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AULA 1 As ciências da Religião

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Disciplina: Ciências da Religião
Aula 1: As ciências da Religião
Apresentação:
“A religião primitiva é diferente das formas mais elevadas do pensamento religioso, mas
não é irreligião. Ela pertence ao real e o exprime. Por detrás das aberrações contidas na
manifestação religiosa primitiva, esconde-se alguma necessidade humana, individual ou
coletiva. Assim, não há religião falsa, todas são verdadeiras a seu modo [...].
Por razões de método, deve-se tomar para estudo a religião primitiva: é preciso começar
pelo mais simples e, gradativamente, chegar ao mais complexo. Como todas as religiões
são comparáveis, há [...] elementos essenciais que lhe são comuns, não somente em seus
aspectos exteriores, mas nos mais profundos, permanentes e humanos: o conteúdo da
ideia de religião em geral”. Frase de Émile Durkheim , sociólogo francês, extraída do livro
“As formas elementares da Vida Religiosa”, lançado em 1912, em Paris.
Você já deve ter lido, em bons jornais, notícias sobre religião: festas católicas, santuários
religiosos, mobilizações políticas da bancada parlamentar evangélica, perseguições a
minorias religiosas no Brasil e em outros países etc.
Você parou para se perguntar o que todas essas notícias expressam? Podemos dizer que
esses exemplos divulgam a presença da religião como crença e como comportamento no
mundo atual.
Mas, como estudar a religião de forma acadêmica e científica? Apresentaremos o contexto
do nascimento das Ciências da Religião, destacando alguns fatos, conceitos e autores
essenciais ao estudo acadêmico-científico do fenômeno religioso.
Nesta aula, problemas você aprenderá mais sobre o caráter científico das Ciências da
Religião e os sobre os quais se debruça.
Objetivos:
Compreender as origens das Ciências da Religião.
Identificar o caráter acadêmico-científico das Ciências da Religião.
Analisar fatos e contextos básicos para as Ciências da Religião.
Premissa
As Ciências da Religião possuem suas origens em um século conturbado, violento,
cheio de mudanças sociais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e morais.
Dois grandes pensadores desse século cunharam uma frase famosa: “Tudo o que
era sólido desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são
finalmente forçadas a encarar friamente sua posição social e suas relações mútuas”.
(MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. [s./l.]) 
Se você pensou que estávamos falando do século XX ou do XXI, enganou-se.
Falamos do século XIX.
Entre 1875 e 1914, mais ou menos, nascem as primeiras investigações, livros e
cátedras universitárias dedicadas ao estudo exclusivo da religião ou das religiões.
Mas, se você prestar atenção, é em nossa época que a religião, ou religiões,
tornaram-se objetos de milhares de estudos e pesquisas por parte das mais
variadas disciplinas e dos mais diversos métodos. 
Paralelamente, ocorreram processos de especialização das ciências e a multiplicação
das teologias e histórias internas de cada tradição ou família espiritual. (FILORAMO;
PRANDI, 2016
Atualmente, é mais difícil para um estudioso ou pesquisador dominar todos os
detalhes de uma disciplina, por exemplo, a Sociologia. Quando você toma um tema
específico dos estudos de religião, por exemplo, a secularização e a laicidade, logo
percebe que há livros, artigos científicos e pesquisadores. 
Por isso você está convidado a conhecer escolas teóricas, autores e temas mais
fundamentais para não se perder na floresta dos estudos da religião.

Leitura
Você deve estar se perguntando pelos dois importantes filósofos que
escreveram a famosa expressão “Tudo que é sólido desmancha no ar”. Foram
os alemães Karl Marx e Friedrich Engels no livreto O manifesto
comunista, publicado em 1848.
Apesar da linguagem impactante, esse texto inspirou muitos pensadores e
reflexões. Fala do perpetuum mobile que a burguesia e o capitalismo
impuseram ao mundo ocidental moderno, despindo da aura de sagrado todos
os valores e as relações. Rupturas e abalos se tornam constantes. Porém, o
capitalismo e a sociedade da época de Marx e Engels não são mais os mesmos.
A origem do pensamento racional-
crítico e sua importância
Sabemos que as lendas e os mitos sempre foram alicerces sociais e morais para os
povos antigos e primitivos das mais diversas regiões do planeta, dos povos
nômades às grandes civilizações.
Você notará que os mitos contam histórias mágicas, nas quais a realidade não é
apresentada de forma racional e lógica, com cadeias causais. A realidade, podemos
dizer, é narrada pelo pensamento mítico-mágico como algo fantástico, incrível,
absurdo ou extraordinário. É uma forma de conhecimento do mundo baseada em
sensações, imagens hiperbólicas e na imagem do maravilhoso.
