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Disciplina: Ciências da Religião Aula 1: As ciências da Religião Apresentação: “A religião primitiva é diferente das formas mais elevadas do pensamento religioso, mas não é irreligião. Ela pertence ao real e o exprime. Por detrás das aberrações contidas na manifestação religiosa primitiva, esconde-se alguma necessidade humana, individual ou coletiva. Assim, não há religião falsa, todas são verdadeiras a seu modo [...]. Por razões de método, deve-se tomar para estudo a religião primitiva: é preciso começar pelo mais simples e, gradativamente, chegar ao mais complexo. Como todas as religiões são comparáveis, há [...] elementos essenciais que lhe são comuns, não somente em seus aspectos exteriores, mas nos mais profundos, permanentes e humanos: o conteúdo da ideia de religião em geral”. Frase de Émile Durkheim , sociólogo francês, extraída do livro “As formas elementares da Vida Religiosa”, lançado em 1912, em Paris. Você já deve ter lido, em bons jornais, notícias sobre religião: festas católicas, santuários religiosos, mobilizações políticas da bancada parlamentar evangélica, perseguições a minorias religiosas no Brasil e em outros países etc. Você parou para se perguntar o que todas essas notícias expressam? Podemos dizer que esses exemplos divulgam a presença da religião como crença e como comportamento no mundo atual. Mas, como estudar a religião de forma acadêmica e científica? Apresentaremos o contexto do nascimento das Ciências da Religião, destacando alguns fatos, conceitos e autores essenciais ao estudo acadêmico-científico do fenômeno religioso. Nesta aula, problemas você aprenderá mais sobre o caráter científico das Ciências da Religião e os sobre os quais se debruça. Objetivos: Compreender as origens das Ciências da Religião. Identificar o caráter acadêmico-científico das Ciências da Religião. Analisar fatos e contextos básicos para as Ciências da Religião. Premissa As Ciências da Religião possuem suas origens em um século conturbado, violento, cheio de mudanças sociais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e morais. Dois grandes pensadores desse século cunharam uma frase famosa: “Tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar friamente sua posição social e suas relações mútuas”. (MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. [s./l.]) Se você pensou que estávamos falando do século XX ou do XXI, enganou-se. Falamos do século XIX. Entre 1875 e 1914, mais ou menos, nascem as primeiras investigações, livros e cátedras universitárias dedicadas ao estudo exclusivo da religião ou das religiões. Mas, se você prestar atenção, é em nossa época que a religião, ou religiões, tornaram-se objetos de milhares de estudos e pesquisas por parte das mais variadas disciplinas e dos mais diversos métodos. Paralelamente, ocorreram processos de especialização das ciências e a multiplicação das teologias e histórias internas de cada tradição ou família espiritual. (FILORAMO; PRANDI, 2016 Atualmente, é mais difícil para um estudioso ou pesquisador dominar todos os detalhes de uma disciplina, por exemplo, a Sociologia. Quando você toma um tema específico dos estudos de religião, por exemplo, a secularização e a laicidade, logo percebe que há livros, artigos científicos e pesquisadores. Por isso você está convidado a conhecer escolas teóricas, autores e temas mais fundamentais para não se perder na floresta dos estudos da religião. Leitura Você deve estar se perguntando pelos dois importantes filósofos que escreveram a famosa expressão “Tudo que é sólido desmancha no ar”. Foram os alemães Karl Marx e Friedrich Engels no livreto O manifesto comunista, publicado em 1848. Apesar da linguagem impactante, esse texto inspirou muitos pensadores e reflexões. Fala do perpetuum mobile que a burguesia e o capitalismo impuseram ao mundo ocidental moderno, despindo da aura de sagrado todos os valores e as relações. Rupturas e abalos se tornam constantes. Porém, o capitalismo e a sociedade da época de Marx e Engels não são mais os mesmos. A origem do pensamento racional- crítico e sua importância Sabemos que as lendas e os mitos sempre foram alicerces sociais e morais para os povos antigos e primitivos das mais diversas regiões do planeta, dos povos nômades às grandes civilizações. Você notará que os mitos contam histórias mágicas, nas quais a realidade não é apresentada de forma racional e lógica, com cadeias causais. A realidade, podemos dizer, é narrada pelo pensamento mítico-mágico como algo fantástico, incrível, absurdo ou extraordinário. É uma forma de conhecimento do mundo baseada em sensações, imagens hiperbólicas e na imagem do maravilhoso. Sabemos