complementa a definição, dizendo que a 
linguística é o estudo científico da linguagem humana. Diz-se que um estudo é científico quando se 
baseia na observação dos fatos e se abstém de propor qualquer escolha entre tais fatos, em nome de 
certos princípios estéticos ou morais. ‘Científico’ opõe-se a ‘prescritivo’. No caso da linguística, 
importa especialmente insistir no caráter científico e não prescritivo do estudo (MARTINET, 1978, 
11). 
 
É por isso que é atribuído a paternidade da linguística enquanto ciência a Saussure e não aos estudos 
sobre a linguagem antes dele, como é o caso das gramáticas gregas e dos neogramáticos, os quais 
buscavam estudar uma língua e prescrever uma forma ideal e tida como correta, muito menos aos 
comparativistas-históricos cujo objetivo era descrever e comparar idiomas ao longo do tempo, mas 
em um viés filológico. 
 
Porém, devemos nos lembrar que a linguística é uma ciência relativamente nova, com pouco mais de 
100 anos. E, desde a sua fundação, o seu objeto de estudo foi se expandindo, à medida que outras 
teorias foram sendo desenvolvidas. 
 
Sobre esse fato, é relevante nos recordarmos da fala de Cabral (2014, p. 88) no que diz respeito à 
pluralidade de teorias linguísticas: 
 
É de suma importância que cada vez mais teorias façam parte da linguística, para que cada recorte 
feito possa ser aprofundado, abdicando do todo, mas detendo-se com atenção especial a sua teoria e 
seu respectivo objeto. 
 
Cada teoria linguística, portanto, acaba criando um novo recorte de pesquisa em relação à vasta e 
plurifacetada linguagem humana. 
 
Aliás, ficou curioso para saber como isso é feito? Então veja os tópicos que virão a seguir: 
 
O objeto de pesquisa do Gerativismo 
 
O Gerativismo, como você viu anteriormente, pesquisa a capacidade humana de gerar e entender uma 
língua a partir do viés inatista, isto é, tirando os casos patológicos, todos nascemos com uma aptidão 
natural de falar uma língua. 
 
Considerando isso, segundo Vitral (1992, p. 69) o Gerativismo, 
 
[...] vai se ocupar, privilegiadamente, da sintaxe das línguas, mas não é a sintaxe das línguas seu 
objeto de estudo. A sintaxe das línguas é apenas um meio para se descrever uma entidade teórica 
chamada de Gramática Universal. Este é o objeto de estudo da Gramática Gerativa. 
 
Com o intuito de detalhar a Gramática Universal, foram desenvolvidos outros dois conceitos, os 
princípios e os parâmetros. Assim, todos esses elementos estão ligados ao objeto de estudo do 
Gerativismo. 
 
A fim de ilustrar melhor tal objeto, vamos empregar o exemplo do termo sintático sujeito. 
 
1. Carlos saiu agora 
2. Charles left new 
 
A sentença (1) é da língua portuguesa e a sentença (2) é da língua inglesa. 
 
A segunda é a tradução da primeira. Contudo, observem que, sintaticamente, ambas são iguais, isto 
é, estão ordenadas a partir do sujeito > verbo> complementos. 
 
Agora, notem o outro exemplo: 
 
3. Gabriela falou que vai se casar 
4. Gabriela said that she is going to get married 
 
Novamente, a sentença (3) é da língua portuguesa e a sentença (4) é da língua inglesa, sendo que a 
segunda é a tradução da primeira. Todavia, notem que a segunda oração na sentença (3) possui o 
sujeito oculto (que vai se casar). 
 
Já em (4), a segunda oração possui sujeito manifestado por meio do pronome “she” (she is going…). 
Isso se deve, porque, na língua inglesa, sempre deve haver a manifestação do sujeito. 
 
Em função disso, segundo a afirmação de Kenedy (2010, p. 137), o “princípio” as propriedades 
gramaticais que são válidas para todas as línguas naturais, ao passo que “parâmetro” deve ser 
compreendido como as possibilidades [...] de variação entre as línguas. 
 
Nesse viés, um princípio das línguas é de que existe o termo sintático “sujeito”, o qual interage com 
o “verbo” e com o “complemento”. Por decorrência disso, o parâmetro é que o sujeito pode não 
aparecer em algumas sentenças do português, mas sempre vai se manifestar no inglês. Logo, tais 
aspectos integram uma parte da Gramática Universal gerativista. 
 
O objeto de pesquisa da Sociolinguística 
 
A Sociolinguística, de acordo como foi exposto anteriormente, é uma teoria linguística a qual pesquisa 
a língua dentro de uma comunidade específica de falantes, analisando os elementos linguísticos e 
sociais e também enfocando nas denominadas variantes. 
 
Desta forma, para Luchessi e Araújo (2016, p. 71), o objeto de estudo da Sociolinguística é os padrões 
de comportamento linguístico observáveis dentro de uma comunidade de fala e os formaliza 
analiticamente através de um sistema heterogêneo, constituído por unidades e regras variáveis. 
 
Considerando isso, vamos te mostrar um exemplo de objeto de pesquisa desse ramo da linguística: 
 
Na língua Portuguesa falada no Brasil, manifestar a palavra que designa a terceira pessoa do discurso 
pode ser feita a partir de mais de uma forma: 
 
Variante 1 - Nós pescamos o peixe. 
 
Variante 2 - A gente pesca o peixe. 
 
Ou ainda. Na língua Portuguesa falada no Brasil, pronunciar a palavra “nós” pode ocorrer de duas 
formas diferentes: 
 
Variante 3 - Nós [n′os] “nós”. 
 
Variante 4 - Nós [ n′oiz] “nóiz”. 
 
Note que a manifestação da unidade linguística “nós” pode ocorrer de duas formas distintas em 
relação ao nível fonético da língua, ou seja, ao som. 
 
Já a manifestação da unidade linguística “terceira pessoa do discurso”, também pode ocorrer de duas 
formas possíveis, ou seja, a partir do “nós” e do “a gente. Esse aspecto, por sua vez, está no nível 
morfológico, ou seja, no nível da palavra. 
 
Nesse viés, o sociolinguista registra essas variantes, no geral, isso é gravado, trata o material, 
contabiliza a frequência disso e observa quais elementos extralinguísticos estão relacionados a tais 
manifestações, ou seja, qual grupo social fala mais uma variante e não outra, qual é a mais bem aceita, 
qual é estigmatizada, qual gênero tal variante é mais recorrente etc. 
 
Aliás, ressaltamos que a sociolinguística não julga qual dessas variantes é a melhor, é a forma ideal a 
ser usada pelos falantes da língua portuguesa, diferentemente da gramática normativa tradicional. 
 
Objeto de pesquisa da Linguística Textual 
 
Relembrando brevemente sobre a Linguística Textual, essa é a vertente da linguística que se ocupa a 
estudar os fenômenos linguísticos associados ao texto, ou seja, os fatores de produção, de recepção e 
de interpretação(FÁVERO; KOCH, 2000, p. 11). 
 
