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Aula 10 Direito Internacional Público e Privado p/ Magistratura Federal (Curso Regular) Professor: Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale !ULA 10 DIREITO!INTERNACIONAL!PRIVADO! (PARTE !SPECIAL! Contratos Internacionais ............................................................................... 3 1 - Conceitos Iniciais: .................................................................................. 3 2 - Clusula de fora maior e clusula de hardship: ..................................... 5 3 - Termos Internacionais de Comrcio (INCOTERMS): ............................... 6 3.1- Generalidades: .................................................................................. 6 3.2- INCOTERMS 2010: ............................................................................. 9 3.2.1- EXW (Ex Works- named place of delivery): .................................. 10 3.2.2- FCA (Free Carrier - named place of delivery): ............................... 11 3.2.3- FAS (Free Alongside Ship Ð named port of shipment): ................. 11 3.2.4- FOB (Free on Board- named port of shipment): ............................ 12 3.2.5- CPT (Carriage Paid To Ð named place of destination): .................. 12 3.2.6- CIP (Carriage and Insurance Paid To - named place of destination): ............................................................................................................... 13 3.2.7- CFR (Cost and Freight Ð named port of destination): .................... 14 3.2.8- CIF (Cost, Insurance and Freight Ð named port of destination): ... 15 3.2.9- DAT (Delivered at Terminal Ð named terminal at port or place of destination): ........................................................................................... 15 3.2.10- DAP (Delivered at Place Ð named place of destination): ............. 16 3.2.11- DDP (Delivered Duty Paid Ð named place of destination): .......... 16 3.2.12 - Classificao dos INCOTERMS: .................................................. 17 Protocolo de Las Leas ................................................................................ 25 1- Introduo: ........................................................................................... 25 2 - Cooperao e Assistncia Jurisdicional: ............................................... 26 3 - Igualdade de Tratamento Processual: .................................................. 26 4 - Reconhecimento e Execuo de Sentenas e de Laudos Arbitrais: ........ 27 5 - Informao do Direito Estrangeiro: ...................................................... 29 Prestao de Alimentos no Exterior ............................................................. 32 1-Introduo: ............................................................................................ 32 2- Conveno de Nova York: ...................................................................... 32 Lista de Questes ......................................................................................... 37 Gabarito ....................................................................................................... 43 www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Ol, pessoal! Tudo bem? Na aula de hoje, dando continuidade ao nosso curso para a Magistratura Federal, estudaremos sobre os seguintes tpicos, relacionados ao Direito Internacional Privado: Contratos internacionais. Clusulas tpicas. Protocolo de Las Lens. Prestao de Alimentos no Estrangeiro. Abraos, Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Contratos Internacionais 1 - Conceitos Iniciais: A globalizao econmico-comercial aumentou o grau de integrao e vinculao entre pessoas fsicas e jurdicas no cenrio internacional. A conduta desses agentes em suas relaes comerciais regida pelos contratos internacionais, que so instrumentos destinados a regular as obrigaes e direitos das partes, materializando a vontade originria de cada uma delas. Mas o que um contrato? Quais suas caractersticas principais? Para responder essa pergunta, temos que recorrer ao direito civil e Teoria Geral dos Contratos! Segundo a doutrina civilista, contratos so negcios jurdicos originados a partir de um acordo de vontades, que cria, modifica ou extingue direitos. Por meio de um contrato, se estabelece um vnculo jurdico entre duas ou mais pessoas. So elementos constitutivos de um contrato os seguintes: as partes, o objeto, o local de celebrao e o local de execuo. Mas o que seriam ento Òcontratos internacionaisÓ? A definio do conceito de contrato internacional no algo corriqueiro, havendo diferentes vises doutrinrias sobre o assunto. No Brasil, a posio dominante no sentido de considerar-se que contrato internacional o que possui elementos que possibilitem sua vinculao a sistemas jurdicos diferentes. Nesse sentido, se os elementos constitutivos de um contrato (partes, objeto, local de celebrao e local de execuo) estiverem conectados a mais de um Estado, este ser, por excelncia, internacional.1 O contrato de compra e venda internacional um instrumento jurdico consensual, bilateral, oneroso, comutativo e tpico. Mas o que significa cada uma dessas caractersticas? Bem, para entendermos cada uma dessas caractersticas, temos que falar um pouco sobre direito civil! Nesse sentido, os contratos podem se classificar de diferentes formas: a) Consensuais ou reais: So consensuais os contratos que se reputam perfeitos e acabados com a aceitao das partes (consenso). So reais os contratos que somente se consideram formados com a entrega efetiva da coisa. O contrato de compra e venda, por considerar- 1 STRENGER, Irineu. Contratos Internacionais do Comrcio. 4. ed. So Paulo: LTR, 1998. www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale se formado com a aceitao da proposta, classifica-se como consensual. b) Bilaterais (sinalagmticos) ou unilaterais: So bilaterais os contratos que envolvem obrigaes recprocas, isto , quando os contratantes so simultaneamente credor e devedor um do outro. Por sua vez, so unilaterais os contratos em que apenas uma parte se obriga perante a outra. O contrato de compra e venda envolve obrigaes recprocas e, portanto, bilateral ou sinalagmtico. c) Onerosos ou gratuitos: So onerosos os contratos em que h contraprestaes. Por outro lado, so gratuitos os contratos dos quais apenas uma parte tira proveito. O contrato de compra e venda, por envolver contraprestaes (o comprador paga o preo e o vendedor entrega a mercadoria) classifica-se como oneroso. d) Comutativos ou aleatrios: So comutativos os contratos que envolvem prestaes equivalentes e cuja equivalncia pode ser aferida. Nos contratos comutativos, as prestaes so certas e definidas. Os contratos aleatrios, por sua vez, envolvem prestaes incertas de uma ou de ambas as partes. Nesse tipo de contrato, as prestaes ficam na dependncia de um fato futuro e imprevisvel. Os contratos de comprae venda se classificam como comutativos. e) Tpicos ou atpicos: So tpicos os contratos que possuem previso na lei por serem os mais comuns e importantes. Os atpicos, por sua vez, no encontram previso legal. O contrato de compra e venda est previsto em diversas legislaes nacionais e, inclusive, em convenes internacionais. Portanto, trata-se de um contrato tpico. Esquematizando: www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Quando se fala em contratos internacionais celebrados por empresas brasileiras, h duas questes importantes a serem definidas: - Qual ser a legislao aplicvel ao contrato? Para responder essa perguntar, precisamos observar o que dispe a Lei de Introduo s Normas do Direito Brasileiro (LIDB). Segundo o art. 9¼ da LIDB, para qualificar e reger as obrigaes, aplica-se a lei do pas em que estas tiverem sido constitudas. Importante ressaltar que a obrigao (ex: contrato) reputa-se constituda no domiclio do proponente (quem faz a proposta). - Qual ser a jurisdio competente para apreciar controvrsia envolvendo o contrato? A resposta para essa pergunta est no art. 88 do Cdigo de Processo Civil, que dispe que a autoridade judiciria brasileira competente quando: i) o ru, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; ii) a obrigao tiver de ser cumprida no Brasil e; iii) a ao se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil. Em que pese a previso desse dispositivo do CPC, as partes podero decidir, em clusula contratual especfica, qual o foro competente para apreciar controvrsia envolvendo o contrato. 