que os gregos, por exemplo, atribuíam suas origens aos heróis que protagonizam a Guerra de Tróia, na poesia de Homero, e os romanos, atribuíam aos irmãos Rômulo e Remo, filhos do deus Marte, eternizados nos relatos do historiador Tito Lívio (romano). Notemos que esse pensamento mítico finca suas raízes em um longo período na Grécia, talvez desde o século X a.C. (Antes da Era Comum, dez séculos antes do nascimento de Cristo) até o século V d.C. (Depois da Era Comum). O conjunto desses mitos, de geração a geração, quando passados para a linguagem escrita, deram origem às grandes literaturas. A Odisseia e a Ilíada, obras da literatura grega, influenciaram o mundo ocidental, sendo que a autoria foi atribuída ao poeta e rapsodo Homero. Nas cidades-estados da Grécia, alguns homens começaram a ler de forma diferente esses antigos mitos e lendas. Pouco a pouco, descobrimos que a Filosofia, como pensamento racional-crítico se descolou desse tipo pensamento mítico-mágico, que mergulhava o mundo e os homens nas paisagens do sonho e da crença. A Filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. como contraponto às narrativas poéticas cantadas nas cidades gregas. Note que os primeiros filósofos passaram a duvidar dessas origens mágicas e miraculosas e se perguntaram se havia outras explicações. Esses homens eram os filósofos pré-socráticos, chamados: 1 Porque começaram a pensar a cosmologia (origem do mundo e vida), atribuindo a gênese de tudo a uma arché ou princípio universal. 2 Porque viveram em uma época anterior e Sócrates (469 a.C.-399 a.C.), um dos maiores filósofos da história, nascido em Atenas, Grécia. Sócrates não deixou nada escrito, mas seu discípulo, Platão (427 a.C. — 347 a.C.) escreveu sobre seu mestre. O método socrático de busca da verdade, o elenkhós, era diferente dos filósofos sofistas gregos que seguiam a erística (disputa para ver que fala melhor sobre um tema, impondo a verdade). O elenkhós era um jogo de perguntas e respostas, feito em público, baseado em argumentos e não em opiniões. Não se faz boa filosofia sozinho. Refutar significa investigar, desconsiderar o que é banal e mostrar sentidos que não estavam claros no argumento. A verdade da resposta só vem depois da investigação conjunta, porque é necessário que saibamos o significado do que se pergunta e os limites e problemas do que respondemos. Saiba mais Sócrates. Você sabia que a expressão “só sei que nada sei”, nunca foi dita pelo filósofo de Atenas? Essa frase era uma inscrição no Templo de Delfos, dedicado ao deus Apolo. Depois de visitar o Oráculo de Delfos, e ouvir uma sacerdotisa (pitonisa), Sócrates adotou esse lema. O lema completo era: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum.” Mas não entenda esse lema como de busca interior, psicológica. Não havia, naquela época, a ideia de subjetividade individual. Quer saber mais? Leia o texto escrito por Platão, Apologia de Sócrates, disponível em: http://www.revistaliteraria.com.br/ plataoapologia.pdf <http://www.revistaliteraria.com.br/plataoapologia.pdf> , acesso em 05 fev. 2018. Esse texto é considerado um dos mais belos da Filosofia ocidental. Recomendamos ainda um bom livro para saber mais,com linguagem acessível e popular: GHIRALDELLI JR, Paulo. Sócrates. Pensador e educador. A filosofia do conhece-te a ti mesmo. São Paulo: Cortez, 2015. O pensamento mágico/mítico é o oposto do pensamento racional-filosófico, pois este explica fenômenos, objetos e fatos por razões e causas, por meio de cadeias causais que ligam efeitos e causas por uma razão sólida e que pode ser, digamos assim, “testadas”, “verificadas”, seja por meio empírico (experiências reais), seja por meio racional-ideal (experiências abstratas). O pensamento mítico/mágico não desapareceu com o avanço das redes sociais e da globalização econômico-financeira. A passagem do pensamento mítico ao racional, do mito à razão, durou muito tempo. Mas, você poderia se perguntar quem começou este movimento de independência do pensamento mítico-mágico? Foi Tales de Mileto, o iniciador da filosofia da physis, ao afirmar a existência de um princípio originário único (“tudo é água, tudo provém dela”), causa de todas as coisas que existem. Foi, de fato, a primeira proposta filosófica que se desviou dos caminhos batidos do pensamento mítico. Convidamos você a olhar esta imagem, uma famosa pintura da Renascença Italiana, “A Escola de Atenas” (Scuola di Atenas, no original). http://www.revistaliteraria.com.br/plataoapologia.pdf A escola de Atenas – Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escola_de_Atenas.jpg Foi pintada por Raffaello Sanzio (1483-1520) e ilustra a Academia de Platão, composta entre 