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Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais: A quantificação das penas e os novos instrumentos de análise do direito penal

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Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
 
 
40 
 
 
Revista da AMDE – ANO: 2014 – VOL. 12 
 
 
Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
A quantificação das penas e os novos instrumentos de 
análise do direito penal 
 
 Carolina Assis Castilholi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
Em muitos casos é impossível remediar o mal cometido, mas 
sempre se pode tirar a vontade de fazer mal, porque por maior que seja o 
proveito de um delito sempre pode ser maior o mal da pena. 
Levantamento realizado pelo Conselho Nacional de Justiça apresentou que, em 
2012, os tribunais brasileiros julgaram 1637 processos por corrupção, lavagem de 
dinheiro e improbidade administrativa. Casos recentes tiveram grande repercussão, 
O trabalho examina os crimes empresariais à luz da Análise Econômica do Direito (Direito e 
Economia). Utiliza-se investigação doutrinária e levantamento jurisprudencial pelo método 
hipotético-dedutivo, bem como análise da perspectiva da Common Law e das teorias econômicas por 
meio do método comparativo. Examinando as teorias da dissuasão e da escolha racional, analisa o 
agente criminoso enquanto sujeito que responde racionalmente a incentivos. Demonstra-se que, 
visto que há indícios de que o criminoso nestes crimes é influenciado por fatores racionais, a Análise 
Econômica do Direito pode traçar ferramentas mais eficazes em sua prevenção e compensação. 
Palavras-chave: Crimes Empresariais. Análise Econômica do Direito. Política Criminal. 
Resumo 
This paper examines corporate crimes under the perspective of Economic Analysis of Law (Law and 
Economics). It uses doctrinal and jurisprudential investigation by the hypothetical-deductive method, 
as well as it examines the perspective of Common Law and the economic theories by comparative 
method. Examining how deterrence and rational choice theories analyze the criminal agent as 
someone who answers to rational incentives. The study shows that, once there’s evidence of the 
rational response of the offender, Economic Analysis of Law can trace tools more effective in 
prevention and compensation of such crimes. 
Keywords: Corporate Crimes. Law and Economics. Criminal Policy. 
Abstract 
Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
 
 
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chamando novamente a atenção para o tema, como a série de investigações sobre o 
crime conhecido como formação de pirâmide financeira , do qual foram acusadas as 
empresas BBom e Telex Free. Além destas, 11 outras empresas foram acusadas em uma 
ação parte de uma força-tarefa de membros do Ministério Público de diversos estados 
brasileiros para desmembrar esse tipo de atividade ilegal, entre eles Goiás, Espírito 
Santo, Acre, Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco. 
Um dos primeiros casos de destaque com relação à criminalidade com caráter 
econômico no mundo aconteceu no início da década de 60, com a conspiração para 
fixação das tarifas de energia elétrica nos Estados Unidos. O prejuízo foi da ordem de 2 
bilhões de dólares, montante que supera a soma dos prejuízos relativos a todos os furtos 
ocorridos no país durante anos. Segundo Ivancevich, em 2001 os prejuízos estimados 
diretos e indiretos causados pelos denominados crimes de colarinho branco anualmente 
supera os dos crimes comuns (assaltos, agressão, roubos) numa proporção entre 17 a 32 
vezes para 1. 
Especialistas afirmam que um dos maiores danos dos crimes “de colarinho 
branco” é o efeito gerado na população brasileira pela ideia de reforço à impunidade. 
Em um cenário em que 70% dos mandados de prisão emitidos entre 2011 e o início de 
2013 no Brasil não foram cumpridos, uma das grandes questões levantadas é se o 
Ordenamento Brasileiro está preparado para lidar com este tipo de crimes. Não se trata 
de simplesmente enrijecer a punição, mas de encontrar o equilíbrio adequado, a pena 
que seja capaz de preveni-los à medida que confira uma punição proporcional à sua 
gravidade. Na realidade, muitas das vezes as penas aplicadas atualmente não são 
capazes de evitar a ocorrência de tais crimes, ainda que sejam cometidos sem a 
influência de aspectos emocionais. O que agrava ainda mais a situação é o fato de que, 
cada vez que um crime de colarinho branco é cometido, o prejuízo para a parte lesada 
(que em grande parte dos casos é a coletividade) é milionário. De acordo com Roberto 
Testa no Relatório Anual da Norton-Symantec, apenas os crimes eletrônicos geraram 
perdas de 117,4 bilhões de dólares no mundo todo, nos últimos doze meses . 
Fato é que, não raras vezes, o legislador ou mesmo o aplicador do Direito toma 
decisões sem levar em consideração o impacto que aquela lei ou decisão poderá 
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provocar nos indivíduos a que sua tutela diz respeito, quanto menos os efeitos indiretos 
que a nova medida pode provocar no grupo ou na sociedade como um todo. Ainda que a 
intenção legislativa seja a da proteção, o objetivo pode não ser atingido, e ainda gerar 
um efeito contrário, trazendo danos justamente a quem buscava proteger. Um caso 
apreciado recentemente pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul reacendeu tal 
discussão. O Tribunal, considerando preponderante o princípio da dignidade da pessoa 
humana e o direito constitucional à moradia, decidiu que locatários inadimplentes com 
idade superior a sessenta e cinco anos não poderiam ser despejados. No entanto, a 
consequência que adveio de tal decisão foi que os proprietários de imóveis não mais 
aceitavam celebrar contratos de locação com idosos, temendo a inadimplência impune 
dos mesmos. A chamada “realocação de recursos no mercado” se deu de forma a 
desprivilegiar os idosos perfeitamente adimplentes, que agora encontram dificuldades 
para celebrar contratos de locação em seu próprio nome. 
Neste contexto, surge a Análise Econômica do Direito, considerada um dos 
movimentos mais relevantes na literatura jurídica do século passado. Ela consiste num 
conjunto teórico baseado na aplicação de teorias e ferramentas econômicas, 
especialmente aquelas da Microeconomia, às instituições jurídicas e ao sistema jurídico 
como um todo. As primeiras teorias do Direito com embasamento em conhecimentos da 
economia são atribuídas a Beccaria, um dos mais tradicionais e importantes 
doutrinadores do direito penal. No entanto, o segmento, difundido nos Estados Unidos 
como “Law and Economics”, tomou forma graças aos estudos de Ronald H. Coase, com 
destaque para sua obra “The Problem of Social Cost”, lançada em 1960, bem como dos 
estudos de Guido Calabresi, com sua obra “Some Thoughts on Risk Distribution and the 
Law of Torts”. 
Ao contrário do que afirmam críticas apressadas, o escopo da Análise 
Econômica do Direito não é defender o não-intervencionismo do sistema jurídico no 
sistema econômico pura e simplesmente. Uma de suas correntes mais respeitadas, que 
será adotada neste trabalho, é a que entende a disciplina como uma ferramenta para a 
tomada de decisões jurídicas (sejam a elaboração de leis ou a interpretação e aplicação 
das mesmas), usando conceitos e ferramentas da economia para prever as consequências 
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de tais normas. Identificar, assim, possíveis efeitos dos atos jurídicos em questão sobre 
o comportamento dos atores sociais, retirando as consequências de um plano secundário 
e trazendo-as para o centro das discussões, a fim de se aproximar do assim chamado 
“ideal de justiça”. A relação entre o método jurídico e o método jus-econômico deve ser 
de complementariedade e não de substituição ou oposição. 
 O constante crescimento da identificação de casos de crimes empresariais, 
bem como das vultosas somas que compreendem os danos por elesprovocados, 
evidenciam o despreparo dos operadores do direito para lidar com tal sorte de crimes. A 
tipificação sobre o assunto está dispersa no ordenamento e a doutrina é parca, 
acarretando a falta de uniformidade no tratamento jurispridencial. Deste modo, as 
punições que são aplicadas mostram-se desproporcionais aos crimes cometidos e, na 
maioria das vezes, ineficazes para sua prevenção. O presente estudo se propõe a, a partir 
da emblemática obra de Beccaria “Dos Delitos e das Penas”, desenvolver uma análise 
da legislação vigente, das tendências sociais e jurisprudenciais no Brasil e nos sistemas 
pautados pela Common Law, bem como dos estudos econômicos que permeiam o tema, 
a fim de constatar se a Análise Econômica do Direito pode ser uma ferramenta para 
traçar punições mais adequadas para os referidos crimes, com vistas a alcançar a eficácia 
em sua prevenção. 
2. OS CRIMES EMPRESARIAIS NO ORDENAMENTO E NA 
JURISPRUDÊNCIA BRASILEIROS 
Os maiores crimes de hoje implicam mais manchas de tinta do que 
de sangue. 
A disciplina dos crimes empresariais ainda é inconsistente no Direito 
Brasileiro. A legislação pertinente se encontra dispersa em uma série de diplomas e os 
tribunais brasileiros dispensam um tratamento heterogêneo ao tema. O ponto que mais 
se aproxima de um consenso na doutrina é a busca de um perfil do criminoso neste 
segmento: na maioria dos casos de white collar crimes, o agente ostenta respeitada 
posição socioeconômica, pratica o delito sem qualquer ato de violência e sua finalidade 
é um substancial ganho financeiro. De fato, o criador da terminologia white collar 
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crimes, Edwin H. Sutherland, quando publicou o conceito em 1949 também se baseou 
no perfil do criminoso: “É uma ofensa cometida por uma pessoa de respeitabilidade e 
alto status social no curso de sua ocupação”. Os crimes empresariais são considerados 
um segmento específico dos crimes de colarinho branco, em que, além das 
características mencionadas, uma estrutura empresarial é intrínseca ao cometimento do 
delito. 
Ao estudar o tema é importante, em primeiro lugar, diferenciar os seguintes 
conceitos: criminalidade na empresa, criminalidade de empresa (criminalidade 
empresarial) e empresa ilícita. A chamada “criminalidade na empresa” nada mais é do 
que o cometimento de crimes comuns por colaboradores contra a própria empresa ou 
terceiros, não sendo o objeto específico deste trabalho. Por sua vez, a “criminalidade de 
empresa” abrange a “inserção de condutas ilícitas no contexto de uma atividade e de 
uma política da empresa no restante lícita”, crimes “que se cometem através de uma 
atuação que se desenvolve no interesse de uma empresa”. Bernd Schünemann 
conceituou criminalidade de empresa com base em sua definição de delitos econômicos, 
qual seja “todas as ações puníveis que se cometem no âmbito de participação na vida 
econômica ou em estreita conexão com ela”. A criminalidade de empresa 
(Unternehmenskriminalität) seria, assim, a “soma dos delitos econômicos que se 
cometem a partir de uma empresa”, ou seja, “por meio da atuação para uma empresa”. A 
empresa ilícita, por fim, é entendida como aquela “heterodirigida por uma estrutura 
criminal e a ela submetida” , com “clara característica de organização criminal, ou seja, 
aquela em que a obtenção de lucro se faz por meios ilícitos (crimes)” . 
Cada uma das situações enquadradas nos conceitos supracitados recebe um 
tratamento do Direito Penal. O que se tem visto com frequência, contudo, é a confusão 
da criminalidade de empresa com a empresa ilícita, implicando a punição inadequada, 
bem como a subsunção automática no crime de quadrilha ou bando sempre que sejam 
denunciados mais de três colaboradores da empresa responsáveis pelas irregularidades, 
o que na verdade não atende à interpretação teleológica do tipo. 
 
