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1 TRATO GASTROINTESTINAL III VESÍCULA BILIAR A Vesícula biliar está localizada sobre a superfície do lobo direito do fígado e tem a função principal de concentrar, armazenar e excretar a bile produzida no fígado. A bile apresenta 3 principais constituintes: BILIRRUBINA Principal pigmento da bile. A destruição das hemácias libera a hemoglobina a partir da qual se forma a bilirrubina não conjugada. Esta é transportada para o fígado onde é conjugada e excretada na bile. SAIS BILIARES Formados a partir do colesterol são essenciais para digestão e absorção de gorduras, vitaminas lipossolúveis e alguns minerais. São excretados no intestino delgado através da bile, e posteriormente reabsorvidos no sistema porta COLESTEROL Importante constituinte dos sais biliares Trajeto da bile: Do Fígado ao Intestino Delgado Figura 1: A bile produzida deixa o fígado pelo ducto hepático comum e chega à vesícula pelo ducto cístico onde é armazenada. Mediante estímulo (colecistoquinina) a vesícula se contrai e libera a bile que segue seu curso pelo ducto biliar comum ou colédoco (união do hepático comum com cístico) que se une ao ducto pancreático para desembocarem no duodeno. DOENÇAS DA VESÍCULA BILIAR As doenças biliares mais comuns são colelitíase, coledocolitíase e colecistite Cole = vesícula Litíase = presença de “cálculos” Ite = inflamação, não tem “cálculos” Fig2: Observa-se a migração de um cálculo da vesícula até o esfíncter de Oddi, passando pelo colédoco. Colelitíase A colelitíase é definida pela formação de cálculos biliares SEM infecção da vesícula. Na maioria dos casos esses cálculos são assintomáticos. Eles podem permanecer na vesícula ou migrar para o colédoco permanecendo nele ou ainda migrar para o duodeno causando ou não sintomas. Existem 2 tipos mais comuns de cálculos biliares: Cálculos de colesterol não pigmentados – SÃO A MAIORIA DOS CASOS e são compostos de colesterol + bilirrubina + sais de cálcio FATORES DE RISCO FATORES DE RISCO ALIMENTARES (Krause 2013) - Dieta pobre em fibras e com alto teor de gordura (especialmente saturada) e consumo de grande quantidade de PTN animal. - carboidratos refinados aumentam 60% mais o risco Cálculos pigmentados – são polímeros de bilirrubina ou sais de cálcio. Estão associados à hemólise crônica, pois a hemólise gera bilirrubina FATORES DE RISCO - Idade - Anemia Falciforme - Talassemia -Infecção no trato biliar -Cirrose - Alcoolismo - Nutrição Parenteral prolongada - Sexo feminino - Gravidez - Idade - História familiar -Etnia: índios pima, escandinavos e mexicanos - Dieta com alto teor de gordura por longo período pois gera estímulo constante para produção de bile -Obesidade / distribuição central de gordura - Perda rápida de peso: cir. Bariátrica, jejum prolongado, restrição calórica importante - Drogas: hipolipemiantes, anticoncepcional oral, estrógeno - infecções crônicas de baixo grau pois alteram capacidade absortiva da mucosa da vesícula Vesícula Esfíncter de Oddi Ducto pancreático Pancreas Fígado Ducto hepático comum Ducto cístico Ducto biliar comum Prof. Fernanda Osso fernandaosso@nutmed.com.br A bile é a via excretória primária de cobre e manganês e tem imunoglobulinas para manter integridade de mucosa 2 Tratamento da colelitíase Em geral é realizada a cirurgia de remoção da vesícula (colecistectomia) que pode ser por laparotomia ou laparoscopia que é menos invasiva. Outros métodos menos comuns incluem dissolução química, terapia litolítica com ácido quenodesoxicólico ou litotripsia (choque extracorpóreo). A CPRE pode ser usada para retirada de cálculos que migraram para as vias biliares. Não há tratamento dietético específico para impedir colelitíase em indivíduos suscetíveis. (Krause 2013) Foi observado recentemente que a colecistectomia é um preditor de cirrose hepática e está associada à elevação de enzimas hepáticas (Krause 2013)Dietas baseadas em vegetais bem como a Vitamina C podem reduzir o risco de colelitíase em mulheres. Tratamento Nutricional após colecistectomia (Krause + Chemin) - A alimentação é retomada normalmente por via oral assim que houver o retorno da peristalse e a retirada da sonda nasogástrica de drenagem, caso esteja presente. - Deve-se iniciar com dieta leve ou líquida até evoluir para geral - Se no pós operatório o paciente ficar com dreno em intestino para retirada de secreção biliar (dreno de Kher), deve-se fazer dieta hipolipídica durante permanência do dreno (em geral 10 a 15 dias) - a adaptação do organismo para digestão de gorduras na ausência de vesícula se dá em 2 meses de pós operatorio, sendo portanto arriscado preparações hiperlipídicas nesse período, pois podem gerar esteatorréia Coledocolitíase Ocorre quando há o deslocamento de algum cálculo da vesícula para o colédoco, podendo causar obstrução, dor e cólicas. *Acolia fecal: fezes esbranquiçadas devido à ausência de pigmentos biliares nas fezes. Fig 3: Possíveis conseqüências da coledocolitíase PÂNCREAS Após a colecistectomia a bile é secretada diretamente pelo fígado no intestino. coledocolitíase Obstrução da passagem da bile colecistite ↓Abs lip Acolia fecal* Colecistite É caracterizada pela inflamação da vesícula biliar podendo ser classificada como aguda ou crônica e quanto à presença ou não de cálculos (calculosa e acalculosa). A forma mais comum é a colecistite calculosa cujos cálculos levam à obstrução dos ductos biliares. Esta obstrução faz com que a bile fique estagnada na vesícula levando à inflamação de suas paredes além de icterícia, pois já que a bile não flui normalmente acaba extravasando para a corrente sanguínea. A colecistite acalculosa pode ocorrer em condições graves como trauma, sepse, queimaduras e choque onde há tendência à estagnação de bile na vesícula. Colangite Pode ser classificada como colangite aguda e colangite esclerosante. Colangite aguda: Ocorre APENAS Inflamação nos ductos biliares e o paciente necessita de ressuscitação com fluidos + antibióticos de amplo espectro. Colangite esclerosante: Ocorre além da inflamação, cicatrização e obstrução dos canais biliares dentro e fora do fígado. É uma condição grave que pode gerar sepse e insuficiência hepática. Assim como na colangite aguda o tratamento é antibiótico de amplo espectro e , em caso de sepse recorrente a antibioticoterapia se torna crônica. Colestase É a diminuição ou interrupção do fluxo de bile, fazendo com que a bile fique estagnada. Uma das causas é a ausência de alimentação pelo trato gastrointestinal por longo período, como ocorre na NPT prolongada, que gera a colestase acalculosa, ou seja a bile deixa de fluir normalmente não devido à obstrução por cálculo, mas sim por falta de estímulo. PREVENÇÃO: alimentação enteral mínima. Quando não for possível alimentação, utilizam-se drogas. Tab. 1: Considerações Nutricionais na Colecistite aguda e Crônica Classificação da colecistite Considerações Nutricionais AGUDA Via oral ZERO durante ataque agudo – Pode-se indicar NPT em caso de desnutrição ou previsão de VO zero prolongada Retorno da VO: dieta com 30 a 45g de gordura/dia Sem associação de colesterol dietético com formação de cálculos na vesícula. CRÔNICA Pode haver necessidade de dieta hipolipídica por longo prazo 25 a 30% do VET de lipídeos. Não se recomenda restrição maior pois o lipídio é importante para o escoamento da bile Flatulência é queixa freqüente. Deve-se avaliar caso a caso para identificar o alimento envolvido Nos casos de suspeita de má absorção de gordura, é benéfico reposição de vitaminas lipossolúveis na forma hidrossolúvel 3 O Pâncreas é um órgão glandular que apresenta uma função endócrina, através da síntese e liberação de insulina e glucagon, e uma função exócrina através da síntese e liberação de enzimas digestivas (amilase, lipase e protease) que auxiliam a digestão de carboidratos, lipídeos e proteínas. Esta secreção exócrina é regulada pelos fatores descritos na Fig 1. Fig 1: Fatores responsáveis pela regulação da secreção exócrinapancreática Neste capítulo serão abordadas apenas as doenças do Pâncreas exócrino. PANCREATITE È uma inflamação do pâncreas caracterizada por edema + exudato celular + necrose gordurosa. A doença pode seguir dois cursos distintos conforme abaixo: 1. Suave (leve) – 80% dos casos: autolimitante, pancreas apresenta edema intersticial (pancreatite edematosa) com recuperação completa em torno de 5-7 dias. 2. Grave – 20% dos casos: autodigestão + necrose + hemorragia de tecido pancreático, com importante repercussão sistêmica e hipercatabolismo. Apesar de a extensão e gravidade da lesão poder ser avaliada somente por exames radiográficos de imagem (Tomografia e ultrasom) pode-se avaliar o prognóstico de internação hospitalar de um paciente utilizando-se os critérios de Ranson. Critérios de Ranson (1974): Composto de 11 critérios, sendo 5 avaliados no momento da internação ou diagnóstico e os 6 restantes durante as primeiras 48h de internação, conforme ilustrado na Tab 2. Tab 2: Critérios de Ranson para avaliar o prognóstico na Pancreatite Internação ou Diagnóstico Idade > 55 anos Leucócitos > 16.000/m3 Glicemia > 200mg/ 100ml Desidrogenase lática > 350 UI/L Aspartato transaminase > 250 U/L Primeiras Redução de hematócrito > 10mg/dl Aumento do N2 ureico sanguíneo > 5mg/dl 48h PO2 arterial < 60mmHg Déficit de base > 4 mEq/L Seqüestro de fluido > 6L Cálcio sérico < 8mg/ml Interpretação: (Krause) 5 observações são feitas na internação/diagnóstico e 6 são feitas 48h após. Se o paciente apresentar 3 ou mais desses parâmetros a mortalidade é de 60%. (Dan 2009) Presença de 1 a 3 critérios = Pancreatite leve Presença de 4 ou + critérios = Mortalidade elevada Os sintomas da pancreatite incluem: Dor de intensidade variável, contínua ou intermitente que pode irradiar para as costas Hipoperistaltismo Parada de eliminação de flatos e fezes Náuseas/vômitos Esteatorréia Distensão abdominal icterícia Casos Graves de Pancreatite