Quer ver um exemplo de objeto de estudo da Linguística Textual? Então veja abaixo: 
 
1. Joana foi à feira. A esposa do Marcos voltou com tomates frescos. 
 
Neste caso, para essa teoria linguística, (1) é um texto, ainda que seja formado por uma linha. Isso se 
deve, porque não importa a sua extensão, mas sim se há uma unidade linguística de sentido completo 
que promove a interação entre os falantes de uma língua. 
 
Sabendo disso, vamos nos aprofundar mais nesse objeto de estudo. No texto (1), existem dois termos 
destacados: “Joana” e “A esposa do Marcos”. Embora sejam termos diferentes, ambos agem de 
maneira articulada e auxiliam no estabelecimento de sentido do texto. 
 
O agir de maneira articulada se deve ao fato de “a esposa do Marcos”, nesse texto, funcionar como 
um sinônimo de “Joana”, uma vez que, na língua portuguesa, “Joana” é uma palavra feminina, bem 
como “a esposa”. 
 
Além disso, é estabelecido um sentido ligado a uma história envolvendo Joana, uma vez que, por 
meio do processamento textual, pode-se inferir que se existe uma narrativa, ou seja, narra-se uma 
sucessão de fatos envolvendo a personagem em questão. Por meio disso, podemos compreender que 
ela, além de ser mulher, é casada com Marcos e possui o hábito de ir à feira de sua cidade. 
 
Vale frisar que o fenômeno textual em questão é denominado correferência essa análise só foi possível, 
porque não ficamos restritos à frase, mas sim a uma unidade maior, o texto. 
 
Objeto de pesquisa da Pragmática 
 
Conforme vimos antes, a Pragmática é uma vertente da linguística cujo objetivo é estudar a língua 
em seu contexto de uso a partir não só dos elementos linguísticos em si, mas também dos elementos 
além desses, como o contexto, as intenções entre os interlocutores etc. Desta forma, o objeto de 
pesquisa está relacionado ao sentido. 
 
Isso pode parecer um pouco abstrato de início, mas te convido a observar o exemplo a seguir. Imagine 
duas situações diferentes. 
 
Antes de irem ao casamento, o marido chega para a mulher e pergunta a ela: “Meu bem, como estou?”. 
Em relação a isso, ela responde a seguinte sentença: “hummm... bonito, hein!”. 
 
Agora, imagine a segunda situação: 
 
Durante uma aplicação de prova na escola, um estudante está colando do outro, mas acaba sendo 
flagrado pela professora, a qual diz o seguinte: “hummm... bonito, hein!”. 
 
Observem que nós temos a mesma sentença. Mas, essa foi empregada diferentemente na situação 1 e 
na 2. Na primeira, há um objetivo de elogio, enquanto que, na segunda, há um objetivo de repreensão 
por meio da ironia. 
 
Se fôssemos analisar apenas no nível da estrutura, ou seja, das palavras, isso não seria possível, uma 
vez que existem elementos extralinguísticos, tais quais o contexto de uso, as intenções dos 
interlocutores, os interlocutores etc. 
 
A linguística e as áreas de investigação e pesquisa 
Neste tópico, veremos as principais áreas de investigação e pesquisa voltados à linguística. Para tal, 
é importante te relembrar das contribuições de Borges Neto (2004) e Cabral (2014) no que tange ao 
pluralismo teórico da linguística. 
 
Segundo os autores, em virtude do caráter complexo que a linguagem possui, foram desenvolvidas 
teorias linguísticas destinadas a estudar uma face dela. Em consequência disso, também foram 
escolhidos objetos de pesquisa específicos para cada linha teórica. 
 
Logo, esses fatores anteriores acabam desenvolvendo também às áreas de pesquisa e de investigação 
linguística, isto é, campos específicos compostos por temas de estudos associados a determinados 
fenômenos da linguagem. 
 
Contudo, é interessante destacar que ao falarmos “área” não entenda como um espaço físico, 
delimitado e fechado, mas sim tal qual um domínio que é se expande, é poroso e que pode ser acessado 
não só por uma, mas também por outras teorias. 
 
Bem, fazendo essas ponderações iniciais, vamos conhecer algumas das principais áreas de pesquisa 
e de investigação linguísticas. 
 
Áreas de pesquisa e de investigação do Gerativismo 
 
Ao se optar pela teoria linguística gerativista, a área de pesquisa e de investigação acabam se voltando 
para temas relacionados à descrição e à compreensão da faculdade da linguagem como uma 
capacidade natural humana. Em função disso, podemos evidenciar alguns exemplos disso, conforme 
veremos a seguir. 
 
Uma área que pode ser estudada com base no Gerativismo diz respeito à aquisição de linguagem, a 
qual pesquisa a maneira como uma pessoa consegue entender uma língua (LORANDI; CRUZ; 
SCHERER, 2011). 
 
Isso se deve, porque, como a teoria gerativista se interessa pela faculdade da linguagem do ponto de 
vista inatista, a maneira pela qual os seres humanos desenvolvem a linguagem é uma questão 
relevante para a área. 
 
Assim, um exemplo disso pode ser encontrado na tese de doutorado de Vicente Cerqueira denominada 
“A sintaxe do possessivo no português brasileiro”. 
 
Essa pesquisa se encontra na área de aquisição de linguagem, porque ela examinou a manifestação 
dos pronomes possessivos da língua portuguesa (“meus” e “seus”) de maneira oral. Segundo o autor, 
basicamente, os possessivos eram encontrados após o substantivo, porém, com o tempo, as crianças 
estudadas começaram a colocar antes daquele, evidenciando uma competência linguística delas 
autônoma (CERQUEIRA, 1999). 
 
Além disso, existe outra área ligada ao Gerativismo que é o ensino de língua portuguesa. Isso pode 
ser visto no artigo “Linguística Gerativa e Gramática na Educação Básica” de Talita da Silva e Eloisa 
Pilati. 
 
Depois de uma revisão bibliográfica dos principais conceitos do Gerativismo aliados aos trabalhos 
acerca da realidade das aulas de língua portuguesa na educação básica, as autoras observaram que os 
pressupostos teóricos dessa teoria linguística podem otimizar as aulas envolvendo o ensino da 
gramática, oferecendo 
 
[...] ao aluno um aprendizado que gera a reflexão e a compreensão da língua e de seus fenômenos, e 
não a memorização de normas que, na maioria das vezes, não trazem sentido algum ao aluno (SILVA; 
PILATI, 2017, p. 62). 
 
Áreas de pesquisa e investigação da Sociolinguística 
 
A Sociolinguística está vinculada à área de pesquisa e de investigação que envolve diretamente as 
línguas e a sociedade, principalmente, em relação ao fenômeno da variação. Sabendo disso, a seguir, 
evidenciaremos algumas dessas que podem ser pesquisados a partir dessa perspectiva teórica. 
 
Inicialmente, uma possível área que pode ser explorada é a denominada políticas linguísticas, isto é, 
o campo que trata da correlação entre línguas e poder à nível de Estado (CALVET, 2007). 
 