Sabemos que os gregos, por exemplo, atribuíam suas
origens aos heróis que protagonizam a Guerra de
Tróia, na poesia de Homero, e os romanos, atribuíam
aos irmãos Rômulo e Remo, filhos do deus Marte,
eternizados nos relatos do historiador Tito Lívio
(romano).
Notemos que esse pensamento mítico finca suas raízes em um longo período na
Grécia, talvez desde o século X a.C. (Antes da Era Comum, dez séculos antes do
nascimento de Cristo) até o século V d.C. (Depois da Era Comum).
O conjunto desses mitos, de geração a geração, quando passados para a linguagem
escrita, deram origem às grandes literaturas. A Odisseia e a Ilíada, obras da
literatura grega, influenciaram o mundo ocidental, sendo que a autoria foi atribuída
ao poeta e rapsodo Homero.
Nas cidades-estados da Grécia, alguns homens começaram a ler de forma diferente
esses antigos mitos e lendas. Pouco a pouco, descobrimos que a Filosofia, como
pensamento racional-crítico se descolou desse tipo pensamento mítico-mágico, que
mergulhava o mundo e os homens nas paisagens do sonho e da crença.
A Filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. como contraponto às narrativas
poéticas cantadas nas cidades gregas. Note que os primeiros filósofos passaram a
duvidar dessas origens mágicas e miraculosas e se perguntaram se havia outras
explicações. Esses homens eram os filósofos pré-socráticos, chamados:
1
Porque começaram a pensar a cosmologia (origem do mundo e vida), atribuindo a
gênese de tudo a uma arché ou princípio universal.
2
Porque viveram em uma época anterior e Sócrates (469 a.C.-399 a.C.), um dos
maiores filósofos da história, nascido em Atenas, Grécia.
Sócrates não deixou nada escrito, mas seu discípulo, Platão (427 a.C. — 347 a.C.)
escreveu sobre seu mestre.
O método socrático de busca da verdade, o elenkhós, era diferente dos filósofos
sofistas gregos que seguiam a erística (disputa para ver que fala melhor sobre um
tema, impondo a verdade).
O elenkhós era um jogo de perguntas e respostas, feito em público, baseado em
argumentos e não em opiniões. Não se faz boa filosofia sozinho. Refutar significa
investigar, desconsiderar o que é banal e mostrar sentidos que não estavam claros
no argumento.
A verdade da resposta só vem depois da investigação conjunta, porque é necessário
que saibamos o significado do que se pergunta e os limites e problemas do que
respondemos.

Saiba mais
Sócrates. Você sabia que a expressão “só sei que nada sei”, nunca foi dita
pelo filósofo de Atenas? Essa frase era uma inscrição no Templo de Delfos,
dedicado ao deus Apolo. Depois de visitar o Oráculo de Delfos, e ouvir uma
sacerdotisa (pitonisa), Sócrates adotou esse lema. O lema completo era:
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o
que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar
algum.” Mas não entenda esse lema como de busca interior, psicológica. Não
havia, naquela época, a ideia de subjetividade individual.
Quer saber mais? Leia o texto escrito por Platão, Apologia de Sócrates,
disponível em: http://www.revistaliteraria.com.br/ plataoapologia.pdf
<http://www.revistaliteraria.com.br/plataoapologia.pdf> , acesso em
05 fev. 2018. Esse texto é considerado um dos mais belos da Filosofia
ocidental.
Recomendamos ainda um bom livro para saber mais,com linguagem acessível
e popular: GHIRALDELLI JR, Paulo. Sócrates. Pensador e educador. A filosofia
do conhece-te a ti mesmo. São Paulo: Cortez, 2015.
O pensamento mágico/mítico é o oposto do pensamento racional-filosófico, pois
este explica fenômenos, objetos e fatos por razões e causas, por meio de cadeias
causais que ligam efeitos e causas por uma razão sólida e que pode ser, digamos
assim, “testadas”, “verificadas”, seja por meio empírico (experiências reais), seja
por meio racional-ideal (experiências abstratas).
O pensamento mítico/mágico não desapareceu com o avanço das redes sociais
e da globalização econômico-financeira.
A passagem do pensamento mítico ao racional, do mito à razão, durou muito
tempo. Mas, você poderia se perguntar quem começou este movimento de
independência do pensamento mítico-mágico?
Foi Tales de Mileto, o iniciador da filosofia da physis, ao afirmar a existência de um
princípio originário único (“tudo é água, tudo provém dela”), causa de todas as
coisas que existem. Foi, de fato, a primeira proposta filosófica que se desviou dos
caminhos batidos do pensamento mítico.
Convidamos você a olhar esta imagem, uma famosa pintura da Renascença Italiana,
“A Escola de Atenas” (Scuola di Atenas, no original).
http://www.revistaliteraria.com.br/plataoapologia.pdf
 A escola de Atenas – Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escola_de_Atenas.jpg
Foi pintada por Raffaello Sanzio (1483-1520) e ilustra a Academia de Platão,
composta entre 1509-1510 a partir de uma encomenda do Papa Júlio II para
decorar um palácio no Vaticano.
