Thaís Pires 1 Anemia Microcítica Hipocrômica + Anemia Ferropriva • Anemias – O termo anemia se refere à existência de uma QUEDA DE HEMOGLOBINA no sangue secundária a um processo subjacente, isto é, a anemia é um SINAL de uma condição primária! Frequentemente, essa diminuição da HEMOGLOBINA está associada a uma queda de HEMATÓCRITO e de HEMÁCIAS. Os valores de referência para esses parâmetros levam em consideração o sexo e idade, sendo fruto de estudos populacionais com distribuição da curva de Gauss. Traduzindo: esses valores ditos “normais” são encontrados em grande parte da população (geralmente 95%), porém é preciso entender que existem níveis de normalidade nos extremos da curva de Gauss, ou seja, é preciso entender o valor de Hg, Ht e Eritrócitos de acordo com o PADRÃO DE NORMALIDADE INDIVIDUAL. Conceitualmente, o hematócrito é definido como a fração de sangue ocupada pelos ERITRÓCITOS no sangue – esse valor é 3x o de hemoglobina!! o Aspectos Clínicos – As manifestações decorrentes da anemia costumam ser de três formas: sinais e sintomas da doença de base, sinais e sintomas da própria anemia, uma junção das duas situações! É comum, entretanto, que os pacientes sejam OLIGO/ASSINTOMÁTICOS, sendo o diagnóstico feito de forma “acidental” pela realização de exames de “rotina” – esses quadros menos exuberantes são comuns nas formas de instalação insidiosa da anemia, como na insuficiência renal crônica, anemia megaloblástica e mielodisplasias. Os sintomas do quadro anêmico provêm do prejuízo na capacidade de CARREAR O2, predispondo à HIPÓXIA TECIDUAL com consequente aumento do DÉBITO CARDÍACO de forma compensatória. Se o paciente for cardiopata prévio, pode haver um quadro de INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DE ALTO DÉBITO, potencialemente fatal; se for neuropata prévio ou tiver mais de 80 anos, a anemia moderada-grave pode induzir SONOLÊNCIA, TORPOR e, raramente, COMA. ▪ Velocidade de Instalação da anemia – como vimos, a anemia de rápida instalação é mais sintomática que a de instalação lenta, uma vez que a ADAPTAÇÃO CARDIOVASCULAR (aumento do Volume sistólico e taquicardia → aumento do DC) e a CURVA DE DISSOCIAÇÃO DE O2 possuem menos tempo. ▪ Intensidade da Anemia – anemias leves costumam não causar sintomas, mas quando os valores atingem parâmetros de Hb < 9 mg/dL, os sintomas costumam aparecer. Olha só: mesmo em valores muuuito baixos (que determinariam anemia severa – Hg < 6 mg/dL), caso a instalação seja INSIDIOSA/LENTA, pode haver um quadro oligo/assintomático pelo período longo que favorece a compensação!! ▪ Idade – Idosos toleram menos a anemia do que o jovem pela menor capacidade cardíaca de adaptação ▪ Curva de Dissociação Hb-O2 – Em geral, a anemia é acompanhada de um AUMENTO DA 2,3- DIFOSFATOGLICERATO nos eritrócitos e de um desvio para a ESQUERDA na curva de dissociação de Hb- O2, ou seja, o Oxigênio é liberado de forma IMEDIATA para os tecidos. A 2,3DPG é uma enzima que REDUZ A AFINIDADE da Hb pelo O2, facilitando a extração de oxigênio para os tecidosss! Thaís Pires 2 ▪ Sintomas – dispneia (principalmente mediante a realização de esforços), fraqueza, letargia, palpitações e cefaleia. Em idosos, os sintomas são semelhantes a INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, ANGINA DE PEITO, CLAUDICAÇÃO INTERMITENTE e CONFUSÃO MENTAL. Em anemias muito severas, podem haver DISTÚRBIOS VISUAIS por hemorragia de retina. ▪ Sinais • Gerais – incluem a PALIDEZ DE MUCOSAS (percebida quando Hb < 9-10 g/dL) (obs: é de MUCOSAS e não da pele!!!), hipercinese circulatória manifestada por TAQUICARDIA, TAQUISFIGMIA, CARDIOMEGALIA, SOPRO SISTÓLICO no foco mitral (regurgitamento mitral) • Específicos – associados a tipos específicos de anemias, como coiloníquia (unhas em colher) na deficiência de ferro, icterícia nas anemias hemolítica e megaloblástica, úlceras nos membros inferiores em anemia falciforme, deformidades ósseas na talassemia maior. ▪ Investigação • Anamnese o 1 – Tempo de instalação dos sintomas – as anemias carenciais (ferropriva e megaloblástica), a anemia aplásica, as mielodisplasias, a anemia de doença crônica e o mieloma múltiplo são de INSTALAÇÃO INSIDIOSA. Já a anemia hemorrágica aguda e a anemia hemolítica autoimune tem início mais ABRUPTO. As anemias falciformes, talassemias e esferocitose hereditária são anemias crônicas de ORIGEM FAMILIAR, geralmente de início na infância. o 2 – Sintomas Associados – geralmente são sintomas não associados ao quadro anêmico, mas sim à condição subjacente. • Exame Físico o Glossite e Queilite Angular – pensar em anemias carenciais o Icterícia – achado comum nas anemias megaloblásticas e hemolíticas o Esplenomegalias – anemia hemolítica, hiperesplenismo ou neoplasias hematológicas o Petéquias – indicam possível plaquetopenia, presente principalmente nas anemias aplásicas e leucemias agudas o Deformidades Ósseas na face/crânio – fala a favor de talassemia • Exames Complementares o Hemograma Completo o Índice Hematimétrico - a classificação mais útil das anemias se baseia nesses índices hematimétricos, que as divide em MICROCÍTICAS, NORMOCÍTICAS e MACROCÍTICAS, e, além de sugerir a NATUREZA DO DEFEITO PRIMÁRIO, pode indicar a anomalia subjacente antes mesmo de desenvolver anemia. ▪ Volume Corpuscular Médio (VCM) – volume médio das hemácias dividido em fentolitros - em apenas DUAS SITUAÇÕES FISIOLÓGICAS o VCM pode estar fora dos limites de referência do adulto. No recém-nascido, o VCM é alto durante poucas semanas, e no lactente é baixo, aumentando gradativamente até níveis normais na idade adulta. Na gravidez normal há leve aumento de VCM. ▪ Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) – massa média de hemoglobinas em fentogramas ▪ Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM) – Thaís Pires 3 o Índice de Anisocitose (RDW) – indica a variação de tamanho entre as hemácias, sendo normal até 14%. Vários tipos de anemia podem ELEVAR O RDW, embora o mais comum seja a BETA- TALASSEMIA MINOR. Já na anemia FERROPRIVA o RDW está ELEVADO, sendo um parâmetro útil para diferenciar, diante de uma ANEMIA MICROCÍTICA, se é FERROPRIVA ou TALASSEMIA MINOR. o Leucócitos e Plaquetas – permitem distinguir uma ANEMIA PURA de uma PANCITOPENIA (diminuição de eritrócitos, granulócitos e plaquetas), sugerindo um defeito mais GERAL da medula óssea (hipoplasia medular, infiltração da medula) ou uma DESTRUIÇÃO generalizada de células (hiperesplenismo). O achado de anemia microcítica hipocrômica com trombocitose (aumento da contagem plaquetária) é muito sugestivo de anemia ferropriva. o Contagem de Reticulócitos – os reticulócitos são as células imediatamente precursoras das hemácias, sendo, geralmente, de 0,5-2% do total de células vermelhas. A presença de reticulocitose indica dois grupos de anemias: HEMOLÍTICAS ou por HEMORRAGIAS AGUDAS – essas são as anemias que se originam pela PERDA PERIFÉRICA DE HEMÁCIAS, sem que haja comprometimento da medula óssea = medula hiperproliferativa. Diante desse achado, pode- se classificar as anemias em: ▪ Hiperproliferativas – hemolíticas ou por sangramento agudo – apresentam reticulocitose ▪ Hipoproliferativas – carenciais ou por distúrbios medulares o Esfregaço de Sangue Periférico/Hematoscopia – um dos mais importantes exames para a avaliação etiológica. Observa-se: tamanho dos eritrócitos, cromia dos eritrócitos, grau de anisocitose, poiquilocitose ou pecilocitose (hemácias de vários tamanhos e de formatos bizarros), inclusões hemáticas, alterações típicas de leucócitos ou plaquetas o Bioquímica Sérica – a dosagem de derivados nitrogenados, como ureia e creatinina, pode confirmar um diagnóstico de insuficiência renal crônica. O hepatograma pode ajudar no diagn´sotico de uma hepatopatia crônica – as anemias hemolíticas cursam com hiperbilirrubinemia indireta, aumento de LDH e redução da haptoglobina. O ferro sérico está diminuído na anemia ferropriva e na