1509-1510 a partir de uma encomenda do Papa Júlio II para decorar um palácio no Vaticano. A obra é um afresco (pintura em parede). Você observará no centro, o filósofo Platão segurando o Timeu (um dos seus livros), apontando para o alto com o dedo indicador, simbolizando o mundo das formas supremas e do supremo conhecimento, enquanto os outros dedos estão para baixo, o mundo das formas sensíveis. Aristóteles segura a Ética (um dos seus livros), a palma da mão estende-se para frente e para baixo, simbolizando o mundo sensível e as formas empíricas. Autores e livros que antecederam as ciências da religião É necessário delimitar e falar de alguns autores. Escolhemos o filósofo escocês David Hume (1711-1776) e o filósofo germânico Immanuel Kant (1724-1804). Sabemos, segundo o cientista da religião, Frank Usarski (2013), que Hume é apontado como um dos “mentores” precoces do estudo científico da religião devido as suas investigações feitas dentro das exigências científicas modernas. 1 2 file:///W:/2018.2/ciencias_da_religiao__GON942/aula1.html file:///W:/2018.2/ciencias_da_religiao__GON942/aula1.html Ao aprofundar suas leituras nos livros e materiais complementares, você perceberá que esse filósofo escocês não estava interessado em defender a religião, mas em explicá-la de forma racional e clara, sem apelar para instâncias transcendentais ou mágicas. Mas, observe que a possibilidade de estudar a religião, como um produto puramente cultural do homem, surgiu no mundo ocidental a partir da obra do filósofo alemão Immanuel Kant, Crítica da razão pura, publicada em 1781. Kant descreveu, pela primeira vez, o lugar a partir do qual poderíamos observar a religião de uma perspectiva exterior. A nossa época é a época da crítica, à qual tudo tem que submeter-se. A religião, pela sua santidade e a legislação, pela sua majestade, querem igualmente subtrair-se a ela. Mas então suscitam contra elas justificadas suspeitas e não podem aspirar ao sincero respeito, que a razão só concede a quem pode sustentar o seu livre e público exame. (KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 5). O contexto sócio-histórico-cultural das Ciências da Religião Sabemos que o século XIX é um século de guerras, invenções, epidemias, expansão e descobertas científicas. Ao lermos um pouco da história, temos a impressão que o tempo ficou mais acelerado, em especial no Ocidente. Entre as grandes mudanças vividas, temos a Revolução Industrial e as dominações neocoloniais europeias. O intercâmbio, pacífico ou guerreiro, entre povos, tribos e civilizações, ocorre há milhares de anos. No século XIX constamos que houve formas específicas: 01 Missão religiosa: missionários de várias igrejas cristãs enviados para converter outros povos e tribos, impondo, muitas vezes, uma catequese esmagadora das culturas locais; 02 Missão industrial-comercial: comércio de produtos e serviços, promoveu a ida de comerciantes e exploradores aos lugares mais remotos do planeta; 03 Missão colonial: submissão de outras populações ao violento poder colonial e às regras e aos padrões da civilização ocidental. Lembramos que esse século é marcado pelo grande sucesso das ciências naturais e físicas. Temos, por exemplo, o grande impacto da teoria de Charles Darwin (1809- 1882), em seu livro, A origem das espécies, publicado em 1859, com muitas descobertas sobre os mecanismos de evolução das espécies animais, inclusive a humana. O século XIX nos mostrou que, entre os animais e nós, não há uma distância tão insuperável como muitos pensaram e defenderam. Tudo isso, enfatizamos, gerou profunda mudança na maneira de reconhecer a realidade, o mundo, a vida, a religião. Estamos falando, por exemplo, do positivismo e do evolucionismo. Podemos entender que esses dois movimentos se tornaram, para além de uma teoria das Ciências Naturais e da Filosofia, uma maneira de ver o mundo e os homens. No âmbito da dominação colonial entre metrópoles europeias/norte-americana e regiões e países submetidos ao seu domínio, o choque trazido por novas realidades culturais e valores religiosos, diferentes dos vividos no Ocidente, trouxe uma nova exigência. Segundo os estudiosos Firolamo e Prandi (2016, p. 8), essas novas realidades e esses novos valores, somados ao constante declínio da hegemonia do cristianismo, tornou clara “a exigência de se confrontar, de maneira cada vez mais sistemática e crítica (ou seja, livre de injunções de valor, teológicas ou filosóficas), a tradição cristã com todas aquelas tradições religiosas orais que agora ficaram acessíveis [...]