Com os estudos sobre variação linguística, foi observado que existem relações de poder entre 
variantes de prestígio e marginalizadas, necessitando, por exemplo, de políticas públicas direcionadas 
à preservação, ou à manutenção dessas, principalmente, no que tange às comunidades sem muita 
expressão política (quilombolas, pomeranos, indígenas etc.). 
 
Assim, uma pesquisa que ilustra isso é o artigo “Projeto Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira”, 
de Karina Thomaz. Nesse trabalho, a autora examina, por meio dos documentos oficiais formulados 
pelo MERCOSUL, que política linguística fundamenta o Projeto “Escolas Interculturais Bilíngues de 
Fronteira”, enfocando instituições de ensino tanto brasileiras, quanto argentinas. 
 
 
Um outro possível tema diz respeito ao Atlas Linguístico. 
 
O Atlas Linguístico é um mapa que evidencia a disposição e distribuição dos falantes de uma língua 
em relação às suas próprias variantes. 
 
Nas palavras de Cardoso e Mota (2012, p. 885), 
 
O Projeto Atlas Linguístico do Brasil (Projeto ALiB) constitui-se na primeira tentativa, em nível 
nacional, de descrição do português brasileiro com base em dados coletados, in loco, nas diversas 
regiões geográficas, a partir dainvestigação em uma rede de pontos que se estende do Oiapoque 
(ponto 001) ao Chuí (ponto 250). Trata-se, portanto, de um projeto que se desenvolve no campo da 
variação linguística. 
 
Inclusive, sobre a importância desse projeto, podemos citar a fala de Paim ( p. 73), o qual diz que 
 
[...] um atlas linguístico pode ser de extrema importância para os estudos da língua, além de 
salvaguardar a memória sociolinguística de um povo (documentação da história da língua), pode ser 
um poderoso instrumento para as políticas linguísticas (principalmente no que tange às políticas de 
ensino), constituindo-se como um tesouro muito valioso para vários ramos da ciência. 
 
Área de pesquisa e investigação da Linguística Textual 
 
De acordo com o que foi exposto antes, a Linguística Textual é a teoria linguística que investiga os 
vários fenômenos ligados ao texto. Acerca disso, vamos apresentar algumas áreas de pesquisa de tal 
vertente. 
 
Uma área que pode ser pesquisada com base nessa teoria é o processamento textual. Relembrando de 
que o texto é uma unidade de comunicação pela qual o sentido é construído, isto é, processado, para 
que isso ocorra, os seres humanos dispõem de uma série de conhecimentos de natureza cognitiva, no 
caso, o linguístico, o enciclopédico e o interacional (FÁVERO; KOCH, 2000). 
 
Logo, um exemplo disso pode ser encontrado no artigo “A linguística de texto e o processamento 
textual de tirinhas no ENEM”, de Dikson e Rocha (2015). 
 
Nele, os autores analisam como ocorre o processamento textual em uma questão do ENEM que 
contém uma história em quadrinho. Após isso, eles concluem que tal processamento textual 
concebido pela Linguística Textual é de extrema importância, uma vez que esclarecem as etapas da 
compreensão e da interpretação de textos, ainda mais se tratando de um ambiente de concurso 
referente ao Exame Nacional do Ensino Médio. 
 
 
Somado ao caso anterior, também existe a área da produção textual, a qual está diretamente ligada 
aos gêneros textuais. 
 
Para Marcuschi (2002), esses são textos os quais possuem uma função social, manifestam-se em 
situações cotidianas de comunicação e apresentam uma série de características de composição 
específica. 
 
Uma pesquisa que ilustra a área da produção a partir dos gêneros textuais é o artigo de Zilda Aquino 
e Gabriela Dioguardi denominado “Aprender a argumentar, argumentando: o gênero tweet no ensino 
de língua materna”. 
 
Os autores analisam, nesse trabalho, o gênero textual digital tweet e descrevem a sua aplicação 
voltada ao ensino da argumentação nas aulas de língua portuguesa. 
 
Na visão delas, os resultados da análise evidenciam que os procedimentos empregados na análise do 
objeto de pesquisa, além de motivarem os alunos em termos da observação de textos que realmente 
circulam nas interações diárias em sociedade, propiciaram a aprendizagem de gêneros da ordem do 
argumentar (AQUINO; DIOGUARDI, 2015, p. 60). 
 
 
Área de pesquisa e investigação da Pragmática 
 
No tópico passado, vimos que a Pragmática é a teoria linguística destinada ao estudo da linguagem 
humana em uso e das intenções dos interlocutores relacionadas a ela dentro de um contexto real 
(WEEDWOOD, 2002). Recapitulando brevemente a sua definição, vamos apresentar algumas áreas 
de pesquisa e de investigação dela. 
 
Dentro da perspectiva teórica da Pragmática, uma área que pode ser estudada diz respeito à própria 
interpretação textual. Isso pode ser observado no artigo de Penha Lins chamado “A Pragmática e a 
Análise de Textos”. 
 
Nele, a autora se propõe a apresentar alguns conceitos dessa linha teórica, como a Relevância, a 
Polidez e as Máximas Conversacionais. Depois disso, ela analisa a maneira pela qual eles podem ser 
aplicado no momento de se interpretar algum texto. 
 
Sobre isso, Lins (2008, p. 175) conclui que em nossas interações do dia-a-dia, existe mais do que uma 
troca de palavras: há uma dança social, e nós, enquanto ouvintes, devemos ficar atentos ao ritmo da 
comunicação. A Pragmática lida com essas mensagens veladas. 
 
 
Além desse caso anterior, outro que podemos citar é a aplicação dessa teoria linguística na área 
publicitária. Isso é visto na dissertação de Reginaldo Moreira denominada “(Des) cortesia linguística 
na nova pragmática e a problemática da intencionalidade nos atos de fala violentos na publicidade 
brasileira; quem é o responsável?”. 
 
O autor examina processos ligados a ações publicitárias que foram alvo de denúncias junto ao 
CONAR a partir dos conceitos de atos de fala descorteses e sem polidez. Segundo as conclusões de 
Moreira (2016, p. 138), 
 
Inferimos que essas campanhas publicitárias ofensivas e desrespeitosas associadas às agências de 
publicidade e propaganda que criam não representam a essência do profissional do publicitário, pois 
seu compromisso primeiro é criar e manter uma imagem positiva do anunciante, não associando a 
marca às experiências negativas, como o desrespeito, a violência linguística e à descortesia no 
discurso publicitário. 
 
 
 
Avaliação On-Line 1 (AOL 1) - Questionário 
Conteúdo do teste 
 
Pergunta 1 
1 ponto 
A Sociolinguística proporcionou novos olhares às línguas naturais, principalmente, devido ao 
conceito de variação proposto por Labov (2008). 
 
Assim, sobre esse conceito, pode-se afirmar que ele representa basicamente: 
 
 
a homogeneização dos idiomas, a fim de se garantir uma unidade; 
a capacidade de explicar, mentalmente, a estrutura geral de uma língua; 
a existência de mais de uma forma de expressar uma unidade da língua; 
a viabilidade de a língua variar somente nas suas estruturas sintáticas. 
a possibilidade de se manifestar mais de um fonema de uma língua; 
 
 
Pergunta 2 
1 ponto 
Na visão de Borges Neto (2004) e Cabral (2014), a linguística possui o fenômeno do pluralismo 
teórico. 
 