2 - Clusula de fora maior e clusula de hardship: As operaes de compra e venda internacional esto sujeitas a diversos fatos imprevisveis e inevitveis que fogem do controle das partes (fator aleatrio). Podem ocorrer, por exemplo, fenmenos da natureza (terremotos, tsunamis, tempestades), acontecimentos de ordem poltica (guerras, revolues, greves) ou mesmo crises econmicas. Tudo isso pode vir a frustrar a execuo do contrato. A clusula de fora maior e a clusula de hardship existem, justamente, para fazer frente a essas situaes imprevisveis e inevitveis, buscando restabelecer o equilbrio contratual. A lgica de ambas as clusulas repousa no princpio Òrebus sic stantibusÓ, segundo o qual caso haja uma alterao substancial das circunstncias que envolveram a formao do contrato, este poder ser alterado. Nesse sentido, a clusula de fora maior e a clusula de hardship so muito importantes nos contratos internacionais de compra e venda, sendo fundamental que, ao celebrarem contratos de compra e venda, as empresas prevejam essas clusulas, uma vez que qualquer operao est sujeita ocorrncia de circunstncias imprevistas e inevitveis. Destaque-se que a www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale redao da clusula de fora maior e da clusula de hardship varia de contrato para contrato, no havendo padronizao internacional para isso. Mas qual a diferena entre clusula de fora maior e a clusula de hardship? Tanto a clusula de hardship quanto a clusula de fora maior existem para fazer frente a situaes imprevisveis e inevitveis. Todavia, a clusula de fora maior se aplica quando a execuo contratual se torna invivel, isto , o contrato se torna inexequvel. Por sua vez, a clusula de hardship se aplica quando o contrato se torna substancialmente mais oneroso, porm, ainda assim, poder ser executado. Esquematizando: 3 - Termos Internacionais de Comrcio (INCOTERMS): 3.1- Generalidades: Quando celebrado um contrato internacional de compra e venda de mercadorias, vrias clusulas devem ser decididas pelas partes contratuais (importador e exportador). Ser necessrio determinar onde sero entregues as mercadorias ao importador, se ser contratado um seguro da carga ou, ainda, quem proceder ao desembarao aduaneiro. Dessa forma, a celebrao de um contrato dessa natureza no tarefa simples, a ela devendo ser concedida especial ateno, uma vez que as clusulas contratuais, alm de se refletirem na formao do preo das mercadorias, permitem que as partes possam usufruir de maior segurana jurdica. Os INCOTERMS (International Commercial Terms) foram criados pela Cmara de Comrcio Internacional (CCI) em 1936 justamente com o objetivo de simplificar a celebrao de contratos internacionais de compra e venda. Trata- se de frmulas contratuais que definem as obrigaes de vendedores e compradores nesse tipo de contrato. Ao invs de se utilizar vrias www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale clusulas contratuais, definindo as responsabilidades do exportador e do importador em cada fase da cadeia logstica, muito fcil uma nica formula que resuma tudo em poucas letras. Essa a lgica dos INCOTERMS! Cabe destacar que os INCOTERMS no se aplicam aos contratos de prestao de servios, mas apenas aos contratos de compra e venda de mercadorias. Suponha que seja celebrado um contrato de compra e venda entre uma empresa brasileira (importadora) e uma empresa estrangeira (exportadora). Por bvio, ser necessrio que eles definam onde ocorrer a entrega da mercadoria e quais custos sero responsabilidade de cada um. Pode ser estabelecido, por exemplo, que a mercadoria ser considerada entregue pelo vendedor ao comprador a bordo do navio no porto de embarque e que, alm disso, o vendedor ir arcar com o frete e seguro internacionais. Ao invs de especificar todas essas clusulas no contrato de compra e venda, basta que vendedor e comprador digam que ser usado o INCOTERM CIF (Cost, Insurance and Freight). Tudo ficou, sem dvida alguma, muito mais fcil! A Cmara de Comrcio Internacional (CCI) uma organizao no- governamental de amplitude global que tem como objetivos promover o comrcio internacional e o crescimento econmico, representando o setor empresarial junto aos governos. Para alcanar seus objetivos, a CCI, dentre outras aes, atua na criao de regras uniformes para reger as relaes comerciais. Dentre essas regras, esto os INCOTERMS. Em virtude de serem criados por uma organizao no-governamental, os INCOTERMS no so de utilizao obrigatria, ou seja, so usados facultativamente pelas partes em um contrato de compra e venda de mercadorias. Eles no so normas internacionais, mas apenas um conjunto consolidado e padronizado dos usos e costumes alfandegrios e de entrega utilizados no mundo.2 Mas se no so obrigatrios, os INCOTERMS possuem algum valor jurdico? Sim. Apesar de serem de utilizao facultativa, os INCOTERMS possuem valor jurdico quando mencionados em um contrato de compra e venda internacional. Se as partes contratuais definiram que iro utilizar um INCOTERM para regular as obrigaes que regem um determinado contrato, elas passam automaticamente a estarem vinculadas a essa frmula contratual. Essa vinculao decorre de dois princpios gerais da teoria dos contratos: o princpio Òpacta sunt servandaÓ e o princpio Òlex inter partesÓ. Alm de definirem as obrigaes de compradores e vendedores em contratos internacionais de compra e venda de mercadorias, os INCOTERMS tambm so2 KEEDI, Samir. Transportes, Unitizao e Seguros Internacionais de Carga. 5» edio, Ed Aduaneiras, 2011. www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale usados como forma de padronizar as estatsticas nacionais e internacionais de comrcio. Nesse sentido, as estatsticas das exportaes so usualmente apresentadas em base FOB, ao passo que as estatsticas das importaes so apresentadas em base CIF (valor acrescido do seguro e do frete internacional). O objetivo dessa padronizao (exportaes em base FOB e importaes em base CIF) evitar que dois pases contabilizem, ao mesmo tempo, custos de transporte e de seguro, o que faria que, ao analisar os nmeros do comrcio global, tivssemos uma viso distorcida das trocas internacionais. Assim, quando o Brasil exporta para os EUA, por exemplo, ele no contabiliza em sua balana comercial os valores de frete e seguro; os EUA, entretanto, na mesma operao, ir contabilizar esses valores. A primeira verso dos INCOTERMS foi criada em 1936. Posteriormente, seguiram-se diversas outras revises, as quais chegaram ao nmero de 7 (sete); 1953, 1967, 1976, 1980, 1990, 2000 e 2010. As sucessivas revises dos INCOTERMS existem em virtude da necessidade de que as regras comerciais acompanhem a evoluo das relaes comerciais entre os pases. Levando-se em considerao que os INCOTERMS no so normas internacionais, uma verso mais atual no revoga a anterior. Dessa forma, todas as verses dos INCOTERMS, mesmo as mais antigas, ainda podem se utilizadas em um contrato de compra e venda internacional de mercadorias. Para isso, basta que as partes deixem explcito no contrato qual ser a verso dos INCOTERMS aplicvel. Caso as partes contratuais no especifiquem qual verso est sendo utilizada, poder haver dvidas de interpretao, prejudicando a segurana jurdica da operao. Os INCOTERMS tambm podem ser objeto de alterao pelas partes contratuais, desde que elas entrem em acordo. Nesse sentido, possvel que sejam efetuados aditamentos ou redues nas atribuies do vendedor www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale ou do comprador. Por exemplo, o INCOTERM EXW determina que o desembarao de exportao ser feito pelo importador. No entanto, por razes burocrticas, isso pode ser complexo. Assim, os contratantes podem determinar que o INCOTERM a ser utilizado ser o EXW mas que, adicionalmente, o exportador ser responsvel pelo desembarao de exportao. O conhecimento exato dos INCOTERMS fundamental para a logstica de uma operao de comrcio exterior, pois define o momento em que o vendedor transfere ao comprador as responsabilidades quanto aos custos e riscos. A transferncia da responsabilidade quanto aos riscos ocorre no momento em que o vendedor entrega a mercadoria no local definido pelas partes. J a transferncia da responsabilidade quanto aos custos, efetiva-se quando cessam as obrigaes de custeio que couberem ao vendedor. A depender do INCOTERM utilizado, o momento em que transferida a responsabilidade quanto aos riscos no coincide com o momento em que transferida a responsabilidade quanto aos custos. Os INCOTERMS tambm so importantes para a determinao do preo das mercadorias. Com efeito, cada clusula contratual nos permite identificar os elementos que compe o preo de uma mercadoria. Ao usar a clusula contratual CIF (Cost Insurance and Freight), por exemplo, sabe-se que ao preo da mercadoria dever ser somado o valor do frete e seguro internacionais. Em virtude disso, os INCOTERMS so conhecidos como Òclusulas de preoÓ. Destaque-se, ainda, que, ao proceder a escolha dos INCOTERMS, exportadores e importadores devero observar as especificidades da legislao interna de seus pases. Imaginem, por exemplo, que um contrato seja formalizado baseando-se no INCOTERM Ex Works. Nessa frmula contratual, quem realiza o desembarao para exportao o comprador. Pode existir alguma norma no pas de origem da mercadoria que no permita que uma empresa estrangeira realize o despacho para exportao ou mesmo proceda ao licenciamento da operao. Nessa situao, o INCOTERM Ex-Works no poder ser utilizado. 