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2.1 Contexto histórico 
Embora crimes relativos ao sistema econômico sejam cometidos desde o início 
das relações econômicas, é perceptível que se desenvolveram simultaneamente à 
consolidação da indústria moderna, sendo denominados criminalidade de segunda 
geração. O processo de criminalização dessas condutas surgiu com o aumento da 
prerrogativa intervencionista do Estado, depois da crise de 1929. 
O Direito Penal Econômico é, por natureza, conjuntural e pontual. Assim é que 
a situação de conjuntura em que se desenvolvem os negócios... guerra, depressão 
econômica, etc, podem fortalecer os estímulos sociais relativos à tendência para 
descrever novos delitos. 
No Ordenamento Brasileiro, a primeira legislação que demonstrou influência 
desta tendência internacional, abordando aspectos de criminalidade econômica foi o 
Decreto-lei nº 22.626 de 7 de abril de 1933, conhecida como Lei da Usura. Editada por 
influência dos significativos prejuízos à circulação de crédito decorrentes da crise de 29, 
ela tinha como objetivo reestabelecer sua normalidade, e criminalizava condutas que 
ocultassem cobranças de juros acima do limite legal. Pouco tempo depois, em 4 de abril 
de 1935, foi promulgada a Lei de Segurança Nacional, apelidada pela oposição ao 
regime do presidente Getúlio Vargas de “Lei Monstro”, que tipificava os crimes contra a 
ordem política e social. Esses diplomas se destacaram, sobretudo, por tipificar práticas 
que tinham como vítima a coletividade. 
Em 1941, a participação do Brasil no 2° Congresso Latino-Americano de 
Criminologia em Santiago, no Chile, foi determinante para o tratamento da 
criminalidade econômica no ordenamento pátrio. Apoiando a posição de Eusébio 
Gomes, assim dispôs o voto brasileiro: 
1) devem ser considerados crimes os atentados à economia; 2) 
Devem ser punidos como crimes econômicos de tal natureza, entre outros: a) 
os fatos tendentes a produzir a alteração artificial dos preços dos artigos de 
primeira necessidade; b) a destruição voluntária de riquezas que cause danos 
sociais; c) a não-exploração de meios de produzir riquezas no mesmo caso; d) 
a usura, os atos das maiorias nas sociedades por ações e outros tendentes a 
produzir o lucro pessoal dos indivíduos que as componham em detrimento do 
interesse do grupo societário; 3) Os delitos econômicos devem ser reprimidos 
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independentemente do resultado pretendido por seus autores; 4) é 
conveniente que os governos tenham especial cuidado técnico na redação das 
leis referentes aos delitos econômicos e, particularmente, nas que afetem a 
“trusts” e monopólios. 
 O fim do ano de 1951 trouxe importantes contribuições em termos de 
produção legislativa relacionada ao direito penal econômico. Em 26 de dezembro 
daquele ano, foi promulgada a lei que disciplinava os crimes contra a economia popular. 
Foi um dos diplomas mais importantes em tal campo de estudos, com a criminalização 
da gestão temerária de instituição financeira, da prática de dumpinge da pirâmide 
financeira, entre diversos outros. Além disso, é considerado um dos primeiros diplomas 
a proteger criminalmente os direitos e interesses metaindividuais. Vários de seus tipos 
penais foram revogados por leis posteriores; no entanto, alguns deles permanecem 
vigentes até os dias de hoje, apesar de pouco efetivos, uma vez que a maioria dos 
agentes públicos responsáveis pela persecução dessas infrações raramente se utilizam da 
referida lei. 
Passados quinze anos, começaram as alterações para que a lei dos crimes 
contra a economia popular se adaptasse à evolução social ocorrida nesse intervalo, 
quando o então presidente General Humberto Castello Branco emitiu ao Congresso o 
projeto de lei 4.595 de 31 de dezembro de 1964, criando o ConselhoMonetário 
Nacional e reorganizando as instituições monetárias, bancárias e creditícias no Brasil. 
Sucessivamente,em 14 de julho de 1965 foi sancionada a Lei 4.728, que disciplina o 
mercado de capitais e estabelece medidas para o seu desenvolvimento. Seu principal 
ponto de destaque é a determinação, no artigo 4°, §2º de que se o Banco Central tomar 
conhecimento de tais crimes, de ação pública, oficiará o Ministério Público para que 
instaure o inquérito. A medida buscava aumentar a efetividade na persecução das 
referidas infrações. 
 Alguns anos mais tarde, apresenta-se um marco no estudo da criminalidade 
econômica, quando, em 16 de junho de 1986, foi promulgada a Lei 7.492, que dispôs 
sobre os Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional. Sob influência das novas 
legislações italianas e americanas (primeiros países a disciplinar a lavagem de capitais), 
a referida lei substituiu quase completamente as disposições da Lei 4.595/64, e trouxe, 
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pela primeira vez no Ordenamento Brasileiro, a alcunha “crimes do colarinho-branco”. 
Sua elaboração foi motivada pelas lacunas da Lei 6.024, de 13 de março de 1974, com 
relação especialmente ao regime de liquidação extrajudicial de instituições financeiras, 
uma vez que esta não responsabilizava penalmente os administradores dessas 
instituições, que a partir deste momento passaram a contar com a possibilidade de ter 
seu patrimônio penhorado e seus bens divididos entre os credores de suas dívidas. 
Segundo Castilho, a Lei veio em repercussão de escândalos nacionais envolvendo o 
“Grupo Sulbrasileiro”, o “Grupo Habitasul”, entre outros . A referida lei recebeu muitas 
críticas da doutrina por suas lacunas e falhas; críticos diziam que ela havia sido redigida 
por economistas, e não juristas, e que o então presidente havia a sancionado sabendo 
que a revogaria em breve. Mas mesmo tendo surgido com o propósito de ser 
“provisória”, acabou por se tornar definitiva. 
 Em 27 de dezembro de 1990, foi promulgada a Lei 8.137, que dispõe sobre 
os Crimes contra a Ordem Econômica, Financeira e Tributária; embora a primeira lei 
que tratava sobre os crimes de sonegação datasse de 14 de julho de 1965 (Lei 4.279), 
aquela é a que atualmente disciplina, em sua maior parte, tais crimes. Algumas 
alterações legislativas posteriores transferiram os tipos da referida lei para o Código 
Penal (artigos 168-A §1º, I e 337-A, este introduzido pela Lei 9.983, de 14 de julho de 
2000, com o estabelecimento do crime de sonegação de contribuição previdenciária), no 
intuito sistematizador de retirar a legislação sobre crimes econômicos de sua disciplina 
esparsa pela legislação extravagante e concentrá-la no Código. Tal esforço ainda 
encontra defensores e tentativas até os dias atuais, com alguns progressos, embora ainda 
distantes de alcançar tal situação ideal. 
Por fim, cabe destacar que, fruto das pressões internacionais para o 
endurecimento da persecução ao crime organizado e branqueamento de capitais, o Brasil 
promulgou a Lei 9.613,de 3 de março de 1998. Ela dispõe sobre os crimes de lavagem 
de dinheiro e ocultação de bens, direitos e valores, e foi alterada em 2012 pela lei 
12.683, cujo projeto foi sancionado sem vetos pela presidente Dilma Houssef. A 
modificação mais determinante certamente foi a de não mais se vincular o crime de 
lavagem de dinheiro a capitais provenientes de um rol específico de crimes 
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precedentes,ampliando-se assim a gama de condutas puníveis. Além disso, chama a 
atenção a elevação do teto da multa aplicável (cumulada com a possível privação da 
liberdade) a R$200.000.000,00, consideravelmente superior ao valor anteriormente 
disposto. 
2.2. Do bem jurídico tutelado nos crimes empresariais 
A grande questão que distingue os crimes econômicos dos delitos contra o 
patrimônio comuns é que aqueles, apesar do mesmo intento de ganho patrimonial, 
atingem toda a sociedade. Desta forma, apesar das grandes discussões desde a metade 
do século passado, a maioria da doutrina penal entende que o bem jurídico tutelado na 
proteção a esses crimes é a ordem econômica supraindividual. 
Pode-se diferenciar os crimes econômicos e os patrimoniais tradicionais, como 
o furto e o roubo, pelo fato de que aqueles ofendem interesses coletivos ou difusos, ou 
seja, os bens jurídicos são supra-individuais, apesar de em alguns casos afetarem 
também bens de natureza patrimonial individual. Assim, o sujeito passivo dessas 
infrações será, em primeiro lugar e na maioria dos casos, a coletividade. Em segundo 
lugar, os titulares de bens ou interesses ofendidos ou colocados em perigo pela conduta 
no caso concreto. 
É importante ressaltar que o potencial lesivo de tais crimes, apesar de 
demandar justamente uma punição adequada à sua realidade, não autoriza o Estado a 
ignorar as garantias jurídicas e puni-los desarrazoadamente, como tem acontecido com 
frequência no país. Cada vez mais, são editadas leis contendo tipos penais abertos, como 
o de gestão temerária, previsto no artigo 4º, parágrafo único, da Lei nº 7.492 de 1986. 
Tal equívoco é cometido sob o pretexto de permitir a punibilidade efetiva a uma matiz 
mais ampla de situações em virtude da constante evolução das relações econômicas. 
Desta forma, no entanto, ferem-se garantias fundamentais, bem como sustentáculos do 
Direito Penal, como o princípio da legalidade. 
2.3. Dos tipos enquadrados no conceito de crimes empresariais 
Não obstante haja ainda divergências e o rol abaixo não seja taxativo, 
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atualmente os crimes considerados empresariais de forma mais pacífica pela doutrina 
são os seguintes:contra a Fazenda Pública - tributários ou fiscais, entre os quais deve ser 
incluído o de apropriação indébita das contribuições previdenciárias (Lei 
8.137/90);contra as relações trabalhistas;contra as relações de consumo (Lei 
8.137/90);contra o meio ambiente (Lei 9.605/98);contra a ordem econômica (Lei 
8.984/94);contra o sistema financeiro (Lei 7.492/86);falimentares (Lei 11.101/05);contra 
a propriedade industrial (Lei 9.279/96);societários . 
É relevante destacar que o conceito de crime econômico é mais abrangente do 
que o de crime empresarial (sendo o Direito Penal Empresarial considerado um sub-
ramo do Direito Penal Econômico). O crime econômico compreende todos os chamados 
crimes de colarinho branco (white collar crimes), assim considerados, além dos crimes 
empresariais, a criminalidade dos altos funcionários, delitos políticos e a criminalidade 
dos profissionais altamente especializados (occupational crimes) . Tais modalidades 
criminosas, embora possam estar associadas aos crimes empresariais em algumas 
situações, não são imperativamente próprias da atividade empresarial, bem como não 
necessitam da estrutura empresarial para seu cometimento. 
2.4. Responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes empresariais 
Outra questão de extrema importância no âmbito da criminalidade empresarial 
é a da responsabilidade penal da empresa, tão amplamente discutida, com relação aos 
crimes contra o meio ambiente, desde a edição da lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 
(a chamada “Lei de Crimes Ambientais”) . A constituição, em seu artigo 225, §3º já 
previa, embora brevemente, tal hipótese, mas foi apenas com a edição da referida lei que 
tal possibilidade ganhou aplicabilidade. Desde então, iniciou-se na doutrina um boom de 
discussões e manifestações a respeito do tema, com sérias críticas à possibilidade de 
atribuir culpabilidade a um ente com status de ficção jurídica . Apesar do brocardo 
latino societas delinquere non potest, adotado pelo Direito brasileirocomo princípio, e 
da crítica de grande parte dos penalistas, a responsabilização foi gradativamente se 
consolidando na jurisprudência. No entanto, além de a lei de crimes ambientais, ao 
prever a punibilidade penal da empresa, não ter trazido nenhuma norma processual ou 
procedimental específica sobre a questão , uma lacuna que restou foi a da 
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responsabilização da empresa com relação a crimes contra outros bens jurídicos. 
O próprio STJ passou a reconhecer a possibilidade de responsabilização penal 
da empresa aos crimes contra a ordem econômica, tributária e contra a economia 
popular. A comissão que elabora o anteprojeto do novo Código Penal aprovou no dia 11 
de maio de 2012 proposta que cria a responsabilização. A possibilidade, embora já 
fosse mencionada na Constituição, não era identificada pela doutrina como 
consistentemente embasada no ordenamento. Somente assim seria então possível evitar 
que, ao punir determinados membros da organização, a atividade ilícita fosse capaz de 
continuar por meio dos demais colaboradores. 
As penas prevêem multa, restrição de direitos, prestação de serviços à 
comunidade e perda de bens e valores. Entre as penas restritivas de direito, estão 
previstas a suspensão parcial ou total de atividades; a interdição temporária de 
estabelecimento, obra ou atividade; a proibição de contratar com o poder público e de 
obter subsídios, subvenções ou doações, bem como de contratar com instituições 
financeiras oficiais . Outra inovação aprovada é a possibilidade de responsabilizar a 
pessoa jurídica independentemente da responsabilização das pessoas físicas – o que a 
jurisprudência atual não reconhece. A produção doutrinária, no entanto, ainda é parca, 
não acompanhando tal tendência e sua necessidade de tutela. 
2.5. Tendências jurisprudenciais quanto aos crimes empresariais 
Com relação à criminalidade empresarial, a jurisprudência se comporta de 
forma heterogênea; observam-se, no entanto, algumas tendências. Inegavelmente uma 
das que desperta maior atenção para tais crimes é a aplicação do princípio da 
insignificância (ou princípio da bagatela), com o questionamento de qual seria um limite 
razoável para a aplicação deste princípio, considerando o vulto das quantias 
movimentadas em tais casos. Entendimentos chegam a valores que ultrapassam 10 mil 
reais, o que seria inadmissível em crimes “comuns”, como se pode constatar nesta 
decisão do Supremo Tribunal Federal: 
A Suprema Corte, identicamente, entendendo descaminho de até R$10 mil de 
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tributos suprimidos (v.g., imposto de importação, sobre produtos industrializados) - 
implicando dizer valor das mercadorias de até R$ 20 mil - é insignificante.(HC 
924434/PR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, 19.08.08, 2ª Turma, Inf. do STF nº 516). 
Há, entretanto, aspectos em que a fragmentariedade do entendimento 
jurisprudencial no assunto se mostra evidente. Em inúmeras sentenças, acusados são 
condenados por serem sócios ou parte do corpo diretor da empresa, independente de 
comprovação real de participação no delito. Um caso recente julgado pela Vara da 
Justiça Estadual de Ribeirão Preto chamou atenção pela condenação de dois sócios de 
uma pequena empresa a 5 anos de reclusão em virtude do creditamento indevido de 
ICMS por meio de notas fiscais de empresas inexistentes, muito embora não se tenha 
provado qual dos sócios havia de fato lançado as referidas notas no livro da empresa.O 
Superior Tribunal Federal, no entanto, já havia se manifestado contrariamente a essa 
interpretação, como se observa a seguir: 
A circunstância objetiva de alguém meramente ostentar a condição de sócio de 
uma empresa não se revela suficiente para autorizar qualquer presunção de culpa e, 
menos ainda, para justificar, como efeito derivado dessa particular qualificação formal, 
a decretação de uma condenação penal.(STF, Rel. Min. Celso de Mello, HC nº 73.590-
SP, 06.08.96, RTJ 163/268) 
Também o Superior Tribunal de Justiça, mais recentemente, já havia se 
manifestado nesse sentido: 
EMPRESA FAMILIAR. CRIME CONTRA ORDEM 
TRIBUTÁRIA. DENÚNCIA GENÉRICA. Mesmo na empresa familiar, é 
necessário que a denúncia individualize a conduta de cada sócio, a fim de 
possibilitar que o denunciado defenda-se. Assim, não havendo a nomeação do 
autor de cada ato executivo isoladamente, a denúncia é inepta. Daí, a Turma 
concedeu a ordem de habeas corpus. (STJ, 6ª Turma, Rel.Min. Nilson Naves, 
HC 76.611, 06.03.08, Inf. do STJ nº 347). 
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. APROPRIAÇÃO 
INDÉBITA. ANULAÇÃO. AÇÃO PENAL.Cuida a questão de saber a 
possibilidade de se instaurar ação penal em desfavor de administradores de 
pessoas jurídicas inadimplentes perante o Fisco Previdenciário pelo simples 
fato de serem os denunciados detentores de poderes de gestão administrativa. 
A jurisprudência deste Superior Tribunal e do STF entende que, nos crimes 
praticados no âmbito das sociedades, a detenção de poderes de gestão e 
Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
 