Assim, em função disso, pode-se afirmar que: 
 
 
Existem vários teóricos, mas abordando o mesmo objeto de estudo; 
O pluralismo linguístico faz referência a uma variedade de teorias linguísticas, sendo que todos 
pesquisam somente os elementos extralinguísticos; 
Há várias teorias e cada uma delas possui um objeto de estudo próprio; 
esse fenômeno representa vários autores com teorias diferentes sobre a linguagem, sendo que todos 
estudam apenas a língua em seu aspecto formal; 
O pluralismo teórico diz respeito a vários autores estudando a mesma teoria linguística. 
 
 
Pergunta 3 
1 ponto 
Um dos principais motivos do surgimento da Linguística Textual se devem aos fenômenos 
linguísticos além-frase, ou denominados “relações interfrásticas”. 
 
 
 
Considerando isso, marque a opção abaixo que é um exemplo desses fenômenos. 
 
 
Existem empréstimos linguísticos entre o Português de Portugal e o Árabe oriundo do Norte Africano. 
 
 
Na língua portuguesa, geralmente, ocorrem muitas inversões sintáticas; 
 
 
No Português brasileiro, o fonema “r” pode aparecer tanto com no modo de tepe (rato), como em 
retroflexo (porta, forma de falar caipira); 
 
 
Ao longo do tempo, o prefixo “com” foi anexado ao radical do verbo latino “edere”, formando 
“comedere”, raiz do verbo português “comer”; 
 
 
Em “O professor saiu de casa. O marido de Glória precisava ir ao mercado”, “professor” e “marido 
de Glória” estabelecem uma correferência anafórica; 
 
 
Pergunta 4 
1 ponto 
O polo formalista, segundo Wilson (2012), enfoca basicamente os fenômenos ligados estritamente à 
língua. 
 
Diante disso, um exemplo de teoria linguística do polo formalista é: 
 
 
Os estudos pré-saussureanos; 
 
 
O Gerativismo; 
 
 
A Sociolinguística; 
 
 
A Linguística Textual; 
 
 
A Pragmática; 
 
 
Pergunta 5 
1 ponto 
A teoria da linguagem gerativista se volta para a área da aquisição da linguagem. 
 
Isso ocorre, uma vez que essa última está ligada diretamente: 
 
 
aos elementos extralinguísticos, como o contextocomunicativo. 
 
 
às formulações textuais; 
 
 
à variação linguística; 
 
 
à forma pela qual os seres humanos entendem uma língua; 
 
 
à formulação dos mais textos; 
 
 
Pergunta 6 
1 ponto 
O termo “pluralidade teórica da linguística” foi cunhado por Borges Neto (2004). 
 
Assim, uma das principais consequências desse conceito é: 
 
 
Debilita a linguística, uma vez que não se desenvolve uma teoria específica; 
 
 
O enfraquecimento da área, pois acaba não tendo um objeto de estudo definido; 
 
 
Consolida a linguística, porque tal pluralidade permite dar conta das diversas formas de manifestação 
da linguagem humana; 
 
 
Exaure a linguística, pois falta um autor referência que oriente os estudos linguísticos; 
 
 
O fortalecimento da linguística, porque ela se alia a outras áreas importantes; 
 
 
Pergunta 7 
1 ponto 
Leia a charge a seguir: 
 
 
Considerando a teoria linguística da Pragmática, o sentido do enunciado “Sabia que estou acordado 
há duas horas por causa dessa cantoria?” deve ser interpretado, considerando não só a linguagem 
verbal, mas também: 
 
 
O nível sintático das orações dos dois diálogos; 
 
 
O contexto no qual o Hagar enuncia a sua fala; 
 
 
A variante linguística “admirava”, por evocar uma imagem humorística de contraste; 
 
 
O elemento morfológico das falas das personagens, uma vez que destoam de suas figuras. 
 
 
O aspecto sonoro representado pelo músico dos quadrinhos; 
 
 
Pergunta 8 
1 ponto 
Ferdinand de Saussure foi considerado o pai da linguística moderna, uma vez que ele, a partir da 
publicação póstuma de o Curso de Linguística Geral, fundou a linguística enquanto uma ciência. 
Porém, isso não invalida estudos sobre a linguagem feitos anteriormente. 
 
Só que, diferentemente da linguística moderna, os estudos sobre a linguagem pré-saussure: 
 
 
Todos apenas se dedicavam à evolução das línguas ao longo do tempo; 
 
 
Estavam subordinados diretamente a outros campos do saber. 
 
 
Possuíam um objeto de pesquisa próprio; 
 
 
Praticamente tinham um cunho filosófico, a fim de desvendar a natureza da linguagem; 
 
 
Integralmente buscavam formar gramáticas normativas de uma língua específica; 
 
 
Pergunta 9 
1 ponto 
Leia a citação abaixo: 
 
Fundamentam-se as regras da gramática normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja 
linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o 
uso idiomático estabilizou e consagrou ( LIMA, 2011, p. 38) 
 
REFERÊNCIAS 
 
LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa / Rocha Lima. 49.ed . 
- 49.ed. - Rio de Janeiro: José Olympio, 2011. 
 
Esse trecho não condiz com os estudos linguísticos, porque: 
 
 
esse conjunto de estudos enfoca as áreas da morfossintaxe; 
 
 
tal obra é voltada para as produções literárias. 
 
 
essa gramática almeja prescrever, em vez de observar e analisar fatos linguísticos; 
 
 
essa obra pretende só analisar a língua escrita; 
 
 
o livro em si privilegia os usos da língua consagradas socialmente; 
 
 
Pergunta 10 
1 ponto 
Veja a figura abaixo: 
 
 
 
Fonte: ILARI, 
R. 
Linguística Românica. São Paulo, Ática, 1992. (refazer o quadro) 
 
O quadro anterior pode ser um exemplo de pesquisa: 
 
 
do Estruturalismo; 
 
 
dos estudos clássicos sobre a linguagem. 
 
 
dos Neogramáticos; 
 
 
do Comparativismo Histórico; 
 
 
da Gramática de Port-Royal; 
Apresentar as dicotomias formuladas por Saussure 
No final desta unidade, você terá a capacidade de compreender três dicotomias saussureanas, o 
significante e o significado, a língua e a fala e, por fim, a sincronia e a diacronia. Além disso, você 
compreenderá os conceitos relacionados a ela, bem como verá a maneira pela qual, esses 
influenciaram as teorias linguísticas modernas. Gostou? Então adiante com o conteúdo! 
 
Neste tópico, vamos esmiuçar sobre as chamadas dicotomias, um dos principais conceitos do 
Estruturalismo fundado postumamente por Saussure no início do séc. XX. Antes disso, devemos nos 
recordar o que foi visto na unidade passada sobre a definição e o objeto da linguística. 
 
Na visão do mestre genebrino, que ele “[...] separa uma parte do todo linguagem, a língua – um objeto 
unificado e suscetível de classificação”, elegendo-a como objeto de estudo da linguística. 
 