A obra é um afresco (pintura em parede). Você observará no centro, o filósofo
Platão segurando o Timeu (um dos seus livros), apontando para o alto com o dedo
indicador, simbolizando o mundo das formas supremas e do supremo conhecimento,
enquanto os outros dedos estão para baixo, o mundo das formas sensíveis.
Aristóteles segura a Ética (um dos seus livros), a palma da mão estende-se para
frente e para baixo, simbolizando o mundo sensível e as formas empíricas.
Autores e livros que antecederam as
ciências da religião
É necessário delimitar e falar de alguns autores. Escolhemos o filósofo escocês
David Hume (1711-1776) e o filósofo germânico Immanuel Kant (1724-1804).
Sabemos, segundo o cientista da religião, Frank Usarski (2013), que Hume é
apontado como um dos “mentores” precoces do estudo científico da religião
devido as suas investigações feitas dentro das exigências científicas modernas.
1 2
file:///W:/2018.2/ciencias_da_religiao__GON942/aula1.html
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Ao aprofundar suas leituras nos livros e materiais complementares, você perceberá
que esse filósofo escocês não estava interessado em defender a religião, mas em
explicá-la de forma racional e clara, sem apelar para instâncias transcendentais ou
mágicas.
Mas, observe que a possibilidade de estudar a religião, como um produto puramente
cultural do homem, surgiu no mundo ocidental a partir da obra do filósofo alemão
Immanuel Kant, Crítica da razão pura, publicada em 1781. Kant descreveu, pela
primeira vez, o lugar a partir do qual poderíamos observar a religião de uma
perspectiva exterior.

A nossa época é a época da crítica, à qual tudo tem que
submeter-se. A religião, pela sua santidade e a legislação,
pela sua majestade, querem igualmente subtrair-se a ela.
Mas então suscitam contra elas justificadas suspeitas e não
podem aspirar ao sincero respeito, que a razão só concede a
quem pode sustentar o seu livre e público exame.
(KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 5).
O contexto sócio-histórico-cultural
das Ciências da Religião
Sabemos que o século XIX é um século de guerras, invenções, epidemias, expansão
e descobertas científicas. Ao lermos um pouco da história, temos a impressão que o
tempo ficou mais acelerado, em especial no Ocidente. Entre as grandes mudanças
vividas, temos a Revolução Industrial e as dominações neocoloniais europeias.
O intercâmbio, pacífico ou guerreiro, entre povos, tribos e civilizações, ocorre há
milhares de anos. No século XIX constamos que houve formas específicas:
01
Missão religiosa: missionários de várias igrejas cristãs enviados para converter
outros povos e tribos, impondo, muitas vezes, uma catequese esmagadora das
culturas locais;
02
Missão industrial-comercial: comércio de produtos e serviços, promoveu a ida de
comerciantes e exploradores aos lugares mais remotos do planeta;
03
Missão colonial: submissão de outras populações ao violento poder colonial e às
regras e aos padrões da civilização ocidental.
Lembramos que esse século é marcado pelo grande sucesso das ciências naturais e
físicas. Temos, por exemplo, o grande impacto da teoria de Charles Darwin (1809-
1882), em seu livro, A origem das espécies, publicado em 1859, com muitas
descobertas sobre os mecanismos de evolução das espécies animais, inclusive a
humana.
O século XIX nos mostrou que, entre os animais e nós, não há uma distância tão
insuperável como muitos pensaram e defenderam. Tudo isso, enfatizamos, gerou
profunda mudança na maneira de reconhecer a realidade, o mundo, a vida, a
religião. Estamos falando, por exemplo, do positivismo e do evolucionismo.
Podemos entender que esses dois movimentos se tornaram, para além de uma
teoria das Ciências Naturais e da Filosofia, uma maneira de ver o mundo e os
homens.
No âmbito da dominação colonial entre metrópoles europeias/norte-americana e
regiões e países submetidos ao seu domínio, o choque trazido por novas realidades
culturais e valores religiosos, diferentes dos vividos no Ocidente, trouxe uma nova
exigência.

Segundo os estudiosos Firolamo e Prandi (2016, p. 8), essas
novas realidades e esses novos valores, somados ao
constante declínio da hegemonia do cristianismo, tornou
clara “a exigência de se confrontar, de maneira cada vez
mais sistemática e crítica (ou seja, livre de injunções de
valor, teológicas ou filosóficas), a tradição cristã com todas
aquelas tradições religiosas orais que agora ficaram
acessíveis [...].
O registro dessa colonização (cartas, livros, relatórios) circulou amplamente na
Europa e levantou perguntas sobre a razão de ser dos europeus e dos outros povos,
em especial quando tratava-se da “religião” de índios ou “selvagens”.