 
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administração não é suficiente para a instauração da ação penal, devendo a 
denúncia descrever conduta da qual possa resultar a prática do delito. 
Esclareceu a Min. Relatora que, em nosso ordenamento jurídico, não é 
admitida a responsabilidade penal objetiva; para haver a procedência da 
inicial acusatória deve ficar demonstrado o nexo causal entre a conduta 
imputada ao denunciado e o tipo penal apresentado. Está-se exigindo apenas 
que se exponha, na inicial acusatória, qual a conduta perpetrada pelo 
denunciado que culminou efetivamente no delito, porque o simples fato de 
deter poderes de gestão não tem capacidade (nexo de causalidade) lógica de 
se concluir pela prática do delito em questão (art. 168-A do CP), que 
prescinde de uma ação específica a ser demonstrada na denúncia. Assim, a 
Turma, ao prosseguir o julgamento,concedeu a ordem para determinar a 
anulação da ação penal instaurada contra os pacientes sem prejuízo de 
eventual oferecimento de nova denúncia. (HC 53.305-SP, Rel. Min. Maria 
Thereza de Assis Moura,julgado em 24/5/2007.) 
 No âmbito dos tribunais regionais, algumas súmulas foram editadas. 
Destaca-se o Tribunal Regional Federal da 4ª região pela edição de súmulas relativas ao 
crime de omissão de recolhimento de contribuições previdenciárias. O mesmo tribunal, 
no entanto, se manifestou de forma contrária ao entendimento supramencionado dos 
tribunais superiores: 
A autoria do delito de sonegação fiscal pode ser comprovada pelo 
contrato social e respectivas alterações, nos quais resta demonstrado quem 
exercia a gerência da empresa no período denunciado. A responsabilidade 
penal dos administradores ou sócios-gerentes está consubstanciada tanto na 
prática do fato delituoso como na permissão de sua ocorrência, quando 
presente a obrigação e a possibilidade concreta de evitar o ilícito. (Rel. Des. 
Federal Maria de Fátima Freitas Labarrére, Apel. Crim.2002.04.01.052320-
8/PR, 26.08.03 - DJU2, 17.09.03, p 977 - Informativo Criminal do TRF/4ª 
out/2003). 
 A verdade é que o próprio STJ se manifestou também contrariando o 
entendimento: 
Em tema de crime de sonegação de tributos, a responsabilidade, 
em tese, é dos dirigentes da empresa, não se exigindo na peça acusatória 
inicial a precisa individualização da conduta dos agentes, remetendo-se para a 
instrução criminal a apuração completa da culpa, o que não acarreta ofensa 
aos princípios do contraditório e da ampla defesa.(STJ, HC 7.846/PE, Rel. 
Min. Vicente Leal, DJU 22.03.99). 
O exposto demonstra a falta de uniformidade na jurispudência quanto a um 
aspecto central da criminalidade empresarial, comprometendo a segurançajurídica 
exigida pelo direito penal enquanto ultima ratio. Outra tendência que, equivocada, se 
observa é a aplicação do conceito indeterminado de crime organizado (qualquer um cuja 
Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
 