Assim, existem vários tipos de linguagem, a musical, a da pintura etc. Dentre dessas, há a linguagem 
verbal humana, a qual deve ser estudada pelos linguistas. 
 
Para fazer isso, o mestre genebrino estabeleceu “[...] uma nomenclatura que pudesse melhor descrever 
os fatos da língua. 
 
Surgem, então, as dicotomias saussureanas” ( SILVA, 2011, p. 44). Nesse viés, 
 
Chama-se dicotomia um par de termos – pertencentes em geral ao nível epistemológico da 
metalinguagem – que se propõem simultaneamente, insistindo na relação de oposição que permite 
reuni-los. O exemplo clássico é o das dicotomias saussurianas [...]. Tal procedimento é característico 
da atitude estrutural que prefere propor as diferenças – consideradas como mais esclarecedoras –, 
antes de passar ao exame e à definição dos conceitos (GREIMAS; COURTÉS, 2008, p. 139). 
 
De uma outra maneira diferente do que Greimas e Courtés (2008), pode-se dizer que as dicotomias 
 
[...] são uma espécie de duplicidade semântica que alicerça os estudos do estudioso genebrino. A 
visão dicotômica sobre a língua oferece ao estruturalismo uma ideia de causa e consequência 
(PEREIRA, SILVA, 2016, p. 13). 
 
Figura 1 - Dicotomias como duas partes diferentes que se complementam 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É interessante ressaltar que as dicotomias impactaram diretamente os estudos linguísticos posteriores, 
influenciando “[...] várias vertentes dos estudos contemporâneos da linguagem, que se ramificou em 
várias correntes de pesquisas no século XX e XXI” (PEREIRA, SILVA, 2016, p. 11). 
 
Portanto, sabendo disso, vamos apresentar e nos aprofundar mais em relação às dicotomias a seguir. 
 
Conceituar o signo linguístico, o significante e o significado 
Em primeiro lugar, antes de conceituar a primeira dicotomia, significante e o significado, é 
fundamental discutirmos sobre o signo linguístico saussureano. 
 
Conforme vimos anteriormente, a comunicação humana pode ocorrer a partir de vários tipos de 
linguagem, ou seja, por meio da pintura, escultura, da música etc. A música, exemplo de um tipo de 
linguagem. Apesar de cada uma delas possuírem características próprias, existe um ponto em comum: 
todas se manifestam por meio de um signo. 
 
Se você não entendeu, há um exemplo bem bacana que podemos utilizar, a fim de que você entenda 
sobre isso. O exemplo em questão é a placa de trânsito. 
 
Figura 2 - Placa de trânsito. 
 
 
Note que apenas um círculo, uma faixa na diagonal vermelha, junto com uma seta apontada para a 
direita possui o sentido de “proibido virar à direita”. Aliás, isso também se aplica a outros idiomas, 
como “do not turn right” (inglês), ou “ne tourne pas à droite” (francês). 
 
Desta forma, pode-se dizer que essa placa simboliza o sentido de proibido virar à direita, ou seja, é 
um sinal. Para Bechara (2005, p. 28, grifos do autor), 
 
Entende-se por signo ou sinal a unidade, concreta ou abstrata, real ou imaginária, que, uma vez 
conhecida, leva ao conhecimento de algo diferente dele mesmo: as nuvens negras e densas no céu 
manifestam ou são o sinal de chuva iminente: o -s final em livros é o signo ou sinal de pluralizador. 
 
Essa é a lógica básica do funcionamento de um signo. 
 
Ele leva ao entendimento de outra coisa, se não ele próprio. Contudo, dentre as várias formas de a 
linguagem se manifestar, existe uma língua natural, como o português, o alemão, o tupi etc. 
 
Em relação a isso, Saussure (2012, p. 27) afirma que : 
[...] a língua existe na coletividade sob a formaduma soma de sinais depositados em cada cérebro, 
mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os 
indivíduos. Trata-se, pois, de algo que está em cada um deles, embora seja comum a todos e independa 
da vontade dos depositários. 
 
Vale destacar que o sinal o qual o mestre genebrino conceitua é o signo linguístico. Em virtude disso, 
ele chega à seguinte conclusão: “A língua é um sistema de signos que exprimem ideias” (SAUSSURE, 
2012, p. 24). 
 
Assim, por causa dessa conclusão, cabe aos linguistas (no caso, vinculados à teoria estruturalista) 
analisarem e descreverem o conjunto de signos que formam o sistema de uma língua. 
 
No entanto, para se fazer isso, o pai da linguística moderna desenvolveu a primeira dicotomia que 
fundamenta a análise: o significante e o significado. 
 
Para ele, 
 
O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito a uma imagem acústica. Esta 
não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão (empreinte) psíquica desse som, a 
representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos; tal imagem é sensorial e, se chegamos 
a chamá-la material, é somente neste sentido, e por oposição ao outro termo da associação, o conceito, 
geralmente mais abstrato (SAUSSURE, 2012, p. 80). 
 
Inclusive, é relevante citar os comentários que Ferigolo (2009, p. 76) desenvolveu acerca do signo 
linguístico saussureano. 
 
Ele é uma unidade linguística e, por isso, psíquica, que comporta a relação significante/significado e 
não qualquer ligação com os objetos e coisas do mundo real. Tudo o que compõe a realidade objetiva 
que nos rodeia é externo ao signo linguístico. Ele “representa” os fatos e as coisas que estão a nossa 
volta, porém, não pode ser tomado como parte desta realidade. 
 
Logo, sabendo disso, vamos aprofundar agora nessa dicotomia. 
 
A primeira parte dela é o significante. Conforme foi exposto anteriormente, o significante é uma 
imagem acústica, ou seja, uma percepção mental de uma massa fônica e gráfica feita pelos falantes 
de uma língua. 
 
Pode parecer um pouco abstrato agora, mas utilizaremos um exemplo, a fim de ficar mais palpável. 
 
Observe o signo linguístico “gato”. Ele pode ser percebido de maneira visual e/ou sonora: 
 
Figura 3- Significante do signo linguístico “gato”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Logo, no momento em que nós entramos em contato com as manifestações visuais e sonoras por meio 
de nosso sistema auditivo e visual, formamos em nossas mentes o significante desse signo linguístico. 
 
Contudo, na visão de Saussure (2012), existe o outro elemento que compõe essa dicotomia: o 
significado. 
 
Para o mestre genebrino, simultaneamente ao ouvirmos/ vermos as manifestações sonoras e visuais, 
é associado a essas manifestações uma representação mental de algo presente na realidade, isto é, um 
conceito dele. 
 
A fim de evidenciar ainda mais isso, empregaremos de novo o signo linguístico “gato”. Quando nos 
deparamos com 
 
Figura 4 - Significado do signo linguístico “gato”. 
 
 
 
 
 
Nesse viés, o significado gerado em nossa mente se associa a um animal mamífero da família Felidae 
e do gênero Felis e da espécie Felis catus, e não, por exemplo, a de um peixe-boi. 
 