. O registro dessa colonização (cartas, livros, relatórios) circulou amplamente na Europa e levantou perguntas sobre a razão de ser dos europeus e dos outros povos, em especial quando tratava-se da “religião” de índios ou “selvagens”. O século XIX nos mostrou que, entre os animais e nós, não há uma distância tão insuperável comVocê notou que a palavra veio entre aspas? Para os povos indígenas, por exemplo, a “religião” não é uma parte da realidade, pois ela está integrada a tudo, sem estar separada do resto (da vida coletiva, da comunidade, do ritual, do mito). Por isso, falamos em tradições ou cosmologias índias. A definição de religião não é consensual entre os estudiosos. Ainda no século XIX, cresceram os estudos sobre as estruturas linguísticas e mitológicas das antigas civilizações (Egito, Babilônia, Assíria, Índia, China Japão). A Bíblia se tornou objeto de pesquisas arqueológicas, sociológicas, literárias, históricas e filológicas que nos mostrará realidades diferentes sobre os livros mais sagrados do Cristianismo. Ao lermos esses estudos do ponto de vista das Ciências da Religião e com mais atenção, veremos que tais livros, tidos como sacros, foram escritos ao longo de séculos em diversos contextos e por diferentes autores, com vários tipos de linguagem (poética, épica, trágica, sapiencial etc.). Importa falar sobre a cientificidade das Ciências da Religião, isto é, sua autoridade para investigar os fenômenos religiosos tendo como horizonte a busca da neutralidade dos valores (neutralidade axiológica) e da objetividade relativa, como assim se expressou Max Weber (1864-1920). Você deve estar se perguntado: o que é neutralidade axiológica e objetividade relativa? São dois importantes conceitos cunhados pelo sociólogo, economista e estudioso alemão Max Weber (1864-1920), para ajudar as Ciências Sociais e Econômicas a estudarem seus objetos. Podemos dizer que se tratam de procedimentospara controlar a interferência de valores subjetivos e pessoais, que escapam da esfera da racionalidade, nas investigações e nos estudos dos cientistas. O estatuto científico das Ciências da Religião Com base nos estudos mais recentes, podemos dizer que os termos Ciências da Religião, Ciência da Religião ou Ciências das Religiões dizem respeito a um empreendimento acadêmico dedicado ao estudo histórico e sistemático da religião, como manifestação universal e das religiões concretas como fenômenos e experiências humanas. Atenção Perceba que o uso da palavra religião no singular quer dizer que, a partir das religiões concretamente existentes, é possível construir conceitos teóricos que expressem modelos, padrões que ajudam a explicar e a compreender o que vemos na prática. Em outras palavras, apesar de todas as variedades empíricas das religiões, que devem ser consideradas em suas semelhanças e diferenças, é possível construir um modelo teórico para interpretar e entender as experiências religiosas vividas por tanta gente. As Ciências da Religião não adotam uma postura elogiosa e confessional, isto é, não procuram defender uma religião ou professar uma fé, ao contrário. A posição teórica mais importante defende que um conhecimento científico da religião é mais produtivo se mantivermos uma linha não normativa, isto é, que busque investigar a religião em suas múltiplas dimensões, manifestações e contextos socioculturais sem levar em conta julgamentos de valor ou quaisquer julgamentos sobre a validade moral de sua existência. (USARSKI, 2013, p. 51) Por exemplo, existem pelo Brasil, inúmeras igrejas chamadas igrejas cristãs inclusivas porque aceitam a existência e o modo de ser da minoria LGBTI (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Intersexuais). As ciências da religião fazem uma análise dessas igrejas sem julgá-las melhores ou piores do que outras igrejas cristãs por conta do princípio da neutralidade axiológica e da objetividade científica relativa. Por isso é importante que você preste atenção no que escreve Frank Usarski (2013, p. 51): A Ciência da Religião não instrumentaliza seus objetivos em prol de uma apologia a uma determinada crença privilegiada pelo pesquisador. Em outras palavras, a postura das Ciências da Religião é a da “indiferença” diante do objeto do seu estudo. (USARSKI, 2013) Essa postura é uma técnica de observação e estudotécnica de observação e estudo e que você pode traduzir como distanciar-se das crenças e das militâncias pessoais para observar, com mais amplitude e por outros ângulos de vista, o objeto, no caso, a religião. Você sabe, por experiência do senso-comum, que quando estamos muito ocupados dentro de um jogo ou de um assunto, não conseguimos observar táticas, estratégias e pontos de vista alternativos ou diferentes dos usuais e comuns. Olhar um objeto a partir de outras perspectivas é fundamental. Sabemos que