Hipotensão (pulso fino) Oligúria Dispnéia Hemorragia Choque Sinal de Cullen (hematoma na região umbilical)* Morte Sinal de Gray Turnner (hematoma em flancos)* *significa sangramento retroperitoneal Etiologia A pancreatite apresenta etiologia multifatorial (Fig. 2) e está associada a sérias complicações e mortalidade significante. As principais etilogias são álcool e cálculos biliares, que apresentam respectivamente, mortalidade de 5 e 10 a 25%. Fig. 2: Fatores etiológicos da pancreatite PANCREATITE Alcoolismo crônico Cálculos biliares Dç do trato biliar Trauma hipertrigliceridemia hipercalcemia Algumas drogas Infecção viral Secreção exócrina pancreática (enzimas digestivas) Secretina + colecistoquinina Resposta neural Composição dos alimentos ingeridos (Os lipídeos são os maiores estimuladores) Sais biliares 4 (Krause 2013) A obesidade parece ser um fator de risco para o desenvolvimento da pancreatite e aumento de sua gravidade Patogenia (Krause) Os mecanismos exatos que levam à lesão pancreática ainda não foram completamente elucidados, porém é aceita a teoria do refluxo do conteúdo ductal para o interior do ducto pancreático (Wirsung). Para entender esta teoria, é necessário lembrar que as enzimas pancreáticas são armazenadas no interior do pâncreas na sua forma inativa, sendo ativadas apenas no lúmen intestinal. De volta à teoria, acredita-se que este refluxo faça com que as enzimas sejam prematuramente ativadas no interior do pâncreas, causando autodigestão e destruição da glândula. Uma vez que as enzimas pancreáticas (amilase, lipase e proteases) são armazenas no interior das células, a destruição destas faz com que as enzimas sejam liberadas na corrente sanguínea, o que explica o fato de observarmos elevação de amilase e lipase na corrente sanguínea em casos de pancreatite, sendo estas enzimas utilizadas inclusive para auxiliar no diagnóstico da doença. Já a teoria que envolve o ácool como fator etiológico, seria que este leva a um aumento da secreção pancreática por estimular a gastrina e secretina, associado a espasmo e/ou edema do esfícter de oddi. Logo, o estímulo da secreção associado à obstrução da passagem desta pelo edema ou espasmo do esfíncter de Oddi, gera pancreatite. (Dan 2009) Além do mecanismo já descrito acima, este autor acrescenta que o fator desencadeante está associado a aumento no fluxo de cálcio intracelular e à ativação prematura do tripsinogênio no pâncreas, ocasionando a autofagia. Migração de neutrófilos até o pâncreas Liberação de citocinas inflamatórias # Se essa resposta inflamatória ficasse contida apenas no pâncreas a doença seria bem mais leve, ao invés disso ocorre a “enxurrada de citocinas” na circulação sistêmica, lesionando outros órgãos, como por exemplo, lesão pulmonar aguda e SARA, ocasionada pela liberação de enzimas proteolíticas (tripsina, elastase, fosfolipase e caspase1) na circulação. Existem alguns testes de função pancreática (tab. 3) que podem ser feitos para avaliar a extensão da destruição pancreática, já que as enzimas sozinhas não são marcadores de extensão da lesão. Tab. 3: Testes de Função Pancreática TESTE FUNÇÃO AVALIADA Estimulação de secretina Exócrina (secreção de bicarbonato) Gordura fecal em 72h Exócrina (secreção de lípase) Teste de tolerância à glicose Endócrina (secreção de insulina) Classificação A Pancreatite pode ser classificada em AGUDA ou CRÔNICA. Pancreatite Aguda A Causa mais comum são os cálculos biliares Outras causas incluem: Traumática: trauma abdominal, pós operatória, CPRE Doença pancreática: pâncreas divisum, câncer de pâncreas, ascaridíase ductal(colédoco ou Wirsung), pancreatite crônica Metabólica:alcoolismo, hipertrigliceridemia, hipercalcemia, obesidade, gravidez, hiperparatireoidismo (pelo ↑ cálcio) Infecciosa: caxumba, peritonite, hepatite B, Herpes Simples, citomegalovirus Medicamentosa: diuréticos, corticoesteróides, azatioprina, tetraciclina, metronidazol, sulfassalazina. Tóxica: arsênico, chumbo, histamina, tetracloreto de carbono Outras: excessos alimentares, veneno de escorpião, LES, queimaduras, insuf. Hepática grave, pós Tx renal Idiopática: causa desconhecida Avaliação Nutricional do Paciente (Dan) Uma vez que a desnutrição é um achado freqüente em pacientes com pancreatite, torna-se fundamental a realização da avaliação nutricional para traçar a conduta mais adequada. A avaliação consiste em uma abordagem geral, baseada em dados antropométricos, bioquímicos e imunológicos além de avaliação metabólica: Antropometria: peso, PCT, CB e CMB devem ser utilizados para avaliar reservas de proteína e gordura Dados Bioquímicos: índice de creatinina/altura (avaliação das proteínas somáticas) + albumina e transferrina (avaliação das proteínas viscerais) Dados imunológicos: contagem total de linfócitos + teste de hipersensibilidade cutânea avaliam a competência imunológica do paciente, já que sabe-se que a desnutrição a prejudica. Avaliação metabólica: realizada pelo balanço nitrogenado, que reflete a quantidade de massa protéica consumida para gerar energia. Terapia Nutricional O cuidado nutricional na pancreatite aguda tem o objetivo de colocar a glândula “em repouso”, já que a dor está parcialmente relacionada aos mecanismos de secreção de enzimas pancreáticas e bile. Abaixo segue um esquema contemplando as diferentes condutas nutricionais diante dos diferentes “ataques” na pancreatite aguda. 1. Pancreatite aguda leve (comum a todos os autores) Dieta zero + hidratação venosa + analgesia (Dan) além de todos acima ainda recomenda descompressão gástrica (sonda nasogástrica em sifonagem) Nos casos de pancreatite crônica, devido à destruição celular maciça e substituição do tecido pancreático (funcional) por fibrose (ñ funcional), a síntese de enzimas está diminuída e a amilase e lipase séricas podem parecer normais. 5 (Krause + Dan) Retorno da alimentação: deve ocorrer após desaparecerem vômitos, dor, distensão abdominal e íleo, além de senormalizarem os exames laboratoriais (amilase, lípase, cálcio e glicose). Isto normalmente ocorre em 5 a 7 dias ou 2 a 5 dias segundo Chemin 2010. (Krause) dieta por via oral, hipercalórica, hipolipídica, PTN adequada, de fácil digestibilidade e com 6 refeições/dia. No caso de pancreatite prolongada (mais de 7 dias) menos grave, pode-se iniciar dieta acima (atenção que está errado no livro, já que o correto é abaixo) do ligamento de Treitz. (Dan) dieta por via oral ou enteral, atentando para possível retorno da sintomatologia que mostra refratariedade à essas vias. No caso de enteral, esta pode ser por sonda nasoentérica ou jejunostomia, com dieta hiperproteica, moderada em carboidratos e suplementada com TCM. 2. Pancreatite aguda grave (Krauses) - recomenda NPT! Iniciar NPT com lipídios (sistem 3 em 1) somente após lipidograma e se TG < 400mg/dl Se TG > 400mg/dl usar solução de dextrose e tratar hiperglicemia com insulina. (Krause 2013) A terapia nutricional agressiva pode incluir tentativa de usar o TGI. Com a alimentação no jejuno, as fases cefálica (??) e gástrica de estímulo pancreático exócrino são eliminadas. (Cuppari 2014) – A via enteral é indicada sempre que tolerada, com posicionamente após o ângulo de Treitz (mas pode ser gástrico se tolerado), com fórmula oligomérica, iniciando com velocidade de infusão bem baixa, com progressão de volume e fórmula (oligomérica para polimérica) conforme tolerância. Segundo cuppari, 2014 a polimérica pode ser usada desde o início, desde que a fonte de lipídio seja TCM, com o mínimo de TCL. No caso de se optar por NE, assim como a Krause na PA leve, diz que o posicionamento deve ser após o ângulo de Treitz com fórmula elementar. (Dan 2009) – ATENÇÃO!! Nesta edição o Dan não recomenda mais a NPT como padrão de Terapia Nutricional na pancreatite aguda, como fazia na edição anterior. Sabe-se agora que não usar o trato digestivo pode ocasionar problemas. Promove translocação bacteriana e aumento nas complicações tardias de infecção nosocomial, sepse e insuficiência de órgãos. Assim, a alimentação precoce na pancreatite aguda é importante para manutenção da função intestinal e prevenção de complicações. È indicado o uso de 2 sondas simultaneamente. Uma para a alimentação, pós ligamento de Treitz ( 40 – 60 cm além do ligamento) e a outra para descomprimir o estômago. Fórmulas com baixo teor de lipídios ou sob a forma de TCM e proteínas sob a forma de pequenos peptides estimulam menos o pâncreas e são melhores toleradas. Atenção! Fórmulas isentas de lipídios tendem a ter alta osmolaridade > estimulação do pâncreas e < tolerância. Preferência: Fórmulas elementares ou semielementares. Nos casos de uso de NP, deve-se monitorar atentamente a glicose, os TG, cálcio e o estado hidroeletrolítico, pois a tolerância não é tão boa quando os nutrientes são administrados via enteral. Minerais: - cálcio: devido à freqüência de hipocalcemia, pode ser necessária sua reposição como gluconato de cálcio. Com a suplemetação de cálcio, pode ocorrer hipomagnesemia, pois ambos competem pelo mesmo sítio de ligação na albumina. - selênio: foi observada redução da mortalidade com o uso de 500 microgramas/dia, devido à modulação da inflamação do pâncreas gerada por ele. (Chemin 2010) - recomenda via enteral pós ângulo de Treitz com fórmula oligo ou monomérica, iniciando com 10 a 15ml/h e evoluindo volume e fórmula para polimérica de acordo com tolerância. - Assim como Dan2009 também recomenda 2 sondas simultaneamente. Uma para a alimentação, pós ligamento de Treitz e a outra para descomprimir o estômago. - INICIALMENTE as fórmulas devem ser isentas de fibras para evitar distensão abdominal - Não recomenda uso de probióticos até que os estudos demonstrem segurança em sua utilização - Em caso de a Nutrição enteral não ser suficiente para atingir as necessidades, deve-se ter a parenteral como base e somente descontinuá-la se a aceitação da nutrição enteral for de, pelo menos, 50% do VET previsto SEM INTERCORRENCIAS. - Lipídios tanto em enteral quanto em parenteral podem ser usados desde que triglicerídeos < 300mg/dl (Chemin 2010) Recomendações na Pancreatite aguda GRAVE VET 25 – 30kcal/kg/peso Carboidratos 35 a 65% Proteínas 1,5 a 2,0 – desde de que não haja ↑ ureia sérica Lipídios 1,0 a 1,5 – optando por formulas com TCM ou oliva Micronutrientes Não estabelecidas as doses (Projeto diretrizes 2011) O posicionamento jejunal é o mais indicado, mas o posicionamento GÁSTRICO é seguro. Não há evidências para recomendar TNE imunomoduladora para esses pacientes. Entretanto, a suplementação isolada de W-3 está indicada. Quando a TNP está indicada, a suplementação de glutamina deve ser feita na dose de 0,3g/kg/peso. Recomenda-se fórmula com alto teor de TCM. Fig. 3: seta aponta localização do ligamento de Treitz, que consiste no local onde se liga o final do duodeno com o início do jejuno. 