A partir da definição dessa dicotomia, pode-se chegar um quadro com o resumo delas: 
 
DICOTOMIA SIGNIFICANTE X SIGNIFICADO 
 
 
 
 
 
 
Assim, a dicotomia “significante/significado geram uma unidade, o signo linguístico. 
 
Figura 5- Signo linguístico “Gato” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como uma língua é o conjunto definido de vários signos linguístico, esse último é a unidade que 
compõe o sistema da língua. E, conforme abordamos anteriormente, o linguista (da teoria 
estruturalista) tem o dever de analisar e descrevê-los. 
 
Inclusive, no esteio dessa discussão, é importante ressaltar a questão do conceito de valor do signo 
linguístico, o qual é fruto dessa dicotomia. De acordo com a perspectiva teórica de saussure, o signo 
linguístico (união do significante e do significado) é uma unidade a qual forma o sistema como um 
todo. Tal sistema não é um conjunto aleatório de signos, mas sim possui uma organização própria que 
é fundamentada pela oposição deles. 
 
Ficou um pouco confuso? Então observe quando dois signos linguísticos interagem em um enunciado: 
“um gato”. O signo linguístico “um” possui um significante e um significado próprio distinto de 
“gato”. Desta forma, esse último [...] “tem valor porque é o que o outro signo não é” (FERIGOLO, 
2009, p. 77), daí a ideia de valor por oposição. 
 
Tal fato é tão evidente, que, ao trocarmos o signo “um” por “dois”, teremos aí um outro valor, pois 
ambos não podem ter a mesma aplicação no mesmo enunciado. 
 
Por conseguinte, o valor do signo linguístico, o qual é constituído pelo significante e pelo significado, 
auxilia na compreensão e na descrição do sistema linguístico de uma língua. 
 
Outro aspecto que é suscitado nessa dicotomia é o conceito de arbitrariedade do signo. Para o mestre 
genebrino, a união entre o significante e o significado não é uma ocorrência natural, mas sim 
convencionada. 
 
Quanto a isso, ele afirma que A palavra arbitrário requer também uma observação. Não deve dar a 
ideia de que o significado dependa da livre escolha do que fala [...]; queremos dizer que o significante 
é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na 
realidade. 
 
Um exemplo simples que podemos evocar é aquilo que a vaca produz após parir os bezerros: 
 
Figura 6 - Exemplo de arbitrariedade do signo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na língua portuguesa, isso é chamado de “leite”. Mas, se considerarmos a língua sueca, isso é 
denominado de “mjölk”. Logo, observamos que o mesmo objeto representado mentalmente está 
associado à signos linguísticos distintos. Inclusive, caso a relação entre significado e significante 
fosse natural, possivelmente, não existiriam inúmeras línguas, como ocorre atualmente. 
 
Mesmo que Saussure (2012) tenha desenvolvido tal conceito, ainda existem pessoas que o questionam. 
Para tal, evocam o caso das onomatopeias. No que diz respeito a elas, por mais que possa parecer que 
sejam consideradas a representação fidedigna da realidade, logo, supostamente “natural”, isso não 
procede, uma vez que cada língua tem uma representação específica disso. 
 
No caso da língua portuguesa, existe a onomatopeia “ai!” que está ligada a representação de um grito 
de dor. Porém, na língua inglesa, tal fato é representado pela onomatopeia “ouch”. 
 
Outro questionamento levantado diz respeito à postura do indivíduo frente ao signo linguístico. Como 
esse é arbitrário, logo, um falante de uma língua pode simplesmente inventar discriminadamente 
novas convenções. 
 
Todavia, é importante destacar que a arbitrariedade do signo não está diretamente ligada aos caprichos 
individuais do falante. 
 
Na visão de Agustini e Leite (2012, p. 118), pensar assim é errôneo. Para isso, eles nos explica: 
 
Ao contrário, a delimitação e estabilização de um signo linguístico sofre fortemente a pressão de uso 
por determinado grupo linguístico. Por um lado, o princípio de ordenação do sistema seria imutável, 
implicando uma impossibilidade estrutural de se fazer qualquer operação com a língua. Por outro, no 
curso do tempo, os signos linguísticos podem sofrer alteração em termos da relação entre conceito e 
imagem acústica, sem necessariamente pôr em xeque o alcance e a eficácia do princípio de ordenação. 
Conceituar a Língua e Fala 
A segunda dicotomia que estudaremos é a Fala e a Língua, ou também como são conhecidas, 
respectivamente, Langue e Parole. Conforme vimos anteriormente, o objeto de estudo da linguística 
(no caso, de viés estruturalista), é a língua, a qual é uma parte da linguagem humana. 
 
Desta forma, ela: 
[...] existe nacoletividade sob a forma duma soma de sinais depositados em cada cérebro, mais ou 
menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos. 
Trata-se, pois, de algo que está em cada um deles embora seja comum a todos e independente da 
vontade dos depositários (SAUSSURE, 2012, p. 27). 
 
Um exemplo disso são as diversas línguas naturais que existem no mundo, como o português, o 
italiano, o tupi, o krenak etc 
 
Figura 7 – A dicotomia Língua 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nesse viés, a Língua (Langue) é coletiva, sendo um tesouro depositado em cada mente humana. 
Devido ao ser caráter coletivo, ela é um fenômeno compartilhado por todos os usuários do idioma. 
 
Portanto, se ela tem essa singularidade, os elementos que a compõe se comportam de maneira 
sistemática e homogênea. 
 
Dialogando com Saussure (2012), Silva (2011, p. 39) afirma que 
 
[...] a língua faz a unidade da linguagem, ficando no âmbito da homogeneidade e do abstrato, sem 
considerar a exterioridade. O objeto da linguística é uma língua na qual se possam examinar as 
relações sistêmicas, abstraindo-se totalmente o uso. 
 
É interessante também pontuar as características de sistematicidade, homogeneidade e coletividade 
que a língua tem em sobreposição ao falante que a usa. Para Costa (2012, p. 116), a existência da 
língua 
 
[...] decorre de uma espécie de contrato implícito que é estabelecido entre os membros dessa 
comunidade. Daí seu caráter social. Para Saussure, o indivíduo, sozinho, não pode criar nem 
modificar a língua. 
 
Desta forma, um falante apenas não consegue alterar o sistema de uma língua, fato muito similar a 
questão da arbitrariedade do signo, conforme foi estudado no tópico passado. Esse fato, inclusive, é 
muito recorrente com algumas crianças, quando estão aprendendo a desenvolver uma língua. 
 
Em alguns momentos, elas inventam palavras próprias, contudo, isso não se sustenta diante da 
unidade do idioma o qual elas estão aprendendo. Sobre isso, você já se deparou, ou conhece alguém 
que teve essa experiência? 
 
Agora, veremos o outro lado da Língua, que é a Fala (parole). Essa nada mais é do que a realização 
individual da sua outra metade, ou seja, a execução da língua “[...] jamais é feita pela massa; é sempre 
individual e dela o indivíduo é sempre senhor, nós a chamaremos fala (parole)” (SAUSSURE, 2012, 
p. 21). 
 