 
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pena ultrapasse 4 anos de privação de liberdade como pena máxima em abstrato, 
mediante formação quadrilha), com a consequente derrogação da competência. 
O que se constata, na realidade, é que ao contrário da criminalidade “comum”, 
em que os casos se esgotam na segunda instância, quando se trata de criminalidade 
empresarial os tribunais superiores assumem verdadeiro papel de jurisdição originária, 
com o exame do mérito especialmente em virtude da deturpação da aplicação do habeas 
corpus. Não faltam casos de repercussão para exemplificar o constatado, como o caso 
Daslu e o caso do banqueiro Daniel Dantas . 
3. MÍDIA, PERSECUÇÃO CRIMINAL E A INFLUÊNCIA NA DOSIMETRIA 
DAS PENAS 
Em setembro de 2009, a Folha de São Paulo, reproduzindo uma imagem 
divulgada na imprensa americana, publicou uma fotografia de Allen Stanford, bilionário 
americano condenado por delito econômico, vestido com o tradicional macacão laranja 
de presidiário, sendo conduzido algemando ao Tribunal de Houston, no estado do 
Texas. O prejuízo estimado causado a investidores americanos pelos crimes cometidos 
por Allen girava em torno de US$ 7 bilhões. A imagem retratava a chamada “perp 
walk” (perpetrator walk, que em português equivaleria a “caminhada do acusado”). 
Quando se trata de um criminoso white collar, os americanos costumam usar a 
expressão “corporate perp walk”; a cena da rápida aparição de um executivo preso antes 
de sua apresentação em juízo torna-se uma espécie de show para o deleite de fotógrafos, 
cinegrafistas e curiosos. 
A opinião pública, em tais casos, é diretamente influenciada pela mídia. Julian 
V. Roberts e Loretta J. Stalans destacaram o fenômeno nos Estados Unidos: 
Embora haja muitas potenciais fontes de informação relacionadas à 
justiça criminal, a vasta maioria do público cita os meios de comunicação 
como sua fonte primária ou exclusiva. A cobertura de justiça criminal da 
mídia é altamente seletiva, episódica e focada em um número limitado de 
ofensas. A superestimativa públicasobre a proporção dos crimes violentos 
pode ser diretamente ligada à superrepresentação do crime violento, 
particularmente do homicídio, nas notícias de jornal. Ao enfatizar o crime 
violento e as sentenças lenientes, a mídia encoraja o público a subscrever um 
falso silogismo envolvendo crime e punição. Na mentalidade pública, as taxas 
Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
 
 
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de criminalidade estão em constante crescimento e o sistema é sempre 
excessivamente leniente. A solução pro crescimento da criminalidade deve 
passar por políticas de controle da criminalidade mais punitivas. Finalmente, 
a confusão pública com relação ao sistema de justiça criminal não pode ser 
inteiramente explicada pela idiossincrática cobertura da mídia. 
E assim como a opinião pública é influenciada pela mídia, ela influencia a 
edição de políticas legislativas enrigecedoras da persecução criminal, como aconteceu 
com a política dos Three-Strikes nos Estados Unidos. Ainda segundo os mesmos 
autores: 
Leis específicas como a Lei dos “three-strikes”, que determina 
longos períodos de aprisionamento para criminosos condenados 
criminalmente pela terceira vez,foram aprovadas em grande medida em nome 
do crescimento da preocupação pública a respeito de criminosos violentos 
reincidentes. 
O fenômeno também é observado com frequência no Brasil. A edição da “Lei 
de Crimes Hediondos” foi um exemplo dele. Tal influência determina diretamente a 
noção de gravidade que a população imputa ao crime: 
Conforme o clássico estudo de Sellin e Wolfgang em 1964, 
pesquisas tem repetidamente descoberto que crimes violentos são percebidos 
como mais sérios do que crimes contra a propriedade, os quais, por sua vez, 
são julgados como mais graves do que crimes de colarinho branco, crimes 
contra a ordem pública e crimes “sem vítimas”. Ao mesmo tempo, algumas 
mudanças interessantes emergiram dessas comparações históricas. Enquanto 
estupro era visto como o crime mais sério nos anos 1920, na década de 1960 
homicídio era visto como mais grave que estupro. Desde então, estudos 
geralmente constatam que homicídio é considerado o crime mais grave. Nos 
Estados Unidos (e em outros países) o público se tornou mais consciente da 
verdadeira natureza dos crimes de colarinho branco,levando a mudanças de 
percepção sobre a gravidade desses crimes. 
A mesma pesquisa revelou outro ponto interessante: a diferença da gravidade 
atribuída a cada crime por civis ou policiais. Embora concordem com relação a 
gravidade de alguns crimes, crimes como os de colarinho branco e fraude são vistos 
pelos policiais, mais influenciados pela rotina de trabalho do que pela mídia, como 
menos graves do que os chamados street crimes, ao contrário da população civil, que 
sopesa a gravidade destes. 
Wheeler, em conjunto com outros pesquisadores , estudou o tema na década de 
1980 nos Estados Unidos. O que despertou mais a atenção dos estudiosos foi a relação 
Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
 
 
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diretamente proporcional entre o poder aquisitivo (ou o status social) e a severidade das 
penas aplicadas nesses casos. Com isso, desconstruiu-se a expectativa de que a 
influência decorrente do status social destes criminosos abrandaria a pena que seria 
cominada. Shapiro complementou as pesquisas ao concluir que tais resultados eram 
observados porque os casos de repercussão decorrente da posição social do acusado 
chegaram ao julgamento criminal (com maiores condenações), em virtude de fatores 
como uma maior divulgação pela imprensa, enquanto criminosos de menor poder 
aquisitivo eram, muitas das vezes, julgados apenas nas esferas civil e administrativa. É 
relevante destacar que a condenação criminal é uma consequência jurídica de um ato 
ilícito, mas acima disso, traz consigo um juízo coletivo de desvalor ético-social que 
transcende o campo da mera sanção. 
A Lei de Execução Penal brasileira , em seu artigo 41, inciso VIII, garante 
como um direito do preso a proteção ao sensacionalismo. Infelizmente, não é o que se 
observa diariamente no Brasil, especialmente quando crimes muito violentos estão em 
evidência. No entanto, independentemente do emprego ou não de violência, qualquer 
crime cometido por pessoas de alto poder aquisitivo desperta a atenção da imprensa e da 
população, que clama pelo endurecimento das penas. Não é possível determinar se tal 
revolta se deve à frustração pela desigualdade social vivida no país, cominada com a 
impressão de que “o dinheiro é capaz de comprar a impunidade” em tais casos. Ou, 
ainda, se é a crença em um determinismo do ambiente em que está inserida a grande 
maioria dos condenados no Brasil, que gera na população a sensação de que a pobreza 
justifica o crime, mas aqueles que não passam por ela não tem motivo algum para 
cometê-lo. 
O alto potencial lesivo, em termos monetários, também chama a atenção e 
desperta a revolta. No entanto, tal revolta ou potencial lesivo não dão ao Estado a 
prerrogativa de ignorar as garantias e empregar punições desproporcionais, como temos 
observado em vários casos recentes. Estes fatores exigem, sim, uma punição adequada, 
específica para sua natureza, mas sem perder de vista a proteção mínima conferida ao 
condenado. 
Sobre o tema, afirma Paulo Eduardo Bueno: 
Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
 