é preciso ter sensibilidade e abertura para a religião ou as religiões. Observamos que o princípio do distanciamento está associado a dois termos técnicos, “ateísmo metodológico” ou “agnosticismo metodológico”, segundo escreve Frank Usarski (2013, p. 51). Consideramos que, com isso, não compete ao cientista da religião perguntar sobre a “última verdade” [verdade absoluta e inquestionável] ou julgar uma religião a partir dos valores e aspectos internos de uma outra religião. Para que você tenha um exemplo concreto, nas religiões cristãs, as ideias religiosas giram em torno de noções como pecado/salvação e Deus/Diabo, o que não ocorre em religiões como as de influência africana (candomblé, tambor-de-mina, batuque) e as orientais (hinduísmo, budismo). Além de vertentes internas, essas religiões possuem diferentes ideias religiosas sobre o homem, a vida, a morte, o sofrimento, a espiritualidade etc. No caso das Ciências da Religião, dizemos que os pontos de vista internos a uma religião não são absolutos, mas são provisórios, pois o objetivo das Ciências da Religião é alcançar a visão mais ampla e a interpretação mais ampla possível sobre a religião ou as religiões. Isso só é possível se consideramos um objeto por diversos ângulos de visão e não apenas um. Veja, isso significa assumir que, para as ciências, o conhecimento é sempre provisório, submetido a critérios exigentes de investigação e questionamentos permanentes. Notemos também que existem alguns estudiosos preferindo reconhecer que a Ciência da Religião ou Ciências das Religiões são um campo disciplinar. Observe que Ciência da Religião, escrito no singular, expressa a ideia de um objeto de estudo próprio e de um método único, que, em geral, tem sido apontado como o método da fenomenologia da religião. Registramos que embora outros pesquisadores das Ciências da Religião a considerem uma estrutura científica, eles se perguntam se é uma ciência com perfil homogêneo e um método central ou se é um conjunto de ciências com perfil interdisciplinar e métodos complementares, às vezes conflitantes. Firolamo e Prandi (2016), por exemplo, preferem ver as Ciências da Religião como um campo ou uma área disciplinar e, portanto, dotada de uma estrutura aberta e dinâmica, na qual as disciplinas cientificas ajudam na tarefa de estudar a religião. O estudo da religião de forma acadêmico-científica é um dentre os diversos métodos (históricos, sociológicos, antropológicos, fenomenológicos, quantitativos e outros). O ângulo e o método variam de acordo com as Ciências da Religião, mas há uma convergência: a religião não é tabu, não há assunto proibido dentro da religião, qualquer fenômeno que envolva espiritualidade e religião podem ser estudados e compreendidos. Por isso, podemos dizer que fazer uma boa investigação, nas Ciências da Religião, é fazê-la dentro do espírito socrático, sob a inspiração do método de refutar, o elenkhós. Atividade A atividade consiste em refletir sobre três perguntas: 1) Como estudar a religião? 2) É possível estudá-la e compreendê-la? 3) Qual deve ser a postura cientifica do cientista da religião diante de fenômenos religiosos diversos? Para prosseguir, selecione pelo menos três breves reportagens, bem diferentes, extraídas, de grandes jornais brasileiros, que falem sobre religião. Faça uma pequena lista do que você consegue identificar como pontos em comum das três reportagens pontos divergentes nas notícias. Depois, anote as diferenças. Apesar da história de institucionalização das Ciências da Religião ser antiga (mais de 130 anos), alertamos para sua relativa juventude no Brasil. O primeiro departamento de estudos da religião e o primeiro curso de graduação, no setor público, foram criados na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), em meados de 1960 e 1970. Em 1978, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, surgiu o primeiro curso de pós-graduação em Ciências da Religião. Sabemos que hoje, no Brasil, são 17 cursos de graduação presenciais e 12 cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado. É uma área em expansão. Mas, uma pergunta pode lhe ocorrer: qual é a história das Ciências da Religião? Respondemos baseados nos livros citados nas bibliografias (básica e complementar) desta disciplina, que, em geral, essa história pode ser organizada em três grandes momentos, mais ou menos assim: Surgimento e institucionalização (1870-1940) Internacionalização (1945-1989) Pluralização (1990-atual) Para que saiba alguns elementos fundadores, os primeiros passos das Ciências da Religião foram estes: em 1873, foi fundada a primeira cátedra na Universidade de Genebra (Suíça) com o nome de História Geral das Religiões. Daí