Indo ao encontro do mestre genebrino, Costa (2012, p. 116) nos diz que a Fala 
 
Trata-se, portanto, da utilização prática e concreta de um código de língua por um determinado falante 
num momento preciso de comunicação. Em outras palavras, é a maneira pessoal de utilizar esse 
código. Daí o seu caráter individual. De acordo com Saussure, a língua é a condição da fala, uma vez 
que, quando falamos, estamos submetidos ao sistema estabelecido de regras que corresponde à língua. 
 
Um caso que pode ilustra isso é a palavra “você” na Língua Portuguesa. No Português, para se referir 
a outra pessoa com quem se fala, utilizamos “você”. 
 
(1) “Você saiu” = alguém que não está falando fez a ação de sair. 
 
Agora, imagine que a palavra “você” pode ser dita de várias na língua portuguesa, como se vê abaixo: 
(2) “Você” / “ocê” / “cê” 
 
Então, (1) é representa a língua (langue), ao passo que (2) é a fala (parole). No primeiro caso, essa 
palavra é um exemplo de unidade que compõe a estrutura da Língua Portuguesa, logo, é uma 
característica homogênea. Já o segundo caso contém manifestações individuais da unidade anterior, 
por sua vez, é uma característica heterogênea. 
 
A partir desse exemplo, somos levamos a uma consequência teórica que muito marcou o 
estruturalismo saussureano. Como a fala é aplicada individualmente e de modo heterogêneo, é 
inviável estabelecer uma unidade, muito menos sistematizá-la, diferentemente, da língua, a qual é 
possível formar uma estrutura. 
 
Por isso que o mestre genebrino elegeu a língua enquanto objeto de estudo da linguística, porque: 
 
Em sua concepção, a língua faz a unidade da linguagem, ficando no âmbito da homogeneidade e do 
abstrato, sem considerar a exterioridade. O objeto da linguística é uma língua na qual se possam 
examinar as relações sistêmicas, abstraindo-se totalmente o uso (SILVA, 2011, p. 39). 
 
A língua e a fala coexistem no dia a dia comunicativo dos falantes, todavia, para Saussure (2012) o 
estudo da linguística deve privilegiar a primeira em detrimento da segunda. 
 
Aliás, por essa opção teórico-metodológica, “[...] excluía[se] a subjetividade na linguagem, as 
unidades transfrásticas, as variedades linguísticas, o texto, as condições de produção, a história” 
(SILVA, 2011, p. 39). 
 
De igual maneira, segundo Ferigolo (2009, p. 74), também foi desconsiderado o sujeito enquanto 
falante, pois, 
 
Nesse sistema, não há lugar para o estudo do sujeito, já que ele é apenas o usuário da língua, cujo 
funcionamento não depende dele – a língua já está dada e não cabe a ele alterá-la ou criticá-la, mas 
das relações criadas e mantidas entre os signos linguísticos que a constituem. 
 
Essa postura teórica gerou, futuramente, questionamentos e contestações de outras vertentes da 
ciência da linguagem, a exemplo da Pragmática. Na visão de Halliday (1978 apud SILVA, 2011, p. 
45-56), o elemento “sujeito” cumpre um papel fundamental na comunicação, pois 
 
[...] os interlocutores desempenham funções nas diversas situações comunicativas em que estão 
envolvidos. Essas funções acabam influenciando o próprio sistema da língua, pois a comunicação, 
inserida em contextos diversos, requer do falante a utilização de expressões que sejam adequadas a 
cada situação 
 
Assim, a partir do que foi exposto, podemos fazer um quadro que resume essa dicotomia saussuriana: 
 
DICOTOMIA LÍNGUA X FALA 
 
 
 
Todavia, um fato precisa ser frisado, uma vez que muitas pessoas acabam fazendo uma pequena 
confusão no que tange à concepção de Saussure da sobreposição da língua em detrimento da fala. 
 
A fim de solucionar isso, Costa (2012, p. 116) afirma que 
 
Isso não significa que se possa estudar a língua independentemente da fala, uma vez que, entre os 
dois objetos, existe uma estreita ligação: a língua é necessária para que a fala seja compreensível e 
para que o falante, consequentemente, possa vir a atingir os seus propósitos comunicativos: por outro 
lado, a língua só se estabelece a partir das manifestações concretas de cada ato linguístico efetivo. 
Assim, a língua é, ao mesmo tempo, o instrumento e o produto da fala. 
 
Conceituar a Diacronia e a Sincronia 
A terceira dicotomia que estudaremos diz respeito à diacronia e à sincronia. Porém, antes de as 
conceituarmos, é interessante relembrarmos uma parte da na unidade anterior, a qual focou na 
trajetória linguística. 
 
Na época em que Ferdinand de Saussure iniciava suas pesquisas em meados do séc. XIX, dois ramos 
de estudos sobre a linguagem imperavam no continente europeu: os comparativistas-históricos e os 
neogramáticos. 
 
Na perspectiva dos comparativistas-históricos, 
 
As investigações passaram a ter como um de seus principais objetivos o agrupamento dessas línguas 
em famílias [...]. Entre essas famílias, temos a indo-europeia, que reúne, entre outras, a maior parte 
das línguas europeias, assim como as línguas do chamado grupo indo-irânico, como o persa e o 
sânscrito, língua sagrada utilizada pelos hindus nos cerimoniais religiosas há cerca de 1.220/800 a.C. 
(COSTA, 2012, p. 117). 
 
Ou seja, esse tipo de estudo da linguagem pré-saussuriano objetivava identificar semelhanças entre 
línguas, a fim de estipular o grau de parentesco ao longo do tempo sob uma ótica histórica, além de 
buscar a “língua mãe” denominada indo-europeu. 
 
Ademais, é nesse período que surge a ideia de tronco linguístico, ou seja, existe uma língua base, 
tronco, a partir da qual partem as ramificações, as diversas línguas derivadas.Figura 8 – O tronco linguístico do Comparativismo-histórico. 
 
Todavia, no final da déc. de 90 do século XIX, surgiu outra vertente de estudos da linguagem, os 
neogramáticos. Diferentemente dos comparativistas-históricos, os neogramáticos possuíam uma 
perspectiva mais estática de se olhar as línguas, principalmente, na medida em que almejavam [...] 
mostrar que a mudança das línguas possui uma regularidade, segue uma necessidade própria, não 
dependendo da vontade dos homens (COSTA, 2012, p. 117), assim, privilegiava-se um período 
específico da língua, e não a evolução dela no decorrer do tempo. 
 
Caso não tenha entendido a explicação anterior, imagine um calendário. 
 
Estudar uma língua desde o início do mês até o final desse era uma prática dos comparativistas-
históricos. Agora, estudar uma língua em apenas um dia era uma prática dos neogramáticos. 
Compreender esta metáfora é muito importante, uma vez que essa lógica será a base da dicotomia 
sincronia e diacronia. 
 
Pois bem. No começo da carreira acadêmica de Saussure, ele teve contato com os comparativistas-
históricos e com os neogramáticos, os quais acabaram influenciando as pesquisas iniciais do mestre 
genebrino. 
 