O século XIX nos mostrou que, entre os animais e nós, não há uma distância tão
insuperável comVocê notou que a palavra veio entre aspas? Para os povos
indígenas, por exemplo, a “religião” não é uma parte da realidade, pois ela está
integrada a tudo, sem estar separada do resto (da vida coletiva, da comunidade, do
ritual, do mito). Por isso, falamos em tradições ou cosmologias índias. A
definição de religião não é consensual entre os estudiosos.
Ainda no século XIX, cresceram os estudos sobre as estruturas linguísticas e
mitológicas das antigas civilizações (Egito, Babilônia, Assíria, Índia, China Japão). A
Bíblia se tornou objeto de pesquisas arqueológicas, sociológicas, literárias,
históricas e filológicas que nos mostrará realidades diferentes sobre os livros
mais sagrados do Cristianismo.
Ao lermos esses estudos do ponto de vista das Ciências da Religião e com mais
atenção, veremos que tais livros, tidos como sacros, foram escritos ao longo de
séculos em diversos contextos e por diferentes autores, com vários tipos de
linguagem (poética, épica, trágica, sapiencial etc.).
Importa falar sobre a cientificidade das Ciências da Religião, isto é, sua autoridade
para investigar os fenômenos religiosos tendo como horizonte a busca da
neutralidade dos valores (neutralidade axiológica) e da objetividade relativa, como
assim se expressou Max Weber (1864-1920).
Você deve estar se perguntado: o que é neutralidade axiológica
e objetividade relativa?
São dois importantes conceitos cunhados pelo sociólogo, economista e estudioso
alemão Max Weber (1864-1920), para ajudar as Ciências Sociais e Econômicas a
estudarem seus objetos. Podemos dizer que se tratam de procedimentospara
controlar a interferência de valores subjetivos e pessoais, que escapam da esfera da
racionalidade, nas investigações e nos estudos dos cientistas.
O estatuto científico das Ciências da
Religião
Com base nos estudos mais recentes, podemos dizer que os termos Ciências da
Religião, Ciência da Religião ou Ciências das Religiões dizem respeito a um
empreendimento acadêmico dedicado ao estudo histórico e sistemático da religião,
como manifestação universal e das religiões concretas como fenômenos e
experiências humanas.

Atenção
Perceba que o uso da palavra religião no singular quer dizer que, a partir das
religiões concretamente existentes, é possível construir conceitos teóricos
que expressem modelos, padrões que ajudam a explicar e a compreender o
que vemos na prática. Em outras palavras, apesar de todas as variedades
empíricas das religiões, que devem ser consideradas em suas semelhanças e
diferenças, é possível construir um modelo teórico para interpretar e
entender as experiências religiosas vividas por tanta gente.
As Ciências da Religião não adotam uma postura elogiosa e confessional, isto é, não
procuram defender uma religião ou professar uma fé, ao contrário. A posição teórica
mais importante defende que um conhecimento científico da religião é mais
produtivo se mantivermos uma linha não normativa, isto é, que busque investigar a
religião em suas múltiplas dimensões, manifestações e contextos socioculturais sem
levar em conta julgamentos de valor ou quaisquer julgamentos sobre a validade
moral de sua existência. (USARSKI, 2013, p. 51) 
Por exemplo, existem pelo Brasil, inúmeras igrejas chamadas igrejas cristãs
inclusivas porque aceitam a existência e o modo de ser da minoria LGBTI (Gays,
Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Intersexuais). As ciências da religião
fazem uma análise dessas igrejas sem julgá-las melhores ou piores do que outras
igrejas cristãs por conta do princípio da neutralidade axiológica e da objetividade
científica relativa.
Por isso é importante que você preste atenção no que escreve Frank Usarski (2013,
p. 51):

A Ciência da Religião não instrumentaliza seus objetivos em
prol de uma apologia a uma determinada crença privilegiada
pelo pesquisador.
Em outras palavras, a postura das Ciências da Religião é a da “indiferença” diante
do objeto do seu estudo. (USARSKI, 2013) Essa postura é uma técnica de
observação e estudotécnica de observação e estudo e que você pode traduzir
como distanciar-se das crenças e das militâncias pessoais para observar, com
mais amplitude e por outros ângulos de vista, o objeto, no caso, a religião.
Você sabe, por experiência do senso-comum, que quando estamos muito
ocupados dentro de um jogo ou de um assunto, não conseguimos observar táticas,
estratégias e pontos de vista alternativos ou diferentes dos usuais e comuns. Olhar
um objeto a partir de outras perspectivas é fundamental. Sabemos que é preciso ter
sensibilidade e abertura para a religião ou as religiões.
