1 A AIDS foi descrita pela primeira vez pelo Center for Disease Control (CDC) em 1981. Caracteriza-se pela perda da imunidade celular com supressão dos linfócitos T - CD4. Com isso, o organismo torna-se altamente susceptível ao desenvolvimento de infecções oportunistas, tumores, doença constitucional e complicações neurológicas. Seu agente etiológico é o HIV (Human Immunodeficiency Vírus ou Vírus da Imunodeficiência Humana) que foi isolado em 1983 e que pode ser transmitido pelo sangue, sêmen, fluído pré-seminal, fluído vaginal, leite materno e outros fluídos que contenham sangue. O fluído cerebroespinhal ao redor do cérebro e da medula espinhal, o líquido sinovial que circunda as articulações ósseas e o líquido amniótico que circunda o feto são outros fluídos que podem transmitir o HIV. Saliva, lágrimas e urina não contêm HIV suficiente para a infecção. A transmissão perinatal contribui com cerca de 3 a 5 % dos casos de infecção, porém esta transmissão pode ser drasticamente reduzida (para apenas 1%) com o uso correto de anti-retrovirais (Chemin). ESTAGIOS DA INFECÇÃO PELO HIV Após a exposição e transmissão do HIV para o hospedeiro, o vírus espalha-se por todo o corpo e a contagem de células CD4+ cai drasticamente. Uma reação imunológica pode restabelecer a contagem de CD4+ ao normal e equilibrar a replicação de HIV – período de latência. O período aparente de estado de latência pode durar em torno de 8 a 10 anos até que a replicação do HIV reduza novamente as células CD4+ e aumente o risco de Infecções Oportunistas. Os principais reservatórios da infecção são o Sistema Nervoso Central e o Trato Gastrointestinal (Krause, 2010). Segundo Cuppari (2005), Chemin a doença divide-se em 3 estágios. Cuppari e Chemin usam a classificação da doença do CDC. Segundo a Krause a doença divide-se em 4 estágios: 1)Infecção aguda por HIV Constitui o período imediatamente após a infecção primária, quando ocorre rápida replicação viral. Ocorre entre 2 a 4 semanas (Krause 2010) após a infecção. 40- 90% das pessoas desenvolvem uma síndrome aguda com sintomas gripais caracterizada por febre, mal-estar, cefaléia, mialgia, síndrome da linfadenopatia, úlceras orais, artralgia, perda de apetite e peso, faringite e erupção cutânea que podem durar de poucos dias a 01 mês. O período entre a soroconversão (desenvolvimento de anticorpos contra o HIV) varia de 01 semana a vários meses e, ao aparecimento no sangue destes anticorpos, os indivíduos com ou sem sintomas terão o teste positivo para HIV. A carga viral e extremamente alta e os indivíduos apresentam-se bastante suscetíveis à infecções. 2) HIV Assintomático (Krause) / Estágio inicial da doença (Cuppari e Chemin) Poucos sintomas perceptíveis. Pode durar de meses até 10 anos. Contagem de células CD4 > 500 células / mm³ (Cuppari e Chemin) Declínio da contagem de CD4 de 50 células/mm³ por ano Sintomatologia: - Chemin e Cuppari – dermatites e linfadenopatia - Krause - alterações subclínicas: Diminuição da massa magra sem perda de peso, deficiência de vitamina B12 e susceptibilidade a patógenos oriundos da água e dos alimentos. 3) HIV Sintomático (Krause) / Estágio intermediário da doença (Cuppari e Chemin) É quando os sintomas aparecem. Contagem de células CD4 entre 200 e 500 células/mm³ (Cuppari e Chemin) Sintomatologia: - Cuppari e Chemin – candidíase oral e vaginal, neuropatia periférica, displasia cervical, herpes zoster e febre. - Krause - Febre, sudorese, problemas cutâneos, fadiga e outros sintomas que não são considerados definidores da AIDS. Pode ocorrer também declínio no status nutricional ou na composição corporal. 