3.2- INCOTERMS 2010: Passaremos agora a estudar especificamente cada uma das frmulas contratuais previstas na verso INCOTERMS 2010. Quando oportuno, faremos remisso tambm a alguns INCOTERMS da verso anterior, para fins de comparao e de entendimento do que foi alterado com a nova publicao da CCI. www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale A verso INCOTERMS 2010, publicada pela CCI, possui uma introduo e, logo em seguida, uma explicao de cada termo. Antes de cada termo, h notas de orientao (guidance notes), as quais visam a orientar vendedores e compradores na escolha do INCOTERM mais adequado operao pretendida. Uma modificao importante na verso INCOTERMS 2010 que ela afirma explicitamente que as notas de orientao (guidance notes) e a introduo no integram a estrutura dos INCOTERMS, possuindo carter de meras orientaes 3. Alm disso, na verso INCOTERMS 2010, o texto deixa explcito que as frmulas contratuais nele previstas podem ser usadas tanto em contratos de compra e venda internacionais como em contratos de compra e venda domsticos. O objetivo permitir que as empresas, ao usar os INCOTERMS em contratos domsticos, possam se acostumar com sua utilizao. Destaque-se que essa previso no existia na verso INCOTERMS 2000. Vamos ao estudo de cada um dos INCOTERMS da verso 2010! 3.2.1- EXW (Ex Works- named place of delivery): O termo EXW o que representa maior nvel de obrigaes ao comprador e, simultaneamente, o menor nvel de obrigaes para o vendedor. Quando esse INCOTERM utilizado, o vendedor se compromete a disponibilizar a mercadoria ao comprador em seus prprios domnios (nas suas prprias instalaes). Em outras palavras, as obrigaes do vendedor se encerram no momento em que ele acondiciona a mercadoria na embalagem de transporte. Costuma-se dizer que, no INCOTER EXW, a mercadoria entregue pelo vendedor ao comprador no Òcho da fbricaÓ e, a partir da, todas as despesas sero de responsabilidade do comprador. O comprador dever arcar at mesmo com as despesas de carregamento no veculo transportador. Nos INCOTERMS em geral, o desembarao aduaneiro de exportao ser sempre de responsabilidade do exportador (vendedor), enquanto o desembarao aduaneiro de importao ser de responsabilidade do importador (comprador). No entanto, para o INCOTERM EXW, at mesmo o 3 KEEDI, Samir. Transportes, Unitizao e Seguros Internacionais de Carga. 5» edio, Ed Aduaneiras, 2011. www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale desembarao aduaneiro de exportao ser de responsabilidade do importador (comprador). Esse o nico INCOTERM em que isso ocorre! Ao vincular esse termo em um contrato de compra e venda, necessrio que se identifique explicitamente onde ser entregue a mercadoria, ou seja, dever ser nomeadoum local de entrega na origem. O INCOTERM EXW pode ser usado para qualquer tipo de transporte ou mesmo para o transporte multimodal. 3.2.2- FCA (Free Carrier - named place of delivery): O termo FCA (Free Carrier) impe a obrigao de que o vendedor entregue a mercadoria ao transportador, seja na propriedade do prprio vendedor ou em outro local designado. A partir da, todos os custos e riscos iro correr por conta do comprador. Teremos, ento, duas situaes possveis: a) Mercadorias entregues ao transportador no estabelecimento do vendedor: as despesas de carregamento do veculo sero responsabilidade do vendedor. b) Mercadorias entregues em outro local designado: o vendedor entregar as mercadorias prontas para serem desembarcadas. Percebe- se que, nesse caso, o vendedor embarcou as mercadorias em um veculo e levou-as a um local designado. Nesse local, as despesas de descarregamento sero de responsabilidade do comprador. No INCOTERM FCA, o desembarao aduaneiro de exportao fica por conta do vendedor (exportador) e o desembarao aduaneiro de importao ser responsabilidade do comprador (importador). Dessa forma, a execuo das formalidades alfandegrias e o pagamento dos direitos aduaneiros so de responsabilidade do vendedor. O FCA pode ser utilizado em qualquer modo de transporte ou mesmo para o transporte multimodal. 3.2.3- FAS (Free Alongside Ship Ð named port of shipment): O termo FAS (Free Alongside Ship) estabelece que as mercadorias devero ser entregues pelo vendedor ao comprador ao lado do navio no porto de embarque nomeado. A partir da, todas as despesas e riscos sero de responsabilidade do comprador. Considerando que a mercadoria entregue www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale ao lado do navio, as despesas de carregamento deste sero de responsabilidade do comprador. O FAS pode ser utilizado apenas para o transporte martimo ou hidrovirio interior (o prprio nome j nos indica isso!). O desembarao aduaneiro de exportao responsabilidade do exportador e o desembarao aduaneiro de importao fica por conta do importador. 3.2.4- FOB (Free on Board- named port of shipment): Na verso INCOTERMS 2000, esse termo estabelecia que a mercadoria seria considerada entregue ao comprador no momento em que ela Òtranspusesse a amurada do navioÓ no porto de embarque. Essa redao gerava alguns problemas e dificuldades de interpretao. Em razo disso, o termo FOB foi alterado na reviso INCOTERMS 2010. Segundo a verso INCOTERMS 2010, o termo FOB impe ao vendedor a obrigao de entregar a mercadoria ao comprador a bordo do navio designado pelo comprador, no porto de embarque. A partir desse momento, transferida toda a responsabilidade pelos custos e riscos do vendedor ao comprador. O INCOTERM FOB somente pode ser utilizado para o transporte martimo ou hidrovirio interior. O desembarao aduaneiro de exportao fica a cargo do exportador (vendedor), enquanto o desembarao aduaneiro de importao responsabilidade do importador (comprador). 3.2.5- CPT (Carriage Paid To Ð named place of destination): O INCOTERM CPT (Carriage Paid To) estabelece que o vendedor dever entregar a mercadoria ao transportador no local acordado e, alm disso, arcar com as despesas referentes ao frete internacional at um local designado. Quando esse termo usado em um contrato de compra e venda, pode-se identificar que a transferncia da responsabilidade quanto aos riscos ocorre em momento diverso da transferncia da responsabilidade quanto aos custos. A responsabilidade quanto aos riscos transferida pelo vendedor ao comprador no momento em que a mercadoria entregue ao transportador no local acordado. J a responsabilidade quanto aos custos persiste com o vendedor at a chegada ao local de destino. www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Um detalhe importante: o local nomeado, que acompanha o INCOTERM CPT, no onde a mercadoria ser entregue ao transportador, mas sim at onde o frete internacional ser pago. Dessa forma, quando se usa o INCOTERM CPT- Porto de Santos, significa que o frete ser pago at o Porto de Santos e, ainda, que esse porto est situado no pas de destino (pas importador). Essa uma particularidade dos INCOTERMS do Grupo ÒCÓ! O termo CPT pode ser utilizado para qualquer tipo de transporte, inclusive o multimodal. O desembarao aduaneiro de exportao ser de responsabilidade do vendedor (exportador); por sua vez, o desembarao aduaneiro de importao ser de responsabilidade do comprador (importador). 3.2.6- CIP (Carriage and Insurance Paid To - named place of destination): O INCOTERM CIP bem similar ao CPT. Nele, o vendedor tem a obrigao de entregar a mercadoria ao transportador no local acordado e, alm disso, arcar com as despesas referentes ao frete e ao seguro internacionais. Nesse termo, a transferncia da responsabilidade quanto aos riscos tambm ocorre em momento diferente ao da transferncia da responsabilidade quanto aos custos. A responsabilidade quanto aos riscos encerra-se no momento da entrega da mercadoria ao transportador; a responsabilidade quantos aos custos, no momento em que a mercadoria chega ao local de destino. Algum poderia perguntar: ÒSe o vendedor tem que pagar o seguro internacional, a responsabilidade quanto aos riscos mesmo transferida no momento da entrega da mercadoria ao transportador?