 
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A criminalização em excesso, que vai na contramão da moderna 
tendência da políticacriminal, nos marcos de um Estado de Direito evoluído 
e civilizado, mesmo porque todas as formas de punição já se revelaram 
inúteis e irracionais, no mais das vezes decorre da demagogia e da 
incapacidade do Estado em resolver os conflitos sociais com os instrumentos 
apropriados. Aliás, o fenômeno da inflação criminológica, que com muita 
propriedade o Prof. FERRAJOLI denomina de "elefantíase" do Direito Penal, 
está no centro das discussões atuais jurídico-penais. Foi justamente essa 
hipercriminalização ocorrida nos últimos 50 anos que desfigurou e 
descodificou o Direito Penal, reduzindo sua capacidade de controle da 
violência e da criminalidade. 
 O próprio Beccaria, já no Século XVIII, defendia posicionamento 
semelhante em sua obra: 
Se o prazer e a dor são a força motora dos seres sensíveis, se entre 
os motivos que impelem os homens às ações mais sublimes foram colocados 
pelo Legislador invisível o prêmio e o castigo, a distribuição desigual destes 
produzirá a contradição, tanto menos evidente quanto mais é comum, de que 
as penas punem os delitos que fizeram nascer. Se uma pena igual é destinada 
a dois delitos que ofendem desigualmente a sociedade, os homens não 
encontrarão um obstáculo forte o suficiente para não cometer um delito 
maior, se dele resultar uma vantagem maior. 
 Ademais, há que se considerar a questão da revolta gerada na população pela 
impunidade decorrente da incapacidade do Poder Público de identificar e condenar 
todos os criminosos. Nesse sentido, afirmam Shikida e Amaral: 
Com efeito, o conceito de seletividade está relacionado à 
ineficiência do sistema penal (e, sobretudo, das agências formais de controle) 
de identificar condutas criminosas, processar seus autores e aplicar as penas 
correspondentes. Essa ineficiência é denominada de “cifra negra” e pode ser 
definida como a diferença entre a criminalidade real - todos os delitos 
praticados em um determinado espaço de tempo e em determinado local - e a 
criminalidade aparente - considerado o número de casos que são efetivamente 
levados ao conhecimento das agências formais de controle. Inobstante essa 
ineficiência ser inerente ao sistema penal, os meios de comunicação e a 
sociedade em geral têm a percepção de que o sistema penal opera de forma 
que essa ineficiência seja seletiva, privilegiando os autores de crimes 
econômicos e atuando de forma mais grave e intensa sobre a população sem 
recursos econômicos. (...) Sutherland explicava que a aplicação diferenciada 
da lei poderia ser debitada a diversos fatores, como o status (o poder imuniza 
os “homens de negócio” em relação aos crimes, já que incriminá-los poderá 
trazer problemas para o incriminador no futuro), a homogeneidade cultural 
(juizes, administradores, legisladores e homens de negócios possuem a 
mesma formação cultural, muitas vezes partilham as mesmas origens sociais e 
essa homogeneidade faz com que não seja uma tarefa fácil caracterizar os 
criminosos econômicos dentro do estereótipo do criminoso comum), a 
relativa desorganização na reação aos crimes econômicos (cujas atividades 
delitivas são de difícil percepção, pois raramente atingem diretamente uma 
vítima concreta, como ocorre nos delitos contra o meio ambiente) e a baixa 
Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
 
 
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reprovação social dessas condutas (pessoas adotam comportamentos 
semelhantes em suas práticas cotidianas, como não pagar impostos, comprar 
produtos contrabandeados ou piratas etc). As estatísticas indicam que a 
seletividade do sistema penal é especialmente atuante nas camadas sociais de 
maior escolaridade e especialmente alta nos crimes econômicos (situação em 
que a “cifra negra” se transforma em “cifra dourada”). 
A cifra dourada a que se refere o fragmento, nada mais é que a diferença entre 
o número de delitos econômicos cometidos e o número de delitos econômicos 
identificados e judicialmente perseguidos. É notório que os crimes empresariais são uma 
das esferas em que tal cifra atinge patamares mais altos no Brasil. 
3.1 Crimes empresariais na Common Law 
 A definição de crimes do colarinho branco do Departamento de Justiça 
Americano foca na natureza da atividade criminosa bem como na posição ocupada pelo 
ofensor. Todavia, ela não se limita aos delitos relacionados ao emprego, mas, de acordo 
com Matthew Lippman, assim se apresenta: atos ilegais que empregam, em vez da 
força, engano e ocultação a fim de obter dinheiro, propriedade ou serviços, de evitar o 
pagamento ou perda de dinheiro ou de assegurar uma vantagem profissional ou 
decorrente de negócios, cujos criminosos ocupam posições de responsabilidade e 
confiança no governo, indústria ou em organizações civis. 
De acordo com Lippman , no Direito Americano, incluem-se no referido 
conceito: crimes ambientais; relacionados a Occupational Health and Safety (ofensas e 
danos aos trabalhadores); Securities Fraud (manipulação de ações e títulos, bem como 
insider trading); Mail and Wire Fraud (o uso de correio e telefone para cometimento de 
fraudes); The Travel Act. (cometimento de infrações por meio de viagens interestaduais 
ou do correio); Health Fraud (obter reembolsos ou pagamentos por tratamentos 
injustificáveis ou não realizados); lavagem de dinheiro; violação de políticas antitruste e 
corrupção, entre outros.Michael Tonry menciona ainda como enquadrados nessa 
definição algumas modalidades de suborno, apropriação indébita bancária, alegações e 
declarações falsas, fraudes em instituições de crédito e fraudes fiscais, quando 
cometidos no exercício profissional. 
 Um dos pontos centrais com relação à tutela dessa forma de criminalidade 
Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
 
 
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no Direito Americano é a ideia de que esses crimes não são tratados como mero prejuízo 
financeiro, mas envolvem a quebra da confiança que é inerente aos negócios e ao 
governo. Como tal confiança é uma característica basilar da tradição americana, a 
quebra de tal expectativa é tratada de forma ainda mais grave e séria, com penas que 
frequentemente ultrapassam 20 anos de prisão (sem mencionar a cumulação de multas 
na ordem de milhões de dólares), o que no Brasil raramente aconteceria para delitos 
cometidos sem emprego de violência. Ao compararmos o sistema americano com o 
brasileiro, esse é o ponto que mais se destaca, uma vez que no Brasil a punição de 
muitos dos crimes empresariais não ultrapassa seis anos de pena em abstrato (com 
grande probabilidade de substituição por penas alternativas). No direito americano, há 
casos, inclusive, em que se pode chegar à prisão perpétua, como em atos fraudulentos à 
saude que resultem em morte da vítima(ou de uma das vítimas). Destaca-se o famoso 
caso Madoff, descoberto em 2008, em que o proeminente corretor de investimentos 
Bernard L. Madoff criou um esquema Ponzi, também conhecido como pirâmide 
financeira, de ordem bilionária e alcance internacional, que foi considerado a maior 
fraude da história americana.Madoff foi condenado a uma pena de 150 anos, além da 
apreensão de grande parte de seus bens. 
É relevante destacar também que a constatação do cometimento de tais delitos 
é muito mais efetiva (e logo, frequente) nos Estados Unidos. Atribui-se essa efetividade 
tanto ao fato de os sistemas de controle financeiro serem mais avançados no país, 
quanto ao fato de os crimes de colarinho branco serem, de acordo com Lippman ,uma 
das áreas mais ativas da persecução federal americana. 
 Cabe ainda esclarecer a distinção, também debatida no direito americano, 
entre crimes ocupacionais (criminosos de colarinho branco agindo individualmente) e 
crimes organizacionais (cometidos no contexto e na persecução de metas e objetivos da 
organização). Alguns exemplos de crimes organizacionais incluem a divulgação de 
falsosrelatórios de pesquisa por cientistas corporativos ou de universidades, bem como 
crimes encorajados ou tolerados por gestores estatais. Ressalta-se ainda que no conceito 
de crimes organizacionais não se enquadram aqueles praticados no contexto de 
organizações manifestamente ilícitas, que recebem um tratamento próprio. Não se 
Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
 