6 Se houver triglicerídeo > 1000mg/dl deve-se suspender lipídio. Complicações da NPT (Dan) Infecciosas: a mais comum é a infecção de cateter, e os pacientes com pancreatite crônica são mais acometidos do que os com pancreatite aguda. Metabólicas: a mais comum é a hiperglicemia moderada, acometendo aproximadamente 80% dos pacientes. Uma glicemia > 200mg% é de difícil controle e sinal de mau prognóstico. Monitoração do paciente em NPT (Dan) Diária: glicemia, lipase, amilase, peso e balanço hídrico 2x/semana: cálcio e albumina séricos 1x/ semana: hemograma, hemocultura, CB, PCT e balanço nitrogenado A conduta clínica para esses pacientes inclui: Correção da hipovolemia com reposição hidroeletrolítica + cuidados cardiorrespiratórios Tratamento da dor. A morfina está contra-indicada por causar edema do esfíncter de Oddi, sendo a meperidina a melhor escolha Devido à gastroparesia,quase sempre é necessário a passagem de uma sonda gástrica de descompressão. Monitorização rigorosa de glicose devido à possibilidade de prejuízo endócrino + relativa resistência à insulina pela condição de estresse metabólico presente. Redução da produção de ácido clorídrico (já que este é um estímulo para secreção pancreática) com a utilização de antagonistas do receptor de H2 (antiácido) e somatostatina que é considerada o melhor inibidor da secreção pancreática, além de poder ser adicionada à NPT Atenção com os níveis séricos de cálcio que estão freqüentemente baixos nesses pacientes ( embrem que o cálcio na pancreatite é tão importante que é até um parâmetro avaliado nos critérios de Ranson) . As prováveis causas são: 1.Hipoalbuminemia: já que parte do cálcio é carreado na corrente sanguínea ligado à albumina, se ocorre redução dos níveis dela, conseqüentemente o cálcio será reduzido 2.Necrose de gordura: Ocorre um “seqüestro” do cálcio pela área de necrose gordurosa para a formação de sabão com os ácidos graxos livres ali gerados. Para saber o real cálcio disponível deve-se determinar os níveis de cálcio ionizado, que não é nem ligado à albumina nem aos ácidos graxos Conduta Nutricional na Resolução da Pancreatite Aguda No caso de pacientes estáveis, na medida em que a pancreatite se resolve, isto é, quando desaparecem os vômitos, a dor, a distensão abdominal, o íleo paralítico e os exames laboratoriais (amilase, lIpase, cálcio e glicose) estão normais, pode - se tentar a utilização de um suporte nutricional agressivo via trato gastrointestinal, através de uma sonda de alimentação posicionada no jejuno além do ligamento de Treitz (ver Fig. 3). Este posicionamento de sonda se justifica pelo fato de a presença do alimento nesta região do intestino gerar um estímulo mínimo para secreção pancreática. A fórmula utilizada deve ser hidrolisada, já que a dieta será administrada direto no jejuno, hipolipídica, já que dos macronutrientes o lipídeo é o que mais estimula a secreção pancreática, rica em proteínas, moderada em carboidratos e acrescida de TCM. Quando o paciente evoluir para via oral, pode ser necessário o uso de enzimas pancreáticas paratratar a esteatorréia. Pancreatite Crônica Causa mais comum é o álcool Segundo Chemin,2010 o consumo de 150g de álcool/dia por 5 anos já é o suficiente para desenvolver a doença. A pancreatite crônica em contraste ao que ocorre na aguda, usualmente evolui de forma insidiosa durante muitos anos. É caracterizada por ataques recorrentes de dor abdominal que pode ser precipitada pelas refeições. Além disto, ocorrem alterações estruturais e funcionais do pâncreas como fibrose, calcificações e cistos, resultando em insuficiência exócrina e endócrina com intolerância à glicose. Patogenia O evento inicial é a formação de tampões protéicos dentro dos ductos pancreáticos, que funcionam como matrizes para deposição de sais de cálcio (carbonato de cálcio), formando verdadeiros cálculos. Uma vez formados, esses cálculos obstruem os ductos gerando inflamação com destruição do parênquima pancreático. A destruição das ilhotas de Langerhans (produtoras de insulina) ocorre mais tardiamente. Fatores etiológicos Além do álcool, que como já mencionado é a principal causa de pancreatite crônica, podemos citar a estenose do esfíncter de Oddi, o hiperparatireoidismo, tumores pancreáticos, dietas hiperlipídicas e pancreatite hereditária como causas menos importantes de acometimento crônico do pâncreas. Sintomas Dor abdominal contínua ou recorrente + desnutrição progressiva + má absorção + diabetes secundário Causas da desnutrição na Pancreatite Crônica Náusea/ vômitos Esteatorréia (gordura > 7g nas fezes em 24h) anorexia Dor ao se alimentar que gera sitofobia (medo de se alimentar) Icterícia Aumento do GER (devido à inflamação pancreática) Anemia Hemorragia gastrointestinal Conseqüências da desnutrição da Pancreatite Crônica Edema periférico devido aos déficits de proteínas, Erupção cutânea ácidos graxos essenciais e Glossite vitaminas Objetivos da Terapia Nutricional Prevenir dano posterior ao pâncreas ↓ esteatorréia ↓ crises e inflamação corrigir desnutrição 7 aguda aliviar a dor Conduta Clínica e Nutricional na Pancreatite Crônica Tratamento geral da PC Interrupção da ingestão de Álcool + Analgésicos (Dan 2009) (Krause) A via preferencial é a via oral com uma dieta hipercalórica, hiperproteica, hipolipídica e com glicose como substrato energético preferencial, de acordo com a tolerância. ENERGIA (Chemin 2010 + cuppari 2014) 30 a 35kcal/kg peso/dia ou <20kcal/kg peso/dia inicialmente com evolução gradativa se IMC < 16kg/m², para evitar síndrome de realimentação. LIPÍDEOS - (Krause 05 e 10) deve-se ofertar o nível máximo que o paciente possa tolerar sem esteatorréia aumentada ou dor. Esta medida ajuda na promoção do ganho de peso - (Krause 05 /10 + Dan 2009) pacientes com suplementação máxima de enzimas devem receber dieta hipolipídica com 40 a 60g/dia ou substituição de parte da gordura por TCM - (Chemin 2010) 30% do VET se bem tolerado. Reduzir para < 20% VET + TCM se não houver ganho de peso e persistência de esteatorréia. - (Cuppari 2002) restrição de lipidios para < 20% VET é necessária (Dan 2009) embora a esteatorréia esteja presente em 1/3 dos pacientes com PC, a DESNUTRIÇÃO É RARA! CARBOIDRATOS (Dan) Nos casos leves ou iniciais, pode-se manter o estado nutricional aumentando a oferta de carboidratos e reduzindo os lipídeos (Chemin 2010 + cuppari 2014) normoglicídica atentando para possível Diabetes. PROTEÍNAS (Chemin 2010 + cuppari 2014) 1 a 1,5 g/kg/dia VITAMINAS (Krause,2005) - ocorre deficiência de vitaminas lipossolúveis devido à esteatorréia - (Chemin 2010) ocorre deficiência de Vit C, riboflavina, ácido nicotínico, cálcio, magnésio e zinco. - ocorre deficiência de Vit B12 pela ausência de proteases pancreáticas que promovem a separação da vit B12 da sua PTN carreadora. Como a B12 fica ligada à sua PTN carreadora, não consegue se ligar ao fator intrínseco e conseqüentemente não é absorvida. Podem ser necessárias formas hidrossolúveis de vitaminas lipossolúveis ou administração parenteral de B12. - especialmente na pancreatite crônica alcoólica a deficiência de tiamina está quase sempre presente, além de deficiência de ácido fólico (Chemin 2010). ANTIOXIDANTES - A deficiência de Selênio, Vit. A, E, betacaroteno, xantina e licopeno levam à inflamação persistente e à evolução para fibrose na PC. (Dan 09) ENZIMAS PANCREÁTICAS - podem fornecer alívio da dor pela redução da secreção exócrina - Se a função pancreática for reduzida em 90% a reposição é obrigatória. Esta é feita oralmente com as refeições e a dosagem deve ser de pelo menos 30000 UI/ lipase/ refeição (Krause,05/10) - 20.000 a 40.000 U / refeição de preparado padrão de enzimas, não somente lipase (Dan,09) ANTIÁCIDOS - devido à produção pancreática de bicarbonato ser freqüentemente ineficaz, pode-se utilizar antiácidos (Inibidores de bomba de prótons e antagonistas dos receptores de H2) ou bicarbonato para manter o pH intestinal ótimo para atuação das enzimas, além de inibir a secreção ácido-gástrica que é um importante estimulador da secreção pancreática. ÁLCOOL - Está proibido! DISFUNÇÕES ENDÓCRINAS - Deficiência de insulina: Paciente desenvolve intolerância à glicose e o tratamento é feito com administração de insulina exógena, similarmente ao que se faz com um paciente diabético. Segundo DAN 2009, Diabetes pode ocorrer de 7 a 15 anos depois do diagnóstico inicial de PC em 20 – 30% dos pacientes. - Deficiência de glucagon: Gera hipoglicemia refratária, pois sem o glucagon há prejuízo na mobilização dos estoques de glicogênio. O tratamento deve focar o controle dos sintomas e não a normoglicemia. Segundo DAN 2009, mais pacientes morrem por HIPOglicemia do que por HIPERglicemia, devido à ausência do contrarregulador Glucagon. A deficiência hormonal ocorre em conseqüência à destruição das células beta e alfa pancreáticas, produtoras de insulina e glucagon respectivamente. Nutrição enteral X parenteral na PC NE: nos casos de dor refratária com ingestão de alimentos, pode-se indicar dietas enterais, até mesmo poliméricas por via oral, já que estimulam menos o pâncreas comparadas aos alimentos in natura. NP: reservada para os casos de dor persistente até mesmo à NE oral ou casos de ascite pancreática e/ou cisto pancreático, onde a NP torna-se indicação formal e precisa na tentativa de estabelecer repouso pancreático máximo. 