Ó Sim. De fato, o vendedor deve contratar o seguro internacional. No entanto, a aplice de seguro tem como beneficirio o comprador. Essa a maior prova de que a responsabilidade quanto aos riscos se transfere no momento da entrega da mercadoria ao transportador. Cabe destacar que o seguro internacional contratado pelo vendedor dever possuir a cobertura mnima (que equivale a 110% do valor da operao!) Assim como no INCOTERM CPT, o local nomeado ser o local de destino da mercadoria, at onde o frete e o seguro internacional sero pagos. Dessa maneira, se estiver previsto em um contrato o INCOTERM CIP Ð Porto de Paranagu, isso significa que o frete e o seguro internacionais sero pagos at esse porto e que trata-se de uma importao brasileira. www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale O termo CIP pode ser utilizado em qualquer tipo de transporte, inclusive o multimodal. O desembarao aduaneiro de exportao ser de responsabilidade do vendedor (exportador), enquanto o desembarao aduaneiro de importao ficar por conta do comprador (importador). 3.2.7- CFR (Cost and Freight Ð named port of destination): A verso INCOTERMS 2000 (verso anterior) dispunha que, no termo CFR, a mercadoria se considerava entregue ao comprador no momento em que Òtranspunha a amurada do navioÓ no porto de embarque. Como essa redao gerava dvidas e polmicas de interpretao, o INCOTERM CFR foi alterado na nova verso. Na verso INCOTERMS 2010, o termo CFR estabelece que o vendedor dever entregar a mercadoria ao comprador a bordo do navio no porto de embarque e, adicionalmente, arcar com as despesas de frete at o porto de destino. Quando se usa esse INCOTERM, h dois pontos crticos, isto , a responsabilidade quanto aos custos transferida em local diverso ao da transferncia da responsabilidadequanto aos riscos. A responsabilidade do vendedor quanto aos riscos cessa no momento em que ele entrega a mercadoria a bordo do navio no porto de embarque. J a responsabilidade quanto aos custos se encerra com a chegada da mercadoria ao porto de destino designado. O local nomeado ser o porto de destino da mercadoria, at onde o vendedor dever arcar com o frete internacional. Aproveitando a oportunidade, vamos a uma rpida comparao entre os termos CFR e FOB, no que diz respeito ao local nomeado. Vamos l! - CFR Ð Porto de Santos: Nesse caso, o Porto de Santos o local de destino das mercadorias. Trata-se de uma importao brasileira. - FOB Ð Porto de Santos: Aqui, o Porto de Santos o local onde a mercadoria ser embarcada com destino ao exterior. Trata-se de uma exportao brasileira. O termo CFR somente pode ser utilizado no transporte aquavirio. Mais uma vez, o desembarao aduaneiro de exportao cabe ao vendedor, enquanto o desembarao aduaneiro de importao compete ao comprador. www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 3.2.8- CIF (Cost, Insurance and Freight Ð named port of destination): O termo CIF tambm teve a redao alterada em relao verso anterior, cabendo ao vendedor entregar a mercadoria ao comprador a bordo do navio no porto de embarque e, adicionalmente, arcar com as despesas referentes ao frete e ao seguro internacionais. Nesse INCOTERM, tambm h dois momentos distintos quanto transferncia de responsabilidades. A responsabilidade quanto aos riscos transferida aps a entrega da mercadoria a bordo do navio; por sua vez, a responsabilidade do vendedor quanto aos custos se encerra com a chegada da mercadoria no porto de destino. O seguro internacional contratado pelo vendedor dever ter a cobertura mnima, o que equivale a 110% do valor da operao. O local nomeado ser o porto de destino da mercadoria, que ser at onde o vendedor arcar com as despesas de frete e seguro internacionais. O termo CIF somente pode ser utilizado no transporte aquavirio (martimo ou hidrovirio interior). O desembarao aduaneiro de exportao ser responsabilidade do vendedor (exportador), enquanto o desembarao aduaneiro de importao caber ao comprador (importador). 3.2.9- DAT (Delivered at Terminal Ð named terminal at port or place of destination): O termo DAT (Delivered at Terminal) uma novidade do INCOTERMS 2010 em relao verso anterior. Ele substituiu o termo DEQ (Delivered Ex Quay), que impunha ao vendedor a obrigao de entregar a mercadoria no cais, isto , em um terminal porturio. Com a introduo do INCOTERM DAT, passa a ser possvel a entrega da mercadoria tambm em um terminal externo. Por meio desse termo, o vendedor entrega as mercadorias ao comprador em um terminal nomeado, j desembarcadas do veculo transportador. Considera-se terminal Òqualquer local, coberto ou no, como um cais, armazm, ptio de continer ou terminal de carga rodovirio, ferrovirio ou areoÓ. 4 4 KEEDI, Samir. Transportes, Unitizao e Seguros Internacionais de Carga. 5» edio, Ed Aduaneiras, 2011. www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Esse INCOTERM pode ser utilizado em qualquer tipo de transporte, inclusive o multimodal. Na exportao, os trmites aduaneiros sero de responsabilidade do vendedor, enquanto na importao cabero ao comprador. 3.2.10- DAP (Delivered at Place Ð named place of destination): O termo DAP (Delivered at Place) tambm uma inovao da verso INCOTERMS 2010, tendo substitudo os termos DAF, DES e DDU. Vejamos rapidamente o que dispem esses INCOTERMS da verso anterior: - DAF (Delivered at Frontier): o vendedor entrega a mercadoria embarcada no veculo transportador no ponto de fronteira designado, mas antes da divisa alfandegria do pas de destino. - DES (Delivered Ex Ship): o vendedor entrega a mercadoria ao comprador a bordo do navio no porto de destino. - DDU (Delivered Duty Unpaid): o vendedor entrega a mercadoria no estabelecimento do comprador, no desembarcada do veculo transportador. O INCOTERM DAP, por sua vez, impe que o vendedor dever entregar a mercadoria em um local de destino nomeado, ainda embarcada no veculo transportador. Esse destino poder ser um porto, um ponto de fronteira ou at o estabelecimento do comprador. Se a mercadoria for entregue em um porto embarcada no navio que a transportou, o DAP estar cumprindo a funo do antigo DES. J se a mercadoria for entregue em um ponto de fronteira, ele cumprir a funo do DAF. Por ltimo, se a entrega for no estabelecimento do comprador, ser cumprida a funo do antigo DDU. Esse termo poder ser utilizado em qualquer tipo de transporte, inclusive o multimodal. O desembarao de exportao caber ao vendedor e o desembarao de importao ficar por conta do comprador. 3.2.11- DDP (Delivered Duty Paid Ð named place of destination): Enquanto o termo EXW (Ex Works) apresenta o maior nvel de obrigaes para o comprador, o termo DDP (Delivered Duty Paid) o que apresenta maiores responsabilidades para o vendedor. www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Esse INCOTERM estabelece que o vendedor dever entregar a mercadoria no local de destino designado, embarcada no veculo transportador e, alm disso, arcar com o pagamento dos direitos aduaneiros. Destaque- se que o local de destino designado poder ser o estabelecimento do comprador. O DDP poder ser utilizado em qualquer tipo de transporte, inclusive o multimodal. Tanto o desembarao aduaneiro de exportao quanto o desembarao aduaneiro de importao sero de responsabilidade do vendedor (exportador). Em razo disso, considera-se que, no DDP, a mercadoria entregue ao comprador j desembaraada para importao. 