 
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excluem, no entanto, organizações em que o crime é cometido de forma clara, com 
aparente indiferença, se não concordância tácita pelos gestores. Na prática, a distinção 
entre as três formas pode não ser muito clara, mas é indispensável para que se aplique o 
tratamento legal adequado em cada uma delas. 
 E é nesse ponto que encontramos a definição de Corporate Crimes, que são a 
forma americana correspondente aos crimes empresariais do direito brasileiro, e são 
considerados uma forma de crime organizacional. De acordo com a doutrina americana, 
o status de uma classificação específica se justifica pelo fato de que o poder das 
corporações é demasiado importante para que esses crimes sejam tratados meramente 
como um subtipo dos crimes de colarinho branco. Ainda nesse sentido, destaca-se o 
entendimento de que não importa se a organização em questão é filantrópica, voluntária, 
com ou sem fins lucrativos, ou uma organização do setor público, mas sim a natureza e 
os meios daação criminosa. 
4. A ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO NOS CRIMES EMPRESARIAIS 
Embora, a princípio, a análise do direito à luz das teorias econômicas pareça 
distante do direito penal, sendo ela comumente atribuída, de forma apressada e quase 
sempre equivocada, como prerrogativa exclusiva do direito privado, as primeiras teorias 
jurídicas com embasamento em conhecimentos da economia são atribuídas a Beccaria, 
um dos mais tradicionais e importantes doutrinadores do direito penal. 
A interpretação deturpada da doutrina kelseniana, no entanto, imperou durante 
boa parte do Século XX, com vistas a isolar o Direito das demais ciências e tratá-lo sob 
uma perspectiva de uma teoria pura. Assim, sufocou momentaneamente a difusão de 
outras técnicas de compreensão do fenômeno jurídico que não fossem aquelas 
estritamente vinculadas ao positivismo e processo legislativo cabal. 
Nesse sentido, Zaffaroni e Batista anotaram: 
Um forte movimento de rechaço a toda interdisciplinariedade 
pretendeu juridicizar ou normativizar todos os dados dos demais saberes 
(esquizofrenização do saber jurídico penal), sendo depurado 
metodologicamente pelo neokantismo e favorecendo uma arbitrária atitude de 
apoderamento seletivo dos dados suprarreferidos. 
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O início da discussão a esse respeito remonta ao Século XIX, quando Von 
Liszt, um dos mais influentes penalistas da história, afirmava que o Direito Penal era 
eminentemente jurídico, mas não era completo sem noções “de uma força contrária à 
qual deveria impor limites, ou seja, a política criminal, baseada no conhecimento das 
causas do delito e da eficácia da pena” . 
Após a derrocada da ficção positivista da teoria pura, a ciência do Direito, 
especialmente no sistema continental, se viu órfã de uma estrutura que a explicasse. A 
pretensão sistematizante das codificações parecia ter chegado ao fim de um ciclo, mas 
ainda faltaria muito até que a ciência jurídica concluísse que não seria mais possível 
uma existência autopoiética . O Direito regula as relações sociais e a elas deve sempre 
se voltar e reciclar suas compreensões a cada nova investida. Voltou-se mais à filosofia, 
à sociologia e até à psicanálise, mas a falta de hábito da interação disciplinar enferrujou 
a doutrina jurídica. Com a evolução cada vez mais rápida das relações sociais por ele 
tuteladas, o Direito ficava cada vez mais sem o apoio fundamental do pensamento 
humanista. 
Na década de 1960, a partir dos trabalhos de Ronald Coase (Prêmio Nobel em 
Economia em 1991 por seus estudos em Microeconomia) e, especialmente, após a onda 
de valorização da economia comportamental, com a publicação de artigos de Gary 
Stanley Becker (Prêmio Nobel em Economia em 1992, pela aplicação da 
Microeconomia no estudo comportamental e de interações humanas) e George Akerlof 
(Prêmio Nobel em Economia em 2001 por seus estudos sobre o mercado e as relações 
com informações assimétricas), uma nova possibilidade interativa do Direito surgiu, 
com nova perspectiva instrumental de análise das relações sociais. A Análise 
Econômica do Direito, que já existia desde a década de 1920, mas ligada 
predominantemente ao direito da concorrência, ganhou novo ímpeto nos meios 
acadêmicos e passou a se difundir. Desse modo, têm surgido cada vez mais estudos com 
o intuito de determinar o provável comportamento das pessoas em todos os ramos do 
Direito, inclusive o direito penal. Pesquisas procuraram prever o comportamento 
criminoso em várias situações, e demonstrar, identificar e quantificar a pena mais justa 
para uma série de crimes, em especial aqueles com base nos conceitos econômicos. 
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Afirma Claus Roxin: 
Também o direito da medida da pena, que só no pós-guerra 
alcançou status de disciplina autônoma, desenvolve-se não no sentido da 
discricionariedade de uma valoração individual pelo juiz, mas, muito pelo 
contrário, esforça-se por alcançar uma ordem sistemática e uma 
controlabilidade racional dos critérios de medida da pena político-
criminalmente motivados. 
Embora a economia comportamental tenha criado mecanismos para pressupor 
o comportamento humano mesmo em situações e crimes de racionalidade reduzida, os 
crimes empresariais são o campo em que acredita-se que tal teoria pode ter resultados 
mais prósperos, uma vez que para o cometimento de tais crimes a moral individual ou o 
impulso emocional são tanto menos fatores determinantes que o benefício econômico. 
Além disso, nessa modalidade criminosa, não se observa fatores como o prestígio dentro 
da comunidade criminosa, de modo que a decisão delituosa se aproxima cada vez mais 
de um modelo de racionalidade. 
O sistema jurídico brasileiro atual demonstra uma clara necessidade de retomar 
a observação de outros sistemas, a fim de evitar os problemas decorrentes da 
autorreferenciabilidade e isolamento do Direito.Com a difusão da Análise Econômica 
do Direito, o ponto de vista econômico surge como ferramenta para complementar a 
visão do Direito Penal e principalmente da Criminologia. Tais ciências distinguem-se 
nos aspectos metodológicos, mas tem em comum a visão de que o agente criminoso é 
influenciado pelo ambiente em que está inserido. 
4.1 A Teoria da Escolha Racional 
Gary Becker trouxe imensas contribuições aos estudos econômicos do crime, 
introduzindo uma perspectiva inovadora ao traçar a hipótese de o criminoso agir 
racional e amoralmente. Seu modelo propõe que os indivíduos, sob determinados 
incentivos, decidem cometer ou não certos crimes com base em ponderações racionais 
de custo e benefício. É interessante destacar que o modelo não defende que a decisão de 
cometer o delito seja tomada racionalmente em todas as situações; é cristalino que em 
alguns delitos a emoção e a paixão são impulsos determinantes para o cometimento, e é 
quase impossível não presenciar nenhum sinal de moralidade no comportamento do 
Análise Econômica Do Direito E Crimes Empresariais 
 