em diante, destacamos as cátedras/departamentos de estudos da religião; em 1877, inauguram-se as cátedras de História Geral das Religiões nas universidades holandesas de Amsterdã e Utrecht; em 1879, França, História das Religiões; em 1884 e 1904, são fundadas duas cátedras de História das Religiões na Universidade de Roma, Itália e de Manchester, Inglaterra. Nesse longo processo de nascimento, não podemos deixar decitar dois estudiosos importantes: Friedrich Max Müller (1823-1900), orientalista e filologista comparativo alemão que estudou e demonstrou as estruturas míticas e linguísticas presentes nas fontes literárias e documentais de civilizações antigas como as civilizações hindus; Cornelius Petrus Tiele (1830-1902), considerado um dos iniciadores da Ciência da Religião ou Ciências da Religião. Esses pensadores distinguiram as Ciências da Religião da Teologia e defenderam que a religião fosse estudada de forma científica, sem finalidades religiosas práticas. Destacamos que as Ciências da Religião, nesse primeiro momento, foram pressionadas por fortes debates sobre a epistemologia e metodologia (caminho que leva ao conhecimento do objeto). Frisamos, em particular, o desprezo positivista pela religião, considerada por alguns estudiosos como superstição e atraso e o exclusivismo teológico, que considerava o estudo da religião um monopólio de líderes religiosos e/ou igrejas e suas teologias. Desse primeiro momento de formação, gostaríamos de enfatizar dois elementos de um grande leque de obras e autores: 01 Em 1912, o sociólogo francês Émile Durkheim publicou o livro As formas elementares da vida religiosa, no qual propõe uma interpretação simbólica do sagrado e da religião. 02 Em 1917, o teólogo luterano e filósofo alemão, Rudolf Otto, publicou a obra O sagrado: um estudo do elemento não racional na ideia do divino e a sua relação com o racional, na qual defende uma tentativa de apreender o mistério do sagrado, sua força irracional. No momento seguinte, após a Segunda Guerra Mundial, são criados departamentos de estudos da religião (religious studies) nos EUA e na Espanha. Em 1950, é criada a IAHR (International Association for the History of Religion — Associação Internacional de História da Religião). Nessa fase, o romeno Mircea Eliade, historiador, cientista da religião, filósofo e filólogo produziu a maior parte de seus estudos e pesquisas sobre religiões e mitologias que são referências fundamentais. Ressaltamos, por fim, do terceiro momento, marcado pela abertura de novas associações de estudos e pesquisas sobre religião no Brasil e no mundo. Você já ouviu falar na ABHR, SOTER ou ANPTECRE? São, respectivamente: Associação Brasileira de História das Religiões (2000, http://www.abhr.org.br/ <http://www.abhr.org.br/> ), Sociedade de Teologia e Ciência da Religião (1985, http://www.soter.org.br/ <http://www.soter.org.br/> ) e http://www.abhr.org.br/ http://www.soter.org.br/ Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (2007, http://www.anptecre.org.br/ <http://www.anptecre.org.br/> ). São organizações sérias e dedicadas aos estudos da religião de um ponto de vista científico, acadêmico e procurando o rigor exigido pelas regras metódicas da ciência. Visite os sites dessas associações. Saiba mais sobre textos, eventos, congressos, artigos, revistas acadêmicas e outros assuntos das Ciências da Religião. Assinalamos que, nesse terceiro momento, vivemos uma ampliação das perspectivas teóricas e metodológicas, com os impactos dos estudos pós-coloniais e pós-modernos, das teologias contemporâneas (teologia feminista, teologia das religiões etc.) e as influências de pensadores como Michel Foucault (1926-1984) e Martin Heidegger (1889-1976), entre outros. Saiba mais Você sabia já houve uma reunião mundial sobre religiões? Foi em setembro de 1893 com o Parlamento Mundial das Religiões, em Chicago (EUA). Centenas de estudiosos, pesquisadores e membros de diversas religiões vindos do mundo inteiro se reuniram para conversar sobre paz, tolerância e espiritualidade. http://www.anptecre.org.br/ Atividade 1 - “Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade.”. (OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia. Campinas: Papirus, 2000. p. 24.). Assinale a alternativa que apresenta a “guinada de atitude” que o texto afirma ter sido promovida pelos primeiros filósofos:> a) A análise crítica das ideias, imagens e posições, que podem ser modificadas ou reformuladas. b) A desconfiança na capacidade da razão em virtude da “proliferação de pontos de vista” conflitantes entre si. c) A aceitação sem crítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos naturais. d) A busca por uma verdade única e não questionável, que substituísse a verdade imposta pela religião. e) A confiança na tradição e na autoridade religiosa como alicerces para o conhecimento verdadeiro. 