3.2.12 - Classificao dos INCOTERMS: Conforme j estudamos, na verso INCOTERMS 2010, h 11 termos contratuais, os quais podem ser divididos da seguinte forma5: a) Diviso em Grupos por Modos de Transporte: H INCOTERMS que podem ser utilizados apenas no transporte aquavirio; outros INCOTERMS podem ser utilizados para qualquer modal de transporte ou at mesmo transporte multimodal. Podem ser utilizados apenas no transporte aquavirio os seguintes termos: FAS (Free Alongside Ship), FOB (Free on Board), CFR (Cost and Freight) e CIF (Cost, Insurance and Freight). Podem ser utilizados em qualquer tipo de transporte ou no transporte multimodal os seguintes termos: EXW (Ex Works), FCA (Free Carrier), CPT (Carriage Paid To), CIP (Carriage and Insurance Paid To), DAT (Delivered at Terminal), DAP (Delivered at Place) e DDP (Delivered Duty Paid) b) Diviso em Grupos para Seguro: H apenas dois INCOTERMS em que h obrigao de contratao do seguro. So os termos contratuais CIF (Cost, Insurance and Freight) e CIP (Cost and Insurance Paid To), os quais impem ao vendedor a contratao do seguro internacional. Nos outros 9 (nove) INCOTERMS, poder haver contratao de seguro internacional, mas este no ser obrigatrio. c) Diviso em Grupos para Entrega: Quanto ao local de entrega, os INCOTERMS podem ser divididos em quatro grupos, cada um deles tendo como5 A classificao que apresentamos baseia-se no entendimento de Samir Keedi, um dos maiores especialistas brasileiros no assunto e que, inclusive, atuou diretamente na elaborao dos INCOTERMS 2010. www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale inicial uma letra (E, F, C e D). Os INCOTERMS iniciados com as letras E, F e C so utilizados em contratos de partida; os INCOTERMS iniciados com a letra D so utilizados em contratos de chegada. Assim, temos a seguinte diviso: - Grupo E: EXW (Ex Works) - Grupo F: FCA (Free Carrier), FAS (Free Alongside Ship) e FOB (Free on Board). - Grupo C: CPT (Carriage Paid To), CIP (Carriage and Insurance Paid To), CFR (Cost and Freight), CIF (Cost, Insurance and Freight) - Grupo D: DAT (Delivered at Terminal), DAP (Delivered at Place) e DDP (Delivered Duty Paid). Na verso INCOTERMS 2000 (verso anterior e que ainda pode ser usada!), no existiam os termos DAT (Delivered at Terminal) e DAP (Delivered at Place). Esses termos substituram os antigos DEQ (Delivered Ex Quay), DAF (Delivered at Frontier), DES (Delivered Ex Ship) e DDU (Delivered Duty Unpaid). Na verso INCOTERMS 2000, tnhamos, portanto, 13 (treze) termos; na verso 2010, so 11 (onze). 1. (Advogado PETROBRçS Ð 2010) Analise a citao a seguir, sobre clusula comumente utilizada nos contratos internacionais. ÒEspecialmente nos contratos de longa durao, as circunstncias podem se modificar de tal maneira no momento da execuo a ponto de torn-la anormalmente onerosa e desequilibrada. preciso prever essas situaes de forma especial, mormente se o direito aplicvel desconhecer essa frmula e for extremamente apegado ao contrato- lei. muito utilizada na indstria petrolfera e em contratos chamados Òturn-keyÓ, alm da rea de construes e infraestrutura. Com essa clusula, o contrato passa a ter uma vlvula de escape, que, acionada, permite a evoluo e modificao do que foi pactuado, em vista das novas circunstncias, mas sem afastar de todo a obrigatoriedade da palavra empenhada.Ó ARAUJO, Ndia de. Contratos internacionais. Rio de Janeiro: Renovar, 2009, pp. 319-320 O excerto acima trata da clusula de: www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale a) fora maior. b) pacta sunt servanda. c) hardship. d) arbitragem. e) alterao unilateral dos contratos. Comentrios: Da leitura do texto, percebe-se que ele est se referindo ocorrncia de situaes imprevisveis e inevitveis que tornam o contrato substancialmente mais oneroso para uma das partes. O contrato continua sendo exequvel, porm a sua execuo bem mais onerosa. Esse trecho diz respeito clusula de hardship. O gabarito a letra C. 2. (AFRF-2003) Nos contratos internacionais de compra e venda, a diferena entre clusula de fora maior e a clusula de hardship reside em que na primeira, a circunstncia imprevista mas evitvel, enquanto que na segunda imprevista e inevitvel; na primeira, o contrato se torna exequvel e na segunda, inexequvel. Comentrios: H 2 (dois) erros na questo: 1) A clusula de hardship e a clusula de fora maior dizem respeito a situaes imprevisveis e inevitveis. 2) A clusula de fora maior se aplica quando o contrato se tornou inexequvel. J a clusula de hardship se aplica quando o contrato se tornou substancialmente mais oneroso. Questo errada. 3. (CODESP-SP-2011) A redao da clusula de fora maior igual em todos os contratos, pois estabelecida pela Cmara de Comrcio Internacional. Comentrios: A redao da clusula de fora maior varia de contrato para contrato. Questo errada. www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 4. (CODESP-SP-2011) Objetivando regular modificaes imprevisveis que possam gerar desequilbrios econmicos entre as partes, podem ser inseridas nos contratos de compra e venda internacionais clusulas hardship. Comentrios: A clusula de hardship serve para regular modificaes imprevisveis e inevitveis que gerem desequilbrios econmicos entre as partes, tornando o contrato substancialmente mais oneroso, porm exequvel. Questo correta. 5. (Advogado PETROBRAS Ð 2012) Ao pedir uma proposta para importao de Gs Liquefeito de Petrleo (GLP), o fornecedor indica o preo do produto em dlares norte-americanos, FOB no porto de embarque a ser indicado pela compradora. Em uma compra e venda FOB, segundo os Incoterms, o(a) a) frete est includo no preo da mercadoria. b) frete ser pago a bordo, aps confirmado o embarque. c) preo inclui um frete exclusivo para o Brasil. d) preo da mercadoria no inclui o frete. e) cotao inclui o frete e os custos de embarque. Comentrios: Quando se utiliza o INCOTERM FOB, a mercadoria considerada entregue a bordo do navio no porto de embarque. Todos os custos a partir da so da responsabilidade do comprador. Logo, em uma compra e venda FOB, no est includo o valor do frete internacional. A resposta a letra D. 6. (Advogado PETROBRAS Ð 2011) Na compra e venda internacional de mercadorias, comum fazer referncia aos Incoterms Ð Termos Comerciais Internacionais para determinar componentes de preo e responsabilidades dos contratantes. Os Incoterms: a) esto previstos na Conveno de Viena sobre compra e venda internacional de mercadorias de 1980. b) foram publicados pela Cmara de Comrcio Internacional (CCI) e so um exemplo da Nova Lex Mercatoria. www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale c) foram recepcionados no Brasil pela ratificao do tratado que criou os Incoterms 2000 e seu protocolo opcional de 2010. d) tm fora normativa porque a Cmara de Comrcio Internacional uma organizao internacional. e) so destinados especificamente a contratos celebrados fora do pas. Comentrios: Letra A: errada. Os INCOTERMS foram criados pela Cmara de Comrcio Internacional (CCI). Eles no esto previstos na Conveno de Viena. Letra B: correta. De fato, os INCOTERMS foram publicados pela CCI. A assertiva diz, ainda, que so eles so a nova Òlex mercatoriaÓ. Quando se fala em Òlex mercatoriaÓ, a referncia que se faz ao sistema jurdico desenvolvido pelos comerciantes da Europa medieval, baseado em usos e costumes. Pois bem, os INCOTERMS podem ser considerados um exemplo da nova Òlex mercatoriaÓ, uma vez que eles no so normas jurdicas, tendo sido criados por uma organizao no-governamental: a CCI. Letra C: errada. Os INCOTERMS foram criados pela CCI, que uma organizao no-governamental. Logo, eles no so objeto de um tratado internacional. Letra D: errada. A CCI uma organizao no-governamental. Letra E: errada. Os INCOTERMS se aplicam a contratos de compra e venda internacionais e domsticos. O gabarito a letra B. 7. (ACE-2008)- Apesar de amplamente disseminado, facultativo o emprego dos INCOTERMS na celebrao de um contrato de comrcio exterior; mas, uma vez acordado o seu uso, o termo escolhido adquire fora contratual, definindo, ento, a repartio dos custos e os direitos e as obrigaes das partes em relaos condies de entrega e transferncia de propriedade da mercadoria objeto do contrato. Comentrios: Os INCOTERMS so de utilizao facultativa, mas quando mencionados em um contrato de compra e venda adquirem fora contratual e vinculam as partes. Questo correta. www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 8. (TRF-2005-adaptada)- De acordo com a verso INCOTERMS- 2010, na frmula contratual EXW, a obrigao bsica do vendedor consiste em disponibilizar a mercadoria no seu prprio estabelecimento, para que ento transfira a responsabilidade sobre ela para o comprador. Comentrios: No INCOTERM EXW, a mercadoria considerada entregue pelo vendedor no cho da fbrica, isto , em seu prprio estabelecimento. Trata-se do INCOTERM que envolve maior grau de responsabilidade para o comprador. Questo correta. 9. (TRF-2005-adaptada)- De acordo com a verso INCOTERMS- 2010, na frmula contratual FOB, cabe ao vendedor arcar com todas as despesas at o momento em que a mercadoria colocada a bordo do navio indicado pelo comprador, no porto de embarque. Comentrios: Na verso INCOTERMS 2010, a frmula contratual FOB prev que a mercadoria ser considerada entregue pelo vendedor ao comprador a bordo do navio no porto de embarque. Cabe destacar que na verso INCOTERMS 2000, havia uma pequena diferena. E isso pode ser objeto de ÒpegadinhaÓ em prova! Naquela verso, estava previsto que nos INCOTERMS FOB, CIF e CFR a mercadoria seria considerada entregue aps Òtranspor a amurada do navioÓ no porto de embarque. Cuidado! O que vale hoje que a mercadoria ser considerada pelo vendedor ao comprador a bordo do navio no porto de embarque. Questo correta. 