8 Nos pacientes em regime de NP que não apresentam melhora do estado geral e da dor, há suspeita de neoplasia, principalmente nos idosos. CIRURGIA NO CÂNCER DE PÂNCREAS O adenocarcinoma do ducto pancreático é extremamente agressivo e, no momento do diagnóstico, a maioria dos pacientes apresenta perda de peso importante e apresenta-se num estágio que não é possível realizar tratamento curativo. Os sintomas principais desta neoplasia são: dor abdominal, anorexia, náuseas, vômitos e perda de peso, sendo parte desta náusea e vômito, associados à obstrução duodenal. Alimentar-se pode piorara a dor. Quando o câncer obstrui o ducto pancreático, pode ocorrer má absorção devido à deficiência enzimática e, este fato, combinado à anorexia, contribui ainda mais para a perda de peso. Se ocorrer obstrução biliar, pode ocorrer má absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis. TRATAMENTO CIRÚRGICO CURATIVO (Chemin) É a única chance de cura, sendo a pancreatoduodenectomia (cirurgia de Whipple) o procedimento de escolha. Nesta cirurgia é retirada a metade distal do estômago, a cabeça e quantidades variáveis do pâncreas, todo o duodeno e alguns centímetros do jejuno. Problemas no pós operatório (Chemin) - insuficiência exócrina e a má absorção de gorduras - saciedade precoce, diarréia e anorexia - rápido esvaziamento gástrico, úlcera marginal (minimizada pelo uso de bloqueadores de H2) e gastrite com refluxo de bile. Uma modificação para preservar o piloro reduz o refluxo biliar e o esvaziamento rápido (ver figura abaixo, foto A), mas seu uso em pacientes com câncer de pâncreas é problemático. Após o procedimentoa sobrevida é baixa (4% em 05 anos) e aproximadamente 10 a 12% são diabéticos e 10 a 35% apresentam glicosúria ou hiperglicemia assintomáticas. Terapia Nutricional no Pós Operatório -(Krause) Conduta semelhante á pancreatite crônica, com reposição enzimática - (Dan) Lipídios: Recomenda-se dieta hipogordurosa e nos casos de má absorção deve-se usar TCM. Carboidratos: 60 a 70% do VET Devido ao jejum digestivo GÁSTRICO prolongado no pós operatório desta cirurgia, recomendam-se dietas elementares eriquecidas com TCM administradas por sonda nasoenteral ou jejunostomia TRATAMENTO CIRÚRGICO PALIATIVO (Chemin) Pacientes com tumores não passíveis de ressecção são submetidos a um desvio duplo, que é realizada para aliviar uma obstrução já presente ou iminente do duodeno e do ducto biliar. A cirurgia consiste em uma gastrojejunostomia e de uma coledocojejunostomia. Apesar desta cirurgia, os pacientes continuam queixando-se de saciedade precoce, dor abdominal após a refeição, distensão e falta de apetite. Estes pacientes apresentam perda de peso grave, debilidade física, dor e anorexia. Terapia Nutricional no pós operatório (Chemin) fornecer calorias e nutrientes suficientes para compensar a má absorção; Se as secreções digestivas forem inadequadas após a cirurgia, pode ser necessária a reposição enzimática junto às refeições; Devido aos oligossacarídeos não necessitarem de enzimas pancreáticas para sua hidrólise seu uso pode favorecer uma melhor absorção do que o uso de carboidratos de cadeia longa; Avaliar individualmente a questão da intolerância à glicose; Refeições pequenas e freqüentes podem auxiliar a ingestão devido à saciedade precoce; Se for necessário tanto para pacientes com ou sem ressecção curativa pode ser usado um tubo de jejunostomia para suplementação da nutrição oral através de nutrição enteral noturna. FÍGADO O fígado é a maior glândula do corpo humano, pesando aproximadamente 1500g e tem a capacidade de se regenerar. Ele é suprido com sangue vindo da artéria hepática (1/3 do total) + o vindo da aorta e veia porta, que supre os outros 2/3 e leva para o fígado o sangue escoado do TGI. Apesar de somente 10 a 20% de fígado funcional serem necessários para manutenção da vida, a sua remoção completa causa óbito em 24h. Isto demonstra claramente o papel metabólico chave desempenhado pelo fígado, cujas principais funções são mostradas na tabela 4. Tab.4: Principais funções do fígado SUBSTÂNCIA FUNÇÃO HEPÁTICA Carboidratos transforma em glicose os produtos da digestão de carboidratos armazena glicose na forma de glicogênio (glicogênese) disponibiliza glicose dos estoques de glicogênio (glicogenólise) quando é necessário (p. ex. em hipoglicemia) sintetiza glicose a partir de precursores não glicídicos (ácido lático, AA, ácido tricarboxílico), processo denominado gliconeogênese Proteínas conversão de AA em substratos energéticos síntese de AA não essenciais síntese de fatores de coagulação (fibrinogênio e protrombina) síntese de proteínas séricas (albumina, globulinas, transferrina, ceruloplasmina e lipoproteínas) Fig. 4: Cirurgia com preservação do piloro (A) e cirurgia de Whipple padrão (B) 9 Lipídios faz beta oxidação de ácidos graxos gerando energia sintetiza corpos cetônicos que servirão de substrato energético no jejum sintetiza e hidrolisa triglicerídeos, fosfolipídeos e colesterol Vitaminas armazena todas as vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) armazena vitamina B12 sintetiza as proteínas transportadoras de Vit A. converte caroteno em Vit A ativa o folato ativa a vit D Minerais armazena zinco, ferro, cobre e magnésio sintetiza as proteínas carreadoras de ferro, zinco e cobre Amônia Transforma amônia (produto tóxico resultante do metabolismo de proteínas) em uréia, que pode ser excretada pelos rins Hormônios esteróides São inativados e excretados (aldosterona, glicocorticóides, estrógeno, progesterona e testosterona) Álcool e drogas Detoxificação destas substâncias pelo sistema enzimático que possui Bactérias e detritos no sangue São removidos do sangue pela ação fagocítica das células de Kupffer, presentes nos sinusóides hepáticos (ação de filtro) AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO HEPÁTICA No caso de suspeita de doença hepática,podem ser utilizados marcadores bioquímicos como: Níveis séricos de bilirrubina: quando aumentados, podem indicar produção excessiva ou captação hepática prejudicada Fosfatase alcalina: níveis aumentados sugerem colestase, mas também podem aumentar com distúrbios ósseos, gravidez e alguns tipos de câncer, já que não é uma enzima produzida apenas pelo fígado. Enzimas hepáticas: elevação dos níveis séricos de aspartato aminotransferase (AST), uma enzima mitocondrial e alanina aminotransferase (ALT), uma enzima citoplasmática, denota dano ao hepatócito. Albumina sérica: como é produzida apenas pelo fígado, no caso de doença hepática pode ser um marcador de função do fígado, denotando dano hepático frente a uma síntese reduzida. HEPATITES VIRAIS AGUDAS É caracterizada por uma inflamação disseminada do fígado, causada pelos vírus da hepatite A, B, C, D e E. Alguns agentes menores como vírus Epstein-Barr, citomegalovírus, herpes simples, febre amarela e rubéola também podem causar hepatite aguda. 1. Hepatite A (HAV): transmitida por via fecal-oral e contraída por alimentos e/ou água contaminada. Os doentes apresentam sintomas como anorexia (mais comum), náusea, vômito, dor abdominal no quadrante superior direito, urina escura e icterícia. Normalmente a recuperação é completa, ocorre em 95% dos casos e conseqüências tardias são raras. 2. Hepatite B (HBV) e C (HCV): são transmitidas por sangue, sêmen e saliva e podem se tornar crônicas chegando até mesmo à cirrose. A recuperação ocorre em 90% dos casos de HBV porém apenas 15 – 30% em HCV. 3. Hepatite D (HDV): é um vírus dependente do vírus B para sobreviver, sendo portanto uma co-infecção. Esta hepatite normalmente cronifica. 4. Hepatite E: Assim como a hepatite A, esta é transmitida por via fecal-oral e normalmente não se torna crônica. 5. hepatite G/GB, (HGV) (Krause 2010 e 2013): É a causada pelo virus G e transmitida por transfusão sanguínea e parece NÃO CAUSAR hepatopatia. Sintomas gerais Os sintomas podem ser divididos em 4 fases: 1. Fase prodrômica: É uma fase inicial que acomete cerca de 25% dos pacientes com febre, artralgia (dor nas articulações), artrite, erupção e angioedema (edema decorrente do aumento da permeabilidade vascular). 2. Fase pré-ictérica: ocorre mal-estar, fadiga, mialgia, anorexia, náusea, vômito, disgeusia e disosmia (perda parcial da fala). 3. fase ictérica: É a fase que de fato aparece a icterícia. 