Observamos que o princípio do distanciamento está associado a dois termos
técnicos, “ateísmo metodológico” ou “agnosticismo metodológico”, segundo escreve
Frank Usarski (2013, p. 51). Consideramos que, com isso, não compete ao
cientista da religião perguntar sobre a “última verdade” [verdade absoluta e
inquestionável] ou julgar uma religião a partir dos valores e aspectos internos de
uma outra religião. 
Para que você tenha um exemplo concreto, nas religiões cristãs, as ideias religiosas
giram em torno de noções como pecado/salvação e Deus/Diabo, o que não ocorre
em religiões como as de influência africana (candomblé, tambor-de-mina, batuque)
e as orientais (hinduísmo, budismo). 
Além de vertentes internas, essas religiões possuem diferentes ideias religiosas
sobre o homem, a vida, a morte, o sofrimento, a espiritualidade etc. No caso das
Ciências da Religião, dizemos que os pontos de vista internos a uma religião não
são absolutos, mas são provisórios, pois o objetivo das Ciências da Religião é
alcançar a visão mais ampla e a interpretação mais ampla possível sobre a
religião ou as religiões.
Isso só é possível se consideramos um objeto por diversos ângulos de visão e não
apenas um. Veja, isso significa assumir que, para as ciências, o conhecimento é
sempre provisório, submetido a critérios exigentes de investigação e
questionamentos permanentes. 
Notemos também que existem alguns estudiosos preferindo reconhecer que a
Ciência da Religião ou Ciências das Religiões são um campo disciplinar. Observe
que Ciência da Religião, escrito no singular, expressa a ideia de um objeto de estudo
próprio e de um método único, que, em geral, tem sido apontado como o método
da fenomenologia da religião.
Registramos que embora outros pesquisadores das Ciências da Religião a
considerem uma estrutura científica, eles se perguntam se é uma ciência com perfil
homogêneo e um método central ou se é um conjunto de ciências com perfil
interdisciplinar e métodos complementares, às vezes conflitantes. 
Firolamo e Prandi (2016), por exemplo, preferem ver as Ciências da Religião como
um campo ou uma área disciplinar e, portanto, dotada de uma estrutura aberta e
dinâmica, na qual as disciplinas cientificas ajudam na tarefa de estudar a religião.
O estudo da religião de forma acadêmico-científica é um dentre os diversos métodos
(históricos, sociológicos, antropológicos, fenomenológicos, quantitativos e outros).
O ângulo e o método variam de acordo com as Ciências da Religião, mas há uma
convergência: a religião não é tabu, não há assunto proibido dentro da religião,
qualquer fenômeno que envolva espiritualidade e religião podem ser estudados e
compreendidos. Por isso, podemos dizer que fazer uma boa investigação, nas
Ciências da Religião, é fazê-la dentro do espírito socrático, sob a inspiração do
método de refutar, o elenkhós.
Atividade
A atividade consiste em refletir sobre três perguntas:
1) Como estudar a religião?
2) É possível estudá-la e compreendê-la?
3) Qual deve ser a postura cientifica do cientista da religião diante de
fenômenos religiosos diversos? Para prosseguir, selecione pelo menos três
breves reportagens, bem diferentes, extraídas, de grandes jornais brasileiros,
que falem sobre religião. Faça uma pequena lista do que você consegue
identificar como pontos em comum das três reportagens pontos divergentes
nas notícias. Depois, anote as diferenças.
Apesar da história de institucionalização das Ciências da Religião ser antiga (mais de
130 anos), alertamos para sua relativa juventude no Brasil. O primeiro
departamento de estudos da religião e o primeiro curso de graduação, no setor
público, foram criados na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), em meados de
1960 e 1970. Em 1978, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, surgiu o
primeiro curso de pós-graduação em Ciências da Religião.
Sabemos que hoje, no Brasil, são 17 cursos de graduação
presenciais e 12 cursos de pós-graduação, mestrado e
doutorado. É uma área em expansão. Mas, uma pergunta pode
lhe ocorrer: qual é a história das Ciências da Religião?
Respondemos baseados nos livros citados nas bibliografias (básica e complementar)
desta disciplina, que, em geral, essa história pode ser organizada em três grandes
momentos, mais ou menos assim:
Surgimento e institucionalização (1870-1940)
Internacionalização (1945-1989)
Pluralização (1990-atual)
Para que saiba alguns elementos fundadores, os primeiros passos das Ciências da
Religião foram estes:
em 1873, foi fundada a primeira cátedra na Universidade de Genebra (Suíça)
com o nome de História Geral das Religiões. Daí em diante, destacamos as
cátedras/departamentos de estudos da religião;
em 1877, inauguram-se as cátedras de História Geral das Religiões nas
universidades holandesas de Amsterdã e Utrecht;
em 1879, França, História das Religiões;
em 1884 e 1904, são fundadas duas cátedras de História das Religiões na
Universidade de Roma, Itália e de Manchester, Inglaterra.