10. (TRF-2005-adaptada)- De acordo com a verso INCOTERMS- 2010, na frmula contratual CIF, o vendedor apenas tem a responsabilidade de disponibilizar a mercadoria a bordo do navio indicado pelo comprador no porto de embarque e arcar com o frete at o porto de destino. Comentrios: No INCOTERM CIF, o vendedor disponibiliza a mercadoria a bordo do navio no porto de embarque e, adicionalmente, arca com o frete e o seguro internacionais. A assertiva se esqueceu de mencionar a obrigao do vendedor de arcar com o seguro internacional. Questo errada. 11. (TRF-2005-adaptada)- De acordo com a verso INCOTERMS- 2010, na frmula contratual DAT, compete ao vendedor entregar a mercadoria ao transportador indicado pelo comprador, no local www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale determinado, momento a partir do qual a responsabilidade pelo bem corre por conta do comprador. Comentrios: O INCOTERM que prev que o vendedor dever entregar a mercadoria ao transportador indicado pelo comprador o FCA (Free Carrier). O INCOTERM DAT (Delivered at Terminal) prev que a mercadoria ser considerada entregue pelo vendedor ao comprador em um terminal nomeado, j desembarcadas do veculo transportador. Destaque-se que esse terminal ser no pas de destino. Questo errada. 12. (TRF-2005-adaptada)- De acordo com a verso INCOTERMS- 2010, na frmula contratual FCA, compete ao vendedor arcar com todas as despesas, incluindo a liberao para a exportao, at o momento em que a mercadoria colocada ao lado do costado do navio, no porto de embarque. Comentrios: O INCOTERM que prev que o vendedor dever arcar com todas as despesas at o momento em que a mercadoria colocada ao lado do costado do navio, no porto de embarque, o FAS (Free Alongside Ship). O INCOTERM FCA prev que a mercadoria ser entregue pelo vendedor ao transportador designado. Questo errada. 13. (AFRF 2002.1 - adaptada) - Numa operao de compra e venda internacional foi adotada, pelo comprador e vendedor, a clusula Incoterms-2000, DES - Delivered Ex-Ship (Entregue a partir do navio). Por essa clusula, os bens so colocados disposio do comprador a bordo do navio e no porto de destino, no desembaraados para importao. Comentrios: O INCOTERM DES no existe na verso INCOTERMS 2010, mas no por isso que deixaremos de estud-lo. Lembre-se de que uma nova verso dos INCOTERMS no revoga as verses anteriores, que podero continuar sendo usadas. O INCOTERM DES previa que a mercadoria seria considerada entregue pelo vendedor ao comprador a bordo do navio no porto de destino, no desembaraada para importao. Questo correta. 14. (AFRF 2002.1- adaptada) - Num determinado contrato de compra e venda internacional foi adotada a clusula Incoterms EXW - Ex works (significando Na Origem). Por essa clusula, o vendedor entrega as mercadorias quando ele as coloca disposio do comprador, no porto www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale de embarque designado, no desembaraados para exportao e no carregados em qualquer veculo coletor. Comentrios: O INCOTERM EXW (Ex Works) prev que o vendedor ir disponibilizar as mercadorias em seu prprio estabelecimento, no desembaraada para exportao e no carregadas em qualquer veculo coletor. Em outras palavras, as mercadorias so disponibilizadas no cho da fbrica. A partir da, todos os custos correm por conta do comprador. Questo errada. 15. (AFRF 2002.1 - adaptada) - Numa compra e venda internacional, vendedor e comprador conveniaram determinada clusula Incoterms- 2010, atravs da qual ficou acertado que as mercadorias sero entregues pelo vendedor ao comprador a bordo do navio no porto de embarque e j desembaraados para exportao. A partir desse momento o comprador arca com todos os custos e riscos, de perda ou dano s mercadorias, inclusive contrato de transporte. A clusula conveniada FOB - Free on Board (Livre bordo). Comentrios: O INCOTERM FOB (Free On Board) prev que o vendedor ir entregar as mercadorias ao comprador a bordo do navio no porto de embarque. A partir da, todos os custos e riscos correro por conta do comprador. Destaque-se que o desembarao de exportao realizado pelo exportador. Essa , alis, a regra geral para todos os INCOTERMS, exceo do EXW. Questo correta. 16. (ACE-2002)- Os Termos Internacionais de Comrcio (INCOTERMS) so um conjunto de regras e tcnicas que orientam uma operao de compra e venda internacional no tocante formao do preo da mercadoria transacionada e definio das modalidades de transporte a serem utilizadas. Comentrios: Os INCOTERMS so frmulas que definem os direitos e obrigaes do vendedor e do comprador em um contrato de compra e venda internacional. Embora o INCOTERM influencie na determinao do preo da mercadoria transacionada, seu objetivo no esse. Questo errada. www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Protocolo de Las Leas 1- Introduo: O Protocolo de Las Leas foi assinado em 1992, tendo sido internalizado no ordenamento jurdico brasileiro pelo Decreto n¼ 6.891/2009. tambm chamado de Acordo de Cooperao e Assistncia Jurisdicional em matria civil, comercial, trabalhista e administrativa do MERCOSUL. Alm de vincular todos os Estados-membros do MERCOSUL, o Protocolo de Las Lens tambm obriga a Bolvia e o Chile,que so apenas membros associados do bloco. Mas de que trata o Protocolo de Las Leas? Com qual objetivo ele foi celebrado? O objetivo do Protocolo de Las Leas promover e intensificar a cooperao jurisdicional em matria civil, comercial, trabalhista e administrativa entre os Estados-parte. Observe que o Protocolo de Las Leas no versa sobre cooperao em matria penal. O Protocolo de Las Leas trata de maneira bem ampla sobre a cooperao jurisdicional em matria civil, comercial, trabalhista e administrativa. Ele dividido nas seguintes partes: a) Captulo I: Cooperao e assistncia jurisdicional. b) Captulo II: Autoridades Centrais. c) Captulo III: Igualdade de tratamento processual. d) Captulo IV: Cooperao em atividade de simples trnsito e cartas rogatrias. e) Captulo V: Reconhecimento e Execuo de Sentenas e de Laudos Arbitrais f) Captulo VI: Instrumentos Pblicos e Outros documentos g) Captulo VII: Informao do Direito Estrangeiro h) Captulo VIII: Consultas e Solues de Controvrsias i) Captulo IX: Disposies Finais www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Em nosso estudo, no iremos detalhar um a um todos os dispositivos do Protocolo de Las Leas. Ao contrrio, estudaremos apenas aquilo que nos interessa para a prova. 2 - Cooperao e Assistncia Jurisdicional: Segundo o art. 1¼, do Protocolo de Las Leas, Òos Estados Partes comprometem-se a prestar assistncia mtua e ampla cooperao jurisdicional em matria civil, comercial, trabalhista e administrativaÓ. Para isso, cada Estado parte dever indicar uma Autoridade Central encarregada de receber e dar andamento a pedidos de assistncia jurisdicional. No caso do Brasil, a Autoridade Central o Ministrio da Justia. Ento, imagine que seja proposta aqui no Brasil uma ao judicial contra um cidado argentino. A competncia internacional do juiz brasileiro, ou seja, o juiz brasileiro o responsvel por julgar o caso. Nessa situao, haver necessidade de o juiz brasileiro expedir carta rogatria, seja para citar o argentino no processo, intim-lo ou at mesmo para a produo de provas. Temos, nesse caso, a necessidade de cooperao jurisdicional. As Autoridades Centrais indicadas pelos Estados-parte iro se comunicar diretamente, dando andamento ao pedido de assistncia jurisdicional. Assim, no exemplo apresentado, tornar-se- mais simples o trmite da carga rogatria expedida pela autoridade judiciria brasileira. Segundo o art. 12, do Protocolo de Las Leas, a autoridade jurisdicional encarregada do cumprimento de uma carta rogatria aplicar sua lei interna no que se refere aos procedimentos. Assim, o STJ aplicar a lei brasileira no que diz respeito aos procedimentos para o cumprimento das cartas rogatrias. O Protocolo de Las Leas, portanto, no uniformizou os procedimentos para o trmite das cartas rogatrias. Cabe destacar que o Protocolo de Las Leas estabelece que a carta rogatria poder ter, mediante pedido da autoridade requerente, tramitao especial, admitindo-se o cumprimento de formalidades adicionais na diligncia da carta rogatria, sempre que isso no seja incompatvel com a ordem pblica do Estado requerido. 