Depois de se aprofundar em seus estudos, o pesquisador desenvolveu as premissas básicas do 
estruturalismo, dentre eles, a de que a linguística objetiva descreve a língua enquanto sistema. 
 
A fim de compreender a sua organização interna, Saussure (2012) percebeu que um elemento deveria 
ser considerado: o tempo. Consoante a isso, Silva (2013, p. 6) atesta que: 
 
[...] na relação com o tempo, as ciências não devem ser igualmente tratadas. O tempo provoca 
diferentes efeitos sobre elas. Tudo depende da natureza do objeto de estudo de cada campo do 
conhecimento, posto que a condição de existência das coisas define-se sobre dois eixos de tempo: o 
da simultaneidade e o da sucessão. Diferentemente das ciências que não operam com valores, as que 
operam precisam percorrer dois caminhos. A Linguística se insere nesse segundo caso. 
 
Esses dois caminhos, o da simultaneidade e o da sucessão, nada mais são do que analisar a língua em 
um estado específico (simultaneidade), ou na linha evolutiva (sucessão). Em função disso, Saussure 
(2012, p. 96) estabelece duas linhas de investigação da língua: 
 
É sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que 
diz respeito às evoluções. Do mesmo modo, sincronia e diacronia designarão respectivamente um 
estado de língua e uma fase de evolução. 
 
Assim, a diacronia e a sincronia formam a terceira dicotomia saussuriana. De posse disso, vamos 
esmiuçá-las agora. 
 
A diacronia é oriunda de duas palavras gregas: dia (“δια” , através), mais chrónia (“χρονία”, tempo), 
ou seja, através do tempo. Por causa disso, analisar a língua diacronicamente diz respeito a examiná-
la a partir do tempo. 
 
Figura 9 – Driacronia, evolução através do tempo. 
 
Um caso que ilustra uma análise diacrônica da língua é a palavra “coisa”. 
 
Na língua portuguesa, durante o século XIX, essa palavra era tanto falada, quanto grafada como 
“cousa”. Isso pode ser provado no conto “A causa secreta” de Machado de Assis. No início da história, 
há o seguinte trecho: 
 
Tinham falado também de outra cousa, além daquelas três, cousa tão feia e grave, que não lhes deixou 
muito gosto para tratar do dia, do bairro e da casa de saúde (ASSIS, 1994, p. 2). 
 
Logo, esse exemplo pode ser esquematizado da seguinte maneira: 
 
Figura 10: Análise sincrônica da língua 
 
Já o contraponto da diacronia é a sincronia. Essa é fruto de outras duas palavras gregas: sin (“συγ”, 
junto) e chrónia (“χρονία”, tempo), isto é, junto com o tempo. Em virtude disso, analisar a língua 
sincronicamente é examiná-la a partir de um recorte temporal. 
 
Lembra-se daquela metáfora do calendário? Então, ela pode ser reaplicada aqui. Analisar a língua no 
início até o final do mês faz parte da diacronia, ao passo que analisar um dia específico (recorte 
temporal), faz parte da sincronia. 
 
Figura 10 – Sincronia, um período específico do tempo. 
 
Um caso que pode ilustrar a sincronia é o uso dos verbos “ter” e “haver” no português contemporâneo, 
como nos lembra Costa (2012). 
 
Antigamente, ambos os verbos tinham aplicações distintas, o verbo “ter” se limitava ao sentido de 
possuir. Já o verbo “haver” estava ligado ao de existência. 
 
Todavia, ao considerar o português atual falado no Brasil, é possível encontrar as duas ocorrências 
abaixo na mesma situação: 
(1) Tem muita gente lá. 
(2) Há muita gente lá. 
 
Hoje, a sentença (1) pode ser utilizada em situações que solicitam o sentido de existir, como ocorre 
na sentença (2). 
 
Em relação ao que foi exposto, podemos elaborar um quadro resumitivo dessa dicotomia: 
 
DICOTOMIA SINCRONIA X DIACRONIA 
 
 
Após descrever essa dicotomia, é importante frisar a maneira pela qual Saussure a aplicava no 
Estruturalismo. Para ele, o estudo da língua deve ser feito sincronicamente e não diacronicamente, 
porque é na sincronia em que o caráter sistêmico e homogêneo da língua é perceptível (SAUSSURE, 
2012). 
 
Para detalhar mais esse posicionamento, Costa (2012, p. 118) fala que 
 
[...] o linguista deve estudar principalmente o sistema da língua, observando como se configuram as 
relações internas entre seus elementos em um determinado momento do tempo. Esse tipo de estudo é 
possível porque os falantes não têm informações acerca da história de sua língua e não precisam ter 
informações etimológicas a respeito dos termos que utilizam no dia a dia: para os falantes, a realidade 
da língua é o seu estado sincrônico. 
 
Ademais, é importante esmiuçar a famosa metáfora do xadrez, a qual Saussure desenvolveu, para 
justificar a sua escolha teórica-metodológica em relação à língua e não à fala. 
 
Imagine um tabuleiro de xadrez: 
 
Figura 11- Jogo de xadrez 
 
Suponha que o xadrez como um todo é uma língua natural. Já cada peça é um signo linguístico 
diferente. Logo, a união desses forma um sistema ordenado, uma estrutura. 
 
Nesse contexto, o valor das peças está influenciado pela posição delas em um dado momento do jogo. 
 
Por exemplo, o peão no início do jogo é o menos importante. Mas, ao decorrer da partida, se ele ficar 
em uma casa ao lado do rei, isto é, uma situação de xeque, o peão ganha uma importância diferenciada 
em relação ao começo. 
 
Figura 12 - Jogo de xadrez 
Essa mesma analogia pode ser vista na língua. No português do início do século XIX, era muito 
comum os verbos no futuro do presente serem conjugados de maneira composta, conforme você pode 
ver a seguir: 
 
(3) Eu hei de fazer a carta / Início do séc. XIX 
 
Em (3), o futuro do presente era estruturado com o verbo “haver” flexionado de acordo com o sujeito 
(no caso anterior, na primeira pessoa do presente do indicativo “hei”), mais a preposição “de” e, por 
fim, o verbo principal ( no caso, o “fazer”). 
 
Porém, atualmente, esse tempo verbal é feito de outra forma: 
 
(4) Eu vou fazer o e-mail / Atualmente 
 
Em (4), o futuro do presente é expresso, na maioria das vezes, com o verbo “ir” flexionado de acordo 
com o sujeito (no caso anterior, na primeira pessoa do presente do indicativo “vou”), mais o verbo 
principal (no caso, o “fazer”). 
 
No início do século XIX, o “haver” na situação de conjugação com outros verbos no futuro do 
presente tinha um valor específico. Todavia, hoje, ele na mesma situação teve um valor alterado, 
diferente do que era no passado. 
 
Portanto, é por isso que o mestre genebrino privilegiou a sincronia diante da diacronia. Para se 
descrever o sistema de uma língua de uma maneira mais homogênea e estrutural, deve-se estipular 
um recorte de tempo específico, ou seja, uma análise sincrônica. 
 
Inclusive, conforme Saussure (2012), é muito difícil saber com exatidão qual peça será mexida no 
jogo, mas, ao

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