2 – Um professor de História das Religiões, trouxe dois relatos sobre a criação do mundo e da vida: Relato 1 – O povo maia quiche (1000 a.C. América Central): “Admirável é o relato da época em que tudo foi formado no céu e na terra: o quarteamento de seus sinais, sua medida e alinhamento e estabelecimento de paralelas [...]. Vede! Tudo estava incerto, tudo era calma e silêncio; nada se movia, tudo era tranquilo, e imensos eram os céus. Vede! A primeira palavra e o primeiro diálogo. Ainda não existia o homem, nem o animal; não havia pássaros, nem barranco; não havia vegetação, nem charco; só o céu existia [...] Só havia imobilidade e silêncio na escuridão e na noite. Sozinhos estavam o Criador e o Autor [...]”. (ELIADE, Mircea. O conhecimento sagrado de todas as eras. São Paulo: Mercúrio, 1995, p. 69-70). Relato 2 – Do Livro do Gênesis (Bíblia cristã) (900 a.C. Oriente Médio): “No princípio, criou Deus os céus e a Terra. E a Terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. [...] E fez Deus as feras da Terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e cada coisa que se arrasta sobre a Terra conforme a sua espécie e viu Deus que era bom. E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem... Então Deus criou o homem à sua imagem”. (Bíblia, Livro do Gênesis, cap. 1, v. 1- 9 e 25-27). Em relação à diversidade de relatos da criação apresentados, é possível avaliar que são: a) Lendas cósmicas baseadas em duas antigas práticas litúrgico-celebrativas. b) Histórias de duas religiões antigas que sobreviveram ao mundo moderno. c) Relatos míticos sobre a natureza dos animais e dos homens nos primórdios. d) Produtos da imaginação religiosa de dois povos nascidos em regiões diferentes. e) Narrativas sobre a criação do mundo e dos homens com imagens semelhantes. 3 – “Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Os deuses disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou para a prisão do Tártaro ou para a Terra, entre os mortais. E os homens, o que acontece com eles? Quem são eles?”. (VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 56). O texto acima é parte de um relato mítico. Tendo em vista que o mito pode ser considerado uma forma de conhecimento, assinale a alternativa correta. a) A verdade do mito segue a regras universais do pensamento racional, por exemplo, a lei de não contradição. b) O mito busca explicações definitivas sobre o homem, a vida e o mundo, e sua verdade independe de provas e refutações. c) O conhecimento mítico fundamenta-se em um rigoroso procedimento lógico-analítico para estabelecer suas verdades. d) As explicações míticas são construídas de maneira argumentativa e autocrítica, com o uso de cadeias causais lógicas. e) A verdade do mito obedece a critérios empíricos e científicos de comprovação das suas verdades internas. 4 – Em 1793, o filósofo alemão, Immanuel Kant,escreveu um livro fundamental, A religião nos limites da simples razão. Leia este trecho: “De um xamane tunguse ao prelado europeu, que governa ao mesmo tempo a Igreja e o Estado, ou (se em vez dos chefes e dirigentes quisermos ter em vista apenas os adeptos da fé segundo o seu próprio modo de representação) entre o vogul, inteiramente sensitivo, que de manhã põe sobre a sua cabeça a garra de uma pele de urso com a breve oração ‘Não me mates!’, e o sublimado puritano e independente de Connecticut há, sem dúvida, uma enorme distância na maneira, mas não no princípio de crer; de fato, quanto a este, todos eles pertencem a uma só e mesma classe, a saber, à dos que situam o seu culto de Deus no que em si não torna melhor homem algum (na fé, em certas proposições estatutárias ou no seguimento de certas observâncias arbitrárias).” (KANT, Immanuel. A religião nos limites da simples razão. p. 201, disponível em: https://marxists.architexturez.net/ portugues/kant/1793/ mes/limites.pdf <https://marxists.architexturez.net/portugues/kant/1793/mes/limit es.pdf> . Acesso em 06 fev. 2018). Tendo em vista que Kant busca um princípio racional universal, e relendo o texto acima, é possível afirmar que as práticas religiosas: a) Possuem uma profunda diversidade e, por isso, são incomparáveis. b) Podem superar suas diferenças em torno de um ponto em comum. c) Possuem atos morais incomparáveis, mas verdadeiros ao seu modo. d) Possuem um princípio universal de crença em uma moralidade arbitrária. e) Promovem o culto a Deus, apesar das diferenças entre os cultos e os povos. https://marxists.architexturez.net/portugues/kant/1793/mes/limites.pdf 