3 - Igualdade de Tratamento Processual: O art. 3¼, do Protocolo de Las Leas, estabelece o princpio da igualdade de tratamento processual. Por esse princpio, um argentino (residente na www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Argentina) ter igualdade de condies com um brasileiro no acesso ao Poder Judicirio brasileiro, a fim de defender seus direitos e interesses. Essa regra se aplica tambm s pessoas jurdicas constitudas, autorizadas ou registradas de acordo com as leis de qualquer dos Estados-Partes. Art. 3 - Os nacionais, os cidados e os residentes permanentes ou habituais de um dos Estados Partes gozaro, nas mesmas condies dos nacionais, cidados e residentes permanentes ou habituais de outro Estado Parte, do livre acesso jurisdio desse Estado para a defesa de seus direitos e interesses. Para materializar essa igualdade de tratamento processual, o Protocolo de Las Leas estabelece que nenhuma cauo ou depsito poder ser imposto em razo da qualidade de nacional, cidado ou residente permanente ou habitual de outro Estado parte. Nesse sentido, no porque um indivduo argentino que dele ser exigida cauo para ingressar com ao judicial perante a Justia brasileira. No, no. Esse argentino ter as mesmas condies de um brasileiro no acesso Justia brasileira. Somente ser dele exigida cauo se essa tambm fosse uma exigncia do brasileiro. 4 - Reconhecimento e Execuo de Sentenas e de Laudos Arbitrais: Em direito internacional, regra plenamente aceita que os atos do Poder Pblico de um Estado somente tero eficcia no territrio de outro Estado se por ele forem aceitos. Assim, uma sentena judicial estrangeira, para ter validade no Brasil, precisa ser homologada, procedimento este que, segundo a CF/88, compete ao Superior Tribunal de Justia (STJ). O Protocolo de Las Leas, contrariando essa regra geral, estabelece a eficcia extraterritorial das sentenas e laudos arbitrais emanadas dos seus Estados-parte. Em outras palavras, uma sentena emanada de um Tribunal argentino poderia, em tese, ter eficcia no Brasil independentemente de homologao pelo STJ. Para isso, claro, ela precisaria cumprir certos requisitos, elencados no art. 20, do Protocolo de Las Leas: Art. 20 As sentenas e os laudos arbitrais a que se referem o artigo anterior tero eficcia extraterritorial nos Estados Partes quando reunirem as seguintes condies: a) que venham revestidos das formalidades externas necessrias para que sejam considerados autnticos nos Estados de origem. b) que estejam, assim como os documentos anexos necessrios, devidamente traduzidos para o idioma oficial do Estado em que se solicita seu reconhecimento e execuo; www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale c) que emanem de um rgo jurisdicional ou arbitral competente, segundo as normas do Estado requerido sobre jurisdio internacional; d) que a parte contra a qual se pretende executar a deciso tenha sido devidamente citada e tenha garantido o exerccio de seu direito de defesa; e) que a deciso tenha fora de coisa julgada e/ou executria no Estado em que foi ditada; f) que claramente no contrariem os princpios de ordem pblica do Estado em que se solicita seu reconhecimento e/ou execuo Os requisitos das alneas (a), (c), (d), (e) e (f) devem estar contidos na cpia autntica da sentena ou do laudo arbitral. A eficcia extraterritorial no se aplica ao reconhecimento e execuo de qualquer sentena ou laudo arbitral. Ela se aplica apenas s sentenas e laudos arbitrais pronunciados nas jurisdies dos Estados partes em matria civil, comercial, trabalhista e administrativa e, ainda, em relao s sentenas em matria de danos e restituio de bens pronunciados em jurisdio penal. O Protocolo de Las Leas tambm reconhece que possvel a eficcia parcial de sentena estrangeira ou laudo arbitral. o que prev o art. 23, segundo o qual Òse uma sentena ou um laudo arbitral no puder ter eficcia em sua totalidade,a autoridade jurisdicional competente do Estado requerido poder admitir sua eficcia parcial mediante pedido da parte interessadaÓ Segundo o art. 19, do Protocolo de Las Leas, Òo reconhecimento e execuo de sentenas e de laudos arbitrais solicitado pelas autoridades jurisdicionais poder tramitar-se por via de cartas rogatrias e transmitir-se por intermdio da Autoridade Central, ou por via diplomtica ou consular, em conformidade com o direito internoÓ. Tambm possvel que a parte interessada tramite diretamente o pedido de reconhecimento ou execuo de sentena, ou seja, invoque em juzo uma sentena ou laudo arbitral de um Estado parte. Dito tudo isso, cabe destacar o entendimento do STF acerca do Protocolo de Las Leas. Para a Corte Suprema, o Protocolo de Las Leas no afetou a exigncia de que qualquer sentena estrangeira seja submetida ao procedimento de homologao. Assim, para o STF, mesmo as sentenas estrangeiras provenientes dos Estados-parte do Protocolo de Las Leas devero ser submetidas homologao pelo STJ. esse o entendimento que prevalece hoje. O Protocolo de Las Leas, na interpretao do STF, teria apenas facilitado os trmites dos procedimentos de reconhecimento de sentenas e laudos arbitrais provenientes www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale dos Estados-parte. Contudo, permanece sendo exigvel a homologao de sentenas e laudos arbitrais, mesmo quando oriundos de Estados-parte do Protocolo de Las Leas. 5 - Informao do Direito Estrangeiro: Em muitos casos, uma autoridade judiciria ter que, em razo das regras de direito internacional privado, aplicar o direito estrangeiro em um caso sob sua apreciao. Ser importante, nessa situao, que a autoridade judiciria tenha maiores informaes sobre o direito estrangeiro. Com o objetivo de facilitar o intercmbio de informaes sobre o direito estrangeiro, o art. 28, do Protocolo de Las Leas estabelece que Òas Autoridades Centrais dos Estados Partes fornecer-se-o mutuamente, a ttulo de cooperao judicial, e desde que no se oponham s disposies de sua ordem pblica, informaes em matria civil, comercial, trabalhista, administrativa e de direito internacional privado, sem despesa algumaÓ. O Estado parte que fornecer as informaes sobre o sentido e alcance legal de seu direito no ser responsvel pela opinio emitida, nem estar obrigado a aplicar seu direito, segundo a resposta fornecida. O Estado Parte que receber as citadas informaes no estar obrigado a aplicar, ou fazer aplicar, o direito estrangeiro segundo o contedo da resposta recebida. 17. (AGU Ð 2012) O Protocolo de Las Leas sobre Cooperao e Assistncia Jurisdicional em Matria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa estabelece, no que se refere ao cumprimento de cartas rogatrias, procedimento uniforme para todos os Estados-partes. Comentrios: No h que se falar em uniformizao de procedimentos para o cumprimento de cartas rogatrias. O Protocolo de Las Leas estabelece que as autoridades encarregadas de dar cumprimento s cartas rogatrias devero aplicar sua lei interna. Questo errada. 18. (Juiz Federal TRF 1a Regio / 2011) Carlos, argentino, residente no Brasil, obteve laudo arbitral proferido pelo Uruguai, condenando www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Mendes, paraguaio residente no Brasil, ao pagamento de R$ 10.000,00. Com relao a essa situao hipottica e considerando os princpios bsicos da cooperao e assistncia jurisdicional que regem o MERCOSUL, organizao internacional com personalidade jurdica prpria e objetivos especficos, bem como o que dispe o Protocolo de Las Leas, documento bsico de cooperao e assistncia jurisdicional entre os pases integrantes do MERCOSUL, assinale a opo correta. a) O litgio em questo deve ser resolvido entre o Uruguai e o Paraguai, no podendo ser trazido para o Brasil. b) Laudo arbitral homologado ttulo no executvel no Brasil, bice que no existiria caso se tratasse de sentena homologada. c) Aps a homologao do referido laudo, Carlos poder cobrar a dvida no Brasil. d) O Protocolo de Las Leas no prev situaes como a descrita na hiptese. e) Sem a devida homologao pelo STF, o citado laudo arbitral no tem valor jurdico no Brasil. Comentrios: Letra A: errada. O litgio pode ser trazido ao Brasil, pois Mendes reside neste pas. Para tanto, ser necessria a homologao do laudo arbitral estrangeiro. Letra B: errada. O laudo arbitral, aps homologado, se torna ttulo executvel no Brasil. Letra C: correta. isso mesmo! Aps a homologao do laudo arbitral, a dvida poder ser cobrada no Brasil. Letra D: errada. O Protocolo de Las Leas trata de situaes como as descritas no enunciado. Letra E: errada. A homologao do laudo arbitral deve ser feita pelo STJ. O gabarito a letra C. 19. (FGV / XXI Exame de Ordem Ð 2016) O Acordo de Cooperao e Assistncia Jurisdicional em Matria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa entre os Estados Partes do Mercosul, a Repblica da Bolvia e a Repblica do Chile, foi promulgado no Brasil por meio do www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Decreto n¼ 6.891/09, tendo por finalidade estabelecer as bases em que a cooperao e a assistncia jurisdicional entre os Estados membros ser realizada. A respeito desse instrumento, assinale a