4. fase convalescente: começam a desaparecer a icterícia e outros sintomas. HEPATITE FULMINANTE É caracterizada por insuficiência hepática grave com desenvolvimento de encefalopatia após 8 semanas, sem hepatopatia preexistente. Causas hepatite viral (75% dos casos) toxicidade química (acetaminofen, cogumelos venenosos, venenos industriais) doença de Wilson Fígado gorduroso da gravidez Síndrome de Reye (doença rara, pode ser fatal, acomete principalmente crianças e está associada a infecção viral) Isquemia hepática Obstrução de veia hepática Malignidade disseminada HEPATITE CRÔNICA Uma hepatite só pode ser classificada como crônica se tiver um curso de doença superior a 6 meses ou achados de biópsia que comprovem. Ela pode ter várias etiologias como: Auto-imune Viral (principalmente HCV) Metabólica (doença de Wilson; hemocromatose e deficiência de alfa – 1- antitripsina Tóxica ( metildopa, nitrofurantoína, etc.) 10 HEPATITE ALCOÓLICA Ao ser metabolizado, o álcool gera acetaldeído + hidrogênio. O consumo excessivo de álcool produz excesso de acetaldeído que causa dano à estrutura e função hepática, já o excesso de hidrogênio, causa acúmulo de gordura no fígado (esteatose hepática). O acúmulo de gordura associado ao dano causado pelo acetaldeído causaa hepatite, que pode evoluir para cirrose caso a ingestão alcoólica continue. De forma resumida, a hepatopatia alcoólica evolui por 3 estágios: esteatose → hepatite alcoólica → cirrose (fig.5) Fig. 5: Evolução da hepatopatia alcoólica Estudos mostram que independente da dose ingerida de etanol, apenas 30 a 35% dos alcoolistas evoluem para cirrose, mostrando que há outros fatores que tem importante papel na gênese da doença alcoólica, tais como: Herança genética ou polimorfismos genéticos das enzimas que metabolizam o álcool Sexo (mulheres são mais suscetíveis) Exposição simultânea a outras drogas Infecção por vírus hepatotrópico Fatores imunológicos Estado nutricional precário Sintomas da hepatite alcoólica Hepatomegalia (fígado de tamanho aumentado) Elevação modesta das transaminases (AST e ALT) Albumina normal ou Anemia/trombocitopenia Dor abdominal Fraqueza Anorexia Náusea Vômito Diarréia Febre Perda de peso Se o álcool for retirado, a esteatose e hepatite pode se resolver. Caso contrário, há evolução para o 3º estágio (cirrose), como ocorre na maioria dos casos. HEPATOPATIAS COLESTÁTICAS Pode ser dividida em dois tipos: cirrose biliar primária e colangite biliar primária, ambas doenças colestáticas crônicas imunomediadas. Na tabela 5 estão descritas as diferenças entre as duas. característica Cirrose biliar primária (CBP) Colangite esclerosante primária (CEP) Ductos biliares destruição progressiva dos ductos biliares intra hepáticos pequenos e médios. inflamação fibrosante dos ductos biliares extra-hepáticos (pode ou não comprometer intrahepático) Sexo acometido Maioria Mulheres (90% dos casos) Maioria homens (60 a 70% dos casos) Complicações osteopenia (redução da massa óssea) hipercolesterolemia deficiência de vitaminas lipossolúveis hipertensão portal insuficiência hepática colangiocarcinoma. Particularidade - 75% dos pacientes apresenta retocolite ulcerativa, tornando- os mais suscetíveis a deficiência de vitaminas lipossolúveis devido à esteatorreia presente. Tab. 5: Diferenças entre CBP e CEP Tratamento da CEP: utiliza-se imunossupressores pela capacidade deles em atrasar a necessidade do transplante. ÁLCOOL hidrogênio acetaldeído hepatotoxicidade Acúmulo de gordura no fígado(esteatose) hepatite cirrose 11 CIRROSE HEPÁTICA Na cirrose hepática, ocorre destruição dos hepatócitos e substituição do tecido hepático funcional por tecido cicatricial (fibrose), fazendo com que haja além de perda funcional, alteração estrutural do fígado (ver fig. 7). É uma doença irreversível e só é curada com o transplante hepático. Fig. 7: O contorno mais externo representa o tamanho de um fígado normal. O contorno mais interno representa um fígado cirrótico, com os nódulos de regeneração (fibrose) e tamanho reduzido. Etiologias da cirrose (Chemin) Metabólicas: decorrentes de erros congênitos como, galactosemia, tirosinemia, doença de Wilson, hemocromatose, deficiência de alfa 1 antitripsina e esteato hepatite não alcoólica Virais: ocasionada pelos vírus B (associado ou não ao D ou delta) e C da hepatite Alcoólica: ocorre após ingestão média de 80g (homens) e 60g (mulheres) de alcool/dia por um período de 5 a 10 anos (chemin) ou > 60 a 80g etanol/dia (H) e > 40 a 60g etanol/dia (M) por aprox. 10 anos (Dan,09) Induzida por fármacos: metrotrexato, isoniazida, oxifenisatina e alfa-metildopa Auto imune: afeta caracteristicamente mulheres jovens ou pós menopausa e é conseqüente à evolução da hepatite ou colangite auto imune Biliares: cirroses biliares primária e secundária Criptogenica: de etiolgia indeterminada (10 a 15% dos casos) Manifestações clínicas (Chemin + Dan 2009) (Chemin) Os pacientes são classificados em compensados ou descompensados (presença de ascite, encefalopatia e/ou icterícia). (Dan) Cirrose hepática compensada Pobre em sinais e sintomas. Suspeita da doença por alterações ao exame físico. Alguns pacientes podem manter- se nesta fase por toda vida, outros, em poucos meses ou anos, evoluem para falência hepatocelular e hipertensão portal. Cirrose hepática descompensada Presença de complicações da cirrose – ascite, encefalopatia e HDA, e sinais característicos como fraqueza, perda ponderal, hálito hepático, icterícia e circulação colateral. Causas da desnutrição no hepatopata Como o fígado é um órgão chave para o metabolismo de forma geral, um prejuízo importante em sua função, como se observa na cirrose, acarreta uma série de conseqüências inclusive nutricionais, sendo a desnutrição extremamente prevalente. Entretanto, quando a terapia nutricional é fornecida, a desnutrição pode ser revertida e o prognóstico clínico melhorado. 1. Ingestão oral inadequada é o principal contribuinte para desnutrição e é acarretada por um conjunto de fatores: - anorexia - disgeusia: estes pacientes podem apresentar deficiência de zinco, que está associada à disgeusia - saciedade precoce: a ascite aumenta a pressão intra-abdominal, comprimindo o estômago - dietas muito restritas e não saborosas Esteatorréia é comum de ocorrer na cirrose, especialmente se houver lesão ou obstrução do ducto biliar. - drogas utilizadas no tratamento que podem causar má absorção (lactulose, sequestrantes de sais biliares) 2. Metabolismo alterado ocorre alteração no metabolismo de macro e micronutrientes, com possível elevação do GEB. DISTÚRBIO FISIOPATOLOGIA SINAIS E SINTOMAS TRATAMENTO Hemocromatose sobrecarga de ferro ( indivíduos conseguem armazenar 20-40g de ferro comparados à 0,3 - 0,8g em indivíduos normais) - hepatomegalia - varizes de esôfago, - ascite -síntese hepática prejudicada pigmentação anormal da pele intolerância à glicose - comprometimento cardíaco - hipogonadismo - restrição de ferro - flebotomia (se iniciada antes do aparecimento de cirrose, promove expectativa de vida normal) Doença de Wilson Acúmulo de cobre devido à excreção biliar prejudicada (a bile é a maior forma de excretar cobre) em tecidos como: fígado, cérebro, córnea e rins. - níveis séricos de ceruloplasmina - anel de Kayser-Fleischer (Fig. 6) - sinais neurológicos podem ser a manifestação mais precoce - usar agentes quelantes de cobre - a suplementação com zinco pode absorção do cobre. - dieta pobre em cobre - transplante hepático é necessário Def. de alfa- 1- antitripsina Colestase ou cirrose ocorrem - Transplante hepático 12 3. Paracentese consiste na retirada do líquido ascítico por punção abdominal. Este líquido é rico em proteínas e, portanto, ao retirá-lo ocorre perda protéica. 4. Ingestão alcoólica Apesar de não estar envolvida em 100% dos casos de cirrose, a ingestão alcoólica é muito freqüente e é uma importante causa de desnutrição devido a fatores como: - substituição do alimento pelo álcool - o álcool possui efeito negativo sobre a digestão e absorção, levado à deficiência de tiamina, B12, folato, d-xilose, zinco, aminoácidos e lipídios. - além do prejuízo na absorção dos micronutrientes, o álcool também provoca alteração no metabolismo deles. Ocorre maior degradação da forma ativa da piridoxina e menor formação da forma ativa do folato. - promove aceleração da peristalse e redução da lactase da borda em escova, causando diarréia e esteatorréia. 5. sangramento digestivo (melena) pode ocorrer pela ruptura de varizes esofagianas e gástricas e é necessário que o paciente fique em dieta zero, de forma que se isto ocorrer com freqüência pode levar a desnutrição 6. alterações neurológicas: dependendo da gravidade, podem impossibilitar uma ingestão por via oral segura. A desnutrição é mais acentuada na hepatipatia alcoólica, mostrando participação direta do álcool na desnutrição. (Krause) Conseqüências da desnutrição (Chemin) A desnutrição pode contribuir com o aparecimento do ascite (pela redução ainda maior das ptns totais), encefalopatia (pela proteólise que o paciente faz) e peritonite bacteriana (pela redução da imunidade e risco de colonização bacteriana no líquido ascítico que é nutritivopara bactéria). Quanto maior for a gravidade da cirrose, pior é a desnutrição, ou seja, pacientes Child B e C são mais desnutridos do que Child A (Chemin) AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DO HEPATOPATA (Krauses + Dans + Cuppari) Diante de todas as causas de desnutrição presentes no paciente hepatopata, e considerando que a desnutrição é uma achado bastante freqüente, torna-se fundamental a realização da avaliação nutricional. Entretanto, ainda não há um “padrão ouro” para avaliação do hepatopata e portanto esta deve ser feita utilizando-se métodos antropométricos, bioquímicos e clínicos, conforme descritos abaixo: 1. História clínica: deve-se considerar o início, duração, e etiologia da doença hepática, bem como a presença de comorbidades (nefropatia, DM, cardiopatia) 2. exame físico: observar edema, ascite e sinais de deficiências nutricionais (dermatites por carência de zinco ou de ácidos graxos essenciais; pelagra por deficiência de niacina e queilose ou queilite por deficiência de complexo B) 3. Avaliação subjetiva global: neste tipo de avaliação, há diferenças entre os autores. - Krause (05/10) tem demonstrado um nível aceitável de confiabilidade e validade, fornecendo uma perspectiva ampla, porém não é sensível às alterações no estado nutricional. - Dan 09 e Cuppari é um bom método de avaliação com 77% de concordância com a antropometria, apesar de não quantificar as alterações nutricionais. É considerado um método impreciso por alguns autores por subestimar a DPC em 50% na cirrose ou superestimar em 60%. - (Chemin) Ainda é controverso para hepatopatas 4. indicadores bioquímicos: - proteínas séricas (albumina; pré-albumina; transferrina; proteína ligadora do retinol) devem ser usadas com cautela pois já que são produzidas pelo fígado, níveis baixos podem refletir a disfunção hepática e não necessariamente desnutrição - se possível, dosar ferro, ferritina, magnésio, zinco, cálcio, fósforo, B12 e folato - índice creatinina/altura (Cuppari)pode ser usado para estimar massa magra uma vez