Nesse longo processo de nascimento, não podemos deixar decitar dois estudiosos
importantes:
Friedrich Max Müller (1823-1900), orientalista e filologista comparativo
alemão que estudou e demonstrou as estruturas míticas e linguísticas
presentes nas fontes literárias e documentais de civilizações antigas como as
civilizações hindus;
Cornelius Petrus Tiele (1830-1902), considerado um dos iniciadores da
Ciência da Religião ou Ciências da Religião.
Esses pensadores distinguiram as Ciências da Religião da Teologia e defenderam
que a religião fosse estudada de forma científica, sem finalidades religiosas práticas.
Destacamos que as Ciências da Religião, nesse primeiro momento, foram
pressionadas por fortes debates sobre a epistemologia e metodologia (caminho que
leva ao conhecimento do objeto). Frisamos, em particular, o desprezo positivista
pela religião, considerada por alguns estudiosos como superstição e atraso e o
exclusivismo teológico, que considerava o estudo da religião um monopólio de
líderes religiosos e/ou igrejas e suas teologias.
Desse primeiro momento de formação, gostaríamos de enfatizar dois elementos de
um grande leque de obras e autores:
01
Em 1912, o sociólogo francês Émile Durkheim publicou o livro As formas
elementares da vida religiosa, no qual propõe uma interpretação simbólica do
sagrado e da religião.
02
Em 1917, o teólogo luterano e filósofo alemão, Rudolf Otto, publicou a obra O
sagrado: um estudo do elemento não racional na ideia do divino e a sua relação
com o racional, na qual defende uma tentativa de apreender o mistério do sagrado,
sua força irracional.
No momento seguinte, após a Segunda Guerra Mundial, são criados
departamentos de estudos da religião (religious studies) nos EUA e na Espanha. Em
1950, é criada a IAHR (International Association for the History of Religion —
Associação Internacional de História da Religião). Nessa fase, o romeno Mircea
Eliade, historiador, cientista da religião, filósofo e filólogo produziu a maior parte de
seus estudos e pesquisas sobre religiões e mitologias que são referências
fundamentais.
Ressaltamos, por fim, do terceiro momento, marcado pela abertura de novas
associações de estudos e pesquisas sobre religião no Brasil e no mundo. Você já
ouviu falar na ABHR, SOTER ou ANPTECRE?
São, respectivamente:
Associação Brasileira de História das Religiões (2000,
http://www.abhr.org.br/ <http://www.abhr.org.br/> ),
Sociedade de Teologia e Ciência da Religião (1985,
http://www.soter.org.br/ <http://www.soter.org.br/> ) e
http://www.abhr.org.br/
http://www.soter.org.br/
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da
Religião (2007, http://www.anptecre.org.br/
<http://www.anptecre.org.br/> ).
São organizações sérias e dedicadas aos estudos da religião de um ponto de vista
científico, acadêmico e procurando o rigor exigido pelas regras metódicas da ciência.
Visite os sites dessas associações. Saiba mais sobre textos, eventos, congressos,
artigos, revistas acadêmicas e outros assuntos das Ciências da Religião.
Assinalamos que, nesse terceiro momento, vivemos uma ampliação das
perspectivas teóricas e metodológicas, com os impactos dos estudos pós-coloniais e
pós-modernos, das teologias contemporâneas (teologia feminista, teologia das
religiões etc.) e as influências de pensadores como Michel Foucault (1926-1984) e
Martin Heidegger (1889-1976), entre outros.

Saiba mais
Você sabia já houve uma reunião mundial sobre religiões? Foi em setembro de
1893 com o Parlamento Mundial das Religiões, em Chicago (EUA).
Centenas de estudiosos, pesquisadores e membros de diversas religiões vindos
do mundo inteiro se reuniram para conversar sobre paz, tolerância e
espiritualidade.
http://www.anptecre.org.br/
Atividade
1 - “Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos
primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que
representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas
acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais
merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade.”.
(OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia.
Campinas: Papirus, 2000. p. 24.).
Assinale a alternativa que apresenta a “guinada de atitude” que o
texto afirma ter sido promovida pelos primeiros filósofos:>
 a) A análise crítica das ideias, imagens e posições, que podem ser
modificadas ou reformuladas.
 b) A desconfiança na capacidade da razão em virtude da “proliferação de
pontos de vista” conflitantes entre si.
 c) A aceitação sem crítica das explicações tradicionais relativas aos
acontecimentos naturais.
 d) A busca por uma verdade única e não questionável, que substituísse a
verdade imposta pela religião.
 e) A confiança na tradição e na autoridade religiosa como alicerces para o
conhecimento verdadeiro.
2 – Um professor de História das Religiões, trouxe dois relatos sobre a criação
do mundo e da vida:
Relato 1 – O povo maia quiche (1000 a.C. América Central): “Admirável é o
relato da época em que tudo foi formado no céu e na terra: o quarteamento de
seus sinais, sua medida e alinhamento e estabelecimento de paralelas [...].
