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I A ação penal e a apropriação dos conflitos no âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher Carolina Assis Castilholi Ação Penal II P rofª C arolin a A ssis C astilh oli Ação Penal II Constituição da República Artigo 5°, XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; Código Penal Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Código de Processo Penal - Título III (artigos 24 a 62) P rofª C arolin a A ssis C astilh oli http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art100 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art100 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art100 II Ação Penal P rofª C arolin a A ssis C astilh oli Crimes mais comuns praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher De Ação Penal Pública Condicionada Ameaça De Ação Penal Privada Dano Calúnia Injúria Difamação De Ação Penal Pública Incondicionada Feminicídio (ainda que tentado) Lesões corporais (independente da gravidade)* Sequestro e cárcere privado Violação de domicílio Estupro e estupro de vulnerável Registro não autorizado da intimidade sexual Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia Contravenções penais (v. art. 17, LCP): vias de fato (art. 21, LCP) e perturbação do trabalho ou do sossego (art. 42, LCP) III P rofª C arolin a A ssis C astilh oli Lesões corporais cometidas com violência doméstica O Código Penal é silente sobre a ação penal nas lesões corporais, logo, em regra, esta é pública incondicionada (cf. art. 100, § 1º). Lei 9.099/95: Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas. Lei 11.340/06: Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. STF no julgamento da ADI 4424/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2012 e Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 26/8/2015, DJe 31/8/2015. IV - Lesões corporais leves e culposas: ação penal pública condicionada à representação - Lesões corporais graves, gravíssimas, seguidas de morte, e praticadas mediante violência doméstica e familiar contra a mulher: ação penal pública incondicionada P rofª C arolin a A ssis C astilh oli Quais as consequências desse modelo? V O caso do furto de bicicleta O caso da desistência da ação O caso das agressões cíclicas P rofª C arolin a A ssis C astilh oli E o que a criminologia tem a ver com isso? VI Nils Christie - Conflict as property (1977) P rofª C arolin a A ssis C astilh oli VII "Muitos de nós, como leigos, já experimentamos os tristes momentos em que nossos advogados nos dizem que nossos melhores argumentos na nossa luta contra o nosso vizinho não tem qualquer relevância jurídica e que, pelo amor de Deus, devemos ficar quietos sobre eles no tribunal. Em vez disso, eles selecionam argumentos que podemos considerar irrelevantes ou mesmo errados." Christie (1977, p. 4, tradução nossa) P rofª C arolin a A ssis C astilh oli VIII "Têm sido postas em relevo as graves distorções que o sistema penal apresenta quando é avaliado do ponto de vista dos interesses da vítima; o direito penal permite comprovar, em particular quando se reflete sobre o papel da vítima no processo, a quase total expropriação do direito de articular seus próprios interesses. Em regra, resulta injustificada a pretensão do sistema penal de tutelar interesses gerais que vão além dos da vítima. Desse ponto de vista, tem sido indicado com a denominação programática de “privatização dos conflitos”, um caminho para o qual se pode orientar com êxito uma estratégia de descriminalização que abarque boa parte dos conflitos sobre os quais incide a lei penal. Substituir, em parte, o direito punitivo pelo direito restitutivo, outorgar à vítima e, mais em geral, a ambas as partes dos conflitos individuais maiores prerrogativas, de maneira que possam estar em condições de restabelecer o contato perturbado pelo delito, assegurar em maior medida os direitos de indenização das vítimas são algumas das mais importantes indicações para a realização de um direito penal da mínima intervenção e para lograr diminuir os custos sociais da pena." Baratta (1987, p. 12-13) P rofª C arolin a A ssis C astilh oli IX "No [modelo] punitivo a vítima fica de lado, ou seja, não é considerada pessoa lesionada, mas sim um signo da possibilidade de intervenção do poder das agências do sistema penal (que intervém quando quer, assim como atua sem levar em conta a vontade do lesionado ou vítima). O pretexto de limitar a vingança da vítima ou de suprir sua debilidade serve para descartar sua condição de pessoa, para tirar-lhe a humanidade. A invocação à dor da vítima não é senão uma oportunidade para o exercício de um poder que a respectiva seletividade estrutural torna bitolado e arbitrário. (...) A história da legislação penal é a história de avanços e retrocessos no confisco dos conflitos (do direito lesionado da vítima) e da utilização desse poder confiscatório, bem como do enorme poder de controle e vigilância que o pretexto da necessidade de confisco proporciona (...)." Zaffaroni (2003, 384-385) P rofª C arolin a A ssis C astilh oli X Referências bibliográficas BARATTA, A. Princípios do Direito Penal mínimo para uma teoria dos Direitos Humanos como objeto e limite da lei penal. Buenos Aires, p. 623–650, 1987. BRASIL. Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del2848compilado.htm>. _______. Decreto-lei n° 3.688, de 3 de outubro de 1941. Lei das Contravenções Penais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3688.htm>. _______. Decreto-lei n° 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. _______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. _______. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher [...] e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm>. CHRISTIE, N. Conflicts as property. The British Journal of Criminology, v. 17, 1977. ZAFFARONI, E. R.; BATISTA, N. Direito Penal Brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003. v. 1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm Obrigada! XI carolina.a.castilholi@gmail.com
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