4) AIDS ou HIV avançado (Krause) / Condições associadas à imunodeficiência grave / Estágio final (Cuppari e Chemin) Diagnóstico reservado a indivíduos com pelo menos uma das condições clínicas bem definidas e com ameaça de vida associada à imunossupressão induzida pelo HIV – infecções oportunistas, doenças neurológicas, tumores, etc. (Quadro - 2) Contagem de células CD4< 200 células/mm³ (Cuppari e Chemin) Quantidade não considerável de indivíduos infectados pelo HIV não exibe sinais de progressão da doença mesmo após 12 nos ou mais (infecção por uma linhagem menos virulenta ou características protetoras do sistema imunológico). A contagem de CD4 é o principal instrumento utilizado para classificação do estágio de infecção pelo HIV. A KRAUSE (2013) apresenta a classificação proposta pelo NIH (2009). Categoria clínica Contagem CD4 Recomendação Assintomático, AIDS <350 cels/mm3 Tratar Assintomático 350 – 500 cels/mm3 Tratamento recomendado Assintomático >500 cels/mm3 Observar posicionamento clínico e comorbidades Sintomático (AIDS, sintomas graves) Qualquer valor Tratar Gestação, nefropatias associada a HIV, coinfecção com vírus B quando tratamento para HBV é indicado Qualquer valor tratar HIV / AIDS Prof. José Aroldo Filho goncalvesfilho@nutmed.com.br 2 Quadro 1 - Contagens de células CD4 e condições associadas 3 INFECÇÕES OPORTUNISTAS E COMPLICAÇÕES. São comuns as infecções oportunistas por bactérias, fungos e protozoários ou vírus. São, geralmente, a causa de febre, diarréia, má absorção, perda de peso, entre outros sintomas. Podem gerar rápida depleção nutricional por aumentar as necessidades metabólicas simultaneamente à diminuição da ingestão protéico- calórica. (Chemin e Krause) Doença Maligna O Sarcoma de Kaposi (SK), os linfomas não-Hodgkin e o câncer cervical são determinantes da AIDS para um indivíduo HIV (Krause, 2010). O SK é uma doença maligna das endoteliais, que se manifesta como nódulos purpúricos que podem ser indolores ou causar queimação quando presentes no TGI. As lesões de SK na cavidade oral e esôfago podem causar dor e dificuldade de mastigação e deglutição, além de estar associadas a náuseas e vômitos, e as lesões no TGI têm sido implicadas na diarréia e obstrução intestinal (Krause e Chemin). O SK afeta indivíduos portadores de AIDS com freqüência 20 mil vezes maior do que a população em geral (Krause). Os linfomas podem envolver o intestino delgado, e ocasionar má absorção, diarréia, ou obstrução intestinal. O linfoma primário no cérebro pode causar alterações na personalidade e nas habilidades motoras e cognitivas (Krause). Doenças Neuromusculares Imediatamente após a infecção, o HIV entra no cérebro e pode resultar em encefalopatia do HIV (demência por AIDS), mielopatia, neuropatia e neuropatia periférica. Os sintomas de demência por AIDS podem ser: deterioração cognitiva (concentração, recordação, desenvolvimento de nova memória, linguagem), função motora (coordenação, modo de andar, controle da bexiga) e comportamento (psicose, depressão, afastamento). A mielopatia (doença da medula espinhal) pode ocorrer em até 25% daqueles com doença avançada por HIV e pode resultar em paralisia parcial das extremidades inferiores (paraparesia). A neuropatia periférica – Perda sensorial, dor, fraqueza dos músculos das mãos ou pernas e dos pés – pode ser causada pela infecção por HIV ou toxicidade por AZT (Krause). Doença Hepática por HIV A hepatite C (HCV) é agora considerada como uma infecção oportunista de HIV, e a doença hepática consiste, atualmente, na causa predominante de morte por HIV/AIDS. Indivíduos que apresentam simultaneamente HIV e HCV evidenciam curso mais rápido da AIDS e de morte (Krause, 2010). A função hepática pode ser comprometida com o uso de terapia anti-retroviral altamente ativa e pela infecção por citomegalovírus (CMV), criptosporídeos e hepatite B ou por hepatopatias malignas, como SK ou linfoma. A dosagem de drogas deve ser ajustada àqueles com doença hepática (Krause). Tuberculose (TB) e Doenças Pulmonares O M. Tubercusosis e a co-infecção pelo HIV podem induzir ativação imunológica e rápido aumento da taxa de replicação do HIV. Embora a maioria dos casos de TB afete os pulmões, a doença também pode acorrer, especialmente nos infectados por HIV, em outros sítios, como laringe, nódulos linfáticos, cérebro, rins e osso. O tratamento precoce