que é mais afetado por doença renal do que hepática, além de ser o que menos sofre interferência do acúmulo de líquidos no terceiro espaço. (Chemin) o índice creatinina/altura é um bom indicador de massa magra, exceto em doença renal Atenção: A Chemin diz que é um bom indicador no texto,mas coloca em uma tabela como sendo um fator que afeta o índice de creatinina altura, a síntese hepática reduzida de creatina (Krause – 05/10) diz que como o fígado sintetiza a creatina (PTN que dá origem a creatinina), no caso de insuficiência hepática grave, ocorre alteração nas suas taxas independente do estado nutricional. - balanço nitrogenado pode ser usado para avaliar a adequação da terapia nutricional através do grau de retenção de nitrogenio. - contagem total de linfócitos: reduzida em alcoolistas durante ingestão alcoólica, mas voltam ao normal em abstinência 5. Antropometria - é usada utilizando-se os mesmos parâmetros que se utiliza para qualquer indivíduo. - Nos casos de edema ou ascite, deve-se dar preferência a PCT, PC biciptal , subescapular e CMB pois sofre menor interferência na retenção hídrica. Não se recomenda uso de IMC nestes casos (Chemin + Krause) - em estudo com cirróticos ambulatoriais viu-se que a CMB estava mais reduzida em homens e a PCT em mulheres (chemin) - deve-se avaliar circunferência abdominal e peso periodicamente para acompanhar a progressão ou remissão da ascite. - (Dan 2009) Circunferência da panturrilha não se deve utilizar em casos de edema. 13 6.Força muscular - pode ser utilizada para avaliar a eficácia da terapia nutricional. Entretanto em casos de encefalopatia não pode ser usada pois não se sabe se é devido à redução muscular ou às alterações bioquímicas (Chemin + Krause) 7. impedância bioelétrica (Dan 2009) Pode ser utilizada em pacientes com DHC compensada ou descompensada sem grandes alterações na sensibilidade do método. Identificação do risco prognóstico através do ângulo de fase. Deve ser usada em casos de ascite e edema e naqueles em uso de diuréticos para acompanhamento da retenção hídrica. (Chemin 11) tem valor limitado na presença de ascite e edema pois superestima a massa gorda e subestima a magra (atenção: essa informação de superestimar massa gorda está errada, mas é assim que está na Chemin) (krause 10/13) múltiplos erros de interpretação, em caso de ascite e edema, sendo um método INVÁLIDO nesses casos. Por isso, recomenda realizar em conjunto medidas antropométricas + avaliação da ingestão + ASG. (cuppari 2014) Pode ser usada em paciente hepatopata, mas deve ser restrita em caso de edema e/ou ascite. Como já visto, o paciente hepatopata requer um conjunto de parâmetros para avaliá-lo de forma mais correta, uma vez que as alterações metabólicas presentes geram dificuldades na interpretação destes parâmetros, como mostra a tabela abaixo. Resumo dos fatores que afetam a interpretação dos parâmetros de avaliação nutricional no hepatopata (Krause,05/10) Teste Fatores que afetam interpretação Peso Afetado por edema, ascite e diuréticos Antropometria -Sensibilidade, especificidade e confiabilidade questionáveis -Má distribuição hídrica pode subestimar desnutrição Creatinina/altura Hepatopatia grave reduz síntese de creatina e portanto formação de creatinina independente do estado nutricional Balanço nitrogenado Pode ser afetado pela síndrome hepatorrenal Excreção 3- metil-histidina Afetada por trauma, infecção e função renal Proteínas viscerais -A síntese diminuída reflete mau funcionamento hepático e não estado nutricional -afetadas pela má distribuição hídrica que promove diluição delas Função imunológica Afetados pela insuficiência renal, distúrbios eletrolíticos, infecção e insuficiência renal Além dos parâmetros antropométricos, bioquímicos e clínicos já vistos, é importante classificar a gravidade da insuficiência hepática para estimar de forma mais correta as necessidades do paciente. Para tal, utiliza-se a classificação de Child – Pugh,demonstrada abaixo: ALTERAÇÕES NO METABOLISMO DE HORMÔNIOS NO HEPATOPATA *shunt portossistêmico: é um desvio do sangue da veia porta para circulação sistêmica sem que ele passe pelo fígado. Normalmente a ligação é feita com a veia cava e objetiva aliviar a hipertensão portal, conforme ilustrado abaixo: TERAPIA NUTRICIONAL NO CIRRÓTICO Medidas gerais (Cuppari) introdução de 5 – 6 refeições/dia evitar longos períodos de jejum (o paciente cirrótico faz hipoglicemia mais precocemente devido à menor capacidade de armazenar glicogênio) alimentos de fácil digestibilidade e alta densidade calórica administrar suplementos energéticos à noite Objetivos (Cuppari) favorecer a aceitação da dieta e melhorar o aproveitamento dos nutrientes atender às necessidades e favorecer o ganho de peso controlar catabolismo muscular e visceral garantir aporte adequado de aminoácidos para manter o balanço nitrogenado, garantir síntese de proteínas de fase aguda e promover regeneração hepática sem precipitar a encefalopatia. Energia os percentuais devem ser distribuídos normalmente entre os macronutrientes (Krause).a maioria dos cirróticos é normometabólico, especialmente os com doença terminal 14 (Krause 2010) Com ascite, infecção ou má absorção incremento de 150 a 175% do GER ou 25 a 35 kcal/kg/dia Terapia adjuvante deve ser dada se ingestão < 30kcal/kg/dia (Krause 2010) (Chemin) Os pacientes hepatopatas tendem a ser hipermetabólicos e desnutridos (proj. diretrizes 2011) A cirrose está relacionada com hipermetabolismo em apenas 15% dos pacientes. Em geral os pacientes em estágio terminal sem ascite apresentam 120 a 140% do GEB. (krause & Cuppari) Deve-se utilizar de 25 – 35 kcal/kg peso (cuppari 2014) Deve-se utilizar de 25 – 40 kcal/kg peso (Dan 2009) 25 – 35 Kcal/Kg/dia Manter ou restaurar o EN. 40Kcal/Kg/dia Ganho de peso mais acentuado. Sem Ascite: Usar peso atual Com Ascite: Usar peso adequado (teórico) ou seco. O peso utilizado deve ser o pesoseco (Krause) O peso utilizado não deve ser o seco e sim o atual (na ausência de ascite) ou o ideal na presença de ascite. (CuppariS), já que o peso seco pode subestimar as necessidades calóricas. NÃO utilizar Harris Benedict devido a elevada margem de erro para esses pacientes. (CuppariS) Carboidratos Podem compor de 50 a 60% do VET Preferencialmente carboidratos complexos, mas os simples podem ser usados desde que a glicemia esteja controlada (a maioria dos cirróticos apresenta resistência à insulina). Na vigência de sepse, pode ocorrer hipoglicemia em 50% dos pacientes. (Chemin) ver percentual recomendado para cada doença na tabela 6. Proteínas Krause É o macronutriente de controle mais complexo Estudos mostram perdas de proteínas aumentada apenas em insuficiencia hepática fulminante e cirrose descompensada, mas não em cirrose estável. Pacientes estáveis (Hepatite não complicada e cirrose sem encefalopatia) = 0,8 – 1g/kg peso seco/dia para equilibrar o balanço nitrogenado (BN) Para positivar BN = 1,2 a 1,3 g/kg peso /dia Doença descompensada (sepse, ascite grave, infecção, sangramento TGI) = pelo menos 1,5 g/kg peso/dia Projeto diretrizes 2011 Na cirrose AVANÇADA, a suplementação oral prolongada com AACR é útil para prevenir a progressão da falência hepática e melhora da evolução clinica. CuppariS pacientes estáveis= 0,8 a 1,0 g/kg peso atual ou ideal/dia Para melhor retenção nitrogenada = 1,2 – 1,8 g/kg peso/dia Não se recomenda mais restrição protéica para profilaxia de encefalopatia. A maioria dos pacientes tolera bem até 1,75 g/kg peso/dia Dan 2009 1g/Kg atual ou ideal/dia Dç hepática estável p/ BN+ 1,2 – 1,8g/Kg/dia Para retenção nitrogenada – preferir Ptn vegetal. Mín. 1,5g/Kg/dia Em indicações cirúrgicas. Chemin - olhar recomendações na tab 6 A recomendação para pacientes estáveis é comum aos 3 primeiros autores diferindo apenas na Chemin e Dan 2009 (ver Tab 6) Prestem atenção que a Krause e Dan 2009 utilizam peso SECO, ao passo que Cuppari peso ATUAL ou IDEAL. Lipídios 25 a 40% de lipídios (Krause) máximo de 30% do VET(Cuppari & Dan) os ácidos graxos livres, glicerol e corpos cetônicos estão no sangue pois há preferência por lipídios como fonte energética (Krause) (Chemin) ver tab 6 Tab 6: Recomendações para hepatopata (Chemin) Tab.7: Resumo das recomendações de Macronutrientes segundo McCULLOUGH et. Al, 1998 (Dan & Cuppari) Vitaminas e minerais (Krause + cuppari) a suplementação é necessária em todos como doença terminal vitaminas lipossolúveis (Krause + Cuppari) A deficiência de vitaminas lipossolúveis foram encontradas em todos os tipos de insuf. Hepática, em especial as colestáticas * 15 Suplementação de vitamina A + zinco pode melhorar ganho de peso por melhorar paladar A vitamina K é administrada intravenosa por 3 dias para eliminar a deficiência Suplementação com vitamina E reduz a peroxidação de lipídios, um dos indutores de endotoxinas que contribuem para distúrbios hemorrágicos no cirrótico. Apesar dissso, não não modifica qualidade de vida nem mortalidade. (Chemin) - complexos vitamínicos são importantes especialmente para alcoolistas - pacientes em uso de diurético para tratar edema e ascite podem apresentar cãibras por depleção de potássio e magnésio - casos prolongados de colestase há disabsorção de vitaminas lipossolúveis e deve-se fazer esquema de reposição de vit A (2.500 UI/dia); vit D (50.000 UI/dia); vit E (400 UI/dia) e vit K (sem recomendação) Vitaminas hidrossolúveis tiamina – administrar 100mg/dia por tempo indetermiado para correção da deficiência que causa encefalopatia de Wernicke. B12, folato, B6 (piridoxina) e B3(niacina), riboflavina e Vit. C, principalmente na hepatopatia alcoólica. Minerais ferro – pode estar diminuído (hemorragia digestiva) ou aumentado (hemocromatose) cobre e manganês nas hepatopatias colestáticas (CBP e CEP), já que são excretados principalmente na bile. Zinco e magnésio principalmente pelo alcoolismo e em parte pela terapia diurética freqüentemente utilizada para redução