 
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criminoso. 
É claro que não se pode desconsiderar que há um grupo de indivíduos cuja 
reprovação moral jamais permitiria que delinquissem, não importando a medida ou 
mesmo a existência de sanção. O Direito Penal, assim, não tem razões para se ocupar do 
estudo de uma pena adequada atémesmo para tais indivíduos, visto que jamais fariam 
jus a sofrê-la. 
Há que se destacar, todavia, que não é prerrogativa exclusiva dos estudiosos da 
Análise Econômica do Direito entender que a conduta delituosa está permeada de 
ponderações racionais.Jeremy Bentham já no século XVIII defendia a visão do 
criminoso como alguém que calcula racionalmente seus atos (e baseou nela algumas de 
suas propostas para reformas carcerárias). Neste sentido, afirma o respeitado penalista 
Jesús-María Sánchez: 
Na verdade, se o delinquente não é, em medida alguma, racional, 
então a prevenção mediante a criação de normas carece de sentido (a 
prevenção, todavia, é o que há de mais característico – e mais liberal – do 
Direito Penal), restando apenas a prevenção “técnica”, assim como a 
prevenção especial por tratamento ou inocuização. Em outras palavras, não é 
razoável cominar sanções inúteis a quem não as leva em conta em sua tomada 
de decisão. Outro ponto é que a racionalidade do delinquente deve reduzir-se 
a uma mera racionalidade instrumental ou utilitária, ou deve, ao contrário, ser 
tida como ampliada a uma racionalidade valorativa. 
De todo modo, ainda que não exista o criminoso perfeitamente racional, e 
ainda que outros fatores sejam determinantes além de uma ponderação de custo 
benefício, dificilmente eles seriam determinantes o suficiente para que o criminoso o 
cometesse apesar da dissuasão promovida pela punição. Via de regra, tais fatores 
influenciariam mais ao dissuadir o cometimento do crime do que incentivá-lo. Assim, 
entende Jesús-María Sánchez: 
Em alguma medida, caberia pois concluir que a acolhida, no 
repúdio ou, ao menos, o atuar como se os homens fôssemos utilitariamente 
racionais – ainda que não apenas isso – é uma condição prévia para a busca 
de um Direito Penal liberal. 
Há, de qualquer modo, um conjunto de crimes em que os aspectos racionais de 
custo e benefício influenciam de maneira ainda mais determinante o comportamento 
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criminoso do que os aspectos morais. A maioria dos crimes objeto de estudo deste 
trabalho se enquadram nesta situação. Na maioria dos casos se tratam de crimes 
premeditados, em que há um planejamento e uma ponderação sobre o cometimento 
daquele delito. Assim, a perspectiva econômica tem muito a dizer sobre tais 
comportamentos, uma vez que o criminoso é guiado por uma intenção maximizadora de 
benefícios. 
 Para ilustrar o entendimento, imagine-se a situação de um crime de 
apropriação indébita previdenciária. Assim, o agente deixa de repassar à Previdência 
Social os valores correspondentes à contribuição previdenciária de seus empregados. 
Não há nenhuma violência envolvida; o sujeito ponderará o quanto ele subtrairá (lucro 
auferido, representado por “b”) e o prejuízo decorrente da possível constatação do crime 
cometido por autoridades competentes (“c”), bem como a probabilidade de ser 
descoberto (“p”). Assim, se “(b – c) x p” resultar num valor negativo (“(b – c) x p < 0”), 
o crime não é lucrativo o suficiente, não valendo o risco a ser corrido com o seu 
cometimento. No entanto, se resultar num valor positivo (“(b – c) x p > 0”), o “crime 
compensa” e o sujeito provavelmente irá cometê-lo. Caso a punição correspondente ao 
delito seja uma multa no valor exato do que foi indevidamente apropriado (“(b – c) x p 
= 0”), tem-se uma “restituição perfeita”, de modo que, se descoberto, o criminoso terá 
apenas de devolver o produto do crime, não sofrendo nenhum prejuízo extra. Assim 
sendo, nas duas últimas hipóteses, podemos considerar que a pena correspondente é um 
incentivo ao cometimento do crime. 
4.2 Uma abordagem empírica da Teoria da Escolha Racional 
 Ao longo de 10 anos, o pesquisador Pery Francisco de Assis Shikida e sua 
equipe (que compreendia alunos de graduação, mestrado e colaboradores), conduziram 
pesquisas em estabelecimentos carcerários a fim de conseguir informações qualitativas 
sobre a criminalidade econômica pelo método empírico. As pesquisas de campo 
partiram da investigação nos seguintes estabelecimentos paranaenses: Cadeia Pública de 
Cascavel, Cadeia Pública de Foz do Iguaçu, Cadeia Pública de Toledo, Penitenciária 
Central de Piraquara (PCP), Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu (PEF), 
Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP), Penitenciária Feminina de Piraquara (PFP), 
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Penitenciária Industrial de Cascavel (PIC) e Penitenciária Industrial de Guarapuava 
(PIG). 
 Um dos pontos de relevância da pesquisa relaciona-se à natureza qualitativa 
dos dados, uma vez que os mesmos foram obtidos por meio do contato direto do 
pesquisador com o “objeto de estudo”, qual seja, os condenados por delitos de natureza 
econômica que cumpriam pena nos estabelecimentos supramencionados. A análise 
levou em consideração também dados secundários obtidos nos prontuários de cada um 
dos condenados, fosse para complementar as informações por eles fornecidas ou mesmo 
para a verificação da confiabilidade das respostas. 
 Os condenados que se dispuseram a colaborar para a pesquisa responderam 
um questionário que apontava aspectos como as características socioeconômicas, a 
análise dos riscos e incertezas concernentes às atividades criminosas lucrativas, o 
retorno econômico do crime, os motivos que levaram ao cometimento do crime, entre 
outros. Foram entrevistados mais de 500 condenados de 2000 a 2009. 
 Seguem, nas palavras do próprio pesquisador, as conclusões retiradas do 
estudo: 
Evidenciou-se o fato de que os criminosos migraram para as 
atividades ilegais na esperança de que os ganhos esperados superassem os 
riscos da atividade. Neste sentido, a opção pela prática do crime de natureza 
econômica foi uma decisão individual tomada racionalmente, com ou sem 
influências de terceiros, em face da percepção de custos e benefícios, assim 
como os indivíduos fazem em relação a outras decisões de natureza 
econômica. A relação risco e benefício esperado foi bem explícita pelos 
pesquisados, ou seja, para a maioria dos pesquisados os retornos econômicos 
foram maiores que os riscos de migração para o crime, o que significa dizer 
que o crime está compensando! 
 Resta claro que, embora baseadas em um estudo empírico, tais afirmações 
não devem ser tomadas como verdade absoluta, tendo em consideração tanto o 
problema de seleção da amostra (que, tendo como base criminosos que já cumpriam 
pena, não considera aqueles que praticaram tais crimes e que não foram presos – e que é 
possível que apresentem características próprias diversas das do grupo entrevistado) 
quanto a possibilidade de os criminosos não terem sido completamente honestos nas 
respostas. De todo modo, o método empírico traz esclarecimentos não baseados na mera 
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intuição, que confirmam a tese da teoria da escolha racional para os crimes empresariais. 
4.3 A Teoria da Dissuasão 
É melhor prevenir os delitos que puni-los. É este o escopo 
principal de toda boa legislação, que é a arte de conduzir os homens ao 
máximo de felicidade ou ao mínimo de infelicidade possível, conforme todos 
os cálculos dos bens e dos males da vida. (...) Quereis prevenir os delitos? 
Fazei com que as leis sejam claras, simples, e que toda a força da nação se 
concentre em defende-las e nenhuma parte dela seja empregada para 
destruí-las. 
No início da década de 70, Isaac Ehrlich, aluno de Becker, publicou os 
primeiros estudos a respeito da teoria conhecida como Teoria da Dissuasão (Deterrence 
Theory, ou ainda Teoria da Prevenção Geral Negativa ou Intimidatória). Seus estudos 
foram inovadores por tratar do cometimento de crimes como uma alocaçãode tempo e 
de recursos entre os crimes e as atividades legítimas. Um dos pontos de destaque de seu 
modelo é mostrar que um indivíduo pode voltar a cometer crimes mesmo depois de ter 
sido punido, principalmente pela diminuição das oportunidades de ganhos legais 
disponíveis para este indivíduo depois do encarceramento, evidenciando assim a 
ineficiência das punições aplicadas. 
Antes de aprofundar o estudo das teorias econômicas das penas, no entanto, 
faz-se necessário tecer breves comentários sobre as finalidades da pena tradicionalmente 
abordadas pelo Direito Penal. A teoria da retribuição, primeira delas, não reconhece à 
pena a busca de nenhuma finalidade socialmente útil;sua finalidade única é punir o 
criminoso como meio de retribuir, fazer expiar o crime praticado. A teoria da prevenção 
especial, por sua vez,vislumbra a pena como instrumento para evitar que o indivíduo 
que praticou um crime volte a delinquir, por meio de seu afastamento temporário da 
sociedade e da - em tese – consequente recuperação. 
Há que se falar ainda na teoria da integração-prevenção, desenvolvida a partir 
da teoria sistêmica de Luhman, a qual sustenta que a pena nada mais é que uma reação 
para o restabelecimento da ordem social, perturbada pela ocorrência de um delito; o 
fundamento da pena, aqui, consiste na confirmação da validade da norma, compreendida 
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como diretiva de orientação social. Por fim, a teoria agnóstica da pena defende que “em 
toda a sociedade existem relações de poder que interferem na solução de conflitos e que 
a cultura social tolera que esse poder interfira na solução dos conflitos” ;e que “há 
diferentes modelos decisórios - reparador, conciliador, corretivo, terapêutico e punitivo - 
e que este último é o menos capaz de solucionar conflitos” uma vez que encarcerar o 
indivíduo não traz nenhuma solução real para o conflito, mas apenas o posterga. 
A Teoria da Dissuasão defende que é possível evitar o cometimento de crimes 
por meio de sanções eficientes, que funcionem como incentivos negativos à prática do 
crime, sendo essas agrupadas em legais (punição adequada elaborada pelo legislador e 
eficazmente aplicada pela polícia e pela Justiça) e extralegais (cultura, moral, educação, 
entre outras). A sanção cumprirá sua função, assim, se o conjunto de elementos que a 
constituem for suficiente para evitar o delito. 
Brenner afirma que “a dissuasão é eficaz na medida em que muda ou mantém 
os cursos de ação dos mais diferentes tipos de pessoas existentes na população na 
direção de um comportamento comprometido com a legalidade”. Além da prevenção 
específica do delito, a dissuasão apresenta uma nuance de prevenção geral, mostrando à 
sociedade o repúdio àquela conduta e a punição que decorrerá de seu cometimento. 
 A teoria econômica prevê dois possíveis mecanismos para prevenir os 
delitos, quais sejam elevar os “custos de oportunidade” da prática do delito ou atribuir 
incentivos à prática alternativa de atividades lícitas. Assim, conforme o primeiro 
mecanismo, afirma Feuerbach, em sua Teoria da Coação Psicológica: 
A ideia central é que cometer o delito representa uma vantagem 
para o delinquente (é eficiente, a partir dessa perspectiva). Assim, pois, trata-
se de onerá-la com custos adicionais, a fim de que estes superem as vantagens 
esperadas, de modo que o delinquente potencial se contenha. Dado isso, se o 
delinquente é racional, irá comportar-se como qualquer operador no mercado. 
 Retomando o exemplo mencionado na sessão anterior, com relação à 
possibilidade de restituição perfeita no crime de Apropriação Indébita Previdenciária, 
tece-se algumas considerações. Para que seja possível dissuadir o cometimento do 
crime, a sanção penal deve ser superior à mera devolução do valor apropriado. Deve-se 
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considerar também, todavia, a probabilidade de constatação do crime e 
consequentemente de sofrer a punição. Como se pode constatar, caso a eficiência 
policial e judiciária seja baixa, ainda que a pena seja severa, não se dissuadirá o crime. 
 Na mesma toada, afirma Richard Posner: 
O segundo motivo da atual rejeição da ideia de vingança como 
fundamento da pena é a cisão que se cria entre crime e punição quando a 
probabilidade de imposição da pena é menor que 1. Essa cisão se funda em 
considerações econômicas legítimas, mas tem o efeito colateral de tornar a 
pena por um crime mais severa, ex post, que o próprio crime. Em um sistema 
cujas penas são frequentemente mais severas que os crimes aos quais se 
aplicam, aquele que tentar justificá-las pela igualdade ou proporcionalidade 
entre o sofrimento da vítima e o do criminoso ao ser punido, de fato parecerá 
sanguinário; pois estará, inadvertidamente, defendendo que o delinquente 
receba uma pena desproporcional ao crime. É possível justificar a 
desproporção, mas não segundo critérios retributivos. (...) Quanto mais 
próxima de 1 for aquela probabilidade, mais próxima a severidade da pena 
estará da gravidade do crime. Um sistema puramente baseado na vingança 
muitas vezes não satisfará essa condição. 
 Partindo desta premissa, suponha-se que o risco de o criminoso ser 
capturado cresça proporcionalmente à gravidade do delito (tanto em virtude da 
visibilidade do crime quanto pelo risco na execução). Nota-se, assim, que o produto do 
crime é maximizado até determinado ponto, a partir do qual não há vantagem em 
agravar o crime. Pode-se observar as constatações no gráfico abaixo: 
 