5 – Leia estas duas passagens da obra As formas elementares da vida religiosa, de Émile Durkheim, capítulo I, intitulado Definição do Fenômeno Religioso e da Religião: Passagem 1 – “Para definirmos religião é preciso que nos libertemos de toda ideia preconcebida. Partimos de definições correntes: por comparação com todas as formas de religião, há um elemento em comum que consiste na ‘crença na onipresença de alguma coisa que vai além da inteligência’, conforme disse Spencer. Max Müller via, em toda religião, ‘um esforço para conhecer o inconcebível, para exprimir o inexprimível, uma aspiração ao infinito’. Mas, essas duas noções são muito recentes na História da Religião. Passagem 2 – “A noção do religioso está longe de coincidir com o extraordinário e do imprevisto. E essa concepção das forças religiosas não é primitiva. A ideia de mistério é criação humana, limitada a um pequeno número de religiões avançadas. Portanto, não se pode utilizar o conceito de mistério como característica genérica das religiões. [...]. Assim, há ritos sem deuses e, inclusive, há ritos dos quais derivam os deuses. Portanto, a religião vai além da ideia de deuses ou de espíritos, logo não pode se definir exclusivamente em função desta última”. Considerando que as Ciências da Religião procuram estudar cientificamente a religião, leia o conjunto de afirmativas e assinale a alternativa MAIS completa: a) As ideias preconcebidas sobre religião são importantes para mostrar as bases do preconceito positivista. b) A libertação das ideias preconcebidas é um dos últimos passos metodológicos para o estudo acadêmico da religião. c) As críticas feitas com rigor às concepções correntes de religião são fundamentais para a investigação das Ciências da Religião. d) A noção de extraordinário e imprevisto define apenas algumas religiões especificas, mas não todas as demais. e) As noções recentes de religião são fundamentais para que algumas religiões sejam entendidas a partir de suas estruturas específicas. Notas David Hume David Hume (1711-1776). Nascido em Edimburgo, Escócia, introduziu o método experimental de raciocínio nos assuntos filosóficos. Principais obras: Tratado da Natureza Humana (1740); Investigação sobre o entendimento humano (1748); Investigação sobre o princípio da moral (1751); Diálogos sobre a religião natural (depois de 1776); História natural da religião (1757). Immanuel Kant 2 - Immanuel Kant (1724 - 1804). Nascido em Königsberg, antiga Prússia, este filósofo é considerado o fundador da “Filosofia Crítica”. Principais obras: História universal da natureza e teoria do céu (1755); Observação sobre o sentimento do belo e do sublime (1764); Crítica da razão pura (1781); O que é o Iluminismo? (1784); Fundamentação da metafísica dos costumes (1785); Crítica da razão prática (1788); Crítica do julgamento (1790); A religião nos limites da simples razão (1793); A paz perpétua (1795); A metafísica dos costumes (1797). Referências FILORAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Cências das Religiões. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2016. PASSOS, João D.; USARSKI, Frank (Orgs.). Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas: Paulus, 2013. TEIXEIRA, Faustino (org.). A(s) Ciência(s) da Religião no Brasil. Afirmação de uma área acadêmica. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2008. Próximos Passos Os problemas relativos ao conceito de religião: sua variedade e diversidade; Definições substancialistas, funcionalistas e compreensivas; Pontos fracos e fortes das definições. Explore mais Dê uma navegada no portal disponível em: http://www.unicap.br/observatorio2/ <http://www.unicap.br/observatorio2/> , acesso em 05 fev. 2018. Ele se chama Observatório Transdisciplinar das Religiões no Recife. Reúne imagens, notícias fóruns e discussão, textos breves. Aproveite também para ler este texto: 1 2 http://www.unicap.br/observatorio2/ DIX, Steffen. O que significa o estudo das religiões: Uma ciência monolítica ou interdisciplinar? Disponível em: http://www.ics.ul.pt/publicacoes/workingpapers/wp2007/wp2007_1.pdf <http://www.ics.ul.pt/publicacoes/workingpapers/wp2007/wp2007_1.pdf> . Acesso em 05 fev. 2018. Assista a este pequeno vídeo, Mito e razão, explicando a diferença entre eles. Disponível em: http://www.dailymotion.com/video/x8ia32 <http://www.dailymotion.com/video/x8ia32> . Acesso em 05 fev. 2018. Veja algumas notas <galeria/aula1/anexo/notas1.pdf> da aula. http://www.ics.ul.pt/publicacoes/workingpapers/wp2007/wp2007_1.pdf http://www.dailymotion.com/video/x8ia32 file:///W:/2018.2/ciencias_da_religiao__GON942/galeria/aula1/anexo/notas1.pdf
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