de ascite e edema (Dan 2009) Suplementação com Zinco favorece a disponibilidade da Glicose, melhora a evolução clínica da cirrose, da encefalopatia hepática e sinais neurológicos da desnutrição. A recomendação é Sulfato de zinco 220mg para aqueles com zinco plasmático reduzido. cálcio pode estar pela esteatorréia (Chemin + Krause), pode ser necessária suplementação com cálcio efervescente ou carbonato de cálcio (Chemin) restrição de sódio é necessária apenas se houver retenção hídrica Suplementos Herbais (Krause 2010 e 2013) Apesar de populares na doença hepática, o cardo mariano (antifibrótico) e a S-adenosil-L-metionina (SAMe), que participa da síntese de glutationa, não se mostraram benéficos em pacientes com doença hepática alcoólica. Atenção! A SAMe foi benéfica para NASH, por reduzir TNF-a Krause,2013 (Krause 2013) Há vários relatos de que terpenóides de plantas podem induzir uma hepatotoxicidade grave, inclusive fatal. São eles: teucrium polium, Sho-saiko-to, centella asiática e Black cohosh. Tambem foi descrita lesão hepática por N- nitrosofenfluramina, alcaloides efedrinicos, psoralea corylifolia, kava e alcaloides pirrolizidínicos. TERAPIA NUTRICIONAL NA PRESENÇA DE COMPLICAÇÕES DA CIRROSE Hipertensão Portal A hipertensão da veia porta ocorre devido à compressão das suas ramificações intra-hepáticas pelo fígado fibrosado e de menor tamanho. Com a compressão das ramificações, o sangue não consegue fluir adequadamente, ficando “retido” na veia porta aumentando sua pressão (fig.8) Fig. 8: sistema porta hepático. As setas largas mostram as ramificações da veia porta que estão comprimidas. As setas finas brancas mostram a direção do fluxo sanguíneo. Como resultado da hipertensão portal, ocorre aumento do fluxo sanguíneo na circulação colateral (pequenos e finos vasos antes colabados, ou seja, sem fluxo), na tentativa de reduzir a pressão no sistema porta. Com isso, formam-se as varizes no TGI que com freqüência sangram causando emergência clínica. Além da circulação colateral ocorre hepatoesplenomegalia (a esplenomegalia ocorre pois o sangue fica congesto no baço já que não flui adequadamente pelo fígado) e ascite. Tratamento médico (Chemin) - reposição de sangue e derivados em grande volume (Krause) - beta bloqueadores para freqüência cardíaca - escleroterapia - ligação varical ou colocação de desvios (shunt portossistêmicos) - durante sangramento agudo pode-se administrar análogo da somatostatina para sangramento ou tamponamento dos vasos sangrantes com balão. Terapia Nutricional (Krause) - dieta zero durante sangramento - caso via oral fique zerada por 5 dias, indicar nutrição parenteral - as escleroterapias repetidas no esôfago podem prejudicar a deglutição - os desvios podem aumentar a incidência de encefalopatia por desviar o sangue do fígado. 16 Ascite - A hipertensão portal + hipoalbuminemia + obstrução linfática + maior estímulo do sistema renina, angiotensina, aldosterona que promove maior retenção de água e sódio, contribuem para o aparecimento dela. - eleva o GEB em 10% por ser um compartimento metabolicamente ativo Tratamento médico - paracentese - terapia diurética (furosemida + espironolactona) – devem ser monitorados sódio urinário, nitrogênio ureico sérico, creatinina, albumina, ácido úrico e eletrólitos, peso e circunferência abdominal. Terapia Nutricional - deve-se iniciar dieta em associação com diuréticos poupadores de potássio (Chemin) - a restrição hídrica só deve ser implementada em casos avançados de ascite (Chemin) - restrição de sódio a 2g/dia (80 mEq) – (Krause + Chemin). Não devem ser feitas restrições exageradas pois levam a menor ingestão e comprometimento nutricional (Chemin) - no caso de paracenteses freqüentes, deve-se atentar para ingestão protéica adequada, já que ocorre perda protéica com a retirada do líquido ascítico. Hiponatremia Ocorre devido àcapacidade reduzida de excretar água por liberação persistente do hormônio antidiurético (o sangue fica diluído causando uma hiponatremia dilucional), perdas de sódio na paracentese e com a terapia diurética. Entretanto, uma ingestão moderada de sódio deve ser continuada a fim de evitar maior retenção hídrica, gerando um circulo vicioso (Krause). Segundo Chemin, valores de sódio < 130 mEq/L exigem restrição hídrica para 800ml/dia de líquidos no total (não apenas água) e segundo Krause 10 a ingestão de líquidos é geralmente restrita a 1 a1,5L/dia. Alterações da Glicose e insulina Resistência à insulina: quase 2/3 dos pacientes irão fazer intolerância à glicose por conta dela e 10 a 37% irá desenvolver diabetes. Hiperinsulinismo:também ocorre em pacientes cirróticos, possivelmente porque a produção aumenta e a depuração hepática diminui. Hipoglicemia de jejum: ocorre em razão da menor disponibilidade de glicogênio no fígado cirrótico, associado à capacidade reduzida do fígado em fazer gliconeogênese. Também pode ocorrer após o consumo de álcool pois ele inibe ainda mais a gliconeogênese . Terapia Nutricional na hipoglicemia de jejum: refeições balanceadas com pequenos e freqüentes lanches. È mandatório a monitoração da insulinemia e glicemia. Má absorção de gordura No caso de esteatorreia significante, é recomendada reposição de alguns triglicerídeos de cadeia longa (TCL) e média (TCM), sendo este último na dose de 15ml, 3- 4x/dia. Se hover perdas fecais significantes, deve-se fazer uma dieta hipolipídica (40g de gordura/dia) se a diarréia não for resolvida, deve-se suspender a restrição lipídica pois ela compromete a palatabilidade e resulta em < ingestão. Síndrome hepatorrenal É caracterizada por redução do fluxo sanguíneo renal + redução da taxa de filtração glomerular, levando a uma insuficiência renal sem que haja anormalidade intrínseca no órgão. Nos casos em que a terapia falhar, pode ser necessário o uso de diálise. (Krause 2010) É diagnosticada por um sódio urinário é < 10 mEq/L + oligúria persistente mesmo na ausência de depleção de volume intravascular. Terapia Nutricional: pode ser necessária a redução de ingestão de líquidos, sódio, potássio e fósforo. Osteopenia Tem sido identificada em pacientes com hepatopatia alcoólica. Terapia Nutricional: - manutenção do peso - dieta balanceada - proteína adequada para manter massa muscular - (Krause) 1500 mg de cálcio/dia + vit. D adequada através de dieta e/ou suplemento. - (Dan 2009) A suplementação com cálcio e vitamina D são ineficazes. - evitar o álcool - monitorar esteatorréia Encefalopatia Hepática Sua etiologia é multifatorial e apesar de ser uma complicação freqüente nos cirróticos (50 a 70% apresenta), apenas em 7 a 9% dos casos ela é precipitada por ingestão protéica excessiva. Ela pode ser classificada do estágio 1 ao 4 (menos grave para mais grave – ver tab. 11) e as principais teorias envolvidas na sua precipitação são: Amônia: a amônia é um produto neurotóxico, formado no metabolismo das proteínas, que necessita ser transformado em uréia pelo fígado para poder ser excretada. Como o fígado está doente, esta transformação não ocorre, levando a um acúmulo de amônia na corrente sanguínea que irá causar toxicidade ao SNC. Tratamento médico: como a maior fonte de amônia é a produção pelas bactérias intestinais a partir de proteínas da dieta ou do sangramento de varizes do TGI, um dos tratamentos médicos é a esterelização da flora com neomicina, um antibiótico não absorvido. Associado a neomicina, utiliza-se o laxante lactulona, que age por dois mecanismos: - alteração do pH intestinal resultando em menor absorção de amônia por retenção intestinal dela na forma de íon amônio. - estimula eliminação de amônia nas fezes pelo efeito laxante. Teoria do neurotransmissor: O paciente cirrótico apresenta uma redução de aminoácidos de cadeia 17 ramificada (AACR) e elevação dos aminoácidos de cadeia aromática (AACA), metionina, glutamina, asparagina e histidina. Isto se dá porque os AACA são degradados pelo fígado e como o fígado está doente, esta degradação é menor, resultando em maiores concentrações séricas deles. Já os AACR são preferencialmente consumidos pelos músculos, coração, e cérebro, fornecendo 30% da energia quando há redução da gliconeogênese e cetogênese, exatamente como ocorre na cirrose. Desta, forma as concentrações de AACR se reduzem. A relação disso com a encefalopatia hepática, está no fato de ambos os tipos de Aminoácidos competirem pelo mesmo transportador na barreira hematoencefálica, de maneira que conseguirá atravessar aquele que estiver em maior concentração, neste caso os AACA. Ao atravessarem a barreira hematoecefálica os AACA conseguem gerar falsos neurotransmissores que irão levar a alterações neurológicas, como as vistas na encefalopatia Teoria do “Cavalo de tróia” (Dan 2009): A amônia que entra no cérebro é metabolizada nos astrócitos (céls responsáveis pela nutrição e proteção dos neurônios) a glutamina. Em condições normais, essa glutamina sai do astrócito por difusão passiva. Entretanto, com o aumento de amônia no sangue, ocorre alteração de pH e prejuízo da saída de glutamina dos astrócitos, promovendo seu acúmulo. Este acúmulo gera metabolismo da glutamina nas mitocôndrias em glutamato + AMÔNIA. Logo, a glutamina em excesso vira um “cavalo de tróia” que leva amônia para o interior do astrócito. Outras teorias: engloba outras substâncias neurotóxicas como ácidos graxos de cadeia curta, mercaptanas, fenóis e ácido alfa –aminobutírico. Há ainda uma teoria de que a deficiência de zinco, tipos de ácidos graxos ou triptofano possam estar também envolvidos. Estágios da encefalopatia Hepática Terapia Nutricional Tab. 8: Recomendações nutricionais na encefalopatia (Cuppari) Restrição desnecessária de proteína pode piorar a perda protéica (Dan 2009) Cirrose hepática e encefalopatia são beneficiados com dietas NORMO ou HIPER protéicas modificadas (aumento de proteínas lácteas e proteínas vegetais). Os pacientes toleram bem até 1,8g ptn/Kg/dia. 95% dos cirróticos pode