Figura 1 Punição Esperada e Restituição Perfeita 
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A respeito dos ganhos e da probabilidade de ser capturado, afirma Shikida: 
Assim como outra atividade econômica qualquer, os ganhos na 
atividade empresarial do crime são incertos e dependem da probabilidade de 
sucesso de suas operações. Não existem dados que estimem a probabilidade 
de detenção de um indivíduo no Brasil, mas supõe-se ser menor que a 
verificada nos Estados Unidos, que é de apenas 5%. Isto implicaria dizer que 
no Brasil a probabilidade de sucesso no setor do crime pode ser maior do que 
95%. Para Adorno, “não são poucos os estudos que reconhecem a 
incapacidade do sistema de justiça criminal, no Brasil - agências policiais, 
ministério público, tribunais de justiça e sistema penitenciário -, em conter o 
crime e a violência respeitados os marcos do Estado democrático de Direito. 
 Considerando uma probabilidade de punição tão baixa, faz-se necessário 
maximizar as outras variáveis. No entanto, cabe ressaltar que seria mais efetivo investir 
em segurança pública, reduzindo as chances de impunidade, e com isso, mantendo uma 
pena equilibrada e proporcional ao ganho.Dessa maneira, seria possível alcançar uma 
prevenção do crime cada vez mais próxima da ideal. 
4.5 Custo do Crime 
Já no Século XVIII afirmava Beccaria: 
As reflexões que precedem dão-me o direito de afirmar que a única 
e verdadeira medida dos delitos é o dano provocado à nação, e por isso 
erraram aqueles que pensaram ser a real medida dos delitos a intenção de 
quem os comete. Esta depende da impressão atual dos objetos e do estado de 
espírito anterior: elas variam em todos os indivíduos, e em cada um, com a 
rapidíssima sucessão das ideias, das paixões e das circunstâncias. Seria, pois, 
necessário constituir não somente um código particular para cada cidadão, 
mas também uma nova lei para cada delito. Às vezes os homens, com a 
melhor das intenções, causam o maior mal à sociedade; e outras vezes, com a 
maior má vontade, causam o maior bem. 
Atualmente, muito se discute a respeito dos custos para se manter um 
condenado em um sistema prisional brasileiro.A discussão se torna ainda mais 
acalorada quando são apresentadas estatísticas que mostram que a média nacional de 
gastos com um preso é duas vezes a do salário mínimo nacional, e muitas vezes superior 
ao investimento em educação per capita. O quadro se torna ainda mais preocupante ao 
se considerar que, segundo levantamento do Departamento Penitenciário Nacional 
(Depen), o governo gasta quatro vezes mais com os presos em penitenciárias federais do 
que de um detento em penitenciária estadual (R$ 4,8 mil por indivíduo no sistema 
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federal, enquanto a média no país é de R$ 1,2 mil) . 
Posto isso, inflama-se o clamor para que o ofensor compense os custos de sua 
captura e aprisionamento, sem falar nos danos por ele produzidos. Assim, o custo social 
de uma pena pecuniária seria zero se ela equivalesse ao dano causado somado aos custos 
de apreensão e cárcere. A pena seria, assim, vista como uma restituição do preso à 
sociedade pelos prejuízos causados, e os recursos públicos utilizados seriam mínimos. 
 A condição econômica do condenado deve ser levada em conta na base de 
cálculo da pena de multa, como, de fato, já é feito no sistema atual de penas pecuniárias 
(sistema de dias-multa). Evita-se assim que a pena seja insustentável para alguns e 
irrisória para outros, para que não haja, como destaca Harold Winter, um sistema 
pecuniário injusto e ineficiente que beneficia ricos e prejudica pobres . 
 Outra consideração relevante faz referência ao máximo de pena pecuniária 
aplicada, quando o custo social da multa atingir o teto delimitado pelo legislador, e 
ainda assim não for suficiente para cobrir o custo social do crime. Este seria o caso em 
que a aplicação de penas não-pecuniárias seria interessante e mais adequado para 
punição proporcional daquele delito. 
Jones e Schaefer, por intermédio de uma exposição gráfica, 
corroboram importantes pontos da teoria econômica do crime. De acordo 
com o gráfico (Figura1), no eixo da abscissa observa-se o volume de crime e 
no eixo da ordenada observa-se o retorno líquido médio do crime. O crime, 
nesta exposição, é um bem negativo, haja vista a suposição da não existência 
de demanda para este tipo de produto. Ao revés, a sociedade pagará e/ou terá 
um determinado custo para que o crime não vigore. Desse modo, a curva de 
demanda negativa Devidencia o preço que a sociedade terá de pagar para 
coibir/eliminar o crime. A curva Dnão inicia em zero porque numa sociedade 
normal existe sempre algum nível de crime “tolerável” (uma sociedade com 
segurança total seria utópica; sempre existirão pessoas amantes ao risco no 
que diz respeito às atividades ilegais). 
 
 
 
 
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Figura 2 Gráfico Oferta do crime e a curva de demanda negativa para o combate ao crime 
Para aprofundar os estudos a respeito dos critérios sugeridos pela Análise 
Econômica do Direito para as penas pecuniárias, faz-se necessário um breve estudo 
sobre a disciplina desse instituto no Direito Brasileiro. 
4.6 Considerações a respeito das penas pecuniárias 
Afirmava Beccaria sobre os delitos patrimoniais:“Os furtos não acompanhados 
de violência deveriam ser punidos com penas pecuniárias. Quem procura apoderar-se do 
alheio deveria ser privado do próprio.” 
Com a consolidação da ideia da falência do sistema penitenciário brasileiro, e 
até mais amplamente, da pena privativa de liberdade em si (que acaba por subsistir em 
virtude da falta de uma solução eficaz para a questão), muito se discute a respeito das 
outras modalidades de penas. Especialmente com relação a delitos que movimentam 
quantias milionárias como os crimes empresariais, reacende-se a discussão sobre se a 
pena pecuniária não seria uma forma mais adequada de punição. Ela, de fato, já é 
aplicada em vários deles cumulada com a privação de liberdade. 
Destaca-se que há muito a privação de liberdade já é tida como instrumento 
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incapaz de recuperar os criminosos. Ainda mais alarmante se mostra a situação quando 
considerada a criminalidade em tela, em que o infrator poderá passar um tempo razoável 
preso e ainda assim o crime terá compensado, em virtude de um grande patrimônio que 
ficou acumulado e é usufruído por sua família e até pelo próprio criminoso ao deixar o 
sistema prisional. 
 Antes de mais nada, cumpre diferenciar as modalidades de pena pecuniária: 
confisco, indenização ao ofendido e multa. De acordo com Bittencourt , o confisco foi 
abolido da maioria das legislações penais modernas; no entanto, a Constituição Federal 
de 1988 previu sua possibilidade, por meio da expressão “perda de bens” A multa 
indenizatória, por sua vez, é defendida pelos estudiosos da área e tem sua aplicação cada 
vez mais difundida em substituição às penas de curta duração; a legislação penal 
brasileira atual, no entanto, ainda não prevê sua cominação de forma consistente. Por 
fim, tem-se a pena de multa propriamente dita, que é consagrada por quase todas as 
legislações penais tradicionais. Esta distingue-se das penas civis e administrativas 
mormente por duas características: sua conversão em privação de liberdade, caso não 
seja paga e seu caráter personalíssimo (logo, intransmissível). 
 A possibilidade da pena de multa contenta os estudiosos do custo do crime, 
uma vez que tanto deixa de dar ao Estado as elevadas expensas concernentes à 
manutenção de um condenado, quanto ainda traz retornos positivos aos cofres públicos 
(que podem receber as mais variadas destinações). Sofre críticas, no entanto, por ser 
considerado amoral o locupletamento do Estado às custas do crime, que deveria lutar 
para prevenir. 
 De todo modo, é notório que no sistema penal brasileiro as penas 
pecuniárias se tornam mais ineficientes a cada dia, seja pela cominação de valores 
insuficientes para atender às finalidades da pena, ou pela sua inexigibilidade, uma vez 
que atualmente, caso não seja paga, não é convertida em pena privativa de liberdade. O 
sistema de dias-multa, adotado pelo Código Penal Brasileiro, hoje ganha maior 
aplicabilidade nas legislações extravagantes (como a Lei de Mercado de Capitais, Lei 
4728/65), que na verdade o aplicam de modo diverso do previsto pelo código. E ainda 
para corroborar a sua ineficiência, tem-se o fato de que sua execução depende de 
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providências processuais e administrativas que podem levar anos, enquanto sua 
prescrição corre no prazo de dois anos. 
 Considerado todo o exposto, para que se atenda as finalidades da pena, é 
indiscutível que a prestação pecuniária deve ser reavaliada, com o consequente 
estabelecimento de novos critérios. Caberia aqui a intervenção da Análise Econômica do 
Direito, que com estudos mais aprofundados sobre o instituto, poderia determinar uma 
dosimetria que atendesse à dissuasão da pena bem como à compensação pelos custos do 
crime. 
5. CONCLUSÃO 
Desde os sucessivos escândalos no Sistema Financeiro Nacional a partir da 
década de 1970, as discussões a respeito da criminalidade empresarial tem ocupado um 
espaço cada vez mais relevante no meio acadêmico. O aumento da ocorrência (ou da 
constatação) desses crimes, bem como os grandes prejuízos por eles trazidos evidenciam 
o despreparo dos operadores do Direito em tratá-los adequadamente, além de outras 
deficiências no sistema jurídico brasileiro nesse ponto. A legislação se mostra 
fragmentada, com a disciplina dispersa por uma série de diplomas, o que acaba fazendo 
com que não sejam devidamente estudados e inclusive com que alguns deles restem 
esquecidos por

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