Vede! Tudo estava incerto, tudo era calma e silêncio; nada se movia, tudo era
tranquilo, e imensos eram os céus. Vede! A primeira palavra e o primeiro
diálogo. Ainda não existia o homem, nem o animal; não havia pássaros, nem
barranco; não havia vegetação, nem charco; só o céu existia [...] Só havia
imobilidade e silêncio na escuridão e na noite. Sozinhos estavam o Criador e o
Autor [...]”. (ELIADE, Mircea. O conhecimento sagrado de todas as eras.
São Paulo: Mercúrio, 1995, p. 69-70).
Relato 2 – Do Livro do Gênesis (Bíblia cristã) (900 a.C. Oriente Médio): “No
princípio, criou Deus os céus e a Terra. E a Terra era sem forma e vazia; e
havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a
face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a
luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e
às trevas chamou Noite. [...] E fez Deus as feras da Terra conforme a sua
espécie, e o gado conforme a sua espécie, e cada coisa que se arrasta sobre a
Terra conforme a sua espécie e viu Deus que era bom. E disse Deus: Façamos
o homem à nossa imagem... Então Deus criou o homem à sua imagem”.
(Bíblia, Livro do Gênesis, cap. 1, v. 1- 9 e 25-27).
Em relação à diversidade de relatos da criação apresentados, é
possível avaliar que são:
 a) Lendas cósmicas baseadas em duas antigas práticas litúrgico-celebrativas.
 b) Histórias de duas religiões antigas que sobreviveram ao mundo moderno.
 c) Relatos míticos sobre a natureza dos animais e dos homens nos
primórdios.
 d) Produtos da imaginação religiosa de dois povos nascidos em regiões
diferentes.
 e) Narrativas sobre a criação do mundo e dos homens com imagens
semelhantes.
3 – “Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Os deuses
disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim no céu etéreo
foi expulso, ou para a prisão do Tártaro ou para a Terra, entre os mortais. E os
homens, o que acontece com eles? Quem são eles?”. (VERNANT, Jean-Pierre. O
universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
p. 56).
O texto acima é parte de um relato mítico. Tendo em vista que o mito
pode ser considerado uma forma de conhecimento, assinale a
alternativa correta.
 a) A verdade do mito segue a regras universais do pensamento racional, por
exemplo, a lei de não contradição.
 b) O mito busca explicações definitivas sobre o homem, a vida e o mundo, e
sua verdade independe de provas e refutações.
 c) O conhecimento mítico fundamenta-se em um rigoroso procedimento
lógico-analítico para estabelecer suas verdades.
 d) As explicações míticas são construídas de maneira argumentativa e
autocrítica, com o uso de cadeias causais lógicas.
 e) A verdade do mito obedece a critérios empíricos e científicos de
comprovação das suas verdades internas.
4 – Em 1793, o filósofo alemão, Immanuel Kant,escreveu um livro
fundamental, A religião nos limites da simples razão. Leia este trecho: “De um
xamane tunguse ao prelado europeu, que governa ao mesmo tempo a Igreja e
o Estado, ou (se em vez dos chefes e dirigentes quisermos ter em vista apenas
os adeptos da fé segundo o seu próprio modo de representação) entre o vogul,
inteiramente sensitivo, que de manhã põe sobre a sua cabeça a garra de uma
pele de urso com a breve oração ‘Não me mates!’, e o sublimado puritano e
independente de Connecticut há, sem dúvida, uma enorme distância na
maneira, mas não no princípio de crer; de fato, quanto a este, todos eles
pertencem a uma só e mesma classe, a saber, à dos que situam o seu culto de
Deus no que em si não torna melhor homem algum (na fé, em certas
proposições estatutárias ou no seguimento de certas observâncias arbitrárias).”
(KANT, Immanuel. A religião nos limites da simples razão. p. 201,
disponível em: https://marxists.architexturez.net/
portugues/kant/1793/ mes/limites.pdf
<https://marxists.architexturez.net/portugues/kant/1793/mes/limit
es.pdf> . Acesso em 06 fev. 2018).
Tendo em vista que Kant busca um princípio racional universal, e
relendo o texto acima, é possível afirmar que as práticas religiosas:
 a) Possuem uma profunda diversidade e, por isso, são incomparáveis.
 b) Podem superar suas diferenças em torno de um ponto em comum.
 c) Possuem atos morais incomparáveis, mas verdadeiros ao seu modo.
 d) Possuem um princípio universal de crença em uma moralidade arbitrária.
 e) Promovem o culto a Deus, apesar das diferenças entre os cultos e os
povos.
https://marxists.architexturez.net/portugues/kant/1793/mes/limites.pdf
5 – Leia estas duas passagens da obra As formas elementares da vida
religiosa, de Émile Durkheim, capítulo I, intitulado Definição do Fenômeno
Religioso e da Religião: 
Passagem 1 – “Para definirmos religião é preciso que nos libertemos de toda
ideia preconcebida. Partimos de definições correntes: por comparação com
todas as formas de religião, há um elemento em comum que consiste na
‘crença na onipresença de alguma coisa que vai além da inteligência’, conforme
disse Spencer. Max Müller via, em toda religião, ‘um esforço para conhecer o
inconcebível, para exprimir o inexprimível, uma aspiração ao infinito’. Mas,
essas duas noções são muito recentes na História da Religião.