tolerar até 1,5g/kg/dia de proteína mista (krause 10) (Chemin) Energia: 25 – 40 kcal/kg/dia Carboidratos: 60 – 70% VET Lipídios: 25 – 30% VET Proteínas (Chemin) - encefalopatia grau 1 e 2: ofertar 1 – 1,5g/kg peso IDEAL/dia (10 a 30g/dia de ptn animal + vegetal para completar quantidade) - encefalopatia grau 3 e 4: usar nutrição enteral exclusiva rica em AACR na proporção 3:1 (AACR: AACA) até atingir 1 – 1,5 g/kg peso IDEAL/ dia Atenção: A recomendação de PTN na encefalopatia da Chemin no texto é a descrita acima, porém na tabela 6 ela recomenda 0,5 – 1,5 g/kg/dia, sem especificar o grau de encefalopatia, observem! Com relação aos AACR para os encefalopatas: (Dan 09) Indicada para pacientes com encefalopatia grave ou persistente; Em cirróticos desnutridos previne o catabolismo endógeno, sem sobrecarregar a função hepática; Competem com AACA, minimizando a entrada de aminas tóxicas no SNC; Útil para atingir necessidades protéicas naqueles com intolerância à proteína-padrão (0,25g AACR/Kg + 0,75g de ptn/Kg) A longo prazo, melhora a qualidade de vida e favorece evolução clínica. (Krause 2010) Suplementação com AACR não traz melhora significativa aos pacientes. (CuppariS) especialistas indicam fórmulas enriquecidas com AACR para pacientes intolerantes à proteína padrão e que não responderam ao tratamento com neomicina + lactulose. * aminoácidos essenciais 18 L-Ornitina e L-Aspartato (LOLA) – Cuppari 2014 Ambos aminoácidos são substratos para síntese muscular de glutamato, que será convertido à glutamina, aumentando a captação e depuração muscular da amônia circulante. Houve melhora significativa do quadro clínico de pacientes com EH graus I e II submetidos à terapia com LOLA. Probióticos (Dan 2009 + Krause 2010): São Indicados no tratamento da EH. Nos cirróticos, os probióticos podem melhorar alguns sintomas de disfunção GI e reduzir conteúdo de amônia no sangue portal.(projeto diretrizes 2011) Prebióticos, probióticos e simbióticos estão indicados na prevenção e no tratamento da EH. O uso de SIMBIÓTICOS, inclusive, apresenta resultados mais consistentes Tab. 9: Alimentos contra-indicados e permitidos para dieta rica em AACR (CuppariS) Para encefalopatia crônica: oferecer suplementos ricos em AACR ou leite de soja Oferecer dietas com proteína vegetal (menos histidina, menos amoniogênicas em mais ricas em AACR) e caseína (mais AACR e menos AACA) melhoram o estado mental comparadas à carne. Alto teor de fibras é benéfico por aumentar a excreção de compostos nitrogenados TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL NO CIRRÓTICO (Dan + projeto diretrizes 2011) A via oral deve ser sempre a via preferencial para estes pacientes, entretanto no caso de impossibilidade ou ingestão insuficiente, deve-se indicar nutrição enteral (2ª escolha) ou parenteral dependendo do caso. Nutrição Enteral Quando o paciente apresenta significante perda de peso corporal (>5% em três meses; ≥ 10% em seis meses) ou quando a ingestão via oral for < 60% (proj diretrizes) A presença de varizes no esôfago NÃO contra-indica o uso de sondas nasoenterais de material macio e de fino calibre. (Dan) X A passagem de sonda está contraindicada somente nos pacientes com varizes esofágicas ativas ou com risco de sangramento importante (proj diretrizes) Na presença de confusão mental deve-se posicionar a sonda em jejuno, para reduzir o risco de broncoaspiracao. Ostomias estão contra-indicadas nos pacientes com ascite volumosa pelo risco de peritonite Recomenda-se o uso de bomba infusora para melhorar a tolerância a dieta, especialmente nos pacientes com ascite volumosa. Não infundir grandes volumes As formulas devem ter densidade calórica > 1 cal ml, para favorecer o ganho de peso sem infundir grandes volumes. Teor de sódio deve ser < 40mEqdia A formula deve conter todos os aminoácidos essenciais. As formulas suplementadas com AACR estão indicadas quando houver intolerância a proteína animal. Nutrição Parenteral Esta indicada quando não for possível usar o TGI, como ocorre, por exemplo, em sangramentos não controlados. A nutrição parenteral periférica pode ser útil para suplementar a nutrição enteral oral ou por sonda. Na presença de Em pacientes estáveis usar emulsão lipidica padrão (a base de TCL), perfazendo de 25 a 40% das calorias não protéicas. Presença de colestase ou esteatorreiausar emulsões com TCL e TCM Presença de hipertrigliceridemia restrição lipidica, ofertando apenas o mínimo para evitar deficiência de ácidos graxos essenciais (1000ml de TCL a 10% - 1x por semana) (Chemin) oferecer 2 frascos ao dia com 40g de AA em cada, em uma solução de glicose a 50%. Parece que suplementação de AACR na parenteral não traz benefícios comparada à solução padrão DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOOLICA – DHGNA ou EHNA (Chemin + Cupparis + Dan 2009 + Krause 10/13) Definição: Acúmulo de triglicerídeos em mais de 5% dos hepatócitos (Chemin). A evolução da DHGNA é normalmente benigna, com função hepática preservada por vários anos, entretanto pode evoluir para doença crônica se não tratada em 15% dos casos (Cuppari). Segundo DAN 2009, Já pode ser considerada uma manifestação hepática da Síndrome metabólica, associada à ingestão excessiva de açúcar simples e gordura saturada. Classificação (Chemin) 1. DHGNA primária: observados em pacientes obesos, diabéticos, hiperlipidemicos 2. DHGNA secundária:doenças familiares, agentes ambientais, hipotireoidismo e medicamentos ATENÇÃO: Ela só será classificada em primária ou secundaria após exclusão de Hepatite C ou alcoólica que são as principais causas de esteatose. Encefalopatia grau 1 e 2 = solução padrão de aminoácidos Encefalopatia grau 3 e 4= solução enriquecida com AACR 19 Prevalência (Chemin) - ainda não conhecida no Brasil - apesar de ser mais comum em obesos e diabéticos, pode também ser encontrada em magros não diabéticos Sinais e sintomas (Cuppari) A maioria é assintomática, mas às vezes, especialmente em pacientes pediátricos, podem ocorrer sintomas como: dor no quadrante superior direito do abdome, desconforto abdominal, fadiaga ou mal estar. Alterações laboratoriais (Cupparis) - a principal alteração é na ALT e AST que podem estar elevadas de 2 a 5x o valor normal - pode ocorrer elevação da ferritina em alguns pacientes - raramente são evidenciadas alterações em albumina e bilirrubina Tratamento médico (Chemin) - nenhum é ainda universalmente aceito; - a resistência à insulina apresenta papel importante no surgimento e evolução da DHGNA, logo tem sido empregadas drogas que melhorem a sensibilidade à insulina (metformina e glitazonas) - ácido ursodeoxicólico (AUDC) também tem sido usado mas seu efeito em reduzir as enzimas hepáticas é temporário e não houve modificação histológica com seu uso. (Cuppari) - medicamento é indicado para pacientes com risco de desenvolver doença hepática crônica; - deve-se controlar as doenças associadas como DM, obesidade e dislipidemias; - interromper drogas potencialmente hepatotóxicas que possam piorar esteatose - genfibrozil (por 4 semanas) e N-acetilcisteína (por 3 meses) reduziram níveis de AST, mostrando redução do dano hepático - ácido ursodeoxicólico (UDCA) por 6 a 12 meses reduz o grau de esteatose (Krause 2010): recomenda uso de ácido ursodeoxicólico sem explicar efeito nem especificar dose. (Krause 2013): Não menciona mais o uso de ácido ursodeoxicólico, como a edição 2010. Tratamento Nutricional (Chemin) A única medida consensual de tratamento é a modificação de estilo de vida (MEV), ou seja prática de atividade física + hábitos alimentares adequados. Perfil dos pacientes com DHGNA (Chemin 10) AUMENTO REDUÇÃO Ingestão calórico-proteica Consumo de fibras Gordura saturada Consumo de vits antioxidantes principalmente vit E colesterol Gorduras poliinsaturadas (Chemin) 1. Avaliação Nutricional – utilizam-se parametros bioquímicos, antropometricos (circunferencia da cintura, IMC, % gordura), dados do consumo alimentar (recordatório de 24h e registro de 3 dias) 2. Necessidades de energia e nutrientes Energia - restringir de 500 a 1000 Kcal do consumo habitual baseado nos dados de consumo alimentar (Chemin) - dieta hipocalórica com 25kcal/kg/dia (Cuparri + Chemin 10) - dieta hipocalórica com 25 – 30 kcal/kg/dia (Dan 2009) - 6h/semana de atividade física aeróbia (Cuppari + Dan 2009) ou 30min/dia(Chemin10) - o objetivo é a perda de 10% do peso inicial em 6 meses, pois pacientes que perdem peso rapidame nte podem piorar a inflamação hepática pelo aumento do afluxo (chegada) de ácidos graxos livres para o fígado.(Chemin + Cuppari + Dan 2009). (Chemin 2010) Esta perda resultou em redução de aminotransferases (TGO e TGP), esteatose e inflamação. - a perda de peso (5 a 10%) aumenta a sensibilidade à insulina - a perda de 10% do peso inicial mostrou em biópsia Carboidratos (Chemin) - substituir grãos refinados por cereais integrais, frutas e vegetais - reduzir consumo de CHO com alto índice glicemico ( > 85) (Cuppari) - recomenda 65% do VET - ingerir pelo menos 1 tipo de grão (milho, soja, ervilha, grão- de-bico) em ao menos 1 refeição - estimular consumo de cereais integrais - estimular consumo de 3 a 5 porções de frutas e vegetais ao dia (Dan 2009) Normoglicídica com 55 – 60% VET Lipídios (Chemin + Cuppari) - dietas hiperlipidicas levam a resistência insulínica - redução das gorduras saturadas e aumento das insaturadas poderá elevar a sensibilidade à insulina além delas reduzirem a inflamação e esteatose. - w-3: - possui efeito protetor na DHGNA (Chemin 2010) - é um componente dietético importante nos pacientes com DHGNA e EHNA (Dan 2009) - 1g/dia reduz inflamação e infiltração gordurosa. 2g/dia reduz, além da esteatose, também o triglicerídeo sérico, TNF-a, enzimas hepáticas e glicemia de jejum (projeto diretrizes) Proteínas (Dan 2009) Ptn vegetal e Ptn de AVB Antioxidantes (CuppariS) - estimula consumo de fontes de Zinco
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