afirmativa correta. a) A indicao das autoridades centrais responsveis pelo recebimento e andamento de pedidos de assistncia jurisdicional realizada pelo Grupo Mercado Comum. b) Os nacionais ou residentes permanentes de outro Estado membro, para que possam se beneficiar do mecanismo de cooperao jurisdicional em determinado Estado membro, devero prestar cauo. c) Os procedimentos para cumprimento de uma carta rogatria recebida sob a guarida do Acordo so determinados pela lei interna do Estado em que a carta dever ser cumprida, no sendo admitida, em qualquer hiptese, a observao de procedimentos diversos solicitados pelo Estado de onde provenha a carta. d) Uma sentena ou um laudo arbitral proveniente de um determinado Estado, cujo reconhecimento e execuo seja solicitado a outro Estado membro, pode ter sua eficcia admitida pela autoridade jurisdicional do Estado requerido apenas parcialmente. Comentrios: Letra A: errada. No o Grupo Mercado Comum que indica as autoridades centrais responsveis pelo recebimento e andamento de pedidos de assistncia jurisdicional. Cabe a cada um dos Estados-parte indicar uma Autoridade Central (art. 2¼). Letra B: errada. Nenhuma cauo pode ser exigida para que um nacional ou residente permanente de um dos Estados-parte se beneficie dos mecanismos de cooperao jurisdicional decorrente do Acordo (art. 4¼). Letra C: errada. A autoridade judiciria que for responsvel pelo cumprimento de uma carta rogatria aplicar os procedimentos previstos em sua lei interna. Entretanto, nos termos do Acordo de Cooperao, a carta rogatria poder ter, mediante pedido da autoridade requerente, tramitao especial, admitindo-se o cumprimento de formalidades adicionais na diligncia da carta rogatria, desde que isso no seja incompatvel com a ordem pblicado Estado requerido (art. 12). Letra D: correta. Caso uma sentena ou laudo arbitral no puder ter eficcia em sua totalidade, a autoridade jurisdicional competente do Estado www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale requerido poder admitir sua eficcia parcial mediante pedido da parte interessada (art. 23). O gabarito a letra D. Prestao de Alimentos no Exterior 1-Introduo: Com o incremento das relaes sociais decorrente da globalizao, cada vez mais comum que as famlias sejam compostas de pessoas de nacionalidades diferentes. Em razo disso, so frequentes os casos em que pessoas ficam a depender de penso alimentcia a ser prestada por algum que vive em outro Estado. A dependncia de prestao transnacional de alimentos uma questo de ordem humanitria, pois coloca aqueles que dela dependem em situao de fragilidade. H, afinal, uma sria de dificuldades legais e prticas que impem obstculos execuo de aes sobre prestao de alimentos ou ao cumprimento de decises relativas ao assunto. Com o objetivo de regular a prestao transnacional de alimentos e reduzir as dificuldades legais e prticas que envolvem o tema, foi celebrada, em 1956, a Conveno de Nova York sobre a Cobrana de Alimentos no Estrangeiro. 2- Conveno de Nova York: A Conveno de Nova York sobre a Cobrana de Alimentos no Estrangeiro prev que cada Estado contratante designe as chamadas ÒAutoridades RemetentesÓ e ÒInstituies IntermediriasÓ. As ÒAutoridades RemetentesÓ so responsveis por enviar os pedidos de alimentos feitos em um Estado ao outro. Por sua vez, as ÒInstituies IntermediriasÓ so aqueles que recebem os pedidos de alimentos feitos em outro Estado. Com isso, tem-se um fluxo bem claro: 1) A parte demandante (aquela que pleiteia a obteno de penso alimentcia) apresenta o pedido Autoridade Remetente de seu Estado. 2) Em seguida, a Autoridade Remetente encaminhar o pedido www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Instituio Intermediria do outro Estado Contratante (Estado do demandado). A Autoridade Remetente transmitir os documentos Instituio Intermediria designada pelo Estado do demandado, a menos que considere que o pedido no foi formulado de boa-f. Antes de transmitir os documentos a Autoridade Remetente certificar-se- de que estes ltimos se encontram, pela lei do Estado do demandante, em boa e devida forma. No Brasil, as funes de ÒAutoridade RemetenteÓ e ÒInstituio IntermediriaÓ so desempenhadas pela Procuradoria-Geral da Repblica. Tambm sero transmitidos pela Autoridade Remetente, a pedido do demandante, qualquer deciso, em matria de alimentos, provisria ou definitiva ou qualquer outro ato judicirio emanado. A Instituio Intermediria, atuando dentro dos limites dos poderes conferidos pelo demandante, tomar, em nome deste, quaisquer medidas apropriadas para assegurar a prestao dos alimentos. Ela poder, igualmente, transigir e, quando necessrio, iniciar e prosseguir uma ao alimentar e fazer executar qualquer sentena, deciso ou outro ato judicirio. Segundo o art. 6¼, ¤ 3¼, da Conveno de Nova York, a lei que reger as aes mencionadas e qualquer questo conexa ser a do Estado do demandado, inclusive em matria de direito internacional privado. Em alguns casos, o tribunal ao qual tiver sido submetida a ao alimentar precisar de documentos e provas. Para obt-los, ser utilizada uma carta rogatria. A carta rogatria dever ser executada com toda a diligncia desejada. Se no houver sido executada dentro de um perodo de 4 (quatro) meses a partir da data do recebimento da carta pela autoridade requerida, a autoridade requerente dever ser informada das razes da no-execuo ou do atraso. Essa uma regra que existe em razo da relevncia da prestao de alimentos para a dignidade da pessoa humana. E pode ser negada a execuo da carta rogatria? Sim, mas a negativa da execuo da carta rogatria medida excepcional. Isso somente ser possvel se: i) a autenticidade do documento no tiver sido provada ou; ii) se a Parte Contratante em cujo territrio a carta rogatria dever ser executada, julgar que esta ltima comprometeria a sua soberania ou a sua segurana. A Conveno de Nova York, como se pode ver, tem como objeto facilitar a uma pessoa que se encontra no territrio de uma das Partes Contratantes a www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale obteno de alimentos aos quais pretende ter direito por parte de outra pessoa, que se encontra sob a jurisdio de outra Parte Contratante (art. 1¼). Nota-se que, para que seja aplicada a Conveno de Nova York, tanto o demandante quanto o demandado devero se encontrar em Estados que dela sejam contratantes. Essa regra revela a aplicao do princpio da reciprocidade, que tambm se materializa no art. 18, da Conveno de Nova York, segundo o qual Òuma Parte Contratante poder invocar as disposies da presente Conveno contra outras Partes Contratantes somente na medida em que ela mesma estiver obrigada pela ConvenoÓ. A Conveno de Nova York tambm regida pelo princpio da complementaridade. Segundo o art. 1¼, ¤ 2¼, Òos meios jurdicos previstos na presente Conveno completaro, sem os substituir, quaisquer outros meios jurdicos existentes em direito interno ou internacionalÓ. 20. (Juiz Federal TRF 1a Regio / 2013) Assinale a opo correta no que se refere Conveno de Nova Iorque sobre a prestao de alimentos no estrangeiro. a) A conveno estabelece a competncia obrigatria da Corte Interamericana de Direitos Humanos para resolver controvrsias sobre sua interpretao e aplicao. b) A invocao de suas disposies por um Estado-parte contra outro Estado- parte somente ser possvel se o estado invocativo estiver obrigado pela conveno. c) A formulao de reservas vedada pela conveno. d) A conveno veda a adeso. e) A conveno no se aplica aos pedidos de modificao das decises judicirias sobre prestao de alimentos. Comentrios: Letra A: errada. A Conveno de Nova Iorque um tratado de abrangncia global (e no regional!). Portanto, uma controvrsia envolvendo sua interpretao e aplicao no ser submetida Corte Interamericana de www.estrategiaconcursos.com.br 35 de 43 DIREITO INTERNACIONAL P/ MAGISTRATURA FEDERAL Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Direitos Humanos. Letra B: correta. Para que seja aplicada a Conveno de Nova York, tanto o demandante quanto o demandado devero se encontrar em Estados que dela sejam contratantes. Letra C: errada. Podem ser apostas reservas Conveno de Nova Iorque. Letra D: errada. A Conveno de Nova Iorque aberta adeso. Letra E: errada. A Conveno de Nova Iorque tambm se aplica aos pedidos de modificao das decises judicirias sobre prestao de alimentos. O gabarito a letra B. 21. (Juiz Federal TRF 1a Regio / 2011) Lucy e Fbio casaram-se no Brasil, onde nasceu Lucas, filho do casal. Quando Lucy e Fbio se separaram, ela e Lucas foram morar nos EUA. Passado um tempo aps a separao, Fbio suspendeu
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