Passagem 2 – “A noção do religioso está longe de coincidir com o
extraordinário e do imprevisto. E essa concepção das forças religiosas não é
primitiva. A ideia de mistério é criação humana, limitada a um pequeno
número de religiões avançadas. Portanto, não se pode utilizar o conceito de
mistério como característica genérica das religiões. [...]. Assim, há ritos sem
deuses e, inclusive, há ritos dos quais derivam os deuses. Portanto, a religião
vai além da ideia de deuses ou de espíritos, logo não pode se definir
exclusivamente em função desta última”.
Considerando que as Ciências da Religião procuram estudar
cientificamente a religião, leia o conjunto de afirmativas e assinale a
alternativa MAIS completa:
 a) As ideias preconcebidas sobre religião são importantes para mostrar as
bases do preconceito positivista.
 b) A libertação das ideias preconcebidas é um dos últimos passos
metodológicos para o estudo acadêmico da religião.
 c) As críticas feitas com rigor às concepções correntes de religião são
fundamentais para a investigação das Ciências da Religião.
 d) A noção de extraordinário e imprevisto define apenas algumas religiões
especificas, mas não todas as demais.
 e) As noções recentes de religião são fundamentais para que algumas
religiões sejam entendidas a partir de suas estruturas específicas.
Notas
David Hume
David Hume (1711-1776). Nascido em Edimburgo, Escócia, introduziu o método
experimental de raciocínio nos assuntos filosóficos. Principais obras: Tratado da Natureza
Humana (1740); Investigação sobre o entendimento humano (1748); Investigação sobre o
princípio da moral (1751); Diálogos sobre a religião natural (depois de 1776); História
natural da religião (1757).
Immanuel Kant 
2 - Immanuel Kant (1724 - 1804). Nascido em Königsberg, antiga Prússia, este filósofo
é considerado o fundador da “Filosofia Crítica”. Principais obras: História universal da
natureza e teoria do céu (1755); Observação sobre o sentimento do belo e do sublime
(1764); Crítica da razão pura (1781); O que é o Iluminismo? (1784); Fundamentação da
metafísica dos costumes (1785); Crítica da razão prática (1788); Crítica do julgamento
(1790); A religião nos limites da simples razão (1793); A paz perpétua (1795); A
metafísica dos costumes (1797).
Referências
FILORAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Cências das Religiões. 8. ed. São Paulo:
Paulinas, 2016.
PASSOS, João D.; USARSKI, Frank (Orgs.). Compêndio de Ciência da Religião. São
Paulo: Paulinas: Paulus, 2013.
TEIXEIRA, Faustino (org.). A(s) Ciência(s) da Religião no Brasil. Afirmação de uma
área acadêmica. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2008.
Próximos Passos
Os problemas relativos ao conceito de religião: sua variedade e diversidade;
Definições substancialistas, funcionalistas e compreensivas;
Pontos fracos e fortes das definições.
Explore mais
Dê uma navegada no portal disponível em: http://www.unicap.br/observatorio2/
<http://www.unicap.br/observatorio2/> , acesso em 05 fev. 2018. Ele se
chama Observatório Transdisciplinar das Religiões no Recife. Reúne imagens, notícias
fóruns e discussão, textos breves.
Aproveite também para ler este texto:
1
2
http://www.unicap.br/observatorio2/
DIX, Steffen. O que significa o estudo das religiões: Uma ciência monolítica ou
interdisciplinar? Disponível em:
http://www.ics.ul.pt/publicacoes/workingpapers/wp2007/wp2007_1.pdf
<http://www.ics.ul.pt/publicacoes/workingpapers/wp2007/wp2007_1.pdf>
. Acesso em 05 fev. 2018.
Assista a este pequeno vídeo, Mito e razão, explicando a diferença entre eles.
Disponível em: http://www.dailymotion.com/video/x8ia32
<http://www.dailymotion.com/video/x8ia32> . Acesso em 05 fev. 2018.
Veja algumas notas <galeria/aula1/anexo/notas1.pdf> da aula.
http://www.ics.ul.pt/publicacoes/workingpapers/wp2007/wp2007_1.pdf
http://www.dailymotion.com/video/x8ia32
file:///W:/2018.2/ciencias_da_religiao__GON942/galeria/aula1/anexo/notas1.pdf

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